sábado, 1 de fevereiro de 2014

João Paulo-Mateus Solano, como Félix, abriu uma fresta na porta dos preconceitos em Amor à vida‏

Violência, amor e política

João Paulo
Estado de Minas: 01/02/2014



Mateus Solano, como Félix, abriu uma fresta na porta dos preconceitos em Amor à vida (Estevam Avelar/Divulgação)
Mateus Solano, como Félix, abriu uma fresta na porta dos preconceitos em Amor à vida



De uns tempos para cá, sem que se fizesse muito alarde, a violência se tornou a principal mercadoria no noticiário brasileiro. É claro que o tema é importante e nunca esteve distante da realidade brasileira, mas havia uma gradação em seu tratamento que ganhava tradução na forma como o jornalismo se acercava de seus conteúdos. Assim, havia jornal que bastava torcer para verter sangue e noticiários de TV que espetacularizavam a violência, extraindo dela uma emoção construída e uma análise social capenga, que quase sempre vitimava pobres, pretos e periféricos.

Hoje, crimes de toda monta tomam conta do cardápio dos noticiários. Não há mais separação por horário, veículo ou linha de programação: todos servem violência como prato principal. Os vespertinos especializados em crimes fazem apenas o aperitivo para o que vem algumas horas depois. Assaltos, assassinatos e acidentes são mostrados com detalhes minuciosos. Há mesmo uma categoria de reportagem que se tornou clássica: a exibição de uma violência flagrada por câmeras de segurança, que são repetidas à exaustão. Reality show de violência sem necessidade de narração: a morte do jornalismo.

As páginas policiais nos jornais voltaram a ganhar força, os telejornais de horário nobre assumiram a pauta como de interesse púbico, a internet se tornou veículo por excelência do show de horror que se desdobra a cada dia na vida do cidadão. Ao mesmo tempo em que o tema ocupa maior espaço, perde-se em análise e contexto. Na verdade, ao assistir aos jornais de maior prestígio na TV ou acompanhar a cobertura policial nos jornais, o que se percebe é um desmembramento, uma tendência a tornar cada crime um episódio de uma onda indistinta de violência.

Na economia da notícia, sempre que um assunto ganha espaço outro perde destaque. A escalada das notícias de crime (ou de “más notícias”, como costuma reagir o telespectador) tem servido para reorientar o jornalismo em direção aos faits divers, esvaziando a reflexão sobre a sociedade para fortalecer o julgamento moral que emerge da emoção. Todos sentem repulsa, revolta e medo. Ninguém se mobiliza. Jornalismo serve para melhorar o mundo, não para insuflar emoções pré-políticas.

Há uma curiosa contradição na televisão brasileira: as novelas são muito mais realistas que os programas jornalísticos. Nos anos da censura, era comum acompanhar no noticiário entrevistas com políticos sabidamente corruptos, tratados como autoridades, que depois eram objeto de sátira em folhetins que davam a eles a dimensão real de seu ridículo. O mesmo se observa hoje. Quem quiser entender o Brasil tem mais a ganhar com uma boa telenovela do que com um jornal nacional.

Os programas jornalísticos não exprimem a verdade, muito menos a objetividade. São pautados pela ideologia, vendem uma crítica interessada como sendo análise isenta no campo da economia (não são capazes de deixar claro ao telespectador e ao leitor que são ultraliberais e o que isso significa) e fazem campanha política com o álibi de que cumprem o sagrado dever de fiscalizar o poder. Em outras palavras, o telejornalismo não cobre o setor político, mas tem feito política, muitas vezes de forma escancarada.

Amor e dignidade
Não deve ser por acaso que as novelas, hoje, sejam mais discutidas que as próprias notícias. E, o que é mais grave, ao agir assim o telespectador tem mais chance, mesmo mirando na fantasia, de acertar na realidade. É só avaliar o a produção Amor à vida, de Walcyr Carrasco, longe de ser um modelo de telenovela, que terminou ontem. Ela trouxe para a arena pública um debate sobre a questão do amor homoafetivo muito mais eficiente que qualquer outra abordagem operada pela TV até hoje.

Em vez de se aproximar do casal formado pelos atores Mateus Solano e Thiago Fragoso pelo aspecto da discriminação, que é o habitual no campo jornalístico, ou pelo viés preconceituoso do humor, o folhetim optou pelo tratamento realista, pelos conflitos humanos, pelos aspectos que unem e afastam todo tipo de casal. Mais que defender bandeiras, a novela se mostra eficiente pela forma aberta de narrar. Uma imagem vale por milhares de palavras, uma manifestação de afeto por vários discursos e mesmo beijos. Ao fugir da exceção para dar naturalidade ao amor entre pessoas dignas, o avanço é mais significativo.

Foi assim que as novelas, mesmo com suas limitações dramatúrgicas e técnicas, sem falar de vários limites éticos que foram sendo superados com o tempo, conseguiram trazer para a ágora questões como o racismo, o divórcio, a exploração do trabalho e a concentração da propriedade, entre outras. Ao deixar de lado grandes narrativas de fundo político, as novelas, de certa maneira, estabeleceram avanços pela trilha da moral. Foi uma saída brasileira, ancorada pela capacidade nacional de lidar bem como melodrama em seu imaginário. Somos bons de novela. Hoje, para ser sincero, muito melhor do que em futebol. Inclusive em audiência.

Não é fácil julgar a TV. Elogiar seus avanços em matéria de comportamento, sem matizar seus defeitos é perder o senso de proporção. Se há um nítido interesse em debater temas de interesse social – que repercutem na vida afetiva –, por outro há uma tendência a concentrar as transformações nas mãos do indivíduo, como se fosse sempre uma questão pessoal. O indivíduo é capaz de dar a volta por cima, mas muitas vezes como atitude que reflete apenas seu nível de excelência pessoal. Sair do herói para o cidadão tem sido o desafio das telenovelas. Pelo nível que se vê hoje em alguns debates, o resultado tem sido promissor (não é mais preciso matar casais homossexuais em explosões nem colocar os negros sempre como empregados domésticos).

Se há avanço no campo do comportamento, na política a televisão ainda patina. Há uma submissão das grandes questões ao julgamento moral, reduzindo a abrangência da análise a meras ações psicológicas. Na verdade, acaba-se por observar um horizonte duplo, que lança braços compreensivos para o lado da vida pessoal, ao mesmo tempo em que fecha qualquer perspectiva de pluralismo no campo da política. Por isso, ao contrário de países como a França, o Brasil aparece avançado em comportamento (aqui se fazem paradas gays, lá protestos contra casamento de homossexuais) e reticente em política. O Brasil coletiviza o individual; a França individualiza o coletivo.

Risco da reação A televisão brasileira, como arena do imaginário, vive hoje um dilema importante, que precisa ser debatido. Com a entrada em cena dos evangélicos, tanto em canais próprios como em horários comprados, o risco da regressividade é grande, sobretudo no que diz respeito às questões sexuais. Os pastores temem mais ao sexo que a Deus. Para complicar a situação, o crescimento desse contigente, com sua força de apelo no mercado, fez com que os temas ligados ao pentecostalismo fossem tratados com excessiva suavidade e falta de espírito crítico em matéria de direitos humanos.

A sociedade avança, mas está cercada de reacionários incapazes de lidar com a felicidade do outro. Os crimes contra gays são expressivos e a violência estúpida. Por isso não se pode relevar como opção de fé o comportamento que incentiva os homofóbicos: eles são execráveis e criminosos. Por razões de mercado, a mesma novela que levou aos lares brasileiros cenas dignas de afeto entre dois homens pintou os evangélicos como pessoas impolutas e marcadas pela aceitação integral do outro. É preciso realismo nessa hora. Os evangélicos têm se tornado ponta de lança da reação. Direitos humanos suplantam qualquer fé.

Nascemos para ser homens, não santos. O projeto de santidade só cria abismos e anátemas. Os únicos seres perfeitos são os perfeitos idiotas. Deus nos livre deles.

Luz entre sombras

Luz entre sombras 
 
Com o livro Entressombras, a poeta Yeda Prates Bernis se aproxima da angústia e do sentimento de melancolia para expressar estados profundos da existência humana 
 
Audemaro Taranto Goulart
Estado de Minas: 01/02/2014


Em sua obra, Yeda Prates Bernis toca sempre com delicadeza nos limites da dor e da redenção     (Jair Amaral/EM/D.A Press)
Em sua obra, Yeda Prates Bernis toca sempre com delicadeza nos limites da dor e da redenção


Yeda Prates Bernis lançou recentemente seu Entressombras, mais um livro de poemas. São versos inconfundíveis, com a marca de Yeda. Lendo-o, vi-me em 1982, quando participava da comissão julgadora do Prêmio Cidade de Belo Horizonte, na área da poesia. Eu, Márcio Sampaio e a saudosa Elza Beatriz julgávamos os trabalhos que líamos com cuidado e critério. Eu me decidi por um conjunto de poemas delicados e sugestivos, de onde emanava uma luz diferente cuja sedução aumentava com o passar das páginas. Era o Pêndula, que depois vim a saber fora escrito por Yeda Prates Bernis. No momento da escolha final, Márcio Sampaio optara por um outro livro. Elza Beatriz hesitava indecisa, mas, ao final, acompanhou Sampaio. Perdi a escolha mas mantive o meu voto em Pêndula.

Pouco tempo depois, Elza Beatriz me revelou numa conversa que também ia ficando encantada enquanto lia os versos de Pêndula, mas chegou a um determinado ponto em que reconheceu alguns poemas que Yeda, bem antes, lhe havia mostrado. Identificada a autoria, Elza Beatriz foi assaltada por um excesso de escrúpulo. Se votasse no livro estaria escolhendo o trabalho da amiga. Entre a dor de consciência e a dor de cabeça, Elza preferiu esta última. E Pêndula ficou em segundo lugar.

Essa volta ao passado se deve ao mesmo encanto com que fui lendo os poemas de Entressombras.  Na comparação com Pêndula, publicado em 1983, salta, imediatamente, a diferença de tom que rege cada obra, mas há um vínculo mágico que as liga, conforme se poderá ver em seguida.

O livro de 1983 formata-se a partir do Eclesiastes: “Para tudo há um tempo. Para cada coisa há um momento debaixo dos céus”, como dita uma epígrafe geral que abre o texto. E o fluxo do tempo é a condição marcante na elaboração dos poemas, mostrando que tudo tem o seu momento e a sua vez. E como a vida e o mundo são plenos de contrastes, não espanta que alguns poemas flagrem frustrações como expressam esses versos de “Viagem”: “Escalo noites,/ açoites calo./ Abraço o espaço/ da fantasia/ – vã geometria./ Caminhos espantos./ E no embornal/ de sonho e sal/ guardo meus cantos”. Entretanto, os poemas de Pêndula se fazem acompanhar de uma claridade que sempre desencobre os vultos, tornando-os figuras que se distinguem por contornos definidos. Assim, o que seria apenas lamentos impõe-se também como uma voz serena e crítica que aponta desconfortos, mas que também se substitui por acentos de acalmia e de doçura em outros poemas.

Esse tom, no entanto, muda quase completamente no Entressombras. Já o título é um indicador do perfil do livro que se faz atravessar de um nítido sentimento de melancolia. E há razões ponderosas para que as coisas se mostrem dessa forma. Esse sentimento, no entanto, vem vazado num conjunto harmonioso, que descarta uma curiosidade natural de se tentar identificar as suas causas. Não é preciso saber, precisamente, o que origina o tom melancólico, até porque ele transita numa dimensão humana que revela o que se poderia chamar de unidade psíquica do ser.

Seria proveitoso lembrar como a poesia sempre projeta sinais de uma angústia existencial que onera o ser de modo irreversível, o que tem origem na própria essência humana, marcada por um processo que se inicia com o nascimento. É ali que, separado da mãe, instala-se no ser a falta, condição que a psicanálise situa como movimento que o sujeito realiza no sentido de suprimir esse hiato que o acompanha por toda a vida e que é o móvel de sua busca e de sua trajetória no mundo. Essa ânsia de superação de um vazio impõe, simultaneamente, a busca de um saber revelador mas que também se configura como uma impossível totalização, originando-se daí a angústia existencial.

Um poeta em que tais traços se colocam de modo incisivo é Fernando Pessoa. Sua obra projeta um ser mergulhado na busca de um acerto consigo próprio, na tentativa de entender verticalmente a vida, num movimento em que a única possibilidade de compreensão está nos escaninhos da poesia. Aliás, essa procura de algo novo teria sido responsável pela surpresa e incompreensão que a obra pessoana provocou em seus contemporâneos, deixando para a posteridade o reconhecimento da genialidade do poeta.

Água e solidão

O Entressombras de Yeda Prates Bernis é uma ilustração do quanto se disse. Os poemas envolvem-se numa angústia que encontra seu resgate na produção mesma da poesia. É notável como os textos fundam-se num jogo de metáforas bastante reconhecíveis a uma primeira leitura. Assim, de imediato, percebe-se que a metáfora principal que domina o livro identifica-se no significante “água” que conota diversas manifestações ameaçadoras como a voragem que destrói (“O que desorienta no mar/ é sua insaciável fome/ de navios e de homens”), a perda incontrolável (“Aprisiono o dia/ e ele água/ em minhas mãos escorre”), o caminhar para o inexorável (“Resta navegar nas águas deste Agora/ até desaguar na imensidão/ de um mar”). Outros significantes transitam pelos poemas, sinalizando a ideia de perda, de sofrimento, de solidão, de passagem, tudo ecoando o sentimento de melancolia, de angústia e de perda. São tão fortes tais manifestações que não escapa ao leitor a condição de perplexidade do eu poético diante de um mundo incompreensível que apenas oferta sonhos que se perderam e lembranças que perduram como signos de uma ausência.

Mas em meio a tudo isso, esplende a força do jogo poético. É o momento em que as coisas passam a ser vistas num plano superior que elimina as frustrações, regenerando o espírito e criando forças que fazem frente à incompreensão da própria existência. É aí que a força notável da criação poética redime, ensina e apazigua. Pode-se ver isso muito claramente no Entressombras, uma vez que vários poemas fazem contraponto ao tom melancólico, trazendo a luz de uma nova compreensão dos mistérios da vida. É a força redentora da poesia que se faz presente, como se pode ver no poema “Exílio”, que revela como a luz ilumina as sombras:

Com penumbra                    Bordo palavras
incertezas me habitam         neste papel  
sombras me possuem          estrelas, arco-íris, luar
trevas me exilam.                 e viajo na luz.
  
No poema “Louvação”, a imagem do rio aparece mas desvestida da sua feição ameaçadora, eis que agora suas águas transfiguram-se como poesia: “Louvar o rio/ com seu cortejo/ de nuvens e claridades. Louvar o rio/ orvalhando estrelas/ na página deste poema”.

A força redentora da poesia passa por vários poemas, mas encontra admirável síntese em “Borges”, sobretudo porque a figura do poeta argentino decalca de modo perfeito o sentimento e o encontro da redenção que a poeta reconhece como o seu próprio mundo e a sua vida.

Em profundo mar noturno                  E venceste a escuridão
sombras mergulharam teus olhos     com a luz do imaginário.
letras escaparam dos livros               Peleaste con angeles y demônios
para o abismo do nada.                     Espejos y laberintos
                                                           e tua luta rende incomparável beleza.

Essa é, pois, a maneira como a poeta suplanta as suas vulnerabilidades para manter-se à tona das águas em que desliza. A força da poesia é que lhe confere esse poder transformador, revelando como é possível fazer da criação artística um processo efetivo de reinvenção da vida.


. Audemaro Taranto Goulart é professor da PUC Minas.

Orelha

Orelha 
 
Estado de Minas: 01/02/2014


José Luiz Villamarim leva para as telas o romance O mundo inimigo (Walter Carvalho/Divulgação)
José Luiz Villamarim leva para as telas o romance O mundo inimigo

Villamarim filma Ruffato


Conhecido pelo trabalho em minisséries como O canto da sereia e Amores roubados, o diretor mineiro José Luiz Villamarim vai estrear nos cinemas no segundo semestre de 2015 com a adaptação de O mundo inimigo, de Luiz Ruffato (o mesmo de eles eram muitos cavalos). “Quando li o livro me apaixonei. Fiquei com muita vontade de filmar: agora está chegando o momento”, revela Villamarim, contando que conseguiu captar os recursos necessários para as filmagens em Cataguases, cidade natal do escritor. Lançado em 2005, O mundo inimigo é a segunda parte de Inferno provisório, série de cinco livros na qual Ruffato traça trajetória ficcional da classe operária brasileira, do início do século 20 até os dias atuais. Para o longa-metragem, Villamarim terá novamente como parceiros criativos a elogiada dupla de Amores roubados: o roteirista pernambucano George Moura e o fotógrafo paraibano Walter Carvalho. Com produção da Bananeira Filmes, as filmagens estão marcadas para outubro; antes, com a mesma equipe, Villamarim dirige na Globo o remake da novela O rebu,

Fantasia em alta

Com sedes no Brasil e em Portugal, a Editora Saída de Emergência investe em catálogo de literatura de fantasia, segmento que vem crescendo nos dois países. Para descobrir novos autores de ficção científica, terror ou realismo mágico, a editora promove este ano o Prêmio Bang!, primeiro concurso internacional de literatura fantástica em língua portuguesa. O prêmio será de 3 mil euros, mais a publicação simultânea no Brasil e em Portugal. O regulamento e as informações sobre as inscrições estão no site www.revistabang.com.

Maíra de volta

Publicado pela primeira vez em 1976, o romance Maíra, de Darcy Ribeiro (1922-1997), ganha nova edição pela Editora Global. Em Maíra, o escritor revive as emoções dos anos em que conviveu com os índios e narra a história de um índio que, adotado por um padre e convencido a seguir o sacerdócio, questiona sua verdadeira fé e entra em conflito por ter abandonado seu povo.
 (Frederic J. Brown/AFP)

Filme e livro

Chega às livrarias esta semana, pela Editora Seoman, o livro 12 anos de escravidão, de Solomon Northup, que deu origem ao roteiro de filme de mesmo nome, dirigido por Steve McQueen (foto), um dos fortes candidatos ao Oscar deste ano – o longa disputa em nove categorias. Livro de memórias, narra a história de um homem negro nascido livre e que por mais de 30 anos desfrutou da liberdade nos EUA em pleno regime escravagista. Ao término desse período, tendo recebido uma falsa proposta de trabalho, foi sequestrado, drogado e comercializado como escravo na região do Rio Vermelho, no estado de Louisiana, onde permaneceu por 12 anos. A obra foi publicada pela primeira vez em 1854.de Bráulio Pedroso.

Língua e poder

Conhecido por obras como Preconceito linguístico  e A norma oculta, língua e poder na sociedade brasileira, Marcos Bagno lança estudo sobre o ensino de português nas escolas brasileiras: Sete erros aos quatro ventos. Na obra, o professor da Universidade de Brasília analisa os livros comprados pelo MEC para as escolas públicas destinados ao ensino do português. Bagno conclui que eles fazem excelente trabalho nos eixos de ensino relacionados à leitura e à produção textual, mas ainda se apegam a uma pedagogia convencional quando o assunto é a gramática, mostrando-se às vezes mais normativos do que os gramáticos e dicionaristas profissionais.

Crimes em série

Com o sucesso das séries de televisão, tornou-se um filão lucrativo lançar romances baseados nos roteiros vistos na TV. A bola da vez é The killing, romance de quase 800 páginas, escrito por David Hewson, baseado no roteiro original dinamarquês de Soren Sveitrup. A versão americana do seriado, que teve seu final anunciado na terceira temporada, no fim do ano passado, agora confirmou a quarta e última maratona, exclusivamente pela Netflix.

Sempre clássicos

A Editora Autêntica está lançando a coleção Clássica, destinada à publicação de obras gregas e latinas da Antiguidade, além de antigos textos escritos em português, castelhano, francês, alemão, inglês e outros idiomas. Os primeiros títulos são a segunda edição revista e ampliada do Dicionário do latim essencial, organizado por Antônio Martinez de Rezende e Sandra Braga Bianchet, e uma versão bilíngue português-latim do Diálogo dos oradores, do pensador romano Tácito, com tradução e notas de Martinez Rezende e Júlia Batista Castilho de Avellar. Os próximos títulos serão Elegias, de Propércio, com tradução de Guilherme Gontijo Flores; Eneida, de Virgílio, com tradução de João Carlos de Melo Mota; e Medeias latinas, de vários autores, com tradução de Márcio Meirelles Gouvêa Junior.

Sobre o tempo

A Editora UFMG está lançando Tratados sobre o tempo – Aristóteles, Plotino e Agostinho, de Fernando Rey Puente e José Bacarat Júnior. O volume traz traduções inéditas, acompanhadas de notas explicativas, de textos de Aristóteles, Plotino e Santo Agostinho. São três textos sobre o tempo, legados pela Antiguidade, considerados fundamentais para a história da filosofia.

Raízes ecológicas da revolta‏

Raízes ecológicas da revolta 
 
Onda de protestos políticos que varrem o planeta tem entre suas causas eventos ligados ao desequilíbrio ambiental, como já ocorreu em outros momentos da história da humanidade 

 
Maurício Andrés Ribeiro
Estado de Minas: 01/02/2014


Protestos em Kiev: quando a insatisfação da população se espalha como ondas de um terremoto social     (Aris Messinis/AFP - 28/1/14)
Protestos em Kiev: quando a insatisfação da população se espalha como ondas de um terremoto social


Entre 2006 e 2013, ocorreram 843 protestos pelo mundo, em 87 países, na esteira dos desdobramentos da crise econômica e financeira global. Em 2012 e 2013, houve protestos no Brasil, na Turquia, no Egito e na Tunísia, bem como revoltas na Espanha, Grécia, França e Estados Unidos. A maioria dos movimentos foi liderada por jovens, sem medo e autonomamente. Em todos os países, os manifestantes dos movimentos de protesto são pessoas comuns da classe média, bem-educadas e com expectativas crescentes. Sindicalistas, ativistas sociais em geral e idosos também constituíram parte significativa de tais manifestações.

Os métodos de protesto consistiram majoritariamente de marchas pré-agendadas em grandes cidades e ocupação de ruas, bloqueio de vias, pequenos incêndios e barricadas, desobediência civil e ação direta de vazamento de informações por hackers, com amplo uso das redes sociais. Os protestos foram acelerados pelo uso da internet e muitos desapareceram de repente, do mesmo modo como apareceram.

Especialistas mostram as diferenças e semelhanças entre eles. Moisés Naim escreveu que os protestos na Tunísia, Chile, Turquia e Brasil revelam cinco aspectos surpreendentemente semelhantes: pequenos incidentes se tornam grandes, os governos reagem mal aos movimentos, não há líderes ou cadeia de comando, não há ninguém nem grupo específico com quem negociar ou a quem prender, e é impossível prever consequências. A prosperidade nesses países não se fez acompanhar da estabilidade. Naim citou a observação de Samuel Huntington, segundo a qual, nos países em desenvolvimento, as demandas por serviços públicos crescem mais rápido do que a capacidade dos governos para satisfazê-las.

Ademais, os protestos foram mais ativos nas democracias do que em regimes autoritários, que os reprimem e inibem. Aventa-se que a gestão das democracias tornou-se mais difícil devido às dificuldades para obter e alocar os recursos entre grupos com interesses concorrentes.

A maior parte da violência nas manifestações sociais ocorreu nos países de menor renda. Violência e vandalismo ocorreram em 9% das manifestações. Entretanto, sua percepção é amplificada e parece que a violência é mais generalizada. Aqueles que perdem a paciência com a prática de métodos pacíficos apelam para a destrutividade como forma de dar visibilidade mais rápida a suas causas. Assim, não é incomum nestes contextos que tais atores queiram tornar-se visíveis por meio da quebradeira, da agressividade e da destruição. A radicalização e a polarização tornam-se métodos para se fazer ouvir, para se fazer enxergar, exigir cuidado, obter atenção.

No Brasil, por mais de 20 anos não se viam movimentações nas ruas como as que ocorreram em junho de 2013. Em geral, elas foram pacíficas, mas em vários episódios, grupos maiores ou menores de manifestantes acreditam que sem violência não há possibilidade de mudanças. Provoca-se a violência com incêndios de veículos, depredações de bancos, invasões e pichações de prédios históricos, saques em lojas.

Eventos tão díspares como a insatisfação de grupos com a gestão de uma universidade, o ativismo de libertação animal, a comemoração da vitória de um time no futebol, ou até mesmo contra a intervenção policial bem-sucedida no sentido da coibição do tráfico de drogas têm levado a um desfecho comum: a destruição do patrimônio público e privado.

Local e global

Não faltaram, portanto, razões locais e globais para a indignação, a insatisfação social e a revolta. Em outras palavras, não se trata da movimentação de “rebeldes sem causa”. Os motivos para iniciar os protestos variaram: no Brasil, o aumento nas tarifas de ônibus teve o papel importante de detonar o início dos movimentos de protesto; na Turquia, foi a ameaça de destruição de um parque urbano; na Indonésia, o preço dos combustíveis; na zona do euro protestou-se contra a imposição do regime de austeridade. Na Índia, a corrupção e a falta de proteção para as mulheres.

Nos países árabes, protestou-se contra tudo. Contra os governos nacionais, contra a austeridade imposta em períodos de crise econômica, contra o Fundo Monetário Internacional, contra as corporações e as elites, contra as desigualdades, contra os altos preços de alimentos e de energia, contra a corrupção, a falência da justiça. Demanda-se mais transparência, mais justiça econômica e melhoria nos serviços públicos; mais justiça fiscal, mais trabalho e emprego, mais moradia. Demanda-se também mais liberdade de expressão, mais justiça ambiental e mais direitos para grupos indígenas, étnicos, das mulheres, de minorias como as LGBT, de imigrantes, de população carcerária. Luta-se pela reforma da Previdência, pela reforma agrária e por outras reformas.

Os protestos, de modo geral, evidenciaram e denunciaram a crise de legitimidade e o esgotamento do modelo de representação política. Eles condenaram a falta de ética na política e a corrupção como uma relação desarmônica de parasitismo social e de predação. Condenaram também a ineficiência e a arrogância das autoridades. Todos demandaram políticas para prover mais emprego, serviços públicos decentes e políticas sociais efetivas.

Os protestos de 2013 mostraram que há crise de representação política tanto em governos autoritários como na democracia representativa, que estaria falida. Muitas pessoas em vários países não se sentem mais representadas nem pelos representantes eleitos, nem pelos partidos políticos existentes. Os manifestantes perderam a esperança e a confiança na democracia representativa e nas instituições democráticas do modo como existem hoje.

Há a percepção crescente de que os políticos não priorizam as demandas da população; há grande frustração com a política usual. Protestou-se em toda parte contra a falta de democracia real, que impede que as demandas econômicas e sociais sejam atendidas. Os governantes, de sua parte, tentam manter a ordem e apaziguar os conflitos, mas, em muitos casos, há carência de instrumentos e de métodos não violentos de processar os conflitos sociais.

Esta geração de jovens manifestantes parece pressentir o peso que terá que suportar, trabalhando duro para sustentar uma Previdência Social cada vez mais cara, considerando o crescente envelhecimento da população. Presencia a implementação de políticas econômicas de curto prazo, que geram uma dívida ambiental e climática crescente que lhes dificultará a vida, tornando-a mais pesada, com menor qualidade e sem facilidades a desfrutar.

Ambiente e clima

Pode ser valioso situar a insatisfação social num contexto de longo prazo e de encadeamento de causas e efeitos. Aos motivos mais visíveis e manifestados expressamente das insatisfações sociais, é oportuno explicitar que em sua origem muitas remontam a fatores ambientais e climáticos. Jared Diamond, em seu livro Colapso (Editora Record), mostrou que a instabilidade política e a insatisfação social em muitas sociedades decorreram de desequilíbrios ambientais, de destruição da base natural que sustenta as sociedades, da exaustão de recursos naturais.

O encadeamento de problemas que leva ao colapso começa com a sobrecarga no ambiente, o esgotamento de recursos e da capacidade de suporte, mudanças climáticas, tensão social, empobrecimento econômico, conflitos políticos e finalmente o colapso. A escassez e encarecimento dos alimentos, por exemplo, frequentemente têm origem em secas e eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar mais intensos e frequentes.

Muitas sociedades estão se tornando incapazes de relacionar-se, de modo duradouro, com a infraestrutura física na qual vivem. Tal incapacidade empobrece a base de riqueza natural, o que, por sua vez, resulta no empobrecimento econômico e no acirramento de conflitos políticos e sociais. Esses processos desagregadores provocam a decadência e o colapso. A cegueira e a surdez dos governantes decorrem em boa medida da falta da compreensão sobre esses encadeamentos de problemas. A ecoalfabetização pode, portanto, ser um modo eficaz de reduzir esse déficit de entendimento.

As revoltas nas ruas se assemelham a terremotos oriundos do ajustamento das placas tectônicas, com liberação de forte energia. Em tsunamis, tal energia resulta na produção de uma grande onda e de sucessivas ondas menores. Os anos de 1848 (levantes na Europa), 1917 (Revolução Russa) e 1968 (maio em Paris) são historicamente rememorados como períodos de explosão de insatisfação social com violência. A independência da Índia, em 1947, a queda do muro de Berlim, em 1989, as lutas pela igualdade racial lideradas por Martin Luther King nos Estados Unidos, a conciliação promovida por Nelson Mandela na África do Sul e o fim do apartheid são, em contraste, referências relevantes de transformações realizadas de forma não violenta durante décadas.

Procurar compreender as raízes ecológicas profundas das insatisfações sociais, situá-las como sinais e sintomas de uma crise maior no contexto da evolução social e política da humanidade, pode ser valioso para se participar ativamente ou como observadores conscientes nesses processos que se desenvolvem em nosso tempo.

. Maurício Andrés Ribeiro é autor dos livros Ecologizar, Tesouros da Índia e Meio ambiente e evolução humana. ecologizar@gmail.com.

A vida como ela é Amor Verissimo‏

A vida como ela é 
 
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 01/02/2014


Luis Fernando Verissimo lança livro com crônicas que foram adaptadas para seriado de TV (Sylvio Sirangelo/Divulgação)
Luis Fernando Verissimo lança livro com crônicas que foram adaptadas para seriado de TV

Ler os textos de Luis Fernando Verissimo, principalmente quando se está triste, naqueles momentos de baixo-astral, achando que a vida não anda valendo a pena, sempre é um alento para recuperar a alegria e a vontade de seguir em frente. Nesse caso, a boa pedida é saborear aos poucos, degustando história por história, como as 50 crônicas (32 inéditas em livro) de Amor Verissimo, livro que acaba de sair pela Editora Objetiva.

Os textos reunidos na coletânea serviram como ponto de partida para a série homônima, a princípio com 13 capítulos, que está sendo exibida pelo GNT, canal pago, tendo no elenco Gabriela Duarte, Letícia Colin, Marcelo Faria, Paulo Tiefenthaler e Pedro Monteiro.


Verissimo trabalha sempre com a vida real, com todos os seus desdobramentos e possibilidades. Às vezes, nem sempre amenos, com as traições, intimidades devassadas, perda do parceiro, relações hétero e homossexuais, resolvidas ou não, tudo com o bom humor peculiar. Seus personagens são gente como a gente, vivendo momentos que seriam trágicos se não fossem cômicos. E como o tema é amor, tem de tudo, amor platônico, carnal, correspondido, fracassado. Como na vida.

Em “Vingança”, um grupo de amigos, solidários com o colega que havia levado um chute na bunda dado pela mulher amada, resolve bolar um plano aparentemente infalível. Escolhem outro amigo para seduzi-la para, em seguida, também descartá-la sem piedade, como a malvada Maura tinha feito com o pobre do Inácio.

A princípio, Boanova, eleito para desempenhar a missão, tipo bonitão e galã, “um pão, como se dizia”, mas “maricas” não declarado (na época em que se passou a história, como lembrou Verissimo, não se usava a palavra gay), não queria aceitar o desafio. Alguma coisa dentro dele andava dizendo que poderia não ser boa ideia. Mas depois, por insistência dos colegas, resolveu ir em frente e vingar a afronta sofrida por Inácio. Só que, por essas artes do destino, também ele acabou se encantando com a Maura. E acreditem se quiser: da mesma forma que tinha feito com o outro, ela chutou Boanova sem piedade, “fazendo com ele o que não se faz com um cachorro”, segundo consta.

Em outra história, “Trauma”, o pequeno Artur, de 12 anos, filho de pais separados, que morava com a mãe, mas passava os fins de semana com o pai, começou a ver sua vida virar um inferno quando os dois, alternadamente, queriam saber do filho o que o outro andava aprontando.
 (Objetiva/Reprodução)

Até que o menino bolou um plano e começou a inventar situações mirabolantes: que o pai levava duas loiras para casa, hospedava um travesti e outras coisas cabeludas. Ou então, para atender a curiosidade do pai, que a mãe tinha um namorado, dando até o nome do dito-cujo, José Augusto, que dormia com ela. Quando resolveram colocar o garoto contra a parede, ele acabou confessando: era tudo mentira.

Nascido em Porto Alegre, em 1936, Luis Fernando Verissimo é um dos escritores mais celebrados do país. Vencedor de prêmios importantes, criou tipos inesquecíveis, que ficaram no imaginário do brasileiro, como a velhinha de Taubaté e o analista de Bagé, entre outros. É autor de mais de 50 títulos, entre crônicas, contos e romances.

Amor Verissimo

• De Luis Fernando Verissimo
• Editora Objetiva
• 194 páginas, R$ 29,90

A alma do blues - Autobiografia de B. B King

A alma do blues 
 
Autobiografia de B. B King mostra como a música dos campos de algodão do Mississippi se tornou universal. Aos 88 anos, o artista é ícone da arte popular 
 
Ângela Faria
Estado de Minas: 01/02/2014


B. B King e sua Lucille encantam várias gerações de amantes da boa música (Adrian Dennis/AFP)
B. B King e sua Lucille encantam várias gerações de amantes da boa música

B. B King é uma lenda – e não há uma gota de clichê nisso. Admirado por John Lennon, Miles Davis, Eric Clapton e Johnny Winter, esse bluesman nascido em 1925, no Delta do Mississippi, trabalhou duro para defender a sua música. Testemunha (e, às vezes, vítima) das transformações do showbizz a partir da década de 1940, o guitarrista, compositor e cantor não apenas fez história. Ele é história.

Lançada em 1996, a autobiografia B. B King – Uma vida de blues (Generale) chega agora ao Brasil. O coautor, David Ritz, escreveu também sobre Marvin Gaye, Smokey Robinson, Etta James e Ray Charles. Logo nas primeiras páginas, o astro avisa: blues não é o canto da tragédia. Discípulo de Blind Lemon e de Lonnie Johnson, ele vê esperança e emoção na música inventada na roça norte-americana.

Desde garotinho, Riley colheu algodão no Sul dos EUA. Depois, dirigiu trator, fez carreira no rádio como DJ, montou bandas e sofreu dezenas de acidentes ao cruzar seu país durante turnês. Teve 15 filhos com mulheres diferentes. Era criança quando perdeu a mãe e a avó. Dos 10 aos 13, viveu sozinho na cabana cedida por um compreensivo fazendeiro. Aquele patrão foi raríssima exceção entre racistas na terra da Ku Klux Klan. Aos 12, comprou seu primeiro violão por US$ 15.

Rua O tratorista e agricultor humilde lutou para conquistar espaço nas rádios de sua região. Tocando nas ruas, aprendeu a primeira lição de marketing de sua vida: as canções da vida real, “em que você sente a dor e o ardor entre um homem e uma mulher”, têm valor afetivo – e financeiro.

Rapazinho, o DJ se alternava entre os microfones da emissora WDIA e a lida no campo. Um jingle, composto para o Pepticon, chamou a atenção para seu talento. Mas era preciso mais: inventar um estilo. E ele veio, depois de o jovem se encantar com sons havaianos e com o pedal steel. “Ao curvar as cordas, ao treinar minha mão – elas são bem gordas e grandes –, conseguia obter algo que se aproximava de um vibrato vocal. Conseguia sustentar as notas. Queria conectar minha guitarra às emoções humanas. Ao usar o feedback do meu amplificador e do instrumento, experimentei sons que expressavam meus sentimentos”, resume ele.

Demorou um bocado a metamorfose de Ripley. Inicialmente conhecido como o DJ Blues Boy da Beale Street, depois ele se chamou Bee Bee, e, finalmente, B. B King. Ouvia-se muita música nos EUA do pós-guerra, mas o “caipira emergente” não queria ser bluesman-clichê: aquele sujeito tosco de roupa rasgada, copo de bebida ao lado e orgulhoso de dar bordoadas na mulher.

Lucille Desde o início, King defendeu o blues como música tão nobre quanto a ópera e o jazz. Lucille, a eterna parceira, surgiu em 1949. Um incêndio pôs fim ao baile na pequena cidade de Twist. Chamuscado, o guitarrista percebeu que abandonara o ganha-pão lá dentro. Atravessou as chamas, queimou-se e resgatou a “amiga”. Dali a pouco, descobria a origem do fogaréu: a briga de dois rapazes por causa de uma tal de Lucille. Desde então, cerca de duas dezenas de guitarras batizadas de Lucille dividem o teto com ele.

Em 1952, aos 26 anos, gravou o primeiro hit, Three o’clock blues, que fez dele “nome nacional num mundo exclusivo de negros”, como ressalta em sua autobiografia. “Não vendia para os brancos nem tocava para eles. Isso só ocorreria dali a 20 anos.” Workaholic, em quatro décadas, calcula ter feito 330 shows por ano. Gostava de jogar, perdeu fortunas. Conquistador, teve alguns casamentos e muitas mulheres. Pai ausente, elogia todas elas.

B. B King experimentou altos e baixos, viu nascer fenômenos como Elvis Presley e Ray Charles, aprendeu a lidar com empresários, contratos e gravadoras. Estava lá quando estouraram o rock, o soul e a Motown. Para ele, o blues está no DNA de tudo isso, embora muitos o considerem “menor”. Também pensavam assim Mick Jagger, Keith Richards, Johnny Winter, Eric Clapton e Bob Dylan – rapazes brancos que revolucionaram a cultura do século 20. Aliás, certa vez, os hippies fizeram B.B King chorar, em São Francisco. Ao ouvir Rock me baby, Sweet litle angel, You upset me baby e How blue can you get durante um show, a plateia de cabeludos urrou de alegria. King e Lucille tiveram de tocar por quase três horas.
 (Generale/reprodução)

O veterano bluesman gostava dos jovens colegas Jimi Hendrix, Steve Ray Vaughan e Jeff Beck. Só não achou graça quando o The Who inventou a moda de destruir guitarras no palco. “Cara, eu tinha arrepios só de pensar em machucar minha Lucille”, espantou-se ele. Em 1970, King estava de volta às paradas com The thrill is gone. John Lennon adorava aquela canção. A definitiva consagração mundial viria no fim da década de 1980: aos 62 anos, o carismático senhor encantaria novamente os jovens ao dividir com Bono Vox a matadora When love comes to town, no disco Rattle and hum, lançado pela banda irlandesa U2.

Hoje, o canto dos campos de algodão é tão cultuado quanto a ópera e o jazz. “Vi o blues viajar das estradas rurais do Mississippi para praticamente todos os pontos do planeta. Roqueiros, rappers e cantores de soul vêm dele. O blues é o avô que roga por todas as suas crianças”, comemora B. B King.


B. B KING – UMA VIDA DE BLUES
• De B. B King e David Ritz
• Editora Generale
• 226 páginas, R$ 54,90

João Paulo - Para não esquecer‏

Para não esquecer 
 
Golpe militar no Brasil completa 50 anos e é tema de publicações, entre livros de memória, história, estudos políticos e reportagens. Editoras anunciam novos títulos sobre o período 
 
João Paulo
Estado de Minas: 01/02/2014


O presidente Emílio Garrastazu Médici na Escola Militar de Porto Alegre durante o período de maior repressão da ditadura militar instaurada em 1964 (R. Borges/O Cruzeiro/EM - 21/10/69 )
O presidente Emílio Garrastazu Médici na Escola Militar de Porto Alegre durante o período de maior repressão da ditadura militar instaurada em 1964

Há uma circunstância peculiar em torno do golpe militar de 1964. Ao mesmo tempo em que faz parte da história muito próxima dos acontecimentos, pode parecer algo distante para gerações que não foram testemunhas dos fatos e conviveram com interpretações marcadas pelo peso ideológico. Ao se aproximar das cinco décadas do 31 de março de 1964, o interesse pelo tema tem, exatamente por isso, um novo sentido. Já há distanciamento e volume de estudos suficientes para tratar do golpe militar com profundidade e, ainda, suas marcas estão presentes na sociedade, na economia e na política brasileira. Tão longe, tão perto.

A nova safra de trabalhos sobre 1964 começa a se avolumar. Depois do sucesso de livros de fundo histórico, o mercado parece ter percebido que tinha um bom assunto nas mãos e cuidou de preparar obras de todo calibre e estilo para marcar os 50 anos do golpe. Contou ainda com a produção acadêmica, que vem se concentrando em aspectos do período que haviam ficado de fora até então, entre eles a dimensão cultural, de política externa e até de dissenso no interior das Forças Armadas.

A isso se somam ainda vários aspectos conjunturais, como a recuperação da disposição militante dos jovens – ainda que dispersa –, os trabalhos da Comissão da Verdade e a nova posição do país no atual momento internacional. Sem falar da recente retomada da memória histórica em torno do golpe, que era consagrado como uma ação militar exógena e não um acordo do qual fizeram parte na primeira hora setores da sociedade civil e da imprensa, que depois se retiraram para reescrever uma história para a qual reservaram para si papel de resistência, que a bem da verdade foi tardia.

Em torno de uma história aparentemente objetiva, muita ideologia rolou por sobre a ponte dos fatos. O golpe civil-militar de 1964, tramado dentro das fronteiras do país e com apoio externo (sobretudo dos Estados Unidos), seria responsável pela interrupção de um processo político, social e econômico e a inauguração de outro. Sai de cena a modernização a ser alcançada por meio de reformas sociais, distribuição de renda e democracia participativa e entra em seu lugar uma modernização conservadora, fundada na ideologia da segurança nacional, com exclusão das classes populares em todos os sentidos. De corte conservador, a modernização foi tocada por uma ditadura militar e uma tecnocracia civil e servil, sempre com o recurso da máquina repressiva para “correção” dos desvios.

Esse enredo cinquentenário, como se vê, permite muitas abordagens, da história ao jornalismo, da sociologia à política, do testemunho pessoal à pesquisa. Esses são alguns dos caminhos das obras que estão chegando aos leitores. Entre os primeiros livros que já estão nas livrarias se destacam 1964 - O verão do golpe, de Roberto Sander (Editora Maquinaria); A ditadura que mudou o Brasil – 50 anos do golpe de 1964, organizado por Daniel Aarão Reis, Marcelo Ridenti e Rodrigo Patto Sá Motta (Zahar); e 1964 - História do regime militar brasileiro, de Marcos Napolitano (Editora Contexto).

Golpe de verão
O jornalista Roberto Sander trabalhou cinco anos em cima de seu 1964 - O verão do golpe. O livro é uma tentativa de articular, em forma narrativa, os acontecimentos que antecederam o golpe, a partir da crise do governo Jango e dos primeiros meses de 64. Feito sobretudo a partir de material pesquisado na imprensa, enriquecido com entrevistas e consulta a algumas teses, o livro não tem intenção de interpretar o período, mas de dar ao leitor a sensação de testemunhar os fatos. O autor dividiu o livro em semanas, o que dá um toque ainda mais jornalístico, como se cada capítulo, como uma revista, procurasse dar conta do correr dos acontecimentos. O enredo vai de 1º de janeiro a 15 de abril de 1964.

Assim, o leitor vai acompanhando o desdobrar dos fatos, numa narrativa tensa, com uso de diálogos e outros recursos para dar ainda mais dramaticidade. O thriller histórico tem um ritmo tocado pelos eventos: avanços de recuos de partidos políticos, greves, crises, comícios, avanços da esquerda e reação da direita, sempre por meio da ação de personagens reais. Uma história viva que, ao fim de cada mês, ganha uma seção dedicada às modas da época. Como numa espécie de pano de fundo para a tensão política, Sander lembra o leitor que era também o tempo de Brigitte Bardot como musa do verão, do samba esquema novo de Jorge Ben, do rock dos Beatles, do engajamento de Nara Leão, do Cinema Novo de Glauber e das musas do teatro.

No último capítulo, “Meio século tentando entender – 1964-2014”, o jornalista faz um balanço da participação de cada setor, dos militares às elites civis, passando pelos grupos de resistência e pela odiosa história da tortura vigente durante os 25 anos da ditadura militar. E conclui que as feridas permanecem abertas e os criminosos ainda impunes. “Neste sentido, o golpe ainda não terminou”, afirma.

Legado e superação O volume coletivo A ditadura que mudou o Brasil - 50 anos do golpe de 1964 tem outra composição. Organizado a partir de colaborações de especialistas acadêmicos, entre pesquisadores jovens e veteranos, de várias universidades brasileiras, reúne ensaios temáticos sobre o período, sempre com o viés interpretativo e atual. A pergunta sobre a continuidade da ditadura ou acerca de seus desdobramentos na vida nacional é sempre visível no avesso dos estudos. São 13 textos, que abrangem dimensões variadas da economia, sociedade, cultura e relações internacionais, entre outros temas, sempre com o foco na nova institucionalidade autoritária instalada com o golpe militar de 1964.

Entre os ensaios, Daniel Aarão Reis, em “A ditadura faz cinquenta anos: história e cultura política nacional-estatista”, analisa em linhas gerais o nacional-estatismo ao longo de quatro grandes momentos. Para o autor, há uma ligação entre a ditadura do Estado Novo (1937-1945), os anos democráticos e “dourados” de JK (1955-1960), os “anos de chumbo” do governo Médici (1969-1974), e os dois governos de Lula (2003-2010). De acordo com Reis, há certa “perenidade da cultura política nacional-estatista” ao longo de conjunturas diversas, obviamente com “redefinições e metamorfoses”. Os outros organizadores do volume colaboram com textos sobre o papel das oposições, entre a resistência e interação (mais uma continuidade nítida na política nacional), como analisa Marcelo Ridenti; e acerca da influência das universidades na cultura política nacional, em reflexão de Rodrigo Patto Sá Motta.

Trazendo novos temas para o debate – de certa maneira renovando o campo de estudos, quando se compara com os livros lançados por ocasião dos 40 anos do golpe – estão trabalhos sobre as transformações econômicas e sociais do período, acerca do novo sindicalismo, sobre a produção teatral brasileira (entre o engajamento e o mercado) e tratando da política externa. Em todos os casos, existe uma ambivalência entre a continuidade e ruptura, como se a pergunta sobre a permanência da ditadura ainda se mantivesse operativa mesmo depois de sua derrocada formal. Se a ditadura foi derrotada, podemos falar o mesmo de seu legado? O importante, reafirmam os organizadores, é criar condições de superá-lo.

Cultura e memória O professor de história da Universidade de São Paulo, Marcos Napolitano, está lançando 1964 - História do regime militar brasileiro. Trata-se do mais articulado dos lançamentos recentes, na linha da história narrativa, mas permeado de análises e interpretações. Nos primeiros capítulos, o historiador retoma a ascensão e derrocada do governo Jango e recupera as articulações que levaram ao golpe militar. O autor apresenta ainda a polêmica tese da “ditabranda”, em referência aos primeiros quatro anos do regime militar, com suas ações no campo da economia e no campo jurídico e institucional, além da sequência de atos institucionais, que chegam ao ápice (ou fundo do poço) com o famigerado AI-5. O autor desfaz a argumentação dos liberais, mostrando que a chamada “ditabranda” foi construída, posteriormente, mais como mito que como realidade.

Na sequência, Marco Napolitano trata da cultura no período, identificando três períodos: de 64-68, com o controle e perseguição das atividades intelectuais, que passam a ser objeto de inquéritos policiais-militares (IPMs); de 69 a 78, com a sanha repressiva ao movimento da cultura, sobretudo de classe média, voltada para mobilização política, período marcado ainda pela mais dura censura; e o terceiro momento repressivo, que vai de 79 a 85, mais centrado no controle do que o regime considerava como “processo de desagregação da ordem política e moral”. O autor analisa movimentos ligados à música, ao teatro, ao cinema, à televisão, à literatura, ao jornalismo e às artes visuais, inclusive no período que se segue ao AI-5. Do engajamento político ao libertarismo comportamental, da indústria cultural aos independentes e marginais. Uma “pequena utopia” que ganharia as ruas e daria o “tom das lutas civis a partir dos anos 1970”.

O livro se encerra com uma reflexão importante sobre a questão da memória e da história. No caso brasileiro, a memória do período militar, que se tornou hegemônica pela vertente liberal, condena o regime para preservar o golpe, reconhece a modernização e relativiza o autoritarismo. Os riscos, como alerta, vão na direção de um olhar atenuante, que tende a neutralizar os clamores pela justiça. O trabalho da Comissão Nacional da Verdade, por isso, assume papel fundamental na recuperação da memória e na afirmação dos valores dos direitos humanos, que devem ser considerados inegociáveis. No momento em que o golpe chega ao cinquentenário, a laceração moral da tortura permanece uma chaga aberta com a impunidade dos responsáveis.

Outros títulos estão sendo anunciados para as próximas semanas. Entre eles a reedição da mais importante série escrita sobre a ditadura militar brasileira, de Élio Gaspari, que ganha nova edição revista pela Editora Intrínseca. Além dos já publicados A ditadura envergonhada, A ditadura escancarada, A ditadura encurralada e A ditadura derrotada, será lançado um quinto volume, ainda sem data definida, para completar a série sobre o período. A Zahar criou uma coleção, 1964 – 50 anos depois (da qual faz parte o acima referido A ditadura que mudou o Brasil), que já tem dois títulos programados, Ditadura e democracia no Brasil - Do golpe de 1964 à Constituição de 1988, de Daniel Aarão Reis, e As universidades e o regime militar - Cultura política brasileira e modernização autoritária, de Rodrigo Patto Sá Motta. O jornalista Carlos Chagas também anuncia o lançamento de A ditadura militar e os golpes dentro do golpe - 1964-1969, pela Record, de tom memorialístico. Dando continuidade aos dois volumes de O Brasil sem retoques, Chagas se propõe a contar a história a partir dos jornais e jornalistas.

Só algo pior que uma ditadura: o silêncio em torno dela, que permite que sejam esquecidas suas motivações e métodos. O cinquentenário do golpe militar, além da necessária ação do conhecimento em torno dos fatos e de suas consequências, pode servir para tornar espúria a questão que por muito tempo vem atormentando do Brasil: o que resta da ditadura na sociedade, nas instituições e até nos indivíduos?. Os novos livros parecem mostrar que, em caso de ausência de liberdade, nunca é bom virar a página. Quanto mais páginas, melhor.

A DITADURA QUE MUDOU O BRASIL – 50 ANOS DO GOLPE DE 1964
• Organização de Daniel Aarão Reis, Marcelo Ridenti e Rodrigo Patto Sá Motta
• Editora Zahar
• 272 páginas, R$ 49,90

1964 – O VERÃO DO GOLPE
• De Roberto Sander
• Maquinária Editora
• 272 páginas, R$ 39,90

1964 – HISTÓRIA DO REGIME MILITAR BRASILEIRO
• De Marcos Napolitano
• Editora Contexto
• 368 páginas, R$ 49,90

TeVê

Estado de Minas: 01/02/2014

TV PAGA » Troféu Frambroesa


 (Fastnet Films/Divulgação )



Um sábado dos mais fracos dos últimos tempos. Assim pode ser definida a programação de filmes de hoje, com duas estreias que não devem empolgar nem o mais otimista dos assinantes. No Telecine Premium, a atração é a comédia besteirol Inatividade paranormal, com Marlon Wayans e Essence Atkins. Na HBO, Orlando Bloom e Riley Keough estrelam o drama Paixão obsessiva (foto). Os dois filmes serão exibidos simultaneamente, às 22h.

Sábado é dia também  das sessões especiais

No aquecimento para a maior premiação do cinema mundial, o Telecine Touch preparou uma seleção com filmes indicados ou vencedores do Oscar, começando hoje com duas primeiras produções do diretor Steven Spielberg. Amistad, às 14h45, e Cavalo de guerra, às 17h30. No Megapix, a bandidagem toma conta do pedaço com Assalto ao carro blindado (18h30), Assalto em dose dupla (20h15), Efeito dominó (22h) e Jogo entre ladrões (0h10). Já o Universal Channel pega leve com quatro longas de animação: A fuga das galinhas (18h30), Wallace & Gromit: a batalha dos vegetais (20h), Coraline e o mundo secreto (21h30) e A casa monstro (23h30).

Outras alternativas na programação de filmes

Na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Como esquecer, no Canal Brasil; Como ser solteiro, no Sony; Perfeita felicidade, no Futura; Bela do senhor, no Max; Perfume – A história de um assassino, na MGM; Janela secreta, na Warner; Poltergeist – O fenômeno, no TCM; e O pianista, no Studio Universal. Outras atrações da programação: Guerra de Canudos, às 21h, no AXN; O tigre e o dragão, também às 21h, no Cinemax; e Os outros caras, às 22h30, no FX.

Ana Cañas abre nova  fase do Cultura livre

Outro filme em destaque hoje é o documentário Carmen Miranda – Bananas is my business, às 23h, na Cultura. Mais cedo, às 17h, o Manos e minas recebe o grupo Parábola, representante do chamado rap gospel. Na mesma emissora, às 18h, a cantora Ana Cañas abre a nova temporada do Cultura livre. Já às 21h30, na série Clássicos, a Filarmônica de Câmara Alemã de Bremen interpreta a oitava e nona sinfonias de Beethoven. No Canal Brasil, estreia a segunda temporada de Compositores unidos às 21h30, com Pedro Luís, Fagner e Péricles. No Multishow, às 21h, o assinante vai poder conferir a última noite do Festival de Verão de Salvador, com Nando Reis, Luan Santana e Ne-Yo.

Fox e FX exibe séries  em horários ‘difíceis’


Na Fox, a grande novidade de hoje é a estreia da série Graceland, às 13h. Inspirada em fatos reais, a produção narra as ações de um grupo de agentes federais que trabalham em diversas órgãos de segurança do governo e que são obrigados a viverem juntos e disfarçados em uma mansão numa praia da Califórnia. O canal ainda estreia as novas temporadas de White collar, às 12h; e New girl, às 18h. Pior faz o FX, jogando a terceira temporada de Wilfred para as 8h30.Em horário mais apropriado, o Nickelodeon estreia, às 21h, a série A família Hathaways.


CARAS & BOCAS » Sabadão musical


Thelmo Lins entrevista Lucas Avellar hoje, no programa Arte no ar     (Matheus Marinho/TV Horizonte)
Thelmo Lins entrevista Lucas Avellar hoje, no programa Arte no ar


O sábado sempre reserva todo tipo de musicais na telinha, entre shows e entrevistas com artistas e grupos. Para ficar apenas nos canais de sinal aberto, são quatro os destaques, sem falar nas atrações dos programas de auditório. Às 13h50, no Estrelas, na Globo, Angélica passa uma tarde com Naldo Benny na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. No Aglomerado, às 16h30, na TV Brasil (canal 65 UHF), a banda Biquini Cavadão apresenta a nova Roda gigante, que foi indicada ao Grammy Latino na categoria melhor música brasileira em 2013. Na TV Horizonte (canal 19 UHF), às 18h, o Arte no ar entrevista Lucas Avellar, que vai representar Minas no Midem, em Cannes. E na Rede Minas, às 21h30, o Noturno abre espaço para a Orquestra Rumpilezz e o saxofonista norte-americano Joshua Redman, em show gravado na Festa da Música 2012.

Casca grossa acelera com  as motos do Superenduro

A etapa brasileira do Mundial de Superenduro, realizada em Belo Horizonte, é destaque hoje no Casca grossa, às 13h30, na Alterosa. Os pilotos arriscaram manobras radicais na pista montada no Mineirinho, com obstáculos feitos de pneus, pedras, troncos, água e toras, numa disputa com muitas quedas, saltos e ultrapassagens, em três categorias para competidores nacionais e estrangeiros.

Viação Cipó vai passar por  Alvorada de Minas e Serro

Ainda na Alterosa, o Viação Cipó reprisa hoje, às 9h, a reportagem especial sobre Alvorada de Minas, com visita a uma fazenda colonial para mostrar o modo tradicional de produção do queijo artesanal, grupos culturais da região e o encontro de cavaleiros, fechando com a receita de polenta de banana. Para amanhã, às 10h, o destino é a cidade do Serro, também mostrando o famoso queijo da região, as minas abandonadas e a Chácara do Barão.

Silvio recebe protagonistas da novelinha Chiquititas

Silvio Santos vai receber amanhã os atores Manuela do Monte e Guilherme Boury, que interpretam Carol e Júnior, o casal protagonista da novela Chiquititas. Eles participam do “Jogo das 3 pistas”, contam as novidades da novela e falam sobre suas carreiras. No ar, às 20h.

Bianca Jahara prova mais  uma vez não ter pudores
O programa Penetra entra hoje na onda da libertação sexual feminina. Bianca Jahara invade o Toplessaço, ocorrido na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, e depois conversa com a escritora Nalini Narayan sobre o livro As aventuras sexuais de Nalini N.. No quadro “Bianca responde”, ela dá dicas sobre como apimentar uma relação de oito anos. Confira às 20h, no canal Sexy Hot (TV paga).

+Globosat passa a exibir o  programa Um pé de quê?

Também na TV por assinatura, o canal +Globosat estreia hoje, às 21h30, o programa Um pé de quê?, apresentado por Regina Casé. Além de aproximar o telespectador da vida ao ar livre, mostra aspectos da natureza por meio da música, culinária e história.

Para matar saudade

O ator e comediante Jerry Seinfeld confirmou a reunião de alguns dos atores e personagens de Seinfeld, sitcom que o tornou famoso nos anos 1990. O projeto envolve Larry David – criador e produtor-executivo da série – e será de curta duração. A pista foi dada quando Seinfeld acabou sendo flagrado ao lado do colega de elenco Jason Alexander (o George Constanza), em frente a um restaurante que abrigou diversos episódios da série. Em 2009, Larry David reuniu o quarteto principal de Seinfeld – Jerry, Jason, Julia Louis-Dreyfus (Elaine Benes) e Michael Richards (Kramer) –, na série que protagonizava na HBO, Curb your enthusiasm.

viva

A ótima atriz Dira Paes está tendo o reconhecimento que merece depois de sua participação na série Amores roubados, na Globo. Hoje, à meia-noite, ela será entrevistada no programa Almanaque, na GloboNews (TV paga).

vaia

Se os malvados de Joia rara e Amor à vida se destacam na Globo, Antonio Calloni está devendo com seu LC, o vilão de Além do horizonte. Perde para os personagens de Marcello Novaes, Alexandre Nero e até Carolina Ferraz.

Arnaldo Viana - Bom-dia, cavalo! (1)‏

Bom-dia, cavalo! (1)
Arnaldo Viana - arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 01/02/2014



 (Arnaldo Viana/EM. D. A PRESS)

Bom dia! Não se avexe por causa daquela bobagem de que só quem fala demais dá bom-dia a cavalo. Quero me apresentar. Tenho dono, se é que posso chamá-lo assim, mas não tenho um nome do qual posso me orgulhar. Fiquem à vontade para escolher um. Mas, cuidado, pangaré não recomendo. É que o homem criou normas de conceito que até viraram regras, das quais posso me aproveitar. Lexicógrafos dizem que pangaré é um indivíduo lento, desatento, panaca, matungo, baixo, gordo. Posso, assim, mover ação por bullying. Brincadeirinha, cavalo não goza de direitos assim.

Vocês estão perguntando agora: o que este animal está fazendo aí?. Folgado, hein? Primeiro, espero que estejam aplicando a palavra animal no bom sentido. Humanos têm mania de usá-la como sinônimo de bruto, burro. Aliás, quase tudo em mim é usado com sentido ruim. Vamos falar sobre isso depois. Primeiro, respondo à pergunta. Meu dono, ou patrão, sei lá, com certo desarranjo, intestino solto, encostou a carroça e me deixou meio largado no matagal ao lado da casa dele. O capim estava fraco e resolvi sair a campo. Em tempo de chuva, há muita erva viçosa e tenra no chão. E estou, é claro, na Linha Verde. Fui atraído pelo nome.

Como não achei refeição decente nessa avenida, parei para deliberar, sem a intenção de decidir, sobre questões da raça humana. Indesejado sou. Já ouvi: “Como pode um bicho desse tamanho à solta?”. Pera aí! Bicho desse não. Minha espécie está na história da humanidade. Não foi a primeira a arrastar veículo de carga, de transporte de pessoas, mas foi uma das mais usadas. Participou ativamente de grandes campanhas, de batalhas memoráveis. Lembro-lhes só de dois personagens que conquistaram fatias consideráveis deste planeta em cima de um de nós: Alexandre e Napoleão. Há até aquela brincadeira boba: “Qual era a cor do cavalo branco de Napoleão?”. Ohhhhh. Boba mesmo, de fazer doer inteligência de criança. Até porque, o francês não teve uma só montaria. Cavalgou até égua, burro. Ele queria era chegar e tomar posse.

Neguinho chega ao bar e mostra aos amigos o carro novo. “Tem 156 cavalos”, diz, cheio de prosa. Queria vê-lo fazer com o carrinho dele o que Gerônimo, o legendário guerreiro apache, com apenas 40 animais montados por magros e famintos companheiros, fazia com a cavalaria norte-americana. Queria ver. Portanto, mais respeito com a raça aqui. Agora mesmo, na saída daquele elevado, alguém fechou o carro de uma mulher. Ela gritou: “Cavalo!”. Ora, ora! Alguém já viu um cavalo desrespeitar alguém? Fazer grosseria? Nós, equinos, não temos esssa capacidade. Isso é privilégio humano.

Engraçada mesmo essa gente humana. Nas andanças com a carroça carregada de entulho, tijolo, areia ou de mudança de pobre, meu patrão gosta de ouvir futebol no radinho. Um jogador cheio de nhem-nhem-nhem reclamava da grama: “Está alta demais”. Pena que Deus não tenha dado asas a cavalo, exceto, claro, ao mitológico Pégaso. Mas foi outro deus, não o meu. Bem, fim de papo. Vou continuar com as minhas observações. Falamos depois.

A luta continua - Carolina Braga

A luta continua 
 
Militantes do cinema marginal, os diretores Andrea Tonacci e Luiz Rosemberg Filho defendem mais inteligência nas telas. Para a dupla, filmes ainda têm a missão de reinventar o mundo 

 
Carolina Braga
Estado de Minas: 01/02/2014


Luiz Rosemberg Filho e Andrea Tonacci: 40 anos de dedicação ao cinema de invenção e à experimentação de linguagens (Túlio Santos/EM/D.A Press  )
Luiz Rosemberg Filho e Andrea Tonacci: 40 anos de dedicação ao cinema de invenção e à experimentação de linguagens

Tiradentes – “Está bonito, com cabelão e bigode”, diz o cineasta Andrea Tonacci ao amigo Luiz Rosemberg Filho. O diretor carioca retribui com um sorriso e muito afeto – afinal, lá se vão 40 anos de camaradagem e infinitos papos sobre o ofício. Representante da geração do cinema de invenção – conhecida também como produção marginal –, a dupla fará dobradinha hoje, no encerramento da mostra de Tiradentes. A escolha é apropriada para um evento que se propõe a ser vitrine das investigações audiovisuais, destacando a produção autoral de jovens criadores.

Vem dos veteranos uma lição de humildade. Enquanto alguns novos cineastas exibem ares de “todo-poderosos” em Tiradentes, Rosemberg, de 70 anos, e Tonacci, de 69, avisam: não há glamour neste ofício. Ambos se mostram descrentes e até revoltados com o que se vê nas salas comerciais do país.

“Não se faz cinema hoje, mas produto de mercado, objeto. Cinema é atenção ao imaginário, é descoberta, uma forma de conhecer o mundo – não uma forma de dizer como ele é”, defende Tonacci. O polêmico Rosemberg se mostra mais enfático. “Hoje, o pensamento não tem a menor importância. Basta ver os filmes de sucesso, eles são imposições. Minha geração achava que mudaria o mundo com cinema e já está morrendo. A coisa só piorou”, radicaliza Rô, como é chamado pelos amigos.

Com 56 filmes no currículo, Luiz Rosemberg Filho já passou por telas dos festivais de Berlim e de Cannes. Assinou Crônicas de um industrial (1978) e Assuntina das Américas (1976), entre outros trabalhos. Absolutamente descrente da influência de festivais sobre a carreira de longas, médias e curtas, o diretor analisa com frieza o papel de eventos dessa natureza. Para ele, Tiradentes ou Toronto – é tudo igual.

 “A função do festival é incorporar uma política de transformação sobre o que é fazer cinema no Brasil. Você vem, mostra o filme, mas depois ele não passa em lugar algum. É como se amputassem a sua perna e lhe dessem muleta”, critica. Linguagem, curta de Rosemberg que será exibido no Cine Tenda esta noite, é assumidamente uma provocação. A peça de divulgação traz colagem com a frase “você quer fazer cinema?”. Logo acima vê-se a imagem de um morto.

Para Rosemberg, a linguagem é – e sempre será – questão fundamental. Talvez falte à nova geração de criadores aprender essa outra lição. “Ela está relacionada com o que você não domina. É como o afeto. O filme tem duas vertentes: começa com a potencialização dos afetos e termina na guerra”, analisa. O veterano deixa claro: sim, há experimentação, mas também pensamento e consistência no discurso.

Andrea Tonacci mostrará um filme que, de certa forma, aborda afeto e memória. Já visto jamais visto traz apenas imagens guardadas por ele, rodadas há 40, 30 e 20 anos. “Ele foi montado agora, mas pertence à fase de quando eu era nova geração”, brinca o criador dos consagrados Bang bang (1970) e Serras da desordem (2006). “Tentei fazer uma ficção desse passado, mas atual. É muito pessoal, com meu filho, meu pai e ex-mulheres. São pequenas representações do dia a dia”, resume.

Rilke Para Tonacci, mais que cinema de invenção, as obras que marcaram sua geração surgiram de intuição, espontaneidade, afetividade e do encontro. Avesso a festivais, Rosemberg deixa escapar o desejo de exibir um de seus novos trabalhos em Tiradentes no ano que vem. Cartas a uma jovem cineasta, em vias de ser montado, inspira-se no clássico Cartas a um jovem poeta, do escritor Rainer Maria Rilke. Deles vem outra lição: a obra de arte só é importante se ela for fundamental para você.

Convidado a encerrar a mostra mineira, famosa como paraíso dos novos realizadores, qual seria a mensagem dele para os jovens colegas? “A melhor resposta é o silêncio. No cinema novo, todo mundo queria linguagem, expressão, poesia, rompimentos e avanços, mas acabou virando isto que está aí: a Rede Globo mandando no país, um processo industrial podre. Não sou contra o cinema comercial, mas o que entendo como cinema comercial é a obra-prima Macunaíma, de Joaquim Pedro. Na verdade, houve prostituição tanto da observação e da análise do país quanto da linguagem cinematográfica. Montaram uma zona.” Esse é o Rosemberg.


ROSEMBERG POR TONACCI
“Antes de tudo, o Rô é um professor. Ganhei dele o que tenho de literatura sobre cinema e, às vezes, literatura essencial. Filmes também. Se há alguém com quem eu faria uma analogia, é com o Walter Benjamin. Com eles aprendo mais”.


TONACCI POR ROSEMBERG
“Tonacci é um homem que acredita. Ele crê que o Brasil tem jeito. Isso é legal. Nesse ponto, é mais marxista do que eu, pois acredita que o homem ainda pode ser dono da sua história. Não é demagogia. É um ato de fé. Ele está para o cinema brasileiro como o Rosselini está para o italiano”.


Mostra de Tiradentes
» HOJE
CINE TEATRO SESI
10h – Debate: Branco sai preto fica
11h15 – Debate: Aliança
12h30 – Debate: O homem das multidões
18h – Sessão de curtas

CINE TENDA
10h30 – Sessão de curtas mostrinha
15h – Sessão de curtas
17h – O rio nos pertence
18h30 – O uivo da gaita
20h30 – Sessão de curtas
22h30 – Cerimônia de encerramento

CINE BNDES NA PRAÇA
13h – Show de Érika Machado e Fernanda Takai

CINE BAR SHOW
0h30 – Show de Túlio Mourão

 (Arquivo EM)


Saiba mais
Cinema marginal

O cinema marginal, ou cinema de invenção, surgiu nos anos 1970. Vindos da geração posterior à do cinema novo, diretores defendiam filmes sem concessões. Entre seus representantes estão Rogério Sganzerla (O bandido da luz vermelha e A mulher de todos), Julio Bressane (Matou a família e foi ao cinema, foto), João Silvério Trevisan (Orgia), Geraldo Veloso (Perdidos e malditos) e Ozualdo Candeias (A margem e A herança). Esses autores buscaram subverter a linguagem cinematográfica.

Eduardo Almeida Reis - Delírios‏

Delírios 
 
Todos conhecemos senhoras e senhoritas que trocam diversas fronhas por dia 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/02/2014

Concurso de carros antigos na Inglaterra. Primeiro prêmio: 20 mil libras. Pena que não realizem concursos de homens antigos, mas vou falar de outra coisa, a meu ver seriíssima. A psiquiatria tem estudado o delírio ambulatório, isto é, deambulatório: que deambula, passeia sem rumo, desnorteado, erradio. É a dromomania, que na rubrica psicopatologia significa impulso incontrolável e mórbido para viajar, especialmente abandonar os lugares onde golpes emocionais foram sofridos. Se o sujeito é rico, vive metido nos aviões e navios para deambular por Ceca e Meca, sem esquecer os olivais de Santarém e a Turquia, que está na moda. Paris, então, nem se fala. Se o sujeito é pobre deambula sem rumo e sem banhos, a esmo, descalço, pelos acostamentos das estradas: é o andarilho. Dia desses, tive notícia de um sujeito que sempre foi maluco: “Ele está muito bem, só que não saí de casa”. Pronto: aí temos outro quadro psiquiátrico. Qual seria o antônimo de andarengo, de andeiro? De errante é fixo, sedentário. Portanto, o caseiro padece de um delírio sedentário, meu caso de uns anos a esta parte. Sair por quê e para quê? Trabalho em casa muitas horas por dia, todos os dias da semana. Hoje é domingo, faltam 10 minutos para as quatro da tarde e estou agarrado ao computador. Já escrevi 657 palavras e teria escrito mais que 2 mil se não estivesse lendo um livro muito bom e não fosse obrigado a esquentar o almoço no belo micro-ondas Cuisinart. Durante séculos saí de casa todos os dias para estudar, estudar e trabalhar, trabalhar, viajar trabalhando, fazer turismo, jantar fora, namorar – essas coisas. Hoje, sair para quê? As ruas estão perigosíssimas, as conversas (geralmente) muito cacetes, tenho bebido pouquíssimo, em domicílio há comida ótima, computador, jornais, televisor grande, chuveiro, cama de viúva, livros a montões, charutos. E água mineral gelada. Faz calor. Vou tomar um copo grande e talvez volte para continuar nossa conversa.


Sinonímia
Tenho sido “removido com sucesso”, depois que aprendi a procurar na lista imensa de e-mails recebidos um lugar em que, clicando, me dizem que fui removido com sucesso. O leitor, que me conhece de outros carnavais, sabe que sou educadíssimo e incapaz de escrever aquela palavra de quatro letras, que começa com pê. Por isso recorro à sinonímia, que retirei de um livro de Eduardo Frieiro, para lhes dizer que o meu endereço eletrônico particular foi vendido por um filho de berregã, messalina, vênus vaga, afrodita mercenária, frineia de sarjeta, Dalila barata, zabaneira, peripatética, horizontal, rascoa, galdrana, michela, trintaques, franjoca, fúcia, forpela, fregona – foi vendido a um comprador de listas de endereços, que, por seu turno, não passa de um filho da ambubaia, ganirra, malunga, comborça, calona, patragona, cambonda, boneja, bagacha, polha, rebombeira. Há mais, muitos mais nomes para qualificar quem vende e quem compra as tais listas.


Dificuldade
É claro, como também é óbvio e evidente, que deve haver um jeito para enfronhar um travesseiro. O adjetivo enfronhado, que se enfronhou, significa tornar(-se) versado, instruir(-se), tomar conhecimento pleno de um assunto, coisa que não consigo na hora de enfiar meu travesseiro numa fronha compatível. Não deve ser difícil, mas prefiro escrever 800 palavras: acho mais fácil e mais divertido do que enfiar o travesseiro no saco que tricoline que retiro do armário. Todos conhecemos senhoras e senhoritas que trocam diversas fronhas por dia. Se exerce a função de arrumadeira de motel, a brasileira troca dúzias por hora, além de limpar os apartamentos. Falta ao operário brasileiro, com raras exceções, a eficiência da arrumadeira de motel. Até aqui foram 120 palavras e não tive a milésima parte do trabalho de ontem, quando fui obrigado a trocar a fronha do travesseiro lá do quarto.


O mundo é uma bola
1º de fevereiro de 1718: erupção da Montanha do Pico, na Praia do Almoxarife, nos Açores. Em rigor, a notícia não teria o menor interesse nestas Minas e neste ano de 2014, não fosse o fato de o Pico ser a terra natal do meu bom amigo Artur T. Bettencourt, advogado em Pouso Alegre. Em 1908, o rei Carlos I de Portugal e o seu filho mais velho Luís Filipe, duque de Bragança, são assassinados no Terreiro do Paço, em Lisboa, por Manuel Buiça e Alfredo Costa, membros da Carbonária. No mesmo dia, Manuel II ascende ao trono. A Carbonária foi uma sociedade secreta que atuou na Itália, França, Espanha e Portugal nos séculos 19 e 20. Em 1918, a Rússia adota o Calendário Gregoriano. Em 1924, o Reino Unido reconhece a União Soviética. Em 1924, enquanto o Reino Unido reconhecia a URSS, o papa Pio XI elevava a diocese de Belo Horizonte à categoria de arquidiocese. Em 1952, no Rio de Janeiro, inauguração do Aeroporto Internacional do Galeão, que hoje luta para ser reinaugurado antes da Copa. Em 1974, incêndio no Edifício Joelma, em São Paulo, mata 179 e fere 300 pessoas. Hoje é o Dia do Publicitário.


Ruminanças
“É afinal o Rio de Janeiro a única cidade brasileira em que vale a pena morar” (Eduardo Frieiro, 1889-1982).

A saúde, as namoradeiras e a rua‏ - Aristides José Vieira Carvalho

A saúde, as namoradeiras e a rua


Aristides José Vieira Carvalho
Médico, mestre em medicina, especialista em medicina de família e comunidade e clínica médica

Estado de Minas: 01/02/2014



Andando pelas ruas de uma cidade do interior de Minas Gerais vi nas janelas de várias casas as famosas namoradeiras, bonecas do artesanato mineiro, que “esperam pelo amor perfeito”. Dizem os estudiosos e artistas que elas são mulatas e negras para denunciar o preconceito que existe contra essas mulheres. Pois é, fiquei pensando: o que olham? São olhares doces, ora distantes, ora penetrantes, ora fantasiosos, ora reais. De longe são mulheres na janela, de perto são criações humanas, obras de arte.

Chama-me a atenção o fato de que cada namoradeira tem o seu ângulo de visão. Nenhuma delas vê a rua inteira. Quando me vem a imagem das namoradeiras na janela olhando a rua, penso nas diferentes ruas dos vários “Brasis”, com seus encantos e desencantos. As namoradeiras de Minas Gerais me fazem viajar na imaginação e ancorar meus pensamentos na área da saúde.

Muitos olhares que se voltam para a área da saúde têm a limitação do olhar da namoradeira. Conseguem ver uma parte da rua, mas não veem a rua por inteiro. Penso na beleza e no desafio da gestão dos serviços de saúde. Uma gestão benfeita, compartilhada e participativa, que utiliza o que há de mais novo e conhecido no planejamento em saúde em seus componentes estratégico-situacional e participativo, poderá trazer um novo colorido à atenção à saúde da população. Essa constatação reforça a ideia de que a construção de serviços de saúde capazes de atender de forma digna o cidadão precisa de um olhar capaz de captar os vários olhares que veem a rua.

Pois é, quando passei pela janela, percebi que estava em um ângulo que a namoradeira não mais me via. Se ela quisesse notícias minhas, teria que conversar com a namoradeira da janela ao lado. Mas as namoradeiras não conversam. Pensei comigo mesmo: se, na saúde, não buscarmos os olhares que veem ângulos que não vemos, ficará difícil dar respostas aos problemas que se apresentam. E se não houver uma abertura ao diálogo, uma humildade (tanto do “eu” quanto do “tu”) para perceber que o outro consegue ver algo que não é percebido, o olhar será limitado, sem brilho e inventará necessidades e justificativas para aqueles que estão fora do ângulo que se pode ver pela janela.

Infelizmente, interesses de alguns grupos colocam viseiras que impedem ver o entorno e as casas que fazem parte da rua. Isso acontece quando os serviços de saúde são “organizados” sem um diagnóstico criterioso e dinâmico da situação de saúde e/ou as intervenções são incoerentes, fragmentadas e deslocadas do contexto sociopolítico, econômico e cultural.

Quando reflito sobre o olhar do programa Mais médicos, penso que ele traz à tona uma preocupação real da gestão dos serviços de saúde e uma demanda antiga da população: faltam médicos em várias cidades brasileiras. É preciso agir. Mas a implementação do programa, reproduz o olhar da namoradeira. Viu por um ângulo da janela. Não viu a rua inteira. Não conseguiu ir ao fundo da questão, porque o problema não é só a falta de médicos. Vai além. A implementação do programa fez uso de um olhar que não viu as condições de trabalho, a remuneração profissional, feriu critérios, atropelou acordos e avanços costurados no decorrer dos anos. Não compartilhou com os olhares de outras namoradeiras e viu apenas uma parte da rua.

É inegável a complexidade da atividade do gestor em suas dimensões técnicas, administrativas e políticas. Tal complexidade nos leva a pensar que com um olhar isolado, que não compartilha com outros olhares a sua visão e não se permite crescer com o olhar do outro, o gestor poderá abrir frentes, mas, provavelmente, não obterá os melhores resultados. Fazer o “movimento” para que aconteça a partilha dos olhares e buscar mais saúde para o cidadão é o desafio e a beleza da gestão.

Sou um apaixonado pela arte mineira. Gosto da namoradeira. Para mim ela representa a ousadia e a criatividade de um povo que romanceia a vida e faz denúncias com sua criação artística. Desculpem-me por apresentar a limitação do olhar da namoradeira e não destacar as tantas belezas que possui.

A gestão em saúde, assim como as namoradeiras, espera o “amor perfeito”. Na perspectiva da saúde, o amor perfeito pode ser traduzido por um serviço acolhedor, humanizado, digno, resolutivo, que busca sempre mais atender as necessidades das pessoas. Já avançamos muito. Aprendemos a olhar a rua e trocar informações sobre os nossos olhares. Crescemos. Mas, como qualquer ser humano, ainda atropelamos processos. Oxalá, nessa caminhada, feita com erros e acertos, tenhamos humildade e coragem para rever os passos equivocados, fortalecer as opções corretas e abraçar olhares construídos na partilha. Assim, enxergaremos um pouco mais a rua e conquistaremos mais saúde para a nossa população.

Beijo gay faz história - Ângela Faria

Beijo gay faz história 
 
Pela primeira vez, casal homossexual masculino se beija em telenovela brasileira. Cena precisou ser regravada para ir ao ar
 
Ângela Faria

Estado de Minas: 01/02/2014


Atores torceram para o final feliz dos personagens que ganharam a simpatia dos telespectadores    ( Marcos Vieira/EM/d.A Press/Reprodução)
Atores torceram para o final feliz dos personagens que ganharam a simpatia dos telespectadores


O final feliz do casal formado pelos personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), em Amor à vida , significou também um marco para a história das novelas no país. Pela primeira vez, foi exibida na televisão brasileira um beijo entre dois gays masculinos. O momento foi marcado por muita delicadeza e declarações de amor. Félix, o vilão redimido, se declarou ao companheiro: “Você mudou a minha vida”. E ouviu como resposta: “Félix, eu não vivo sem você!”. Foi nesse clima de cumplicidade, que os dois se beijaram numa cena que exigiu regravação até ser liberada pela Rede Globo.

Logo após o fim da novela, a Rede Globo divulgou uma nota sobre a trama. “Toda cena de novela é consequência da história, responde a uma necessidade dramatúrgica e reflete o momento da sociedade. O beijo entre Felix e Niko selou uma relação que foi construída com muito carinho pelos dois personagens. Foi, portanto, o desdobramento dramatúrgico natural dessa trama. A pertinência desse desfecho foi construída com muita sensibilidade pelo autor, diretor e atores e assim foi percebida pelo público. É importante lembrar que o relacionamento homossexual sempre esteve presente nas nossas novelas e séries de maneira constante, responsável e natural. A cena esteve de acordo com essa premissa e com a relevância para a história.”

Personagens de novelas brasileiras “saem do armário” há tempos, mas o primeiro beijo gay feminino só rolou em maio de 2011, em Amor e revolução, folhetim exibido pelo SBT/Alterosa. Não foi um selinho: a cena durou nada menos de 40 segundos – e com direito a pezinho levantado! Luciana Vendramini e Giselle Tigre interpretaram a advogada Marcela e a empresária Marina, dona de um jornal de oposição à ditadura militar.

Em seu blog, Aguinaldo Silva, novelista da Rede Globo, bateu palmas para Silvio Santos, proprietário do SBT. “Ele deve ter visto a cena, soltado um ho-ho-ho daqueles e decretado: libera!”, escreveu o pioneiro do movimento gay brasileiro.

Mês passado, a Rede Globo quebrou um “autotabu” ao exibir a modelo Vanessa, de 27 anos, e a empresária Clara, de 25, beijando-se em Big brother Brasil. Com isso, aumentaram as especulações sobre cenas gays mais calientes na despedida de Amor à vida.

A Globo até destrancou armários, mas foi uma verdadeira “Odete Roitman” com seus belos gays. O adolescente Júnior (Bruno Gagliasso) e o peão Zeca (Erom Cordeiro), casal da novela América (2005), ficou “na seca”. Horas antes de o capítulo ir ao ar, a emissora vetou a cena já gravada do beijo. A autora Gloria Perez expressou publicamente sua frustração com a censura interna.

Em Senhora do destino, antecessora de América e escrita por Aguinaldo Silva, Jennifer (Bárbara Borges) e Eleonora (Mylla Christie) moravam juntas e até tiveram filho adotivo, mas beijo nunca rolou. Em Paraíso tropical (2007), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, os namorados Rodrigo (Carlos Casagrande) e Tiago (Sérgio Abreu) conviveram sem neuras com outros personagens – mas nada intimidades explícitas.

Casamento Em Insensato coração (2011), foi a vez de Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo): eles se casaram, mas sem um beijinho sequer diante do juiz de paz. Sorte muito pior tiveram Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) em Vale tudo (1988/1989): Cecília morreu em acidente de carro. Mas tragédia, mesmo, sobrou para as lesbian chics Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) em Torre de Babel (1998), de Sílvio de Abreu. As duas se desintegraram, literalmente, na explosão de um shopping center! Três anos antes, o branco Sandrinho (André Gonçalves) e o negro Jefferson (Lui Mendes) foram brindados com final mais feliz em A próxima vítima – sem beijo, claro.

Em Mulheres apaixonadas (2003), Manoel Carlos mandou para a telinha um casal de adolescentes: Clara (Paula Picarelli) e Rafaela (Alinne Moraes). No último capítulo, até rolou um selinho sem sal, enquanto a dupla encenava uma peça de teatro. Segunda-feira, o autor volta à Globo com a missão de substituir Félix e Nico de Amor à vida. Giovana Antonelli interpreta a mãe de família Clara, que vai se apaixonar pela jovem fotógrafa Marina (Tainá Müller). Beijo de língua à vista? Pode ser, mas, por via das dúvidas, é bom lembrar: o nome da novela é Em família...