Correio Braziliense - 16/10/2013
Biógrafos e biografados. De um lado, a liberdade de expressão e a
memória do país. Do outro, questões ligadas a direitos autorais e a
privacidade. A discussão se inflamou nos últimos dias, a partir da
criação do bloco Procure Saber, formado por artistas do porte de
Roberto Carlos, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Chico Buarque, que
passou a pleitear, publicamente, a manutenção da autorização prévia do
biografado para que as publicações cheguem às lojas. O debate chegou à
Feira do Livro de Frankfurt, na semana passada. Por lá, escritores como
Laurentino Gomes e Fernando Morais demonstraram repúdio ao grupo,
presidido pela empresária Paula Lavigne. O imbróglio gerou a seguinte
questão: estaria havendo uma tentativa de censura prévia?
Direitos autorais
Carlos Didier e João Máximo, autores de biografia sobre Noel Rosa,
tiveram sua obra embargada. Lançada em 1990, viram a reedição vetada
sete anos depois pela viúva do artista, Dona Lindaura, que, na época,
não autorizou a publicação de imagens e letras de músicas. "A verdade é
que ela não gostou, por que a história que ela estava contando para os
netos era outra", observa Didier, sem dar detalhes. Para completar, em
2003, entraram em cena duas sobrinhas de Noel, que processaram os
autores por questões ligadas a direitos autorais.
Resultado: o livro nunca ganhou outra versão. E, segundo Didier, nem
há previsão. "O Brasil é um país avesso ao conhecimento. A proibição
das biografias é a ponta de um iceberg", acredita. Para ele, os
artistas que aderiram ao Procure Saber estão acostumados a verem seus
nomes sempre incensados, além de "controlarem as informações". Por
isso, têm medo de abordagens mais profundas sobre suas vidas. "Daqui
pra frente, os biógrafos vão botar a viola no saco", prevê.
Cauby Peixoto, Claudette Soares e Dolores Duran. Os três cantores
tiveram as trajetórias esmiuçadas em livros de Rodrigo Faour. Para o
autor, submeter o texto previamente ao artista ou a familiares se
assemelha à época da ditadura militar, quando letras de músicas
dependiam de aprovação. Sobre o repasse de parte dos lucros para os
artistas, que o Procure Saber também propõe, Faour é enfático: "As
pessoas não sabem quanto se vende de livro no Brasil. Se vissem,
ficariam estarrecidas. É muito pouco."
Ney Matogrosso já havia até se esquecido de alguns fatos passados em
sua juventude quando leu uma obra sobre ele. Mesmo assim, optou por
não fazer nenhuma objeção à publicação. "Acredito que o temor das
pessoas que se posicionam a favor da manutenção da lei tem a ver, por
exemplo, com as loucuras que são publicadas na internet. Esse tipo de
coisa é que assusta", opina o artista. "Não vejo o posicionamento do
Procure Saber como algo ligado a dinheiro." Já Raimundo Fagner se
mostra contrário às ações do grupo. "Acho que a liberdade de criação
deve ser respeitada. Se aparecer algo calunioso, o biografado pode
abrir processo", sugere.
"Não se pode transformar isso em uma guerra econômica.
O debate é acerca da liberdade democrática"
Márlon Reis, jurista
Para saber mais
Imbróglio judicial
» Biografias de Noel Rosa, Roberto Carlos e Guimarães Rosa, entre
outras, foram impedidas de circular nos últimos anos. Os impedimentos
recorrem aos artigos 20 e 21 do Código Civil, que preveem a proibição
do uso de imagem ou a indenização no uso indevido (art. 20) e a
inviolabilidade da vida privada (art.21).
» Em 2011, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), movida
pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, contra o artigo 20 do
Código Civil, foi protocolada no STF, que ainda não se manifestou sobre
a matéria.
» Presidida pela empresária Paula Lavigne, a entidade Procure Saber
se manifestou contra a mudança no Código Civil e pediu a manutenção dos
referidos artigos. O bloco, integrado por Caetano Veloso, Chico
Buarque e Milton Nascimento, entre outros, defende a autorização prévia
dos biografados e a participação desses nos lucros obtidos pelas
respectivas obras.
Não há censura prévia no Brasil"
Correio Braziliense - 16/10/2013
O debate sobre as biografias não autorizadas chegou à esfera
jurídica. Caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) a palavra final.
Para o juiz de direito Márlon Reis, um dos articuladores da Lei da
Ficha Limpa, o litígio caminha para um único destino. "A Constituição é
muito clara. Não há censura prévia no Brasil. Essa informação é
absoluta, sem exceção", disse. A posição do juiz se assemelha àquela
defendida pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, que se colocou a
favor da publicação das biografias, independente de autorização.
"Ninguém é obrigado a submeter seu trabalho a qualquer crivo",
completou Reis.
Em relação aos artigos do Código Civil , comumente
utilizados para impedir a circulação de biografias, o jurista se
mostrou inflexível: "Os artigos 20 e 21 foram redigidos de forma
equivocada. Compete ao Poder Judiciário declarar a sua evidente
inconstitucionalidade". Segundo ele, também incorreram em erro casos
anteriores, como do cantor Roberto Carlos e de Noel Rosa, cujas
biografias não constam nas prateleiras. "Houve uma leitura engessada da
Constituição, sobre a qual prevaleceu o Código Civil, uma lei
ordinária", comentou. Reis espera que o STF possa resguardar os casos
que estão por vir e "reparar o dano causado".
Quando questionado sobre os argumentos do Procure Saber, o jurista
não enxergou qualquer cabimento legal nos pleitos pretendidos. "Não há
embasamento jurídico para os dois principais argumentos: a autorização
prévia e a participação do biografado nos eventuais lucros. Isso é
ilegítimo e juridicamente imoral". A melhor forma de se contrapor às
pesquisas e biografias, segundo Reis, é por meio da busca de uma
eventual reparação: "Há possibilidade de indenização, mas a verificação
deverá ser sempre posterior. Jamais prévia."
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
PF apura fraude em assinaturas na criação de partido
Correio Braziliense - 16/10/2013
Mais de 20 pessoas já foram ouvidas. Em depoimento, servidores do Legislativo negam terem assinado ficha de apoio apresentada à Justiça Eleitoral pelo Solidariedade. Muitos se surpreenderam com a semelhança entre suas firmas originais e as falsificadas.
A Polícia Federal (PF) avançou na investigação sobre os indícios de fraude na coleta de assinaturas para criar o partido Solidariedade (SDD), chancelado no mês passado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em Brasília, mais de 20 pessoas já foram ouvidas pelo delegado Manoel Vieira da Paz. Grande parte desse grupo é formada por funcionários do Poder Legislativo federal. Os servidores informaram, em depoimento, que não assinaram nenhuma ficha de apoio à nova legenda e ficaram impressionados com a semelhança entre as próprias firmas e as que constam nos documentos.
Um grupo menor de testemunhas ouvidas pela PF afirmou não lembrar se havia assinado fichas do partido fundado pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), o Paulinho da Força. Procurado pelo Correio, o delegado Manoel Vieira da Paz, responsável pela investigação em Brasília, não quis comentar o caso. Limitou-se a dizer que não poderia passar nenhuma informação sobre a investigação em andamento.
O foco inicial da apuração são os lotes de fichas encaminhados ao Cartório Eleitoral da 1ª Zona, na Asa Sul. Na 14ª Zona Eleitoral, na Asa Norte, das 648 firmas apresentadas, 526 são de funcionários da Câmara, do Senado ou do Tribunal de Contas da União (TCU). Grande parte é filiada ao Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis).
O Correio denunciou que também houve fraude no Cartório Eleitoral da 15ª Zona, em Águas Claras, onde a Justiça Eleitoral validou a ficha do ex-servidor do Senado Miguel Honorato dos Santos, falecido em 24 de setembro de 2011, aos 69 anos. Ele aparece como apoiador da nova sigla, que só começou a recolher firmas no ano passado. Uma semana antes, a legenda havia tentado enganar o Cartório Eleitoral da 14ª Zona, ao encaminhar uma ficha assinada por José Washington Chaves, que morreu em agosto de 2006. Somados os registros, já podem ser computados, apenas em dois cartórios eleitorais, 705 servidores que teriam "apoiado" a nova legenda.
Ontem, o vice-procurador-geral Eleitoral, Eugênio Aragão, afirmou que o Ministério Público Eleitoral (MPE) aguarda a conclusão da investigação da Polícia Federal para decidir a estratégia que será adotada. "As notícias são alarmantes e preocupantes. Não podemos ficar quietos", declarou. Ele teve cautela ao ser questionado se o MPE poderia, com base nas denúncias e na conclusão das investigações, pedir a nulidade do registro do partido. "Precisamos aguardar. Ainda não decidimos a nossa estratégia. Todas as hipóteses estão abertas."
"Armação"
O Solidariedade voltou a falar, ontem, em conspiração. O secretário-geral do partido, Marcílio Duarte, afirmou que todas as fichas encaminhas à Justiça Eleitoral foram criteriosamente conferidas pelos membros da sigla. "Isso é uma armação. Quando a gente recebe uma quantidade de fichas, a primeira providência é conferir os dados daquela pessoa. A gente manda buscar um CD e verifica. Por isso, eu deduzo que, nas fichas, não pode constar um morto. Se consta, tem alguma armação", afirmou. O argumento é o mesmo utilizado pelo presidente da legenda. "É provável que exista uma sabotagem. Levam uma ficha para casa e colocam o nome de alguém. Estão sacaneando a gente em Brasília", disse Paulinho da Força ao Correio, há duas semanas.
Uma ala do PDT acusa o presidente do Sindilegis, Nilton Paixão, de ter vazado dados dos filiados para o Solidariedade. A entidade sindical nega e diz que vai acionar a Justiça. Paixão tem laços estreitos com o Solidariedade. Em vídeo gravado durante evento do PSB em Brasília, a mestre de cerimônia do encontro chama o sindicalista para compor a mesa e o classifica como "representante do Solidariedade".
A relação de proximidade entre Nilton Paixão e Paulinho da Força é conhecida nos sindicatos do país. Em 22 de abril deste ano, Paixão foi eleito secretário-geral da Força Sindical no Distrito Federal, conforme comprova o site da entidade. No início de 2011, o Sindilegis chegou a se filiar à Força Sindical. Logo em seguida, após pressão de alguns integrantes que não teriam sido avisados, o ato foi desfeito.
Memória
Cartórios paulistas
As suspeitas de fraude nas fichas de apoio do Solidariedade não se limitam aos cartórios eleitorais de Brasília. No município de Várzea Paulista, em São Paulo, por exemplo, a sigla é acusada de falsificar até a firma da chefe de um cartório local. Em Osasco, também em São Paulo, o chefe do cartório Helder Ito de Morais tomou um susto ao perceber que o seu nome constava entre os apoiadores da legenda. Em mensagem interna, ele informou aos colegas que prestaria informações sobre o caso em inquérito instaurado pela Polícia Federal.
Em Suzano (SP), todas as assinaturas entregues foram anuladas pelo juiz eleitoral Rodrigo de Oliveira Carvalho. Todos os eleitores chamados para reconhecer a assinatura negaram que tivessem apoiado o partido. Ao todo, 2,6 mil foram invalidadas.
O Correio mostrou que, além da utilização de dois mortos, vários servidores do Poder Legislativo foram envolvidos na fraude. Até a mulher do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), Gladys Buarque, teve o nome utilizado sem autorização.
O editor da Rádio Senado Antônio Carlos Lopes Buriti disse que vai acionar a Justiça. "Estou profundamente indignado. Trata-se de um ato invasivo, constrangedor e criminoso. Isso é uma fraude. Dados privados foram utilizados sem consentimento para a criação de um partido. Eu sou filiado ao PSol e serei candidato a deputado distrital nas próximas eleições. Como fica a minha situação? O cartório eleitoral aceitou essa fraude", desabafou.
Sob suspeita
Confira as polêmicas envolvendo o Solidariedade
23 de setembro
Após ter se posicionado favoravelmente à criação do partido Solidariedade, o Ministério Público Eleitoral mudou de opinião. Informou que havia indícios de fraude na formação da legenda e pediu abertura de inquérito à Polícia Federal para apurar suspeita de crime eleitoral.
24 de setembro
Um dia depois, após muita polêmica em razão de suposta falsificação de assinaturas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a criação do Solidariedade, fundado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical. A legenda conseguiu 503 mil assinaturas. Para receber o registro, eram necessárias 492 mil.
26 de setembro
O Solidariedade intensificou o assédio a parlamentares da base do governo Dilma Rousseff com o objetivo de migração para a nova sigla. Ao todo, 21 deputados federais se filiaram até 5 de outubro, prazo legal para a mudança de partido antes das eleições de 2014.
2 de outubro
Diante das denúncias de fraude, o PDT, ex-partido de Paulinho da Força, entrou com mandado de segurança no TSE para anular o registro do Solidariedade. Ainda não houve decisão judicial em relação à demanda do PDT. Um ala do partido acusa o Sindilegis de fornecer, sem autorização, dados de filiados do sindicato à nova sigla.
Requisito
A lei exige um número ínimo de assinaturas de eleitores para a criação de partidos, Este ano, eram necessária492 mil
O Solidariedade apresentou à Justiça Eleitoral 503 mil
Mais de 20 pessoas já foram ouvidas. Em depoimento, servidores do Legislativo negam terem assinado ficha de apoio apresentada à Justiça Eleitoral pelo Solidariedade. Muitos se surpreenderam com a semelhança entre suas firmas originais e as falsificadas.
A Polícia Federal (PF) avançou na investigação sobre os indícios de fraude na coleta de assinaturas para criar o partido Solidariedade (SDD), chancelado no mês passado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em Brasília, mais de 20 pessoas já foram ouvidas pelo delegado Manoel Vieira da Paz. Grande parte desse grupo é formada por funcionários do Poder Legislativo federal. Os servidores informaram, em depoimento, que não assinaram nenhuma ficha de apoio à nova legenda e ficaram impressionados com a semelhança entre as próprias firmas e as que constam nos documentos.
Um grupo menor de testemunhas ouvidas pela PF afirmou não lembrar se havia assinado fichas do partido fundado pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), o Paulinho da Força. Procurado pelo Correio, o delegado Manoel Vieira da Paz, responsável pela investigação em Brasília, não quis comentar o caso. Limitou-se a dizer que não poderia passar nenhuma informação sobre a investigação em andamento.
O foco inicial da apuração são os lotes de fichas encaminhados ao Cartório Eleitoral da 1ª Zona, na Asa Sul. Na 14ª Zona Eleitoral, na Asa Norte, das 648 firmas apresentadas, 526 são de funcionários da Câmara, do Senado ou do Tribunal de Contas da União (TCU). Grande parte é filiada ao Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis).
O Correio denunciou que também houve fraude no Cartório Eleitoral da 15ª Zona, em Águas Claras, onde a Justiça Eleitoral validou a ficha do ex-servidor do Senado Miguel Honorato dos Santos, falecido em 24 de setembro de 2011, aos 69 anos. Ele aparece como apoiador da nova sigla, que só começou a recolher firmas no ano passado. Uma semana antes, a legenda havia tentado enganar o Cartório Eleitoral da 14ª Zona, ao encaminhar uma ficha assinada por José Washington Chaves, que morreu em agosto de 2006. Somados os registros, já podem ser computados, apenas em dois cartórios eleitorais, 705 servidores que teriam "apoiado" a nova legenda.
Ontem, o vice-procurador-geral Eleitoral, Eugênio Aragão, afirmou que o Ministério Público Eleitoral (MPE) aguarda a conclusão da investigação da Polícia Federal para decidir a estratégia que será adotada. "As notícias são alarmantes e preocupantes. Não podemos ficar quietos", declarou. Ele teve cautela ao ser questionado se o MPE poderia, com base nas denúncias e na conclusão das investigações, pedir a nulidade do registro do partido. "Precisamos aguardar. Ainda não decidimos a nossa estratégia. Todas as hipóteses estão abertas."
"Armação"
O Solidariedade voltou a falar, ontem, em conspiração. O secretário-geral do partido, Marcílio Duarte, afirmou que todas as fichas encaminhas à Justiça Eleitoral foram criteriosamente conferidas pelos membros da sigla. "Isso é uma armação. Quando a gente recebe uma quantidade de fichas, a primeira providência é conferir os dados daquela pessoa. A gente manda buscar um CD e verifica. Por isso, eu deduzo que, nas fichas, não pode constar um morto. Se consta, tem alguma armação", afirmou. O argumento é o mesmo utilizado pelo presidente da legenda. "É provável que exista uma sabotagem. Levam uma ficha para casa e colocam o nome de alguém. Estão sacaneando a gente em Brasília", disse Paulinho da Força ao Correio, há duas semanas.
Uma ala do PDT acusa o presidente do Sindilegis, Nilton Paixão, de ter vazado dados dos filiados para o Solidariedade. A entidade sindical nega e diz que vai acionar a Justiça. Paixão tem laços estreitos com o Solidariedade. Em vídeo gravado durante evento do PSB em Brasília, a mestre de cerimônia do encontro chama o sindicalista para compor a mesa e o classifica como "representante do Solidariedade".
A relação de proximidade entre Nilton Paixão e Paulinho da Força é conhecida nos sindicatos do país. Em 22 de abril deste ano, Paixão foi eleito secretário-geral da Força Sindical no Distrito Federal, conforme comprova o site da entidade. No início de 2011, o Sindilegis chegou a se filiar à Força Sindical. Logo em seguida, após pressão de alguns integrantes que não teriam sido avisados, o ato foi desfeito.
Memória
Cartórios paulistas
As suspeitas de fraude nas fichas de apoio do Solidariedade não se limitam aos cartórios eleitorais de Brasília. No município de Várzea Paulista, em São Paulo, por exemplo, a sigla é acusada de falsificar até a firma da chefe de um cartório local. Em Osasco, também em São Paulo, o chefe do cartório Helder Ito de Morais tomou um susto ao perceber que o seu nome constava entre os apoiadores da legenda. Em mensagem interna, ele informou aos colegas que prestaria informações sobre o caso em inquérito instaurado pela Polícia Federal.
Em Suzano (SP), todas as assinaturas entregues foram anuladas pelo juiz eleitoral Rodrigo de Oliveira Carvalho. Todos os eleitores chamados para reconhecer a assinatura negaram que tivessem apoiado o partido. Ao todo, 2,6 mil foram invalidadas.
O Correio mostrou que, além da utilização de dois mortos, vários servidores do Poder Legislativo foram envolvidos na fraude. Até a mulher do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), Gladys Buarque, teve o nome utilizado sem autorização.
O editor da Rádio Senado Antônio Carlos Lopes Buriti disse que vai acionar a Justiça. "Estou profundamente indignado. Trata-se de um ato invasivo, constrangedor e criminoso. Isso é uma fraude. Dados privados foram utilizados sem consentimento para a criação de um partido. Eu sou filiado ao PSol e serei candidato a deputado distrital nas próximas eleições. Como fica a minha situação? O cartório eleitoral aceitou essa fraude", desabafou.
Sob suspeita
Confira as polêmicas envolvendo o Solidariedade
23 de setembro
Após ter se posicionado favoravelmente à criação do partido Solidariedade, o Ministério Público Eleitoral mudou de opinião. Informou que havia indícios de fraude na formação da legenda e pediu abertura de inquérito à Polícia Federal para apurar suspeita de crime eleitoral.
24 de setembro
Um dia depois, após muita polêmica em razão de suposta falsificação de assinaturas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a criação do Solidariedade, fundado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical. A legenda conseguiu 503 mil assinaturas. Para receber o registro, eram necessárias 492 mil.
26 de setembro
O Solidariedade intensificou o assédio a parlamentares da base do governo Dilma Rousseff com o objetivo de migração para a nova sigla. Ao todo, 21 deputados federais se filiaram até 5 de outubro, prazo legal para a mudança de partido antes das eleições de 2014.
2 de outubro
Diante das denúncias de fraude, o PDT, ex-partido de Paulinho da Força, entrou com mandado de segurança no TSE para anular o registro do Solidariedade. Ainda não houve decisão judicial em relação à demanda do PDT. Um ala do partido acusa o Sindilegis de fornecer, sem autorização, dados de filiados do sindicato à nova sigla.
Requisito
A lei exige um número ínimo de assinaturas de eleitores para a criação de partidos, Este ano, eram necessária492 mil
O Solidariedade apresentou à Justiça Eleitoral 503 mil
Com a garganta presa - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA 16/10/2013
Foi muito divertido o retorno que tive da crônica de domingo passado, sobre as balas da infância. Muitos leitores lembraram de suas guloseimas favoritas, lamentaram eu não ter citado as balas Mocinho, apostaram que a pastilha cujo nome esqueci era a Supra Sumo (também adorava, mas não era essa...) e contaram episódios de quase morte por engasgamento com a bala Soft.
Porém, sacudidos de cabeça para baixo, todos se salvaram. Há quem jure que essas balas foram proibidas por terem um formato perfeito para grudar na traqueia até asfixiar – não encontrei fontes oficiais sobre o assunto, mas estou tentada a acreditar que elas entraram mesmo para a lista negra do FBI, da CIA e da Scotland Yard. Era tenso: eu chupava essas balas como se estivesse participando de uma roleta-russa.
Engasgos rendem cenas hilárias, mas levo o assunto a sério, pois quem já teve o desprazer de passar por isso sabe o quanto é estressante. E se a cena se der em local público, não só é estressante como constrangedor. Difícil manter a pose quando se está prestes a morrer sufocada, com os olhos esbugalhados e o rosto ganhando o tom de beterraba.
Acontece comigo com uma frequência que não chega a ser alarmante, mas manda a prudência que eu não relaxe tendo um copo em mãos. Não engasgo com sólidos, apenas com líquidos. Já vivenciei o problema no meio da madrugada, ao tomar água, e também em restaurantes, bares, até em beira de piscina.
Sofro só de imaginar que um dia possa ocorrer durante uma palestra ou uma entrevista. Hoje me concentro demais para que a epiglote (porta de entrada do ar nos pulmões) não feche em hora indevida, mas às vezes estou empolgada com a conversa, emocionada até, e aí é que o rolo acontece. Se dá para manter a classe? Olha, nem sendo a Costanza Pascolato.
Quase sempre estou acompanhada, e quem me conhece sabe o que fazer: é a manobra de Heimlich, criada pelo médico americano Henry Heimlich, que em 1974 inventou um método simples para induzir uma tosse artificial. O salvador deve se posicionar por trás do engasgado e abraçá-lo mantendo as duas mãos bem abaixo do peito dele, e fazer uma pressão curta, porém firme em direção ao tórax, tantas vezes quantas necessárias.
Pequenos socos até que seja expelido o que estiver interrompendo aquele bate-papo que, até então, transcorria de forma tão agradável. É um procedimento mais indicado para quem tem algo sólido obstruindo a respiração, mas mesmo com líquidos funciona. Comigo, ao menos, funciona, ou não estaria aqui respirando e escrevendo.
Considere essa crônica um serviço de utilidade pública. Mesmo as balas Soft tendo sido banidas do comércio (nada sei sobre o mercado negro), ainda assim há muitas coisas que nos engasgam, entre sólidos, líquidos e emoções sortidas: quem já não quase sufocou com um beijo? Se for para faltar ar, que seja por amor, que também é doce.
Foi muito divertido o retorno que tive da crônica de domingo passado, sobre as balas da infância. Muitos leitores lembraram de suas guloseimas favoritas, lamentaram eu não ter citado as balas Mocinho, apostaram que a pastilha cujo nome esqueci era a Supra Sumo (também adorava, mas não era essa...) e contaram episódios de quase morte por engasgamento com a bala Soft.
Porém, sacudidos de cabeça para baixo, todos se salvaram. Há quem jure que essas balas foram proibidas por terem um formato perfeito para grudar na traqueia até asfixiar – não encontrei fontes oficiais sobre o assunto, mas estou tentada a acreditar que elas entraram mesmo para a lista negra do FBI, da CIA e da Scotland Yard. Era tenso: eu chupava essas balas como se estivesse participando de uma roleta-russa.
Engasgos rendem cenas hilárias, mas levo o assunto a sério, pois quem já teve o desprazer de passar por isso sabe o quanto é estressante. E se a cena se der em local público, não só é estressante como constrangedor. Difícil manter a pose quando se está prestes a morrer sufocada, com os olhos esbugalhados e o rosto ganhando o tom de beterraba.
Acontece comigo com uma frequência que não chega a ser alarmante, mas manda a prudência que eu não relaxe tendo um copo em mãos. Não engasgo com sólidos, apenas com líquidos. Já vivenciei o problema no meio da madrugada, ao tomar água, e também em restaurantes, bares, até em beira de piscina.
Sofro só de imaginar que um dia possa ocorrer durante uma palestra ou uma entrevista. Hoje me concentro demais para que a epiglote (porta de entrada do ar nos pulmões) não feche em hora indevida, mas às vezes estou empolgada com a conversa, emocionada até, e aí é que o rolo acontece. Se dá para manter a classe? Olha, nem sendo a Costanza Pascolato.
Quase sempre estou acompanhada, e quem me conhece sabe o que fazer: é a manobra de Heimlich, criada pelo médico americano Henry Heimlich, que em 1974 inventou um método simples para induzir uma tosse artificial. O salvador deve se posicionar por trás do engasgado e abraçá-lo mantendo as duas mãos bem abaixo do peito dele, e fazer uma pressão curta, porém firme em direção ao tórax, tantas vezes quantas necessárias.
Pequenos socos até que seja expelido o que estiver interrompendo aquele bate-papo que, até então, transcorria de forma tão agradável. É um procedimento mais indicado para quem tem algo sólido obstruindo a respiração, mas mesmo com líquidos funciona. Comigo, ao menos, funciona, ou não estaria aqui respirando e escrevendo.
Considere essa crônica um serviço de utilidade pública. Mesmo as balas Soft tendo sido banidas do comércio (nada sei sobre o mercado negro), ainda assim há muitas coisas que nos engasgam, entre sólidos, líquidos e emoções sortidas: quem já não quase sufocou com um beijo? Se for para faltar ar, que seja por amor, que também é doce.
FERNANDO BRANT » Rua Caminho do Carro
Estado de Minas: 16/10/2013
Um dia, naquelas minhas frequentes conversas com Tavinho Moura, apresentei a ele uma lista de títulos de futuras canções, todas referentes à minha querida Diamantina. Nomes lindos e sugestivos de ruas, becos e espaços que eu guardara na memória de minha infância. Mas quando me vi diante de um tema daqueles tempos, a narrativa de uma velha senhora (veja que absurdo, quando se tem 7 ou 8 anos todo mundo que não é criança é velho) que trajava uma roupa toda revestida de latas e que, ao ouvir a algazarra da criançada, saía jogando pedras na meninada... aqui eu corto o parágrafo, pois não quero endoidecer os meus leitores. Fernando, lembre-se dos seus mestres e não exagere.
Pois bem. Fiz uma letra, no intervalo de um jogo do Brasil em uma Copa do Mundo, e o Tavinho musicou. Mas ele ficou muito aborrecido com este seu querido parceiro. É que eu usei a maioria dos nomes da lista na letra que lhe mandei. E as outras canções, o que é que vamos fazer? Pedi-lhe calma e disse que uma citação ali não invalidaria a criação de novas canções, cada uma com seu título. Verdade é que até hoje isso ainda não aconteceu, mas prometo que acontecerá. Mas é por aquelas ruas e becos que a Chaleira do Alto da Poeira caminhava com seus trajes de mendiga. E a meninada atrás.
Um dos nomes que constava da lista me veio agora ao pensamento: Rua Caminho do Carro. Fico com a camisa sem botões imaginando o que esse nome significa. Se havia uma rua do caminho do carro é porque as outras todas eram reservadas para os humanos sem condução, os que andam a pé ou a cavalo. E esse carro talvez nem fosse motorizado, sendo conduzido por bois ou cavalos. Tudo isso é possível por estarmos falando de uma humana e bela cidade mineira do tempo do ciclo dos diamantes.
Carro era um veículo tão pouco usado que não circulava por todos os cantos das redondezas. Tinha seu lugar exclusivo, mas somente aquele. Igualzinho hoje, você deve pensar. Ou deveria ser. Nesse nosso tempo, os automóveis tomaram conta de tudo. Ruas, passeios e avenidas. Já nem há mais becos, que não comportariam os espaçosos e velozes veículos da modernidade. O ser humano, não motorizado, foi escorraçado da via pública. Viver a pé nas grandes cidades é correr perigo constante de ser atropelado. O transporte público é uma vergonha, um escracho. E a ele está condenada a maioria da população.
A facilidade para se comprar um carro para os indivíduos é inversamente proporcional à qualidade das ruas e dos transportes de pessoas. Precisamos inventar, com urgência, a Rua do Caminho dos homens, das mulheres, dos velhos e das crianças.
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Um dia, naquelas minhas frequentes conversas com Tavinho Moura, apresentei a ele uma lista de títulos de futuras canções, todas referentes à minha querida Diamantina. Nomes lindos e sugestivos de ruas, becos e espaços que eu guardara na memória de minha infância. Mas quando me vi diante de um tema daqueles tempos, a narrativa de uma velha senhora (veja que absurdo, quando se tem 7 ou 8 anos todo mundo que não é criança é velho) que trajava uma roupa toda revestida de latas e que, ao ouvir a algazarra da criançada, saía jogando pedras na meninada... aqui eu corto o parágrafo, pois não quero endoidecer os meus leitores. Fernando, lembre-se dos seus mestres e não exagere.
Pois bem. Fiz uma letra, no intervalo de um jogo do Brasil em uma Copa do Mundo, e o Tavinho musicou. Mas ele ficou muito aborrecido com este seu querido parceiro. É que eu usei a maioria dos nomes da lista na letra que lhe mandei. E as outras canções, o que é que vamos fazer? Pedi-lhe calma e disse que uma citação ali não invalidaria a criação de novas canções, cada uma com seu título. Verdade é que até hoje isso ainda não aconteceu, mas prometo que acontecerá. Mas é por aquelas ruas e becos que a Chaleira do Alto da Poeira caminhava com seus trajes de mendiga. E a meninada atrás.
Um dos nomes que constava da lista me veio agora ao pensamento: Rua Caminho do Carro. Fico com a camisa sem botões imaginando o que esse nome significa. Se havia uma rua do caminho do carro é porque as outras todas eram reservadas para os humanos sem condução, os que andam a pé ou a cavalo. E esse carro talvez nem fosse motorizado, sendo conduzido por bois ou cavalos. Tudo isso é possível por estarmos falando de uma humana e bela cidade mineira do tempo do ciclo dos diamantes.
Carro era um veículo tão pouco usado que não circulava por todos os cantos das redondezas. Tinha seu lugar exclusivo, mas somente aquele. Igualzinho hoje, você deve pensar. Ou deveria ser. Nesse nosso tempo, os automóveis tomaram conta de tudo. Ruas, passeios e avenidas. Já nem há mais becos, que não comportariam os espaçosos e velozes veículos da modernidade. O ser humano, não motorizado, foi escorraçado da via pública. Viver a pé nas grandes cidades é correr perigo constante de ser atropelado. O transporte público é uma vergonha, um escracho. E a ele está condenada a maioria da população.
A facilidade para se comprar um carro para os indivíduos é inversamente proporcional à qualidade das ruas e dos transportes de pessoas. Precisamos inventar, com urgência, a Rua do Caminho dos homens, das mulheres, dos velhos e das crianças.
FREI BETTO -Jogo do poder
Mais que os programas dos partidos, na
prática valem o toma lá, dá cá e as alianças, ainda que seladas pelo vil
metal da corrupção
Estado de Minas: 16/10/2013
Estado de Minas: 16/10/2013
O “golpe de mestre”
de Marina Silva ao aderir ao PSB de Eduardo Campos comprova o quanto o
Brasil necessita, urgentemente, de profunda reforma política.
As manifestações de rua, em junho, demonstraram que expressiva parcela da população, sobretudo jovens, não confia em partidos políticos. Estes se desgastaram devido à falta de fidelidade a seus princípios estatutários e programáticos.
Mais do que rezam as cartas fundadoras dos partidos, na prática valem a fome de poder, o toma lá, dá cá, as alianças e coligações, ainda que espúrias, promíscuas e seladas pelo vil metal da corrupção.
A eleição presidencial de 2014 está fadada a se reduzir a uma competição de caciques políticos. Nos bastidores, as coligações partidárias, de olho em maior tempo de TV na propaganda eleitoral gratuita, serão armadas à base de promessas na distribuição dos ministérios, caixa dois, loteamento de cargos e funções.
Ainda que os candidatos proclamem maravilhas aos eleitores, no frigir dos ovos, anunciado o resultado da eleição, terão importância apenas os acordos de bastidores firmados no decorrer do processo eleitoral. Eis o neocoronelismo, o Brasil dividido em currais eleitorais, as discordâncias programáticas escanteadas pelas ambições pessoais, o anseio de se apropriar da máquina do poder.
Esse maquiavelismo é muito anterior ao próprio Maquiavel. Jesus foi vítima dele. Pilatos, governador da Judeia e interventor romano, não era benquisto aos olhos do Sinédrio de Caifás, o poder judaico. Os dois poderosos, entretanto, se puseram de acordo quando se tratou de defender a (des)ordem vigente criticada por Jesus, em especial ao derrubar as mesas dos cambistas no Templo de Jerusalém (equivalente a impedir, hoje, o funcionamento da bolsa de valores). Prisioneiro político, Jesus foi condenado pelo duplo poder.
Como é difícil suscitar esperanças nos jovens, incutir utopia, convencê-los da importância de não ficarem indiferentes ao processo eleitoral, quando se constata que nenhum candidato coloca o projeto Brasil acima de seu projeto de poder! As opiniões dos marqueteiros terão sempre mais importância que as reivindicações dos eleitores.
Desde 1980, quando foi fundado, até 2002, quando Lula se elegeu presidente pela primeira vez, o PT defendeu, como imprescindível ao Brasil, a reforma agrária. Após 10 anos no poder, pouco se fez nesse sentido. Ao contrário, os latifúndios se ampliaram, grandes extensões de terra têm sido apropriadas por estrangeiros, o agronegócio avança sobre a Amazônia e trata os povos indígenas como estorvo ao progresso.
Não sou ingênuo a ponto de acreditar que a política depende de lideranças carismáticas, ainda que elas sejam privilegiadas captadoras de votos. A melhor liderança não poderá jamais ser coerente com a seus princípios enquanto perdurar essa estrutura política intrinsecamente antidemocrática, elitista e corrupta. De boas intenções o inferno está cheio.
Enquanto não se convoca uma Constituinte exclusiva para a reforma política, resta ao eleitor manifestar-se nas ruas, demonstrar a sua indignação, organizar a esperança, e fazer de seu voto recurso de aposentadoria compulsória do caciquismo e promoção daqueles candidatos que, comprovadamente, estão dispostos a quebrar o ferrenho tabu de que as estruturas brasileiras são intocáveis.
Como alertou Cazuza, muitas de nossas ilusões estão perdidas, nossos sonhos foram vendidos, e de nada vale ficar em cima do muro. Precisamos todos de uma ideologia que imprima sentido às nossas vidas e à nossa política.
Caso contrário, seremos todos ludibriados pelo neoliberalismo, que busca fazer de todos nós consumistas, e não cidadãos; pelo fundamentalismo religioso, que insiste em negar a laicidade do Estado; pelos partidos que, como descreveu Lampedusa, pregam mudanças para que tudo permaneça como está.
As manifestações de rua, em junho, demonstraram que expressiva parcela da população, sobretudo jovens, não confia em partidos políticos. Estes se desgastaram devido à falta de fidelidade a seus princípios estatutários e programáticos.
Mais do que rezam as cartas fundadoras dos partidos, na prática valem a fome de poder, o toma lá, dá cá, as alianças e coligações, ainda que espúrias, promíscuas e seladas pelo vil metal da corrupção.
A eleição presidencial de 2014 está fadada a se reduzir a uma competição de caciques políticos. Nos bastidores, as coligações partidárias, de olho em maior tempo de TV na propaganda eleitoral gratuita, serão armadas à base de promessas na distribuição dos ministérios, caixa dois, loteamento de cargos e funções.
Ainda que os candidatos proclamem maravilhas aos eleitores, no frigir dos ovos, anunciado o resultado da eleição, terão importância apenas os acordos de bastidores firmados no decorrer do processo eleitoral. Eis o neocoronelismo, o Brasil dividido em currais eleitorais, as discordâncias programáticas escanteadas pelas ambições pessoais, o anseio de se apropriar da máquina do poder.
Esse maquiavelismo é muito anterior ao próprio Maquiavel. Jesus foi vítima dele. Pilatos, governador da Judeia e interventor romano, não era benquisto aos olhos do Sinédrio de Caifás, o poder judaico. Os dois poderosos, entretanto, se puseram de acordo quando se tratou de defender a (des)ordem vigente criticada por Jesus, em especial ao derrubar as mesas dos cambistas no Templo de Jerusalém (equivalente a impedir, hoje, o funcionamento da bolsa de valores). Prisioneiro político, Jesus foi condenado pelo duplo poder.
Como é difícil suscitar esperanças nos jovens, incutir utopia, convencê-los da importância de não ficarem indiferentes ao processo eleitoral, quando se constata que nenhum candidato coloca o projeto Brasil acima de seu projeto de poder! As opiniões dos marqueteiros terão sempre mais importância que as reivindicações dos eleitores.
Desde 1980, quando foi fundado, até 2002, quando Lula se elegeu presidente pela primeira vez, o PT defendeu, como imprescindível ao Brasil, a reforma agrária. Após 10 anos no poder, pouco se fez nesse sentido. Ao contrário, os latifúndios se ampliaram, grandes extensões de terra têm sido apropriadas por estrangeiros, o agronegócio avança sobre a Amazônia e trata os povos indígenas como estorvo ao progresso.
Não sou ingênuo a ponto de acreditar que a política depende de lideranças carismáticas, ainda que elas sejam privilegiadas captadoras de votos. A melhor liderança não poderá jamais ser coerente com a seus princípios enquanto perdurar essa estrutura política intrinsecamente antidemocrática, elitista e corrupta. De boas intenções o inferno está cheio.
Enquanto não se convoca uma Constituinte exclusiva para a reforma política, resta ao eleitor manifestar-se nas ruas, demonstrar a sua indignação, organizar a esperança, e fazer de seu voto recurso de aposentadoria compulsória do caciquismo e promoção daqueles candidatos que, comprovadamente, estão dispostos a quebrar o ferrenho tabu de que as estruturas brasileiras são intocáveis.
Como alertou Cazuza, muitas de nossas ilusões estão perdidas, nossos sonhos foram vendidos, e de nada vale ficar em cima do muro. Precisamos todos de uma ideologia que imprima sentido às nossas vidas e à nossa política.
Caso contrário, seremos todos ludibriados pelo neoliberalismo, que busca fazer de todos nós consumistas, e não cidadãos; pelo fundamentalismo religioso, que insiste em negar a laicidade do Estado; pelos partidos que, como descreveu Lampedusa, pregam mudanças para que tudo permaneça como está.
Tv Paga
Estado de Minas: 16/10/2013
Rir ainda é um bom remédio
Grande sucesso do cinema brasileiro, a comédia Se eu fosse você virou seriado, que estreia hoje, às 22h30, no canal Fox. No lugares de Glória Pires e Toni Ramos entram Paloma Duarte e Heitor Martinez (foto), como um casal improvável que vive brigando e de repente troca de corpos, dando início a uma grande confusão. Também hoje, às 22h, estreia o programa República do stand-up, no Comedy Central.
O que você faria na
hora do desespero?
Novidade também no canal A&E, com a estreia de Pânico na linha, às 22h30. Como informa a emissora, a produção apresenta registros de chamadas reais para linhas de emergência. Como uma mulher, mãe solteira, que está armada e tem as opções de enfrentar um homem que quer estuprá-la ou arriscar-se a esperar que a polícia a salve. Também relacionado a crimes – mais especificamente à alfândega –, Traffics – Luta pela vida estreia às 22h n o canal + Globosat.
Cantora vive caso de
amor no estilo Ghost
A cantora e compositora Angie Stone perdeu o amor de sua vida, mas ele voltou do além para ajudá-la a se apaixonar novamente. Já a atriz Jackee Harry, a cabeleireira da série Todo mundo odeia o Chris, tem também uma história sobrenatural para contar: segundo ela, um pedófilo entrou em sua casa, mas seu anjo da guarda a salvou. Estes são dois dos casos reunidos no episódio de hoje de Famosos e fantasmas, às 22h, no canal Bio.
SescTV invade ateliê
de Marco Paulo Rolla
A produção do programa Artes visuais, do SescTV, veio até Minas Gerais para gravar uma edição especial com o artista plástico Marco Paulo Rolla. Em seu ateliê em Nova Lima, Rolla conta sua trajetória, fala da diversidade de seu trabalho e da opção pelo ser humano em sua obra. Rendeu tanto assunto que o programa terá duas partes, hoje e quarta-feira que vem, às 21h30.
Zé Catimba faz parte
da história do samba
Três atrações no Canal Brasil chamam a atenção nesta noite. Às 18h45, Zé Catimba, um dos fundadores da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense e que já teve músicas gravadas por Zeca Pagodinho, Alcione e Elza Soares, é o personagem da série Enciclopédia do samba. Às 21h30, em Sangue latino, Eric Nepomuceno conversa com o argentino Pablo Giorgelli, diretor, produtor e roteirista de Las acacias, filme premiado nos festivais de Cannes, Biarritz e Cartagena. E à meia-noite, no Com frescura, Rogéria recebe o músico Michael Sullivan.
Canal Brasil vai exibir fitas de Norma Bengell
O Telecine Cult continua a homenagem a Woody Allen, programando para hoje mais dois de seus filmes: A última noite de Boris Grushenko (20h20) e O dorminhoco (22h). Já o Canal Brasil abre esta noite uma seleção de filmes estrelados por Norma Bengell, começando com O pagador de promessas, à 0h15. O assinante tem mais oito opções na faixa das 22h: Jogos vorazes, na HBO; Ted, no Telecine Premium; Tudo pelo poder, no Telecine Touch; Um sonho sem limites, no ID; Planeta vermelho, no Max Prime; Os nomes do amor, no Max HD; Os reis de Dogtown, no Sony Spin; e Amistad, na MGM. Outras atrações da programação: Anjos e demônios, às 21h, no Cinemax; A princesa do Nebraska, às 21h30, no Arte 1; As pontes de Madison, às 21h40, no Glitz; Minority report – A nova lei, às 22h10, no Universal; e Eu, meu irmão e nossa namorada, às 23h, no Comedy Central.
Rir ainda é um bom remédio
Grande sucesso do cinema brasileiro, a comédia Se eu fosse você virou seriado, que estreia hoje, às 22h30, no canal Fox. No lugares de Glória Pires e Toni Ramos entram Paloma Duarte e Heitor Martinez (foto), como um casal improvável que vive brigando e de repente troca de corpos, dando início a uma grande confusão. Também hoje, às 22h, estreia o programa República do stand-up, no Comedy Central.
O que você faria na
hora do desespero?
Novidade também no canal A&E, com a estreia de Pânico na linha, às 22h30. Como informa a emissora, a produção apresenta registros de chamadas reais para linhas de emergência. Como uma mulher, mãe solteira, que está armada e tem as opções de enfrentar um homem que quer estuprá-la ou arriscar-se a esperar que a polícia a salve. Também relacionado a crimes – mais especificamente à alfândega –, Traffics – Luta pela vida estreia às 22h n o canal + Globosat.
Cantora vive caso de
amor no estilo Ghost
A cantora e compositora Angie Stone perdeu o amor de sua vida, mas ele voltou do além para ajudá-la a se apaixonar novamente. Já a atriz Jackee Harry, a cabeleireira da série Todo mundo odeia o Chris, tem também uma história sobrenatural para contar: segundo ela, um pedófilo entrou em sua casa, mas seu anjo da guarda a salvou. Estes são dois dos casos reunidos no episódio de hoje de Famosos e fantasmas, às 22h, no canal Bio.
SescTV invade ateliê
de Marco Paulo Rolla
A produção do programa Artes visuais, do SescTV, veio até Minas Gerais para gravar uma edição especial com o artista plástico Marco Paulo Rolla. Em seu ateliê em Nova Lima, Rolla conta sua trajetória, fala da diversidade de seu trabalho e da opção pelo ser humano em sua obra. Rendeu tanto assunto que o programa terá duas partes, hoje e quarta-feira que vem, às 21h30.
Zé Catimba faz parte
da história do samba
Três atrações no Canal Brasil chamam a atenção nesta noite. Às 18h45, Zé Catimba, um dos fundadores da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense e que já teve músicas gravadas por Zeca Pagodinho, Alcione e Elza Soares, é o personagem da série Enciclopédia do samba. Às 21h30, em Sangue latino, Eric Nepomuceno conversa com o argentino Pablo Giorgelli, diretor, produtor e roteirista de Las acacias, filme premiado nos festivais de Cannes, Biarritz e Cartagena. E à meia-noite, no Com frescura, Rogéria recebe o músico Michael Sullivan.
Canal Brasil vai exibir fitas de Norma Bengell
O Telecine Cult continua a homenagem a Woody Allen, programando para hoje mais dois de seus filmes: A última noite de Boris Grushenko (20h20) e O dorminhoco (22h). Já o Canal Brasil abre esta noite uma seleção de filmes estrelados por Norma Bengell, começando com O pagador de promessas, à 0h15. O assinante tem mais oito opções na faixa das 22h: Jogos vorazes, na HBO; Ted, no Telecine Premium; Tudo pelo poder, no Telecine Touch; Um sonho sem limites, no ID; Planeta vermelho, no Max Prime; Os nomes do amor, no Max HD; Os reis de Dogtown, no Sony Spin; e Amistad, na MGM. Outras atrações da programação: Anjos e demônios, às 21h, no Cinemax; A princesa do Nebraska, às 21h30, no Arte 1; As pontes de Madison, às 21h40, no Glitz; Minority report – A nova lei, às 22h10, no Universal; e Eu, meu irmão e nossa namorada, às 23h, no Comedy Central.
Primeira dama Laura Cardoso
Primeira dama
Simone Castro
Eswtado de Minas: 16/10/2013
Atriz Laura Cardoso é homenageada em série especial do canal Viva |
São
70 anos de carreira e 86 de vida. E Laura Cardoso continua a ser
exemplo de humildade e amor à arte de representar. E, por que não, de
emocionar? Ela vai às lágrimas no Damas da TV, hoje, às 21h, no Viva (TV
paga), ao defender uma de suas grandes personagens, Isaura, do remake
de Mulheres de areia (Globo), no ar em 1993, acusada pelo público de
proteger apenas a filha vilã, Raquel, gêmea de Ruth, vividas por Glória
Pires. “Ela tinha paixão pelas duas. Só que a Raquel precisava mais
dela! Fico emocionada até hoje. Quando ela sabe que a filha morreu,
quando o marido e a Ruth dizem que a Raquel morreu...” Laura, que perdeu
um filho recém-nascido, interrompe o depoimento deixa a emoção fluir e
chora. Mas continua o desabafo: “Eu já tinha estudado a cena, a
personagem queria que a filha voltasse para dentro dela. O diretor, Wolf
Maya, me deu liberdade de fazer como achasse melhor. Ele me disse: ‘Se
dirija!’. E fiz como tinha pensado”, lembra a atriz, secando o rosto com
as mãos. O especial vai longe e a atriz fala sobre seu processo de
composição, sua relação com a extinta TV Tupi e a vida em família.
Sempre com muita emoção.
MAZZI FATUROU PRÊMIO DE
HUMOR NO SHOW DE ELIANA
Ator, comediante e radialista, Rafael Mazzi foi o vencedor do prêmio Disputa do Riso, domingo, no programa Eliana, do SBT/Alterosa. Ele foi apadrinhado por Geraldo Magela, o Ceguinho, que o indicou ao programa. Mazzi faz participações, desde 2011, na televisão, onde trabalhou ao lado de Tom Cavalcante, Tiririca, Mendigo do Pânico e Vinícius Vieira, o Glu Glu. Depois de ter sido finalista no “Festival de piadas” do programa Show do Tom, Rafael Mazzi acabou integrado a outros quadros da atração, como “Batalha dos humoristas”, “Revoltados”, além de atuar nas sátiras da novela Rebeldes, interpretando um bolsista, e em O infeliz, no papel de Ana Cana. Neste ano, foi convidado a participar do programa Astros, do SBT/Alterosa, chegando na final com a personagem Jaquisom David. Atualmente, Rafael Mazzi está em cartaz, em Belo Horizonte, com o espetáculo Arrasô, em que satiriza o universo televisivo, no Teatro Nossa Senhora das Dores.
GINA NÃO USA CORPO COMO
OBJETO, DIZ CAROLINA KASTING
Carolina Kasting fala sobre a personagem Gina, que interpreta em Amor à vida (Globo), em entrevista à revista Contigo! desta semana. Para ela, a moça tímida não se transformou em uma periguete, só está cuidando um pouco mais da aparência. “Gina é o exemplo de uma mulher que não usa o corpo como objeto. Parece que a brasileira sempre usa demais o corpo, quer mostrar demais isso. A Gina é pobre e bonita, mas nem assim tem a perversidade de transformar o corpo num instrumento”, diz a atriz à revista. Carolina afirma que está muito contente com sua personagem e que ela é uma quebra de paradigma: “Não é feia, recalcada. É linda e capaz. Só não tinha coragem de sair para o mundo”.
LIVROS PODEM TRANSFORMAR
A VIDA DE MUITAS PESSOAS
O Brasil das Gerais desta quarta-feira, às 19h30, na Rede Minas, mostra que o livro é um santo remédio e o telespectador vai descobrir o poder que ele tem de transformar a vida das pessoas. Escritores e especialistas no assunto dão dicas de obras que são verdadeiras receitas para se combaterem os maus psicológicos. Entre os convidados, a psicóloga Juliana García, a fonoaudióloga Regina Bentes e as escritoras Soraya Guisol e Maria de Jesus da Silva.
EM CIMA DO LANCE
Sempre atual, a série Os Simpsons não perde a oportunidade de explorar o melhor de outras atrações. O episódio de estreia da 25ª temporada do programa fez uma paródia com a série Homeland, com o título de Homerland, no qual participou a atriz Kristen Wiig como uma agente do FBI que pede que Lisa investigue o próprio pai, Homer. Como no seriado, em que Claire Daines vive Carrie Mathison, uma agente da CIA que sofre de distúrbio bipolar e começa a desconfiar que o sargento Nicholas Brody (Damian Lewis) seja na verdade um espião, a agente em Os Simpsons suspeita que Homer seja um espião terrorista.
VIVA
Miguel Rômulo como o janotinha nazista Décio em Joia rara (Globo). Personagem pode ser divisor de águas para o ator.
VAIA
Só para variar, Félix (Mateus Solano), em Amor à vida, deveria usar outro tema que não a Bíblia para os seus inúmeros bordões.
MAZZI FATUROU PRÊMIO DE
HUMOR NO SHOW DE ELIANA
Ator, comediante e radialista, Rafael Mazzi foi o vencedor do prêmio Disputa do Riso, domingo, no programa Eliana, do SBT/Alterosa. Ele foi apadrinhado por Geraldo Magela, o Ceguinho, que o indicou ao programa. Mazzi faz participações, desde 2011, na televisão, onde trabalhou ao lado de Tom Cavalcante, Tiririca, Mendigo do Pânico e Vinícius Vieira, o Glu Glu. Depois de ter sido finalista no “Festival de piadas” do programa Show do Tom, Rafael Mazzi acabou integrado a outros quadros da atração, como “Batalha dos humoristas”, “Revoltados”, além de atuar nas sátiras da novela Rebeldes, interpretando um bolsista, e em O infeliz, no papel de Ana Cana. Neste ano, foi convidado a participar do programa Astros, do SBT/Alterosa, chegando na final com a personagem Jaquisom David. Atualmente, Rafael Mazzi está em cartaz, em Belo Horizonte, com o espetáculo Arrasô, em que satiriza o universo televisivo, no Teatro Nossa Senhora das Dores.
GINA NÃO USA CORPO COMO
OBJETO, DIZ CAROLINA KASTING
Carolina Kasting fala sobre a personagem Gina, que interpreta em Amor à vida (Globo), em entrevista à revista Contigo! desta semana. Para ela, a moça tímida não se transformou em uma periguete, só está cuidando um pouco mais da aparência. “Gina é o exemplo de uma mulher que não usa o corpo como objeto. Parece que a brasileira sempre usa demais o corpo, quer mostrar demais isso. A Gina é pobre e bonita, mas nem assim tem a perversidade de transformar o corpo num instrumento”, diz a atriz à revista. Carolina afirma que está muito contente com sua personagem e que ela é uma quebra de paradigma: “Não é feia, recalcada. É linda e capaz. Só não tinha coragem de sair para o mundo”.
LIVROS PODEM TRANSFORMAR
A VIDA DE MUITAS PESSOAS
O Brasil das Gerais desta quarta-feira, às 19h30, na Rede Minas, mostra que o livro é um santo remédio e o telespectador vai descobrir o poder que ele tem de transformar a vida das pessoas. Escritores e especialistas no assunto dão dicas de obras que são verdadeiras receitas para se combaterem os maus psicológicos. Entre os convidados, a psicóloga Juliana García, a fonoaudióloga Regina Bentes e as escritoras Soraya Guisol e Maria de Jesus da Silva.
EM CIMA DO LANCE
Sempre atual, a série Os Simpsons não perde a oportunidade de explorar o melhor de outras atrações. O episódio de estreia da 25ª temporada do programa fez uma paródia com a série Homeland, com o título de Homerland, no qual participou a atriz Kristen Wiig como uma agente do FBI que pede que Lisa investigue o próprio pai, Homer. Como no seriado, em que Claire Daines vive Carrie Mathison, uma agente da CIA que sofre de distúrbio bipolar e começa a desconfiar que o sargento Nicholas Brody (Damian Lewis) seja na verdade um espião, a agente em Os Simpsons suspeita que Homer seja um espião terrorista.
VIVA
Miguel Rômulo como o janotinha nazista Décio em Joia rara (Globo). Personagem pode ser divisor de águas para o ator.
VAIA
Só para variar, Félix (Mateus Solano), em Amor à vida, deveria usar outro tema que não a Bíblia para os seus inúmeros bordões.
Ele é só alegria - Ailton Magioli
Ele é só alegria
Depois de articular com sucesso a aprovação da PEC da Música, o cantor e compositor Fagner prepara disco para comemorar seus 40 anos de carreira
Ailton Magioli
Estado de Minas: 16/10/2013
Fagner, cantor e compositor |
O lançamento do esperado disco de inéditas, com as inevitáveis regravações, teve de ser adiado para o início de 2014 por causa da recém-aprovada Proposta de Emenda à Constituição 123/2011, pela qual Fagner lutou incessantemente – e foi vitorioso. A chamada PEC da Música isenta de impostos CDs e DVDs de autores brasileiros. Mas a carreira, que completa 40 anos, também está à toda, conforme mostra a agenda do cearense: da ponte aérea Fortaleza–Rio de Janeiro a viagens por todo o país. São três a quatro shows por mês.
“Abraçado pelo grande público”, como gosta de dizer, Fagner mantém boa vendagem de discos, independentemente da crise do mercado fonográfico. O próximo CD trará inéditas de Fausto Nilo, Zeca Baleiro, Clôdo (autor de Revelação, ao lado dos irmãos Climério e Clésio) e de Michael Sullivan (parceiro de Paulo Massadas, com quem assina o sucesso Deslizes). O disco, ainda sem título, terá também a releitura de uma canção do mineiro Vander Lee.
“Já musiquei uma letra que Vander Lee me mandou, mas, a princípio, vou gravar Onde Deus possa me ouvir, que tenho cantado em shows e o público aprovou. Gosto muito de Esperando aviões”, revela o cearense. “Vander Lee foi uma grata surpresa para mim. Trata-se de um cara sensível e antenado”, elogia. Eles se aproximaram graças a um amigo em comum: Zeca Baleiro.
Crítica “Brega, eu?”, reage o cantor cearense, salientando ter adorado a fase em que a crítica o acusou de apostar na breguice para vender. Segundo ele, esse foi o preço de ter se aproximado do público por meio de canções como Borbulhas de amor, bolero do dominicano José Luiz Guerra, cuja letra ganhou versão em português de ninguém menos que o poeta Ferreira Gullar. Naqueles anos 1980, Fagner musicou e gravou também o poema Fanatismo, da portuguesa Florbela Espanca. “Hoje, brega é moda”, constata, divertido, lamentando o fato de seu repertório oitentista não ter soado bem aos ouvidos da crítica.
Indiferente à crise da indústria fonográfica, ele diz que o público pede disco e repertório novos. “O mercado é sempre assim”, constata Fagner, observando que a pirataria e a internet prejudicaram os artistas. “A PEC da Música vem ajudar a aquecer o mercado. Agora, vamos ter um novo modelo com o fim da cobrança de impostos”. Para ele, a isenção trará reflexos positivos para artistas e showbusiness. Além de artista, Fagner é empresário, dono de emissoras de rádio no Nordeste. “Seja em que formato for, a questão, de agora em diante, é apostar na criatividade”, avisa.
A temporada mineira do compositor está prevista apenas para o ano que vem, provavelmente já com o novo CD. “O disco está romântico, mas tem pegada pop, para cima, com baladas e instrumental atualizado”, anuncia Fagner. Parte do novo trabalho foi gravado em Fortaleza e a finalização é feita no estúdio carioca de Michael Sullivan.
Hipocrisia Aos que o acusaram de irascível – sobretudo no início de carreira –, Fagner responde: não é hipócrita. “Sempre fui um cara contundente, que não gosta de botar panos quentes nas coisas”, afirma, dizendo que, recentemente, surgiram articulações de “oportunistas como o grupo Procure Saber” (liderado pela empresária Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso), querendo assumir a paternidade da PEC da Música. Há anos Fagner faz lobby junto aos congressistas a favor da isenção de impostos para discos de autores nacionais.
Fagner, de 64 anos, deixou o Ceará no início da década de 1970 |
Sem preconceito
Artista nordestino que conquistou o Sul Maravilha – assim como Ednardo, Belchior, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Alceu Valença, entre outros –, Fagner, de 64 anos, deixou o Ceará no início da década de 1970. Apresentou-se em palcos de todo o país, como no Festival de Música Jovem do Ceub, em Brasília, em 1971 (foto).O cantor e compositor cearense garante ter obtido mais apoio do que sofrido rejeição no Sudeste. “Sinceramente, não me lembro de preconceito. As pessoas sempre gostaram do que eu cantava e me apoiavam, além de gravar minhas músicas”, lembra ele. Em 1972, Mucuripe foi sucesso de Elis Regina antes mesmo do lançamento de Manera fru fru, manera, o disco de estreia do compositor, que chegou às lojas em 1973.
Patrimônio ferroviário pede socorro
Luiz Eduardo Pereira de Oliveira
Doutorando em tratamento da informação espacial
Estado de Minas: 16/10/2013
Doutorando em tratamento da informação espacial
Estado de Minas: 16/10/2013
No processo de agonia
e morte da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), acelerado nos anos 70
pelo acúmulo de déficits operacionais gigantescos, uma primeira
consequência foi a ameaça de arruinamento de seu patrimônio imobiliário.
Com a desativação de muitos trechos e linhas, as estações e seus
complexos (armazéns, casas de agentes, gares, rotundas, oficinas etc)
ficaram à própria sorte, envolvendo parte das quase 1,2 mil unidades, só
em Minas Gerais.
Esse estado de coisas pode ser percebido bem perto de Belo Horizonte, em Rio Acima, onde opera a maria-fumaça denominada Trem das Cachoeiras. Enquanto a Estação de Rio Acima está muito bem conservada, inclusive com o trenzinho turístico operando a todo vapor, a Estação Honório Bicalho, próxima do fim de linha do passeio, só tem a plataforma de embarque, tendo sido demolida pela concessionária daquele trecho em 2003, levando consigo mais um ícone da arquitetura ferroviária mineira.
A demolição pura e simples, sem ouvir nenhum órgão ligado ao patrimônio histórico (Iphan, Iepha), foi no mínimo um desrespeito à memória e à identidade do povo mineiro. Vale enfatizar que nossa história se confunde com a história ferroviária, e, de tão arraigada nesta terra mágica, qualquer coisa pode se transformar em trem. Dois fatores mesclam o desenvolvimento do estado e o ferroviarismo: o ciclo áureo do café, desde o final do século 20 até o fim da República Velha, em 1930; e a imigração estrangeira, tanto na fundação dos núcleos agrícolas coloniais quanto na mão de obra para a implantação e operacionalização das vias.
A partir do primeiro governo de Vargas, no entanto, o trem foi perdendo sua primazia para o transporte rodoviário, em conformidade com o que acontecia no resto do mundo, principalmente nos países centrais. No Brasil, o impacto foi maior, uma vez que, em geral, os serviços prestados pelas empresas ferroviárias eram de baixa qualidade, não tendo como concorrer com o rodoviarismo que se instalava.
Na era JK, o transporte ferroviário foi definitivamente relegado ao segundo plano, frente à opção clara de seu governo pelas rodovias, junto com os incentivos à nascente indústria automobilística. Então, a modernidade era encarnada pelos automóveis, ônibus e caminhões; as ferrovias, ao contrário, passaram a simbolizar o passado, em um país que só tinha olhos para o futuro. A criação da Rede Ferroviária Federal S.A., em 1957, foi uma tentativa em vão de reorganizar, dar maior racionalidade e viabilizar o sistema.
No governo militar, a partir de 1964, a desferroviarização continuou a passos largos, tendo várias estradas de ferro sido simplesmente erradicadas. É o caso da Bahia e Minas, que ligava Caravelas (BA) a Araçuaí (MG), extinta em 1966, mas não nos corações e mentes do povo do Mucuri – foi, aliás, cantada nostalgicamente em Ponta de areia, de Milton Nascimento e Fernando Brant: restam poucos vestígios daquela que um dia foi a esperança de redenção daquela região. A RFFSA foi, finalmente, extinta pela Lei 11.483, de 31 de março de 2007. Nesse ínterim, a maior parte das ferrovias foi concedida a empresas de logística, interessadas principalmente no transporte de carga.
Diante do perigo que atinge o patrimônio ferroviário mineiro, é preciso que as populações locais se manifestem, diante de qualquer ameaça à integridade desses imóveis, e denunciem à Secretaria do Patrimônio da União, ao Iphan, ao Dnit, e ao próprio Ministério Público, buscando, por meio de parcerias e do ativismo das redes sociais, uma destinação sustentável para esses símbolos de nossa historiografia.
Esse estado de coisas pode ser percebido bem perto de Belo Horizonte, em Rio Acima, onde opera a maria-fumaça denominada Trem das Cachoeiras. Enquanto a Estação de Rio Acima está muito bem conservada, inclusive com o trenzinho turístico operando a todo vapor, a Estação Honório Bicalho, próxima do fim de linha do passeio, só tem a plataforma de embarque, tendo sido demolida pela concessionária daquele trecho em 2003, levando consigo mais um ícone da arquitetura ferroviária mineira.
A demolição pura e simples, sem ouvir nenhum órgão ligado ao patrimônio histórico (Iphan, Iepha), foi no mínimo um desrespeito à memória e à identidade do povo mineiro. Vale enfatizar que nossa história se confunde com a história ferroviária, e, de tão arraigada nesta terra mágica, qualquer coisa pode se transformar em trem. Dois fatores mesclam o desenvolvimento do estado e o ferroviarismo: o ciclo áureo do café, desde o final do século 20 até o fim da República Velha, em 1930; e a imigração estrangeira, tanto na fundação dos núcleos agrícolas coloniais quanto na mão de obra para a implantação e operacionalização das vias.
A partir do primeiro governo de Vargas, no entanto, o trem foi perdendo sua primazia para o transporte rodoviário, em conformidade com o que acontecia no resto do mundo, principalmente nos países centrais. No Brasil, o impacto foi maior, uma vez que, em geral, os serviços prestados pelas empresas ferroviárias eram de baixa qualidade, não tendo como concorrer com o rodoviarismo que se instalava.
Na era JK, o transporte ferroviário foi definitivamente relegado ao segundo plano, frente à opção clara de seu governo pelas rodovias, junto com os incentivos à nascente indústria automobilística. Então, a modernidade era encarnada pelos automóveis, ônibus e caminhões; as ferrovias, ao contrário, passaram a simbolizar o passado, em um país que só tinha olhos para o futuro. A criação da Rede Ferroviária Federal S.A., em 1957, foi uma tentativa em vão de reorganizar, dar maior racionalidade e viabilizar o sistema.
No governo militar, a partir de 1964, a desferroviarização continuou a passos largos, tendo várias estradas de ferro sido simplesmente erradicadas. É o caso da Bahia e Minas, que ligava Caravelas (BA) a Araçuaí (MG), extinta em 1966, mas não nos corações e mentes do povo do Mucuri – foi, aliás, cantada nostalgicamente em Ponta de areia, de Milton Nascimento e Fernando Brant: restam poucos vestígios daquela que um dia foi a esperança de redenção daquela região. A RFFSA foi, finalmente, extinta pela Lei 11.483, de 31 de março de 2007. Nesse ínterim, a maior parte das ferrovias foi concedida a empresas de logística, interessadas principalmente no transporte de carga.
Diante do perigo que atinge o patrimônio ferroviário mineiro, é preciso que as populações locais se manifestem, diante de qualquer ameaça à integridade desses imóveis, e denunciem à Secretaria do Patrimônio da União, ao Iphan, ao Dnit, e ao próprio Ministério Público, buscando, por meio de parcerias e do ativismo das redes sociais, uma destinação sustentável para esses símbolos de nossa historiografia.
Combate ao câncer de mama
Combate ao câncer de mama
Toda mulher deve ficar atenta a qualquer alteração em seu corpo
Kerstin Kapp Rangel
Mastologista do Instituto Mário Penna
Estado de Minas: 16/10/2013
Outubro é o mês do
combate ao câncer de mama, que representa a principal causa de morte por
câncer entre as mulheres em todo o mundo. A campanha “Outubro rosa”
pretende propagar a informação e conscientização da população por meio
de ações emblemáticas. O objetivo é alcançar o diagnóstico inicial, que
permita um tratamento efetivo, proporcionando a cura em 95% dos casos. É
importante lembrar que, até pouco tempo atrás, o único tratamento
cirúrgico adequado era a mastectomia radical (retirada completa da mama e
de todos os gânglios da axila). Uma mutilação! E é justamente pelo
temor de perda da mama, da feminilidade, que o assunto ainda assombra as
mulheres quando se fala em câncer de mama. Felizmente, hoje podemos
oferecer muitas alternativas.
O diagnóstico precoce permite cirurgias cada vez menos mutilantes. Mesmo quando há indicação de retirada completa da mama, é possível realizar procedimentos para a sua reconstrução (utilizando tecidos musculares do dorso e abdômen da própria paciente ou implantes de silicone). A paciente participa ativamente da programação estratégica da cirurgia.
Complementando o tratamento cirúrgico, pode ser necessária a aplicação de radioterapia. E, para diminuir o risco da doença se desenvolver em outras partes do corpo (metástase), pode ser indicado o tratamento sistêmico com a quimioterapia ou a hormonioterapia. É importante destacar que todo o tratamento pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), não havendo distinção quanto às técnicas oferecidas. O Instituto Mário Penna (hospitais Luxemburgo e Mário Penna), em Belo Horizonte, é credenciado para tratamento oncológico e atende pacientes da capital e do interior. Aproximadamente 930 pessoas com câncer de mama passam por sessões de quimioterapia todos os meses nesses hospitais.
Não existe uma forma efetiva de prevenir o aparecimento do câncer de mama. O risco pode ser avaliado analisando a história familiar (parentes de primeiro grau ou muitos casos na família), mas a maioria dos casos (95%) é esporádica, ou seja, não ocorrem por mutações genéticas hereditárias. A vida reprodutiva da mulher tem um papel fundamental: menstruar cedo, entrar na menopausa tarde, não ter filhos, não amamentar, fazer reposição hormonal são aspectos que podem aumentar o risco.
Outras medidas gerais promovem a saúde, como não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas, manter o peso com uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos.
Enquanto não podemos evitar o aparecimento da doença, precisamos investir no diagnóstico – quanto mais cedo melhor! Toda mulher deve ficar atenta a qualquer alteração em seu corpo (nodulações, abaulamentos, vermelhidão, retração do mamilo). E procurar um médico em caso de dúvidas. Fazer mamografia anual após os 40 anos e ter as suas mamas examinadas por um especialista é imprescindível.
O diagnóstico precoce permite cirurgias cada vez menos mutilantes. Mesmo quando há indicação de retirada completa da mama, é possível realizar procedimentos para a sua reconstrução (utilizando tecidos musculares do dorso e abdômen da própria paciente ou implantes de silicone). A paciente participa ativamente da programação estratégica da cirurgia.
Complementando o tratamento cirúrgico, pode ser necessária a aplicação de radioterapia. E, para diminuir o risco da doença se desenvolver em outras partes do corpo (metástase), pode ser indicado o tratamento sistêmico com a quimioterapia ou a hormonioterapia. É importante destacar que todo o tratamento pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), não havendo distinção quanto às técnicas oferecidas. O Instituto Mário Penna (hospitais Luxemburgo e Mário Penna), em Belo Horizonte, é credenciado para tratamento oncológico e atende pacientes da capital e do interior. Aproximadamente 930 pessoas com câncer de mama passam por sessões de quimioterapia todos os meses nesses hospitais.
Não existe uma forma efetiva de prevenir o aparecimento do câncer de mama. O risco pode ser avaliado analisando a história familiar (parentes de primeiro grau ou muitos casos na família), mas a maioria dos casos (95%) é esporádica, ou seja, não ocorrem por mutações genéticas hereditárias. A vida reprodutiva da mulher tem um papel fundamental: menstruar cedo, entrar na menopausa tarde, não ter filhos, não amamentar, fazer reposição hormonal são aspectos que podem aumentar o risco.
Outras medidas gerais promovem a saúde, como não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas, manter o peso com uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos.
Enquanto não podemos evitar o aparecimento da doença, precisamos investir no diagnóstico – quanto mais cedo melhor! Toda mulher deve ficar atenta a qualquer alteração em seu corpo (nodulações, abaulamentos, vermelhidão, retração do mamilo). E procurar um médico em caso de dúvidas. Fazer mamografia anual após os 40 anos e ter as suas mamas examinadas por um especialista é imprescindível.
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