Para combater sobrepeso entre jovens,
projeto proíbe ambulantes de vender guloseimas na porta dos colégios em
BH. Vendedores dizem que controle deve ser feito pelos pais
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"Tentei vender barrinhas de cereal, mas tive
prejuízo" %u2013 Antônio Alkmim, 58 anos, que há 21 trabalha na porta do
Colégio Loyola |
Desde que a Lei
18.372 foi regulamentada em Minas Gerais, em março de 2010, proibindo a
venda e distribuição de alimentos muito calóricos nas escolas públicas e
particulares do estado, especialistas criticam que as tentações
continuam do lado de fora das instituições. Esquecidos na Lei da Merenda
Saudável, os baleiros, com seus carrinhos cheios de guloseimas e
salgadinhos, muitos há décadas no mesmo lugar, agora estão na mira da
legislação. Em Belo Horizonte, um projeto de lei que começou a tramitar
nesta semana na Câmara Municipal pretende tirar deles o direito de
vender produtos com alto teor de gordura e açúcares para os alunos. A
tentativa é de diminuir os índices de sobrepeso e obesidade, que hoje,
segundo dados do Ministério da Saúde, atinge uma a cada três crianças no
país.
A proposta é acrescentar uma norma ao Código de Posturas. O
artigo 116 descreve que o exercício de atividades em logradouro público
depende de licenciamento prévio pela prefeitura. Os baleiros pagam em
média R$ 35 pela autorização, segundo os próprios trabalhadores. O
Projeto 811/13, de autoria do vereador Joel Moreira (PTC), propõe que
seja proibida “a presença de ambulantes para venda de doces de qualquer
espécie, incluindo balas, chocolates, chicletes, pirulitos, na porta das
escolas públicas e privadas”.
O autor justifica que foram
feitos seminários com médicos endocrinologistas, nutricionistas,
professores de educação física e especialistas no assunto e que todos
apontaram a necessidade de tirar a oferta da porta das escolas. “Há um
questionamento de que, embora a merenda dentro da escola tenha que
seguir os padrões de qualidade exigidos para as crianças, elas saem na
rua e tem um baleiro para oferecer uma guloseima”, afirmou Moreira. A
expectativa, segundo ele, é que o projeto seja votado em primeiro turno
até fevereiro.
Na porta das escolas, a proposta divide quem
vende e quem compra. Antônio Rodrigues, de 51 anos, conhecido como Pelé,
vende balas em frente ao Colégio Santo Agostinho, na Região Centro-Sul
de Belo Horizonte, há 35 anos. Herdou o ofício do pai, que começou quase
10 anos antes dele e o levava para aprender. Criou os dois filhos, de
18 e 24 anos, com o salário mínimo que tira todos os meses da venda. Não
é a primeira vez que ouve uma ameaça de ser retirado do ponto, mas não a
teme. “Sempre tem essa conversa, mas as coisas nunca se concretizam. Se
for lei, vou ter que cumprir, não quero ficar clandestino, mas acho que
a decisão de comprar ou não tem que vir dos pais”, disse.
Antônio
Jaime Alkimin, de 58 anos, está há 21 na porta do Colégio Loyola,
também na Região Centro-Sul, e espera que o projeto não seja aprovado.
Ele acredita que vai trabalhar ali, no mesmo ponto, até completar 75
anos. Antônio conta que já tentou vender produtos mais saudáveis, mas
sem sucesso. “Tentei vender barrinhas de cereal, mas tive prejuízo”,
conta. Segundo o vendedor, a criançada gosta mesmo é de balas e
salgadinhos. “Os próprios pais, se não comprarem aqui, vão comprar em
outro lugar, seja num supermercado, uma farmácia, em um bar”, afirmou.
Pais
divididos Entre os pais, o assunto causa divergência. Moema Braga, de
62, autônoma, busca os três netos, de 6, 8 e 10 anos, todos os dias na
escola. O carrinho de balas é uma tentação, segundo ela, mas a regra em
casa é clara: podem comprar apenas na sexta-feira. A ordem é dada pela
filha de Moema, mãe das crianças. “Acho que eles podem continuar a
vender, mas cabe aos pais regrar os filhos”, disse. A psicóloga Ivone
Saddi, de 50, diz que para o filho de 6 anos é proibido e que regrou o
consumo de doces por ele desde o nascimento, preocupada com sua saúde.
“Enquanto houver oferta, terá procura. É uma forma de chegar até a
criança, por isso sou contra a venda na porta da escola”, disse.
Para
Ivone, é preciso assegurar que os baleiros sejam recolocados no mercado
de trabalho de maneira digna. Já Roger Moreira, de 32 anos, que é
motorista e busca todos os dias duas crianças, de 7 e 9 anos, no Loyola,
disse que os pais devem ter bom senso e não vê necessidade de uma lei.
“As crianças chegam ao shopping e há várias lojas cheias de bala. O
vereador deve se lembrar que está mexendo no sustento dos baleiros e
querendo interferir na criação dos filhos”, disse.
Para Emiro
Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas
Gerais (Sinep-MG), proibir a venda na porta das escolas é dar
continuidade ao que começou dentro das cantinas. “É incoerente que fique
restrito dentro das escolas e, quando chega ao lado de fora, eles têm
acesso a cachorro-quente, bala”, disse. Barbini, porém, também defende
medidas para garantir o sustento dos baleiros.
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"Acho que a decisão de comprar ou não tem que
vir dos pais" %u2013 Antônio Rodrigues, 51 anos, que vende balas em
frente ao Santo Agostinho há 35 |
Um terço das crianças acima do pesoO
último levantamento feito pelo IBGE, de 2010, revela que o sobrepeso
atinge 34,8% dos meninos e 32% da meninas entre 5 e 9 anos no país. O
mesmo estudo indica que 16,6% dos meninos e 11,8% das meninas estão
obesos. Os dados são preocupantes, segundo o endocrinologista Antônio
José das Chagas, presidente do Comitê de Endocrinologia Pediátrica da
Sociedade Mineira de Pediatria. Ele alerta que a obesidade leva a
doenças crônicas graves, como hipertensão e diabetes, e que as crianças
acabam seguindo o mesmo passo dos pais. Se eles forem obesos, os
pequenos também serão.
O médico concorda com o projeto de lei,
mas acha que deve ser ampliado para todos os estabelecimentos que vendem
guloseimas e alimentos muito calóricos, como supermercados, farmácias,
bares e redes de fast food. “Toda medida criada para dificultar o acesso
das crianças a esses produtos chamados de calorias vazias, ou seja, sem
nenhum valor nutricional, é bem-vinda.” Segundo o especialista,
professor aposentado da UFMG, a lei, se aprovada, é uma forma de educar
também pai e mãe. “A prevenção é o mais importante porque depois, para
perder 20kg, 30kg, é muito mais difícil”, disse. Evitar o sobrepeso,
lembrou o médico, é prevenir o aparecimento de doenças de pulmão,
coração, pernas, fígado, rins, de pressão, colesterol alto, entre
outras.
Para os pais, ele indica que devem restringir as
calorias vazias e ensinar os filhos a comer. “A criança tem que aprender
a degustar, saborear pequenas quantidades. Pegar um pedaço pequeno de
chocolate, colocar na boca e deixar derreter na boca, com calma. A
pessoa engole poucas calorias e sente o sabor do alimento. O ideal é
sempre comer pequenas quantidades, para não encher demais o estômago, e
fazer seis refeições por dia, assim não se passa fome e também não
engorda”, explicou.
CALCULE O IMCPara
saber se o seu filho está com sobrepeso ou obesidade, é só fazer o
cálculo do índice de massa corporal (IMC). Divida o peso pela altura ao
quadrado, ou seja, quem pesa 60kg e mede 1,67 m deve dividir 60 por 2,78
(1,67 x 1,67). Veja o resultado:
Menos de 17 muito abaixo do peso
Entre 17 e 18,49 abaixo do peso
Entre 18,5 e 24,99 peso normal
Entre 25 e 29,99 acima do peso
Entre 30 e 34,99 obesidade grau I
Entre 35 e 39,99 obesidade grau II (severa)
Mais de 40 obesidade grau III (mórbida)