Fugindo de noticiário chato, dei
com este velho costado na ESPN que entrevistava, no programa Bola da
Vez, famoso jogador de futebol transformado em comentarista esportivo.
Raras vezes me diverti tanto com a interminável sucessão de asneiras do
novo comentarista.
Nada impede que um ex-craque se transforme em
comentarista esportivo, mania atual dos nossos canais de tevê. Muitos
são articulados, divertidos, informados, conhecem os meandros do esporte
que praticaram profissionalmente. Vários se transformam em políticos
melhores que os políticos profissionais, até porque é impossível que
sejam piores.
O rapaz entrevistado no Bola da Vez, que teve
sucesso nos gramados, tem uma capacidade de dizer tolices raramente
vista em qualquer lugar. Por qualquer motivo fala de paradoxo, como se
tivesse noção do que seja um paradoxo, pensamento, proposição ou
argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam
orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida, a crença
ordinária e compartilhada pela maioria.
Várias vezes disse ter
aprendido, no primeiro canal em que trabalhou como comentarista, “coisas
que não sabia”, como se tivesse cabimento aprender coisas sabidas. E
foi por aí, num besteirol inenarrável, dos mais divertidos que já vi.
Baratas“Um
quilômetro! Um quilômetro!” exclamava o muito saudoso José Carlos de
Lèry Guimarães advertindo sobre a distância percorrida pelas baratas
quando sentiam o cheiro dos restos de cervejas nos copos ou nas
garrafas. Daí a necessidade de lavar e emborcar garrafas vazias.
Cervejeiro contumaz, o então jovem philosopho repassou o exagero para as
funcionárias domésticas que o assistiam, considerando que nunca soube
lavar um copo, uma garrafa, um prato, um talher.
José Carlos foi
dos mais brilhantes dos meus amigos, inteligência fulgurante que teria
estourado na cidade grande, mas se deixou ficar pela aldeia a cavaleiro
do salário de procurador federal. No país dos meus sonhos, todos os
jornalistas realmente brilhantes teriam aposentadorias de procuradores
federais. Como são poucos, as aposentadorias não pesariam no orçamento
da nação, que se beneficiaria do brilho dos profissionais.
Lembrei-me
do bom gosto das baratas pelas cervejas, ainda que velhas e quentes, na
tarde quente em que matei uma trinca de belgas Duvel, antes de dormir o
sono dos justos. Lembrei-me também do nome do jornalista Phíntias
Guimarães, que não conheci pessoalmente, pai do José Carlos. É
fantástico ser filho de um Phíntias. Fui ao Google, que só tem duas mil
entradas para o nome, várias em alemão. Se o leitor souber do Phíntias
histórico ou lendário, me conte por favor.
TermométricasNa
tarde em que o termômetro aqui da sala de tevê marcou a temperatura
mais alta desta primavera, senti menos calor do que nas tardes em que o
termômetro anotava menos dois graus. Só pode ter sido a tal de sensação
térmica. O sujeito que a descobriu é um gênio, porque a sensação de frio
ou calor geralmente não coincide com as marcas do termômetro. Ventos,
umidade relativa e outros fatores devem contribuir, como também deve ser
importante aquilo que você comeu ou não comeu, bebeu ou não bebeu.
Termômetro
sozinho não basta, mas pode matar de susto. Numa de minhas crises de
malária, o termômetro chegou a 41.6 e minha santa companheira telefonou
para o médico dizendo que o seu marido e senhor estava com febre de
46.1. Troca de números, coisa que acontece.
Do meu leito ouvi o
telefonema e concluí: estou morto. E tive a nítida sensação de entrar no
céu, porque a temperatura começou a baixar em consequência do remédio
que me deram: a sensação é de entrar no céu. Parecida com a sensação que
o Microbrachius dicki, um peixe de 7 cm, com o dicki em forma de L, que
viveu há 385 milhões de anos num lago da Escócia e deve ter sido,
segundo a ciência, o primeiro bicho deste planeta a fazer sexo, fazer
amor (peixe faz amor?), copular. Ensinam os anglófilos que dicki é
pinto.
Usava seus bracinhos para transar de lado – di-lo a
ciência – o que, transcorridos 385 milhões de anos, continua sendo muito
bom. No caso do Microbrachius dicki a posição de ladinho tinha a
vantagem de não enxergar a fêmea feia pra dedéu.
O mundo é uma bola19
de novembro de 1499, parte da Espanha o navegador Vicente Yáñez Pinzón,
que teria alcançado a costa brasileira em janeiro do ano seguinte,
meses antes do descobrimento oficial pelo nosso Pedro Álvares Cabral. Em
1807, Humphry Davy escreve à Sociedade Real Britânica sobre as
propriedades do potássio, elemento que acabara de descobrir. Em 1819,
inauguração do Museu do Prado em Madrid, Espanha. Em 1889, o governo
provisório brasileiro baixa os primeiros decretos regulamentando a
bandeira, o brasão de armas, o hino e o selo nacionais. Em 1906,
comemora-se pela primeira vez o Dia da Bandeira no Brasil. Em 1969, Pelé
marca no Maracanã o seu milésimo gol às 23h11min, no jogo Vasco x
Santos, vencido por 2 a 1 pelos santistas. Hoje é o Dia da Bandeira e o
Dia do Cordelista.
Ruminanças“Que mal terá feito a Deus o pequeno coala para cair no colo da senhora Rousseff?” (R. Manso Neto).