segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A grande pergunta de Marina - Renato Janine Ribeiro

VALOR ECONÔMICO -25/08/2014

Só Marina pode emplacar, na agenda política brasileira, a ideia de uma economia que não destrua natureza e cidades



Marina Silva, de todos os que disputam a presidência da República, é o único nome que seria ouvido mesmo fora de qualquer cargo ou mandato. Não chega a ser uma pensadora, mas tem uma proximidade do mundo do pensamento que é rara no mundo da política. De nossos políticos talvez seja quem melhor capte as novidades de nosso tempo. Transita com tranquilidade entre a política e o mundo da vida. Sua entrada na disputa faz esperar um salto de qualidade na discussão - tanto nas perguntas que só ela pode fazer, quanto nas que tem de responder.

Deixo para a próxima coluna os questionamentos a ela. Hoje, trato daquilo que pode ser sua maior contribuição ao debate, ganhe ou perca as eleições - lembrando a diferença que ela fez, em 2010, entre "perder perdendo" (caso de Serra) e "perder ganhando" (foi o seu caso).

Este faro para o ar do tempo, que os alemães chamam de "Zeitgeist", se evidenciou nas manifestações de 2013. Só ela entendeu, quase que por intuição, as formas de mobilização - e de vida - dos jovens. Por isso, não creio muito que seus valores religiosos a barrem ao mundo contemporâneo e a seus modos novos de amar. Ela insiste em separar sua fé das posições políticas que lhe cabe defender. Mas tem valores éticos fortes - assim, aliás, como Dilma Rousseff. Na entrevista de Dilma, note-se que o Jornal Nacional, sempre duro com a corrupção atribuída ao PT, poupou sua honra pessoal; e note-se a severidade com que ela manteve à distância, durante a Copa, o presidente da CBF. A diferença é que a ética de Dilma é laica, a de Marina, religiosa.

Como repensar a produção de modo não destrutivo

Dessa preocupação ética, vem a crítica que se faz a ambas - que não gostem daquela atividade política primordial que consiste em escutar, ceder, negociar. A ética lida com o certo e o errado, com o justo e o injusto: é difícil transigir com eles. Já a política trabalha com um "dégradé" de cores, em que é incerta a fronteira entre bem e mal; por isso, sujeitos estritamente éticos dão, com frequência, maus políticos. A política é uma lição ininterrupta sobre a condição, ou a natureza, humana - pior que isso, sobre nossa imperfeição ou mesmo maldade.

Talvez Marina seja mais apta à discussão, às ideias, aos ideais, do que à gestão. É uma possibilidade. Parece que os dois homens que concorriam, Aécio Neves e Eduardo Campos, tinham uma aptidão maior a dialogar e conversar, disposição esta que no caso das duas mulheres que ora concorrem é substituída por valores éticos que as fazem desconfiar das concessões - que para o político tradicional, para o político homem, fazem parte da paisagem, do ar que eles respiram, mas que não é o mesmo delas.

A morte trágica de Eduardo Campos tirou de cena uma questão que poderia ser crucial para nossa democracia. Afirmei que Marina foi quem melhor entendeu a forma que tomaram as manifestações de 2013. Mas Eduardo talvez fosse o melhor presidente para atender ao conteúdo delas: a melhora substancial nos serviços públicos, a saber, transporte, segurança, educação e saúde - o que tenho chamado de quarta agenda democrática, após a queda da ditadura, a redução da inflação e a maciça inclusão social dos últimos anos. Eduardo poderia dar, ao projeto técnico de boa gestão nos serviços públicos, a base política que se chama apoio popular. Seria o mais apto, parafraseando Heidegger, para mostrar que a essência de uma solução técnica está no suporte político. Ele foi-se, e com ele talvez essa agenda.

Mas Eduardo estava sendo só um coadjuvante no confronto de PT e PSDB. A candidatura de Marina traz à praça uma terceira posição. É isso o que muda o cenário.

Marina já tem nome na ecologia, mas nos últimos anos se deslocou para a economia. Na defesa do meio ambiente, sabe-se sua história. Na economia, ainda não. Ora, a ecologia coloca uma questão essencial - e nova - na discussão brasileira. Os candidatos Dilma e Aécio acreditam no PIB. Para eles, desenvolvimento econômico é uma prioridade. Marina muda o jogo, podendo ter como grande "case" o automóvel privado.

A cada dificuldade econômica maior, os governos federal e estaduais, petistas ou tucanos, baixam impostos para estimular a produção de carros. A indústria automobilística, desde sua criação, no governo Juscelino Kubitscheck, tem notável efeito multiplicador sobre a economia. Mas o transporte privado devasta as cidades. O trânsito se torna impossível.

Espaços públicos são destruídos, para dar passagem a automóveis. A antiga praça, como ponto de encontro das pessoas (o "footing" das cidades do interior), cede lugar a avenidas e ruas nas quais cada indivíduo vê o outro, não como interlocutor ou mesmo amigo, mas como um inimigo disputando espaço e velocidade. O carro é uma arma de guerra, e não só porque mata perto de 50 mil ao ano no Brasil. Os custos econômicos de uma sociedade norte-americanizada pelo transporte individual são elevados; já o prejuízo à qualidade de vida, nem dá para medir.

Neste ponto se espera uma posição firme de Marina. As questões que ela pode colocar são preciosas. Está na hora de dizer que uma sociedade se destrói, a continuar por esse caminho. Não é uma plataforma fácil ou popular, mas ninguém tem ascendência moral comparável à de Marina para defendê-la. Com isso não desqualifico seus adversários, apenas noto que há um discurso importante, estratégico, que ela é a única líder apta a propor. E o carro é apenas a porção emersa de um iceberg que envolve todo o sistema produtivo, sobretudo de bens mas também de serviços, chegando a ameaçar o laço e o tecido sociais.

Marina cumprirá a missão de emplacar, na agenda brasileira, esta questão?

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. 
E-mail: rjanine@usp.br


TeVê

Belas e feras


Estado de Minas: 25/08/2014




 (Syfy/Divulgação)


Estreia hoje, às 22h, no canal Syfy, a sexta temporada de Face off (foto), uma competição entre maquiadores especializados em efeitos especiais em que os concorrentes, a cada semana, executam tarefas que vão desde maquiagem corporal à caracterização de monstros alienígenas. Neste primeiro episódio, “Belas e feras”, a equipe conta com dois convidados especiais: o veterano Tammy Lane, que atuou em produções como O hobbit e As crônicas de Nárnia – O leão, a feiticeira e o guarda-roupa; e Steven Sommers, roteirista e diretor da franquia A múmia.

Não queira ter Dirty
Harry no seu encalço

Por falar em cinema, todo cuidado é pouco para não confundir alhos com bugalhos. Um bom exemplo são dois filmes programados para hoje à noite, com títulos bem parecidos: Perseguição implacável, com Aaron Eckhart, às 20h40, na TNT; e o clássico Perseguidor implacável, em que Clint Eastwood encarna o policial Dirty Harry, às 22h, no TCM. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais quatro boas opções: O homem de aço, na HBO 2; Distrito 9, no Studio Universal; Mato sem cachorro, no Telecine Premium; e Acontece nas melhores famílias, no Telecine Touch. Outros destaques da programação: Linha de passe, às 18h05, no Telecine Cult; Iris, às 20h15, no MGM; e Sucker Punch – Mundo surreal, às 22h30, no Space.

Uma série fecha um
ciclo e outra retorna

Cultuada por uma legião de fãs, a série How I met your mother ganhou uma sobrevida, mesmo encerrada pela matriz nos Estados Unidos. Além da versão dublada que vai ao ar pela Bandeirantes, a produção retorna agora no canal Sony desde a primeira temporada, com três episódios exibidos em seguência a partir de hoje e de segunda a sexta-feira, às 19h30. Também hoje, às 23h, no Film&Arts, será exibido o último episódio da sétima temporada de Lewis, série de suspense que fez sucesso na Inglaterra, uma continuação do clássico Inspetor Morse, trama policial que foi ao ar de 1987 a 2000.

Agentes americanos
operam nas sombras

Já no campo das séries documentais, Segredos de Estado vem com episódio inédito às 21h, no canal Bio. “Exércitos secretos da América” vai fazer revelações sobre operações clandestinas patrocinadas por organismos que agem nas sombras, reunindo agentes treinados para matar sem deixar rastro. O advogado de Segurança Nacional Mark Zaid, por exemplo, fala sobre a unidade Delta Force, que já foi tema de vários filmes de ação, guerra e suspense. Já o ex-procurador-geral dos Estados Unidos, John Ashcroft, discute o conceito de “guerra assimétrica”, emprega pelo governo americano ainda hoje. E o escritor Peter Singer descreve a guerra subterrânea travada por meio da internet.

Pacote musical tem
para todos os gostos

Poucas vezes uma segunda-feira foi tão musical como hoje. No canal Curta!, tudo começa com o documentário Meu nome é Gal, de Antonio Carlos da Fontoura, às 21h. Na sequência, às 21h15, vem Raimundo Fagner, de Sérgio Santos. Às 21h30 é a vez de Jards Macalé – Um morcego na porta principal, com direção e roteiro de Marco Abujamra e João Pimentel. E às 22h55, em Jazz icons, a personagem da vez é o pianista Erroll Garner, ao vivo na Bélgica e na Suécia, em dezembro de 1963 e janeiro de 1964, respectivamente. O citado Jards Macalé está também no Canal Brasil, que exibe o documentário Jards, de Eryk Rocha, às 22h. Cartola – Música para os olhos, de Lino Ferreira e Hilton Lacerda, é a atração do Film&Arts, às 19h. No Bis, às 21h, tem o grupo Casuarina comemorando 10 anos de Lapa carioca. E ainda tem o Arte 1, com Antonio Meneses, a câmera e o violoncelo, de Pedro Antonio, às 20h30; e o Concerto de 120 anos do Carnegie Hall, com a Orquestra Filarmônica de Nova York, às 23h.

CARAS & BOCAS » Milionário de bigode


Humorista Hubert Aranha faz participação especial em Geração Brasil  (Estevam Avellar/Divulgação)
Humorista Hubert Aranha faz participação especial em Geração Brasil


A partir do capítulo de amanhã, Geração Brasil (Globo) vai ganhar um personagem novo. Trata-se de Jesus Hernandez, um investidor naturalizado mexicano, que chega ao Brasil para conhecer um novo projeto da Marra. Ele será interpretado, em participação especial, pelo humorista Hubert Aranha. O empresário aparece na casa dos Marra em um momento tenso, em que Jonas (Murilo Benício) e Pamela (Cláudia Abreu) estão em crise. E Jesus ainda decide se hospedar com a família. “Apesar de ser milionário, ele é meio pão duro”, explicou Hubert. Ao se estabelecer na mansão, Jesus recebe toda a atenção da oportunista Gláucia (Renata Sorrah), que não perde a oportunidade de se insinuar para o investidor. Esta é a primeira vez que o humorista participa de uma novela. “Achei ótimo o convite! Apesar de veterano, nunca tinha participado de novelas. Fiquei até meio nervoso de saber que ia gravar com Lázaro Ramos, Murilo Benício, Luís Miranda, Cláudia Abreu, ter cenas com Renata Sorrah, só cobra criada. O clima das gravações é ótimo e fui recebido de braços abertos, me senti muito bem. A novela é divertida e tem um texto engraçado. Estou muito feliz”, disse Hubert.

LAURA CARDOSO GANHA
UM PROGRAMA ESPECIAL

Prestes a completar 87 anos – seu aniversário é em 13 de setembro – e com sete décadas de carreira, a atriz Laura Cardoso, atualmente no papel de Lúcia, em Boogie oogie (Globo), é a homenageada do Damas da TV desta sexta-feira, às 22h30, no canal Viva (TV paga). O especial relembra personagens marcantes da atriz, como a amarga Isaura do remake de Mulheres de areia, de 1993, e a dedicada Guiomar, da segunda versão de A viagem, gravada em 1994 e no ar atualmente na emissora.

COLECIONADOR VAI ATRÁS
DE NOVO LOTE DE RELÍQUIAS

Os tesouros de Barry, série do excêntrico e divertido colecionador Mr. Barry Weiss, estreia nesta semana no A&E (TV paga). Sempre às quintas-feiras, às 21h30, Barry embarca em uma jornada pelos Estados Unidos para desvendar os mais raros e fascinantes itens colecionáveis do país. No primeiro episódio, “Quero esse mico”, Barry vai a Austin, no Texas, e lida com uma impressionante joia de família, além de ter um encontro inusitado com um macaco.

EM NOVA ATRAÇÃO FAMOSOS
IMITAM OUTRAS CELEBRIDADES

Estreia hoje às 23h, no SBT/Alterosa, o Esse artista sou eu, formato da Endemol, que vai substutir o Máquina da fama, durante o período de licença maternidade de Patrícia Abravanel. Sob o comando de Márcio Ballas, o programa trará famosos que farão imitação de celebridades.

OS PRINCIPAIS FATOS
Do fim de semana

Fique por dentro das notícias mais importantes do dia e de tudo que ocorreu no fim de semana com o Jornal da Alterosa – 1ª edição desta segunda-feira, que vai ao ar às 12h30, logo depois do Alterosa esporte. Para começar a semana bem informado.


TRIBUTO AO SÍNDICO
O introdutor do soul na música popular brasileira é lembrado com o show Tributo a Tim Maia, que apresenta sucessos de autoria do cantor e compositor, interpretados por Izzy Gordon, Sandra de Sá, Simoninha e Banda do Síndico, formada por músicos que tocavam com Tim. O espetáculo estreia no SescTV (TV paga), na quarta-feira, às 22h. No repertório, canções que marcaram a carreira do cantor e compositor, como Do Leme ao Pontal, Réu confesso, Imunização racional, Azul da cor do mar, Primavera, Não quero dinheiro, entre outras. O programa também traz depoimentos. Sandra de Sá, por exemplo, conta que Tim queria que ela gravasse uma música escrita por ele e então enviou, por uma amiga da cantora, uma fita cassete com a composição Vale tudo, que ela mostra no show. Como Sandra não acreditou no convite, foi colocada para falar pelo telefone com Tim. Resultado: a música acabou gravada pelos dois em um disco de Sandra.

VIVA
Reportagem sobre a Armênia, no Globo repórter. Excelente.

VAIA
Trama de Barata (Leandro Hassum) já era em Geração Brasil.

LITERATURA » Sem medo de chorar Walter Sebastião

LITERATURA » Sem medo de chorar

Walter Sebastião
Estado de Minas: 25/08/2014


Carpinejar lança livro de crônicas que abrem espaço para a melancolia da vida

 (Cinthya Verri./Divulgação)
Carpinejar lança livro de crônicas que abrem espaço para a melancolia da vida


Me ajude a chorar, livro de crônicas que Fabrício Carpinejar lança hoje na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, traz textos que, segundo o autor, cumprem o que o título promete. “Quanto mais espaço concedemos à tristeza, mais rápido ela vai embora. Tristeza adiada é orgulho ferido”, acrescenta. O escritor reinvindica o direito ao sentimento, sem ninguém ficar pedindo que ele se recupere. “As pessoas querem ser tristes em paz. Não é doença, é cuidado de si”, afirma.

Considerações que vêm de momento em que o escritor faz da tristeza e da melancolia o motivo presente nos textos do novo livro. São escritos sobre temas do cotidiano, que carregam enfrentamento de rupturas, doenças e frustrações. “É livro feito para chorar. Ninguém chora sozinho, precisa de abraço, colo.” Elegia a sentimento de orfandade que vive quem é sensível, inteiro “e tem mais dúvidas que certezas”.

Fabrício considera que crônica é conversa com o leitor. “Cronista chuta a porta, mas está conectado emocionalmente com o leitor. Ele quer desejo, e não ter razão”, defende. O que implica texto que desperte cumplicidade, com abertura confessional e que atinja a vida das pessoas. Para Carpinejar, o cronista desperta emoções extremas, de amor e ódio e, às vezes, o leitor “parece odiar amá-lo”. Crônica, para ele, cobra simplicidade refinada, o que é difícil de conseguir, pois exige despojamento e leveza.

Fabrício Carpinejar é filho do casal de poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, nasceu na cidade gaúcha de Caxias do Sul, em 1972. Tem 30 livros publicados, entre poemas e crônicas. Considera Me ajude a chorar o volume mais poético entre os dedicados à crônica. “Escrevo para viver uma segunda vez na mesma pele. Literatura, para mim, não é salvação, mas um modo de vida.”

O escritor é mestre em literatura brasileira, além de coordenador e professor do curso de formação de escritores e agentes literários da Unisinos. Já traduzido em francês, italiano e alemão, Carpinejar participou de antologias no México, Colômbia, Índia e Espanha. Em tempo: com sua verve e estilo performático, o escritor sempre cativa o público em suas andanças pelo Brasil.

Me ajude a chorar

Lançamento do livro de Fabrício Carpinejar, com bate-papo com o autor. Hoje, às 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3261-1501. Entrada franca. 

Palco de reflexões

Palco de reflexões
 
Encontro Mundial de Artes Cênicas volta a ser realizado em BH no mês que vem. Em novo formato, o CIT-Ecum vai mesclar espetáculos com discussões sobre o teatro e a sociedade

Carolina Braga
Estado de Minas: 25/08/2014


Espetáculo Recusa, com Cia. Balagan de São Paulo, que aborda o universo indígena, vai inspirar debate sobre arte e cosmopolítica (Ernesto Vasconcelos/Divulgação)
Espetáculo Recusa, com Cia. Balagan de São Paulo, que aborda o universo indígena, vai inspirar debate sobre arte e cosmopolítica


Os prazos nem sempre são aqueles desejados. Como persistência é característica fundamental para quem vive a labuta da cultura, finalmente o Ecum, o saudoso Encontro Mundial de Artes Cênicas, rebatizado como CIT-Ecum, vai se reencontrar com o público de BH, cidade onde nasceu. Entre 13 e 21 de setembro, o projeto atualmente radicado em São Paulo realiza nos teatros Francisco Nunes e Marília e na sede da Funarte-MG uma mostra artística com cinco espetáculos e três mesas-redondas.

Quem acompanhou o surgimento da iniciativa na cidade, nos idos de 1998, pode estranhar o formato proposto para o reencontro. O Ecum sempre foi espaço em que a experiência prática dava lugar à discussão. Nomes de peso internacional também costumavam ser peças-chave na programação, mais centrada em palestras e workshops do que propriamente nas apresentações. Pensar o fazer teatral continua, mas com uma dinâmica diferente. A cena e os temas propostos nela ganham um relevo maior.

“Experimentamos um novo formato”, anuncia Guilherme Marques, diretor artístico e idealizador do Ecum. Agora, os espetáculos funcionarão como ponto de partida para um debate mais amplo, que inclui tanto o fazer artístico como as reverberações na sociedade. Como explica Fernando Mencarelli, curador do fórum, o objetivo é propor uma nova relação entre as práticas criativas levadas para o palco e as pautas emergentes da sociedade.

“Entendemos que, por meio das mesas-redondas, poderíamos refletir sobre questões que nos parecem articuladas na prática: a emergência de uma perspectiva nova sobre o político que surgiu nos últimos anos. Temos novos olhares e sujeitos para serem considerados nas discussões das questões públicas. E o teatro é um espaço político por excelência”, reforça Mencarelli.

É por isso que Recusa, montagem do grupo Balagan, de São Paulo, dirigida por Maria Thaís, sobre o universo indígena, inspira debate sobre as artes e a cosmopolítica. O mesmo ocorre com Conselho de classe, dos cariocas da Cia. dos Atores, em relação à crise da instituição escolar. Entrevista com Stella do Patrocínio, protagonizado por Georgette Fadel, discutirá a voz poética dos sujeitos à margem da ordem e da norma. “A ideia é refletir por meio do teatro sobre outros modos de ser e de ver o mundo. Algo que emergiu recentemente é a necessidade de se observar a realidade por novos ângulos e encontrar maneiras diferentes de pensar as práticas sociais”, continua Fernando Mencarelli.

Embora não seja nada novo, o modelo de debate a partir de uma apresentação sintetiza o modo de trabalho do CIT-Ecum desde que a sede em São Paulo entrou em funcionamento, em 2012. Entre 1998 e 2011, o evento foi realizado em edições bienais em Belo Horizonte. Isso fez com que pensadores e pesquisadores do mundo inteiro se encontrassem na cidade para conhecer diferentes abordagens sobre o fazer teatral. Ariane Mnouchkine, Eugênio Barba e Yoshito Ohno foram alguns dos nomes que participaram.

O fato é que, desde 2012, quando o CIT-Ecum viveu a experiência de fomentar uma programação, formada principalmente por grupos dedicados à pesquisa, dentro da antiga sede mantida na Rua da Consolação, em São Paulo, o formato do projeto vem se tornando cada vez menos cristalizado. Mesmo enfrentando as dificuldades burocráticas com o espaço, para Guilherme Marques, não se pode negar o quanto a mudança do Ecum para São Paulo garantiu uma visibilidade nunca antes experimentada. “São Paulo é um polo irradiador, concentra muitos artistas, tem um movimento consistente e vibrante e acho que isso reverberou. Demos um salto enorme tanto em visibilidade quanto artisticamente.”

Sem casa

Quando recebeu o convite para mudar-se para São Paulo, Guilherme Marques vislumbrou a possibilidade de ter uma sede e, nela, dar continuidade a todos os projetos pedagógicos incubados no Ecum. Assim foi feito durante os 16 meses em que a sede do CIT-Ecum esteve em funcionamento na Rua da Consolação. No prédio com três espaços distintos para apresentações passaram 90 espetáculos, além do fórum internacional, realizado em 2012.

No primeiro semestre deste ano, o CIT-Ecum precisou fazer as malas por causa da especulação imobiliária. O edifício ocupado pelo centro cultural foi pedido pelo proprietário, o que deu origem a protestos e um movimento pelo tombamento do projeto como bem cultural imaterial, assim como do imóvel. Se o imbróglio significou paralisação das atividades em São Paulo, abriu espaço para a circulação por outras praças.

Por motivos óbvios, Belo Horizonte é a primeira parada. Embora não estejam definidas datas, também estão em planejamento passagens pelo Rio de Janeiro e alguma cidade do Nordeste. A expectativa é de que em no máximo 30 dias saia o resultado do tombamento da sede paulista, e aí a equipe poderá dar continuidade ao planejamento das ações para a sede do CIT-Ecum.

Conselho de classe, do grupo carioca Cia. dos Atores, coloca em cena o tema da crise da educação na sociedade contemporânea   (Dalton Valério/Divulgação )
Conselho de classe, do grupo carioca Cia. dos Atores, coloca em cena o tema da crise da educação na sociedade contemporânea


CIT-Ecum BH

. Espetáculos

Recusa (Cia. Balagan/SP) – 13 e 14 de setembro, Funarte, às 19h
Conselho de classe (Companhia dos Atores/RJ) – 16 de setembro, Teatro Francisco Nunes, às 19h e às 21h
Stella do Patrocínio (Georgette Fadel e Lincoln Antonio/SP) – 18 e 19 de setembro, Funarte, às 19h
Árvores abatidas ou Para Luís Melo (Marcos Damaceno Cia. de Teatro, com Rosana Stavis) – 19 e 20 de setembro, no Teatro Marília
Cais ou Da indiferença das embarcações (Velha Companhia/Texto e direção Kiko Marques) – 20 e 21 de setembro, Teatro Francisco Nunes

. Fórum

.Artes e cosmopolítica, com Leda Martins (Fale/UFMG), Ana Gomes (FAE/UFMG) e Maria Thais (Cia. Balagan) – 13 de setembro, Funarte, às 20h
.A escola em crise, com Shirley Miranda (FAE/UFMG), Juarez Dayrell (FAE/UFMG) e Bel Garcia (Companhia dos Atores) – 16 de setembro, no Teatro Francisco Nunes, às 20h
.Nas margens da cidade, com Antonio Hildebrando (EBA/UFMG), Manu Pessoa e Rafael Bottaro (Espaço Comum Luiz Estrela) e Georgette Fadel – 18 de setembro, Funarte, às 20h

Depoimento

Rita Clemente
Diretora de teatro


“Quando era um evento, o Ecum motivou toda uma geração ao diálogo, à pesquisa e à realização apurada da obra de arte cênica. Quando um evento como este, com esta força transformadora, estende seu conceito sem perda de critério e deixa de ser sazonal, ele amplia a sua abrangência e passa a ser parte efetiva de um mercado que de maneira alguma pode prescindir da pesquisa e de sua ligação direta com o fazer artístico. O Ecum, e tudo que se originou dele, mostra a necessidade imperiosa de que haja dispositivos contínuos que promovam a difusão, pesquisa e profundamento da arte cênica de forma permanente. Além disso, o Ecum é único. Único no conceito e na efetividade. Não há outro semelhante no país. Sua permanência sequer deveria ser discutida, tamanhas as importância e efetividade de suas ações.”



"Não podemos ficar à mercê de leis de incentivo, ter que desenvolver uma pesquisa em três meses para cumprir prazos e mostrar resultados. Isso acaba comprometendo a qualidade artística do projeto. Temos de fortalecer o investimento direto" .Guilherme Marques, criador do CIT-Ecum

Eduardo Almeida Reis‏ - Doutor Anastásio

Não gosto dos que enriquecem roubando o povo, mas isso não é inveja, é opinião%u201D

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 25/08/2014



Não digo que o dr. Lívio Anastásio Ferreira Filho, de 67 anos, tenha subido no meu conceito. Para subir no meu conceito preciso conhecer o doutor e saber de sua reputação entre os amigos e os médicos, bem como na sociedade. Por isso, me limito a constatar que o dr. Lívio me impressionou favoravelmente pelos 240 metros quadrados do quarto de cama na casa que está acabando de construir em Sabará, MG. Casa que imita um castelo.

Se entendi a foto, o castelo tem, ao lado das torres, uma espécie de “varanda paulista”, objeto da obsessão arquitetônica do grande Gustavo Penna. Arquiteto mineiro mundialmente famoso, que reúne amigos para harmonizar cervejas raras com iguarias da melhor supimpitude, Gustavo Penna sai do sério quando vê uma varanda paulista. Trocada em miúdos, é aquela área sobre a última laje de uma construção com o telhado de uma água em alumínio ou amianto. 

Realmente, quarto de 240m2 é de bom tamanho. Saudoso amigo açoriano, que passou sua primeira lua de mel em África a serviço secreto das Forças Armadas de Portugal, trouxe das guerras coloniais a mania dos quartos de mais de 50m2. Encostada numa das paredes, imensa mesa com os charutos e os vários pares de botas. Pistola municiada sob o travesseiro. Ele e a mulher sempre dormiram inteiramente nus. 

Pena que o castelo de Sabará não seja original. Há cerca de 100 anos o barão Smith de Vasconcellos construiu seu castelo em Itaipava, RJ, que pode ser visto pelos que transitam de BH para o Rio pela BR-040. Uma das netinhas do barão é a ministra petista Marta Suplicy, que trocou o sacrossanto pai do Supla por um delinquente internacional e promoveu casamento de envergonhar um continente.

Os deuses do Olimpo farão que a descendência do castelão sabarense não seja petista. É o que desejo ab imo pectore, o que significa dizer do fundo do meu coração.

Micro-ondas 

Não invejar é uma bênção que nasce com a gente. Se um amigo prospera, prospero com ele. Se nasceu próspero, fico feliz por ele. Não gosto dos que enriquecem roubando o povo, mas isso não é inveja, é opinião. Pierre Daninos (1913-2005), humorista francês, autor de uma série de livros dos quais o mais famoso é Les Carnets du major Thompson, explicou o problema da inveja comparando os camponeses da França com os norte-americanos. Vendo passar um carro bonito, os franceses murmuravam “Desce do carro e vem andar a pé como toda gente”, enquanto os americanos diziam “Que carro bacana! Vou trabalhar bastante até comprar um igual”.

O trecho vai de memória, que não consigo encontrar os livros Snobíssimo e Daninoscópio na gloriosa bagunça do quarto transformado em biblioteca, modesto conjunto de pouco mais de 3 mil livros. Se não me falha a memória, dia desses o ex-ministro Delfim Netto doou à Feausp, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, os 250 mil livros de sua biblioteca particular. Presumo que a biblioteca do ministro Guido Mantega rivalize em tamanho com a Library of Congress, que abriga mais de 155 milhões de itens em 470 idiomas.
Isto posto, volto ao assunto deste belo suelto para confessar em off, pedindo ao leitor que não espalhe: invejo as pessoas que não pensam. Felizmente para elas todas, que são maioria, porque pensar assusta. Nietzsche resumiu: “A vida mais doce é não pensar em nada”. Agora é a vez do philosopho com o exemplo do forno de micro-ondas, o imenso Cuisinart que esquenta o meu almoço dos domingos. Faço o prato, boto no forno, aperto o botão de 4 minutos e o relógio exibe a contagem regressiva: 3:59, 3:58, 3:57... Segundos de vida que se vão e não voltam mais.

O mundo é uma bola 

25 de agosto de 1580: a Espanha vence Portugal na Batalha de Alcântara. Em 1609, Galileu Galilei apresentava ao mundo o telescópio, sua mais nova invenção. A data costuma passar despercebida, mas foi dos mais importantes saltos tecnológicos da história. Toda noite, debaixo de três cobertas, um philosopho amigo nosso gosta de observar através do vidro da janela uma nesga do céu mineiro e philosophar sobre o que teria representado para o homem primevo a contemplação dos céus noturnos. Em 2014, já sabemos alguma coisa sobre a Lua, as estrelas, as galáxias – e sabemos pouco. Dá para imaginar o que pensavam as primeiras gerações de nossa era. E dizer que Confúcio, outro filósofo de truz, viveu cinco séculos antes de Cristo.

Em 1768, o HMS Endeavour, capitaneado por James Cook, zarpa de Plymouth na viagem em que descobriria a Austrália. Em 1825, o Uruguai se proclama independente do Império do Brasil. Em 1830, começa a revolta belga de separação dos Países Baixos. Em 1833, guerra civil em Portugal: concentração das forças miguelistas em torno de Lisboa. Em 1913, o presidente norte-americano Woodrow Wilson passa a boicotar o México. Apesar da implicância ianque, até hoje os mexicanos adoram invadir o país vizinho. Hoje é o Dia do Soldado Brasileiro.

Ruminanças
“Um soldado é um escravo do seu uniforme” (Juan Donoso Cortés, 1809-1853). 

Mogno-africano para quem não tem terra‏

Estado de Minas: 25/08/2014 



Considerado o “ouro verde” do futuro por causa das boas possibilidades de lucro, o mogno-africano tem levado à criação de projetos de investimentos diferenciados. Já é possível adquirir cotas de lavouras estruturadas por empresas que vislumbraram o potencial da madeira nobre. No entanto, os grupos formados são limitados e muito controlados, para evitar problemas de pirâmides financeiras, como as da Master Avestruz e da Boi Gordo, que geraram bilhões de reais em prejuízos para milhares de brasileiros. A ideia é investir com riscos mais limitados em florestas que podem render até R$ 600 mil a cada R$ 45 mil aplicados. Mas as queimadas são ameaças e os ganhos só começam depois de mais de 12 anos de aportes. Minas Gerais saiu na frente e já é o campeão no cultivo do mogno-africano.

Mogno a prestação Planos de negócios voltados para a exploração da madeira nobre ganham espaço tanto no país quanto em Minas. Empreendedores convidam investidores selecionados para apostar no negócio
Pedro Rocha Franco


Transformado em vedete por causa da alta demanda e aumento da restrição do corte em florestas nativas, o cultivo do mogno-africano e outras madeiras nobres tem atraído interessados diversos, devido à possibilidade de alto retorno. De megaempresários do agronegócio a investidores que se associam em grupos, públicos distintos enxergam no produto uma forma de lucrar a longo prazo.

Em busca de uma forma de inovar para ganhar dinheiro, um grupo de amigos do curso de engenharia de produção da Universidade Federal de Minas Gerais se associou para criar startups (modelos de empresas inovadoras e promissoras criados em condições de incerteza por grupos de pessoas). A primeira ideia colocada em prática foi a de uma fábrica de pão de queijo. Eles então decidiram estudar a indústria de reflorestamento. Sem brecha para investir em eucalipto, depois de um congresso descobriram o mercado de madeiras nobres – o ouro verde.

O grupo estudou por um ano o setor, analisou as projeções de investimento e, por fim, resolveu adotar o mogno. No período, os amigos criaram um plano de negócios que indicou ser o mercado viável economicamente a partir de uma escala de 100 hectares. Para isso, o aporte necessário seria de R$ 9 milhões. Sem capital nenhum para investir, eles convidaram pessoas da rede de contatos para se associar. Em uma oferta privada de capital, tios, amigos e outras pessoas próximas gostaram do projeto. Em alguns meses, o valor foi arrecadado por meio da cotização. Logo, hoje não é possível a entrada de novos associados. Mas o plantio foi feito e o mogno já cresce e promete lucro para longo prazo.

FUGA DE RISCOS No meio do processo, no entanto, os amigos se depararam com um entrave jurídico e a necessidade de se diferenciar de outros projetos que acabaram se transformando em caso de polícia, como o Boi Gordo e a Avestruz Master (veja quadro). Entre outros, a empresa publica a cada trimestre o balanço financeiro auditado. “Golpes são caracterizados por lucros absurdos em curto espaço. A Ouro Verde trabalha com longo prazo”, afirma o sócio da empresa de cultivo Ouro Verde, Henne Danif.

A expectativa é que 336 árvores sejam produzidas por hectare. As projeções internas do grupo mostram que a receita gerada por hectare é de aproximadamente R$ 700 mil. Ou seja, ao todo, o negócio deve render R$ 70 milhões, retorno 667% superior ao investido.

Projeto semelhante é mantido em Janaúba, Norte de Minas, pela Meta Florestas. Idealizado por dois irmãos, ele pode se tornar o maior do Brasil nos próximos anos. Segundo o executivo da empresa, Raphael Valle Cruz, uma sociedade anônima foi constituída e, ao todo, hoje são 19 associados. A entrada de cada novo associado é avaliada em conjunto por todos os integrantes. E também não há captação pública de investidores.

“São empresários que quiseram diversificar seus portfólios”, afirma Cruz sobre o perfil dos sócios. Cada um faz um aporte mensal de acordo com o número de ações. Ele explica que para cada hectare, desde a compra da terra até o corte, aproximadamente 12 anos depois são investidos R$ 45 mil. O retorno previsto é de R$ 600 mil. “No primeiro ano o custo é maior devido à compra de mudas e da terra. Depois, é mais manutenção”, explica o executivo.

As primeiras mudas foram plantadas há sete anos, ocupando, na época, 46 hectares. Hoje, são aproximadamente 700 hectares e a previsão é de que nos próximos quatro anos o negócio ocupe mais 800 hectares. 

Erros podem afetar a conta de luz‏

Erros podem afetar a conta de luz
Diogo Mac Cord de Faria
Coordenador do MBA em setor elétrico da FGV/Faculdade IBS
Estado de MInas: 25/08/2014


Na quinta-feira, 28 de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai discutir a nova metodologia para o 4º ciclo de revisão tarifária das distribuidoras de energia. A proposta é mudar a forma de avaliação dos investimentos que essas empresas fizeram ao longo dos últimos quatro anos. Em outras palavras, as distribuidoras conhecerão apenas agora a maneira pela qual se avaliarão os investimentos realizados no passado. O método de condução desse processo preocupa o mercado, principalmente, por causa das decisões recentes do governo no processo de renovação das concessões de geração e transmissão, que culminaram em reajustes ao consumidor final da ordem de 30% nos últimos meses.

Desta vez, a conta pode acabar sobrando para as distribuidoras. Um estudo realizado pela Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia (Abradee) mostrou que, no 2º ciclo, ocorrido entre 2007 e 2010, as distribuidoras ficavam com aproximadamente 23% do total cobrado dos consumidores. O restante era destinado para pagar geração e transmissão (43%) e tributos e encargos (34%).

Em comparação, a análise do 3º ciclo, compreendido entre 2011 e 2014, revelou que as distribuidoras ficaram com apenas 18%, enquanto a parcela de geração e transmissão se manteve em 43% e tributos com encargos se elevaram para 39%. Isso quer dizer que, nos últimos anos, o governo aumentou sua parte, enquanto as distribuidoras pagaram a diferença. O problema é que, para o consumidor final, a impressão que fica em um eventual aumento de preços é que a distribuidora, que envia a fatura, é quem está aumentando suas receitas, o que não é verdade.

A mudança quanto à forma de avaliação dos investimentos das distribuidoras gera, então, incertezas. É como dar um cheque em branco: primeiro, a distribuidora investe; depois, contam para ela quanto vai valer o que ela fez. Qualquer investidor veria nisso uma grande parcela de risco. Afinal, quem é que investe em algo que não tem preço definido? Porém, na composição da taxa de retorno das distribuidoras, calculada pela Aneel, a parcela de “risco regulatório” é zero, quando, na verdade, a taxa de retorno deveria ser maior para compensar os investidores.

Infelizmente, esse quadro é conhecido: as geradoras de energia também foram surpreendidas pela metodologia de avaliação dos investimentos realizados durante o período de concessão. O valor ofertado pelo governo ficou muito aquém do pleiteado pelas empresas, apesar da indenização dos investimentos não depreciados ou não amortizados ser prevista em lei. Não foram considerados custos ambientais e desapropriação de terrenos, entre outras deficiências. Enfim, uma situação que confunde regulação com controle de preços.

É importante lembrar que o maior custo de qualquer serviço de infraestrutura é o custo de não tê-lo (chamado custo do não serviço). Claro, isso não justifica uma tarifa errada. A tarifa tem que ser justa para todas as partes, mas calculada de forma técnica, e não política. Já vimos iniciativas fantásticas de concessões que, posteriormente deturpadas, levaram a um desastre tremendo nos investimentos em infraestrutura do país. Argentina e Bolívia, por exemplo, tiveram processos de concessão bem estruturados, mas que foram destruídos pelos governos posteriores, o que levou ao colapso da infraestrutura do país, causado pela falta de investimentos. Perdemos a chance, então, de ter aprendido com os erros dos vizinhos. Agora, precisamos, pelo menos, aprender com nossos próprios erros.

Epidemias ocultas - Fábio Ribeiro Baião

Coordenador da Ortopedia do Hospital da Baleia %u2013 Belo Horizonte
Matilde Meire Miranda Cadete

Docente do mestrado em gestão social, educação e desenvolvimento local, do Centro Universitário UNA
Estadod e Minas: 25/08/2014 



Estamos às voltas com o ebola, uma epidemia noticiada pelos quatro cantos do planeta, que já ceifou cerca de mil vidas. Claro, urgem medidas sanitárias e esforços conjuntos de nível internacional para combatê-la. Entretanto, não podemos nos conformar com nossas epidemias ocultas. Para começar, nossos mortos por violência são 50 vezes o número catastrófico do recente conflito na faixa de Gaza. Não há palavras para expressar a brutalidade do que significam 50 mil homicídios de brasileiros por ano, enquanto a Alemanha do 7x1 registra apenas 662 no mesmo período.

Outro aspecto estonteante são as mortes no trânsito. Para não falar em números expressivos, passamos a expressar as mortes usando o sistema de número de vítimas por milhão de veículos, por orientação do Ministério da Justiça. Em vez de dizer que perdemos 45 mil vidas por ano no tráfego, noticiou-se, por exemplo, que tivemos 661 mortes por milhão de veículos em 2010 e, assim, sucessivamente. É semelhante à Rússia e metade dos números da China e Índia. Porém, fazemos cinco vezes mais do que os Estados Unidos e 10 vezes mais vítimas fatais no trânsito do que o Japão, segundo o Instituto Avante Brasil. A do 7x1 perdeu 3 mil vidas no tráfego no mesmo ano, contra as nossas 45 mil, o que dá 15x1. É por isso que nossos pronto-socorros estão abarrotados, pois vivemos o equivalente a uma guerra civil.

Uma das possibilidades aos que sobrevivem aos acidentes são as fraturas expostas. Um trabalho de investigação de 44 pacientes com fraturas expostas graves foi conduzido no Hospital da Baleia – Belo Horizonte pelo serviço de ortopedia e o mestrado em gestão social, educação e desenvolvimento local do Centro Universitário UNA (Baião; Cadete, 2013). Esses casos demandam internação prolongada, cirurgias múltiplas e, no mínimo, um ano de afastamento do trabalho.
Desse universo, 93,9% dos casos foram provocados por acidente motociclístico, atropelamento ou acidentes de automóvel. Assim, explica-se por que quando se tem uma fratura por uma queda simples é tão difícil disputar uma vaga em um hospital público, entre os demais acidentados nas salas de urgência. Mais grave ainda se torna a falta de recursos e de especialistas para o tratamento dos casos ditos eletivos, ou seja, cirurgias ortopédicas programadas por outros motivos. A estrutura da saúde na urgência está asfixiada por problemas na infraestrutura da mobilidade principalmente urbana, tendo em vista que 60% desses acidentes ocorreram no perímetro urbano.

Outro dado relevante encontrado na pesquisa com os 44 acidentados diz respeito à escolaridade. Vinte e um pacientes (47,7%) declararam primeiro grau incompleto, 11 (25%), segundo grau completo, seis (13,6%), primeiro grau completo, cinco (11,4%)escolaridade superior completa e um (2,3%), analfabeto. Terminado o tratamento, que, frequentemente, resulta em alguma sequela, principalmente a limitação da capacidade de locomoção para grandes distâncias, fica mais difícil a reorientação vocacional e a recolocação no mercado de trabalho numa função sedentária, com demandas intelectuais, que seriam as mais apropriadas.

Retratando essa situação, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os dados relativos à expectativa de vida, educação e renda nos colocou em 2013 na 79ª posição, entre os 100 melhores países para se viver.

A sociedade e os cidadãos fizeram a sua parte acolhendo a Lei Seca, que em 19 de junho completou cinco anos, mas seus efeitos foram neutralizados em números absolutos pelo crescimento da frota nacional. Em 2003, ela somava 36 milhões, mas evoluiu para 81 milhões de veículos em 2013, um aumento de 125% enquanto a população cresceu 14% no mesmo período, segundo o Observatório Nacional de Segurança.

Assim, enquanto o vírus do ebola não chega por aqui, vamos focar na solução e cuidados de nossas epidemias. 

Câncer de mama pode ser curado‏

Câncer de mama pode ser curado
Exame detecta alterações mamárias de apenas 1 milímetro
Clécio Lucena
Presidente da Sociedade
Brasileira de Mastologia
Estado de Minas: 25/08/2014


O câncer de mama é uma doença grave, mas que pode ser curada. Para isso, a melhor arma é a prevenção. A chance de cura pode chegar a 95%, quando a doença é descoberta em fase inicial, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A enfermidade é o cancro mais comum em mulheres, correspondendo a 22% do total de novos casos no Brasil, a cada ano. O Instituto revela que, somente em 2012, ocorreram cerca de 50 mil novos casos brasileiros da doença. Já a previsão do Banco Mundial é que até 2030 a incidência do câncer aumente cerca de 70% nos países de renda média, como o Brasil. O método mais eficiente para detectar precocemente a doença é a mamografia, que é uma radiografia das mamas realizada em equipamento específico, o mamógrafo.

O câncer de mama não tem um agente específico e não apresenta uma causa específica. A enfermidade ocorre, principalmente, em mulheres, não excluindo o público masculino, e em qualquer faixa etária. Entretanto, o rastreamento, por meio do exame de mamografia, é recomendado apenas a partir dos 40 anos de idade. Estudos apontam que o risco da doença é maior nessa fase e, por isso, é preciso mais atenção à presença de anomalias nas mamas e um reforço nos exames preventivos. A mamografia não é indicada para jovens, já que o método detecta nódulos em tecidos mamários mais densos, o que ocorre acima dos 40 anos. Se as mulheres fizerem o exame antes dessa idade, a glândula mamária ficará opaca e não aparecerá nada. Antecipar a realização da mamografia é indicado quando o paciente apresenta histórico familiar ou alterações genéticas propícias ao aparecimento da doença. O principal benefício da mamografia é a possibilidade de detectar lesões ainda muito pequenas, em fase inicial, o que não é possível com o exame de toque. Atualmente, a técnica está mais avançada, com destaque para a mamografia digital, garantindo maior qualidade e, consequentemente, maior capacidade de detectar alterações mamárias. O processo é realizado com o aparelho de raio-x. As mamas são comprimidas para se obterem melhores imagens, responsáveis por ampliar a capacidade de diagnóstico. O método é o mais eficaz quando comparado a qualquer outro exame. O profissional tem mais capacidade de optar por um tratamento sistêmico mais assertivo e menos agressivo com o resultado da análise em mãos, influenciando, diretamente, o sucesso do tratamento.

Não existe outro exame que substitua o processo, ainda que ele gere um desconforto entre o público feminino. As mulheres com menos de 40 anos também devem realizar outros tipos de exames preventivos, como o autoexame e o acompanhamento com um profissional da área de mastologia ou ginecologia. Outro cuidado é observar qualquer alteração na mama. Sintomas como o aparecimento de nódulos, mudança no tamanho e forma dos seios, saída de secreções escuras e feridas na pele são um sinal para procurar um médico o quanto antes. Ainda assim, a mamografia de rastreamento é uma das principais ferramentas para detecção precoce do câncer de mama, podendo visualizar alterações mamárias com 1mm, o que dificilmente acontece com o exame de toque.