Zero Hora 10/08/2014
Dia desses, eu ouvi que sou um homem moderno porque cuido dos meus
filhos. E minha ex disse que é uma mulher moderna e, por isso, não pode
gastar seu tempo cuidando das crianças, ela tem sonhos a alcançar. É tão
estranho. Uns são modernos porque fazem e outros porque deixam de fazer
a mesma coisa. Como explicar isso para os meninos?”
É um dos depoimentos que compõem o livro Filhos do Pai, de Valeria
Santoro e Ana Paula Junqueira. Eu poderia ter selecionado qualquer
outro, mas esse me pareceu bem representativo do que anda acontecendo:
um contrafluxo. Mulheres saindo para caçar seu sustento e homens
retornando para o interior das cavernas. Uma troca salutar de papéis,
desde que a inversão não se polarize, agora de forma oposta. Perfeito
seria que homens e mulheres negociassem a distribuição do seu tempo a
fim de não prejudicar a criação dos filhos, ainda mais durante a
primeira infância. Como tudo na vida, o parâmetro é o bom senso.
O livro da Valéria e da Ana Paula mostra uma revolução visível,
ainda que silenciosa: os homens estão cobrindo nossas ausências.
Cozinham mais, se envolvem mais com os afazeres domésticos, começam a
expor mais seus sentimentos e, para o bom equilíbrio emocional da
família, abandonaram a posição de pais distantes e agora tomam conta da
gurizada com o afeto e o cuidado que antes era exclusividade feminina da
casa.
Ganham todos, de todos os lados.
Os depoimentos mostrados em Filhos do Pai privilegiam histórias de
abandono de lar por parte da mãe, viuvez e outras situações em que não
resta alternativa a não ser o homem assumir integralmente o cuidado com o
filho. No entanto, essa súbita mudança que parece aterrorizante no
início se transforma numa experiência de entrega e amor que ele próprio
não se julgava capaz. É nessa condição que o livro se torna emocionante:
homens amplificam o significado de suas vidas quando deixam de amar à
distância para mergulhar num convívio de absoluto envolvimento e
responsabilidade (que, não custa lembrar, também aterroriza mães de
primeira viagem, porém a elas nunca coube escolha).
A boa notícia é que as mulheres não estão precisando sumir do mapa
ou morrer para que os homens assumam o compromisso de criar seus filhos:
a sociedade atual vem introduzindo naturalmente a divisão proporcional
de papéis. E a notícia melhor ainda: os homens estão gostando.
Sempre se valorizou mais o Dia das Mães do que o Dia dos Pais, não
pela intensidade do amor de um e de outro, mas pela intensidade do
comprometimento. Pois que a data de hoje passe a ser tão celebrada
quanto a de maio, e que os filhos dos novos pais mantenham essa mesma
dedicação quando chegar a vez deles.
Que essa modernidade dure séculos - ou ao menos até a próxima revolução de costumes.
domingo, 10 de agosto de 2014
Fios da história - Ana Clara Brant
Fios da história
A dança dos bonecos, de Helvécio Ratton, é
um marco no cinema infantojuvenil brasileiro. Produção, que em breve
completa 30 anos, foi feita com participação do Grupo Giramundo
Ana Clara Brant
Estado de MInas: 10/08/2014Estudos de Álvaro Apocalypse para os bonecos exigiram bom gosto, humor e criatividade na busca de soluções técnicas. |
Bastidores da criação
O Estado de Minas inicia série que conta como foram realizadas algumas das mais importantes obras da cultura mineira e brasileira. As reportagens vão mostrar a gênese da ideia, as curiosidades da produção, as dificuldades enfrentadas pelos realizadores e o legado para a arte nacional. O passo a passo de obras-primas do cinema, da música, da dança, da literatura e do teatro.
Storyboard de Álvaro Apocalypse e Helvécio Ratton para uma cena do longa-metragem |
Diamantina, fevereiro de 1984. O diretor mineiro Helvécio Ratton estava passando o carnaval na terra de Juscelino Kubitschek e Chica da Silva e ficou encantado não só com a folia, mas com a região. E sobretudo com um lugarejo: Biribiri. “Aquela cidadezinha abandonada parecia um cenário. Fiquei com aquilo na cabeça e me veio a ideia de escrever um roteiro para um filme. Imaginava uma trupe chegando e uma coisa foi puxando a outra”, lembra o cineasta.
Nascia ali um dos mais originais e premiados filmes infantis do cinema brasileiro: A dança dos bonecos, que conta a história de três bonecos que ganham vida e começam a dançar depois de banhados com as águas de uma cachoeira encantada por Iara (Divana Brandão), a entidade protetora dos rios e dos lagos. Mas o perverso Mr. Kapa (Wilson Grey) quer roubar os bonecos de sua dona, a menina Ritinha (Cíntia Vieira), para ganhar dinheiro com eles.
Faltando dois anos para A dança dos bonecos completar três décadas de lançamento, Ratton faz uma viagem no tempo e adianta que tem o desejo de lançar o filme em DVD para celebrar a data. “A cópia original está em São Paulo e precisa de restauração. O longa chegou a ser lançado em vídeo pela Globo Filmes, mas esgotou. O produtor está correndo atrás disso, para transformá-lo em DVD. Muita gente me cobra. A dança dos bonecos marcou uma geração que está na faixa dos 30, 35 anos. Fiquei sabendo outro dia que é um dos campeões de pirataria no Rio de Janeiro e é vendido em vários lugares no mercado negro da cidade”, conta o diretor.
Voltando à gênese do filme, assim que Helvécio Ratton deixou o velho Tijuco e retornou a Belo Horizonte, a produção foi tomando corpo. O cineasta queria um carro que se transformasse em palco ambulante. Entrou em contato com o músico e colecionador de veículos antigos Pacífico Mascarenhas e conseguiu um caminhão Ford 1936, que praticamente se tornou um dos personagens. O caminhãozinho, que, inclusive, chegou a participar de outra produção cinematográfica de Ratton – Pequenas histórias –, hoje pertence à Cia. Fiorini, grupo de teatro mambembe que roda Minas Gerais apresentando seus espetáculos.
Quando finalizou o roteiro de 142 páginas, que teve a colaboração de Tairone Feitosa e Ângela Santoro, Ratton procurou Álvaro Apocalypse, fundador do Grupo Giramundo, pessoa que ele sempre admirou. O trabalho foi um desafio em vários sentidos, já que o artista plástico e diretor de teatro de bonecos nunca havia tido uma experiência com o cinema. “Se fosse hoje, a gente teria uma infinidade de recursos à nossa disposição. Naquela época, tivemos que nos virar. No teatro, que era o espaço onde o Giramundo estava acostumado, você poder ver os fios. Mas no cinema não dá. Se isso acontecer, perde muito a graça, a magia. Então, utilizávamos uma série de recursos para a manipulação. O Álvaro ia ensinando e mostrando onde o manipulador poderia estar sem ser visto. Ele fez todo o storyboard (croquis das cenas), e eu segui algumas coisas”, conta.
Um dos atuais diretores do Giramundo, Marcos Malafaia comenta que o processo de criação dos três bonecos – Bubu, Totoca e Tiziu, este inspirado no cantor e compositor Milton Nascimento – foi um dos mais longos e meticulosos da história do grupo e que exigiu muito de seus profissionais. Ele afirma que, para se adequar às exigências da câmera de cinema, novidade para a companhia na época, foram utilizadas técnicas inovadoras na confecção e na manipulação dos bonecos. “Foram criadas várias versões de Bubu, Totoca e Tiziu: com o corpo inteiro, só a cabeça, só o tronco e a cabeça, justamente para que os manipuladores os utilizassem de várias maneiras e para que eles se ajustassem às demandas das câmeras. Foi um trabalho que exigiu muito de toda a equipe do Giramundo. O cinema requer um tipo de dedicação muito grande, intenso e contínuo”, explica Malafaia.
Fernando Duarte, Ratton e Walter Carvalho: cuidado na captação das imagens do longa |
Em cena, Wilson Grey, o vilão que assusta e diverte |
Baú dos ossos
Feitos de madeira e resina e com os mecanismos mais avançados disponíveis, os bonecos podiam virar a cabeça e mexer olhos e pálpebras, por exemplo. Como eles só foram utilizados para o filme, nunca foram restaurados e estão deteriorados pela ação do tempo. Atualmente, encontram-se numa pequena sala do Museu Giramundo, chamada “baú dos ossos”. “Essa intenção do Ratton de querer lançar o filme em DVD nos motiva a restaurar os bonecos, que têm uma história muito importante não só para o Giramundo, mas para a cultura de uma maneira geral. Se tudo correr bem, quando A dança dos bonecos completar 30 anos, em 2016, eles vão estar ‘novos’ e disponíveis para visitação”, garante Marcos Malafaia.
Outra decisão fundamental para o sucesso da produção foi a escolha de Wilson Grey para interpretar Mr. Kapa. Helvécio Ratton o queria muito no seu filme e, naquele período, o ator era considerado um dos profissionais com o maior número de atuações no cinema mundial. “Era uma figura emblemática. Uma das minhas lembranças mais carinhosas foi a solidariedade do Grey. Mesmo com todas as dificuldades, inclusive financeiras, porque foi um filme feito com poucos recursos e muita imaginação, ele nunca reclamou de nada. Era uma pessoa fantástica”, destaca o cineasta.
O convívio com o elenco e toda a equipe de produção, seja em Diamantina e Biribiri – onde passaram três meses –, seja em Sabará e Belo Horizonte, foi inesquecível. O elenco era formado por Kimura Schettino (Geleia, assistente de Mr. Kapa), Cláudia Gimenez (Almerinda), Rogério Falabella (Vitorino) e a menina Cíntia Vieira, de 9 anos (Ritinha), selecionada depois de passar em testes com centenas de crianças. “Foi o primeiro e único papel dela. A Cíntia hoje é professora de literatura e não seguiu a carreira artística. Tivemos outros profissionais muito talentosos participando, como o fotógrafo Fernando Duarte, Walter Carvalho, que fez a câmera, e Nivaldo Ornelas, na trilha sonora”, cita Ratton.
BASTIDORES DA CRIAÇÃO »
Uma noite mágica
Estreia de A dança dos bonecos mudou o
clima do Festival de Cinema de Brasília de 1986. Filme ganhou prêmios no
Brasil e no exterior e é até hoje referência na obra do cineasta
Ana Clara Brant
Publicação: 10/08/2014 04:00
O cineasta Helvécio Ratton quer relançar o filme em DVD nas comemorações dos 30 anos da produção |
Para o cineasta, o segredo do sucesso foi o fato de o longa ter chegado ao coração das pessoas e ter lidado com emoções básicas. “Ele marcou muitas gerações e essa coisa do boneco é muito bacana também. A ligação da menina com os bonecos, essa coisa de eles ganharem vida e ela ir atrás deles. Mexeu muito com o imaginário das crianças. É um filme de muita fantasia. E, ao mesmo tempo, é muito mineiro e universal”, resume o diretor.
Apesar de passados quase 30 anos, A dança dos bonecos está muito presente na vida de Ratton e isso se reflete no seu local de trabalho, a produtora Quimera Filmes. Por todo o canto é possível se deparar com pôsteres, fotos e até objetos do filme, como uma janela de madeira do caminhão com uma imagem pintada de Mr. Kapa (Wilson Grey).
O cineasta guarda peculiaridades, como o storyboard original desenhado por Álvaro Apocalypse, o roteiro do longa-metragem e um caderninho de anotações da época das filmagens. “Em todos os meus filmes tenho um caderno em que escrevo ideias que vão surgindo, sugestões de figurino, de locações. Guardo todos”, completa Ratton.
Cíntia Vieira tinha 9 anos quando deu vida à Ritinha. Essa foi sua única experiência no cinema |
Fantasia em cena
Dois artistas mambembes, Mr. Kapa (Wilson Grey), o homem das mil capas, e Geleia (Kimura Schettino), seu ajudante, chegam a uma cachoeira onde surge Iara (Divana Brandão), que tinge de violeta as águas do rio. Geleia, enfeitiçado, enche seu garrafão com a água mágica. Quando chegam à cidadezinha de Beleléu, perdida entre as montanhas, conhecem a menina Ritinha (Cíntia Vieira) e seus três bonecos. Depois de um show, Geleia dá um vidro com a água encantada para Ritinha, que passa o bálsamo em seus bonecos. Milagrosamente, no meio da noite, acontece a magia e os três bonecos – Totoca, Tiziu e Bubu – ganham vida, dançando um fantástico balé. Só que Mr. Kapa assiste à dança e decide roubá-los para fazer fortuna.
• A dança dos bonecos
Passo a passo
1 – Helvécio Ratton passa o carnaval em Diamantina, em 1984, e visita Biribiri. Lá, tem a ideia de fazer um filme tendo a vila como cenário.
2 – Em Belo Horizonte, entra em contato com Pacífico Mascarenhas, colecionador e músico, para pedir a ele um carro que servisse de palco ambulante.
3 – O cineasta procura o artista plástico e diretor de teatro Álvaro Apocalypse, criador do Giramundo, e encomenda os bonecos Bubu, Totoca e Tiziu.
4 – No galpão do Giramundo, então instalado no câmpus da UFMG, o cineasta acompanha todo o processo de produção dos bonecos.
5 – Em 1985, começam as filmagens em Biribiri, Diamantina, Sabará e Belo Horizonte.
6 – O filme é exibido pela primeira vez em 1986, no Festival de Cinema de Brasília, onde é aclamado e conquista oito prêmios.
7 – O longa estreia em circuito nacional em julho de 1987 e é sucesso de crítica e de público.
8 – O filme ganharia em seguida prêmios em Gramado (RS) e em vários festivais internacionais.
9 – A dança dos bonecos ganha versão em vídeo pela Globo Filmes.
10 – O diretor tem planos de restaurar a cópia original e lançar o filme em DVD na comemoração dos 30 anos da produção.
Segredo de Ratton
Assim como em A dança dos bonecos, o diretor Helvécio Ratton volta a se dedicar a uma produção infantojuvenil e a filmar na região de Diamantina, desta vez no Serro. O segredo dos diamantes, que será exibido hoje, às 19h, na Mostra Competitiva de longas brasileiros no Festival de Gramado, conta a história de um garoto de 14 anos, que com a ajuda de dois amigos busca um tesouro para salvar a vida do pai. O elenco conta com o jovem Matheus Abreu, Dira Paes e a atriz mineira Manoelita Lustosa, que morreu em julho, em seu último trabalho no cinema. O filme tem lançamento nacional programado para 18 de dezembro.
TeVê
Estado de Minas: 10/08/2014 0
TV paga
Paternidade O Dia dos Pais mexe com
a programação de vários canais. No Discovery Home & Health, são
duas atrações esta noite: os documentários 10 é demais, às 21h30; e
Pais, às 22h20. No Viva, o destaque é uma edição do humorístico Sai de
baixo com a participação de Francisco Cuoco (foto) como o pai de Caco
Antibes (Miguel Falabella), às 23h30.
Cinema No pacotão de filmes, o Telecine fez uma ampla prograação, mas o melhor está na faixa das 22h, com as produções O fim da escuridão (no canal Action), A estrada (Touch) e O que esperar quando você está esperando (Fun). No Megapix, a dica é O resgate, às 20h05. Sem ter nada a ver com a data, o clássico O pagador de promessas, primeiro filme brasileiro vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, é a atração do Arte 1, às 20h. No Futura, a seleção dos filmes do alemão R. W. Fassbinder continua hoje com O desespero de Veronika Voss, às 22h.
Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
TV paga
Cinema No pacotão de filmes, o Telecine fez uma ampla prograação, mas o melhor está na faixa das 22h, com as produções O fim da escuridão (no canal Action), A estrada (Touch) e O que esperar quando você está esperando (Fun). No Megapix, a dica é O resgate, às 20h05. Sem ter nada a ver com a data, o clássico O pagador de promessas, primeiro filme brasileiro vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, é a atração do Arte 1, às 20h. No Futura, a seleção dos filmes do alemão R. W. Fassbinder continua hoje com O desespero de Veronika Voss, às 22h.
Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
A origem de Homeland
A quarta temporada de Homeland estreia nos Estados Unidos somente em 5 de outubro. Agora sem Damien Lewis – a imagem de divulgação traz Claire Danes (Carrie Mathison) sozinha em um mar de mulheres de burca –, a série vai trazer um novo começo. Enquanto isso, por aqui estreia a produção que deu origem a Homeland. O nome da produção israelense é Hatufim – no Brasil, Prisioneiros de guerra –, e entra no ar terça-feira, às 21h, no +Globosat. Será exibida em sequência, de segunda a sexta-feira.
Igual, mas diferente – Mesmo cinco anos depois, já que foi lançada em 2009, a história israelense continua na ordem do dia. Em Prisioneiros, depois de 17 anos longe de casa, os soldados Nimrod e Uri, capturados durante uma missão secreta para matar um líder da Jihad, retornam ao país em troca de terroristas islâmicos presos por Israel. Neste retorno são acompanhados por um psicólogo militar, que começa a desconfiar que os soldados guardam algum tipo de segredo. São 10 episódios na primeira temporada.
De volta à TV – Rodrigo Santoro foi escalado para o piloto de Westworld, drama produzido por J. J. Abrams para a HBO. A história é ambientada em um parque futurista, onde robôs saem do controle e passam a atacar os humanos. Anthony Hopkins e Evan Rachel Wood são os protagonistas da série. Só para colocar um veneno, não custa lembrar que a participação de Santoro em Lost, a produção de TV que se tornou um divisor de águas na carreira de Abrams foi pífia, quase sem palavras.
Reprise – Série-sensação do ano, True detective volta à HBO amanhã, às 22h, com exibições sempre às segundas-feiras. Recebeu 12 indicações ao Emmy, o Oscar da TV, que será entregue dia 25.
Maratona – Bates Motel mal estreou e já ganhou maratona. Amanhã, a partir das 22h, o Universal Channel exibe em sequência os três primeiros episódios da segunda temporada. Já o quarto, inédito, vai ao ar quinta-feira, também às 22h.
Caras & Bocas
Simone Castro
simone.castro@uai.com.br
Em novo papel
A apresentadora Patrícia Abravanel é a convidada de Marília Gabriela (foto) no De frente com Gabi deste domingo, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Grávida de oito meses do primeiro filho, Pedro, do relacionamento com Fábio Faria, de quem está noiva, ela conta que o casal hoje vive um momento de plenitude à espera do bebê. Em relação ao casamento, afirmou: "Quero uma coisa mais reservada. O civil, mas com uma bênção religiosa”. A apresentadora do Máquina da fama – cuja última edição antes da licença maternidade vai ao ar dia 18 – revela que a gravidez foi muito desejada, mas não vai abrir mão da carreira. “Pretendo continuar conseguindo conciliar tudo”, diz. Patrícia comenta também os boatos de que seria a sucessora do pai, Sílvio Santos. “Ele está gostando de me ver na TV, mas não acho que vou ficar no lugar dele. Não vai existir nunca mais um Sílvio Santos, assim como uma Hebe Camargo e até mesmo uma Marília Gabriela”, disse.
ANA MARIA BRAGA JÁ TEM SUBSTITUTOS PARA FÉRIAS
André Marques e Fernanda Paes Leme foram escalados para cobrir as férias de Ana Maria Braga, à frente do Mais você (Globo), em janeiro. Recentemente, os dois participaram do SuperStar, também na emissora, ao lado de Fernanda Lima.
JORGE ARAGÃO CONTA SUA HISTÓRIA NO CANAL VIVA
No Viva o sucesso de quarta-feira, o cantor Jorge Aragão conta, entre outras coisas, como o samba entrou em sua vida e fala ainda sobre os três anos em que foi vocalista do Fundo de Quintal. A formação da qual participou era a de 1978, época em que Neoci, também integrante do grupo, levou Aragão para conhecer o bloco Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro, onde tudo começou. O programa vai ao ar às 22h45, no canal Viva (TV paga).
EMISSORA PODE VOLTAR A PRODUZIR GLOBO DE OURO
Sucesso nas décadas de 1970 e 1980, o musical Globo de ouro faz parte do pacote de programas inéditos que o Viva planeja exibir nos próximos meses. A apresentação ficaria a cargo dos atores Juliana Paes e Márcio Garcia. A série Meu amigo encosto, com estreia prevista para setembro, deve abrir a programação especial.
SÉRIE DO MGM INVADE OS BASTIDORES DE COMÉDIA
O Hollywood on set exibe quinta-feira, às 21h30, no MGM (TV paga), curiosidades de gravações da comédia Sex tape: perdido na nuvem. O assinante confere entrevistas exclusivas com o diretor Jake Kasdan e os protagonistas Cameron Diaz e Jason Segel. O trio fala, entre outros assuntos, dos efeitos especiais e de segredos na edição das cenas.
MTV TRANSMITE AO VIVO O VIDEO MUSIC AWARDS
Beyoncé fará um show especial na edição deste ano do VMA – Video Music Awards, dia 24. O evento será transmitido no Brasil ao vivo pela MTV, diretamente da Califórnia, a partir das 21h. A MTV norte-americana anunciou que a cantora será homenageada com o Prêmio Vanguarda Michael Jackson. Especula-se que Jay Z e Blue Ivy, marido e filha do casal, farão as honras para a cantora. Pode ser que ela se reúna com as ex-companheiras do grupo Destiny’s Child. O prêmio é dado aos artistas que contribuem significativamente para a música.
MARCOS PALMEIRA JÁ TEM NOVO TRABALHO EM VISTA
No momento, Marcos Palmeira (foto) é o delegado Pedroso no remake de O rebu (Globo). Às voltas com o mistério do assassinato de Bruno (Daniel de Oliveira), as próximas cenas apontam para o encontro quente entre o homem da lei e a empresária Ângela, vivida por Patrícia Pillar. Depois do remake, o ator já tem encomendado novos personagens. Além da série A segunda vez, que estreia amanhã no Multishow (TV paga), seu nome é cotadíssimo para um papel de destaque em Babilônia, trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, que substituirá Império a partir de fevereiro.
Pais e filhos
Simone Castro
A quarta temporada de Homeland estreia nos Estados Unidos somente em 5 de outubro. Agora sem Damien Lewis – a imagem de divulgação traz Claire Danes (Carrie Mathison) sozinha em um mar de mulheres de burca –, a série vai trazer um novo começo. Enquanto isso, por aqui estreia a produção que deu origem a Homeland. O nome da produção israelense é Hatufim – no Brasil, Prisioneiros de guerra –, e entra no ar terça-feira, às 21h, no +Globosat. Será exibida em sequência, de segunda a sexta-feira.
Igual, mas diferente – Mesmo cinco anos depois, já que foi lançada em 2009, a história israelense continua na ordem do dia. Em Prisioneiros, depois de 17 anos longe de casa, os soldados Nimrod e Uri, capturados durante uma missão secreta para matar um líder da Jihad, retornam ao país em troca de terroristas islâmicos presos por Israel. Neste retorno são acompanhados por um psicólogo militar, que começa a desconfiar que os soldados guardam algum tipo de segredo. São 10 episódios na primeira temporada.
De volta à TV – Rodrigo Santoro foi escalado para o piloto de Westworld, drama produzido por J. J. Abrams para a HBO. A história é ambientada em um parque futurista, onde robôs saem do controle e passam a atacar os humanos. Anthony Hopkins e Evan Rachel Wood são os protagonistas da série. Só para colocar um veneno, não custa lembrar que a participação de Santoro em Lost, a produção de TV que se tornou um divisor de águas na carreira de Abrams foi pífia, quase sem palavras.
Reprise – Série-sensação do ano, True detective volta à HBO amanhã, às 22h, com exibições sempre às segundas-feiras. Recebeu 12 indicações ao Emmy, o Oscar da TV, que será entregue dia 25.
Maratona – Bates Motel mal estreou e já ganhou maratona. Amanhã, a partir das 22h, o Universal Channel exibe em sequência os três primeiros episódios da segunda temporada. Já o quarto, inédito, vai ao ar quinta-feira, também às 22h.
Caras & Bocas
Simone Castro
simone.castro@uai.com.br
A apresentadora Patrícia Abravanel é a convidada de Marília Gabriela (foto) no De frente com Gabi deste domingo, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Grávida de oito meses do primeiro filho, Pedro, do relacionamento com Fábio Faria, de quem está noiva, ela conta que o casal hoje vive um momento de plenitude à espera do bebê. Em relação ao casamento, afirmou: "Quero uma coisa mais reservada. O civil, mas com uma bênção religiosa”. A apresentadora do Máquina da fama – cuja última edição antes da licença maternidade vai ao ar dia 18 – revela que a gravidez foi muito desejada, mas não vai abrir mão da carreira. “Pretendo continuar conseguindo conciliar tudo”, diz. Patrícia comenta também os boatos de que seria a sucessora do pai, Sílvio Santos. “Ele está gostando de me ver na TV, mas não acho que vou ficar no lugar dele. Não vai existir nunca mais um Sílvio Santos, assim como uma Hebe Camargo e até mesmo uma Marília Gabriela”, disse.
ANA MARIA BRAGA JÁ TEM SUBSTITUTOS PARA FÉRIAS
André Marques e Fernanda Paes Leme foram escalados para cobrir as férias de Ana Maria Braga, à frente do Mais você (Globo), em janeiro. Recentemente, os dois participaram do SuperStar, também na emissora, ao lado de Fernanda Lima.
JORGE ARAGÃO CONTA SUA HISTÓRIA NO CANAL VIVA
No Viva o sucesso de quarta-feira, o cantor Jorge Aragão conta, entre outras coisas, como o samba entrou em sua vida e fala ainda sobre os três anos em que foi vocalista do Fundo de Quintal. A formação da qual participou era a de 1978, época em que Neoci, também integrante do grupo, levou Aragão para conhecer o bloco Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro, onde tudo começou. O programa vai ao ar às 22h45, no canal Viva (TV paga).
EMISSORA PODE VOLTAR A PRODUZIR GLOBO DE OURO
Sucesso nas décadas de 1970 e 1980, o musical Globo de ouro faz parte do pacote de programas inéditos que o Viva planeja exibir nos próximos meses. A apresentação ficaria a cargo dos atores Juliana Paes e Márcio Garcia. A série Meu amigo encosto, com estreia prevista para setembro, deve abrir a programação especial.
SÉRIE DO MGM INVADE OS BASTIDORES DE COMÉDIA
O Hollywood on set exibe quinta-feira, às 21h30, no MGM (TV paga), curiosidades de gravações da comédia Sex tape: perdido na nuvem. O assinante confere entrevistas exclusivas com o diretor Jake Kasdan e os protagonistas Cameron Diaz e Jason Segel. O trio fala, entre outros assuntos, dos efeitos especiais e de segredos na edição das cenas.
MTV TRANSMITE AO VIVO O VIDEO MUSIC AWARDS
Beyoncé fará um show especial na edição deste ano do VMA – Video Music Awards, dia 24. O evento será transmitido no Brasil ao vivo pela MTV, diretamente da Califórnia, a partir das 21h. A MTV norte-americana anunciou que a cantora será homenageada com o Prêmio Vanguarda Michael Jackson. Especula-se que Jay Z e Blue Ivy, marido e filha do casal, farão as honras para a cantora. Pode ser que ela se reúna com as ex-companheiras do grupo Destiny’s Child. O prêmio é dado aos artistas que contribuem significativamente para a música.
MARCOS PALMEIRA JÁ TEM NOVO TRABALHO EM VISTA
No momento, Marcos Palmeira (foto) é o delegado Pedroso no remake de O rebu (Globo). Às voltas com o mistério do assassinato de Bruno (Daniel de Oliveira), as próximas cenas apontam para o encontro quente entre o homem da lei e a empresária Ângela, vivida por Patrícia Pillar. Depois do remake, o ator já tem encomendado novos personagens. Além da série A segunda vez, que estreia amanhã no Multishow (TV paga), seu nome é cotadíssimo para um papel de destaque em Babilônia, trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, que substituirá Império a partir de fevereiro.
Simone Castro
É preciso colocar a
mão na massa. Em Malhação sonhos (Globo), a educação dos filhos apenas
ministrada pelas mães está com os dias contados. O tema não é novo, mas
sempre oportuno. Afinal, a tarefa de cuidar da família compete a pais e
mães, mas se sabe que é sempre com elas que ficam as partes mais
pesadas.
No capítulo de quinta-feira, a mãe Dandara (Emanuelle Araújo) cansou de tentar fazer com que o filho, João (Guilherme Hamacek), trocasse a boa vida em casa pela escola. O garoto, que passa o dia em frente ao computador e ao videogame, não chegou a frequentar a sala de aula mais do que uma semana no semestre. Resultado: reprovação por faltas.
Em um embate de palavras duras, nas quais João chamou a mãe de desinteressada e ela rebateu com um “egoísta”, o caminho mais imediato, depois das lágrimas dela, foi um castigo no quarto, com videogame e outros brinquedinhos confiscados. Mas Dandara foi além: convocou o pai, Renê, personagem de Mário Frias, a colaborar com a educação do filho adolescente em fase rebelde.
Ao abrir a porta e se deparar com o pai, João se rebela e a recepção não é nada cordial. Espera-se que René, com diálogo e carinho, mas posições firmes, consiga orientar o filho e transformá-lo em um amigo. Antes, resgatar uma relação desgastada. A novelinha parece querer, nesta edição, passar o protagonismo da relação com os filhos para o pai. Outros destaques ficam por conta de Marcelo (Felipe Camargo), que divide bem a tarefa com a mulher, Delma (Patrícia França). Até que Roberta (Daniele Suzuki) entra em sua vida...
Já o aparente brucutu Gael, personagem de Eriberto Leão, dono da academia de lutas que leva o seu nome, até tenta manter o jeito durão com as filhas, mas o coração mole acaba nocauteado. Bianca (Bruna Hamu) e Karina (Isabella Santoni), orfãs de mãe, são criadas pelo pai vigilante e marrento. O carinho, porém, dá o tom da relação, ainda que possa, em breve, ser abalada por um grande segredo do passado.
No lançamento da novela, em junho, o autor Paulo Halm, que divide a parceria com Rosane Svartman, comentou: “Em Malhação falamos diretamente com os jovens e muitas histórias já foram contadas, mas o bacana é poder brincar com a forma com que se aborda esses assuntos. Diferente e divertida”, afirma. Agora, é a vez dos pais na linha de frente.
PLATEIA
VIVA - A atriz mirim Giovanna Rispoli, que foi Shirley criança na trama de Em família, e agora é Cláudia, em Boogie oogie (Globo).
VAIA - A colcha de retalhos grosseiramente mal alinhavada em que se transformou o Video show (Globo). Programa cansativo.
No capítulo de quinta-feira, a mãe Dandara (Emanuelle Araújo) cansou de tentar fazer com que o filho, João (Guilherme Hamacek), trocasse a boa vida em casa pela escola. O garoto, que passa o dia em frente ao computador e ao videogame, não chegou a frequentar a sala de aula mais do que uma semana no semestre. Resultado: reprovação por faltas.
Em um embate de palavras duras, nas quais João chamou a mãe de desinteressada e ela rebateu com um “egoísta”, o caminho mais imediato, depois das lágrimas dela, foi um castigo no quarto, com videogame e outros brinquedinhos confiscados. Mas Dandara foi além: convocou o pai, Renê, personagem de Mário Frias, a colaborar com a educação do filho adolescente em fase rebelde.
Ao abrir a porta e se deparar com o pai, João se rebela e a recepção não é nada cordial. Espera-se que René, com diálogo e carinho, mas posições firmes, consiga orientar o filho e transformá-lo em um amigo. Antes, resgatar uma relação desgastada. A novelinha parece querer, nesta edição, passar o protagonismo da relação com os filhos para o pai. Outros destaques ficam por conta de Marcelo (Felipe Camargo), que divide bem a tarefa com a mulher, Delma (Patrícia França). Até que Roberta (Daniele Suzuki) entra em sua vida...
Já o aparente brucutu Gael, personagem de Eriberto Leão, dono da academia de lutas que leva o seu nome, até tenta manter o jeito durão com as filhas, mas o coração mole acaba nocauteado. Bianca (Bruna Hamu) e Karina (Isabella Santoni), orfãs de mãe, são criadas pelo pai vigilante e marrento. O carinho, porém, dá o tom da relação, ainda que possa, em breve, ser abalada por um grande segredo do passado.
No lançamento da novela, em junho, o autor Paulo Halm, que divide a parceria com Rosane Svartman, comentou: “Em Malhação falamos diretamente com os jovens e muitas histórias já foram contadas, mas o bacana é poder brincar com a forma com que se aborda esses assuntos. Diferente e divertida”, afirma. Agora, é a vez dos pais na linha de frente.
PLATEIA
VIVA - A atriz mirim Giovanna Rispoli, que foi Shirley criança na trama de Em família, e agora é Cláudia, em Boogie oogie (Globo).
VAIA - A colcha de retalhos grosseiramente mal alinhavada em que se transformou o Video show (Globo). Programa cansativo.
EM DIA COM A PSICANÁLISE » Consumo de informação
EM DIA COM A PSICANáLISE »
Consumo de informação
Estado de Minas: 10/08/2014
Estado de Minas: 10/08/2014
Jamais poderíamos
imaginar, nos anos 1970, que o mundo daria uma virada tão radical.
Nestes últimos 40 anos, com a disseminação do mundo virtual, nunca
consumimos tanta informação. Hoje, em tempo real, entre consultas,
aciono meu celular e recebo notícias dos acontecimentos imediatos.
Outro dia, me mandaram via WhatsApp o desabamento do Viaduto Guararapes, quase na hora, com a cena da motorista esmagada. Na última chuva pesada, recebi imagens de vários carros boiando na Rua Joaquim Murtinho com Av. Prudente de Morais.
Grupos de amigas enviam fotos ao vivo do restaurante A Favorita queimando! Graças aos céus, rapidamente restaurado e funcionando, para alegria de seus comensais. E não são poucos!
O avião derrubado pelo míssil na Ucrânia. Outro, meses atrás, caiu no mar e até hoje está desaparecido. Meninas sequestradas porque estudavam. O tigre arrancou o braço do menino. Israel bombardeia a Palestina.
A internet noticia as buscas dos restos mortais de Eliza Samúdio. Helicópteros da polícia já rondam o local apontado pelo primo do goleiro Bruno, que finalmente falou. Cem anos passados da Primeira Guerra Mundial e se comemora a união.
Notícias boas e más nos alcançam sem pedir licença, e devemos lidar com elas, sofrer junto com o pai, com as famílias dizimadas pela guerra e, no momento seguinte, nos alegrar com alguma grandeza do homem. Sentimentos que se alternam a cada minuto. Fomos feitos para isso?
Interessante é que hoje cada pessoa é o repórter e o próprio editor da notícia, colocando em rede tudo o que vê e julga ser de utilidade pública. Ou filma cenas da vida alheia que se tornam alvos principais da mídia por curiosidade mórbida. Por onde passa, a pessoa grava a cena. A vida guiada pela câmera segue direto para as redes sociais. De modo que a notícia que fica para o outro dia é velha. E isso não é sem consequências.
Saber tanto sobre tudo em tempo real nos retira do sossego do não saber e provoca uma aceleração ansiogênica. A ordem do momento é a informação. É proibido ignorar. A pressão da informação transforma a pessoa que não dá notícia do que se passa numa alienada, desinformada.
Quando iríamos imaginar que acompanharíamos ao vivo bombas caindo na Faixa de Gaza? Ver um crime ao vivo é aterrorizante. É quase participar dele. Ficar impotente enquanto matam civis é viver um sentimento desolador. O que pensam resolver com o genocídio? Com a opressão?
Além do quê, assistir à ganância, discórdia e agressividade criminosa do homem contra o homem para impor um poder pela via da coerção e força nos dá a sensação de que nem toda experiência anterior de barbárie vivida irá ensinar ao homem que o genocídio é apenas mais uma perda desnecessária, que marca com uma mancha irreparável no caminho da civilização.
Além das bombas reais somos bombardeados com a informação! E nos pegamos aos domingos com três jornais para ler, dezenas de e-mails para colocar em dia, o trabalho da semana para preparar, filmes que devemos ver (todos já viram!!!) e, na incapacidade de levar a cabo tudo isso, muito e mais ainda, ficamos ansiosos. Faltosos e endividados.
Na era da informação, tentamos dominar nossa relação com o saber e não pensar que esse saber é sempre incompleto. O mundo hoje é pequeno, as distâncias são menores. Para qualquer lugar que viajemos, chegando lá já vimos tudo na internet. Felizmente, ainda sobram algumas surpresas, talvez mais discretas.
Nada melhor do que ser surpreendido pelo inusitado, o inesperado. Espero nunca perder a capacidade de admirar pequenas surpresas no encontro com o desconhecido. E com o novo, uma alegria.
>> reginacosta@uai.com.br
Outro dia, me mandaram via WhatsApp o desabamento do Viaduto Guararapes, quase na hora, com a cena da motorista esmagada. Na última chuva pesada, recebi imagens de vários carros boiando na Rua Joaquim Murtinho com Av. Prudente de Morais.
Grupos de amigas enviam fotos ao vivo do restaurante A Favorita queimando! Graças aos céus, rapidamente restaurado e funcionando, para alegria de seus comensais. E não são poucos!
O avião derrubado pelo míssil na Ucrânia. Outro, meses atrás, caiu no mar e até hoje está desaparecido. Meninas sequestradas porque estudavam. O tigre arrancou o braço do menino. Israel bombardeia a Palestina.
A internet noticia as buscas dos restos mortais de Eliza Samúdio. Helicópteros da polícia já rondam o local apontado pelo primo do goleiro Bruno, que finalmente falou. Cem anos passados da Primeira Guerra Mundial e se comemora a união.
Notícias boas e más nos alcançam sem pedir licença, e devemos lidar com elas, sofrer junto com o pai, com as famílias dizimadas pela guerra e, no momento seguinte, nos alegrar com alguma grandeza do homem. Sentimentos que se alternam a cada minuto. Fomos feitos para isso?
Interessante é que hoje cada pessoa é o repórter e o próprio editor da notícia, colocando em rede tudo o que vê e julga ser de utilidade pública. Ou filma cenas da vida alheia que se tornam alvos principais da mídia por curiosidade mórbida. Por onde passa, a pessoa grava a cena. A vida guiada pela câmera segue direto para as redes sociais. De modo que a notícia que fica para o outro dia é velha. E isso não é sem consequências.
Saber tanto sobre tudo em tempo real nos retira do sossego do não saber e provoca uma aceleração ansiogênica. A ordem do momento é a informação. É proibido ignorar. A pressão da informação transforma a pessoa que não dá notícia do que se passa numa alienada, desinformada.
Quando iríamos imaginar que acompanharíamos ao vivo bombas caindo na Faixa de Gaza? Ver um crime ao vivo é aterrorizante. É quase participar dele. Ficar impotente enquanto matam civis é viver um sentimento desolador. O que pensam resolver com o genocídio? Com a opressão?
Além do quê, assistir à ganância, discórdia e agressividade criminosa do homem contra o homem para impor um poder pela via da coerção e força nos dá a sensação de que nem toda experiência anterior de barbárie vivida irá ensinar ao homem que o genocídio é apenas mais uma perda desnecessária, que marca com uma mancha irreparável no caminho da civilização.
Além das bombas reais somos bombardeados com a informação! E nos pegamos aos domingos com três jornais para ler, dezenas de e-mails para colocar em dia, o trabalho da semana para preparar, filmes que devemos ver (todos já viram!!!) e, na incapacidade de levar a cabo tudo isso, muito e mais ainda, ficamos ansiosos. Faltosos e endividados.
Na era da informação, tentamos dominar nossa relação com o saber e não pensar que esse saber é sempre incompleto. O mundo hoje é pequeno, as distâncias são menores. Para qualquer lugar que viajemos, chegando lá já vimos tudo na internet. Felizmente, ainda sobram algumas surpresas, talvez mais discretas.
Nada melhor do que ser surpreendido pelo inusitado, o inesperado. Espero nunca perder a capacidade de admirar pequenas surpresas no encontro com o desconhecido. E com o novo, uma alegria.
>> reginacosta@uai.com.br
PERFIL/THAIS MONTANARI » Ela faz o que gosta
PERFIL/THAIS MONTANARI »
Ela faz o que gosta Ela cria música visual, que envolve também cenário, luz, vídeo e o gesto do instrumentista
Walter Sebastião
Estado de MInas: 10/08/2014
Tem uma jovem compositora mineira que anda recebendo importantes considerações: Thais Montanari, de 28 anos. Ela foi escolhida durante o 45º Festival de Inverno de Campos de Jordão (SP) para compor peça que será apresentada na edição de 2015. Chegará ao próximo evento como aluna convidada, selecionada em grupo de sete bolsistas. “É um prêmio ótimo. Todos os envolvidos no festival são bons instrumentistas”, observa. “E é um incentivo para continuar compondo. Meu trabalho está dando frutos”, garante.
A peça para o festival não é a primeira encomenda que Thais Montanari recebe. Ela escreveu Quinquilhares para a Flutuar Orquestra de Flautas e fez, em 2009, trilha para alunos do Grupo Corpo. Paisagens (2014) foi feita a pedido do instrumentista e construtor de instrumentos Leandro César, do grupo Urucum na Cara. Não são os únicos momentos em que as composições dela estiveram em destaque. Acrescente-se participação no Derivasons, em residências, movimentação que deixou rastro de peças apresentadas no Brasil e no exterior. “É bom ter desafios regularmente”, garante.
Interferências (2011), Cala (2013) e A ser roído (2013), para a compositora, podem ser uma síntese do trabalho realizado até agora. “São peças que construíram os lugares que me interessam trabalhar. Música visual, que envolve também cenário, luz, vídeo e o gesto do instrumentista. Depois, vem a eletrônica, que produz gama de sons interessante. E a articulação do eletrônico com o acústico. Ambos são muito bonitos, prazeres diferentes”, explica. Obras são também valorizadas por terem sido realizadas em boas condições e com bons instrumentistas. “Vi Interferências acontecer três vezes, algo inimaginável para mim”, comemora.
É a própria compositora quem avisa que tem outro interesse: a difusão da música contemporânea. “Acho importante apresentar a música contemporânea de concerto fora do meio acadêmico”, afirma. “Pode ser a praça pública, o teatro, o centro cultural, lugares que não foram criados para concerto”, exemplifica, reafirmando projeto caro ao Derivasons. Situações que trazem novos modos de pensar a música e de lidar com a questão do espetáculo. E que permitem experimentar outra acústica e conhecer diferentes públicos.
Exatamente por esse motivo, Thais Montanari não esconde carinho especial pelo Centro Cultural São Bernardo, de BH, onde tocou, com o Derivasons, em programa que tinha, no mesmo dia, um grupo do bairro. “Tivemos público mais interessado no que fazíamos do que o que encontramos em lugares já acostumados à música contemporânea”, recorda.
Identidade “O desafio posto a quem compõe é fazer boa música, o mais de acordo possível com o que gosta”, afirma. “É achar sua identidade e exercitá-la, independentemente de pressões, seja para descobrir coisas novas, comerciais e até as vindas da história da música contemporânea no Brasil. Há uma nova geração que tem muitos compositores bons, gente que se interessa por coisas que não estão nos limites do contemporâneo”, avisa.
“Vivemos momento em que há mais recursos musicais do que há 50 anos. Há mais liberdade para falar da música. Ainda há resistência, não do público, mas dos patrocinadores”, conta. Para quem faz música de concerto, recursos significam, por exemplo, condições para pagar os instrumentistas. ‘‘Eles são gente boa, mas também são artistas profissionais”, afirma.
Muitos caminhos
Primeiro surgiu o desejo de estudar um instrumento e teoria musical. Uma amiga sugeriu, então, que ela se inscrevesse nos cursos da Fundação de Educação Artística (FEA). Estudou flauta e, em aulas dos professores Sérgio Rodrigo Lacerda e José Padovani, conheceu os muitos caminhos e experimentações da música feita hoje. “Fiquei encantada em descobrir que existia música tão diferente”, recorda. Decidiu fazer vestibular para a Escola de Música da UFMG sem nem saber que área escolher. Acabou optando por composição, mesmo sem ter escrito nenhuma peça.
“No início, como todos os meus colegas de turma já tinham alguma experiência, ficava com vergonha de mostrar o que fazia. Mas fui me soltando e amando compor. Hoje, vejo que foi a melhor escolha que podia ter feito”, afirma Thais. O curso universitário trouxe aulas de piano. “Tocar um instrumento é essencial para um compositor. Abre a escuta, desenvolve atenção à relação entre instrumentos, faz o compositor se sentir na pele do intérprete”, explica. A artista valoriza programas de residência, que considera oportunidade de trabalho, estudo, conhecimento do público e outras realidades.
Compor, afirma Thais, exige dedicação. “Tem que cumprir prazos. O que quer dizer abrir mão de outras atividades para se concentrar”, conta. Tempo que pode ser de uma semana (“o que é desesperador, mas há concertos que aparecem inesperadamente”) até três meses. Feita a partitura geral, é comum o próprio compositor ter de fazer o trabalho de edição, isto é, criar a partitura especifica de cada um dos instrumentos que usou. Tudo pronto, não é raro o autor ter de batalhar, e muito, para ouvir o que escreveu. “Por isso, quanto mais possibilidade de mostrar a composição, melhor”, frisa Thais.
A mineira não se incomoda com prazos curtos, mas anda feliz pelo fato de ter seis meses para compor a obra para Campos do Jordão. “Dá tempo para amadurecer uma ideia, consultar amigos instrumentistas, ver como tocam o que você escreveu. A opinião de quem estuda anos seu instrumento é sempre importante”, justifica. Até porque gosta sempre de levar em conta o temperamento do músico, de modo que o instrumentista fique à vontade tocando.
Thais Montanari integra o Derivasons, formado pelos compositores Luis Friche, Marcos Braccini, Marcos Sarieddine e Renam Fortes, voltado para apresentação de peças dos seus integrantes.
Walter Sebastião
Estado de MInas: 10/08/2014
Thais Montanari, compositora |
Tem uma jovem compositora mineira que anda recebendo importantes considerações: Thais Montanari, de 28 anos. Ela foi escolhida durante o 45º Festival de Inverno de Campos de Jordão (SP) para compor peça que será apresentada na edição de 2015. Chegará ao próximo evento como aluna convidada, selecionada em grupo de sete bolsistas. “É um prêmio ótimo. Todos os envolvidos no festival são bons instrumentistas”, observa. “E é um incentivo para continuar compondo. Meu trabalho está dando frutos”, garante.
A peça para o festival não é a primeira encomenda que Thais Montanari recebe. Ela escreveu Quinquilhares para a Flutuar Orquestra de Flautas e fez, em 2009, trilha para alunos do Grupo Corpo. Paisagens (2014) foi feita a pedido do instrumentista e construtor de instrumentos Leandro César, do grupo Urucum na Cara. Não são os únicos momentos em que as composições dela estiveram em destaque. Acrescente-se participação no Derivasons, em residências, movimentação que deixou rastro de peças apresentadas no Brasil e no exterior. “É bom ter desafios regularmente”, garante.
Interferências (2011), Cala (2013) e A ser roído (2013), para a compositora, podem ser uma síntese do trabalho realizado até agora. “São peças que construíram os lugares que me interessam trabalhar. Música visual, que envolve também cenário, luz, vídeo e o gesto do instrumentista. Depois, vem a eletrônica, que produz gama de sons interessante. E a articulação do eletrônico com o acústico. Ambos são muito bonitos, prazeres diferentes”, explica. Obras são também valorizadas por terem sido realizadas em boas condições e com bons instrumentistas. “Vi Interferências acontecer três vezes, algo inimaginável para mim”, comemora.
É a própria compositora quem avisa que tem outro interesse: a difusão da música contemporânea. “Acho importante apresentar a música contemporânea de concerto fora do meio acadêmico”, afirma. “Pode ser a praça pública, o teatro, o centro cultural, lugares que não foram criados para concerto”, exemplifica, reafirmando projeto caro ao Derivasons. Situações que trazem novos modos de pensar a música e de lidar com a questão do espetáculo. E que permitem experimentar outra acústica e conhecer diferentes públicos.
Exatamente por esse motivo, Thais Montanari não esconde carinho especial pelo Centro Cultural São Bernardo, de BH, onde tocou, com o Derivasons, em programa que tinha, no mesmo dia, um grupo do bairro. “Tivemos público mais interessado no que fazíamos do que o que encontramos em lugares já acostumados à música contemporânea”, recorda.
Identidade “O desafio posto a quem compõe é fazer boa música, o mais de acordo possível com o que gosta”, afirma. “É achar sua identidade e exercitá-la, independentemente de pressões, seja para descobrir coisas novas, comerciais e até as vindas da história da música contemporânea no Brasil. Há uma nova geração que tem muitos compositores bons, gente que se interessa por coisas que não estão nos limites do contemporâneo”, avisa.
“Vivemos momento em que há mais recursos musicais do que há 50 anos. Há mais liberdade para falar da música. Ainda há resistência, não do público, mas dos patrocinadores”, conta. Para quem faz música de concerto, recursos significam, por exemplo, condições para pagar os instrumentistas. ‘‘Eles são gente boa, mas também são artistas profissionais”, afirma.
Muitos caminhos
Primeiro surgiu o desejo de estudar um instrumento e teoria musical. Uma amiga sugeriu, então, que ela se inscrevesse nos cursos da Fundação de Educação Artística (FEA). Estudou flauta e, em aulas dos professores Sérgio Rodrigo Lacerda e José Padovani, conheceu os muitos caminhos e experimentações da música feita hoje. “Fiquei encantada em descobrir que existia música tão diferente”, recorda. Decidiu fazer vestibular para a Escola de Música da UFMG sem nem saber que área escolher. Acabou optando por composição, mesmo sem ter escrito nenhuma peça.
“No início, como todos os meus colegas de turma já tinham alguma experiência, ficava com vergonha de mostrar o que fazia. Mas fui me soltando e amando compor. Hoje, vejo que foi a melhor escolha que podia ter feito”, afirma Thais. O curso universitário trouxe aulas de piano. “Tocar um instrumento é essencial para um compositor. Abre a escuta, desenvolve atenção à relação entre instrumentos, faz o compositor se sentir na pele do intérprete”, explica. A artista valoriza programas de residência, que considera oportunidade de trabalho, estudo, conhecimento do público e outras realidades.
Compor, afirma Thais, exige dedicação. “Tem que cumprir prazos. O que quer dizer abrir mão de outras atividades para se concentrar”, conta. Tempo que pode ser de uma semana (“o que é desesperador, mas há concertos que aparecem inesperadamente”) até três meses. Feita a partitura geral, é comum o próprio compositor ter de fazer o trabalho de edição, isto é, criar a partitura especifica de cada um dos instrumentos que usou. Tudo pronto, não é raro o autor ter de batalhar, e muito, para ouvir o que escreveu. “Por isso, quanto mais possibilidade de mostrar a composição, melhor”, frisa Thais.
A mineira não se incomoda com prazos curtos, mas anda feliz pelo fato de ter seis meses para compor a obra para Campos do Jordão. “Dá tempo para amadurecer uma ideia, consultar amigos instrumentistas, ver como tocam o que você escreveu. A opinião de quem estuda anos seu instrumento é sempre importante”, justifica. Até porque gosta sempre de levar em conta o temperamento do músico, de modo que o instrumentista fique à vontade tocando.
Thais Montanari integra o Derivasons, formado pelos compositores Luis Friche, Marcos Braccini, Marcos Sarieddine e Renam Fortes, voltado para apresentação de peças dos seus integrantes.
Leite - Eduardo Almeida Reis
Leite
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 10/08/2014
Do latim dies dominìcus “dia do Senhor”, o domingo continua sendo um problemão da roça por ser o dia consagrado, entre os católicos e outros cristãos, à oração e ao descanso. Nas fazendas leiteiras está ficando impossível arranjar empregados que não exacerbem seu cristianismo no dies dominìcus, daí o fato de muita gente estar vendendo as vacas e parando com o leite.
Com os preços hoje recebidos pelo produtor, cada retireiro custa cerca de 80 litros/dia: dois salários mínimos, férias e décimos-terceiros. Tem casa, luz, pomar da sede, galinhas no terreiro, engorda um porquinho, escola rural para os muitos filhinhos. Não há um só obreiro que não tenha motocicleta para “viajar” de casa para o estábulo e vice-versa ao contrário. Pode não ser o paraíso terrestre, mas é dez mil vezes melhor do que morar nos subúrbios das grandes cidades com os nossos transportes coletivos.
Quanto ao fazendeiro, que insiste na produção de leite, é vicio melhor que os outros, crack, coca, nicotina e álcool, mas é vício: um mau negócio em que você trabalha com bichos abençoados. Num dos meus livros calculei o crescimento de um lote de 10 vacas mestiças, adaptadas ao meio, estabelecido o fato de que a eficiência reprodutiva do rebanho normalmente não chega aos 100% ao ano, metade machos, metade fêmeas.
No primeiro ano temos 10 vacas e 5 bezerras = 15 fêmeas. No segundo ano, 10 vacas, 5 garrotas (bezerras de sobreano) e 5 bezerras = 20 fêmeas. No terceiro ano, 10 vacas, 5 novilhas de dois anos, 5 garrotas e 5 bezerras = 25 fêmeas. No quarto ano, 15 vacas, 5 novilhas, 7 garrotas e 7,5 bezerras = 32,5 fêmeas. No quinto ano, 20 vacas, 5 novilhas, 7,5 garrotas e 10 bezerras = 42,5 fêmeas.
A partir do sexto ano, ainda com as 10 primeiras vacas perfeitamente “operacionais”, o negócio se transforma numa loucura: são 25 vacas, 7,5 novilhas, 10 garrotas e 12,5 bezerras = 55 fêmeas. Sete anos, mesmo na roça, passam muito depressa. É claro que você vendeu fêmeas refugadas e perdeu fêmeas acidentadas, picadas de cobras, coisas que acontecem. É claro, também, que lápis e papel aceitam qualquer coisa, mas que a vaca é um bicho abençoado, é. Se você começar com 30 vaquinhas, terá 165 no mesmo período.
O que atrapalha é o leite. Se fosse possível inventar uma pecuária leiteira com vacas adaptadas ao meio, sem vender leite, estaríamos diante de um dos melhores negócios do mundo. E tem mais uma coisa: no primeiro ano, nasceram 5 machinhos, mais 5 no segundo ano e 5 no terceiro, quando você já tinha 5 bois para vender ao açougueiro. Quanto às 7,5 bezerras que pintaram no pedaço impresso, paciência: a exemplo do lápis e do papel, o computador aceita quase tudo.
Rebanho adaptado ao meio, criado com um mínimo de cuidados, tem um crescimento extraordinário: a partir do sétimo ano tem vaca e bezerra que não acaba mais. Diante disso, não chega a causar espanto que tanta gente se vicie no negócio leiteiro.
Sonhos
Sem ser onirócrita, peço licença para exercitar a onirocrisia, que é a arte, a técnica de interpretar e analisar os sonhos, mesmo os maus sonhos chamados pesadelos. E o pacientíssimo leitor, que me conhece faz tempo, sabe que não sou de deixar para amanhã as palavras que aprendo hoje, caso de onirocrisia e onirócrita.
Deu-se que dormi mal à beça e à bessa, quatro horas depois de ter comido pouquíssimo e não ter bebido mais que água mineral sem gás. Como explicar a sucessão de pesadelos? Sonhos bons são ótimos, ao contrário dos sonhos maus, que me deixam encucado. Lembro-me dos dois últimos da tal noite maldormida.
Sem exercitar a onirologia, não me custa recordar ao leitor do Estado de Minas que a primeira edição de A Interpretação dos Sonhos, em 1899, o mais importante trabalho de Freud, que lhe rendeu exatos 209 dólares, só se esgotou depois de oito anos. Edição de escassos 600 exemplares, sobre um assunto que o autor dizia: “Uma inspiração como esta só vem uma vez na vida”. Vendeu menos que o meu Bumerangue, romancinho da melhor supimpitude.
O mundo é uma bola
10 de agosto de 258: Lourenço de Huesca (225-258), um dos setes primeiros diáconos (guardiães dos tesouros da igreja cristã sediada em Roma) foi martirizado. O cargo de diácono era de grande responsabilidade e consistia no cuidado com os bens eclesiais e na distribuição de esmolas aos pobres. No ano 257, o imperador romano Valeriano decretou a perseguição aos cristãos, detendo e decapitando no ano seguinte o papa Sisto II. Lourenço foi grelhado, canonizado e hoje é nome de município sul-mineiro, terra do excelente Eugênio Ferraz.
Em 1500, depois de dobrar o Cabo da Boa esperança, Diogo Dias encontrou uma ilha à qual deu o nome de São Lourenço, hoje Madagáscar. Em 1965 nasceu Eduardo Henrique Accioly Campos, candidato à presidência da República Federativa do Brasil.
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 10/08/2014
Do latim dies dominìcus “dia do Senhor”, o domingo continua sendo um problemão da roça por ser o dia consagrado, entre os católicos e outros cristãos, à oração e ao descanso. Nas fazendas leiteiras está ficando impossível arranjar empregados que não exacerbem seu cristianismo no dies dominìcus, daí o fato de muita gente estar vendendo as vacas e parando com o leite.
Com os preços hoje recebidos pelo produtor, cada retireiro custa cerca de 80 litros/dia: dois salários mínimos, férias e décimos-terceiros. Tem casa, luz, pomar da sede, galinhas no terreiro, engorda um porquinho, escola rural para os muitos filhinhos. Não há um só obreiro que não tenha motocicleta para “viajar” de casa para o estábulo e vice-versa ao contrário. Pode não ser o paraíso terrestre, mas é dez mil vezes melhor do que morar nos subúrbios das grandes cidades com os nossos transportes coletivos.
Quanto ao fazendeiro, que insiste na produção de leite, é vicio melhor que os outros, crack, coca, nicotina e álcool, mas é vício: um mau negócio em que você trabalha com bichos abençoados. Num dos meus livros calculei o crescimento de um lote de 10 vacas mestiças, adaptadas ao meio, estabelecido o fato de que a eficiência reprodutiva do rebanho normalmente não chega aos 100% ao ano, metade machos, metade fêmeas.
No primeiro ano temos 10 vacas e 5 bezerras = 15 fêmeas. No segundo ano, 10 vacas, 5 garrotas (bezerras de sobreano) e 5 bezerras = 20 fêmeas. No terceiro ano, 10 vacas, 5 novilhas de dois anos, 5 garrotas e 5 bezerras = 25 fêmeas. No quarto ano, 15 vacas, 5 novilhas, 7 garrotas e 7,5 bezerras = 32,5 fêmeas. No quinto ano, 20 vacas, 5 novilhas, 7,5 garrotas e 10 bezerras = 42,5 fêmeas.
A partir do sexto ano, ainda com as 10 primeiras vacas perfeitamente “operacionais”, o negócio se transforma numa loucura: são 25 vacas, 7,5 novilhas, 10 garrotas e 12,5 bezerras = 55 fêmeas. Sete anos, mesmo na roça, passam muito depressa. É claro que você vendeu fêmeas refugadas e perdeu fêmeas acidentadas, picadas de cobras, coisas que acontecem. É claro, também, que lápis e papel aceitam qualquer coisa, mas que a vaca é um bicho abençoado, é. Se você começar com 30 vaquinhas, terá 165 no mesmo período.
O que atrapalha é o leite. Se fosse possível inventar uma pecuária leiteira com vacas adaptadas ao meio, sem vender leite, estaríamos diante de um dos melhores negócios do mundo. E tem mais uma coisa: no primeiro ano, nasceram 5 machinhos, mais 5 no segundo ano e 5 no terceiro, quando você já tinha 5 bois para vender ao açougueiro. Quanto às 7,5 bezerras que pintaram no pedaço impresso, paciência: a exemplo do lápis e do papel, o computador aceita quase tudo.
Rebanho adaptado ao meio, criado com um mínimo de cuidados, tem um crescimento extraordinário: a partir do sétimo ano tem vaca e bezerra que não acaba mais. Diante disso, não chega a causar espanto que tanta gente se vicie no negócio leiteiro.
Sonhos
Sem ser onirócrita, peço licença para exercitar a onirocrisia, que é a arte, a técnica de interpretar e analisar os sonhos, mesmo os maus sonhos chamados pesadelos. E o pacientíssimo leitor, que me conhece faz tempo, sabe que não sou de deixar para amanhã as palavras que aprendo hoje, caso de onirocrisia e onirócrita.
Deu-se que dormi mal à beça e à bessa, quatro horas depois de ter comido pouquíssimo e não ter bebido mais que água mineral sem gás. Como explicar a sucessão de pesadelos? Sonhos bons são ótimos, ao contrário dos sonhos maus, que me deixam encucado. Lembro-me dos dois últimos da tal noite maldormida.
Sem exercitar a onirologia, não me custa recordar ao leitor do Estado de Minas que a primeira edição de A Interpretação dos Sonhos, em 1899, o mais importante trabalho de Freud, que lhe rendeu exatos 209 dólares, só se esgotou depois de oito anos. Edição de escassos 600 exemplares, sobre um assunto que o autor dizia: “Uma inspiração como esta só vem uma vez na vida”. Vendeu menos que o meu Bumerangue, romancinho da melhor supimpitude.
O mundo é uma bola
10 de agosto de 258: Lourenço de Huesca (225-258), um dos setes primeiros diáconos (guardiães dos tesouros da igreja cristã sediada em Roma) foi martirizado. O cargo de diácono era de grande responsabilidade e consistia no cuidado com os bens eclesiais e na distribuição de esmolas aos pobres. No ano 257, o imperador romano Valeriano decretou a perseguição aos cristãos, detendo e decapitando no ano seguinte o papa Sisto II. Lourenço foi grelhado, canonizado e hoje é nome de município sul-mineiro, terra do excelente Eugênio Ferraz.
Em 1500, depois de dobrar o Cabo da Boa esperança, Diogo Dias encontrou uma ilha à qual deu o nome de São Lourenço, hoje Madagáscar. Em 1965 nasceu Eduardo Henrique Accioly Campos, candidato à presidência da República Federativa do Brasil.
Zoológicos, sim ou não?
Zoológicos, sim ou não?
Nascimento de filhote de gorila acirra debate sobre existência dos zoos, com argumentos exacerbados contra ou a favor dessas instituições
Tiago de Holanda
Estado de Minas: 10/08/2014
O nascimento do filhote dos gorilas Leon e Lou Lou no Zoológico de Belo Horizonte, primeiro da espécie a vir à luz na América do Sul, foi muito celebrado por moradores da capital. O fato, porém, reacendeu uma antiga polêmica. Muitas pessoas usaram as redes sociais para criticar zoológicos e defender que sejam extintos, alegando que os ambientes oferecidos por eles causam sofrimento aos animais. O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas (CRMV-MG) afirma que as instituições são importantes centros de pesquisa e conservação ambiental. Em meio à controvérsia, a quantidade de zoológicos em Minas caiu 80,6% nos últimos 25 anos, passando de 62, na década de 1990, para 12, segundo a superintendência mineira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/MG).
O debate nas redes sociais esquentou logo após ser divulgada a notícia do nascimento do filhote, na terça-feira. O fundador do Núcleo Fauna de Defesa Animal, Franklin Oliveira, por exemplo, compartilhou no Facebook matéria do Estado de Minas sobre o fato e escreveu um lamento: “Mais uma pobre criatura para viver uma vida toda presa sem conhecer a natureza e a liberdade”. A publicação acabou virando um fórum de discussão, com dezenas de comentários calorosos, a maioria contrária à existência de zoológicos.
Essas opiniões são reforçadas por uma líder do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, Adriana Cristina Araújo. “A gente fica feliz em saber que mais um animal nasce, mas lamenta que nasce para ser escravizado, para viver aprisionado em um lugar muito limitado”, afirma sobre o parto ocorrido em BH. Ela critica a ideia de que zoológicos sirvam para estimular o cuidado com o meio ambiente, argumento usado por representantes do setor. “Esses lugares deseducam as pessoas, que se acostumam a ver animais presos. Eles devem ser vistos na natureza”, alega. Ela defende a ampliação dos espaços destinados aos bichos e a criação de restrições à visitação pública: “Os visitantes devem estar em grupos pequenos. Monitores devem acompanhá-los, para passar informações e garantir que ninguém faça algo que possa estressar os animais, como barulho”.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL O presidente do CRMV-MG, Nivaldo da Silva, afirma que os zoológicos ajudam a educar a população. “Eles permitem que as pessoas tomem conhecimento da existência de determinadas espécies, podendo ver de perto algumas que nem existem na fauna nacional”, afirma. As instituições que cumprem normas previstas na legislação tomam providências para evitar que visitantes descuidados ou mal-intencionados prejudiquem os bichos. “Para manter o bem-estar dos animais, eles são mantidos a uma distância de precaução, de segurança, dos seres humanos”, alega. “Esses locais são úteis para conservar espécies ameaçadas de extinção e para a realização de estudos. Em cativeiro, podem-se observar melhor comportamentos, fisiologias. Muitas vezes, as informações obtidas contribuem para que os animais que vivem em seu hábitat sejam mantidos em condições mais adequadas”, aponta.
Exigências cumpridas Zoo de BH é o único em Minas que tem dever de atuar na conservação das espécies. Defensores dos direitos animais criticam as condições de confinamento dos bichos
Tiago Padilha
Em Minas, apenas o Zoológico de Belo Horizonte tem a obrigação legal de desenvolver programas de pesquisa para a conservação de espécies, segundo a superintendência mineira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/MG). Maior dos 12 zoos existentes no estado, é o único classificado na categoria A, que apresenta as exigências mais rigorosas no país. “A instituição é um modelo a ser seguido no Brasil e no mundo”, avalia o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG), Nivaldo da Silva. Por outro lado, ativistas pelos direitos animais criticam o local por ter recintos pequenos e não garantir sossego aos bichos. Um projeto de lei em tramitação na Câmara Municipal estabelece restrições à visitação pública.
Segundo o Ibama/MG, 10 zoológicos no estado são da categoria C, que apresenta menos exigências. Um particular em Ipatinga é da classe B e, como obrigações extras, deve “possuir programas de estágio supervisionado nas diversas áreas de atuação” e “literatura especializada disponível para o público”, define a Instrução Normativa 169 do Ibama, de 2008. Independentemente do tipo, as instituições têm de desenvolver programas de educação ambiental. O Zoo de BH, entre outros preceitos, precisa “promover intercâmbios técnicos nacionais e internacionais”, como todos da classe A. “Temos parcerias com várias universidades, como a UFMG e a PUC Minas”, afirma o diretor, Gladstone Corrêa, que ressalta convênio com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) para concessão e pagamento de bolsas de iniciação científica.
A instituição belo-horizontina abriga 3,7 mil animais de cerca de 270 espécies, segundo Gladstone. “Dessas, 24 são brasileiras ameaçadas de extinção, das quais 15 se reproduziram nos últimos 10 anos no zoológico, como o cachorro-do-mato-vinagre e o tamanduá-bandeira. Uma delas, a ararinha-azul, foi extinta na natureza e hoje só existe em zoológicos, que são aliados da conservação”, afirma. A maior parte dos animais que chegam a essas instituições foi apreendida de traficantes pela polícia ou resgatados, ressalta a bióloga Vivian Teixeira Fraiha, da seção de mamíferos. “Também há bichos excedentes de outros zoológicos. Nunca são simplesmente capturados da natureza”, diz. Alguns nascidos em cativeiro chegam a ser introduzidos em hábitat.
EXCURSÕES O zoológico da capital recebe diariamente excursões de escolas públicas e particulares. Na quarta-feira, por exemplo, o local foi visitado por um grupo de 20 alunos de 4 e 5 anos do Instituto Cecília Meireles, que funciona no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul da cidade. “Todos os anos, turmas de 2 a 6 anos vêm para cá. A visita é o trabalho de campo de um projeto pedagógico que envolve todas as disciplinas. É importante para que desenvolvam o zelo pelos animais”, explica a coordenadora da educação infantil, Maize Borges.
A professora aposentada da Faculdade de Letras da UFMG Maria Antonieta Pereira, coordenadora do programa Adote um Amigo, que, em convênio com a PBH realiza a castração de animais e incentiva a adoção deles, acredita que a visita a zoológicos é deseducativa. “As pessoas devem observar os bichos em seu habitat natural, não presos. A própria visitação é um fator de estresse para eles”, defende. “Os zoológicos promovem a espetacularização dos animais, que ainda sofrem com desrespeitos do público, que faz barulho, joga lixo”, critica uma representante do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, Adriana Cristina Araújo. Ela cita o fato de um elefante africano ter morrido na instituição de BH em 1995 após ingerir garrafas plásticas jogadas por visitantes. Em junho, uma girafa morreu ao se enforcar acidentalmente com a corda usada para prender o seu alimento.
O Projeto de Lei 87, de 2013, aprovado em primeiro turno na Câmara Municipal, define que o zoológico da capital tenha entre suas tarefas recuperar animais silvestres para posterior reinserção na natureza, incluindo a possibilidade de animais apreendidos pela polícia, hoje encaminhados ao Ibama, sejam entregues à instituição. “O nascimento de um gorila é um exemplo espetacular do bom trabalho feito pela instituição, mas hoje sua função prioritária é mostrar animais para as pessoas. Ela precisa mudar seu foco. A função de recuperar animais apreendido se tornaria a principal. A visitação ficaria restrita a fins acadêmicos”, diz o autor do projeto, vereador Leonardo Mattos (PV).
ENQUANTO ISSO... » ...Dieta caprichada
Cuidar bem da família de gorilas chefiada pelo macho Leon é uma das preocupações dos veterinários e nutricionistas do zoológico de BH, principalmente depois do nascimento do filhote de Lou Lou. Legumes e verduras frescas são servidos fartamente aos primatas, para reforçar a alimentação da fêmea, que está amamentando, e da outra gorila, Imbi, que está grávida e deve dar à luz até o fim de setembro.
Nascimento de filhote de gorila acirra debate sobre existência dos zoos, com argumentos exacerbados contra ou a favor dessas instituições
Tiago de Holanda
Estado de Minas: 10/08/2014
O nascimento do filhote dos gorilas Leon e Lou Lou no Zoológico de Belo Horizonte, primeiro da espécie a vir à luz na América do Sul, foi muito celebrado por moradores da capital. O fato, porém, reacendeu uma antiga polêmica. Muitas pessoas usaram as redes sociais para criticar zoológicos e defender que sejam extintos, alegando que os ambientes oferecidos por eles causam sofrimento aos animais. O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas (CRMV-MG) afirma que as instituições são importantes centros de pesquisa e conservação ambiental. Em meio à controvérsia, a quantidade de zoológicos em Minas caiu 80,6% nos últimos 25 anos, passando de 62, na década de 1990, para 12, segundo a superintendência mineira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/MG).
O debate nas redes sociais esquentou logo após ser divulgada a notícia do nascimento do filhote, na terça-feira. O fundador do Núcleo Fauna de Defesa Animal, Franklin Oliveira, por exemplo, compartilhou no Facebook matéria do Estado de Minas sobre o fato e escreveu um lamento: “Mais uma pobre criatura para viver uma vida toda presa sem conhecer a natureza e a liberdade”. A publicação acabou virando um fórum de discussão, com dezenas de comentários calorosos, a maioria contrária à existência de zoológicos.
Essas opiniões são reforçadas por uma líder do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, Adriana Cristina Araújo. “A gente fica feliz em saber que mais um animal nasce, mas lamenta que nasce para ser escravizado, para viver aprisionado em um lugar muito limitado”, afirma sobre o parto ocorrido em BH. Ela critica a ideia de que zoológicos sirvam para estimular o cuidado com o meio ambiente, argumento usado por representantes do setor. “Esses lugares deseducam as pessoas, que se acostumam a ver animais presos. Eles devem ser vistos na natureza”, alega. Ela defende a ampliação dos espaços destinados aos bichos e a criação de restrições à visitação pública: “Os visitantes devem estar em grupos pequenos. Monitores devem acompanhá-los, para passar informações e garantir que ninguém faça algo que possa estressar os animais, como barulho”.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL O presidente do CRMV-MG, Nivaldo da Silva, afirma que os zoológicos ajudam a educar a população. “Eles permitem que as pessoas tomem conhecimento da existência de determinadas espécies, podendo ver de perto algumas que nem existem na fauna nacional”, afirma. As instituições que cumprem normas previstas na legislação tomam providências para evitar que visitantes descuidados ou mal-intencionados prejudiquem os bichos. “Para manter o bem-estar dos animais, eles são mantidos a uma distância de precaução, de segurança, dos seres humanos”, alega. “Esses locais são úteis para conservar espécies ameaçadas de extinção e para a realização de estudos. Em cativeiro, podem-se observar melhor comportamentos, fisiologias. Muitas vezes, as informações obtidas contribuem para que os animais que vivem em seu hábitat sejam mantidos em condições mais adequadas”, aponta.
Exigências cumpridas Zoo de BH é o único em Minas que tem dever de atuar na conservação das espécies. Defensores dos direitos animais criticam as condições de confinamento dos bichos
Tiago Padilha
Excursão escolar visita recinto dos elefantes: projeto pedagógico para desenvolver consciência ecológica |
Em Minas, apenas o Zoológico de Belo Horizonte tem a obrigação legal de desenvolver programas de pesquisa para a conservação de espécies, segundo a superintendência mineira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/MG). Maior dos 12 zoos existentes no estado, é o único classificado na categoria A, que apresenta as exigências mais rigorosas no país. “A instituição é um modelo a ser seguido no Brasil e no mundo”, avalia o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG), Nivaldo da Silva. Por outro lado, ativistas pelos direitos animais criticam o local por ter recintos pequenos e não garantir sossego aos bichos. Um projeto de lei em tramitação na Câmara Municipal estabelece restrições à visitação pública.
Segundo o Ibama/MG, 10 zoológicos no estado são da categoria C, que apresenta menos exigências. Um particular em Ipatinga é da classe B e, como obrigações extras, deve “possuir programas de estágio supervisionado nas diversas áreas de atuação” e “literatura especializada disponível para o público”, define a Instrução Normativa 169 do Ibama, de 2008. Independentemente do tipo, as instituições têm de desenvolver programas de educação ambiental. O Zoo de BH, entre outros preceitos, precisa “promover intercâmbios técnicos nacionais e internacionais”, como todos da classe A. “Temos parcerias com várias universidades, como a UFMG e a PUC Minas”, afirma o diretor, Gladstone Corrêa, que ressalta convênio com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) para concessão e pagamento de bolsas de iniciação científica.
A instituição belo-horizontina abriga 3,7 mil animais de cerca de 270 espécies, segundo Gladstone. “Dessas, 24 são brasileiras ameaçadas de extinção, das quais 15 se reproduziram nos últimos 10 anos no zoológico, como o cachorro-do-mato-vinagre e o tamanduá-bandeira. Uma delas, a ararinha-azul, foi extinta na natureza e hoje só existe em zoológicos, que são aliados da conservação”, afirma. A maior parte dos animais que chegam a essas instituições foi apreendida de traficantes pela polícia ou resgatados, ressalta a bióloga Vivian Teixeira Fraiha, da seção de mamíferos. “Também há bichos excedentes de outros zoológicos. Nunca são simplesmente capturados da natureza”, diz. Alguns nascidos em cativeiro chegam a ser introduzidos em hábitat.
EXCURSÕES O zoológico da capital recebe diariamente excursões de escolas públicas e particulares. Na quarta-feira, por exemplo, o local foi visitado por um grupo de 20 alunos de 4 e 5 anos do Instituto Cecília Meireles, que funciona no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul da cidade. “Todos os anos, turmas de 2 a 6 anos vêm para cá. A visita é o trabalho de campo de um projeto pedagógico que envolve todas as disciplinas. É importante para que desenvolvam o zelo pelos animais”, explica a coordenadora da educação infantil, Maize Borges.
A professora aposentada da Faculdade de Letras da UFMG Maria Antonieta Pereira, coordenadora do programa Adote um Amigo, que, em convênio com a PBH realiza a castração de animais e incentiva a adoção deles, acredita que a visita a zoológicos é deseducativa. “As pessoas devem observar os bichos em seu habitat natural, não presos. A própria visitação é um fator de estresse para eles”, defende. “Os zoológicos promovem a espetacularização dos animais, que ainda sofrem com desrespeitos do público, que faz barulho, joga lixo”, critica uma representante do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, Adriana Cristina Araújo. Ela cita o fato de um elefante africano ter morrido na instituição de BH em 1995 após ingerir garrafas plásticas jogadas por visitantes. Em junho, uma girafa morreu ao se enforcar acidentalmente com a corda usada para prender o seu alimento.
O Projeto de Lei 87, de 2013, aprovado em primeiro turno na Câmara Municipal, define que o zoológico da capital tenha entre suas tarefas recuperar animais silvestres para posterior reinserção na natureza, incluindo a possibilidade de animais apreendidos pela polícia, hoje encaminhados ao Ibama, sejam entregues à instituição. “O nascimento de um gorila é um exemplo espetacular do bom trabalho feito pela instituição, mas hoje sua função prioritária é mostrar animais para as pessoas. Ela precisa mudar seu foco. A função de recuperar animais apreendido se tornaria a principal. A visitação ficaria restrita a fins acadêmicos”, diz o autor do projeto, vereador Leonardo Mattos (PV).
ENQUANTO ISSO... » ...Dieta caprichada
Cuidar bem da família de gorilas chefiada pelo macho Leon é uma das preocupações dos veterinários e nutricionistas do zoológico de BH, principalmente depois do nascimento do filhote de Lou Lou. Legumes e verduras frescas são servidos fartamente aos primatas, para reforçar a alimentação da fêmea, que está amamentando, e da outra gorila, Imbi, que está grávida e deve dar à luz até o fim de setembro.
Doenças que viajam
Doenças que viajam
Epidemia de ebola chama a atenção para outras doenças infectocontagiosas que podem se espalhar.
Carolina Cotta
Estado de Minas: 10/08/2014
A classificação da epidemia de ebola no oeste africano como emergência pública sanitária internacional preocupou ainda mais a população mundial. Na sexta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou que os países afetados – Libéria, Guiné, Serra Leoa e Nigéria (nesse último, os casos ainda não foram confirmados) – adotem, entre outras medidas, exames para detectar o vírus em aeroportos, portos e postos de fronteira em todas as pessoas que apresentarem febre e outros sintomas semelhantes aos do ebola. Mas outras doenças infectocontagiosas, caso da malária e da febre chikungunya, são mais preocupantes para os mineiros e brasileiros.
A malária, por exemplo, só em Belo Horizonte, tem média de 300 casos suspeitos por ano, e entre 50 e 60 confirmados. Segundo Argus Leão Araújo, infectologista do Serviço de Atenção à Saude do Viajante da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, trata-se de uma doença de fácil diagnóstico, potencialmente sequelante e com grande risco de óbito se não tratada. “Todos os anos, temos casos de malária na capital mineira, todos eles ‘importados’, trazidos por pessoas originárias de áreas de risco, caso da Amazônia legal brasileira e África”, explica.
Já a febre chikungunya é uma doença de origem africana que até pouco tempo estava restrita a África e Sudeste Asiático, mas que em dezembro de 2013 foi levada para o Caribe, onde já é uma epidemia, com 300 mil casos confirmados. Provavelmente, chegou com alguém doente, que tinha o vírus circulando no sangue e foi picado por um mosquito como o Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue. “Como no Brasil, e principalmente em Minas Gerais, tem muito Aedes aegypti, a introdução dessa doença aqui talvez seja nossa maior preocupação agora. Se entrar em nossa região, há grandes riscos de disseminação. É uma doença difícil de controlar”, alerta o especialista, segundo o qual outros estados brasileiros já têm casos.
O intenso trânsito internacional propicia um maior risco para disseminação dessas e de outras doenças infecciosas, endêmicas ou epidêmicas, que por isso ganham atenção nos serviços de medicina do viajante. No caso do ebola, que tem sua maior epidemia desde que foi descrito, em 1976, o Ministério da Saúde criou um protocolo e orientou cada cidade, em função de sua realidade, a fazer planos de contigência para tentar impedir a chegada do vírus. “A primeira medida é identificar casos suspeitos. Quem chegar de um desses países com febre nos últimos 21 dias (o período de incubação do vírus é de dois dias a três semanas) deve ser mantido em isolamento. Depois, deve ser feito um rastreamento de todas as pessoas com quem ele manteve contato nesse período”, explica.
Apesar dessa região africana não ser turística, há um risco constante da doença se espalhar porque existem várias empresas que mandam funcionários brasileiros para atuar em minas e construção civil pesada. Apesar de a transmissão não ser tão fácil, essas pessoas estão sob risco. Se alguém adoecer numa equipe, demora até que se descubra a causa, porque muitas doenças infecciosas têm sintomas semelhantes ao ebola, caso da malária e do cólera. “Um operário na Guiné, por exemplo, depois de entrar em contato com o vírus, pode demorar até 21 dias para desenvolver a doença. E nesse período ele pode transmitir o vírus para outra pessoa”, alerta o médico.
Vacinas
O Serviço de Atenção à Saude do Viajante da PBH é responsável pela emissão do Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia, exigido para entrar em alguns países. Todo viajante que procura o serviço também pode se vacinar contra febre amarela; sarampo, rubéola e caxumba (Tríplice viral); difteria e tétano (DT); hepatite B; e poliomielite. Um terceiro foco de ação são consultas médicas com orientações de como se prevenir para pessoas que vão viajar para áreas de risco de algumas doenças, ou para aquelas que chegaram dessas regiões com algum sintoma importante. As consultas são gratuitas para os viajantes, mas é preciso ligar antes para agendamento nos telefones (31) 3246-5026 ou 3277-5300.
SAIBA MAIS
EPIDEMIA X ENDEMIA
Doenças endêmicas são aquelas habitualmente identificadas em uma região e já esperadas em determinado período. É o caso da dengue em Minas Gerais, que tem surtos ou epidemias (uma doença pode ser endêmica e epidêmica ao mesmo tempo) esperados com a chegada do verão e do período chuvoso. Outro exemplo é a gripe, comum nos meses de inverno; e a malária, que é endêmica na Região Amazônica. Já a Aids é endêmica em todo o mundo e a tuberculose, no Brasil. As epidemias são um aumento de casos acima do esperado para uma doença em determinada região. A diferença para um surto é que esse último é muito localizado, ao contrário das epidemias, que são algo disseminado.
DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS EPIDÊMICAS E ENDÊMICAS
Publicação: 10/08/2014 04:00
» EBOLA
O vírus pode ser contraído tanto de humanos como de animais e é transmitido por meio do contato com sangue, secreções e fluidos corporais. A doença é frequentemente caracterizada pelo início repentino de febre, fraqueza, dor muscular, dores de cabeça e inflamação na garganta, seguida de vômito, diarreia, coceiras, deficiência nas funções hepáticas e renais e, em alguns casos, sangramento interno e externo. Os sintomas podem aparecer de dois a 21 dias após a exposição ao vírus. Ainda não há vacina nem tratamento específico aprovado, limitando os cuidados médicos a uma terapia de apoio.
» CORONAVÍRUS
Uma nova variante do coronavírus, denominada MERS-CoV, pode ser transmitida de pessoa para pessoa em caso de contato próximo. O vírus também pode ser contraído por animais. Causa pneumonia e provoca falência renal rápida. Os sintomas – que começam a aparecer dez dias após a infecção – são febre, tosse, dificuldade de respirar e falta de ar. Não existe vacina contra o coronavírus para seres humanos. Cuidados de higiene ao espirrar, tossir ou assoar o nariz, lavagem das mãos após usar o banheiro e antes das refeições e isolamento de casos suspeitos ou confirmados podem prevenir o contágio.
» MALÁRIA
A infecção, causada por parasita, é transmitida de pessoa para pessoa através da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectado, que, geralmente, pica entre o anoitecer e o amanhecer. A malária começa como uma gripe, com os primeiros sintomas surgindo entre nove e 14 dias após a infecção. Os sintomas incluem febre (podem ocorrer ciclos típicos de febre, calafrios e suor em grande quantidade), dor nas articulações, dores de cabeça, vômitos frequentes, convulsões e coma. O tratamento mais eficiente para malária é uma terapia combinada à base de artemisinina.
» FEBRE CHIKUNGUNYA
A febre chikungunya é uma doença viral, parecida com a dengue, sendo, inclusive, transmitida pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti, entre outros. Na fase aguda, os sintomas são febre alta, que aparece de repente e vem acompanhada de dor de cabeça, dor muscular, erupção na pele, conjuntivite e dor nas articulações. Esse último é o mais característico da enfermidade e pode perdurar por até dois anos, chegando a impedir os movimentos. Não existe vacina contra febre chikungunya e a prevenção consiste em adotar medidas simples no próprio domicílio e arredores para combater a proliferação do mosquito.
» GRIPE AVIÁRIA DA CHINA (H7N9)
O H7N9 é um subtipo do vírus influenza. Desde o ano passado, a China tem notificado infecções em seres humanos e aves domésticas com uma nova cepa do vírus, que até então não se disseminava entre pessoas. A hipótese é que as pessoas foram contagiadas após contato com aves infectadas, que podem disseminar o vírus da influenza por seus dejetos e muco. Os sintomas iniciais são febre alta e tosse e muitos casos progrediram para pneumonia grave, síndrome de desconforto respiratório agudo, choque séptico e falência múltipla de órgãos, que podem evoluir para o óbito.
» POLIOMIELITE (PARALISIA INFANTIL)
Causada pelo poliovírus (sorotipos 1, 2, 3), que pode infectar crianças e adultos através do contato direto com as fezes ou com secreções expelidas pela boca de pessoas infectadas. A poliomielite foi praticamente erradicada nas áreas desenvolvidas do mundo com a vacinação sistemática das crianças, mas o vírus ainda está ativo em alguns países da África e da Ásia. Na maioria dos casos, a infecção pode ser assintomática, mas quando se manifestam, os sintomas variam de acordo com a gravidade. A prevenção está atrelada a hábitos de higiene.
Epidemia de ebola chama a atenção para outras doenças infectocontagiosas que podem se espalhar.
Carolina Cotta
Estado de Minas: 10/08/2014
A classificação da epidemia de ebola no oeste africano como emergência pública sanitária internacional preocupou ainda mais a população mundial. Na sexta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou que os países afetados – Libéria, Guiné, Serra Leoa e Nigéria (nesse último, os casos ainda não foram confirmados) – adotem, entre outras medidas, exames para detectar o vírus em aeroportos, portos e postos de fronteira em todas as pessoas que apresentarem febre e outros sintomas semelhantes aos do ebola. Mas outras doenças infectocontagiosas, caso da malária e da febre chikungunya, são mais preocupantes para os mineiros e brasileiros.
A malária, por exemplo, só em Belo Horizonte, tem média de 300 casos suspeitos por ano, e entre 50 e 60 confirmados. Segundo Argus Leão Araújo, infectologista do Serviço de Atenção à Saude do Viajante da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, trata-se de uma doença de fácil diagnóstico, potencialmente sequelante e com grande risco de óbito se não tratada. “Todos os anos, temos casos de malária na capital mineira, todos eles ‘importados’, trazidos por pessoas originárias de áreas de risco, caso da Amazônia legal brasileira e África”, explica.
Já a febre chikungunya é uma doença de origem africana que até pouco tempo estava restrita a África e Sudeste Asiático, mas que em dezembro de 2013 foi levada para o Caribe, onde já é uma epidemia, com 300 mil casos confirmados. Provavelmente, chegou com alguém doente, que tinha o vírus circulando no sangue e foi picado por um mosquito como o Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue. “Como no Brasil, e principalmente em Minas Gerais, tem muito Aedes aegypti, a introdução dessa doença aqui talvez seja nossa maior preocupação agora. Se entrar em nossa região, há grandes riscos de disseminação. É uma doença difícil de controlar”, alerta o especialista, segundo o qual outros estados brasileiros já têm casos.
O intenso trânsito internacional propicia um maior risco para disseminação dessas e de outras doenças infecciosas, endêmicas ou epidêmicas, que por isso ganham atenção nos serviços de medicina do viajante. No caso do ebola, que tem sua maior epidemia desde que foi descrito, em 1976, o Ministério da Saúde criou um protocolo e orientou cada cidade, em função de sua realidade, a fazer planos de contigência para tentar impedir a chegada do vírus. “A primeira medida é identificar casos suspeitos. Quem chegar de um desses países com febre nos últimos 21 dias (o período de incubação do vírus é de dois dias a três semanas) deve ser mantido em isolamento. Depois, deve ser feito um rastreamento de todas as pessoas com quem ele manteve contato nesse período”, explica.
Apesar dessa região africana não ser turística, há um risco constante da doença se espalhar porque existem várias empresas que mandam funcionários brasileiros para atuar em minas e construção civil pesada. Apesar de a transmissão não ser tão fácil, essas pessoas estão sob risco. Se alguém adoecer numa equipe, demora até que se descubra a causa, porque muitas doenças infecciosas têm sintomas semelhantes ao ebola, caso da malária e do cólera. “Um operário na Guiné, por exemplo, depois de entrar em contato com o vírus, pode demorar até 21 dias para desenvolver a doença. E nesse período ele pode transmitir o vírus para outra pessoa”, alerta o médico.
Vacinas
O Serviço de Atenção à Saude do Viajante da PBH é responsável pela emissão do Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia, exigido para entrar em alguns países. Todo viajante que procura o serviço também pode se vacinar contra febre amarela; sarampo, rubéola e caxumba (Tríplice viral); difteria e tétano (DT); hepatite B; e poliomielite. Um terceiro foco de ação são consultas médicas com orientações de como se prevenir para pessoas que vão viajar para áreas de risco de algumas doenças, ou para aquelas que chegaram dessas regiões com algum sintoma importante. As consultas são gratuitas para os viajantes, mas é preciso ligar antes para agendamento nos telefones (31) 3246-5026 ou 3277-5300.
SAIBA MAIS
EPIDEMIA X ENDEMIA
Doenças endêmicas são aquelas habitualmente identificadas em uma região e já esperadas em determinado período. É o caso da dengue em Minas Gerais, que tem surtos ou epidemias (uma doença pode ser endêmica e epidêmica ao mesmo tempo) esperados com a chegada do verão e do período chuvoso. Outro exemplo é a gripe, comum nos meses de inverno; e a malária, que é endêmica na Região Amazônica. Já a Aids é endêmica em todo o mundo e a tuberculose, no Brasil. As epidemias são um aumento de casos acima do esperado para uma doença em determinada região. A diferença para um surto é que esse último é muito localizado, ao contrário das epidemias, que são algo disseminado.
DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS EPIDÊMICAS E ENDÊMICAS
Publicação: 10/08/2014 04:00
» EBOLA
O vírus pode ser contraído tanto de humanos como de animais e é transmitido por meio do contato com sangue, secreções e fluidos corporais. A doença é frequentemente caracterizada pelo início repentino de febre, fraqueza, dor muscular, dores de cabeça e inflamação na garganta, seguida de vômito, diarreia, coceiras, deficiência nas funções hepáticas e renais e, em alguns casos, sangramento interno e externo. Os sintomas podem aparecer de dois a 21 dias após a exposição ao vírus. Ainda não há vacina nem tratamento específico aprovado, limitando os cuidados médicos a uma terapia de apoio.
» CORONAVÍRUS
Uma nova variante do coronavírus, denominada MERS-CoV, pode ser transmitida de pessoa para pessoa em caso de contato próximo. O vírus também pode ser contraído por animais. Causa pneumonia e provoca falência renal rápida. Os sintomas – que começam a aparecer dez dias após a infecção – são febre, tosse, dificuldade de respirar e falta de ar. Não existe vacina contra o coronavírus para seres humanos. Cuidados de higiene ao espirrar, tossir ou assoar o nariz, lavagem das mãos após usar o banheiro e antes das refeições e isolamento de casos suspeitos ou confirmados podem prevenir o contágio.
» MALÁRIA
A infecção, causada por parasita, é transmitida de pessoa para pessoa através da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectado, que, geralmente, pica entre o anoitecer e o amanhecer. A malária começa como uma gripe, com os primeiros sintomas surgindo entre nove e 14 dias após a infecção. Os sintomas incluem febre (podem ocorrer ciclos típicos de febre, calafrios e suor em grande quantidade), dor nas articulações, dores de cabeça, vômitos frequentes, convulsões e coma. O tratamento mais eficiente para malária é uma terapia combinada à base de artemisinina.
» FEBRE CHIKUNGUNYA
A febre chikungunya é uma doença viral, parecida com a dengue, sendo, inclusive, transmitida pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti, entre outros. Na fase aguda, os sintomas são febre alta, que aparece de repente e vem acompanhada de dor de cabeça, dor muscular, erupção na pele, conjuntivite e dor nas articulações. Esse último é o mais característico da enfermidade e pode perdurar por até dois anos, chegando a impedir os movimentos. Não existe vacina contra febre chikungunya e a prevenção consiste em adotar medidas simples no próprio domicílio e arredores para combater a proliferação do mosquito.
» GRIPE AVIÁRIA DA CHINA (H7N9)
O H7N9 é um subtipo do vírus influenza. Desde o ano passado, a China tem notificado infecções em seres humanos e aves domésticas com uma nova cepa do vírus, que até então não se disseminava entre pessoas. A hipótese é que as pessoas foram contagiadas após contato com aves infectadas, que podem disseminar o vírus da influenza por seus dejetos e muco. Os sintomas iniciais são febre alta e tosse e muitos casos progrediram para pneumonia grave, síndrome de desconforto respiratório agudo, choque séptico e falência múltipla de órgãos, que podem evoluir para o óbito.
» POLIOMIELITE (PARALISIA INFANTIL)
Causada pelo poliovírus (sorotipos 1, 2, 3), que pode infectar crianças e adultos através do contato direto com as fezes ou com secreções expelidas pela boca de pessoas infectadas. A poliomielite foi praticamente erradicada nas áreas desenvolvidas do mundo com a vacinação sistemática das crianças, mas o vírus ainda está ativo em alguns países da África e da Ásia. Na maioria dos casos, a infecção pode ser assintomática, mas quando se manifestam, os sintomas variam de acordo com a gravidade. A prevenção está atrelada a hábitos de higiene.
Os três grupos decisivos
Os três grupos decisivos
Estado de Minas: 10/08/2014
Estado de Minas: 10/08/2014
Brasília –
Estrategistas da campanha presidencial recortam cenários, públicos-alvos
e afinam o discurso para melhor atingir os eleitores. De acordo com o
cientista político César Romero, três grandes grupos precisam ser
atendidos em uma corrida presidencial, pois têm o poder de decidir uma
eleição: a classe média escolarizada, os moradores das periferias das
grandes cidades, e os habitantes dos chamados grotões brasileiros.
Pesquisa feita pelo Estado de Minas nos programas de governo dos três principais presidenciáveis – Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Dilma Rousseff (PT) – mostra que eles estão antenados com essas demandas. E, segundo especialistas, são necessidades específicas: nos grotões, a tendência é uma atenção maior aos programas sociais do governo, embora as políticas agrárias também sejam importante. Nas periferias, as queixas mais latentes envolvem a questão de mobilidade urbana e o acesso aos serviços públicos essenciais, como saúde e educação.
Já a classe média escolarizada, que normalmente está em escolas particulares e utiliza menos os serviços públicos, sente mais proximidade com as propostas mais conceituais, como a reforma política, as políticas de inovação em ciência e tecnologia ou os discursos ambientalmente sustentáveis. O que não evita, naturalmente, que as carências e demandas permeiem os três grupos.
Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), é natural que as campanhas se debrucem sobre essas realidades distintas. “São grupos específicos de eleitores que, evidentemente, buscam a ascensão social por caminhos alternativos e que precisam ser percebidos pelos candidatos”, defendeu o parlamentar tucano. Imbassahy acredita que a escolha da proposta adequada faz com que as ideias do candidato se espalhem de maneira mais ágil e clara. “Por isso, é fundamental a clareza do discurso”, completou.
Um interlocutor da campanha presidencial de Dilma afirmou que o PT trabalha as estratégias voltadas para grupos específicos e considera, embora respeite os pontos de vistas apresentados pelo cientista político da PUC, que existem outros recortes eleitorais que precisam ficar no radar dos candidatos, sobretudo os presidenciais.
Ele cita como exemplo desse cuidado os trabalhadores e os jovens. “São públicos distintos, com linguagem e formas de abordagem específica, mas que permeiam todos os grupos sociais, inclusive os citados pelo cientista da PUC”, completou o estrategista dilmista.
Candidato a vice-governador em São Paulo na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) e um dos aliados mais fieis do presidenciável Eduardo Campos (PSB), o deputado Márcio França, também do PSB, afirma que, além dos pontos levantados por Romero, o partido ainda adota uma outra estratégia de discurso. “O cientista político fez um recorte geográfico. Nós nos baseamos também em um recorte social”, disse ele.
Por esse paradigma, o comando de campanha do PSB divide os eleitores em classes A+B; C; D+E. O primeiro grupo (A+B), segundo França, representa 21% do eleitorado; a classe C engloba 54% dos votos e as classes D e E somam 25%. O socialista adiantou ainda que o principal alvo são os eleitores da classe C.
A primeira justificativa, óbvia, é numérica. As outras têm uma conotação política e social mais refinada. “As pesquisas mostram que quem decide o voto nas famílias da classe C são os jovens, um público que, em tese, está mais próximo de nós por causa da Marina (Silva, candidata a vice de Eduardo)”, disse França. Outros dois fatores pesam consideravelmente nessa estratégia. “Apenas 15% desse público é próximo ao PT. Os demais 85% têm ojeriza aos partidos políticos e engrossam as filas dos indecisos e daqueles que votam branco ou nulo.”
Pesquisa feita pelo Estado de Minas nos programas de governo dos três principais presidenciáveis – Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Dilma Rousseff (PT) – mostra que eles estão antenados com essas demandas. E, segundo especialistas, são necessidades específicas: nos grotões, a tendência é uma atenção maior aos programas sociais do governo, embora as políticas agrárias também sejam importante. Nas periferias, as queixas mais latentes envolvem a questão de mobilidade urbana e o acesso aos serviços públicos essenciais, como saúde e educação.
Já a classe média escolarizada, que normalmente está em escolas particulares e utiliza menos os serviços públicos, sente mais proximidade com as propostas mais conceituais, como a reforma política, as políticas de inovação em ciência e tecnologia ou os discursos ambientalmente sustentáveis. O que não evita, naturalmente, que as carências e demandas permeiem os três grupos.
Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), é natural que as campanhas se debrucem sobre essas realidades distintas. “São grupos específicos de eleitores que, evidentemente, buscam a ascensão social por caminhos alternativos e que precisam ser percebidos pelos candidatos”, defendeu o parlamentar tucano. Imbassahy acredita que a escolha da proposta adequada faz com que as ideias do candidato se espalhem de maneira mais ágil e clara. “Por isso, é fundamental a clareza do discurso”, completou.
Um interlocutor da campanha presidencial de Dilma afirmou que o PT trabalha as estratégias voltadas para grupos específicos e considera, embora respeite os pontos de vistas apresentados pelo cientista político da PUC, que existem outros recortes eleitorais que precisam ficar no radar dos candidatos, sobretudo os presidenciais.
Ele cita como exemplo desse cuidado os trabalhadores e os jovens. “São públicos distintos, com linguagem e formas de abordagem específica, mas que permeiam todos os grupos sociais, inclusive os citados pelo cientista da PUC”, completou o estrategista dilmista.
Candidato a vice-governador em São Paulo na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) e um dos aliados mais fieis do presidenciável Eduardo Campos (PSB), o deputado Márcio França, também do PSB, afirma que, além dos pontos levantados por Romero, o partido ainda adota uma outra estratégia de discurso. “O cientista político fez um recorte geográfico. Nós nos baseamos também em um recorte social”, disse ele.
Por esse paradigma, o comando de campanha do PSB divide os eleitores em classes A+B; C; D+E. O primeiro grupo (A+B), segundo França, representa 21% do eleitorado; a classe C engloba 54% dos votos e as classes D e E somam 25%. O socialista adiantou ainda que o principal alvo são os eleitores da classe C.
A primeira justificativa, óbvia, é numérica. As outras têm uma conotação política e social mais refinada. “As pesquisas mostram que quem decide o voto nas famílias da classe C são os jovens, um público que, em tese, está mais próximo de nós por causa da Marina (Silva, candidata a vice de Eduardo)”, disse França. Outros dois fatores pesam consideravelmente nessa estratégia. “Apenas 15% desse público é próximo ao PT. Os demais 85% têm ojeriza aos partidos políticos e engrossam as filas dos indecisos e daqueles que votam branco ou nulo.”
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