O Globo - 09/12/2012
“Que tal nos inspirarmos na prioridade
dada à Educação pela presidenta e usar
nossa vocação mobilizadora para
lembrar ao governador que ele também
tem algumas coisas para vetar?”
Quando quebrei o protocolo e clamei “Veta, Dilma!” diante da presidenta,
em 4 de maio, apenas vocalizei o pedido de mais de três milhões
de brasileiro(a)s contra um Código Florestal retrógrado aprovado
no Congresso Nacional. Mas os vetos da presidenta ficaram
aquém do esperado pela sociedade civil: foram mantidas anistias
criminosas, e o governo, em vez de criar novas unidades de conservação
para dar um basta à destruição da Amazônia, diminuiu as já
existentes. Mais uma vez o Brasil saiu prejudicado pela pressão da
bancada ruralista e outros representantes do agronegócio — aliás,
grande financiador de campanha de muitos parlamentares.
Para não ficarmos chorando as pitangas, é bom lembrar que mesmo
o Código Florestal original não era respeitado e, portanto, se pelo
menos o que foi votado for aplicado sem concessões, sem impunidade,
utilizando todas as ferramentas disponíveis para o estado,
na prática podemos obter ganhos em relação ao quadro anterior,
que era só uma ficção sem aplicação real. Além disso, com o movimento,
provamos para nós mesmos e para nossos governantes que
somos capazes de fiscalizar, cobrar e participar das decisões políticas
que afetam nossas vidas e nosso futuro.
O governador Sérgio Cabral usou a expressão “Veta, Dilma!” como
mote para a recente passeata no Centro do Rio. A pergunta ainda
sem resposta é se haverá transparência de gastos e a aplicação
efetiva dos recursos mantidos no estado. Afinal, o Rio já dispõe de
muito dinheiro do petróleo e nem por isso vemos resolvidos problemas
crônicos como saneamento e saúde. Pra onde vão os royalties
que já recebemos?
Felizmente, dessa vez a decisão da presidenta Dilma foi muito
equilibrada: a validade de contratos já firmados foi assegurada, mas
uma redistribuição gradual mais equitativa dos recursos também
foi prevista, em prol de um projeto de desenvolvimento nacional.
Dilma vetou o que tinha que vetar e manteve o que tinha que manter.
De quebra, ainda mostrou aos brasileiro(a)s que nossa prioridade
deve ser a Educação: a medida provisória publicada esta semana
no Diário Oficial da União determina que ela receberá 100% dos recursos
provenientes de novos contratos.
Que tal nos inspirarmos na prioridade dada à Educação pela presidenta
e usar nossa vocação mobilizadora para lembrar ao governador
que ele também tem algumas coisas para vetar? É o caso da
demolição da Escola Friedenreich, uma das nossas melhores instituições
públicas de ensino, que será destruída para dar lugar a quadras
de aquecimento para o complexo do Maracanã. Pais e alunos
ainda não sabem o que será dos estudantes e não têm qualquer garantia
legal de que sequer continuarão juntos. É hora de juntar nossa
voz à de milhares de cariocas que já assinaram a carta de apoio
aos pais: escola não se destrói! Veta, Cabral!