Medidas antecipam tratamento da Aids
Governo anuncia oferta gratuita de remédios para os adultos que apresentam teste positivo antes mesmo de a doença se manifestar
Estado de Minas: 02/12/2013
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Caminhada na avenida litorânea em São Luís (MA) chama a atenção para a doença
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Rio – No Dia Mundial de
Combate à Aids, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou, ontem,
medidas que anteciparão o tratamento dos que são infectados pelo vírus
HIV e diminuirão os riscos de transmissão da doença no país. A principal
delas é a oferta de remédios antirretrovirais aos adultos com teste
positivo antes de apresentarem sintomas da doença ou comprometimento do
sistema imunológico.
O novo protocolo clínico permitirá que
pacientes infectados iniciem o tratamento logo após o diagnóstico.
Antes, o paciente era encaminhado a novos exames e só recebia a
medicação caso houvesse sinais de vulnerabilidade no sistema
imunológico. "Aprendemos que o ideal é oferecer a possibilidade de a
pessoa se tratar logo, antes de saber se a imunidade está reduzida",
disse Padilha, durante evento no Parque de Madureira, na Zona Oeste do
Rio. Hoje, apenas Estados Unidos e França adotam esse tipo de
procedimento, e o Brasil, de acordo com ele, será o primeiro a
oferecê-lo de forma gratuita.
Além disso, antecipar o tratamento
diminui o risco de transmissão em 96%, destacou. O que pode ser
importante, uma vez que o país tem 700 mil pessoas infectadas pelo HIV
por ano – dessas, cerca de 150 mil desconhecem que são portadoras do
vírus. "Elas estão perdendo a chance de se tratar", afirmou. Com maior
oferta do tratamento, 100 mil pacientes a mais deverão receber os
remédios em 2014.
Para antecipar os diagnósticos, o ministério
entregou ontem à Secretaria de Estado de Saúde do Rio a primeira Unidade
de Testagem Móvel (UTM), na qual serão realizados testes rápidos, cujo
resultado sai em até 30 minutos. A ideia é efetuar 1,7 mil testes por
mês. "Mas nada disso funciona se a gente deixar prevalecer o
preconceito", ressaltou.
No Brasil, os investimentos para o
combate à Aids devem chegar a R$ 1,2 bilhão em 2013 – R$ 770 milhões só
em medicamentos. Em 2014, Padilha espera ampliar esses investimentos
para R$ 1,3 bilhão. Em todo o país, manifestações marcaram ontem o Dia
Mundial de Combate à Aids.
NOVO MÉTODO O
ministro também anunciou que o Brasil desenvolve, por intermédio da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tecnologia que vai incorporar três
remédios usados atualmente no combate contra a Aids numa mesma pílula. O
novo método de tratamento (chamado 3 em 1) será testado, inicialmente,
no Rio Grande do Sul e no Amazonas, a partir de fevereiro. A ideia é
estendê-lo a todo o país no segundo semestre de 2014.
A escolha
desses estados levou em conta as estatísticas apuradas em 2012. No
Amazonas, a questão é a elevada taxa de mortalidade. Já entre os
gaúchos, a taxa de detecção é a mais elevada. Por lá, são feitos 41,4
diagnósticos a cada 100 mil habitantes, contra 20,2 na média do Brasil.
Só em Porto Alegre, essa proporção é de 93,7 casos. Para a coordenadora
da Unaids (órgão das Nações Unidas para o combate à Aids) no Brasil,
Georgiana Braga, o Rio Grande do Sul vive um quadro de epidemia.
Medicamentos
antirretrovirais serão testados no Rio Grande do Sul com grupos
considerados mais vulneráveis, como profissionais do sexo, homens que
fazem sexo com homens, usuários de drogas e pessoas em situação de rua. O
acordo foi assinado ontem entre o Ministério da Saúde e o governo do
Rio Grande do Sul. "Na primeira etapa, serão 100 pessoas voluntárias,
mas o número será expandido até o fim do ano", afirmou o secretário de
Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa.
Papa pede acesso a medicamentosO
papa Francisco pediu ontem que todo portador de Aids tenha acesso aos
cuidados de que necessita, por ocasião do Dia Mundial de Luta contra a
Aids. "Hoje é o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Vamos expressar nossa
proximidade para com as pessoas que padecem dessa doença, especialmente
as crianças", afirmou o pontífice, depois de fazer a tradicional Oração
do Ângelus na Praça de São Pedro, no Vaticano. "Rezemos por todos,
também pelos médicos e pesquisadores. Que cada enfermo, sem exclusão
alguma, possa ter acesso aos cuidados de que necessita", afirmou.
Ação para conscientizar
Shirley Pacelli
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Em Belo Horizonte, oficinas e apresentações musicais marcaram o Dia Mundial de Combate à Aids
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De 2001 a outubro de 2013 foram
notificados 6.349 novos casos de Aids em Belo Horizonte. Só no ano
passado, houve 595 registros da doença, o maior índice desde 2004. Para
aumentar a conscientização, a Secretaria Municipal de Saúde promoveu
ontem, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, o Dia Mundial de
Luta contra a Aids. Segundo o secretário municipal de Saúde, Fabiano
Pimenta, até fevereiro de 2014, todos os centros de saúde de Belo
Horizonte estarão capacitados para fazer o teste rápido do Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV). O resultado desse método sai em no máximo
30 minutos. Até o momento, 90 dos 147 centros já estão capacitados para
realizar esse procedimento. No ano que vem, um teste caseiro para
diagnóstico de HIV começará a ser usado no país. Desenvolvido pela
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o exame é feito com base em análises de
saliva.
O evento contou com oficinas de sexualidade,
distribuição de camisinhas e de material educativo, além de ações de
promoção à saúde e redução de danos. A população fez fila para aferir a
pressão arterial, medir glicemia e receber orientações de saúde bucal.
Lian Gong, academia da cidade e apresentações musicais diversas
completaram o dia.
O aposentado Edgar Silvério dos Santos, de 59
anos, gostou da iniciativa de conscientização, mas confessou que há
muitos anos não faz o teste. “Fiquei sabendo que não tinha Aids na época
que doei sangue. Nunca me preocupei com isso, sou casado há 35 anos”,
afirma. Já Sirlene de Oliveira Silva, de 37, faz o teste com frequência,
porque doa sangue duas vezes por ano.
Lucinéia Carvalhais,
coordenadora municipal de saúde sexual, HIV e hepatites virais, explica
que as pessoas ainda não incluíram o teste de HIV na sua rotina de
cuidados com a saúde, como o controle do nível do colesterol, por
exemplo. “Mesmo que tenha o hábito do sexo seguro, pode ter existido uma
época que você não se prevenia. A questão não é só fazer o teste, mas
ter uma postura sexual consciente", explica. Segundo ela, entre o sexo
feminino, 60% dos casos de Aids ocorrem entre 35 a 59 anos – o que quer
dizer que as mulheres procuram tardiamente o diagnóstico.