Penguin Random House, líder mundial no setor, compra selos do grupo espanhol Santillana por € 72 milhões
ANDRÉ MIRANDA
andre.miranda@oglobo.com.br
MAURÍCIO MEIRELES
mauricio.meireles@oglobo.com.br
A onda de fusões de grandes editoras
do mundo tem mais um capítulo, e
mais uma vez com reflexos no Brasil. O
conglomerado editorial Penguin Random
House, o maior do mundo, anunciou
ontem a compra de selos e editoras
do grupo espanhol Santillana, em
uma transação fechada por € 72 milhões.
É um negócio que repercute em
todo o mercado livreiro de língua espanhola
e que, no Brasil, promoverá a
união de duas das maiores casas editoriais
do país: a Companhia das Letras,
que já fazia parte da Penguin desde
2011, e a Objetiva, cujo sócio majoritário
era a Santillana desde 2005. Juntas,
elas serão a terceira maior editora brasileira
em vendas para livrarias, com
6% do mercado, atrás do Grupo Editorial
Record e da Sextante.
A aquisição dos selos da Santillana pela
Penguin Random House se restringe
ao segmento de obras gerais — do qual a
Objetiva faz parte, assim como Alfaguara
e Suma de Letras. O segmento de livros
didáticos, que representou 87% das vendas
do grupo espanhol em 2013 e cujo
braço no Brasil é a editora Moderna,
continua sob controle da Santillana.
O fundador da Objetiva, Roberto Feith,
vendeu a participação de 24% que ainda
detinha na empresa para a Penguin Random
House, mas vai manter seu cargo de
diretor editorial. A Companhia das Letras,
por sua vez, não terá sua composição
acionária afetada pelo negócio: o
fundador e diretor-geral, Luiz Schwarcz,
permanece com seus 55% da editora.
Schwarcz também será o representante
da Penguin Random House Brasil, empresa
que acaba de ser formada com o anúncio
da aquisição.
Mas a intenção das editoras brasileiras,
de acordo com Schwarcz e Feith, é
que elas sigam como empresas diferentes,
com catálogos próprios.
— Foi uma história cheia de idas e
vindas. Em dado momento da negociação
com a Santillana, a Penguin Random
House cogitou até não incluir a
operação brasileira — afirma Luiz
Schwarcz. — Mas os catálogos seguem
independentes. A Objetiva continua
com sede no Rio, e a Companhia das
Letras, em São Paulo.
A história se complicou quando a Penguin,
que já era sócia da Companhia das
Letras desde dezembro de 2011, se fundiu
com a Random House, numa negociação
encerrada no meio do ano passado.
— A Random House já negociava
comprar a Santillana desde 2012, antes
mesmo de se fundir com a Penguin.
Naquela ocasião, surgiu a tese de comprarem
a minha parte da Objetiva, e me
perguntaram se eu venderia. Eu disse
que sim, porque achava uma oportunidade
boa para a editora — diz Feith.
Com a união de Companhia das Letras
e Objetiva, a empresa carioca deve
passar a agenciar autores brasileiros no
mercado internacional — trabalho que
a paulista já faz há alguns anos. Além
disso, as duas terão acesso privilegiado
aos originais de autores agenciados pela
Penguin Random House.
— Sempre gostei de vender nossos
autores para fora. Fiz isso com Rubem
Fonseca, Moacyr Scliar e outros. Não
via como um negócio, mas agora encaramos
assim. O departamento de direitos
da Penguin é muito importante para
o faturamento da editora. E um dia
também será para Objetiva e Companhia
das Letras — diz Schwarcz.
A transação também pode levar a
uma aproximação das áreas comercial
e de distribuição de Objetiva e Companhia
das Letras, que passariam a ter
mais força para negociação com pontos
de venda e uma dinâmica maior para a
distribuição de seus livros. Outra mudança
que deve ser percebida nos próximos
anos é o fortalecimento de um
movimento que já vinha se desenhando
nas duas editoras, de maiores apostas
em obras de caráter mais comercial.
— No âmbito internacional, as grandes
editoras vão perceber que precisam
de uma estratégia de participação global.
Já no Brasil, Ediouro, Record, Rocco
e outras tendem a perder terreno se também
não se consolidarem ou encontrarem
um parceiro internacional — afirma
o economista Carlo Carrenho, criador
do Publishnews, boletim de notícias do
mercado editorial brasileiro.
PRESENÇA FORTE NA AMÉRICA LATINA
Hoje o mercado editorial mundial é
concentrado em cinco grandes grupos.
Além da Penguin Random House, o
maior deles, há Hachette, Simon and
Schuster, Harper Collins e Macmillan.
Para Carrenho, na esteira do que aconteceu
com Santillana e Penguin, outros
grupos internacionais podem chegar
ao mercado brasileiro. Casos recentes
foram o da editora portuguesa Leya,
que chegou ao Brasil em 2009 e, este
mês, adquiriu o controle completo da
carioca Casa da Palavra; e da espanhola
Planeta, que chegou ao Brasil em 2003.
O negócio anunciado ontem consolida
a Penguin Random House como líder no
mercado de língua espanhola. A empresa
já havia adquirido, no ano passado, o
controle total da Random House Mondadori,
joint venture formada em 2001 entre
a editora americana e a italiana Arnoldo
Mondadori, que tem forte presença nos
países latinos e que tinha como uma de
suas maiores concorrentes justamente a
Alfaguara.
— A Alfaguara tem um prestígio muito
grande, e essa aquisição vai fortalecer
muito a presença da Penguin Random
House na América Latina — afirma
Felipe Lindoso, consultor de políticas
de livro e leitura.