segunda-feira, 20 de maio de 2013

Banda estreita, lenta e cara


Revista Veja - 20/05/2013


O Programa Nacional de Banda Larga, lançado há três anos pelo governo federal, prometia internet de 1 mega a 35 reais mensais. Hoje, com velocidade inferior e custo bem mais alto, não chegou à metade das cidades prometidas

Pieter Zalis e Alexandre Aragão

AULA ANALÓGICA - Os computadores foram instalados na escola da professora Rosemary, em Goiás, mas a internet não funciona: aulas só com atividades off-line
AULA ANALÓGICA - Os computadores foram instalados na escola da professora Rosemary, em Goiás, mas a internet não funciona: aulas só com atividades off-line (Cristiano Mariz)



Se o governo federal fosse uma empresa privada, poderia ser alvo de uma ação por propaganda enganosa no Procon. Seu Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), lançado com foguetório há três anos, prometia oferecer internet rápida e barata para que os brasileiros das regiões mais pobres pudessem estudar, informar-se, divertir-se e movimentar a economia comprando pela rede. Os objetivos seriam atingidos com a criação, a partir de trechos já existentes, de uma rede nacional de fibra óptica, a ser gerida pela Telebrás — a estatal de telecomunicações que foi reativada especialmente para dar vida ao programa. O governo ofereceria a estrutura e abriria concessões para que operadoras de telefonia conquistassem novos clientes.

O anúncio oficial dizia que, até o fim de 2014, 40 milhões de pessoas, em 4.278 municípios de todos os estados do Brasil, poderiam contar com o serviço. Na propaganda, uma maravilha. Na vida real, porém, nada saiu como o anunciado. Passada mais da metade do prazo estipulado para a conclusão do plano, o governo descumpre todas as promessas que fez.

A reportagem de Veja telefonou para as prefeituras dos 100 municípios escolhidos para ser os primeiros a receber a banda larga do governo. O levantamento, acrescido de dados fornecidos pela Telebrás, concluiu que, em 46 deles, a banda larga popular ainda é uma miragem. Ao todo, a internet está disponível em apenas 2.412 das cidades inscritas no programa, ou seja, 56% do total. Não há mais tempo nem verba para cumprir a meta e, mesmo nos locais a que o PNBL chegou, o serviço é bem mais caro do que deveria e a banda não pode ser chamada propriamente de larga.

Se a promessa de conexão de 1 megabit por segundo estivesse sendo cumprida, um usuário teria de esperar não mais do que três minutos e meio para, por exemplo, carregar o vídeo da música Gangnam Style, o mais visto do YouTube no ano passado. Não é o que ocorre. Em Santo Antônio do Descoberto (GO), a primeira cidade contemplada pelo programa, a conexão, que nunca foi boa, piorou muito desde o início do ano. Embora disponha de uma sala de informática montada, a professora Rosemary Tavares de Oliveira, da Escola Municipal Machado de Assis, é obrigada muitas vezes a limitar as aulas a atividades offline. "Tenho dificuldade de abrir sites didáticos para mostrar aos alunos", reclama.

Se comparado a outros programas públicos de popularização da banda larga pelo mundo, o brasileiro é uma piada. Fica atrás não só dos similares existentes em potências digitais, como a Coreia do Sul e o Japão, mas também daqueles em operação em países como a Eslováquia. No quesito velocidade, os únicos países que perdem para o Brasil são Lituânia e Equador, segundo estudo conduzido pela unidade de inteligência da revista inglesa The Economist.

Outro compromisso que o PNBL descumpre diz respeito ao preço do serviço. O governo fixou em 35 reais o valor máximo a ser cobrado do consumidor, o que não é exatamente uma barganha, mas é pelo menos 40% mais barato que a média do mercado. O problema é que ninguém consegue ser atendido por essa tarifa. Em três das quatro operadoras de telefonia que têm convênio com o Ministério das Comunicações — Oi, Telefonica e Algar Telecom —, os pacotes custam até o dobro do prometido, consequência da estratégia de venda casada. Com autorização estatal, elas só oferecem internet a quem contrata também uma linha telefônica e paga uma assinatura mensal pelo pacote. Resultado: desde o terceiro trimestre de 2011, as companhias conseguiram convencer apenas 2.5 milhões de clientes a aderir aos seus planos. "É muito pouco", avalia o presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Basilio Perez.

Todas as questões que emperram o PNBL estüo relacionadas, na origem, a dois problemas endêmicos no Brasil: a falta de investimento do poder público e a ausência de planejamento. Entre janeiro de 2010 e abril deste ano, o governo liberou apenas 26% da verba reservada ao plano — 132 milhões de reais. É uma cifra ínfima diante da complexidade de um projeto de construir uma rede de fibra óptica em um país com a dimensiio do Brasil. "A Telebrás, como estatal, nao tem capacidade nem dinheiro para liderar um programa desse porte", afirma o ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros. Na Austrália, cujo território equivale a 90% do brasileiro, os investimentos previstos sao catorze vezes maiores — e a velocidade da internet será 100 vezes superior.

Enquanto a Telebrás descumpre seus compromissos, o improviso toma o lugar que deveria ser do serviço público. O município de Presidente Tancredo Neves (BA), a 263 quilômetros de Salvador, escolhido para ser um dos 100 primeiros contemplados pelo programa, até hoje está desconectado. Para não ficar isolada do mundo, a prefeitura contratou uma provedora de acesso que fica numa cidade vizinha. Mesmo assim, a internet é tão lenta que o prefeito e seus secretários mal conseguem enviar e receber e-mails. Na alagoana Messias, a 34 quilômetros de Maceió, o empresário Erisson Cavalcante montou uma empresa de acesso à internet para aproveitar o vácuo do serviço público: "A Telebrás esteve aqui no ano passado para iniciar a instalação da banda larga, mas nunca voltou", conta Cavalcante. No município de Vespasiano Corrêa (RS), predominantemente rural, o prefeito Aurio André Coser (PP) usou recursos municipais para espalhar antenas de forma a levar a web aos cantos mais afastados. "A velocidade não chega a ser boa, mas é razoável", diz Coser. Hoje, em uma fazenda em Vespasiano Corrêa, é possível ter, por 36,90 reais, acesso à web com velocidade de 256 kilobits por segundo. Assim, se tiver catorze minutos de paciência, qualquer morador consegue assistir a Gagnam Style. Melhor do que nada.

Com o prazo praticamente vencido, o PNBL ainda tem muitas lacunas. Mas, em vez de empenhar-se para resolvê-las, o governo adotou outra saída. Vai lançar em julho o PNBL 2.0, com mais propaganda e novas promessas, como a oferta de internet a 4 megabits por segundo e a desoneração fiscal para empresas que aderirem ao plano. Remendar um projeto nao cumprido com uma "nova versüo" dele mesmo foi exatamente a receita usada no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e no Minha Casa, Minha Vida. Estudo do Banco Mundial mostra que 10% de aumento de acesso à banda larga pode gerar um crescimento de até 1.38% no PIB de um país. Com as tímidas taxas de crescimento apresentadas nos últimos dois anos e um início de ano desanimador para a economia, esse impulso viria bem a calhar. Mas, enquanto o mundo gira a muitos megabits por segundo, o governo brasileiro segue rodando a manivela.

O homem é um santo - João Pereira Coutinho

folha de são paulo

O homem é um santo


Richard Nixon foi um dos grandes presidentes americanos do século 20. É preciso repetir? Sim, conheço bem o caso Watergate e sei que é imperdoável espiar opositores políticos. Nixon, depois de arrastar os pés, agiu em conformidade e demitiu-se.
Mas também conheço o resto. O fim da guerra do Vietnã - um conflito iniciado por Sua Alteza Real, John F. Kennedy. A abertura diplomática entre Washington e Pequim (e entre Washington e Moscou). E, claro, uma economia doméstica sobre os carris.
Por isso é ofensivo fazer comparações entre Nixon e Obama a respeito dos últimos escândalos que rebentaram nos Estados Unidos. Ofensivo para Nixon, não para Obama.
Começa por ser ofensivo pelo motivo mais básico: Nixon deixou um legado, Obama sairá sem ele. Nem sequer o encerramento de Guantánamo o atual presidente foi capaz de oferecer ao mundo, apesar da sua retórica pacifista (e do Prêmio Nobel respectivo).
Mas a comparação é ofensiva por outro motivo: Nixon saiu pelo próprio pé, Obama nem sequer contempla a hipótese. E, no entanto, o que nos dizem os recentes escândalos?
A revista "The Economist" revisita os três. Leitura imprópria para menores.
Para começar, parece que o Departamento de Justiça interceptou registros telefônicos de jornalistas da Associated Press. O Departamento de Justiça, relembra a revista, depende diretamente do presidente, o que sem dúvidas qualifica o abuso. Aguardam-se investigações.
Depois, a Receita Federal resolveu imitar o espírito tolerante do saudoso Joseph McCarthy e entendeu que era sua missão caçar algumas bruxas: no caso, caçar opositores políticos do presidente, a começar pela tribo do "Tea Party". Perfeito.
A juntar a tudo isso, existe ainda aquele atentado na Líbia, em 2012, que resultou na morte do embaixador americano. Um fato "acidental", próprio de manifestações violentas?
Longe disso. Um ataque terrorista premeditado (e talvez negligenciado pela Casa Branca). Mas admitir isso, antes das eleições de 2012, não seria o melhor cartão de visitas para Obama.
Curioso: em 2004, José María Aznar tentou esconder a natureza jihadista dos atentados de Madrid, atribuindo os ditos à ETA. Havia soldados espanhóis no Oriente Médio a combater junto
das tropas de Bush e Aznar não queria que esse "pormenor" prejudicasse o seu herdeiro, Mariano Rajoy.
Azar. Os eleitores espanhóis perceberam a manobra e, três dias depois dos atentados, puniram os conservadores pelo voto.
Grampos a jornalistas, investigações fiscais a opositores políticos, incompetência (e possível encobrimento) nos atentados da Líbia: qualquer um dos escândalos chegava e sobrava para definir uma Presidência. Os três juntos, para acabar com ela. Isso, claro, se Obama fosse um político como os outros.
Não é. Em 2008, os americanos não elegeram apenas um presidente. Eles canonizaram em vida um homem que já virou santo. E os santos não pertencem mais a este mundo.
João Pereira Coutinho
João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em Ciência Política. É colunista do "Correio da Manhã", o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Record). Escreve às terças na versão impressa de "Ilustrada" e a cada duas semanas, às segundas, no site.

Julio&Gina e Quadrinhos

folha de são paulo


CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Brasileiros ganham fama ruim praticando assaltos e arrastões em jogos on-line

folha de são paulo

ALEXANDRE ORRICO
DE SÃO PAULO

"Aqui é Brasil, seu safado!", gritou o jogador identificado pelo apelido L3L3K antes de assassinar um norte-americano no "DayZ", game de tiro em primeira pessoa. "Tinha que ser brasileiro", reclamou a vítima.
No jogo, ambientado em um mundo pós-apocalíptico apinhado de zumbis, os participantes têm que cooperar para sobreviver.
Editoria de Arte/Folhapress
Mas L3L3K faz parte de um grupo de jogadores que prefere roubar equipamentos e enganar outros gamers com o objetivo de "tocar o terror".
Há anos, o comportamento "tóxico" (termo usado pela indústria) é apontado por jogadores de games de multijogadores como tipicamente brasileiro.
"DayZ" é apenas o alvo mais recente, mas outros títulos, como "Call of Duty", "World of Warcraft", "DotA" e "Minecraft", entre vários outros, também têm legiões de arruaceiros brasucas.
No fórum do game "League of Legends", é possível ler frases como "brasileiros são o submundo dos games on-line, a personificação do que é ser troll, o mais infame e odiado tipo de jogador" e "graças a Deus, abriram servidores brasileiros, assim eles entram menos por aqui [nos servidores internacionais]".
O problema, é claro, não é exclusivo do Brasil. Mas nenhum outro país tem uma identidade negativa tão forte. Alguns brasileiros, na tentativa de fugir do estereótipo, mudam a nacionalidade de seus perfis no jogo, a fim de não serem rechaçados.
"Podemos afirmar que esse não é um problema que tem origem no game. O jogador é, no mundo on-line, reflexo de como vive no mundo real", diz Julio Vieitez, diretor geral da Level Up! (de games como "Grand Chase" e "Perfect World") no Brasil.
GANGUE DOS 'HUE'
"Jogadores brasileiros em games on-line são uma gangue, e não um grupo", disse Isac Cobb, desenvolvedor independente, durante a feira de jogos PAX East 2013, em Boston, nos EUA.
Cobb chegou a cogitar o bloqueio dos brasileiros no novo jogo, mas disse que ainda não há nada decidido.
Entre as reclamações, estão a realização de assaltos, mendicância, ataque a membros do próprio time e outras atrocidades virtuais.
"Curtimos tocar o terror", admite Caio Simon, 19, jogador de "DayZ". "É só um jogo, estamos nos divertindo. Não é para levar tão à sério."
Esse tipo de jogador é, às vezes, chamados de "hue", por causa da risada típica, normalmente disparada após alguma barbaridade cometida: "HUEHUEHUE".

Redes sociais tentam complicar exclusão de conta; saiba como sair delas

folha de são paulo

AZADEH ENSHA
DO "NEW YORK TIMES"

The New York TimesPrimeiro você se deixa encantar por uma rede social ou serviço de web e não consegue passar um dia sem visitá-lo. Mas então o site começa a perguntar como você está se sentindo, onde está e com quem, e por que não compartilha coisas como antes.
Não demora para optar pelo melhor caminho: a separação. Mas encerrar um relacionamento com os principais serviços on-line pode ser tão difícil quanto se separar de um parceiro romântico que não acredita que tudo acabou.
E há bons motivos para isso: quanto mais usuários, mais lucro para essas empresas, que têm receitas vinculadas à venda de publicidade dirigida, baseada nos dados dos internautas.
Talvez nenhuma rede social entenda melhor isso do que o Facebook, cujo presidente-executivo, Mark Zuckerberg, anunciou, orgulhosamente, em outubro de 2012, que o site havia ultrapassado 1 bilhão de usuários ativos.
"Tudo gira em torno de usuários que criam conteúdo e curtem coisas, até que um dia uma marca percebe o fato e destina verbas publicitárias ao site. O produto deles somos nós", disse Jeremiah Owyang, analista setorial do Altimeter Group.
Mas nem todos os sites adotam uma abordagem "jamais vou permitir que você me abandone". Alexis Ohanian, cofundador do Reddit, um site social de notícias, disse que, se um usuário quisesse apagar uma conta, "o processo deveria ser tão fácil quanto o de criar uma".
"Cabe a nós criar um produto de ótima qualidade, sem reter usuários simplesmente porque é muito difícil encontrar a saída", afirmou.
E mesmo optando por dizer adeus, como em "Casablanca", vocês sempre terão Paris.
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TWITTER
  1. Vá ao menu "Preferências", desça até o final e clique no link de "Desativar conta" que existe no pé da página
  2. O Twitter é emotivo quando chega o momento: "Isso é um adeus? Tem certeza de que não gostaria de reconsiderar? Foi algo que dissemos? Conte-nos"
  3. Caso você realmente queira sair, clique no botão "Desativar" e confirme com sua senha
  4. Se quiser preservar as recordações -como os tuítes que escreveu no topo da Torre Eiffel-, clique em "Solicitar seu arquivo" no mesmo menu de preferências, logo acima do link de desativação
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LINKEDIN
  1. Para cancelar a conta, faça login na página inicial e selecione a aba "Configurações", no menu que surge quando você desliza o mouse sobre seu nome de usuário, no canto superior direito da tela
  2. Clique em "Conta" e em "Encerrar sua conta"
  3. Por motivos de privacidade, é uma boa ideia remover todos aqueles aplicativos de terceiros associados à conta. Para fazê-lo, basta clicar em "Grupos, empresas e aplicativos", acima da caixa "Conta", clique em "Visualizar seus aplicativos", marque os aplicativos a remover e clique em "Remover"
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MYSPACE
  1. É fácil se você se lembrar do e-mail que usava para a conta no Myspace, e de sua senha no site. Se ainda tem essas informações, basta ir até a aba "Minhas Coisas", escolher "Conta", sob "Configurações" no menu deslizante e selecionar "Cancelar Conta", sob "Configurações de Conta e Privacidade". Você receberá um e-mail do Myspace pedindo que confirme a solicitação
  2. Caso você não tenha mais acesso àquela velha conta de e-mail, o Myspace permite que você feche sua conta desde que comprove sua identidade preenchendo alguns dados em myspace.desk.com/customer/widget/emails/new
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FACEBOOK
  1. Faça o login em sua conta e vá a www.facebook.com/help/delete_account
  2. Após marcar "Excluir minha conta", insira sua senha
  3. Para excluir a conta, o Facebook requer que você explique o motivo da suspensão, como "dedico tempo demais ao Facebook" ou "não entendi direito como usar o Facebook"
  4. Depois de selecionar o motivo, é preciso clicar em "confirmar", inserir de novo a senha e clicar em "desativar agora"
  5. Não é surpresa que o Facebook se despeça dizendo "esperamos que volte em breve"
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GOOGLE+
  1. Faça login e clique no um Início, ao lado de um ícone de casa
  2. Escolha o último item, "configurações", e desça até o final da lista, onde verá uma aba chamada "Desativar Google+", que lhe permitirá escolher entre apagar apenas conteúdo da rede Google+ ou todo o seu perfil no Google
  3. É importante apontar o que deve e o que não deve ser apagado. Círculos, posts e comentários desaparecerão. As fotos não serão apagadas; é preciso removê-las por meio do Picasa Web Albums
  4. Para ocultar apenas elementos do perfil, vá à seção "sobre"
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OUTROS SITES
Os sites Delete Your Account e AccountKiller compilaram extensas informações sobre como desativar contas em muitos outros sites
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Luli Radfahrer

folha de são paulo

Nas profundezas da internet
Para muita gente é ali que os tais hackers pedófilos neonazistas traficam drogas e órgãos de bebês chineses
Sou usuário da "deep web". E não vejo problema algum nisso. Faço muitas pesquisas em bases de dados e bibliotecas específicas, daquele tipo em que o Google Acadêmico só agora começa a entrar. Na USP, muitos dos trabalhos de alunos não estão prontos para irem a público, por isso protejo seu conteúdo do acesso por mecanismos de busca.
Hoje fala-se muito nessa internet "escondida", inacessível pelos browsers comuns. Como acontece com todo ambiente novo, ela ganhou uma mitologia própria, tornando-se o habitat do que há de mais perverso na mente humana. Para muita gente é ali que os tais hackers pedófilos neonazistas traficam drogas e órgãos de bebês chineses, invisíveis aos olhos da lei.
Como tudo no mundo, nada é tão simples. A "deep web" nada mais é do que a parte da internet que não foi indexada pelo Google e seus concorrentes, cerca de 99% da rede.
Todo mundo já acessou documentos dela, mesmo que nunca tenha baixado um filme, aplicativo ou música ilegal. Boa parte do tráfego de informações financeiras, comerciais, estratégicas, científicas e administrativas se dá escondido do público. Não são conspirações nem lavagem de dinheiro, mas transações como extratos bancários e exames laboratoriais que, apesar de usarem a internet, não são públicos.
Também há repositórios privados, redes militares, fóruns estratégicos, intranets e laboratórios de pesquisa cujos dados, estratégicos, valem uma nota e precisam ser restritos a assinantes.
Se imaginarmos a web como espaço público cheio de bibliotecas, bancos, museus e shoppings, a "deep web" é composta por seus bastidores, em que estranhos não são bem-vindos.
Quem vai atrás deles corre o mesmo risco de quem entra na favela para comprar maconha, temendo igualmente a polícia e o ladrão. Um rapaz arrumado em um prédio na Cracolândia é mais suspeito do que seus moradores, muitos deles inocentes.
No mundo digital as aparências não são tão claras. Por isso browsers específicos, como o Tor, garantem o anonimato de seus usuários por meio de conexões distribuídas. O acesso é mais lento, recomendado apenas para quem pretende driblar firewalls, consciente do risco que isso representa. Repórteres o utilizam para escapar das restrições de censura em regimes fechados. Usando o mesmo canal, várias operações ilegais são conduzidas em anonimato, pagas em bitcoins.
Dentro desse mercado negro existem fóruns e wikis, cheios de links para orientar os turistas. Boa parte são golpes descarados ou arapucas. Imagine sua reação a uma plaquinha dizendo "vendem-se metralhadoras" em um barraco de favela e fica fácil entender que, como no mundo físico, quem pretende entrar na legalidade o faz por indicação, não por cliques em links.
Infelizmente muitos jovens não são tão espertos. Imbuídos de espírito de aventura e transgressão, animados com os resultados de seus experimentos com sexo, drogas e rock, muitos não têm uma percepção da realidade ampla o suficiente para distanciá-la da ficção. Como quem joga um novo game, se entusiasmam com o que encontram, se divertindo em chocar os colegas com novas perversidades. É tudo muito fascinante, até que alguém se machuque. Aí só resta torcer para que não seja sério.
Não acredito que grupos neonazistas os recrutem porque essas associações, como qualquer outra, precisam de dinheiro. É possível que alguns percam a noção do limite e do aceitável, mas o mais provável é que tudo isso seja esquecido. Minha geração cresceu exposta a "Faces da Morte" e não criou mais psicopatas do que estaria destinada. O grande perigo é ter seus computadores --e os de seus familiares-- invadidos, gerando um prejuízo bastante palpável.
A internet, profunda ou na superfície, não é a Disneylândia. Como toda associação humana, tem coisas boas e ruins. É preciso conhecê-la e desmistificá-la, tirando dela o que há de melhor.

Hábito de ler se transforma em franquia

folha de são paulo

MERCADO MPME
Maior escolaridade reduz mortalidade das empresas
Fatia de donos de negócio com pelo menos ensino médio completo saltou de 38% para 53% na década
Nova geração de donos de negócios também empreende mais por oportunidade do que por necessidade
MARIANA BARBOSADE SÃO PAULOO empreendedor brasileiro está mais escolarizado, o que está contribuindo para o aumento da longevidade das empresas.
De 2001 a 2011, a fatia dos donos de negócio que haviam cursado o ensino médio completo (pelo menos 8 anos de estudo) saltou de 38% para 53%. Já a fatia dos que cursaram até o ensino fundamental completo (0 a 7 anos de estudo) caiu de 62% para 47%, de acordo com levantamento do Sebrae feito com base em números do IBGE.
Para o Sebrae, esse aumento de escolaridade tem relação direta com o aumento da expectativa de vida das empresas. Em 2001, de acordo com a entidade, 51% das empresas conseguiram comemorar o segundo ano de existência. Em 2011, essa parcela passou para 73%.
"O jovem está empreendendo mais cedo e tem mais escolaridade do que o velho empresário do passado, que empreendia por necessidade", diz o presidente do Sebrae nacional, Luiz Barretto.
Se há uma década de cada dez empresas abertas, cinco eram movidas por necessidade, hoje são apenas três. As outras sete nascem por oportunidades de mercado.
"O mercado consumidor cresceu com a ascensão da classe média, com o aumento da renda e do emprego, ampliando as oportunidades para o empreendedor", afirma Barretto.
Mas há uma outra razão que ajuda a explicar a maior longevidade das empresas, além da maior escolaridade do empresário e do aumento da renda do consumidor: o Super Simples.
Implementado há seis anos, o Super Simples tem 7,4 milhões de inscritos. "A lei é muito boa, reduziu a carga tributária em torno de 40% e diminuiu a burocracia. Na mesma linha, o MEI (microempreendedor individual) já formalizou 3 milhões de donos de negócios com faturamento de até R$ 5.000.
"Quem tem mais escolaridade tem mais capacidade de planejar", diz Barretto. "E quando você associa oportunidade --economia em crescimento e menos burocracia-- com escolaridade, a chance de a empresa sobreviver é maior."
O aumento da escolaridade entre donos de negócio acompanhou um movimento que se deu na população em geral. No entanto, proporcionalmente, os donos de negócio tendem a ser mais instruídos que a média geral.
Entre os donos de negócio, 22,4% tinha o fundamental incompleto em 2011 (ante 31,6% uma década antes).Na população com dez anos ou mais, 50,2% não tinha completado o fundamental em 2010, ante 65,1% em 2000.
E, enquanto o percentual de brasileiros com ensino superior completo subiu de 4,4% para 7,9%, entre os empresários essa fatia aumentou de 7,4% para 10,2%.

    Seminário vai discutir educação empreendedora
    DE SÃO PAULOA inclusão do ensino empreendedor em escolas e universidades será tema de um seminário que o Sebrae promove em Brasília entre os dias 27 e 29 de maio.
    "Precisamos difundir conceitos de gestão e suscitar nos jovens o desejo de empreender", diz o presidente do Sebrae, Luiz Barretto. "Não vai haver carteira assinada para todos no século 21. O empreendedorismo tem que ser uma alternativa real de inclusão produtiva."
    O Sebrae já trabalha em parceria com Estados e municípios e com vinte universidades (públicas e privadas). Fornecendo material de apoio e treinamento de professores para ajudá-los a inserir, de acordo com a faixa etária, temas ligados ao empreendedorismo e à educação financeira no conteúdo escolar.
    "O aumento da escolaridade trouxe muitos ganhos. Mas, se eu adicionar isso a um conteúdo de negócios e empreendedorismo desde o ensino fundamental, vamos obter ganhos ainda maiores nos próximos anos", diz Barretto. "Precisamos dialogar com a sociedade para mostrar como isso é importante e como isso pode fazer a diferença."

      A partir de livros de negócios e planejamento financeiro, empresa oferece cursos
      COLABORAÇÃO PARA A FOLHAFoi por meio da leitura que o empresário de Blumenau (SC) João Henrique Cristofolini, 22, descobriu a vontade de abrir um negócio próprio.
      Desde os 13 anos, tinha o hábito de ler biografias de empreendedores de sucesso e livros sobre negócios. Na época, o que mais o marcou foi "Pai Rico, Pai Pobre".
      "Eram coisas que eu não aprendia na escola nem com a família, mas sempre tive vontade de entender, conhecer histórias de empresários, saber fazer investimentos."
      Aos 14 anos começou a trabalhar na empresa da família, como recepcionista. Ao sair, aos 18 anos, já havia passado pelas áreas de vendas e treinamento.
      Passou a investir seu salário, que diz ser simbólico, tanto em renda fixa como em fundos de investimento em ações. A intenção era somente aprender melhor sobre o que lia nos livros, diz.
      MAIS LEITURA
      Dessas experiências, chegou a uma conclusão: "A maior parte das pessoas não aprende sobre educação financeira nem na escola nem fora dela. Um dos principais motivos disso é por que elas não gostam de ler".
      Daí surgiu o conceito da Mais Educa, microfranquia que oferece cursos on-line baseados em best-sellers de negócios e planejamento financeiro. Entre os livros que viraram cursos, estão "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" e "Dinheiro: os segredos de quem tem", escritos por Gustavo Cerbasi.
      As aulas podem ser oferecidas de forma presencial ou on-line. Os cursos têm duração média de 12 horas e custam cerca de R$ 300.
      Cristofolini diz que parte da adaptação dos livros para o formato de curso é feita internamente, com profissionais trazidos de outras franquias de educação --como Wizard e Kumon.
      FRANQUIA
      Após o lançamento da Mais Educa, em julho de 2012, Cristofolini sentiu que a empresa precisava de dedicação exclusiva. Decidiu parar a graduação que fazia em marketing.
      Atualmente a Mais Educa está com 30 franqueados, responsáveis pela comercialização dos cursos, além de alguns também ministrarem aulas. O objetivo é chegar a 100 até o final do ano.
      A taxa de franquia da Mais Educa é de R$ 15 mil, e o franqueado tem a possibilidade de trabalhar a partir de casa.
      O franqueado não recebe diretamente da pessoa que compra o curso (as inscrições são feitas pela internet), e sim da própria empresa, que repassa um percentual sobre as vendas na área de atuação do franqueado.

        Marcos Augusto Gonçalves

        folha de são paulo

        Madrugada no centro
        É uma experiência fascinante ver a cara de SP na noite sem fim da Virada, apesar da violência nossa de cada dia
        "Vamos ficar mais um pouco, ainda vai ter Elza Soares e Gaby Amarantos!", arriscou uma amiga, na madrugada de ontem, depois de termos assistido ao funk de George Clinton no palco Júlio Prestes da Virada Cultural -e passado por uma balada eletrônica montada num buraco da cracolândia. Estávamos numa turma disposta e, além do mais, turbinada pela energia dionisíaca do artista carioca Ernesto Neto, que veio inaugurar uma mostra de desenhos na cidade.
        "Que horas vai ser a Elza?", perguntei, desligado do relógio. "Às seis", disse-me a amiga. "Às seis?!", quer dizer então que já são....
        Sim, já passavam das 5h de domingo, sentia-me um zumbi e a massa continuava a transitar para lá e para cá pelas ruas do centro. Manos, minas, bibas, bobos, bêbados, pretos, brancos, mulatos, morenos, orientais, perifas, playboys, polícia, nóias. A paisagem humana e desumana de São Paulo desfilando na avenida.
        Não é sempre que se pode ter uma experiência como essa, de ficar cara a cara com a cidade e caminhar de madrugada por aquela região, degradada, mas também pulsante, com suas referências históricas, seus belos marcos arquitetônicos e sua fascinante bizarrice. A Luz, a Pinacoteca, a Júlio Prestes, os edifícios modernistas, os cortiços... São Paulo, comoção de muitas vidas.
        Mas ninguém em sã consciência imaginaria que um acontecimento desse tipo fosse transcorrer sem tensão e conflitos. Se um show está marcado para começar às 6h, o que esperar na plateia? Pessoas que foram dormir cedo para acordar atleticamente às 5h e chegar tinindo à Júlio Prestes? Ou gente que desde cedo já estava pilhada para virar a noite e se entregar à balada?
        Eram ainda 14h quando fui à Sé de metrô para ver, na Caixa Cultural, a exposição do poeta multimídia Walter Silveira. E já havia àquela hora (quatro antes do início da programação de shows) um grupo de rapazes e moças tirando fotos no trem com uma garrafa de vodka vagabunda pela metade e canecas nas mãos.
        O fato é que a Virada, ao menos implicitamente, é um um convite oficial a um porre coletivo, como o Carnaval. É aquele fim de semana em que a farra preside a vida. E pelas ruas rola de tudo, do pior álcool à pior droga -o crack, que continua a ser consumido por hordas assustadoras de dependentes, apesar das operações que prometiam "acabar com a cracolândia". "Dependente também é gente", dizia, a propósito, uma pichação que vi num muro.
        É verdade que a maioria está ali para se divertir, mas nessas condições, excessos e casos de violência tornam-se inevitáveis. A presença do policiamento, embora ostensiva aqui e ali, parece insuficiente. E não seria num evento como a Virada que a rotina de roubos e mortes da cidade magicamente se interromperia.
        Não é demais lembrar que no primeiro trimestre do ano os homicídios no centro da cidade passaram de 14 para 25 casos, em comparação com 2012. E nesses 90 dias, apenas nos distritos da Sé e de Santa Ifigênia, foram registrados mais de 1.600 roubos.
        O saldo de crimes do evento, portanto, não surpreende. É uma pena, porque muita gente vai pensar três vezes se vale a pena arriscar na próxima. Talvez seja o caso de rediscutir o formato, os horários e a atuação da polícia na Virada, mas bom mesmo seria viver numa cidade e num país menos propensos à violência.

          Entrevista da 2ª Francis Fukuyama - Cassiano Elek Machado

          folha de são paulo

          América Latina se saiu melhor que os EUA no combate à crise
          Cientista político que ganhou renome ao escrever sobre o "fim da história" diz que os americanos precisam prestar atenção nos sinais de decadência política que já aparecem
          CASSIANO ELEK MACHADODE SÃO PAULOFrancis Fukuyama é um homem conhecido por suas ideias sobre o fim. Agora ele está às voltas com o início.
          O cientista político americano, que se tornou um intelectual de renome universal ao publicar um ensaio sobre o chamado "fim da história", em 1989, está investigando seus marcos zeros.
          Com o livro "As Origens da Ordem Política", publicado nos Estados Unidos em 2011 e agora lançado no Brasil (editora Rocco, 592 págs., R$ 69,50), Fukuyama faz uma minuciosa análise das primeiras instituições políticas.
          O pesquisador sênior da Universidade de Stanford (EUA) passa um pente fino nas mais variadas formas que o homem já encontrou para estruturar o poder, num arco cronológico que vai das primeiras sociedades tribais até a Revolução Francesa.
          A história não termina aí. Aos 60 anos, ele está prestes a concluir o segundo tomo da obra. "O tema central do novo livro, que virá até os dias de hoje, será a decadência política, assunto que mais me interessa", adianta à Folha, em entrevista por telefone.
          -
          Folha - O sr. passou anos pesquisando as origens históricas das instituições políticas. Qual ponto dessa pesquisa o surpreendeu mais?
          Francis Fukuyama - Um dos argumentos centrais do livro eu desenvolvi ao longo da pesquisa, o de que a China foi a precursora dos Estados modernos. Um dos temas nos quais estou trabalhando agora é o da decadência política.
          Todas as instituições políticas tendem a decair com o tempo, inclusive a China contemporânea. Os padrões da decadência são muito semelhantes entre China, Império Otomano ou o Antigo Regime na França.
          Se tratamos da decadência, podemos falar também em apogeu político? O sr. acredita que seja possível estabelecer os picos da história política?
          Não acredito que exista um auge específico. Minha visão da decadência política é de que existem ciclos contínuos de decadência e de reforma.
          A decadência política é um problema constante, que todos os regimes enfrentam. As fontes desse problema são duas. A primeira é que instituições são difíceis de serem mudadas. As pessoas querem mantê-las a todo custo, mesmo que as condições externas mudem.
          A segunda é que, em qualquer sociedade, os ricos e poderosos vão acumular poder com o tempo e usarão seu acesso privilegiado ao sistema político para protegerem a si mesmos.
          O sr. publicou esse livro em 2011. O que o sr. mudaria hoje em suas análises históricas com base no que aconteceu neste meio tempo?
          Uma observação que faço no segundo volume tem a ver com a continuidade das instituições políticas em diferentes partes do mundo, em particular nas origens da centralização política da China.
          Hoje temos mais evidências de uma decadência política em vários sentidos do Estado chinês e de instabilidades internas no país.
          Com base nos ciclos históricos da Europa e dos EUA, qual previsão o sr. faz para a crise que ambos enfrentam?
          Existem verdadeiros problemas institucionais nos Estados Unidos e na Europa.
          Nos EUA, tivemos um grau elevado de polarização política que impediu que algumas decisões importantes fossem tomadas.
          Há problemas básicos no desenho e na construção da União Europeia, em sua composição e equilíbrio, que levaram diretamente à atual crise. Acho que os problemas são resolvíveis e a atual situação geral não é ruim.
          Não há uma crise generalizada de governabilidade, mas sobretudo nos Estados Unidos há traços de decadência política aos quais o país deveria prestar atenção.
          No seu livro, o sr. relata como é difícil que um país imponha instituições em outras sociedades. O sr. chegou a apoiar a invasão do Iraque e depois criticou a maneira como ela foi feita. Como o sr. recebeu a recente declaração de George W. Bush de que "ele se sente confortável com seu legado" nesse tema?
          Fico muito desapontado que nenhum dos principais líderes da Guerra do Iraque tenha admitido até hoje sequer um de seus erros.
          Isso vale para [Donald] Rumsfeld, Condoleezza Rice, [Dick] Cheney e Bush. Todos eles insistem muito na ideia de que fizeram o que tinha de ser feito. Seria muito importante que, tal como Robert McNamara fez com relação ao Vietnã, admitissem seus erros, porque suas decisões foram desastrosas para os Estados Unidos e, obviamente, para o Iraque.
          Qual a opinião do sr. sobre as chamadas intervenções humanitárias? O sr. defende a intervenção na Síria?
          É difícil estabelecer regras gerais porque cada caso é muito distinto. Fui favorável ao tipo de intervenção que ocorreu na Líbia. A Síria também precisa de algum tipo de controle. Você não pode se negar, do ponto de vista da comunidade internacional, a se envolver. Esses conflitos envolvem o interesse de muitos países vizinhos.
          Mas, de maneira geral, as intervenções nas quais os Estados Unidos invadem e ocupam um país inteiro já não acontecerão, e isso é positivo.
          O sr. trata da recorrência histórica de alguns problemas na América Latina, como os períodos de inflação elevada. O sr. acredita que a região voltará a esse padrão?
          A América Latina tem se saído muito bem nas últimas gerações e, em muitos sentidos, vem quebrando padrões estabelecidos para a região.
          Durante a última crise financeira mundial, a região se saiu muito melhor do que os Estados Unidos.
          As crises de endividamento da América Latina no início dos anos 1980 deixaram um legado de reformas. As políticas monetária e fiscal são gerenciadas hoje com muito mais competência.
          A região também se beneficiou com avanços importantes no combate das desigualdades, a começar pela redução do coeficiente Gini [que mede a desigualdade] que aconteceu aí no Brasil.
          Nesse sentido, houve progresso. Obviamente a região como um todo mantém seu problema estrutural de ser a mais desigual do mundo, com enormes diferenças entre ricos e pobres, mas, pela primeira vez, essa questão vem sendo atacada.
          Qual o papel de Dilma nisso?
          Ela tem feito um bom trabalho. Eu me preocupo com as pressões políticas no Brasil para usar instituições governamentais para manter o nível de emprego. Isso tem levado ao medo de aumento da inflação no país. Mas, de maneira geral, ela tem conseguido navegar bem entre estas pressões.
          O sr. acreditava na eleição de Nicolás Maduro? Qual o destino do chavismo pós-Chávez?
          A eleição era possível, mas não imaginava que Maduro fosse ter um resultado muito bom, como não teve.
          A Venezuela vai enfrentar muita instabilidade nesta situação de chavismo sem o carisma de Hugo Chávez. Eles têm um sistema econômico não sustentável e o preço do petróleo tende a cair nas próximas décadas, o que será um golpe duro para o país.
          O thatcherismo sobreviverá após a morte de Margaret Thatcher?
          Ela foi extremamente importante para a época dela. Nos anos 1970, quando ela chegou ao poder, o mundo sofria com a inflação alta, com Estados inchados, estagnação e baixa produtividade. As políticas liberais implementadas por ela eram necessárias. O que aconteceu depois é que alguns Estados levaram essas políticas ao extremo nos anos 1990 e 2000.
          Uma das consequências disso foram as crises financeiras, porque os mercados se liberalizaram tanto que ficaram desestabilizados.
          Ela continuará uma figura presente politicamente?
          O pensamento dela não sobrevive de maneira pura em nenhum lugar, com exceção talvez do Partido Republicano, nos Estados Unidos.
          Desde que formulou a sua teoria do "fim da história", o sr. conseguiu dar alguma entrevista na qual não tenha sido questionado sobre ela?
          Não lembro de isso ter acontecido muitas vezes.
          Recentemente o sr. postou no Twitter uma brincadeira com este tema. O sr. fica chateado com esta obsessão por uma de suas ideias?
          Fico, mas isso já acontece há tanto tempo que estou acostumado. Não há nada que possa fazer a respeito.

            RAIO-X FRANCIS FUKUYAMA, 60
            ATUAÇÃO
            Cientista político e professor universitário
            Trabalhou no Departamento de Estado dos EUA como especialista em Oriente Médio (1981-82) e como diretor para assuntos políticos e militares da Europa (1989)
            FORMAÇÃO
            Ph.D em ciência política na Universidade Harvard
            LIVROS
            "As Origens da Ordem Política", "O Fim da História e o Último Homem", "O Dilema Americano", "Ficando para trás", entre outros

              Painel - Vera Magalhães

              folha de são paulo

              Quem cedo madruga
              O presidente da OAB nacional, Marcus Vinícius Furtado, vai requerer nesta semana ao STF (Supremo Tribunal Federal) celeridade no julgamento de ações que tratam do horário de funcionamento dos 27 Tribunais de Justiça. A entidade defende o funcionamento do Judiciário em dois turnos, sem restrição de horário ao atendimento de advogados. A iniciativa é uma resposta ao presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, que ironizou defensores por só ''acordarem'' após as 11h.
              Fusos... O ministro Luiz Fux, relator de ação proposta pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), suspendeu liminarmente resolução do Conselho Nacional de Justiça que obriga o Judiciário a atender o público de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Hoje, os tribunais funcionam em meio expediente.
              ... trocados Segundo a OAB, Fux alegou ter suspendido os efeitos provisoriamente para não onerar, até o julgamento da ação, os tribunais, que seriam obrigados a ampliar imediatamente o horário de atendimento.
              No telhado A dificuldade na aprovação da MP dos Portos deve atrasar o lançamento do Código da Mineração. O texto em estudo aumenta de 2% para 4% os royalties para as mineradoras e não reajusta os valores de participação especial.
              Lobby de peso Além da Vale do Rio Doce, principal interessada na proposta, o código afeta os negócios de dois empresários que se digladiaram na MP dos Portos, Eike Batista e Daniel Dantas.
              Efeito Dilma Com a viagem oficial do prefeito Gustavo Fruet ao Japão, nesta semana, Curitiba vai viver situação inédita: a vice Mirian Gonçalves será a primeira petista e a primeira mulher a assumir o comando da cidade.
              Ampulheta Termina em duas semanas o prazo que Márcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte ligado ao senador Aécio Neves, recebeu para dizer ao PSB se será candidato ao governo de Minas.
              Come quieto O deputado Leonardo Quintão (PMDB), que foi derrotado na eleição de 2010, está disposto a trocar de partido para dar palanque a Eduardo Campos no Estado do tucano.
              Café Aécio cedeu parte das inserções nacionais de TV do PSDB em São Paulo a Geraldo Alckmin. O engajamento do governador é considerado fundamental para o mineiro ganhar densidade eleitoral no Estado e quebrar resistências internas à sua postulação à Presidência.
              Leite Dada a importância de São Paulo em 2014, o discurso que mais agradou Aécio na convenção foi justamente o de Alckmin. O senador considerou contundente a fala do governador, que se dispôs a ser "o mais paulista dos mineiros" para ajudá-lo.
              Um mesmo... O marqueteiro Renato Pereira, que quase não faz jingles e usa músicas consagradas nas campanhas que comanda, selecionou "Coração Civil", de Milton Nascimento, como trilha sonora da convenção.
              ... coração Outra canção de Milton, "Coração de Estudante'', virou hino das Diretas Já e da campanha do avô de Aécio, Tancredo Neves, à Presidência e da comoção que se seguiu à sua morte antes de tomar posse, em 1985.
              Muita calma O presidente nacional do MD, Roberto Freire, explica que não anunciou apoio ao tucano ao discursar no ato do partido.
              Mesmo barco Ele explica que, ao afirmar que estará com o PSDB em 2014, quis dizer que ficará "junto das oposições". Seu recém-criado partido negocia aliança com o PSB de Eduardo Campos.
              TIROTEIO
              Canalha é quem loteia o próprio governo entre amigos como o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o ficha-suja Demóstenes Torres.
              DO PRESIDENTE NACIONAL DO PT, RUI FALCÃO, sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo, ter xingado o ex-presidente Lula durante convenção do PSDB.
              CONTRAPONTO
              Xarás em conflito
              Em audiência pública no Senado na semana passada, diante do ministro Aloizio Mercadante (Educação), o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) criticou decisão do Executivo de editar medida provisória sobre a área com teor semelhante a projeto de lei que ele já havia apresentado.
              Quando o ministro começou a justificar a medida, seu telefone celular tocou.
              Apesar de ser um assessor da presidente Dilma Rousseff na linha, o petista pediu para falar mais tarde:
              -Se eu parar para atender o Executivo, o Aloysio vai me criticar de novo! -justificou.