sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Guerra declarada - Helio Schwartsman

folha de são paulo

Guerra declarada

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A tradicional troca de farpas entre representantes das humanidades e entusiastas das chamadas ciências duras deu lugar à guerra declarada.
No último par de anos, as escaramuças vinham se acumulando perigosamente. O físico Stephen Hawking em "The Grand Design", livro de 2010 escrito em conjunto com o também físico Leonard Mlodinov, decretou que a filosofia estava morta. Outro físico (eles não se cansam), Lawrence Krauss, foi apenas um pouco mais polido quando afirmou, em seu "A Universe From Nothing: Why There Is Something Rather Than Nothing", de 2012, que a filosofia não fez nenhum progresso ao longo dos últimos dois mil anos.
Um bom troco veio pela mão do filósofo Thomas Nagel ("Mind and Cosmos", 2012). O subtítulo da obra resume sua tese com perfeição: por que a concepção materialista neodarwinista da natureza é quase certamente falsa.
Mais virulento, o escritor e crítico literário Curtis White acaba de publicar "The Science Delusion", em que ataca amparado em muitos adjetivos os físicos mencionados bem como os novos ateus liderados por Richard Dawkins, neurocientistas e divulgadores de ciência, como Jonah Lehrer (que caiu em desgraça após ter sido apanhado em flagrante delito de fabricar uma citação).
Se esse é o tom no circunspecto e normalmente lento mercado editorial, as coisas são muito piores nas trincheiras de publicações mais ágeis, como revistas e blogs. Ali, as batalhas podem ser verdadeiramente sangrentas. Do mar de artigos que saíram, limito-me a mencionar o texto de Steven Pinker estampado na semana passada em "New Republic", do qual falarei mais adiante.
O que tudo isso significa? De onde vem tanta rivalidade? Vale observar que as duas áreas começaram juntas. Aristóteles, por exemplo, filósofo "par excellence" é autor de vasta obra biológica e física (ainda que estas estivessem numa fase pré-científica). E a indistinção profissional prossegue relativamente sólida até o século 18. Francis Bacon (1561-1626), Blaise Pascal (1623-1662) e Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), para citar apenas alguns, merecem um lugar na história tanto por suas contribuições para a filosofia como para a ciência. Dali para cá, a crescente especialização do saber, magnificada a partir do século 19, vai fazendo com que os pensadores sejam cada vez mais identificados com uma disciplina específica, ainda que sigamos tropeçando em notáveis polímatas.
À especialização, é claro, correspondem métodos de trabalho diversos, que acentuaram as diferenças. Enquanto cientistas em geral contam com o amparo da empiria (que alguns chamam de realidade) para corroborar ou refutar suas hipóteses, distinguindo-as de meros palpites ou francos delírios, o pessoal das humanidades se pauta principalmente pelo método analítico, que não proporciona muitas oportunidades de "reality check". Vale observar aqui que existe uma hierarquia. A revolução científica começou na física, que é a mais matematizável das ciências empíricas, e depois seguiu para outros ramos, como a química, a geologia, a biologia e, em menor escala, a medicina.
Nos últimos anos, o esforço de cientificizar avançou mais um pouco, incorporando áreas que antes eram bastiões das humanidades, como a psicologia, a sociologia, a linguística, a arqueologia e parte da antropologia. Já há quem tente empregar a matriz evolucionista para explicar e analisar obras literárias, artes plásticas, o que deve assustar muitos críticos.
Coloque tudo isso no contexto de departamentos universitários que competem entre si por verbas, cargos e prestígio e temos a receita para a verdadeira guerra cultural em que essa rivalidade se desdobrou.
Um marco na fratura entre esses dois mundos foi a palestra que o químico e escritor britânico C.P. Snow (1905-1980) deu em Cambridge em 1959 e que logo se transformou no livro "The Two Cultures and the Scientific Revolution". Ali, Snow, num tom bem humorado, brinca com a ignorância científica das elites britânicas da época, que, embora dominassem o grego e o latim, eram incapazes de enunciar a segunda lei da termodinâmica (o equivalente científico de não ter lido Shakespeare) ou de definir "massa" e "aceleração" (o equivalente de não saber ler). O autor pedia que as autoridades educacionais dessem mais ênfase à cultura científica dos jovens.
Acho que em alguma medida o apelo deu certo. Não saberia dizer se o nível de preparo científico dos estudantes britânicos (ou de qualquer outro país) é adequado, mas o pêndulo definitivamente mudou de lado. As ciências são hoje as mais valorizadas em todas as universidades relevantes e já quase ninguém estuda o grego e o latim (o que é uma pena). "The Two Cultures" foi classificado em 2008 pelo "The Times Literary Supplement" como uma das 100 obras mais influentes do pós-guerra.
A disputa trouxe vários momentos interessantes. Um de meus preferidos (pelo bom humor e por evidenciar um problema grave das humanidades) é o célebre caso Sokal. Em 1996, o físico Alan Sokal, disposto a demonstrar a falta de rigor das ciências humanas, submeteu à revista "Social Text" um artigo-embuste que foi aceito e publicado. O texto era uma coleção de disparates em linguagem empolada, argumentando que a gravidade quântica é uma construção social e linguística. Depois que a fraude foi revelada, foi um deus nos acuda. Diga-se em favor da "Social Text" que, à época, ela não contava com sistema de revisão por pares.
Para ser justo, devo lembrar que algo semelhante fora feito com médicos --o caso Fox--, que já descrevi numa coluna, o que mostra que esse tipo de problema não é exclusivo das humanidades. O problema, receio, é a arquitetura de nossas mentes, que se deixam facilmente seduzir por elementos não muito objetivos.
E quem tem razão nessa história toda? Eu, como representante das humanidades profundas (graduei-me em filosofia e cheguei a aprender grego e latim), mas que tenta acompanhar à distância o que acontece nas ciências, fico com Pinker, cujo texto mencionei mais acima.
Ali, o linguista e cientista cognitivo sustenta que a ciência não é inimiga das humanidades. Especula, muito apropriadamente, que alguns dos maiores filósofos da história, como Descartes, Spinoza, Hobbes, Locke, Hume, Rousseau, Leibniz, Kant e Smith teriam ido muito mais longe se tivessem acesso ao conhecimento científico hoje disponível. Imaginem o arraso que Hume faria com o que sabemos hoje sobre o cérebro humano. E o que diria Kant, se pudesse deitar os olhos nos trabalhos qualitativos e quantitativos sobre dilemas morais e comparar as taxas de homicídios de diferentes povos?
O surpreendente, como diz Pinker, é que o pessoal das humanidades não esteja ávido por mais interações entre suas especialidades e as ciências e por "insights" novos e relevantes, venham eles de onde vierem.
As humanidades não estão em risco pelo avanço dos cientistas, ainda que empregos e prestígio universitário possam estar. Apesar das declarações meio destrambelhadas de Hawking e Krauss, a filosofia segue viva e firme, inclusive na cosmologia. Nem a física nem o método científico prescindem de uma ontologia, isto é, uma visão sobre o que existe e o que não existe, o que constitui a realidade, se é que ela existe. Essas questões, pelo menos por enquanto, não estão ao alcance da física se não por meio de especulações, ou seja, no que ela é idêntica à filosofia.
Também não é exatamente verdade, como acusam os das humanidades, que cientistas sejam um bando de arrogantes que se julgam donos da verdade. É claro que, individualmente, muitos cientistas são exatamente assim. Mas toda a ideia por trás do método científico é criar estruturas que, levando em conta a lista telefônica de propensões humanas para embarcar em canoas furadas, previnam o erro. A mais importante delas é o teste empírico. Se a teoria e a realidade (por mais precário que seja seu estatuto ontológico) estão em desacordo, pior para a teoria, por mais bela e elegante que seja. E, como esse modelo funciona muito melhor no papel do que na prática, decreta-se que todas as "verdades" científicas são provisórias, sujeitas a retificação e até revogação.
É justamente de um divisor desse tipo, algo que permita distinguir uma boa análise de um delírio, seja ele pessoal ou coletivo, que as humanidades se ressentem.
Hélio Schwartsman
Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2 às terças, quartas, sextas, sábados e domingos e às quintas no site.

Barbara Gancia

folha de são paulo
Passividade, nunca mais!
Só vale aplaudir aquela que é consentida por adultos, no bom sentido, é claro, entre quatro paredes
A esta altura, não deve existir mais nenhum paulistano disposto a engolir a versão de que as cinco pessoas da mesma família mortas na casa da Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo, tenham sido assassinadas pelo filho imberbe do casal de PMs.
Descrédito é mercadoria abundante, inclusive entre as tropas --e não é por menos. Existe decisão mais infeliz do que aquela que diz que policial não pode mais socorrer acidentados ou vítimas de violência? Ora, se um oficial armado há de ser encarado como ameaça pela população, com que ânimo ele vai sair de casa para trabalhar?
Moral das tropas em baixa e briga entre as duas forças não é exatamente a melhor maneira de se enfrentar uma guerra velada por pontos de tráfico de drogas. E qualquer morador da periferia sabe que viatura policial não ousa entrar em favela. Como cereja do bolo, agora temos mais essa da cara de pau da adulteração da cena do crime na Vila Brasilândia, com o delegado do caso posto na geladeira, e mais PMs passando pela casa em que as mortes ocorreram do que marines desembarcando na costa da Normandia no Dia D. E ninguém nem aí para dar satisfação.
Sei. Quais eram mesmo as maiores preocupações do paulistano levantadas naquela pesquisa mais recente? Pois é, na ordem: violência, transporte e saúde, né não? E olha que só quem tem câncer e é obrigado a esperar meses para ser atendido é que pode dizer como é que a violência e o transporte foram capazes de suplantar a saúde em matéria de maus serviços prestados à população.
As mudanças precisam ser estruturais e ligeiras, não dá para deixar o caldo esfriar. Seria necessário queimar uma mata atlântica inteira para reacender a chama das manifestações deflagradas em junho.
No dia em que os manifestantes foram à porta do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para protestar contra a internação naquela ilustre instituição de quem simboliza, melhor do que ninguém, a perpetuação de vícios que precisam ser erradicados da prática política tapuia, eu postei no Facebook uma frase que incomodou muita gente.
Disse: "A estratégia de nunca mais dar paz aos corruptos passa adiante do meu e do seu interesse pessoais. Manifestantes na frente do Sírio-Libanês me representam". Teve amigo meu de cabelo em pé: "Pô, Barbara, até na guerra zona de hospital é respeitada!"
Nesta semana, o colega Marcelo Coelho, que, por sinal, anda em fase inspiradíssima, escrevendo melhor do que nunca, trilhou a mesma estrada e criticou os dois sujeitos que estavam no avião com o Feliciano e resolveram importunar o deputado com provocações bobocas que depois postaram em vídeo no YouTube.
É claro que o limite do assédio continua sendo a lei. Violência, quebra-quebra, ameaça à integridade física, nada disso vale.
Mas revolta não é vandalismo. É preciso que essa distinção fique bem clara para que a gente saia da passividade e parta para o contra-ataque definitivo e sistemático. Fazer oposição à insensibilidade dos que praticam o verdadeiro vandalismo, aquele que castiga a população que deveria estar sendo beneficiada, doravante é bafo no cangote 24 horas.
Na porta do restaurante, na festa, no heliporto e no shopping. É preciso conscientizar de que é a presença do corrupto, e não a do manifestante, a que causa o constrangimento no hospital. Vamos mais é aplaudir e incentivar esta nova cultura política que está nascendo na esteira das manifestações.

Questão que pode beneficiar Dirceu gera tensão no STF

folha de são paulo
SEVERINO MOTTA
FILIPE COUTINHO
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
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Ao analisar uma questão que pode vir a beneficiar o ex-ministro José Dirceu, condenado como mentor do esquema do mensalão, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, voltou nesta quinta (15) a bater boca com o ministro Ricardo Lewandowski no plenário do STF.
A sessão foi encerrada abruptamente, após Barbosa acusar o colega de promover "chicana", como os advogados chamam as manobras às vezes usadas para atrasar a conclusão de um processo.
Embora não tenham sido analisados quinta, os recursos apresentados por Dirceu têm argumento similar ao que provocou divergência pública entre os ministros.
O STF retomou na quarta (14) o julgamento do mensalão, iniciando a análise dos recursos dos condenados. Até agora, o tribunal já examinou os pedidos de 7 dos 25 réus e rejeitou todos os recursos.
O bate-boca de quinta começou durante a análise do pedido apresentado pelo ex-deputado do PL (atual PR) Carlos Rodrigues, que tentava reduzir sua pena com o argumento de que foi punido por lei mais severa do que a que vigorava à epoca do crime.
Editoria de Arte/Folhapress
Ao avaliar o recurso, Lewandowski, que é revisor do processo, considerou que ele deveria receber punição mais branda pelo crime de corrupção passiva, pelo qual foi condenado a três anos de prisão.
O ex-deputado recebeu o primeiro pagamento do esquema do mensalão em 2002, quando a lei previa pena de um a oito anos de prisão para o crime de corrupção.
No entendimento de Barbosa, que é o relator do processo, como Rodrigues recebeu outro pagamento em dezembro de 2003, ele deveria ser punido pela lei aprovada em novembro desse ano e em vigor hoje, que aumentou a pena para até 12 anos de prisão.
Ao ouvir os argumentos de Lewandowski, Barbosa ponderou que o tipo de recurso apresentado por Rodrigues, chamado de embargos de declaração, não permite a alteração de algo que já havia sido julgado na primeira etapa do julgamento.
Barbosa também reclamou do tempo gasto nesta quinta com o julgamento do recurso de Rodrigues que, se aceito pela maioria do tribunal, abrirá a possibilidade de revisão da pena de José Dirceu.
Ao julgar o caso de Dirceu no ano passado, o STF concluiu que o esquema do mensalão começou a operar na época da morte do ex-presidente do PTB José Carlos Martinez, em outubro de 2003.
Mas um erro cometido por Barbosa induziu o plenário a entender que Martinez morrera em dezembro desse ano, quando já estava em vigor a lei mais rigorosa, usada para definir a pena de Dirceu.
Na quinta, quando Barbosa reclamou da demora na análise do recurso de Rodrigues e sugeriu que o revisor estava fazendo "chicana", Lewandowski pediu que o presidente do STF se retratasse.
Barbosa não se retratou, acusou Lewandowski de não respeitar o tribunal e encerrou a sessão. Segundo ministros ouvidos pela Folha, os dois continuaram discutindo nos bastidores, com dedos em riste.
Editoria de Arte/Folhapress


QUESTÕES DE ORDEM
MARCELO COELHO - coelhofsp@uol.com.br
Chicanas!
A palavra infamante foi proferida por Joaquim Barbosa. Lewandowski ficou apoplético
Terminou pessimamente, ontem, o que poderia ser uma sessão sem maiores problemas no STF. Discutia-se, com alto grau de concordância, mais uma série de "embargos declaratórios" apresentados pelos réus do mensalão.
Em tese, esses pedidos serviriam para eliminar omissões ou obscuridades na decisão já tomada pelo tribunal. No fundo, em sua maioria, terminam sendo atos de "mera irresignação", como disse Joaquim Barbosa.
Funcionaram como pretexto, por exemplo, para que Roberto Jefferson solicitasse "perdão judicial" pelos crimes que cometeu. Afinal, não foi por seu intermédio que todo o escândalo veio à tona? Segundo a defesa, esse ponto não foi discutido pelos ministros... Omissão, portanto, no acórdão que o condenou.
Mas o ponto tinha sido discutido, e o plenário não aceitou o argumento.
Jefferson foi além, apontando também "omissão" do STF ao não incluir o ex-presidente Lula no julgamento. Mas isso, como todos sabem, não foi responsabilidade do STF, e sim da acusação. O Ministério Público não viu provas contra Lula; nada havia a embargar, ou recorrer, nesta altura do julgamento. "Mera irresignação" de Jefferson.
Outras irresignações, também sem maior efeito prático, vieram do novo ministro Luís Roberto Barroso. Ele estranhou, por exemplo, que uma simples funcionária de Marcos Valério, Simone Vasconcelos, tivesse recebido pena tão alta --12 anos, e 7 meses e 20 dias de reclusão.
Mas, como o próprio Barroso reconheceu, não era o momento de rediscutir decisões já tomadas pelo tribunal.
Ou era? Tudo ficou de pernas para o ar quando se examinou o caso do Bispo Rodrigues. O vice-presidente do PL foi condenado por corrupção, do mesmo modo que seu líder, Valdemar Costa Neto.
A defesa de Rodrigues estranhou, contudo, a pena aplicada. No caso de Costa Neto, ficaram valendo critérios mais brandos. Por quê?
Ocorre que, enquanto as atividades dos mensaleiros corriam a pleno vapor, foi aprovada uma lei prevendo penas mais pesadas para o crime de corrupção. Se alguém cometeu o crime antes dessa mudança, recebe punição mais leve.
Foi o caso de Costa Neto, que participou de um acordo entre o PL e o PT, no qual se acertaram "vantagens indevidas", antes da alteração da lei. Note-se que, para ser corrupto, não é preciso receber o dinheiro. O mero ato de solicitá-lo já caracteriza o crime.
Rodrigues não participou dessas negociações. Mas recebeu propina. Mais tarde. Num momento em que já valia a nova lei. Sua corrupção, portanto, foi punida com mais rigor.
Tudo isso já tinha sido decidido em plenário. Mas Ricardo Lewandowski, ontem, voltou a ter dúvidas. Se Costa Neto, ao receber dinheiro, estava apenas vivenciando a consequência prática de um crime cometido antes (que foi o de pedir dinheiro), por que Rodrigues, ao receber dinheiro do mesmo acordo, é punido como se o crime tivesse sido cometido depois?
Claramente, Lewandowski estava se confundindo. Eram dois réus, com atos diferentes, embora o nome e a causa dos atos sejam iguais. Um solicitou dinheiro na data "x", e foi condenado por corrupção. Outro recebeu dinheiro na data "y", e é condenado (com mais severidade) por corrupção também.
Não adiantou que Luiz Fux, Gilmar Mendes e Celso de Mello esclarecessem o ponto. Lewandowski continuava "irresignado".
Chicanas! A palavra infamante foi proferida por Joaquim Barbosa. Lewandowski ficou apoplético. Exigiu que o presidente do STF retirasse o que disse. Barbosa não retirou. Retiraram-se todos, logo depois, quando a sessão foi encerrada, em clima consternador.

    Painel - Vera Magalhães

    folha de são paulo
    'Multissecular'
    A pior briga entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski desde o início do julgamento do mensalão continuou no Salão Branco, atrás do plenário do Supremo Tribunal Federal. "Vossa Excelência não vai fazer comigo o que fez com o ministro Britto!", interpelou o presidente do STF, dedo em riste, acusando Lewandowski de tentar atrasar o julgamento lendo "artigos de jornal". O revisor do mensalão rebateu: "O senhor me respeite! Isto aqui é uma corte de tradição multissecular!".
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    Tem mais Na mesma discussão, Lewandowski perguntou se Barbosa achava que seu voto era de "moleque". O presidente do STF respondeu afirmativamente, o que acirrou os ânimos.
    Calma, gente Gilmar Mendes e Celso de Mello tentaram acalmar a dupla. Mais tarde, alguns ministros foram prestar solidariedade a Lewandowski em seu gabinete, como Luiz Fux.
    Santinho 1 A relação de Dilma Rousseff com a base aliada ainda tem seus percalços. Na reunião com líderes da Câmara, segunda-feira, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) disse que o projeto do governo sobre royalties só previa recursos para a educação após quatro anos.
    Santinho 2 "Isso é conversa fiada!", reagiu a presidente, se levantando. Albuquerque retorquiu: "Espero que a senhora não esteja dizendo que a conversa fiada é minha". Já sentada, Dilma negou: "Que é isso, Betinho?".
    O que é isso... Queixa de Ideli Salvatti durante reunião com Michel Temer anteontem irritou parlamentares. Segundo relatos, a ministra reclamou ao vice que Henrique Alves (PMDB-RN) pautava temas sob pressão, como a votação do piso de agentes de saúde para setembro.
    ... companheira? Cobrado, o presidente da Câmara explicou que só agendou o tema porque o ministro Alexandre Padilha (Saúde) estava com ele e concordou.
    Púlpito Lula vai conversar com o apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial. Segundo aliados, o ex-presidente tenta pavimentar uma relação com líderes religiosos antes da eleição de 2014. O encontro aconteceria esta semana, mas foi adiado.
    Muita calma... A Executiva do PSDB reagiu com cautela aos sinais de que José Serra pode disputar com Aécio Neves a candidatura do partido à Presidência.
    ... nessa hora "A demanda por prévias pressupõe a participação de dois candidatos. Assim, ficamos felizes em saber que Serra vai ficar no partido'', diz o vice-presidente da sigla, Bruno Araújo (PE), ligado a Aécio.
    Cronômetro A Rede vai entrar com representações nas corregedorias eleitorais contra o atraso na validação de suas assinaturas de apoio. O partido também decidiu protocolar hoje ou segunda-feira seu pedido de registro.
    Tempo Lula pediu ao TSE a restituição do prazo para pagar uma multa por campanha antecipada, em 2010. Ele informou a corte que, ao fim de seu mandato, afastou a AGU de sua defesa e não regularizou sua representação. A ministra Cármen Lúcia decidiu prorrogar para o dia 30 o pagamento da multa, de R$ 10 mil.
    Revoada Dirigente de um governo do PSDB foi recebido com desconfiança em evento do setor ferroviário, após as denúncias de formação de cartel em São Paulo. "Olham como se eu fosse um pavão misterioso", conta.
    Visita à Folha Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), visitou ontem a Folha.
    com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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    TIROTEIO
    "Nem mesmo o cavalheirismo do ministro Lewandowski conseguiu suportar a grosseria do presidente do Supremo Tribunal Federal."
    DE ALBERTO TORON, advogado do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) no mensalão, sobre o bate-boca entre os ministros do STF na sessão de ontem.
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    CONTRAPONTO
    Quem diria
    Internado desde o dia 31 de julho no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o senador José Sarney (PMDB-AP) recebeu na semana passada a visita do vice-presidente, Michel Temer, que aproveitou para ver o deputado José Genoino (PT-SP), também internado no local.
    Durante a conversa com Temer, Sarney fez piada sobre os diagnósticos que recebeu dos médicos, que apontaram que o senador teve pneumonia e dengue.
    --Enfrentei tantas feras na minha vida e fui derrubado logo por um mosquitinho! -- brincou o senador, em referência ao inseto transmissor da doença.

    A situação dos jovens "nem-nem" - Naércio Menezes Filho

    Valor Econômico - 16/08/2013


    As mudanças recentes no mercado de trabalho têm provocado muitas discussões e análises a respeito do comportamento dos jovens na sociedade brasileira. Afinal, será que os jovens estão trocando a escola pelo trabalho? Por que será que há tantos jovens que não trabalham nem estudam (os chamados "nem-nem"), numa época em que o mercado de trabalho anda tão aquecido? Por que esses jovens não ingressam na PEA (população economicamente ativa) diminuindo assim as restrições de oferta da economia?
    A chave para entender o comportamento recente dos jovens no mercado de trabalho é segui-los ao longo do tempo, acompanhando suas trajetórias entre as diferentes situações. Numa pesquisa recente acompanhamos uma amostra de jovens com 17 a 22 anos de idade pelo período de um ano entre 2010 e 2011, utilizando dados da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE. No momento inicial da análise, 19% deles estudavam e ao mesmo tempo estavam na PEA, seja trabalhando ou procurando emprego. Por outro lado, 40% deles estavam na PEA sem estudar, 25% somente estudavam e 16% estavam na categoria "nem-nem", ou seja, nem estudavam, nem trabalhavam nem procuravam emprego.

    A situação "nem-nem" é temporária para jovem qualificado, ainda mais nos períodos de economia aquecida
    Entretanto, a maior parte desses jovens não permaneceu nessa situação inicial por muito tempo. A tabela abaixo mostra que, entre os jovens que estudavam e também estavam na PEA, um terço tinha abandonado a escola um ano depois, 13% abandonaram o trabalho e 6% nem estudavam nem trabalhavam. Dentre aqueles que estavam só trabalhando ou procurando emprego, a maioria (76%) permaneceu na mesma situação.
    Interessante notar que entre os estudantes em período integral, só metade continuava na escola (ou faculdade) sem trabalhar um ano depois, 20% já tinham ingressado no mercado de trabalho, 18% tinham abandonado os estudos para começar a trabalhar e 13% não estavam fazendo nada. Vale notar que a transição da escola para o trabalho nessa idade provavelmente significa abandono da faculdade ou conclusão do ensino médio sem posterior ingresso no superior.
    Por fim, entre os jovens do grupo "nem-nem", que tanto interesse têm despertado ultimamente, somente 42% permaneceram na mesma situação um ano depois. Outros 42% ingressaram no mercado de trabalho, 10% voltaram a estudar e 6% deles começaram a trabalhar e estudar ao mesmo tempo.
    Vemos assim que a situação do jovem é bastante volátil. O jovem precisa trocar de empregos para saber o que realmente gosta de fazer. A analogia com o mercado de casamentos é muito boa nesse caso. Dificilmente a jovem vai se casar com seu primeiro namorado, pois experimentar faz parte da vivência necessária para encontrar seu par ideal. Na transição entre empregos, ou no período de transição entre a escola e o emprego, ele pode ficar na situação "nem-nem", mas isso é transitório em grande parte dos casos. Nesse caso é necessário olhar o fluxo para entender o problema, pois a fotografia pode mostrar um quadro pior do que a realidade.


    Porém, os casos em que a situação "nem-nem" persiste por muito tempo exigem mais atenção. A duração média dos jovens nessa situação gira em torno de 4 meses e tem aumentado lentamente ao longo do tempo. Vale notar que a maior parte dos "nem-nem" tem pouca educação, 19 ou 20 anos de idade, são negros ou pardos e mulheres. Cerca de 27% dos jovens com baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto) estão nessa condição, comparados com apenas 16% entre aqueles com ensino médio completo. Além disso, a duração média nessa situação é maior para o grupo menos escolarizado, chegando a 5 meses em média.
    Mas, porque será que esses jovens com baixa escolaridade estão abandonando a escola e permanecendo inativos? A maior parte deles desiludiu-se com a escola pública e decidiu ingressar no mercado de trabalho, atraídos pelo crescimento salarial dos menos qualificados nos últimos anos. Porém, a duração no emprego também é curta para esses jovens. Assim, eles ficam transitando entre uma situação de trabalho precário e inatividade, aumentando a probabilidade de terem problemas sérios no futuro e diminuindo a produtividade da economia.
    A solução para esses casos seria aumentar a atratividade da escola pública e investir na primeira infância, para que a criança não fique cada vez mais para trás no sistema escolar. Mas, para o jovem qualificado, a situação "nem-nem" é em grande parte temporária, especialmente em períodos de economia aquecida.
    1 "A Condição nem-nem entre os jovens é permanente?" Centro de Políticas Públicas do Insper.


    Naercio Menezes Filho, professor titular - Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP

    Após sugerir prévias, Serra retoma negociação com PPS

    folha de são paulo
    Tucano interrompe agenda interna e volta a discutir mudança de partido
    FHC diz concordar com ex-governador e afirma que deve haver disputa no PSDB caso haja mais de um pré-candidato
    DE SÃO PAULO
    Um dia depois de defender a realização de prévias no PSDB caso o partido tenha mais de um pré-candidato à Presidência em 2014, o ex-governador de São Paulo José Serra se reuniu com líderes do PPS para tratar de sua possível migração para a sigla.
    Serra almoçou com parlamentares do partido no apartamento do deputado Arnaldo Jardim, dirigente do PPS. Segundo Jardim, a sigla não deu um ultimato ao ex-governador, mas ressaltou o desejo de que ele faça a migração.
    "Ele não nos deu nenhuma pista adicional do que vai fazer, e a conversa não teve caráter decisório, mas não há dúvidas de que o Serra está em atividade", disse Jardim.
    Sem espaço no PSDB, Serra estuda deixar o partido para se candidatar pela terceira vez ao Planalto. Ele, no entanto, tem dado sinais dúbios sobre qual caminho adotará para conseguir incluir seu nome na urna presidencial.
    Passou a defender publicamente a realização de prévias na sigla caso haja mais de um nome para a disputa, ao mesmo tempo em que intensificou contatos com dirigentes do PPS e de outras siglas, indicando a costura de uma "terceira via" na oposição.
    Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse concordar com Serra sobre as prévias. "Se um setor do partido quiser o Serra, se o Serra quiser ser [candidato] e havendo outros... Sempre fui favorável à democracia."
    FHC ressaltou, no entanto, que hoje o senador mineiro Aécio Neves, nome favorito dos tucanos para a disputa, teria apoio da "imensa maioria do partido" em eventual confronto contra o paulista.
    AGENDA
    Numa sinalização de que quer chacoalhar o ambiente político, Serra passou a falar de seus compromissos --até junho, optava pela reclusão.
    Em seis dias, esteve em três cidades --fora as conversas em São Paulo. Anteontem, visitou Curitiba, onde almoçou com o governador Beto Richa (PSDB), e depois desembarcou em Brasília. Na semana passada, esteve em Salvador, com o prefeito ACM Neto (DEM), seu aliado na eleição presidencial de 2010.
    Em todos os eventos, falou com a imprensa. Ontem, assistiu a um debate de lançamento de um livro de FHC. Na saída, desconversou sobre o encontro com líderes do PPS. Disse não haver "nenhuma novidade" e que a conversa foi uma "troca de ideias" sobre "política brasileira".
    Aliados do ex-governador apostam que, apesar da intensa movimentação, Serra não deve antecipar sua decisão de permanecer ou sair do PSDB --ele tem até o início de outubro para isso se quiser se candidatar por outra sigla.

    ANÁLISE
    Tucano age para constranger Aécio e afastar Kassab do PT
    FÁBIO ZAMBELIEDITOR-ADJUNTO DE "PODER"A frenética movimentação de José Serra para se apresentar como candidato à Presidência em 2014, dentro ou fora do PSDB, tem duas consequências imediatas: dissemina interrogações sobre o cacife do rival não declarado Aécio Neves e embaralha a montagem de alianças dos principais postulantes ao Planalto.
    Mais que fustigar o senador, a quem serristas atribuem pouco ou nenhum empenho em 2010, quando era ele o presidenciável tucano, o ex-governador paulista passou a acreditar mesmo que a queda de popularidade de Dilma Rousseff e as demandas das manifestações de rua o recolocam no páreo.
    Ao cumprir agenda típica de campanha no Sul e no Nordeste, o tucano diz a auxiliares --e reitera em pronunciamentos públicos e artigos-- que os protestos evidenciam o que chama de "vácuo de governança nacional".
    Alimenta ainda a ideia de que a oposição não disporia de instrumental imediato para produzir plataforma convincente e nome robusto para enfrentar o PT nas urnas.
    Nesse cenário, o questionamento direto à performance gerencial de Dilma tornaria irreversível a reedição do embate de três anos atrás. Ou seja, ele, Serra, seria a opção mais viável no campo oposicionista para, no mínimo, defender os 43 milhões de votos que obteve na ocasião.
    Confrontado com os obstáculos que enfrentaria numa nova eleição --sobretudo a rejeição, mais que o dobro de sua intenção de voto no último Datafolha--, Serra faz outro cálculo: estando ele no PSDB ou em outra sigla, como o PPS, a pulverização de candidaturas lhe daria condições até de chegar a eventual segundo turno.
    Assim, só restaria uma atitude a esta altura, 14 meses antes do pleito: seduzir potenciais aliados, construir condições para a disputa e avaliar os riscos da empreitada.
    Quem conhece de perto a trajetória do tucano sabe que ele não costuma hesitar ante missões ditas impossíveis. Tem sido assim desde 1988, quando topou às pressas candidatura de improvável sucesso para a prefeitura paulistana herdando a vaga reservada a Franco Montoro.
    No tucanato, o ex-governador joga com a dúvida que alas do empresariado e do meio intelectual nutrem sobre o desempenho de Aécio fora de seu esteio mineiro.
    Para além de sua legenda, retarda, por ora, o ímpeto governista do aliado Gilberto Kassab e seu PSD, que vinha se convertendo em força auxiliar do consórcio PT-PMDB no projeto reeleitoral de Dilma.
    Pelo menos nos próximos 40 dias, prazo no qual decidirá se trocará de partido, Serra tentará ser protagonista de um jogo no qual parecia estar precocemente escanteado.

      Protestos em questão: Para entender a violência e Mestre Dines, ouso discordar - [tendências/debates]

      folha de são paulo
      RAFAEL ALCADIPANI
      TENDÊNCIAS/DEBATES
      PROTESTOS EM QUESTÃO
      Para entender a violência
      Há um quadro de disputa simbólica pelo estigma dominante: o da Polícia Militar violenta ou o dos manifestantes vândalos
      Não foi preciso muito tempo para que a categoria "vândalos" entrasse em ação. Para explicar o movimento "black blocs", analistas logo enquadraram nela os jovens mascarados que promovem atos de violência contra símbolos do capitalismo.
      Em conjunto com a professora Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo, iniciei uma pesquisa sobre as manifestações. Para tanto, temos ido às ruas observar e conversar com jovens, policiais e jornalistas durante esses eventos.
      A técnica da pesquisa é inspirada na antropologia e partimos do pressuposto de que, para termos a compreensão de um fenômeno, precisamos observar e conversar com aqueles que o vivenciam.
      Uma coisa é formarmos uma opinião observando o acontecimento à distância, pela mídia. Outra é formar uma opinião em campo.
      Como pesquisador, posso falar apenas dos dados que tenho em mãos, os quais analisei sem pretensão de obter a verdade absoluta.
      O que observei ao ir às ruas pode ser resumido da seguinte forma. Os jovens do "black blocs" são articulados intelectualmente. Grande parte é estudante secundarista. Vários estudam em escolas públicas.
      Muitos moram em regiões periféricas; alguns, na região central de São Paulo, como nos bairros da Bela Vista e da Luz. Outros parecem ser da elite econômica, mas são percebidos como minoritários. São jovens que dizem não ter futuro no Brasil.
      Eles comentam que protestos devem chamar atenção. Uma das manifestações durou mais que quatro horas e os casos de violência foram bastante restritos.
      Os manifestantes são acompanhados o tempo todo por policiais. A tensão fica no ar. Os adolescentes provocam os policiais com frequência. Existe uma disputa velada para saber quem vai usar da violência primeiro e então poder acusar o outro na mídia.
      Chamou-me a atenção a quantidade de pessoas com smartphones e câmeras filmando tudo o que acontece, especialmente os atos de violência dos dois lados.
      Há uma dimensão de espetáculo muito forte nisso tudo. Parece-me que a ideia de "vandalismo" não nos permite ver o que está por trás desses atos. Estamos falando de uma violência quase teatral. Afinal, quebrar um vidro com pedra gera imagens bastante impactantes.
      O professor Jeffrey S. Juris, da Universidade do Arizona, fez análise semelhante a respeito das ações do "black blocs" no encontro do G-8 em 2001, em Gênova, na Itália. Sua pesquisa foi publicada no periódico "Critique of Anthropology".
      Assim como os manifestantes, a Polícia Militar também é vítima de estigmas que a caracterizam como uma corporação essencialmente violenta. Presenciei oficiais tentando dialogar com os manifestantes ao mesmo tempo em que precisavam segurar os ânimos de sua tropa. Ao que me parece, eles têm que rever as táticas para lidar com distúrbios civis. As manifestações são um desafio também para a PM.
      Há um quadro de disputa simbólica na opinião pública pelo estigma dominante: o da PM violenta ou o dos manifestantes vândalos. Um pesquisador independente, ao querer analisar o fenômeno, logo é jogado para um dos lados.
      Para compreendermos o que acontece no Brasil hoje, precisamos ser capazes de pensar. A violência, que em todas as suas manifestações é condenável, para ser combatida precisa ser compreendida para além de discursos simplificadores.
      Não temos respostas definitivas para a compreensão dos protestos e os seus desdobramentos. O debate continua em aberto. Para isso, estudar os fatos para discuti-los além do senso comum é fundamental.
        MARLI GONÇALVES
        TENDÊNCIAS/DEBATES
        PROTESTOS EM QUESTÃO
        Mestre Dines, ouso discordar
        Os meninos são ninjas de marketing, fugazes. Quem acompanhou as bobagens ditas no ar viu que é tão ruim que chega a ser divertido
        Decano do jornalismo, professor, observador da imprensa, Alberto Dines anda entusiasmadíssimo com os ninjas a ponto de compará-los à imprensa alternativa surgida na resistência à ditadura. Ouso discordar do mestre.
        Os ninjas (e similares) têm transmitido o reality show da vida ativista durante horas, coisa que --convenhamos-- não há mesmo muito jornalista que vá e possa fazer. Jornal fecha edição. TV tem tempo valioso. Rádios registram takes. Ninjas rodam bruto e hoje há liberdade de expressão, além de tecnologia.
        Mas antes havia qualidade e inteligência, nomes importantes, líderes. Éramos vários grupos e tendências. Lembro quando fundamos o jornal "Nós Mulheres", feminista.
        Uma guerra para fechar cada edição. Tudo era difícil para todos: alguns, apoiados por organizações políticas e partidos na clandestinidade; outros, por vaquinhas, o crowdfunding da época, ajudados por artistas ou militantes de boas famílias.
        No sobrado da rua Capote Valente, 376, havia duas redações: "Nós Mulheres" no porão emprestado e o "Versus" no térreo. Horas vagas na militância jornalística. Todos eram assim. Nada se podia pagar. Poucos eram editores profissionais.
        E para buscar os jornais nas raras gráficas que aceitavam o risco de trabalhar para "subversivos"? Ou caloteiros, que às vezes também éramos? Filmados, fotografados, seguidos e perseguidos pela polícia política.
        Bombas explodiam nas redações ou em bancas que ousavam vender nossos jornais. Ou, como aconteceu no Bar da Terra, que frequentávamos. Ali, se a bomba tivesse sido mais certeira, dizimaria boa parte de quem fazia a imprensa nanica, como simpaticamente era vista.
        Era uma imprensa que juntava jornalistas, intelectuais, pesquisadores, pensadores, contatos do exílio, o que de melhor havia. Formulávamos um país melhor.
        Nada contra a Mídia Ninja. Acompanho muitas manifestações por eles. Mas daí a dizer que o que vêm fazendo é igual à imprensa alternativa, que são gênios da informação, calma lá. Alguém que tenha tido a pachorra de acompanhar a linguagem descompassada da cobertura, o português assassinado, as bobagens ditas no ar, a desinformação, a ignorância política ou que tenha tido a disposição de ler os comentários da audiência viu que é tão ruim que chega a ser divertido.
        O jornalismo da vida real é feito sem brincadeira, por profissionais, que deveriam ter melhores condições de trabalho, de tempo, de estrutura. Denúncias, entrevistas, investigações e reportagens requerem técnica e --por que não dizer?-- proteção, em suas várias formas.
        Não há esse duelo "velho" jornalismo, "novo" jornalismo. Vejo uma visão empobrecida de quem ouviu cantar o galo por aí, falando em "crise narrativa" --expressão cunhada pelo Fora do Eixo Pablo Capilé, que insiste na confusa e rala análise que faz onde pode, se enrolando todo.
        Mestre Dines, com todo o respeito: não terá o senhor se entusiasmado demais? Ninjas são parte da nossa fantasia, aquela coisa oriental de luta. Os meninos são ninjas de marketing, de sorte de sigla: Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. Não se sustentam nas pernas. Não têm qualidade. São fugazes. Como o papa alerta, jovens podem ser as maiores vítimas da manipulação.