quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Zélia Duncan faz tributo afetivo a Itamar Assumpção em novo disco


LUCAS NOBILE

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA de São Paulo
Um ciclo se fecha da maneira mais saudável possível para Zélia Duncan. A cantora e compositora, que completou 30 anos de carreira em 2011, tinha três desejos para celebrar a data redonda de sua trajetória artística.
O primeiro era gravar um DVD ao vivo de seu disco "Pelo Sabor do Gesto", missão que ela cumpriu no ano passado no Teatro Municipal de Niterói, sua cidade natal.
O segundo, fazer um espetáculo só com músicas de Luiz Tatit, "To Tatiando", com o qual ela segue em cartaz.
E o terceiro, gravar um disco apenas com composições de Itamar Assumpção (1949-2003), "Tudo Esclarecido", que ela acaba de lançar.
O álbum, que conta com participações de Ney Matogrosso e Martinho da Vila, músicos como Marcelo Jeneci, Pedro Sá, Christiaan Oyens, Stephane Sanjuan, Thiago Silva e produção de Kassin, sairá nas versões CD normal, digipack e uma edição especial, com um livreto de 40 páginas.
Cecilia Acioli/Folhapress
A cantora Zelia Duncan, que lança disco em homenagem a Itamar Assumpção
A cantora Zelia Duncan, que lança disco em homenagem a Itamar Assumpção
E a homenagem a Itamar está longe de ser prestada por uma aventureira ou oportunista. Zélia, que conhece muito bem a obra do compositor e expoente da Vanguarda Paulista nos anos 1980, já havia gravado 11 temas do "Nego Dito" ao longo de sua carreira.
Ao contrário do que possa parecer, com o título "Tudo Esclarecido", a cantora fluminense nega a intenção de fazer deste disco um tributo didático ou cronológico.
"Foi tudo muito intuitivo. Quem ouvir o disco vai conhecer algo bem variado, a música grandiosa do Itamar. Eu amo esse cara, que eu vinha homenageando fazia tempo", diz.
"E ele era um compositor popular, por mais paradoxal que isso possa soar. O disco ficou alegre, no sentido de ter leveza", completa a cantora, falando sobre o alcance da música de Itamar, por mais que ele tenha ganhado rótulos de "maldito" e de um compositor "difícil".
"Tudo Esclarecido" tem 13 faixas, sendo sete regravações de temas pouco conhecidos de Itamar, além de seis inéditas. Uma delas é "Zélia Mãe Joana", feita pelo Nego Dito para a cantora, exaltando a relação de admiração que os dois sempre tiveram.
LEQUE DE VARIEDADES
"Eu já tinha esse material guardado, não precisei pedir, já tinha esse leque de variedades", diz Zélia.
O "leque de variedades" diz respeito à diversidade de gêneros que aparecem no disco.
Tem o samba rock funkeado "Cabelo Duro", o xote "Isso Não Vai Ficar Assim", as baladas "Mal Menor" e "Noite Torta".
Há também o samba "É de Estarrecer", entre outros estilos, como o forró "Vê se Me Esquece", todos com a densidade das criações de Itamar, mas que soam extremamente pop e inteligíveis.
TUDO ESCLARECIDO
ARTISTA Zélia Duncan
GRAVADORA Warner Music
QUANTO de R$ 27,90 (CD normal) a R$ 101,90 (versão deluxe), em média

Quadrinhos


CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO

ADÃO
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      LEDERLY

Lederly

Fome de polêmica - Nina Horta


NINA HORTA
Fome de polêmica
Poderia virar uma crítica tão ferina, que pelo menos dois cozinheiros criticados se enforcassem por ano
LOGO EM seguida a uma coluna que me mostra muito boazinha, comendo jabuticaba e dando milho para as galinhas, fico com uma vontade de fazer como o Pondé... Entrar numa polêmica das boas, só para implicar com todo mundo, santo Exu, e ver, deliciada, os leitores se arranhando e me espinafrando com pseudônimo de ursinhos polares.
Mas não é meu jeito, o que eu deploro. Não consigo. Por exemplo, detesto todos os restaurantes de comida moderna que imitam os bons cozinheiros e cobram uma fortuna por um menu-degustação sem pé nem cabeça. Mas fico meses experimentando vários deles, quieta, e depois só falo daqueles de que gostei.
Atitude que só tem me trazido dissabores vida afora. Não gosta, vá lá e fale e diga o porquê. E passe pra outra. E as discussões são sempre bem-vindas. É por causa da mania de viver botando panos quentes que a gente derrapa até na cozinha.
O que pode haver de mais escandaloso na cozinha? Aqui no bufê é tudo de uma santidade sem fim. A não ser... O cozinheiro que tinha três mulheres e se dava muito bem com todas e ainda namoriscava um pouco nas horas vagas. Passados muitos anos, as três deram o fora nele ao mesmo tempo. Acho que no século 21 foi a única pessoa que conheço que morreu de amor.
Traições, fingimentos, mentiras, fofocas, tudo isso rola em todos os patamares de uma cozinha, mas acho que é o máximo que acontece por essas bandas.
Logo no começo do bufê, quando os cozinheiros ainda faziam parte de um submundo e nem eram celebridades de revistas, vimos que havia uma briga se desenvolvendo entre os nossos e pedimos que viessem conversar. Descobrimos que um deles tinha levado a foto do outro para o cemitério. Qual seria a implicação do gesto? O que acarreta levar a foto para o cemitério? Nunca soube, só suspeitei de chamamento dos mortos, talvez, para abocanhar o cozinheiro em 4x4.
Mas nada disso dá polêmica, ninguém quer nem saber dessas histórias. É preciso assunto mais gordo, como o do foie gras, que, se mencionado, traz e-mails de ódio candente. E falar em matar galinha também faz o mundo cair. Nem são vegetarianos. É porque falar em morte de galinha é proibido, bate na alma, galinha é um bicho muito íntimo. E que não se toque em caça. Não se come caça e ponto final. Seria bom se pudéssemos discutir esses assuntos sem ficarmos ofendidos até o âmago. Pelo jeito, na cozinha, somos mais de bebidas e alegrias e rodopios no salão.
Com criatividade, poderíamos aludir à causa das baleias mandando um e-mail para todos os clientes. "Podem me chamar de Ishmael." Ou virar uma crítica de restaurantes tão ferina, que pelo menos dois cozinheiros criticados se enforcassem por ano.
O Anthony Bourdain foi às alturas por um sucesso de escândalo, quando contou como eram os bastidores dos restaurantes tim tim por tim tim. E o palmito assado Kaiowaá poderia ser um carro-chefe sem precedentes. Se ajudaria os índios, não sei. Mas acho que, nessa vida tão difícil, deveríamos ter o direito de ser burros pelo menos no Facebook, seio de mãe a transbordar carinhos.

    Associação questiona eficácia de filtros solares


    Avaliação da Proteste aponta que há falhas em produtos à venda no país
    Empresas questionam métodos usados no teste da entidade de defesa do consumidor e contestam resultados
    DÉBORA MISMETTIEDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE”Entre dez marcas de filtros solares de uso adulto à venda no país, duas têm menos da metade do FPS (Fator de Proteção Solar) declarado no rótulo, segundo teste laboratorial encomendado pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).
    A avaliação incluiu produtos das marcas L'Oreal, La Roche-Posay, O Boticário, Coppertone, Cenoura&Bronze, Sundown, Avon, Nivea, Banana Boat e Red Apple, todos com FPS 30.
    As fabricantes contestam o resultado e questionam a metodologia empregada.
    Os produtos foram submetidos a uma análise in vitro para checar o fator de proteção, além de passarem por testes de irritabilidade da pele, fotoestabilidade, hidratação, rotulagem e desperdício causado pela embalagem.
    De acordo com os resultados obtidos pela Proteste, os produtos Nivea Sun e Banana Boat foram os piores no quesito FPS. Os produtos têm fator de proteção 13 e dez, respectivamente, em vez de 30, de acordo com a análise.
    Os mais bem avaliados nesse item foram o L'Oreal Solar Expertise, o La Roche-Posay Anthelios Hélioblock e o Cenoura&Bronze.
    MÉTODOS
    O ensaio é feito em placas (cuja rugosidade simula à da pele humana), submetidas à radiação ultravioleta, de acordo com a Proteste.
    Segundo o médico Sérgio Schalka, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e especialista em fotoproteção, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exige testes feitos in vivo, em pessoas, para determinar o FPS.
    O coordenador técnico da Proteste, Dino Lameira, afirma que o método in vitro foi o escolhido porque o objetivo do teste era comparar os produtos entre si, e esse tipo de avaliação é melhor do que o ensaio in vivo para isso.
    "O método é reconhecido, apesar de não ser o oficial."
    Ana Palieraqui, pesquisadora médica da entidade, afirma que o método in vitro foi preferido justamente por não usar voluntários humanos. "A Comissão Europeia recomenda desde 2006 que sejam feitos testes in vitro, para não expor pessoas à radiação ultravioleta. Os resultados dos dois tipos de teste são equivalentes."
    No entanto, diz Schalka, o teste que não usa voluntários é mais sensível aos produtos que têm barreiras físicas contra o sol, ou seja, que refletem mais a luz. Os que têm barreiras químicas ficam prejudicados por esse tipo de avaliação, segundo ele.
    O médico lembra que, se a pessoa usar o produto em pouca quantidade, a proteção contra a radiação cai muito. "Uma dica fácil é aplicar meia colher de chá do filtro no rosto e meia em cada braço, uma colher de chá em cada perna, uma no peito e barria e uma nas costas. Para uma criança de seis anos, metade disso é suficiente."
    RADIAÇÃO
    A proteção contra raios UVA também foi medida. A partir de 2014, os filtros solares à venda no país deverão ter proteção UVA no valor de um terço da do UVB. Assim, um filtro 30 terá de apresentar uma proteção UVA de 10.
    Os raios UVB causam queimaduras solares, câncer de pele e são mais fortes no verão. Já os UVA são constantes durante o ano e levam ao envelhecimento da pele e ao bronzeamento.
    Cenoura&Bronze e Red Apple tiveram os piores resultados em proteção UVA.
    A situação entre os produtos voltados ao público infantil é melhor, segundo o teste. Os cinco analisados tiveram boa avaliação na proteção UVB e dois foram reprovados quanto ao UVA.

      OUTRO LADO
      Produtos são aprovados e passam por testes rigorosos, dizem fabricantes
      DA EDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE”
      A Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) afirmou, em nota, que "refuta mais uma vez os dados sensacionalistas divulgados pela Proteste". Em 2009, a entidade havia publicado um teste semelhante.
      Ainda segundo a nota, a avaliação é "pífia" e usa métodos não reconhecidos. Segundo a associação, a publicação é um ataque ao setor de cosméticos do Brasil.
      A Nivea afirma que seus produtos são testados na Alemanha seguindo protocolos internacionais de qualidade e que discorda dos resultados da Proteste. Em nota, a empresa informa que não teve acesso ao estudo na íntegra e por isso não pôde avaliar os métodos usados.
      A Energizer, que produz o Banana Boat, afirma que ainda vai revisar os dados enviados pela reportagem. "A empresa cumpre as normas de certificação da Anvisa."
      A La Roche-Posay diz que todos os dados contidos no rótulo de seu filtro solar foram comprovados em testes feitos com metodologias aprovadas pela Anvisa e que desconhece os métodos usados pela Proteste.
      Segundo a empresa, o filtro Anthelios Hélioblock já apresenta uma relação entre proteção UVA e UVB maior do que a exigida pelos padrões europeus, "embora essa recomendação entre em vigor no Brasil só a partir de 2014".
      O Boticário declarou cumprir todos os requisitos da legislação vigente.
      A Avon afirma que garante a segurança e a eficácia de todos os seus produtos, realizando os testes aprovados pelas entidades reguladoras.
      O laboratório Schering Plough, detentor da marca Coppertone no Brasil, declarou que todos os produtos são aprovados com rigor científico e obedecem a padrões nacionais e internacionais.
      Em nota, a Cenoura&Bronze afirma seguir os padrões exigidos pela Anvisa e que sua linha com FPS 30 foi submetida recentemente a testes que comprovaram a eficácia do produto.
      A Kimberly-Clark Brasil, que detém a marca Huggies Turma da Mônica, afirma que avalia seus produtos periodicamente, para manter seus padrões de qualidade e atender aos requisitos da Anvisa.
      A Sundown, da Johnson &Johnson, declarou que seus produtos passam por testes em instituições idôneas.
      A Red Apple e a L'Oreal foram procuradas, mas não se pronunciaram. (DM)

      Pulsantes - MARTHA MEDEIROS

      Zero Hora - 28/11/2012

      Assisti à peça Vermelho, encenada pelo extraordinário Antonio Fagundes e por seu filho Bruno, que conta uma parte da vida do pintor Mark Rothko, expoente do expressionismo abstrato nos anos 50 e 60. O texto é tão bom, que saí do teatro com a cabeça fervendo.

      Vontade de escrever sobre o dilema entre o que é artístico e o que é comercial, sobre as diferentes maneiras de vermos a mesma coisa, sobre a função da arte abstrata (que nunca me comoveu, mas à qual a partir da peça passei a dar outro valor) e sobre a desproteção das obras quando expostas (Mark Rothko era hiperexigente quanto à luz das galerias, assim como quanto à distância que o visitante deveria ficar da tela, e por quanto tempo esse visitante deveria observá-la até ser atingido emocionalmente... enfim, um chato, esse Rothko, mas fascinava).

      No entanto, como não sou conhecedora de pintura, resolvi destacar aqui um outro aspecto da montagem, que diz respeito não só a artistas plásticos, mas a todos os que lidam com criação. Pensando bem, até com os que não lidam.

      Muitos entre nós ainda acreditam que trabalho e prazer são duas coisas distintas que não se misturam. O dia, em tese, é dividido em três terços: oito horas trabalhando, oito horas aproveitando a vida (até parece: e as filas? e o trânsito?) e oito horas dormindo. Cada coisa no seu devido lugar. Apenas os artistas teriam a liberdade de subverter essa ordem.

      Pois o mundo mudou. O trabalho está deixando de ser aquela atividade burocrática e rígida cuja finalidade era ganhar dinheiro e nada mais. Queremos extrair prazer do nosso ofício, seja ele técnico, artístico, formal, informal. O conceito de estabilidade perdeu força, as hierarquias já não impressionam.

      A meta, hoje, é aproveitar as novas tecnologias e as oportunidades que elas oferecem. Atuar de forma mais flexível, autônoma e motivada. Trocar o “chegar lá” pelo “ser feliz agora”. Ou seja, amar o trabalho do mesmo jeito que se ama ir ao cinema, pegar uma praia e sair com os amigos.

      Rothko respirava trabalho, e considerava que estava igualmente trabalhando quando lia Dostoievski, quando filosofava, quando caminhava pelas ruas, quando amava, quando dormia, quando conversava. Defendia a vida como matéria-prima da inspiração, sem regrar-se pelo horário comercial. Não se dava folga – ou folgava o tempo inteiro, depende do ponto de vista. Quando não estava pintando, estava alimentando sua sensibilidade, sem a qual nenhuma pintura existiria.

      Nos anos 50, só mesmo um artista poderia viver essa fusão na prática. Depois que cruzamos o ano 2000, porém, é uma tendência que só cresce, em todas as áreas profissionais, nas que existem e, principalmente, nas que estão sendo inventadas.

      Como pintor, Mark Rothko valeu-se de uma vasta cartela de cores, mas expressou-se magistralmente em vermelho – na verdade, ele viveu em vermelho. Paixão, sangue, vinho, pimenta, calor, sedução. Ele sabia que essa era a cor que pulsava. E segue moderno, pois, como ele, são os pulsantes que estão fazendo a diferença. 

      Amazônia tem menor desmate da história


      Números preliminares divulgados pelo governo mostram redução de 27% em comparação ao ano anterior
      Ministério comemora resultados, mas ONGs pedem atenção à tendência recente de retomada da degradação
      DE SÃO PAULOA taxa de desmatamento ilegal na Amazônia manteve a tendência de queda e registrou mais um recorde, chegando ao menor número desde que a série histórica foi iniciada pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em 1988.
      Entre agosto de 2011 e julho de 2012, foram derrubados 4.656 km² de floresta. Uma redução de 27% em relação ao período anterior, que teve 6.418 km² degradados.
      Esses dados são estimativas do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), que computam o chamado corte raso, quando toda a cobertura florestal é removida. Os números consolidados saem em meados do ano que vem, mas a diferença não deve ser grande.
      Ao anunciar os dados, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, comemorou os bons resultados.
      "Ouso dizer que esta é a única boa notícia ambiental que o planeta teve neste ano do ponto de vista de mudanças do clima", afirmou ela.
      Em números absolutos, o Pará mais uma vez foi o Estado que mais desmatou, com 1.699 km² de floresta destruída. Isso é mais do que o dobro do desmatamento no segundo colocado, o Mato Grosso, com 777 km².
      Ambos os Estados, contudo, reduziram a quantidade de mata perdida em relação ao período anterior, em 44% e 31%, respectivamente.
      Desta vez, apenas Acre, Amazonas e Tocantins não mostraram redução na perda de cobertura florestal.
      De acordo com a ministra, ainda não foram identificadas todas as razões para o desmatamento nesses Estados, mas já há algumas questões definidas.
      No Amazonas, o incremento na degradação estaria ligado à BR-317, perto do município de Apuí.
      REPERCUSSÃO
      De acordo com Heron Martins, pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), ONG que realiza medições independentes do desmatamento na Amazônia Legal, a queda já era esperada.
      Ele diz que a queda recorde não pode ser atribuída a apenas um fator, e que houve iniciativas tanto estaduais quanto federais que deram bons resultados.
      "A criação da lista do Ministério do Meio Ambiente com os municípios que mais desmatam teve um impacto muito positivo, porque gerou uma série de restrições para os municípios desmatadores", avalia.
      Outras entidades ambientais, como o Greenpeace, também comemoraram a queda, mas pediram cautela.
      REAQUECIMENTO
      Números de um outro sistema de monitoramento, o Sad (Sistema de Alerta do Desmatamento), do Imazon, indicam uma tendência de reaquecimento do desmate na região amazônica.
      Os dados são de agosto a outubro de 2012 -mais recentes do que os anunciados agora pelo governo- e mostram alta de 125% nas derrubadas em comparação ao mesmo período de 2011.
      O Deter, outro sistema do Inpe, também indica uma tendência de alta.
      "Mas ainda estamos no início do calendário de monitoramento, e existe a possibilidade de segurar isso", afirma Heron Martins.
      A ministra Izabella Teixeira anunciou, junto com os dados do desmatamento, um incremento na fiscalização. Com o uso de uma nova aparelhagem eletrônica, os fiscais poderão demarcar as áreas em que houve derrubadas ilegais e, imediatamente, emitir o auto de infração.
      O investimento total no projeto, que já está em fase de testes, foi de R$ 15 milhões.(GIULIANA MIRANDA)

        O caminho das pedras ( Felipe Tichauer) - Eduardo Tristão Girão‏

        Dono de estúdio nos Estados Unidos, o engenheiro de som paulistano Felipe Tichauer defende a música brasileira no mercado internacional. Em 2013 ele vai montar uma filial em São Paulo 

        Eduardo Tristão Girão
        Estado de Minas: 28/11/2012 
        Na Red Traxx Music, em Miami, Tichauer se encarrega das várias etapas da produção de um disco


        Por vezes o sucesso acontece pela junção de talento e sorte. Para o paulistano Felipe Tichauer, de 32 anos, não foi diferente. Indeciso na hora do vestibular, o músico amador descobriu o curso de engenharia de som numa universidade dos Estados Unidos e resolveu pagar para ver. Arranjou emprego com o produtor musical Rudy Pérez e, por acaso, teve como primeiro trabalho a gravação de Mi reflejo (2000), disco de estreia em espanhol da cantora Christina Aguilera que acabou ganhando um Grammy Latino. Cinco anos depois, abriu seu próprio estúdio, o Red Traxx Music, em Miami, tornando-se requisitado inclusive por brasileiros.

        “A equipe do Rudy era pequena e cresci rápido por necessidade”, conta Tichauer. “Fizemos quase 60 discos em dois anos. Foi minha verdadeira escola em gravação e da indústria musical. Trabalhava de 15 a 18 horas por dia todos os dias e pude acompanhar todas as fases de produção de um disco. Sou muito grato por essa experiência. A partir disso virei freelancer. Fui para Los Angeles trabalhar com o produtor de rock Michael Beinhorn, que trabalhou com Red Hot Chili Peppers, Korn e Soundgarden. Voltando para Miami, montei meu estúdio, já que percebi que a tendência dos engenheiros era ter estúdio próprio.”

        Fidelidade A ideia de cobrar do cliente por hora de trabalho nunca agradou a Tichauer. “O projeto fica pronto quando estamos todos felizes e não quando a hora do estúdio acabou. O cliente fica mais tranquilo e o produto final se beneficia disso. Quando o disco chega pra mim é como se eu tivesse recebido o sonho do artista nas minhas mãos”, justifica. Dessa forma, Tichauer conseguiu fidelizar nomes importantes e, consequentemente, ser indicado por eles para terceiros. Atualmente, 80% do seu trabalho são dedicados à masterização, sendo o restante mixagem, composição e produção.

        Não foi fácil entrar no mercado norte-americano, lembra Felipe Tichauer. “A maior dificuldade para estrangeiros nesse mercado é o visto de trabalho. Acredito que o brasileiro tem musicalidade nata, que ajuda muito. A maior diferença é como os norte-americanos trabalham, a ética de estúdio etc.. Por serem muito competitivos, o segredo é ralar muito mesmo, e sempre estar com uma energia positiva, pois as pessoas vão te dar oportunidade. A sua obrigação é estar pronto quando ela aparecer.”

        O esforço rendeu frutos: o paulistano está construindo um estúdio desenhado especialmente para masterização em Miami e, ano que vem, vai inaugurar outro em São Paulo, em parceria com o engenheiro de som Gustavo Lenza e o músico Chico Salem. “O estúdio brasileiro será voltado mais para a mixagem de música em estéreo e surround”, adianta. Isso certamente facilitará o contato entre Felipe e os artistas brasileiros que frequentemente o procuram para masterizar seus discos.

        Entre os muitos nomes nacionais que Tichauer tem no currículo, ele aponta Arnaldo Antunes, Céu, Curumin, Rodrigo Campos, Gabi Amarantos, Alexandre Pires, Mallu Magalhães, Anelis Assumpção, Gui Amabis, Márcia Castro, Karina Buhr, Eddie, BNegão e a belo-horizontina Laura Lopes, que lançou seu bom disco de estreia semana passada. “A nova geração tem a tarefa dificílima de repor os nossos grandes nomes dos últimos 50 anos, pois realmente conseguiram se manter relevantes até hoje. Hoje há muita gente talentosa e de diferentes tribos”, avalia.

        Grammy Somando os trabalhos que assinou para artistas internacionais como Rod Stewart, José Feliciano, Michael Bolton, Grover Washington Jr. e Diana Ross, Felipe Tichauer participou de 19 projetos indicados ao Grammy e ao Grammy Latino. Hoje, ele participa do comitê brasileiro do segundo, analisando os trabalhos inscritos para categorizá-los corretamente. “O Grammy Latino é dominado atualmente pelos artistas de língua espanhola”, admite. “O Brasil ainda é marginal e a comunidade brasileira não tem força dos hispânicos.”

        E Tichauer completa: “Brigo muito pela maior exposição dos artistas brasileiros na cerimônia, que é televisionada, mas é uma questão complicada, pois os anunciantes de TV e quem controla a transmissão do evento acha que se aparecer alguém cantando em português eles vão perder ibope. Eu até entendo o receio, mas discordo. A música brasileira é muito respeitada por aqui e já aconteceu numa das primeiras edições de o Djavan ser aplaudido de pé por cantar só com violão logo após a apresentação da Shakira, que tinha pirotecnia e bailarinos”.


        três perguntas para...

        Felipe Tichauer engenheiro de som
        Como explicar para um leigo a influência que a masterização pode ter sobre um disco?
        Minha função é proporcionar equilíbrio tonal e de volume em um disco ou faixa. O objetivo final é que esse material soe bem em diferentes equipamentos de som. É também a última etapa antes do disco ir para a fábrica de duplicação. Adicionamos os códigos necessários, trabalhamos o espaçamento entre as faixas e conferimos se não existe nenhum erro na matriz. Escutamos o som numa sala acusticamente equilibrada, onde podemos corrigir qualquer imperfeição do processo de mixagem.

        O contato direto com os artistas faz falta na masterização, uma vez que muitos fazem isso à distância?
        Claro que é mais legal ter esse contato físico, mas eu até prefiro que o cliente escute o meu trabalho num ambiente em que ele esteja acostumado, pois terá melhor referência. A presença física na masterização não é tão importante quanto na mixagem, na qual muitas decisões artísticas são feitas.

        Como profissional experiente e por estar fora do Brasil, como você avalia a cena musical brasileira hoje?
        Sou apaixonado pela música do Brasil. De três anos para cá tenho trabalhado muito com artistas brasileiros, a maioria deles independentes. Vejo cenas divididas que se comunicam. Tem São Paulo produzindo muita coisa boa, Recife como outro lugar muito rico e com bastante diversidade e Minas crescendo junto com o Sul. Todos se conhecem, muitos tocam nos discos uns dos outros. Isso fortalece a cena. A mídia mainstream começou a dar mais espaço a essa nova geração e o desafio é dar sustentabilidade a ela. O cara consegue um apoio de edital, lança um disco e aí começa o desafio.

        PUC em cena


        PUC em cena
        Diretor de teatro Zé Celso faz ato no "Pátio da Cruz" a pedido dos alunos grevistas que querem desistência de reitora indicada por arcebispo
        OLÍVIA FLORÊNCIACOLABORAÇÃO PARA A FOLHAO "Pátio da Cruz", no campus da PUC-SP em Perdizes (zona oeste), foi invadido ontem por centenas de estudantes e um boneco de 3 m de altura representando um padre.
        O sacerdote, que dizia "querer a PUC", teve partes do corpo mutiladas até perder a cabeça. Morreu ouvindo a frase derradeira: "O senhor também não pode querer ter tudo. Muito menos a PUC".
        A encenação foi conduzida por um ex-aluno famoso da universidade, o diretor de teatro Zé Celso Martinez, que reuniu cerca de 200 pessoas no pátio às 18h em ato em prol do movimento grevista que pede a desistência da professora indicada para a reitoria, Anna Cintra.
        Zé Celso iniciou o espetáculo com frases provocativas: "Fora Anna Cintra!"; "O Vaticano tem que entrar pelo cano! Chega!".
        A plateia -alunos, ex-alunos e professores- ovacionou a cena, adaptada do espetáculo "Arcodes", do próprio diretor e em cartaz atualmente em São Paulo.
        Zé Celso, conhecido pela inventividade (e longa duração) de suas obras, foi convidado para fazer o ato pelos próprios alunos.
        "O movimento político da PUC ficou forte e vai tocar o mundo. O papa é um ditador. A Igreja castra e o catolicismo é antropófago", disse Zé Celso, após o ato.
        O diretor foi aluno de filosofia da PUC-SP. Disse ter desistido após dois anos de curso porque a instituição não tinha a democracia que tem atualmente.
        DEMOCRACIA
        Presente no ato, Sônia Inácio, professora de pós-graduação, disse o movimento grevista é justo.
        "Acho [o ato] maravilhoso! A arte deve ser empregada também para ajudar momentos políticos."
        Para Andréia Fischer, 23, aluna de psicologia, a luta dos estudantes é maior que a indicação para a reitoria.
        "É uma luta a favor da democracia em todas as universidades", afirmou.
        TERCEIRA COLOCADA
        A greve começou no dia 13, depois que Anna Cintra foi indicada para a reitoria por dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e grão chanceler da PUC-SP.
        Ela ficou em terceiro lugar em uma eleição entre alunos, funcionários e professores.
        O estatuto prevê que a escolha final, entre os nomes de uma lista tríplice, cabe ao cardeal, mas, tradicionalmente, o primeiro era o nomeado. O vencedor foi Dirceu de Mello, o atual reitor.
        Cintra deve tomar posse do cargo na sexta-feira. A comissão do movimento diz que os alunos e professores pretendem manter a greve até que ela desista do cargo de reitora da universidade.
        DESRESPEITO
        A assessoria da PUC disse que a reitoria não iria se manifestar sobre o ato.
        A assessoria da Arquidiocese de São Paulo informou, em nota, que "desconhecia as manifestações do senhor José Celso Martinez acerca da fé católica e lamenta que o referido senhor desrespeite o sentimento religioso de milhões de brasileiros".
        "Mais lamentável o fato de as ofensas acontecerem no contexto do ambiente acadêmico, do qual se espera o mínimo de convivência com a liberdade de crença", afirmou a arquidiocese.

          Descuido - Antonio Prata


          ANTONIO PRATA
          Descuido *
          No relacionamento, às vezes a gente se sente como quem dirige no estrangeiro: errando e sendo xingado
          - Maravilha, vaga bem na frente.
          - Cê não acha mais seguro deixar no valet?
          - Vinte e cinco paus?!
          - Se a gente sair tarde...
          - Prefiro dar o dinheiro pro ladrão que pro valet: pelo menos o roubo é explícito. Pode deixar, a gente vai embora cedo -ele diz, já fazendo a baliza.
          - Ó lá, hein? São Paulo tá fogo, não quero dar mole de madrugada...
          Ele desliga o carro. Vai abrir a porta, hesita:
          - Cê tem uma bala, aí?
          - Tenho um Trident, serve?
          - Serve.
          Ela pega o chiclete na bolsa. Vai dar pra ele, hesita:
          - Engraçado, cê nunca gostou de bala, chiclete, por que isso, agora?
          - Porque... Ah, essa coisa de vernissage, todo mundo espremidinho, falando um na cara do outro, sei lá, vai que...
          - Que?...
          - Vai que eu tô com um bafinho?
          - Que nojo! Cê tá com um bafinho?!
          - Não sei, tô?
          - Sei lá! Não! Por que que cê ia tá com bafinho?
          - Ué, tava no trabalho, um tempão sem comer, reunião... Sabe aquelas pessoas que têm um bafinho de trabalho? Morro de medo. Daí o chiclete.
          Ele vai pegar o Trident: ela fecha a mão -e a cara. Ele suspira. (Às vezes sente-se no relacionamento como quem dirige num país estrangeiro: vira e mexe, sem nem perceber, está cometendo infrações, levando apito do guarda, escutando xingamentos dos outros motoristas.)
          - Que foi?
          - Como, que foi?! Quer dizer que se você tiver com bafo a sua maior preocupação é com o pessoal na vernissage, não comigo?!
          - Não, eu... Olha, eu não acho que tô com bafo! É, é só um cuidado.
          - Cuidado com eles e descuido comigo! Eu sou sua mulher! É comigo que você tem que se preocupar! "De tudo ao meu amor serei atento antes", não é esse o verso do Vinicius que você vive citando por aí? Bafinho! Vê se pode! É o fim do amor!
          - Que fim... Escuta, vamos lá pro lançamento?! É perigoso ficar aqui discutindo dentro do carro.
          - Ah! Pra economizar R$ 25 do valet não era perigoso, mas pra resolver a situação com a sua mulher, é?!
          - Que situação?! Não tem situação nenhuma! Eu só pedi uma bala! Onde cê tá querendo chegar com essa discussão?
          - Eu que te pergunto! Onde cê tá querendo chegar com essa atitude?
          - Eu? Eu quero chegar no lançamento, só isso. Será que dava pra gente ir pro lançamento?
          - Se você tá tão preocupado assim com esse lançamento, vai! Vai que eu vou embora!
          - Olha, se eu sair desse carro vai ficar configurada uma briga, cê sabe, né?
          - É bom, mesmo, pra você ficar mais esperto comigo. Quem ama, cuida! Não é Vinicius, mas é bem verdade! Vai, vai pro seu lançamento!
          Ele dá a chave pra ela. Sai do carro. Ela pula pro banco de motorista e arranca, cantando pneus. Ele olha em volta, não vê nenhum conhecido. Põe a mão em concha sobre a boca e o nariz. Testa. Parece que não: mas vai que? Compra um saco de pipocas e entra mastigando, seguro e infeliz.

          Frei Betto - Para evitar a borrasca‏

          Dos dois lados do Mediterrâneo o povo protesta. Mas a indignação não resulta em proposição 

          Frei Betto
          Estado de Minas: 28/11/2012 

          Passei agradável fim de semana de novembro em companhia de Boaventura de Sousa Santos e outros amigos. Em sua fecunda reflexão, o cientista social português apontou as carregadas nuvens que pesam sobre a conjuntura mundial. Há uma flagrante desconstrução da democracia. Desde o século 18 a Europa tem a sua história manchada de sangue, devido à incidência de guerras. Nos últimos 50 anos, acreditou ter conquistado a paz consolidada pela democracia fundada em direitos econômicos e sociais.

          De fato, tais conquistas funcionavam como antídoto à ameaça representada pelo socialismo que abarcara a metade leste do continente europeu. Com a queda do Muro de Berlim, o capitalismo rasgou a fantasia e mostrou sua face diabólica (etimologicamente, desagregadora). Os direitos sociais passaram a ser eliminados, e os países, antes administrados por políticos democraticamente eleitos, são governados, agora, pela troika FMI, BCE (Banco Central Europeu) e agências de risco estadunidenses.

          Nenhum dirigente dessas instituições foi eleito democraticamente. E qual é a credibilidade das agências de risco se na véspera da quebra do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, as agências atribuíram a seus papéis a nota mais alta – triplo A?

          Hoje, o único espaço ainda não controlado é a rua. Mesmo assim, há crescente criminalização das manifestações populares. A TV exibe, todos os dias, multidões inconformadas reprimidas violentamente pela polícia. Dos dois lados do Mediterrâneo o povo protesta. As mobilizações, contudo, têm efeito limitado. A indignação não resulta em proposição. O grito não se consubstancia em projeto. Wall Street (Rua do Muro) é ocupada, não derrubada, como o Muro de Berlim. Não são sinalizados “outros mundos possíveis”.

          O bem-estar que se procura assegurar, hoje, é o do mercado financeiro. O Estado deixou de ser financiado somente pelos impostos pagos por empresas e cidadãos. Outrora os mais ricos pagavam mais impostos (nos países nórdicos, ainda hoje chegam a 75% dos ganhos), de modo a redistribuir a renda através dos serviços oferecidos pelo Estado à população.

          A partir do momento em que a elite começou a grita pelo Estado mínimo e por pagar cada vez menos impostos (como vimos proposto na campanha presidencial dos EUA), os Estados viram crescer suas dívidas e se socorreram nos bancos que, fartos em liquidez, emprestavam a juros reduzidos. Assim, muitos países se tornaram reféns dos bancos.

          Caso típico é a relação da Alemanha com seus pares na União Europeia. Os bancos alemães emprestavam dinheiro à Espanha – desde que ela adquirisse produtos alemães. Agora, a Alemanha é credora de metade da Europa. Isso dissemina uma nova onda de antigermanismo no continente europeu. No século 20, duas vezes a Alemanha tentou dominar a Europa, o que resultou em duas grandes guerras, nas quais foi derrotada. Agora, no entanto, ela ameaça consegui-lo por meio da guerra econômica. Mais uma vez a pedra no sapato é a França, de Hollande, que, contrariando todas as expectativas, escapou este ano da maré recessiva que assola a Europa.

          Países da América Latina e da África resistem à crise por meio da exploração e exportação da natureza – minérios, produtos agrícolas, combustíveis fosseis etc. Porém, quem fixa o preço das commodities são os EUA, a China e a Europa. Cada vez pagam menos dinheiro por maior volume de mercadorias. O mercado futuro já fixa preços para as colheitas de 2016! Tal especulação fez subir, nos últimos anos, o número de famintos crônicos, de 800 milhões para 1,2 bilhão!
          Infla, assustadoramente, o preço de mercado dos dois principais bens da natureza: terra e água. Empresas transnacionais investem pesado na compra de terra e fontes de água potável na América Latina, Ásia e África. Nossos países se desnacionalizam pela desapropriação de nossos territórios. A grilagem é desenfreada. O curioso é que as terras são adquiridas com os habitantes que nela se encontram, como se fizessem parte da paisagem. Há uma progressiva desmaterialização do trabalho. A atividade humana cede lugar à robotização. Nos setores em que não há robotização, campeiam a terceirização e o trabalho escravo, como a mão de obra boliviana e asiática usadas em confecções brasileiras. Já não há distinção entre trabalho pago e não pago. Quem remunera o trabalho que você faz via equipamentos eletrônicos ao deixar o local físico em que está empregado?

          Outrora brigava-se pela remuneração de horas extras e do tempo gasto entre o local de trabalho e a moradia. Hoje, via computador, o trabalho invade o lar e sonega o espaço familiar. A relação das pessoas com a máquina tende a superar o contato com seus semelhantes. O real cede lugar ao virtual. Suprime-se a fronteira entre trabalho e domicílio.

          O conhecimento é mercantilizado. Nas universidades tem importância a pesquisa capaz de gerar patentes com valor comercial. O conhecimento é aferido por seu valor de mercado, como nas áreas de biologia e engenharia genética. O professor trancado em seu laboratório não está preocupado com o avanço da ciência, e sim com seu saldo bancário a ser engordado pela empresa que lhe banca a pesquisa.
          Essa mercantilização do conhecimento reduz, nas universidades, os departamentos considerados não produtivos, como os de ciências humanas. Decreta-se, assim, o fim do pensamento crítico. E, de quebra, o do conhecimento científico inventivo, que nasce da curiosidade de desvendar os mistérios da natureza, e não da sua manipulação lucrativa, como é o caso dos transgênicos.

          A esperança reside, pois, nas ruas, na mobilização organizada de todos aqueles que, de olho nas nuvens, são capazes de evitar a borrasca por transformar a esperança em projetos viáveis.

          FERNANDO BRANT » Gonzaga, pai e filho‏

          Os anos se passaram e nos tornamos amigos absolutos 

          Fernando Brant
          Estado de Minas: 28/11/2012 
          Na tela explodem corações. Na plateia, lágrimas pela história comovente e canto silencioso pelas belíssimas canções. Dois talentos da música popular brasileira, que a vida juntou pelo sangue e desuniu no dia a dia da carreira de um e do crescimento do outro. Desencontros familiares levados ao extremo.

          Um era o Luiz Gonzaga, ídolo maior de gerações de brasileiros. Este, quando as astúcias cruéis do mercado acenavam com o ostracismo, teve as mãos do filho para trazê-lo de volta aos palcos com o nome de Gonzagão para contrastar com o filho, Gonzaguinha. Para voltar a ser considerado grande teve que se unir ao moleque.

          O Luizinho eu conheci, lá pelos idos de 1968, batendo na porta de um apartamento em Copacabana. Queria falar com o Milton Nascimento para lhe pedir que cantasse sua música, O trem, num festival estudantil da antiga TV Tupi. Mas o Milton estava em Minas por alguns dias. Eu e a namorada passávamos um tempo no pequeno apartamento da Travessa Angrense. Depois de três tentativas ele desistiu e resolveu cantar ele mesmo a canção. Assisti pela televisão à sua vitória e ao início de seu sucesso.

          Os anos se passaram e nos tornamos amigos absolutos. Morou primeiro em minha casa, na Cachoeirinha, já com intenção de morar em Minas. Depois, com a companheira mineira, fez sua própria casa, lugar de encontro, por 10 anos, de muitos amigos da vida cultural de Belo Horizonte. Na cozinha de minha casa, sentávamos ele, eu e minha mulher em uma pequena mesa de pequenas cadeiras, de minhas filhas, e passávamos horas em conversas sobre o mundo, o Brasil, a vida e tudo o mais.
          Assisti ao constante aprimoramento de sua delicadeza. Sua história era repleta de mágoas, injustiças. Mas ele guardou bem o amor e a generosidade de Dina e Xavier, que o criaram no Morro de São Carlos. Foi tecendo aos poucos sua obra original, conquistou multidões, embalou corações.

          Ao mesmo tempo, foi costurando a abertura do livro de sua vida, começando por gravar uma série de diálogos ásperos e elucidadores com o pai Gonzaga. Romperam-se todos os diques e, sem nenhuma psicanálise, foram os dois compondo um acerto de contas com o passado comum.

          Das trevas do desentendimento foram surgindo pequenas luzes de compreensão, de respeito, peitos abertos para o que viesse. E o que veio foi a união dos dois diante de um tempo novo. E os dois cantaram juntos a canção imortal de brasilidade e beleza. E o povo cantou com eles: é a vida, é a vida, é a vida. Minha vida é andar por esse país pra ver se um dia me encontro feliz.
          Obrigatório assistir ao filme Gonzaga, de pai para filho.

          O saldo eleitoral do mensalão - Marcos Coimbra‏


          Em termos práticos, o mais relevante da pesquisa é que, juntos, Dilma e Lula obtêm 45% das intenções espontâneas 

          Marcos Coimbra
          Estado de Minas: 28/11/2012 
          O Ibope divulgou esta semana uma pesquisa sobre a sucessão presidencial de 2014. É a primeira depois do ápice atingido pela cobertura do julgamento do mensalão, que bate recorde após recorde de tempo e espaço na “grande imprensa” do país.

          Não foi usual o modo através do qual chegou a público. Consta que era uma pesquisa realizada para múltiplos clientes, na qual havia três perguntas relativas às eleições presidenciais de 2014, incluídas por iniciativa do instituto. 

          Não há nada de extraordinário nisso. No mundo inteiro, são comuns as chamadas pesquisas omnibus, em que diversos contratantes compartilham custos e têm direito de agregar ao questionário perguntas de seu interesse. 

          É normal que o Ibope tenha querido aproveitar a oportunidade para satisfazer sua curiosidade. Tanto que existe um nome para as perguntas que os responsáveis pelos levantamentos acrescentam nessa situação: são as “caronas”, que entram no ônibus sem pagar bilhete. 

          Curioso foi que apenas o resultado da pergunta sobre voto espontâneo veio à tona. 

          Mas isso é secundário. O importante são os números. 

          De acordo com a pesquisa, realizada em todo o Brasil entre os dias 8 e 12 de novembro, Dilma tem 26% das intenções espontâneas de voto para a próxima eleição presidencial. Isso quer dizer que um em cada quatro eleitores diz que votaria em seu nome sem precisar receber qualquer estímulo (lista, cartão, etc.).

          A seguir, estaria Lula, com 19%. Entre eles, uma diferença de 7 pontos percentuais, superior à margem de erro da pesquisa. 

          Previsivelmente, foi essa vantagem de Dilma que ganhou a manchete. Ao relatar a pesquisa, os comentaristas acharam mais relevante sublinhar que Dilma “superava” Lula ou que é “mais lembrada” que ele. 

          É fato, explicável por ela estar no exercício do cargo e ser bem avaliada. Sua dianteira sobre Lula não significa perda de prestígio do antecessor, como sugere o tom das matérias relativas à pesquisa. 

          Muito atrás de ambos estão os candidatos de oposição: Serra com 4%, Aécio 3% e Marina Silva 2%. Somados, todos os outros nomes mencionados alcançam 2%. 

          Em termos práticos, o mais relevante da pesquisa é que, juntos, Dilma e Lula obtêm 45% das intenções espontâneas.

          É possível que nem todos que votariam em Dilma votassem em Lula e vice versa, mas é razoável agregar seus votos. Como seria cabível fazer o mesmo com os candidatos de oposição. 

          Assim procedendo, teríamos o PT com 45% dos votos e a oposição com 9%. No máximo, com 11%, supondo que todos os demais lembrados fossem oposicionistas. 

          Em termos do chamado “voto válido” – excluindo brancos, nulos e indecisos – o quadro é de 80% para os candidatos petistas e 20% para os outros. 

          O que quer dizer muito.

          De um lado, que o esforço de desgastar o PT com o julgamento do mensalão foi, até agora, mal sucedido. Ele não só teve pequeno efeito na eleição municipal recém concluída, como se mostra ainda menos significativo para a próxima eleição presidencial. 

          De outro, que as oposições caminham com nomes problemáticos. Alguns são conhecidos até demais e mal avaliados, como Serra. Outros são pouco conhecidos e com pequena visibilidade popular, como Aécio.

          Há ainda os que pareciam poder firmar-se, mas que se esvaíram, como Marina.

          A pesquisa também sugere que o tamanho eleitoral de algumas celebridades midiáticas é menor do que gostariam. No balaio dos 2% dos “outros”, há muita gente que imaginava ser peixe grande e não passa de bagrinho. 

          A guerra do mensalão não acabou, mas, pelo que parece, até agora é o PT que está mais bem posicionado para vencer as batalhas fundamentais.

          CIÊNCIA » Seca subterrânea - Roberta Machado‏

          Reservas de água do subsolo podem entrar em colapso, em função das mudanças no clima. No Catar, debates convergem para prorrogar acordo 

          Roberta Machado
          Estado de Minas: 28/11/2012 

          Brasília – Sob a terra sólida, corre a maior reserva de água potável líquida do mundo, um verdadeiro tesouro cobiçado, principalmente, por agricultores. Todos os dias, milhões de litros são drenados do solo para a produção de alimentos em todo o planeta, um método prático e barato, mas que começa a cobrar seu preço. Um artigo publicado na revista Nature Geoscience alerta para a possibilidade da perda permanente de algumas dessas fontes, motivada pela falta de planejamento na exploração dos aquíferos combinada com os efeitos da mudança climática. O tema do estudo é um dos focos de discussão em Doha, no Catar, sede da conferência das partes da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, a COP-18, iniciada segunda-feira.


          Ontem, apareceram os primeiros sinais de tensão na conferência da ONU, com delegados de nações insulares e da África censurando países ricos pela recusa em oferecer novos cortes na emissão de gases nos próximos oito anos. “Se as nações ricas têm os meios financeiros, têm a tecnologia, têm a população estável, já têm uma grande classe média, se esses países pensam que não conseguem reduzir e trabalhar para combater a mudança climática, como poderão eles algum dia pensar que as nações em desenvolvimento poderão fazê-lo?”, questionou André Correa do Lago, diretor do Departamento de Assuntos Ambientais do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em apoio às reivindicações dessas nações.
          Segundo os pesquisadores do artigo sobre a seca subterrânea, pensar na sustentabilidade a longo prazo, ou seja, na garantia de recursos naturais para as gerações futuras, é essencial. “Uma ação urgente é necessária para estabilizar os níveis nessas regiões e garantir a produção de alimentos. Em alguns locais, os níveis de água estão muito baixos, sendo insuficientes para a irrigação. Isso pode causar um impacto na produção da agricultura e no mercado de alimentos”, avisa o alemão Werner Aeschbach-Hertig, um dos responsáveis pela análise. De acordo com a publicação, cerca de 90% de toda a água usada no mundo têm como destino as plantações irrigadas, responsáveis por 40% da produção global de comida.


          A falta de equilíbrio no sistema causa prejuízo na vegetação das regiões exploradas e ainda influencia no aumento do nível dos oceanos. A redução do volume no subterrâneo ainda pode induzir o fluxo do líquido, que sofre um processo de salinização e poluição, com o deslocamento para outras áreas. 
          Isso ocorre, de acordo com o especialista, porque a recuperação dessas fontes costuma ser mais lenta que a velocidade de extração. A conta, no entanto, é mais complicada: a interferência em um aquífero muda o ritmo de produção de água, criando um equilíbrio dinâmico e difícil de ser mantido. Parte da água usada na irrigação também retorna à terra pela evapotranspiração, mas esse processo não pode ser medido com precisão.


          Estima-se que cerca de 1,5 trilhão de litros de água sejam retirados do solo todos os anos. O volume representa somente um décimo do volume produzido pelo planeta no mesmo período. Parece pouco, mas, mesmo que a exploração retire apenas uma fração do que é criado, a concentração dos poços em determinadas regiões põe em risco todo o sistema. Um aquífero pode levar horas ou anos para voltar ao seu salto de água original, mas, se o dano for muito profundo, é possível que ele nunca volte ao normal, e aquela fonte seja perdida.

          Problema global O perigo, ressalta Aeschbach-Hertig, é para todos. Contudo, o esgotamento do aquífero atinge áreas semiáridas e úmidas de uma forma mais intensa do que regiões carentes de água. Isso ocorre porque a exploração acaba influenciando mais que os fatores climáticos. Entre os locais com depósitos mais afetados está o nordeste da China, o oeste dos Estados Unidos, o norte da África e países como México, Irã e Arábia Saudita.


          São locais prejudicados pela alta concentração da exploração, como as grandes planícies norte-americanas, onde um terço de todo o consumo do recurso se reúne em apenas 4% da região. Mesmo procurando seguir um ritmo constante e seguro de extração, muitos agricultores levaram à extinção de aquíferos e à degradação ecológica.


          O ponto mais prejudicado pela extração desenfreada é a Planície Indo-Gangética, que inclui partes do Paquistão, o norte da Índia e Bangladesh. Mais de 1 bilhão de pessoas vivem na região. O problema teve início nos anos 1970, quando a tecnologia permitiu que os agricultores abandonassem a exploração dos rios e criassem milhões de poços que funcionam sem qualquer regulação. “Um bom exemplo de mau gerenciamento é o fato de que fazendeiros podem obter eletricidade apenas bombeando água a preços muito baixos. Embora isso ajude a melhorar suas vidas, tem um efeito ruim nos reservatórios”, diz  o pesquisador.

          Brasil No Brasil, os níveis de exploração permanecem relativamente baixos, devido ao clima úmido da maior parte do território e à alta oferta de água superficial. Mas a má gestão dos recursos naturais pode colocar em risco essa abundância. “Somos, infelizmente, uma população mal-educada, com um histórico de desperdício”, lamenta Gustavo Souto Maior, professor do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB). De acordo com o engenheiro, além do uso consciente da água, é necessária uma regulação rígida sobre a criação e exploração de poços artesianos no país. “São milhares de poços abertos sem o menor controle por parte do poder público. Esse controle tem de ser feito não somente pela quantidade de água retirada, mas também pela qualidade da água, pois muitos poços são abertos em locais inapropriados, como próximo a áreas com esgoto”, diz. A falta de controle é uma questão mundial, o que torna difícil medir a dimensão do problema. Sem supervisão de agências reguladoras, muitos produtores de diversos países recorrem a soluções técnicas que buscam aumentar a eficiência da irrigação e até mesmo repor a água retirada, mas essas estratégias não são suficientes.

          * DEBATES ACIRRADOS EM DOHA 
          O debate no segundo dia das negociações entre os 194 países membros da ONU ficou centrado principalmente no Protocolo de Kyoto, acordo firmado em 1997 que expira no mês que vem. Os países esperam negociar uma extensão do protocolo para até pelo menos 2020, mas alguns países, como Japão e Canadá, afirmam que não vão participar de um novo acordo. “É por isso que Kyoto tem que ser mantido vivo. É o pilar. Se for tirado, nós teremos o que as pessoas chamam de Velho Oeste. Todo mundo vai fazer o que quiser”, acrescentou o emabaixador André Corrêa do Lago. 


          “Na nossa visão, essas ações são uma abdicação de responsabilidade com os mais vulneráveis entre nós”, disse a líder de uma coalizão de países insulares, Marlene Moses. A previsão é que o novo pacto, que antes incluía todas as nações industrializadas menos os Estados Unidos, integre apenas a União Europeia (UE), a Austrália e outras pequenas nações que juntas representam 15% das emissões de gases do efeito estufa, conforme mostrou o EM ontem. O Japão alega que é melhor participar de um novo acordo, em 2015, que reúna todas as nações do mundo para impedir que o aumento da temperatura global passe de 2ºC em relação ao período anterior à revolução industrial.