segunda-feira, 21 de julho de 2014

Quem perderá as eleições? Por Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico 21/07/2014


O importante não é só quem ganhará a eleição - mas quem a perderá. Ou PT ou PSDB, um deles viverá uma crise séria

No dia 27 de outubro, segunda-feira, acordaremos sabendo quem venceu as eleições presidenciais. (Ou já no dia 6, se não houver segundo turno). Hoje, todos querem saber quem vai ganhar. Mas é importante perguntar quem vai perder. Dos grandes partidos que disputaram a Presidência nos últimos 20 anos, pelo menos um ficará fora do governo federal - PSDB ou PT. Um, depois de 12 anos fora do poder, o outro, depois de 12 anos no poder. Que consequências isso trará?
Primeiro cenário: o PSDB perde sua quarta eleição consecutiva. Isso será duríssimo para ele. Ficará em dúvida se, um dia, reconquistará a Presidência da República. Terá falhado o nome novo, simpático, cordato que substituiu os postulantes paulistas. A questão não será se Aécio Neves, cheio de energia, concorrerá de novo em 2018; será se o partido ainda terá gás para disputar a hegemonia no Brasil. O problema não é pessoal. Não tem a ver com Aécio. A questão é partidária. Estará o PSDB apto a disputar, ainda, o poder?

Num artigo recente, sugeri que no Brasil não ocorre alternância no poder. Uma força política, quando derrotada, não volta à Presidência da República. (Falo dos períodos democráticos, 1945-64 e 1985 para cá). O PMDB de Sarney não voltou ao poder, nem o PRN de Collor, nem - ainda - o PSDB. Se os tucanos perderem mais uma eleição presidencial, talvez as forças que ele congrega tenham de assumir uma nova identidade. O partido que hoje é "a oposição" poderá se esvaziar.


PT ou PSDB: um deles conhecerá uma amarga derrota

O segundo cenário, a derrota do PT, terá consequências ainda mais dramáticas. Aliás, seguramente o Partido dos Trabalhadores perderá uma das próximas eleições - só não sabemos qual. Há um desgaste natural no poder. E até é bom um partido que nasceu com o DNA da oposição, da contestação (já o PSDB surgiu com o DNA da governabilidade, da responsabilidade), retemperar-se ouvindo o coro dos descontentes. Um dia o PT perderá a eleição presidencial - não sabemos, ainda, quando.

Mas, se o PT for para a oposição, poderá sofrer mais que os tucanos. Estes têm bases sólidas nos dois Estados mais populosos, São Paulo e Minas Gerais - e parece que vão conservá-las. Contam também com o apoio da mídia, o que os ajudou a retirar, dos petistas, a hegemonia que estes obtiveram ao longo dos anos que culminaram na eleição de Lula. No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, órgãos de imprensa que hoje fazem ferrenha campanha contra o PT eram simpáticos a uma parte das ideias petistas. Criticavam o PT como ingênuo, idealista, irrealista - mas jamais o acusavam de ser realista demais ou corrupto. Não importa aqui quem tem razão; analiso a imagem que se tinha, a que hoje se tem. Um PT na oposição, sem apoio nos Estados ricos e com a antipatia da mídia, poderá ser mais fraco do que foi durante o governo tucano. Mais que isso, perderá não só seus aliados inconfiáveis de hoje, mas também todo um contingente de pessoas que aderiram ao PT no governo, porém não estariam dispostas à travessia no deserto de um PT devolvido à oposição.

Se para o PSDB perder a eleição pode ser muito ruim, para o PT pode ser ainda pior.
Com tudo isso, a eleição pode se decidir por poucos votos ou por uma circunstância imprevisível. Vejamos a final da Copa. Ela consagrou a Alemanha como a melhor seleção, paradigma para o mundo. Mas imaginemos que Messi emplacasse seu chute no segundo tempo. Ele perdeu o gol por poucos metros... Hoje estaríamos aplaudindo a espontaneidade sul-americana, não a organização germânica, no futebol. Foi por um fio. A eleição de 2014 também pode ser por pouco. Não falo, aqui, em números - só lembro que alguma surpresa, alguma coisa inesperada, pode fazer a diferença. Mas o resultado, uma vez obtido, é final. Quem perde, perde.

Deixei o PSB+Rede para o fim. Uma derrota, salvo se for esmagadora, pouco prejudica a parceria de Eduardo Campos com Marina Silva. Uma vitória - que é improvável, olhando de hoje - possivelmente consolidaria sua união. Pois a questão é se continuarão juntos ou tomarão rumos distintos. São diferentes demais, penso eu, para manterem um casamento que é de interesse, não de amor. Se não tiverem o cimento da vitória, poderão ir cada um numa direção. A Rede tem o futuro do idealismo. É hoje a única força política com algum relevo a dispor de uma identidade nítida, um forte apelo, um senso de futuro. O PSB, com Eduardo Campos, é um projeto de poder. Estão tentando, nestes meses, somar o fim ao meio, o idealismo da Rede ao realismo do PSB. Mas são demasiado água e azeite para se fundirem. De qualquer forma, são quem menos sofrerá com uma derrota.

A Rede tem mais a ganhar mantendo-se longe do poder, porque há de apurar seus projetos, construir seus quadros, preparar-se para ser uma alternativa de governo só na hora adequada - um pouco como fez o PT, no passado. O grupo de Marina, se chegar ao poder cedo demais, pode perder o que faz suas qualidades. Já o PSB, depende. Em todo caso, é mais que improvável que um dia o PT renove a oferta a Eduardo de ser seu candidato em 2018. Suas relações parecem rompidas. Já com Aécio presidente, será difícil Eduardo ficar na oposição. Para dizer, fazer o quê? Que diferença sensível ele marcará em face do PSDB? Agora, se Dilma ganhar, Eduardo poderá herdar votos tucanos para 2018. O que, afinal, indica que a situação não será ruim para os nossos dois "terceiros" candidatos, Eduardo e Marina, enquanto certamente será ruim para pelo menos um dos dois partidos hoje hegemônicos. Deles, o ou os que perderem terão que rever não só suas políticas e estratégias, mas sua própria identidade, talvez a própria existência.


Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. 
E-mail: rjanine@usp.br


NA TV » Aposta certeira

NA TV » Aposta certeira 

A série Arrow, cuja segunda temporada estreia hoje no canal pago Warner Channel, revela o fascínio do público por heróis das HQs. A atriz Emily Bett Rickards vai ganhar mais espaço
Rafael Brasileiro
Estado de Minas: 21/07/2014



A atriz Emily Bett Rickards, que vive Felicity, surpreende-se com o carinho dos fãs brasileiros (WARNER CHANNEL/DIVULGAÇÃO  )
A atriz Emily Bett Rickards, que vive Felicity, surpreende-se com o carinho dos fãs brasileiros



Há muito tempo filmes sobre os super-heróis das histórias em quadrinhos deixaram de ser um mero nicho, tornando-se aposta de retorno financeiro quase imediato. As séries de TV não demoraram a embarcar nesse mercado milionário. Depois de oito temporadas de Smallville (2001-2011), os fãs das HQs ficaram órfãos, mas por pouco tempo. A Warner decidiu arriscar em Arrow e acertou na mosca: os 23 primeiros episódios caíram no gosto do público.

A nova temporada das aventuras de Oliver Queen/Arqueiro Verde (Stephen Amell) estreia hoje, às 22h25, no canal pago Warner Channel. Playboy obrigado a viver cinco anos em uma ilha, Queen volta a Starling City para acertar as contas com o passado.

Felicity Na segunda temporada, o protagonista Amell vai dividir os holofotes com a atriz Emily Bett Rickards, revelada por Arrow. No papel de Felicity, ela havia participado de apenas nove episódios, mas conquistou o seu espaço. Agora, a garota brilha no elenco principal como importante aliada do playboy bonitão.

A jovem atriz dribla todas as perguntas sobre o episódio desta segunda-feira, mas acaba revelando um pouco sobre os desafios de sua personagem. “No começo, ela estava em dúvida sobre quem era. O que posso garantir aos fãs é que vamos vê-la se transformar”, diz Emily.

A mudança não se limitará a Felicity. Os 23 novos episódios de Arrow terão um clima diferente, o que vale para cenas de ação e novos vilões. As dúvidas de Oliver Queen guiarão a história “eletrizante”, segundo ela. Emily adorou filmar cenas de ação: “Havia pedido para participar mais e confiaram que poderia fazê-las. Foi empolgante”.

Flash A nova temporada de Arrow vai contar com outro astro da DC Comics: Barry Allen, mais conhecido como o veloz Flash, que ganha superpoderes depois do acidente em um laboratório. Ele se envolverá com Felicity. O surgimento de Barry é uma cartada da Warner Channel, que planeja lançar uma série solo do personagem.
Outro que promete chamar a atenção em Arrow é Constantine, o detetive que Keanu Reeves interpretou no cinema. Coube ao ator Matt Ryan dar vida ao investigador.

A pioneira [Helena Solberg] - Ana Clara Brant

A pioneira

Única mulher entre os diretores do Cinema Novo, Helena Solberg será homenageada em BH. Premiada no exterior, a artista é praticamente desconhecida do público de seu próprio país


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 21/07/2014

Vida de menina, protagonizado por Ludmila Dayer, é um dos filmes de ficção dirigidos por Helena Solberg (Fotos: É Tudo Verdade/divulgação    )
Vida de menina, protagonizado por Ludmila Dayer, é um dos filmes de ficção dirigidos por Helena Solberg



Helena Solberg (D) em ação no set de filmagens na Bolívia
Helena Solberg (D) em ação no set de filmagens na Bolívia



Helena Solberg é figura importante da cultura de nosso país: dedicou 50 anos às telas, com filmes premiados no Brasil e no exterior, sobretudo documentários. Entretanto, o público brasileiro praticamente ignora essa artista, a única mulher entre os diretores do Cinema Novo. Merecidamente, Helena acaba de ganhar duplo tributo: homenageada pelo festival É Tudo Verdade, cuja edição belo-horizontina começa na quinta-feira, ela é tema do livro da jornalista e pesquisadora Mariana Tavares que será lançado no sábado.

 “Quando a gente fala de documentaristas brasileiros, sempre nos lembramos de Eduardo Coutinho ou do Walter Carvalho. Não que eles não sejam importantes, mas há outros nomes sobre os quais nada foi escrito ainda. No Brasil, há uma tendência de estudar diretores estrangeiros. A bibliografia sobre o cinema nacional ainda é muito pequena”, lamenta Mariana Tavares, autora de Helena Solberg – Do Cinema Novo ao documentário contemporâneo (Imprensa Oficial de São Paulo). O livro contou com o apoio de Amir Labaki, diretor e fundador do festival É Tudo Verdade.

“Essa obra ajuda a entender quem é Helena Solberg, sua importância, e a conhecer seu cinema”, destaca Mariana Tavares. Pela primeira vez, o É Tudo Verdade exibe a retrospectiva de uma diretora brasileira. BH verá dois de seus filmes – A conexão brasileira: A luta pela democracia e Vida de menina.

“Mais da metade da carreira de Helena, desenvolvida nos EUA entre as décadas de 1970 e 1990, era desconhecida em nosso país. Organizamos um ciclo pioneiro, apresentando uma visão geral da riqueza e variedade do trabalho dela”, explica Labaki. Documentário e ficção ganham destaque. “Em primeiro lugar, eles representam a excelência da diretora nos dois gêneros. Há também o ineditismo de A conexão... por aqui e as raízes mineiras da adaptação do clássico de Helena Morley”, observa.

Mariana Tavares se impressionou com o talento da cineasta à medida em que assistia aos filmes dela, como o premiado Carmen Miranda: Banana is my business, marco do documentário brasileiro, The double day (A dupla jornada), Palavra En(cantada) e A alma da gente. “Helena sabe humanizar os temas amplos que aborda”, destaca a pesquisadora. “Ao mesmo tempo em que consegue emocionar, ela traz uma carga de informações, além de sua grande habilidade de articular um filme. Do contrário, o espectador corre o risco de não se envolver”, explica. Atuante desde a década de 1960, a artista é inquieta, sempre preocupada em se atualizar. “Ela não ficou fazendo a mesma coisa a vida toda”, salienta Mariana.

Seleção A capital mineira vai receber 11 dos principais destaques da 19ª edição do É Tudo Verdade, que ficou em cartaz em abril no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Amir Labaki destaca a presença dos vencedores das mostras competitivas. O brasileiro Homem comum, de Carlos Nader, é um filme-ensaio complexo e multifacetado sobre a convivência do diretor com o caminhoneiro Nilson de Paula. Documentário de animação, Jasmine, do francês Alain Ughetto, enternece com um caso amoroso no Irã durante a Revolução Islâmica.

Labaki recomenda: “É preciosa a oportunidade de conhecer dois dos mais marcantes documentários realizados pelo cineasta japonês Shohei Imamura (1926-2006): o híbrido doc-fic Um homem desaparece (1967) e Karayuki-san: A fabricação de uma prostituta (1975).

Eduardo Almeida Reis-Turismo‏

Turismo
Como sabe a mine
iridade, comitiva de mais de três não funciona
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 21/07/2014



Eduardo da Silva, brasileiro naturalizado croata, atacante do Shakhtar Donetsk no Leste da Ucrânia, ganha por mês 904 mil reais. Eduardo Reis, cronista em vias de se naturalizar tuvaluano, ganha muito menos. Por que tuvaluano? Ora, porque Tuvalu, país da Polinésia formado por nove atóis, tem 10 mil habitantes, donde se conclui que a soma de todos os tuvaluanos não chega aos pés dos ladrões que atuam na administração e na política de um país grande e bobo.

O Eduardo croata, com o fruto de um mês do seu trabalho, pode pagar quatro pacotes de 25 dias de turismo que o seu xará tuvaluano gostaria de fazer. Na viagem, acomodados num Boeing 757-200 com 50 lugares, todos de primeira classe, os turistas dão a volta ao mundo luxuoso, passeiam de balão em Bagan, que ninguém sabe onde fica, conhecem a Ilha de Páscoa, Bora-Bora, Borobodur, na Indonésia, Yagon, em Mianmar, Agra, na Índia, Petra, na Jordânia, Serengeti e a Cratera de Ngorongoro, na Tanzânia. Que se pode esperar de uma pessoa que passe dos 50 anos sem conhecer Ngorongoro?
O giro chique pelo mundo custa 248 mil reais, 10 mil por dia, obrigando o Eduardo croata a completar o pagamento das quatro passagens com três dias do salário do mês seguinte. O tuvaluano precisa trabalhar quatro anos para comprar o pacote. Inteligente que deve ser como todo Eduardo, ressalvado aquele gordo cabeludo que mata zelador em São Paulo, o croata só levará duas convidadas. Como sabe a mineiridade, comitiva de mais de três não funciona.

Só em BH, conheço dezenas de cavalheiros em primeiras ou segundas núpcias, sem exclusão dos que já passaram das terceiras e quartas, em condições de fazer o giro chique sem arranhar suas finanças. Voltando à capital de todos os mineiros, podem contar que conhecem Borobudur e Ngorongoro. Na viagem, serão acompanhados de um historiador, um fotógrafo da NatGeo brasileira, terão as melhores culinárias regionais e uma seleção de vinhos, a bordo do 757-200, que harmonizará com os pratos preparados por um chef.

Rifas
Na condição de caro e preclaro leitor, que lhe parece uma rifa de ursinho de pelúcia? Rifa, sorteio de algo, no caso, um ursinho de pelúcia, mediante a venda de talões numerados. Venda a brasileiros adultos, valha a ressalva.

Dir-se-á que adultos podem ter filhos e netos; ainda assim, a rifa me intrigou. Quando surpreso, vou à edição eletrônica das obras completas de Sigmund S. Freud, clico em “ursinho” e o programa responde: nada. Clico em “urso” e há quatro entradas nas obras completas, todas sobre a impossibilidade de luta entre a baleia e o urso polar, porque vivem em elementos diferentes. Prova de que Freud podia entender muito de psicanálise, mas não sabia distinguir as baleias e os ursos polares dos trens de ferro em que circulava pela Europa.

Ursos polares e baleias podem, sim, travar lutas, na hipótese do urso cair no mar em que vive a baleia. Difícil de entender e explicar é uma rifa, entre adultos, de ursinhos de pelúcia.

Philosophares
O cidadão ou a cidadoa (existe!) que vê um pneumático inflável sabe que foi inventado, em 1888, pelo veterinário escocês John Boyd Dunlop para o velocípede de seu filho de nove anos. Antes disso, as rodas eram de madeira, ferro ou materiais compostos, prejudicando o conforto ao transitar pelas ruas esburacadas de Belfast. Veterinários são inventivos: Graham Bell inventou o telefone.
A cidadoa ou o cidadão que tem notícia de um casamento entre homem e mulher sabe que o instituto do matrimônio cristão é muito antigo, devendo remontar ao ano 1.000 de nossa era, como também sabe que existem casamentos em outras religiões e fora delas, porque se acreditava que o acasalamento da mulher com o homem era necessário para preservar a espécie e a família.
Se as pessoas comuns sabem da existência de pneus infláveis e de casamentos, sabendo até dos casamentos modernos entre pessoas do mesmo sexo, compete ao philosopho, com o seu alto philosophar, dizer da relação estreita entre os casamentos à antiga e os pneus infláveis, com ou sem câmaras.

É que ambos, casamentos antigos e pneus infláveis, com o passar do tempo, ficam carecas. Os machos da espécie podem recorrer ao plantio de cabelos como o ilustre Calheiros, presidente do Senado. As fêmeas calvas, e as há, podem recorrer às perucas, e os pneumáticos devem ser trocados por outros mais novos, recurso válido também para as esposas, que podem procurar nos namorados menos carecas as alegrias que tiveram quando se casaram.

O mundo é uma bola
21 de julho de 356 a.C., Heróstrato destrói o Templo de Ártemis, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, donde se conclui que o incendiário era um imbecil e não podemos perder tempo com imbecis. Bastam-nos os nossos, que são milhares ou milhões de destruidores da pátria amada.
Em 365, grande parte do Mediterrâneo Oriental, nomeadamente Alexandria, Creta e a costa da Líbia, é destruída por violento terremoto. O sismo foi uma tragédia, mas o advérbio nomeadamente é ótimo.

Ruminanças
“Não emagreço mais por falta de espaço” (Abgar Renault, 1901-1995).

COLUNA DO JAECI » A volta de um passado sombrio

COLUNA DO JAECI » A volta de um passado sombrio
Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 21/07/2014


 (Micaela Rehle/Reuters)

A rádio Jovem Pan, onde trabalha o amigo Vanderlei Nogueira, dá como certa a contratação de Dunga pela CBF como o novo técnico da Seleção Brasileira. Como conheço e dou credibilidade a Nogueira, aposto na informação, e o novo técnico será apresentado na terça-feira, conforme prometeu José Maria Marin. Não tenho dúvidas de que o novo coordenador-técnico, Gilmar Rinaldi, foi o principal responsável pela volta de Dunga ao comando do time canarinho. São amigos de longa data e representaram, pelo Internacional, o Brasil na Olimpíada de Los Angeles, em 1984, ganhando a prata para o time brasileiro. A França ficou com o ouro.

Além disso, foram tetracampeões juntos, em 1994, quando Gilmar era o terceiro goleiro. E ambos são gaúchos. Não precisa dizer mais nada. Dunga será o técnico e ponto. Não tenho bom relacionamento com ele. Brigamos durante a Copa da África, pois ele é o tipo de treinador que não gosta de perguntas que o desagradem. E, ainda por cima, num amistoso em Londres, disse na cara dele que meu preferido era Vanderlei Luxemburgo. Daquele momento em diante, nos toleramos. Encontrei com ele algumas vezes, após sua demissão, mas sequer o cumprimentei. Ele pra lá e eu pra cá.

Isso, porém, não quer dizer nada. Profissionalmente teremos de conviver, pois faz parte da profissão. Se ele não gostar de uma pergunta minha, que não responda, embora o cargo determine o contrário. Curiosamente, os números de Dunga no comando da Seleção são excelentes. Se não me engano, ele tem mais de 70% de resultados positivos, com pouquíssimas derrotas. A pior delas, para a Holanda, que custou a eliminação do Brasil da Copa de 2010 e sua própria demissão. Já disse que para nós, brasileiros, o que importa é o Mundial. O técnico pode ganhar Copa América e das Confederações que não quer dizer nada. Dunga ganhou as duas, mas fracassou na principal.

Sua principal característica é a marcação, a pancada e a defesa. O gol, para ele, é mero detalhe. Além disso, é uma espécie de general. Vai reorganizar a bagunça que foi a equipe sob o comando de Felipão. Não vai permitir bonés, brincadeirinhas e nem chorões. Com Dunga, o jogador tem que ser macho mesmo. Não chora, não brinca, não vive de marketing.

Vejam os senhores e as senhoras, que nada muda no comando da Seleção. Sai um gaúcho, entra outro, ou melhor: volta outro. Outro dia, um rapaz me mandou e-mail perguntando o que eu tinha contra os gaúchos. Absolutamente nada. Adoro o povo do Rio Grande do Sul, mas contra os técnicos tenho tudo. Para mim, eles acabaram com o futebol brasileiro com marcação, pegadas, porradas e outros termos mais fortes. Não à toa, chegamos ao fundo do poço. Já que a CBF insiste tanto com os gaúchos, por que não forma uma seleção apenas com jogadores de lá? Seria a seleção da porrada, da pegada, da marcação forte, que abriria mão do gol. É assim que funciona por lá. Vejam que o Internacional não ganha um Brasileirão desde 1979, e o Grêmio, desde 1996. E vale lembrar que essas equipes ganharam no sistema mata-mata, pois nos pontos corridos, não mostram competência para tal.

Convivência com a TV

E Dunga terá de conviver com outro desafeto: a TV Globo. Ele brigou com alguns repórteres e não deu os privilégios que Felipão, por exemplo, dava. Sempre com mania de perseguição, Dunga dava uma patada atrás da outra e só confiava em Jorginho, seu assistente, que fazia as intrigas e levava ao patrão. Nesse ponto admiro Dunga. Ele é isso e pronto. Já Jorginho é mais falso que uma nota de 2 dólares, e a CBF já disse a Dunga que não o quer como assistente técnico. Mas, como a Globo é parceira da CBF, vão encontrar um meio-termo para Dunga se adaptar. E acredito também que ele não vá cometer os mesmos erros do passado. Mudar ele não mudará, mas pode melhorar e fazer vista grossa para muita coisa. O futebol é assim. De acordo com o interesse, tudo se resolve. Da minha parte, Dunga pode ficar tranquilo. Vou continuar fazendo as perguntas que um jornalista isento e de credibilidade faz. Se ele quiser responder, bem. Se não quiser, amém. Já estou calejado com esse tipo de situação.

Só acho que escolher Dunga como o homem que vai recuperar nossa seleção e seu prestígio, a médio prazo, é pedir demais. A CBF fatura mais de R$ 450 milhões anuais, não custava nada atravessar o Atlântico e oferecer R$ 22 milhões (U$S 10 milhões) a Pep Guardiola  (foto). Ele sim mudaria nossa cara e nos devolveria o futebol que encantou seu pai e seu avô, como ele mesmo disse em entrevista. Não é com marcação e pancada que vamos sair desse marasmo. Além disso tudo, temos uma safra ruim, e, dessa forma, fica difícil descobrir novos valores.

Sugiro a Dunga que pegue duas equipes como base e monte a sua seleção. Porém, acho difícil abrirem mão de jogadores que atuam no exterior. Gilmar Rinaldi já disse que ele e o novo treinador vão viajar bastante, para ver jogos e acompanhar treinamentos. Portanto, não vejo muita coisa diferente dos que estiveram no fracasso do Mundial. Mas, como Dunga é um ex-fracassado, que se recuperou com a conquista do tetra, quando levantou a taça e xingou todos os fotógrafos, revanchista que é, quem sabe ele também recupere os atletas que deram vexame neste Mundial do Brasil?

Recopa

O Galo está com a mão na taça da Recopa, depois de vencer o Lanús, em sua casa, por 1 a 0. Jogará pelo empate, no Mineirão, para ganhar mais uma competição internacional. Aliás, outro dia falei no Alterosa no Ataque, que o Atlético era o único time brasileiro a jogar as duas Copas Conmebol, que ganhou, no lixo. Acho que a diretoria deveria valorizar a competição, pois foram duas conquistas internacionais dificílimas, e que têm seu valor. Sugiro a Adriana Branco, craque em tudo o que fez, que planeje uma ação de valorização da Conmebol, junto da Recopa. Troféu tem sempre o seu valor, e justamente o ganhador é o que menos o valoriza...