quinta-feira, 18 de abril de 2013

As tardes sāo labirintos


De Carlos Emilio Faraco

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

Desaguar-se a fundo nelas
Exige uma alma profusa
Que nāo se deixe minguar
Por mil vielas confusas
Que irrigam a asa do dia
E impedem o seu voo -
Barreiras de líquido estorvo -
Antes que a noite se ria
Como um grasnido de corvo.

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

É preciso beber delas
Em goles bem controlados:
Que o copo nāo se entorne
Na volúpia do amarelo,
No desejo desabrido
De passear por castelos,
Por vales alaranjados.

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

Nāo há na tarde jardins,
Nāo há na tarde castelos.
Só há tantos labirintos
Construídos em duelo,
Com contragolpes procelos
Que, sendo o que nunca sāo,
Se desmentem, se anulam,
E sobrevivem sozinhos
Em espaços semoventes
De mil espelhos que falam
De si para si,
frente a frente,
Sem permitir que os olhos
Conquistem a arquitetura
De uma tarde madura:
Um beco sem abertura,
Labirinto, captura.

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

(Boa tarde aos náufragos).

A vida jorra - Denise Fraga


Folha de São Paulo

Uma das imagens mais cálidas de minha infância é o sussurro de minha mãe no cinema lendo as legendas para a gente. Ela se recostava na cadeira, juntávamos nossas cabeças e víamos filmes para maiores sob a sua "tradução simultânea"
.
Inacreditavelmente, Terence Hill e Bud Spencer me pareciam perfeitos interpretados por ela.
Anos mais tarde, levei minha afilhada ao cinema e me lembrei de minha mãe.
Lili tinha uns nove anos e convivíamos muito pouco. O filme era "Meu Primeiro Amor", com Macaulay Culkin, o menino do "Esqueceram de Mim". Achei perfeito. No começo do filme, Lili solta a pérola: "É em inglês? Inglês eu não sei, não".
Expliquei que ela precisaria ler as legendas. "É muito rápido. Não consigo, não." Não tive dúvida, me recostei na cadeira e comecei a sussurrar-lhe as legendas.
"Meu Primeiro Amor" é um filme surpreendente. O menino morre no meio do filme e a comédia infanto-juvenil-romântica prometida vira um dramalhão. Continuei dando minhas falas no ouvido da pequena, mas, à certa altura, não aguentei e desabei no choro. Fiquei ali, num misto de espectadora e atriz, chorando e interpretando as falas, até que fui surpreendida por seus olhos de jabuticaba que brilhavam no escuro, na minha direção.
Minhas lágrimas tornaram-se para ela muito mais interessantes que o filme. Quando acenderam as luzes, perguntei se ela tinha gostado. "Minha madrinha chorou" --foi a resposta. O que restava da ficção diante da vida pura? Eu me lembro menos de Terence Hill do que dos sussurros de minha mãe.
A vida supera a arte em muitos aspectos. Quando fiz "Retrato Falado", um programa de TV no qual eu representava histórias reais, eu me desesperava com o quanto um ator pode parecer algo patético diante da realidade.
No formato do programa, eu aparecia representando a entrevistada logo depois de seu depoimento.
Muitas vezes, eu me sentia um arremedo tosco, uma tentativa de algo inalcançável. Foi aí que descobri uma coisa muito importante a respeito do meu ofício: o real sentido da palavra interpretar. Mais do que ser ela, o que eu tinha a fazer ali era mostrar aos outros o que eu tinha visto nela. Apresentá-la através de mim, do meu filtro. Irene por Denise. Não era mais ela, tampouco eu.
Era esta terceira pessoa que só a arte é capaz de criar unindo intérprete e inspiração. Porque, se assim não for, a arte perde o páreo quando a vida jorra ao lado.
Arquivo Pessoal
Denise Fraga é atriz e autora de "Travessuras de Mãe" (ed. Globo) e "Retrato Falado" (ed. Globo). Escreve a cada duas semanas na versão impressa do caderno "Equilíbrio".

Mitos sobre o BNDES - Marcelo Miterhof


da Folha de São Paulo
É um mito dizer que o banco escolhe vencedores; não há ativismo na definição das operações a serem apoiadas
Na semana passada, a coluna tratou do papel geral do BNDES, em especial sua relação com o investimento. Hoje, o objetivo é discutir três mitos que têm sido criados em torno de sua atuação.
Primeiro, o BNDES inibiria o mercado de capitais. O banco atua em renda variável com um horizonte de longo prazo incomum no Brasil. Isso favorece que ele apoie empresas que, em razão de planos desafiadores, tendem a passar por períodos de turbulência. Essa estratégia --além de se mostrar rentável, pois o risco é recompensado quando os projetos florescem-- induz a entrada de empresas no mercado de capitais.
O BNDES atua com firmas em diferentes estágios, desde o capital-semente até as que buscam abrir seu capital. Nesse caminho, o fortalecimento da governança das investidas é sensível. Ao fortalecer a transparência corporativa, o banco favorece a formação de investidores.
O mesmo ocorre quando, na venda de papéis, o BNDES usa ofertas públicas para atrair investidores menores, como foram os casos do PIBB, o primeiro fundo brasileiro baseado num índice de mercado (Ibovespa), e das ofertas de ações do BB, que o fez o primeiro grande banco nacional a participar do Novo Mercado.
Assim, além de mitigar a deficiência da economia brasileira no financiamento de longo prazo, tema da coluna passada, o BNDES tem ação indutora do mercado de capitais.
O segundo mito é o de que o BNDES escolheria vencedores, reforçando a atuação de setores tradicionais e pouco inovadores.
Isso é um mito porque não há ativismo na definição das operações a serem apoiadas. O BNDES não aponta projetos a serem feitos. São as empresas que os estruturam e buscam o banco, que os avalia.
Como banco público, o BNDES está aberto a analisar todos os projetos que lhe são apresentados. Há prioridades em termos das condições de taxas, participação, prazos etc., algo expresso em suas políticas operacionais. Porém, se o demandante tem risco de crédito aceitável, o pedido é considerado viável e há garantias adequadas, nenhum pleito é negado. Se boa parte dos projetos apoiados ocorre em setores tradicionais, é porque são os mais fortes da economia --e eles também precisam aumentar a produtividade.
Além disso, a inovação tem um caráter mais geral do que o aspecto tecnológico. Quando o BNDES suporta a internacionalização de grupos brasileiros, há inovações ligadas à capacidade empresarial de dominar cadeias globais, buscando novos espaços de valorização e desenvolvendo as atividades corporativas centrais, como logística, marketing e inovação. Os países ricos têm grupos globais em diversos setores.
O BNDES sempre que possível apóia grupos brasileiros em setores de tecnologia, como tem feito, por exemplo, com as empresas de softwares Totvs e Linx.
O terceiro mito é que os empréstimos do Tesouro para reforçar as captações do BNDES estariam recriando a "conta-movimento".
Extinta em 1986, ela propiciava acesso automático, não contabilizado nos seus balanços, do Banco do Brasil aos recursos do BC. Com isso, o BB tinha menos incentivos a usar bons critérios de concessão de crédito e prejudicava a gestão da política monetária pelo BC.
A comparação é no mínimo forçada. O BNDES não toma recursos do BC nem busca sanar problemas de liquidez. Os empréstimos são devidamente expressos no seu balanço e na dívida pública, sendo apenas uma fonte de captação.
Está ausente no debate uma reflexão estratégica. A comparação que faz sentido é com o acúmulo de reservas cambiais. Nos dois casos, ocorre elevação da dívida pública bruta, sem impactar a líquida, cada uma com seu custo fiscal (diferença entre o custo da dívida pública e o rendimento da aplicação).
A manutenção de um alto nível de reservas mitiga a histórica vulnerabilidade externa. Os empréstimos ao BNDES irrigam a economia com financiamento de longo prazo.
E, como a inadimplência no BNDES é baixa (hoje, é 0,06%) e as operações de renda variável são no conjunto lucrativas, o risco da diferença entre o endividamento bruto e o líquido é pequeno.
Há forte viés político e ideológico no debate sobre o BNDES. Por isso, não pretendo convencer os críticos do banco, só mostrar que há uma visão alternativa bem fundamentada pautando a ação do BNDES.
marcelo.miterhof@gmail.com

    Entidades celebram cota para meia-entrada

    folha de sao paulo

    Projeto limita a 40% dos ingressos
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHAAs mudanças aprovadas anteontem no projeto de lei que cria o Estatuto da Juventude pelo Senado foram bem recebidas por dirigentes de entidades estudantis do país.
    O texto, que agora segue para a Câmara, padroniza a emissão de carteiras estudantis e limita a 40% a venda de ingressos pelo valor da meia-entrada para eventos culturais e esportivos.
    O projeto estabelece que a carteira estudantil deve ser expedida preferencialmente por: Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e entidades estaduais e municipais filiadas a elas.
    Para o presidente da UNE, Daniel Iliescu, o percentual aumenta, e não reduz, o que a lei permite hoje.
    "Atualmente, o preço que o estudante paga pelo ingresso é o valor da inteira, enquanto o cidadão comum paga o dobro da inteira", diz.
    O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo, Rodrigo Lucas Paulo, definiu a aprovação como "uma vitória muito importante para a juventude do país".
    CÂMARA
    A concessão da meia-entrada é objeto de outro projeto que atualmente tramita na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara e deve ir à votação na semana que vem.
    O projeto de lei, que teve origem no Senado, regulamenta a meia-entrada não apenas para jovens, mas também para pessoas com mais de 60 anos e pessoas com deficiência, entre outros.
    Caso seja aprovado nesta comissão da Câmara, o texto será enviado ao Senado --por tramitar em caráter conclusivo, não precisa ser votado em plenário. Ambos projetos de lei estabelecem a cota de 40% de meia-entrada.
    A diferença entre os textos é que o Estatuto da Juventude, aprovado no Senado, estabeleceu uma "preferência" da emissão de carteiras de estudante para entidades estudantis, enquanto o projeto de lei que tramita na Câmara prevê a "exclusividade" a essas entidades.
    O deputado Ademir Camilo (PSD-MG), que apresentou voto em separado propondo um substitutivo ao projeto de lei que amplia o número de entidades aptas a emitir a carteira, criticou o projeto. "É inconcebível que apenas essas entidades emitam carteirinhas."

      Quadrinhos

      folha de sáo paulo

      CHICLETE COM BANANA      ANGELI
      ANGELI
      PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
      LAERTE
      DAIQUIRI      CACO GALHARDO
      CACO GALHARDO
      NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
      FERNANDO GONSALES
      MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
      ADÃO ITURRUSGARAI
      BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
      ALLAN SIEBER
      MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
      ANDRÉ DAHMER
      GARFIELD      JIM DAVIS
      JIM DAVIS

      HORA DO CAFÉ      LÉZIO JUNIOR
      LÉZIO JUNIOR

      Charge - Benett

      folha de sao paulo

      'O Ciúme' - Pasquale Cipro Neto

      Folha de São Paulo


      Nas duas metáforas, as imagens, fortíssimas, são contraditórias, embora verdadeiras (ou não?)
      Fui ver o show de Caetano Veloso no último sábado, em São Paulo. Magnífico. Extasiante. Sublime. O Mestre apresentou algumas de suas últimas primorosas obras, entremeadas por clássicos mais "antigos".
      Na letra de uma das canções que Caetano apresentou ("Funk Melódico") há um verso contundente: "O ciúme é o estrume do amor". Essa metáfora se relaciona com outra, também alusiva ao ciúme (de uma letra de Vinicius de Morais): "O ciúme é o perfume do amor". As imagens, fortes, fortíssimas, são contraditórias, embora verdadeiras (ou não?).
      Essas duas metáforas me trouxeram à mente uma canção inteira dedicada ao tema, também de Caetano Veloso. Trata-se de "O Ciúme", de 1987. Pungentes, melodia, versos e interpretação nos fazem sentir na carne (como diz a própria letra) a força do ciúme como flecha bem no meio da garganta.
      Não vou reproduzir aqui a letra inteira. Basta ao leitor entrar no site do próprio Caetano para encontrá-la (e, também, ouvir a inesquecível interpretação). Vou ater-me a algumas passagens do texto, que exigem do leitor/ouvinte alguns conhecimentos para a plena compreensão: "Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia / Tudo esbarra embriagado de seu lume / Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia / Só vigia um ponto negro: o meu ciúme / (...) Velho Chico, vens de Minas / De onde o oculto do mistério se escondeu / Sei que o levas todo em ti, não me ensinas / E eu sou só, eu só, eu só, eu / Juazeiro, nem te lembras dessa tarde / Petrolina, nem chegaste a perceber / (...) Sobre toda estrada, sobre toda sala / Paira, monstruosa, a sombra do ciúme".
      O caro leitor talvez saiba, mas não custa lembrar que Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) são separadas pelo Chico, ou seja, pelo rio São Francisco. Unidas por uma ponte, são, como todas as cidades que vivem situação análoga, rivais (aliás, "rival" vem de "rivus", do latim; significa "regato, ribeiro, corrente de água"). Que me diz agora o caro leitor da imagem da relação entre Petrolina e Juazeiro como pano de fundo para o ciúme?
      Caetano se vale de outro detalhe "geográfico": o rio São Francisco nasce em Minas Gerais ("Velho Chico, vens de Minas..."), e, como bem diz o grande poeta, "...vens de Minas, de onde o oculto do mistério se escondeu...". Outra imagem antológica, que adensa ainda mais os caminhos tortuosos, ocultos, indecifráveis do ciúme. Existe algo mais misteriosamente oculto ou ocultamente misterioso do que Minas Gerais, suas montanhas e sua gente?
      Os versos finais da letra são lapidares: "Sobre toda estrada, sobre toda sala / Paira, monstruosa, a sombra do ciúme". Profundo conhecedor dos meandros do idioma, Caetano não empregou a ordem direta no último verso, que certamente empobreceria e enfraqueceria a mensagem.
      Para quem não entendeu, explico: na ordem direta, o verso final seria "A sombra do ciúme paira monstruosa". Será que ainda preciso explicar os belíssimos efeitos da inversão da ordem "natural" dos termos?
      Ler uma letra de música, um conto, um poema --uma obra literária, enfim-- exige abertura d'alma, conhecimento, cultura, sensibilidade, noções de intertextualidade.
      No próximo sábado, Caetano se apresenta justamente em Petrolina. Desde que eu soube disso, pus-me a pensar que talvez ele não "escape" de cantar "O Ciúme" à beira do velho Chico. Que momento mágico será esse! Que inveja, que ciúme dos que o presenciarão! No sábado, estarei longe, muito longe de Petrolina, mas minha alma lá estará. Um beijo a todos que lá estarão. É isso.

      Piauí já tinha presença humana há 22 mil anos, segundo estudo

      folha de sao paulo

      FERNANDO TADEU MORAES
      COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

      Um artigo de pesquisadores franceses e brasileiros traz novos dados à discussão sobre a data da chegada do homem à América ao analisar três sítios arqueológicos no Piauí e mostrar evidências de presença humana na região até 22 mil anos atrás.
      Os achados dos pesquisadores, publicados no periódico "Journal of Archaeological Science", são mais uma evidência empírica contra o chamado paradigma "Clovis first", a teoria mais antiga sobre a ocupação das Américas.
      Proposto por arqueólogos dos EUA na década de 1930, o modelo sustenta que os primeiros moradores do continente vieram a pé da Ásia durante a Era do Gelo há cerca de 13 mil anos --quando havia uma ponte terrestre entre os dois continentes-- e se dispersaram pelas Américas.
      Editoria de Arte/Folhapress
      "As evidências trazidas pelos estudos de artefatos líticos [objetos feitos com pedra lascada ou polida] não deixam dúvida da nossa descoberta", disseram Christelle Lahaye e Eric Böeda, líderes do time de arqueólogos. As escavações foram feitas entre 2008 e 2011 na Toca da Tira Peia, localizada no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, e 113 artefatos de pedra foram recolhidos de cinco camadas do solo.
      Foi utilizada uma técnica que mede o dano natural da radiação solar em cristais como quartzo e feldspato presentes nos sedimentos nos quais foram encontrados os artefatos. Com isso, os cientistas conseguiram estimar a última exposição do solo à luz solar, variando de 4.000 anos no topo a 22 mil anos atrás no terceiro nível.
      Uma dificuldade desse tipo de estudo é saber se as lascas nos artefatos são resultado de trabalho humano e não de fenômenos naturais.
      "Encontramos ferramentas feitas a partir de matérias-primas que não se encontram perto do abrigo. Isso nos leva a concluir que elas foram escolhidas, trazidas, trabalhadas e utilizadas pela ação humana", disse Gisele Felice, da Universidade Federal do Vale do São Francisco.
      Para os autores, isso significa que homens viveram nessa parte do mundo no mínimo 10 mil antes do previsto.
      ROTA ALTERNATIVA
      Niède Guidon, presidente da Fundação Museu do Homem Americano e uma das autoras do trabalho, crê que as descobertas da equipe franco-brasileira reforçam a hipótese de que a chegada do homem à América se deu por várias regiões do continente.
      "Pensamos que houve migrações vindas da África por uma corrente marítima que vem do litoral africano até o Nordeste, e há migrações mais tardias que chegaram pelo sul, vindas do Pacífico."
      Segundo Guidon, grupos de humanos podem ter começado a sair da África a partir das grandes secas que atingiram o continente há cerca de 130 mil anos.
      Astolfo Araújo, do Museu de Arqueologia e Etnografia da USP diz, no entanto, que os modelos da vinda do homem pela África e pelo Pacífico, apesar de viáveis, são frágeis, devido à ausência de evidências convincentes.

      ANÁLISE
      Debate fica em torno de pistas indiretas com a falta de ossos
      RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULONão existe tema mais polêmico na ciência do que a origem do ser humano ou a sua disseminação pelo planeta.
      Basta ver o título de um livro popular sobre o tema, "The Bones of Contention", que usa uma expressão que significa um assunto sobre o qual não há consenso. Poderia ser traduzido como "os ossos da discórdia".
      No caso da colonização humana da América, o problema é pior: faltam ossos. São raros os sítios arqueológicos antigos com ossos humanos.
      Muito do que se debate sobre o tema acaba sendo em função de pistas indiretas, como pedras lascadas que poderiam ser instrumentos de fabricação humana.
      O sítio no Piauí sempre foi considerado um problema pela falta de provas concretas da presença humana. Uma grande ajuda aos seus defensores foi dada pelas pesquisas em Monte Verde, Chile, pela equipe do americano Tom Dillehay. Se havia gente no Chile, por que não no Piauí, mais perto da rota de migração vinda da Ásia?
      Por exemplo, a equipe descobriu restos de algas marinhas em Monte Verde, indicando que poderiam ser uma das fontes de alimento dos antigos índios do sítio.
      Monte Verde teria sido habitado há pelos menos 14 mil anos, mil anos antes portanto da cultura Clovis nos EUA.
      Os antigos habitantes teriam percorrido uma rota pelo litoral oeste das Américas vindos da Ásia, embora também existam especulações sobre rotas marítimas.
      A discussão dedica muita atenção às datas de povoamento e pouca ao cotidiano dos antigos colonizadores: o que comiam, onde moravam, como viviam, o que caçavam?
      Para Nicole Waguespack, da Universidade de Wyoming, mais dados confiáveis são necessários e também "construções teóricas capazes de integrar tais dados".

        Senado dos EUA rejeita proposta para maior controle sobre armas

        folha de sáo paulo

        Acordo bipartidário para aumentar verificação de antecedentes não obteve votação suficiente
        Dos 60 votos que eram precisos, medida teve apenas 54; presidente Obama diz que dia é "bastante vergonhoso"
        DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASO Senado dos Estados Unidos rejeitou ontem a proposta para aumentar os dispositivos para a verificação de antecedentes dos compradores de armas, que a tornaria obrigatória inclusive para vendas em feiras e pela internet.
        Esse era considerado o principal ponto do projeto de lei para estabelecer maior controle de armas no país.
        Dessa forma, o governo Obama se vê derrotado em uma de suas prioridades para o segundo mandato.
        O tema do controle de armas ganhou interesse da população desde o massacre numa escola primária de Newtown, em Connecticut, que matou 20 crianças e seis adultos em dezembro.
        A proposta votada pelo Senado era resultado de acordo bipartidário, alcançado pelos congressistas Joe Wanchin, democrata, e Pat Toomey, republicano, e tinha o apoio do presidente Obama.
        Para encerrar a discussão sobre o texto, era necessário obter 60 votos --o que exigiria votação unânime no Partido Democrata, com 53 senadores, mais a adesão de alguns republicanos.
        Em seguida, seria preciso obter 51 votos para aprová-la e mandar o projeto de lei para exame da Câmara, onde os republicanos são maioria.
        Alguns democratas, porém, se mostraram contra a medida, o que inviabilizou sua aprovação. No final, o placar foi de 54 votos a favor e 46 contrários à proposta.
        Após a derrota, o republicano Toomey afirmou: "Fiz o que pensava que era a coisa certa para nosso país".
        Obama, cercado de parentes de vítimas de Newtown, lamentou a derrota e disse que o dia era "bastante vergonhoso para Washington".
        Nervoso, o presidente declarou que "não havia argumentos coerentes para não aprovarmos a proposta" e acusou republicanos e alguns democratas de "cederem à pressão" de uma minoria a favor das armas.
        Em três dos maiores massacres nos EUA --em Columbine (1999), Virginia Tech (2007) e num cinema no Colorado (2012)--, as armas ou munições foram compradas pela internet ou em feiras.

          Clovis Rossi

          folha de sao paulo

          Deus salve a América. Se der
          Depois de 53 tentativas frustradas, um ato de terror reacende a sensação de insegurança coletiva
          Houve 53 ataques terroristas frustrados nos EUA desde o devastador 11 de setembro de 2001, o dia em que ruíram as Torres Gêmeas.
          Sem contar o atentado de segunda-feira em Boston e os envelopes suspeitos ou comprovadamente envenenados que foram encontrados desde então.
          A frustração de tantos ataques parecia dar razão ao grito de "never again" que o presidente George Walker Bush sacou do coldre meros três dias depois do 11S, mantra que se tornou uma constante para tentar convencer o mundo --e, principalmente, os próprios norte-americanos-- de que nunca mais em solo americano haveria um ataque terrorista.
          "Convenceu-nos de que a invulnerabilidade era uma possibilidade", escreve Juliette Kayyem, que serviu como assessora de segurança justamente para Deval Patrick, o governador de Massachusetts, o Estado em que fica Boston, a cidade em que a invulnerabilidade desgraçadamente evaporou.
          Não que Juliette acreditasse no "never again". Mesmo antes do ataque a Boston, classificava a frase de "tão simplista como absurda, tão vaga como demagógica".
          Na vida além da retórica, não há, de fato, como evitar um ataque terrorista, especialmente em um país que "é alvo de um amplo leque de ameaças potenciais, de grupos internos pela supremacia branca ou antigoverno à Al Qaeda, Hizbollah e outros grupos terroristas do mundo muçulmano, e até vastas redes criminosas sustentadas pelo tráfico de drogas", como analisa o sítio "Times of Israel", de um país que de terrorismo entende muito.
          Acaba sendo inevitável aceitar como correta a avaliação de um "falcão" como Peter King, representante republicano por Nova York, para quem o atentado de Boston é um demonstração de que "a guerra contra o terror está longe de terminar, e nós nunca estaremos totalmente a salvo de novo".
          A dimensão da insegurança fica clara quando Richard DesLauriers, o agente do FBI incumbido da investigação sobre Boston, diz que irá "até os confins da Terra para identificar o sujeito ou os sujeitos responsáveis por este crime desprezível".
          O problema que surge desse tipo de raciocínio é que os Estados Unidos já foram até "os confins da Terra", depois do 11S, e nem assim conseguiram vencer a "guerra contra o terror".
          Ao contrário: não só pipocam novos focos externos de terrorismo (Iraque, Mali, entre outros) como crescem, internamente, grupos potencialmente terroristas. Uma entidade que monitora "hate groups" (grupos de ódio, inclinados à violência e ligados à extrema direita) informa que, nos quatro primeiros anos de Obama, o número deles aumentou incríveis 813%.
          A propósito: dos 53 frustrados atentados, 43 foram tentativas de elementos internos.
          Tudo somado, parece claro que a "guerra ao terror", inescapável, talvez devesse ser conduzida com menos violência e com mais inteligência, no duplo sentido da palavra (sabedoria e informação).
          Se violências tipo Iraque ou Guantánamo não resolveram, quem sabe o "soft power" ajude.
          crossi@uol.com.br

            Marina Colasanti - A gente que se vire‏



            marinacolasanti.s@gmail.com


            Estado de Minas: 18/04/2013 

            Nas montanhas do Waziristão do Sul, Nek Muhammad, líder tribal paquistanês, falava ao telefone via satélite com um jornalista, quando perguntou a quem lhe estava perto que estranho pássaro metálico era aquele que via pairando no alto, acima dele. Antes que 24 horas tivessem se escoado, o casebre, a perna esquerda e a vida de Muhammad voaram pelo ares, explodidos por um míssil.

            Tivesse havido tempo para respostas, alguém poderia ter lhe dito que o pássaro era um “drone” Predator, exemplar de fauna bélica especializado em “assassinato seletivo”. E sobrando tempo para reflexões mais alentadas, Muhammad talvez chegasse à conclusão de que a ave sinistra partilhava o ninho com aquele inocente telefone no qual ele havia estado falando. Os dois são conectados via satélite.

            O avanço tecnológico não oferece escolha. Na mesma mão nos entrega o bom e o ruim. E para ter um, acabamos ficando também com o outro.

            Era para ser ótima a descoberta que os farmacólogos chineses da dinastia Han perseguiam derretendo metais. Buscavam o elixir da imortalidade. Em vez dele, deram de cara com a pólvora, sem saber que serviria para encurtar tantas vidas.

            Que belos fogos de artifício proporcionou a princípio! Mas quando Marco Pólo a trouxe para a Europa, mais que as festas, modificou as fronteiras e a arquitetura defensiva. Devemos à pólvora muita destruição, e um jardim estupendo.

            A destruição nos encara das páginas dos jornais todos os dias – enquanto escrevo a televisão dá novas notícias sobre bombas e feridos de Boston. O jardim é em Lucca, na Toscana, refúgio de namorados e da turista que ali fui. Rodeia a cidade como um rio elevado, verdejando o topo da muralha que um dia serviu para protegê-la. Era alto e fino o muro medieval que havia contido os bárbaros e que não daria conta dos canhões. Foi alargado, transformado em uma espécie de aterro vertical, uma quase montanha. E quando, bem mais adiante, revelou-se inútil frente aos bombardeios, achou-se por bem plantá-lo com árvores e roseiras.

            Que coisa boa foi o advento da comida industrializada! Caldos compactados, sopas em pó, legumes em lata, animais liofilizados, uma verdadeira festa de rapidez na cozinha. E com eles vieram o excesso de sódio, os conservantes, os corantes, os cancerígenos, um ataque em massa ao organismo.

            Amo meu computador, não saberia mais viver sem ele, ou saberia, mas lamentaria a cada instante sua ausência. Por meio dele me comunico com o mundo em um segundo. E o mundo se comunica comigo. Acabo, aliás, de receber mensagem de um amigo muito querido, senhor de bastante idade que vive no Texas e cuja saúde me inquieta. Dizia que estava me enviando algo de que eu gostaria, que abrisse o link. Não abri, embora a inquietação. E fiz bem, pois o computador do meu amigo foi invadido, transformado em plataforma de lançamento de vírus, o exocet informático. A máquina amiga que facilita meu existir também dá acolhida a essa estranha perversidade polimorfa, maldade cega que ataca a esmo pelo puro prazer de atacar.

            Para andar no sol, temos que dar conta da noite. Quando Deus fez a luz, meteu a sombra no pacote. No avesso da pele há sangue. Mais e menos são uma única coisa. E a gente que se vire, se ao escolher um esquece que o outro vem junto.

            Painel - Vera Magalhães

            folha de sao paulo

            Cordão de isolamento
            O ingresso de advogados ligados ao PT, como Alberto Toron e Celso Vilardi, na defesa de empresas investigadas na Operação Fratelli se justifica pela preocupação com a presença de petistas no caso. Deflagrada em municípios do noroeste paulista, a operação apura desvios que podem chegar a R$ 1 bilhão. Além de Arlindo Chinaglia, as escutas citam deputados do PT e ao menos um ministro de Dilma Rousseff. Há negociações de emendas nas pastas de Turismo e Cidades.
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            Sucessão 1 Interlocutores do Planalto afirmam que Rodrigo Janot, primeiro colocado na lista tríplice do Ministério Púbico, será indicado por Dilma como novo procurador-geral da República.
            Sucessão 2 Janot era o candidato favorito do governo por ter perfil "menos gurgelista", mas a preferência não foi revelada para não levar à união dos adversários.
            Escala Guido Mantega, que estava em São Paulo, foi chamado pela presidente para reunião em Brasília ontem, horas antes da reunião do Copom que aumentou em 0,25 ponto percentual a taxa Selic. Depois, o titular da Fazenda voltou a São Paulo, de onde embarcou para Nova York.
            PhD Aliados de Eduardo Campos ironizavam ontem as novas críticas de Ciro Gomes à pré-candidatura do governador à Presidência. "Tendo passado por uns 15 partidos, a começar da Arena, não achar nenhum bom deve ser problema dele", fulminou um dirigente do PSB.
            Chimarrão Será em 14 de maio a terceira caravana de Lula celebrando dez anos de governo do PT, em Porto Alegre. Dilma confirmou presença. O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e o assessor Marco Aurélio Garcia serão os conferencistas.
            Juntos Deputados do PSD fizeram chegar ao QG de Geraldo Alckmin que a bancada paulista da sigla poderá sofrer quatro baixas para o "Mobilização Democrática". O governador receberá hoje a cúpula estadual da nova sigla.
            Precedente Nas conversas após a derrota de anteontem, Andrea Matarazzo citou os ex-tucanos Eduardo Paes (Rio) e Gustavo Fruet (Curitiba). "Só chegaram à prefeitura porque saíram do PSDB."
            Para depois Em meio à polêmica sobre a criação de novos tribunais regionais federais, Renan Calheiros (PMDB-AL) quer que a decisão sobre a promulgação ou não da PEC seja dividida com a Mesa do Congresso. Renan alega que há divergência entre o texto aprovado na Câmara e a versão do Senado.
            Faca... Em conversa com Michel Temer e Edison Lobão (Minas e Energia), Dilma demonstrou preocupação com a CPI da Petrobras. Com apoio do PMDB, a Câmara discutirá a abertura da comissão na semana que vem.
            ... no pescoço Diante do cenário, petistas avisaram que Jorge Zelada, ex-diretor da área internacional da estatal e indicado pelo PMDB, será investigado. Peemedebistas argumentam que o foco da CPI será Graça Foster, que acumula a diretoria.
            Cabelo em pé Ante o impasse da MP dos Portos, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) brincou ontem com deputados catarinenses que estava "arrancando os cabelos" por causa de Eduardo Cunha. O líder do PMDB é visto pelo Planalto como principal obstáculo ao consenso no texto.
            Na boa Fernando Haddad só foi ao encontro dos manifestantes que cercavam ontem a prefeitura porque sabia que não seria recebido com hostilidade. O ato era liderado por petistas dos movimentos de moradia com os quais já havia negociado durante a transição de governo.
            com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
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            TIROTEIO
            "Não entregarei a presidência do PTB a ninguém. Não abrirei mão de que Benito Gama cumpra o meu mandato."
            DE ROBERTO JEFFERSON, afastado do comando da sigla para tratamento médico, sobre a pretensão do senador Gim Argello (DF) de assumir o posto.
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            CONTRAPONTO
            Quem matou?
            Quando se dirigia a debate sobre a meia-entrada, anteontem, no Congresso, Manuela D'Ávila (PC do B-RS) recebeu mensagem de estudantes que conversavam com grupo de artistas, entre os quais Beatriz Segall. Um dos líderes disse, saudando a atriz da novela "Vale Tudo":
            --Estamos aqui com quem matou Odete Roittman!
            Chegando no encontro, a deputada noveleira corrigiu:
            --Gente, vocês são jovens demais. Preciso esclarecer: Odete Roittman não cometeu o suicídio. Foi assassinada!
            Na verdade, quem matou a vilã na trama de 1990 foi a personagem Leila, interpretada pela atriz Cássia Kiss.

              Tv Paga

              Estado de Minas - 18/04/2013

              Dupla maldade

              Estreia hoje, às 21h, no Investigação Discovery, a série Gêmeos e perversos (foto), que relata crimes cometidos por este tipo de par, como aqueles que se relacionam com a parceira do outro e depois a assassinam até aqueles que decidem trocar de identidade para cometer algum ato proibido. Estranho, né? Mas o pior ainda está por vir, com a estreia, às 22h, da terceira temporada de O diabo ao seu lado. Vixe!

              A mania dos leilões  chega a Nova York


              Um dos programas de maior sucesso do canal A&E, a franquia Quem dá mais? parte para novo cenário e chega à cosmopolita Nova York. A estreia será hoje, às 22h. O formato é o mesmo da produção original, reunindo um grupo de pessoas que vivem de tentar obter algum lucro em leilões de depósitos de guarda-volume, que tanto podem conter valiosos tesouros como quinquilharias cujo melhor destino seria o lixo.

              Canal GNT serve os  pratos mais variados


              A quinta-feira no canal GNT é reservada aos programas de culinária. Às 20h, Rodrigo Hilbert segue com seu Tempero de família, preparando hoje um porco, torresmo, morcilha e rabada com aipim e arroz. Às 20h30, em Diário do Olivier, o chef Anquier continua sua viagem pela Turquia descobrindo como se fazem os pães curdo e sírio, completando com um sanduiche de cordeiro no pão sírio, já em sua cozinha na Bocaina. E às 21h05, em Que marravilha! Revanche, Claude Troisgros apresenta sua própria versão da moqueca baiana.

              Colônia angolana é  tema hoje do SescTV


              A série sobre colônias de imigrantes do programa Coleções tem mais um episódio inédito esta noite, às 21h30, no SescTV. Desta vez, a produção vai falar da colônia angolana que se formou no Brasil com refugiados da guerra no país africano, se instalando basicamente no Rio de Janeiro. O dia a dia, a alimentação, a cultura e a relação Brasil-Angola são temas do programa.

              No Off, o destaque  é a cultura do surfe


              O canal Off fecha as temporadas de mais três de suas séries: Curvas e ladeiras, às 19h30; Na onda, às 21h; e Submerso, às 22h30. Às 23h a emissora exibe o premiado documentário Raw, que dá uma boa visão do que é a cultura do surfe, baseada no estilo de vida dos praticantes da modalidade, da Austrália, à Indonésia e Taiti. Os protagonistas são alguns dos melhores do mundo, entre eles Kelly Slater, Joel Parkinson, Taj Burrow e Kalani Chapman. Representando o Brasil estão Adriano de Souza e Jadson André.

              Pacote de filmes vai  do faroeste ao terror


              Rock Hudson é o xerife e Kirk Douglas o pistoleiro sanguinário de O último pôr do sol, dirigido por Robert Aldrich em 1961 e que está em cartaz hoje no Clube do filme, às 22h, na Cultura. Outra sessão tradicional de quinta-feira é Adrenalina em dose dupla, no Telecine Action, hoje com O grande mestre 2 (20h) e O grande dragão branco (22h). A faixa das 22h tem mais 10 destaques: Phil Spector, na HBO HD; Anjos da noite – O despertar, na HBO2; Norwegian wood, no Max; The fourth state, no Max Prime; À beira do abismo, no Telecine Premium; O babá(ca), no Telecine Pipoca; O grande ditador, no Telecine Cult; A maldição da libélula, na MGM; O código Da Vinci, no Sony; e O nome do jogo, no TCM. Outras atrações da programação: O palhaço, às 22h20, no Megapix; e As loucuras de Dick e Jane, às 22h30, no Comedy Central, e às 23h, no AXN.

              Tereza Cruvinel - Certo, mas fora de hora‏

              A votação fora de hora estigmatiza como autoritária e casuística uma medida necessária para coibir a libertinagem partidária 


              Estado de Minas: 18/04/2013 

              Num plenário conflagrado, a Câmara entrou pela noite tentando aprovar um projeto que representaria um aprimoramento do sistema político se tivesse sido votado em outra hora. A rigor, ele impõe a observância da Constituição quando diz, em respeito à vontade popular, que as maiores frações do tempo de TV e do fundo partidário serão divididas proporcionalmente ao tamanho das bancadas que saíram das urnas. Nos anos seguintes, entretanto, as migrações intensas ignoraram a previsão. A reação tardia, no ano passado, diante da criação do PSD, levou o STF a decidir contrariamente. Garantiu-lhe o tempo de TV e os recursos do fundo proporcionalmente à bancada aliciada de outros partidos. Mas a votação agora, por iniciativa dos governistas, quando duas forças de oposição organizam novos partidos, estigmatizou como autoritária e casuística a medida necessária. O resultado acabará sendo mais judicialização da política.

              O debate exaltado e a pressa na tramitação aumentaram a desinformação sobre o significado da vedação proposta. A começar pelo fato de que ela não impede a formação de novos partidos. Embora tenhamos partidos demais, e talvez propostas partidárias de menos, uma barreira à criação de novas siglas exigiria mudança na Lei Orgânica dos Partidos Políticos, de 1995, hoje considerada um pilar (a meu ver trincado) da nova democracia. Nisso, não se está mexendo. Assim, não haverá impedimento à criação da Rede de Marina Silva nem à Mobilização Democrática de Roberto Freire. Entretanto, se o projeto for aprovado pelas duas Casas, como se tentava ontem, o partido oriundo da fusão contará apenas com os recursos proporcionais ao tamanho das bancadas originais: 13 do PPS e três do PMN. A pescaria de adesões não trará ganhos adicionais de tempo de TV e dinheiro do fundo. Já o partido de Marina, que está sendo criado do marco zero, ganharia apenas uma fração da parcela de tempo e de recursos (5% e 10% respectivamente) que são divididos igualmente entre todos os partidos.

              No Brasil, assim como os empresários gostariam que existisse o capitalismo sem risco, os políticos preferem que não existam regras partidárias. Aprovado, embora fora de hora, o projeto começaria a colocar ordem nesta libertinagem. Mas dificilmente o Judiciário deixará de garantir à Rede, bem como à Mobilização Democrática, o que garantiu ao PSD. A Rede, diz o deputado Alfredo Sirkis, um dos organizadores, vai recorrer ao Judiciário. A outra nova sigla, nascida ontem, também. E, mais uma vez, por não legislar ou legislar fora de hora, o Congresso entregará prerrogativas ao outro poder.

              Inflexão no STF

              Foram oito ministros contra o presidente do STF, Joaquim Barbosa, a favor da duplicação do prazo de recurso, de cinco para 10 dias, para os réus do mensalão. O que houve ontem no STF pode refletir o que andam dizendo alguns advogados de defesa: que a unidade absoluta do dias do julgamento se trincou. Alguns ministros teriam se dado conta de falhas e de excessos cometidos.

              Com o novo prazo, os advogados poderão formular embargos declaratórios mais consistentes. Estes são os recursos cabíveis agora. Depois de julgados é que serão apresentados os embargos infringentes, cabíveis quando pelo menos quatro ministros não seguiram a maioria na condenação.

              Eles agora estão trabalhando em maior sintonia, mirando as teses do julgamento e não a defesa individual dos clientes, o que não deu resultados. Uma das teses, a de que houve desvio de recursos públicos, será contestada com documentos dos autos que foram praticamente ignorados. O julgamento dos embargos confirmará, ou não, se houve mesmo quebra da hegemonia no Supremo, em parte alimentada pelos antagonismos internos.

              Eles na liça

              Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) tricotaram muito nas últimas horas em Brasília. Cada qual por seu lado, mas preservando a hipótese de convergência lá na frente. “Não subestimem a candidatura do Aécio. Ele tem a juventude a seu favor, um partido estruturado e o legado de um bom governo em Minas”, disse Campos aos senadores com os quais jantou anteontem. Falou basicamente de economia, mas impressionou bem. Eles combinaram de atuar, doravante, como um bloco informal no Senado.

              Por onde passou, Aécio criticou a visita da presidente Dilma Rousseff (PT) a Minas, segundo ele para cumprir agenda petista e não do estado. Cobrou uma dezena de obras não realizadas e de projetos desviados para outros estados. De longe, monitorou a eleição da executiva de São Paulo, onde os serristas foram derrotados. De perto, acertou a estratégia para a reorganização do PSDB no Distrito Federal, onde dois grupos se digladiavam. Uma comissão provisória, presidida por Eduardo Jorge, vai preparar a eleição de uma nova direção regional, sintonizada com os planos nacionais. Por fim, elogiou também o concorrente, interessado na fusão PPS-PMN. “A presidente parece assustada com a eleição presidencial, a ponto de seus aliados estarem dispostos a cometer um casuísmo para atingir as candidaturas de Eduardo Campos e Marina Silva. Os verdadeiros democratas devem saudar a pluralidade”.