quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Marina Colasanti-Uma maneira de viver‏

Uma maneira de viver 
 
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com
Estado de Minas: 30/01/2014





Ela era veterinária em Milão quando o conheceu. Não sei o que ele fazia nessa época, sei que em algum momento se encontraram, se quiseram bem e decidiram viver juntos. Não em Milão, mas nas altas montanhas da Lombardia, onde ele havia nascido. Iam levados não só pelo amor, como por outro projeto conjunto: criar cabras cachemire.

A gente entra numa loja, escolhe uma suéter mais macia que as outras, mais leve e mais cara, é cachemire. Não se detém na árvore genealógica da suéter. Paga e leva com satisfação, a mesma que teria com qualquer mercadoria industrial, não mais do que isso. O cachemire, porém, merece outra atenção. Pelo menos aquele produzido pelo casal das montanhas.

Começaram com cinco cabras, quatro fêmeas e um macho. Hoje, passados alguns anos, já são 15. As cabras se vestem, durante todo o verão, com pelo longo e liso, preto ou claro. Que só serve para elas. O que serve para nós é aquele finíssimo, que no outono se adensa por baixo do outro, uma espécie de subpelo, destinado a aquecer os bichos quando a neve vier.

É com a chegada da primavera que essa lã preciosa – agora desnecessária para os animais – começa a ser recolhida com uma escova metálica, parecida com as que usamos para pentear nossos cães. As cabras têm que ser escovadas durante quatro a cinco horas por dia, todos os dias. Durante meses. O que fica entre os dentes da escova é cuidadosamente recolhido.

Ao fim da temporada, toda essa lã é enviada para ser penteada e fiada. Eu disse “toda”, mais em relação ao esforço que à quantidade. Pois após tanta escovação, o que se obtém com 15 cabras são somente dois cones, daqueles de fiação industrial, cheios. Um de lã escura, outro clara. Só dois.

Não tenho especial interesse em cabras. O que me atraiu nesse casal, encontrado por acaso em um canal italiano de televisão, foi a sua maneira de viver e o prazer que extraem dela.

Dois cones de lã fiada não bastam para viver, nem nas altas montanhas. E é preciso pagar os dois serviços, executados por terceiros. A moça, veterinária, então, além de pentear cabras, trabalha como garçonete. E o marido tem um trabalho similar, acho que é frentista. Sem ressentimento. Seu negócio, afirmam com ternura, progride e, se tudo continuar como previsto, dentro de quatro ou cinco anos terão alcançado um rebanho de 50 cabras, que é o quanto pretendiam desde o começo.

Cinquenta cabras a serem escovadas diariamente podem representar a felicidade, ou que nome se dê a esse sentimento de acerto com a vida, o trabalho não como condenação, mas como parte de um projeto muito mais amplo e plural. Se a natureza faz o seu trabalho produzindo as cabras, se as cabras fazem o seu trabalho produzindo a lã, por que seria mais importante ou mais exaustivo o trabalho humano que leva à produção do fio?

A esposa de um meu amigo era tecelã. Em viagem de trabalho com ele ao Equador, sugeri que comprasse meadas de lã de vicunha para lhe levar de presente. Eram meadas artesanais, macias, ainda sem tingir, preciosas como cachemire. Ele estranhou o preço altíssimo. Ela, até hoje, me é grata pelo conselho.

Essas cabras e essas vicunhas não vivem estabuladas, não são alimentadas com ração, não tomam produtos químicos para aumentar sua lã. Que embora cara, vale mais do que custa.

TeVê

TV paga




Estado de Minas: 30/01/2014



 (Reprodução de internet )

Um escritor chamado Tennessee Williams


A série Grandes escritores, que o canal Curta! exibe às 23h, vai focalizar hoje um dos mais importantes autores do teatro moderno: Tennessee Williams (1911–1983). A produção retrata desde a juventude do dramaturgo norte-americano no Mississippi até alcançar o sucesso nos palcos e no cinema. Entre entrevistas com pessoas que conheceram e trabalharam com Williams (foto) são apresentadas algumas das cenas mais célebres de filmes adaptados de suas obras, como À margem da vida, Um bonde chamado desejo e Gata em teto de zinco quente.

Canal Fox Life promove  disputa entre designers


A Fox Life continua com as estreias de produções do canal Bem Simples. Entre as novidades de hoje está Design star, às 22h15, com o apresentador David Bromstad conduzindo a disputa entre 12 designers encarregados de transformar cômodos de uma casa em Hollywood. Às 23h é a vez de Operação design, seguido de Design original, às 23h45.

Rodrigo Hilbert também curte culinária japonesa


Na edição de hoje de Tempero de família, às 22h30, no canal GNT, o apresentador Rodrigo Hilbert vai até o Mercado Municipal, no Centro Histórico de Laguna, onde compra os ingredientes para preparar um verdadeiro banquete japonês com sushi, rolls, tempura e temaki.

SescTV traça o perfil do gravurista Mário Gruber


No SescTV, às 21h, será exibido o documentário Em volta do cavalete, sobre o gravurista Mário Gruber, criador de obras associadas ao realismo social e de personagens fantásticos. Na Cultura, o destaque de hoje é o documentário Vivienne Westwood – Faça você mesmo, às 22h, sobre a mulher, artista, intelectual e militante que foi eleita a rainha inglesa da moda.

Tom Zé resolveu agora reinventar a Tropicália


Ainda na Cultura, às 23h30, no programa Ensaio, Fernando Faro recebe o cantor, compositor, performer, arranjador e escritor baiano Tom Zé cantando e falando de seu novo álbum, Tropicália lixo lógico. No Multishow, continua hoje a cobertura do Festival de Verão de Salvador, com as apresentações de Paralamas do Sucesso, Asa de Águia e Ivete Sangalo, a partir das 21h.

Muitas alternativas na  programação de filmes


No pacotão de cinema, o Telecine Pipoca programou a comédia Finalmente 18 para a faixa das 22h. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Rinha, no Canal Brasil; Gabriela, no Telecine Cult; O Chacal, no Telecine Action; Rastros de violência, na HBO HD; Argo, na HBO 2; J. Edgar, no Max Prime; Elizabeth, no Studio Universal; e O advogado do diabo, no TCM. Outras atrações da programação: Eu, meu irmão e nossa namorada, às 21h, no Comedy Central; Fúria de titãs, às 21h20, no Space; As garotas do calendário, às 21h50, no Gitz; e Atividade paranormal 3, às 22h30, na Fox.


CARAS & BOCAS » Reforço de peso

Rita Valente, Reynaldo Boury e os 20 novos atores que entram em Chiquititas (Leonardo Nones/SBT)
Rita Valente, Reynaldo Boury e os 20 novos atores que entram em Chiquititas

Desta vez a produção de Chiquititas exagerou. Na manhã de terça-feira, o SBT reuniu jornalistas em São Paulo para apresentar oficialmente os 20 atores que passam a integrar o elenco da novela. Os protagonistas Manuela do Monte e Guilherme Boury, que interpretam Carol e Junior, deram as boas-vindas aos novos atores e listaram seus respectivos personagens. Reynaldo Boury, diretor-geral, e Rita Valente, colaboradora da autora Iris Abravanel, explicaram que os novos personagens vão entrar aos poucos na trama.

Rede Minas entrevista  o jornalista Juan Arias


O programa Imagem da palavra apresenta hoje a primeira entrevista da série realizada na Feira do Livro de Poços de Caldas de 2013. O entrevistado é o jornalista espanhol Juan Arias, correspondente do El país no Vaticano. Ele acaba de publicar a biografia de Santa Rita de Cássia. Arias conversa com Guga Barros sobre a escrita da religiosidade e a construção histórica dos santos. A pauta inclui reportagens sobre a beatificação de Nhá Chica, primeira santa brasileira, negra e analfabeta, e o ramo literário das biografias de santos, as chamadas hagiografias. Às 22h30, na Rede Minas.

A liga vai relembrar o  que foi notícia em 2013


Também hoje, na Bandeirantes, o programa A liga vai relembrar os temas que levou ao ar em 2013 e voltar a ouvir os principais personagens dessas histórias. Rita Batista vai ao encontro de MC Guimê para conferir se ele ainda continua “patrão” ou se a onda do funk ostentação já passou. Cazé visita Roland Pellegrine, pai do MC Daleste, assassinado em julho do ano passado. E ainda tem uma reportagem sobre o desabamento de uma obra irregular no bairro paulistano de São Mateus que matou 10 pessoas. No ar, à meia-noite.

Amor à vida chega ao  fim amanhã, na Globo

Na reta final de Amor à vida surgem muitas especulações sobre o destino dos personagens da novela da Globo. Especialmente Félix (Mateus Solano), Aline (Vanessa Giácomo) e Amarilys (Danielle Winits). Regenerado, Félix conquista o amor de Niko (Thiago Fragoso) e, finalmente, o carinho do pai, César (Antonio Fagundes). Ninho (Juliano Cazarré) continua preso e Aline morrerá ao tentar fugir da prisão. E Amarilys deve aplicar o golpe da barriga de aluguel novamente. Segundo o autor Walcyr Carrasco, o saldo positivo da novela foi o levantamento de discussões importantes. "Ela fez o público refletir sobre a aceitação das pessoas, como homossexuais e evangélicos, mostrando que há lugar para todos neste mundo”, argumenta, citando ainda a doação de órgãos, a importância da leitura e a violência contra a mulher.

Félix foi o melhor no  folhetim de Carrasco

Para especialistas em televisão, Félix foi o maior trunfo de Amor à vida. "Solano é o grande destaque, o melhor de todos. A redenção do Félix se deu graças ao público, que a quis, e o Walcyr Carrasco teve de acatar” diz Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia. Já Elmo Francfort, responsável pelo Museu da TV, destaca também Aline e César. "A novela vai ficar marcada por Félix, César e Aline. Eles surpreenderam, e o Félix será lembrado eternamente”, afirma. Como ponto negativo, ele aponta o excesso de personagens. “Muita gente ficou de lado. Alguns núcleos poderiam ser melhor realizados”, conclui.

Outros sentidos

Exibido regularmente pela TV Brasil (canal 65 UHF) na faixa das 22h e reproduzido pela Rede Minas bem cedinho, às 6h30, o programa Caminhos da reportagem vai mostrar hoje que é possível um deficiente visual se adaptar a um mundo cheio de informações. Um exemplo: o surfista Derek Rabelo dá uma lição de vida quando afirma que é possível sentir a luz da fé quando se vive no escuro. Ele venceu as ondas lendárias do Havaí e ganhou o respeito dos monstros do surfe mundial, como Kelly Slater, Carlos Burle e Laird Hamilton. “Quando a gente tem bastante fé e determinação, é capaz de fazer tudo”, afirma. Sua história inspirou o documentário Além da visão, dirigido por Bruno Lemos e Luiz Werneck.

VIVA
Como se esperava, A teia (Globo) estreou em um ritmo acelerado, alucinante. Tem gente que a compara aos seriados policiais da TV americana, mas isso não pode ser entendido como algo negativo. A teia tem sotaque próprio.

VAIA

Para mais uma grosseria de Luciana Gimenez em seu Superpop, na RedeTV!. Na segunda-feira, ela não foi nada elegante ao comentar a solteirice do jornalista Thiago Rocha. Tão constrangedor que nem merece ser repetido aqui.

Estrela brasileira - Ailton Magioli

Estrela brasileira
 
Destaque de musicais produzidos no país, Soraya Ravenle protagoniza espetáculo dedicado a Chico Buarque. A cantora e atriz diz que o Brasil deve valorizar seus autores e compositores



Ailton Magioli
Estado de Minas: 30/01/2014



A atriz e cantora Soraya Ravenle em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos  (Leo Aversa/Divulgação)
A atriz e cantora Soraya Ravenle em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos



De volta ao universo buarqueano depois de Ópera do malandro e Suburbano coração, a fluminense Soraya Ravenle, de 51 anos, é a estrela do teatro cantado brasileiro. Desta vez ela interpreta a mulher do dono de uma companhia mambembe em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos, de Cláudio Botelho e Charles Möeller, em cartaz no Rio de Janeiro.

“Minha personagem é uma mulher madura e vivida, um pouco amarga, que se sente ameaçada com a entrada de uma jovem atriz na trupe”, conta Soraya Ravenle, que se nega a aceitar o título de primeira-dama do musical brasileiro, dado a ela por Cláudio Botelho, entre outros. “Penso e ambiciono, sim, evoluir a cada trabalho. Abrir possibilidades, crescer como intérprete e me arriscar. Faço aulas de canto, de teatro e de corpo, nunca vou parar”, diz. Sua irmã é a talentosa Ithamara Koorax, dona de bela voz, que faz carreira no exterior.

As duas são filhas de uma cantora lírica polonesa amadora, que chegou ao Brasil fugindo da 2ª Guerra Mundial. Mesmo com sólida formação ela não seguiu carreira e acabou passando a “missão” para suas meninas. “Aprendemos a ler partitura enquanto aprendíamos a ler e escrever. A música está nas entranhas de nossa alma, assim como a dança”, orgulha-se Soraya. “Sem querer, ou por sorte, tive formação para o teatro musical. Minha mãe não poderia imaginar que fosse levar aquilo tão a sério”, conta.

Soraya Ravenle estreou como corista em A estrela Dalva, musical protagonizado por Marília Pêra. “Ela é uma referência para mim, assim como Bibi Ferreira e Sueli Franco. O ponto em que me sinto mais tocada, comovida e identificada com essas mulheres é a dedicação absoluta ao palco. Vejo-me nelas, são minhas mães artísticas”, revela.

A atriz cita também o apoio vindo do dramaturgo Douglas Dwight, de Lenita Lopes e de Ney Madeira, que a convidaram para estrelar Dolores, musical sobre a vida de Dolores Duran. Naquela época, Soraya não era um nome conhecido. “Cláudio Botelho e Charles Möeller também me proporcionaram maravilhas, como a Teresinha de Ópera do malandro e a Golda de Um violinista no telhado, além de Todos os musicais de Chico Buarque...”. Outro marco foi Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha, de Sérgio Cabral e Rosa Maria Araújo. “Tenho a sorte de ter vivido vários fenômenos, trabalhos que ficam mais de ano em cartaz, com sucesso de crítica e público”, afirma.

Certa vez, Soraya ouviu de Claudio Botelho: “Ator de musical é um atleta”. Cedo, aprendeu que voz é músculo. “Bibi Ferreira canta lindamente até hoje porque se exercita”, diz a artista.

Broadway  Adepta da escola do musical brasileiro, a atriz e cantora diz nada ter contra a importação de peças da Broadway como vem ocorrendo, principalmente em São Paulo. “Apesar de entender que deve haver lugar para tudo e precisamos respeitar gostos e opiniões diferentes, sinto profundamente que podemos realizar muito falando a partir do nosso país, usando nossas matérias-primas: autores, compositores e arranjadores”, observa. E defende a exportação dos espetáculos brasileiros: “Este ano, vamos a Portugal com Todos os musicais de Chico Buarque..., assim como fizemos com Ópera do malandro”.

Soraya constata que o público se diversificou e não se limita a senhoras que desejam se divertir. “Isso é uma realidade, mas o musical não se restringe a essas plateias. Os jovens prestigiam espetáculos quando há qualidade e excelência. O boca a boca leva público eclético ao teatro. Com toda a minha experiência, posso garantir: o boca a boca é que segura uma peça em cartaz”, conclui.


MÚSICA

Ex-vocalista de shows da cantora Fernanda Abreu, Soraya Ravenle integrou o grupo Arranco de Varsóvia, com o qual gravou dois discos na década de 1990. A carreira solo como intérprete de MPB se concretizou em 2011, com o disco Arco do tempo, cujo repertório é dedicado ao letrista Paulo César Pinheiro e a seus parceiros.

 (Rafael França/divulgação)

NAS TELAS

A atriz Soraya Ravenle trabalhou na minissérie Dalva e Herivelto e nas novelas Paraíso (foto, com Reginaldo Faria) e Beleza pura. No cinema, fez Mulheres do Brasil, A partilha e Lost Zweig.

A voz do ofício

Cláudio Botelho

Soraya Ravenle entrou na minha vida como ídolo. Explico: somos da mesma geração de atores, diretores, músicos e demais malucos que se dedicaram a criar o que hoje se chama de retomada do teatro musical no Brasil. Um dia, fui ver o musical Dolores – já naquela época, um exemplar do que hoje se tornou uma espécie de febre (amarela, com razão para febre alta, espasmos e dores no ouvido), um musical biográfico. O espetáculo era Soraya. Descobri-a ali e me tornei fã. Em 1999, no Rio de Janeiro, só se falava em Soraya Ravenle e sua extraordinária performance como Dolores Duran. O mais impressionante é que ela não fazia uma imitação – hoje em dia, há uma espécie de estilo “Raul Gil forever” no teatro musical carioca –, mas uma interpretação personalizada, adulta e refinada.

A vida nos colocou juntos logo depois, num show em homenagem a Lupicínio Rodrigues – então, já éramos um time. Soraya foi a Teresinha na montagem que eu e Charles Möeller fizemos da Ópera do malandro, de Chico Buarque; fez Suburbano coração em substituição generosa da também talentosíssima Inez Vianna; fez par com José Mayer num trabalho impressionante de atriz (muito mais que de cantora) em Um violinista no telhado. Agora ela é a primeira-dama de Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos... Ela é, sem dúvida, a primeira-dama do teatro musical que se vem fazendo no Brasil dos últimos 20 anos. Há dentro dela um rio correndo, um caldeirão de informações artísticas que vêm do tempo em que cantava samba com o grupo Arranco de Varsóvia; dos papéis em tantos musicais de sucesso; de uma ligação enorme com a MPB; e da propriedade de transformar a canção em texto teatral, tornar teatro o que poderia ser apenas música.

Quando Soraya está em cena, uma geração inteira de gente que se dedicou ao nosso ofício está ganhando voz. Ela é a nossa Bibi, a nossa Marília, alta representante de um teatro que cresceu e conquistou multidões sem precisar ter ‘gente de novela’ no elenco.

Ator, diretor e produtor

MOSTRA DE CINEMA » Burburinho nos bastidores‏

MOSTRA DE CINEMA » Burburinho nos bastidores Produtor Thiago Macêdo Correa destaca-se pela quantidade de obras que levam a sua assinatura na edição deste ano 

Carolina Braga
Estado de Minas: 30/01/2014


O jovem produtor Thiago Macêdo Correa, no centro, cercado por Lygia Santos, Affonso Uchoa, Maurílio Martins, Leonardo Amaral, Gabriel Martins, André Novais, Ricardo Alves Jr.   (Túlio Santos/EM/D. A Press)
O jovem produtor Thiago Macêdo Correa, no centro, cercado por Lygia Santos, Affonso Uchoa, Maurílio Martins, Leonardo Amaral, Gabriel Martins, André Novais, Ricardo Alves Jr.

Tiradentes – Ele está virando o produtor mais querido da nova geração do cinema mineiro. Nos bastidores da Mostra de Cinema de Tiradentes, rola a brincadeira de que até a produção do tradicional cortejo ficará por conta dele. Zoação, claro, que Thiago Macêdo Correa encara numa boa. Trabalho não lhe falta. Com 30 anos recém-completados, somente nesta edição do festival ele responde pela produção de nada menos que sete filmes, dois longas em competição na Mostra Aurora e outros cinco curtas. A lista de projetos para os próximos anos é igualmente grande, assim como a versatilidade.

“Meu modo de produzir cinema tenta ser sensível à necessidade do filme. Não me armo de uma estrutura específica que tem que ser respeitada, tento saber o que o trabalho precisa”, comenta. Integrante da produtora Filmes de Plástico, Thiago produz tanto obras de seus sócios André Novaes, Gabriel e Maurílio Martins como de outros colegas. Na lista de projetos independentes, tem parcerias com os jovens realizadores Ricardo Alves Jr., Affonso Uchoa, Leonardo Amaral e outros. “A sensibilidade está muito baseada na relação entre diretor e produtor. Cada um tem uma personalidade, então não tem como eu me portar do mesmo modo”, continua.

Para o diretor Ricardo Alves Jr., o que diferencia o trabalho de Thiago Macêdo Correa é o envolvimento que ele estabelece com o trabalho. “Ele não só executa o filme no caminho da produção, mas é uma figura que pensa o filme artisticamente. Desde a ideia do roteiro até no processo de montagem ele está ali como uma peça muito importante”. Além do curta Tremor, Ricardo e Thiago trabalham juntos na realização do longa Elon Rabin não acredita na morte.

Os integrantes da Filmes de Plástico se conheceram na Escola Livre de Cinema, em Belo Horizonte. Como além de aluno Thiago era também funcionário da secretaria da escola, começou quase por acidente a cuidar da realização dos curtas feitos pelos estudantes. Dali para a carreira profissional foi um pulo. Em 2008, o curta Sábado, de Gabriel Martins, oficializou a criação da produtora e, depois disso, a fama do grupo de Contagem só cresce.

Como profissional, primeiro ele se especializou na produção do set. Agora, a demanda para a produção executiva e a captação de projetos maiores o fazem acumular funções. A ideia é, inclusive, começar a trabalhar nas estratégias de distribuição para que os filmes sejam cada vez mais vistos. Aliás, será esse o trabalho mais pesado nos próximos dias, depois de tantas estreias durante a Mostra de Cinema de Tiradentes. “A expectativa é de formular uma carreira de festivais no Brasil e no mundo. Para os longas, queremos pensar um modo para que esses filmes cheguem ao público”.

A repórter viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.


Curtas em linguagem experimental




É certo que os longas costumam chamar mais a atenção em festivais, mas há alguns anos os curtas exibidos nas telas em Tiradentes não ficam devendo em nada. Pelo contrário, às vezes são trabalhos até melhor realizados. Tanto nas sessões programadas para o Cine Praça como as mostras competitivas exibidas no Cine Tenda, qualidade técnica e diversidade são pontos que chamam a atenção.

Para se ter uma ideia, esta semana foram exibidos no Largo das Forras trabalhos em animação de cordel (Suassuna, a peleja do sonho com a injustiça, de Felipe Gontijo) e temas como daltonismo (Diários daltônicos, de Patrícia Monegatto), filhos de casais homossexuais (Meu amor que me disse, de Cátia Martins Nucci) e até a suposta chegada de ETs ao Brasil (Efeito Casimiro, de Clarice Saliby).

As obras exibidas na Mostra Foco, no Cine Tenda, são ainda mais ousadas. Sessão competitiva valendo, entre outros prêmios, aquisição pelo Canal Brasil, tem o objetivo de dar visibilidade a cineastas em início de carreira. O negócio é dar vazão à produção feita por estudantes do Brasil inteiro e, principalmente, fazer apostas, lançar nomes.

 “Surpreende-me a qualidade técnica dos filmes. Às vezes, temos na cabeça que curta é um filme feito com pouco dinheiro – o que muitas vezes é mesmo –, mas o digital e a formação muito precoce desses meninos estão garantindo técnica muito boa”, analisa Pedro Maciel Guimarães, um dos curadores dos curtas. Ele chama a atenção para os avanços na narrativa. “Você vê que não foi filme feito do dia para a noite. Já vem com uma reflexão.”

Também é essa a percepção do diretor de fotografia pernambucano André Antônio. Na cidade para representar o curta Estudo em vermelho, de Chico Lacerda, ele ficou feliz com o que viu na tela. “Enquanto outros festivais ficam restritos a uma espécie de qualidade técnica que às vezes é meio careta, que se restringe a regras de como fazer cinema, aqui a seleção está muito mais aberta a experimentações, ao que a linguagem cinematográfica pode oferecer mesmo quando ela se mostra muito diferente do padrão”, elogia.

FILMES PRODUZIDOS POR THIAGO MACÊDO CORREA EM TIRADENTES

>> Longas
A vizinhança do tigre, de Affonso Uchoa
Aliança, de Gabriel Martins, João Toledo e Leonardo Amaral

>> Curtas
Quinze, de Maurílio Martins
Mundo incrível remix, de Gabriel Martins
Tremor, de Ricardo Alves Jr.
Sandra Espera, de Leonardo Amaral
Onde não posso ir, de Lygia Santos

PROGRAMAÇÃO DE HOJE

>> CINE TEATRO SESI

10h30 – Debate sobre A mulher
que amou o vento
12h – Debate curtas –Mostra Foco série 3
15h – Seminário “Processos de criação: da ideia ao set de filmagem”
17h30 – Sessão de curtas

>> CINE TENDA

15h30 – Sessão de curtas

>> CINE TENDA

18h30 – Mostra Aurora –Aquilo que fazemos com as nossas desgraças, de Arthur Tuoto
20h – Mostra Aurora –Batguano, de Tavinho Teixeira
22h – Exilados do vulcão, de Paula Gaitán

>> CINE BNDES NA PRAÇA

21h – Turn off, de Carlos Segundo

>> CINE-TENDA-BAR-SHOW

0h30 – Show de Ricardo Nazar

Eduardo Almeida Reis - Étonnant! Espantoso!‏

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 30/01/2014 



Étonnant! Espantoso!

Esqui na neve me lembra episódio ocorrido em Courchevel, nos Alpes franceses, com o industrial brasileiro Fernando Alencar Pinto. Cearense dinâmico, foi durante anos o maior distribuidor da GM no Brasil, fabricou os circuladores de ar Bomclima e criou gado holandês numa fazenda em Pindamonhangaba (SP), onde o conheci. Bebeu durante mais de 50 anos um litro de uísque/dia, aos golinhos, sem gelo, o dia inteiro. Naquele tempo havia muito uísque falsificado e as importações eram proibidas, ou quase. Sabendo de uma importação, Fernando comprava um litro e mandava examinar no Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo. Confirmada a autenticidade escocesa do produto, comprava logo 20 ou 30 caixas daquela remessa. Contou-nos essa história numa noite em que dormimos em sua fazenda paulista. Viajava conosco um casal bom de copo, ela adorável dona de casa, mãe de três filhos; seu marido genial artista plástico, pintor e humorista com PH maiúsculos. Ainda me lembro de que o artista renovava a dose de seu imenso copo – daqueles “copos de uísque” de antanho, coisa de 1/3 de litro – e ficou tão encantado com a notícia do Adolfo Lutz que seu Black&White transbordou o copo, sem deixar espaço para uma pedrinha de gelo. Maduro e rico, o industrial resolveu esquiar em Courchevel. Comprou os melhores esquis que encontrou à venda numa loja de Paris e se mandou para os Alpes. Lá chegando, hospedou-se no melhor hotel e foi para o bar em busca do uisquinho regulamentar. Dois dias depois matriculou-se no curso de esquiadores principiantes, para espanto de meia França: “Étonnant! O senhor chegou aqui com os melhores e mais profissionais esquis à venda. Passou dois dias no bar, coisa de profissional, para se acostumar com a altitude. E agora se matricula num curso de quem nunca esquiou na vida”.

Indicações 

O só fato de ser escolhido e indicado para ministro de tribunais superiores por determinados governantes acoima o indicado, inda que aprovado por um Senado em que o presidente avoa para transplantar cabelos no Recife. Acoima, minha gente: verbo acoimar no sentido de condenar. Critiquei determinado ministro, logo que foi nomeado, pelas besteiras que andou falando. Em sua defesa recebi e-mail de um amigo, primo e confrade, ex-presidente da mesma corte, dizendo que o criticado é um sujeito formidável. Não é. Anda metendo os pés pelas mãos, confundindo-se, desdizendo-se, defendendo ideias estapafúrdias, sinal de que talvez esteja ficando maluco da cabeça. Há precedentes: Nietzsche, que era Nietzsche, ficou inteiramente maluco aos 44 anos, doido de pedra ou de hospício, como se diz em Diamantina. Há que tomar cuidado com o tal ministro. Além da toga, é conveniente que a alta corte de Justiça mantenha sempre à mão uma peça de tecido resistente ou de lona, semelhante a uma camisa, com que se envolvem e amarram firmemente, com cordões, os braços e a parte superior do corpo, impedindo movimentos violentos, especialmente de loucos em acesso de fúria, vulgo camisa de força.

A propósito do sesso 

Há palavras dicionarizadas desde sempre que a gente nunca leu, nunca ouviu e ignora o significado. Um exemplo: sesso, ortoépia ê, que entrou em nosso idioma c1537-1583, veio do latim e todos temos, philosopho e leitores. Significa par de nádegas, traseiro. Deu-se que levantei o meu sesso da cadeira para pegar na estante o Dicionário Latino-Português, de F. R. dos Santos Saraiva, volume de 1.297 páginas conhecido como Saraiva, porque estava escrevendo sobre os imperadores romanos Vespasiano e Tito, pai e filho, em que havia um conselho do pai sobre o lugar onde a pessoa prefere assentar o seu clunis: numa privada, num banco escolar ou num estádio. Aí descobri que Plínio escreveu residere in clunes, posição que tem relação estreita com Vespasiano, não o imperador, mas o Vespasiano da Grande BH, porque significa assentar-se de cócoras e o mineiro adora ficar de cócoras. Puro de sentimentos e intenções, evitei os sinônimos de residere in clunes, que não cabem numa coluna voltada para as altas cousas do espírito. E agora peço licença para tirar o sesso da cadeira e devolver o Saraiva à estante. Pela atenção, muitíssimo obrigado.

O mundo é uma bola 

30 de janeiro de 1592: eleição do papa Clemente VIII, nascido Ippolito Aldobrandini. Foi o responsável pela introdução do café na Europa, bebida até então considerada muçulmana. Em 1649 o rei da Inglaterra, Carlos I, foi executado. Ontem ou anteontem, se estou lembrado, falei da morte de Edward II pela introdução de um chifre oco em seu fiofó, através do qual passou um ferro em brasa. Edward era bissexual, tinha namorados, mas Carlos I foi capturado, julgado e condenado por não admitir a monarquia constitucional. Foi sucedido por seu filho Carlos II. Em 1933, o presidente Paul von Hindenburg nomeia Adolf Hitler chanceler da Alemanha. Em 1938, emancipação política do município de Governador Valadares (MG), onde nasceria Eike Fuhrken Batista. Hoje é o Dia do Portuário, da Saudade e da Não Violência.

Ruminanças

“O perigoso é um pouco de conhecimento” (Alexander Pope, 1688-1744).

Antioxidantes podem aumentar os tumores‏

Antioxidantes podem aumentar os tumores
Estado de Minas: 30/01/2014


Presentes em vitaminas como a A, a C e a E, os antioxidantes são conhecidos pelo potencial anticancerígeno. Pesquisas recentes, porém, têm indicado que eles podem ter efeito contrário: aumentar o risco da doença em grupos de alto risco. Em um estudo publicado na Science Translational Medicine de hoje, cientistas suecos concluíram, em um experimento com ratos, que essas substâncias podem agravar o câncer de pulmão. 

Martin Bergo, professor do Centro de Pesquisa do Câncer da Universidade de Gotemburgo e um dos autores do trabalho, explica que a suspeita de que os antioxidantes não teriam efeitos positivos quanto à prevenção do câncer surgiu em um experimento anterior, também com ratos. “Descobrimos que as cobaias com câncer de pulmão desenvolveram três vezes mais e maiores tumores pulmonares quando comiam antioxidantes extras e que morreram duas vezes mais rápido”, relata.

O grupo de pesquisadores decidiu, então, realizar um estudo mais amplo para investigar as razões dos problemas constatados. No experimento, usaram dois tipos de antioxidantes: a vitamina E e a acetilcisteína (medicamento utilizado para reduzir o muco do pulmão). Eles foram ingeridos diariamente por ratos com estágios iniciais de câncer de pulmão. 

Conforme o esperado, os tumores aumentaram de tamanho e os animais morreram em um tempo duas vezes mais rápido em comparação com ratos no mesmo estágio da doença, mas que não haviam ingerido os antioxidantes. Bergo acredita que os resultados fornecem dados importantes para pesquisas na área, mas que precisam se aprofundar, já que o estudo foi feito com animais.
“Nosso estudo não diz nada sobre o uso de antioxidantes em pessoas saudáveis, mas os resultados sugerem que os pacientes com câncer de pulmão e pessoas em risco de desenvolver esse problema, como fumantes ou indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), devem usar antioxidantes com cautela. No mínimo, precisam evitar tomar quantidades extras ou suplementos até que essa questão possa ser resolvida definitivamente”, sugere.

Segundo Anderson Silvestrini, oncologista clínico e diretor técnico do grupo Acreditar de Oncologia e Hematologia, de Brasília, ainda existem muitas controvérsias em relação ao papel das vitaminas em relação ao câncer. Originalmente, elas serviriam como um instrumento para retardar o envelhecimento celular e o surgimento de tumores. “Porém, essa teoria tem sido posta em xeque. Acredito que trabalhos como o dos suecos, mesmo se tratando de experimentos com ratos, já servem para discussões acerca disso, apesar de precisarem de uma continuidade para a confirmação (dos efeitos) no organismo humano”, destaca. (VS)

Vacina evita que células com HPV virem câncer‏

Vacina evita que células com HPV virem câncer Tratamento proposto por cientistas dos EUA potencializa a ação do sistema imunológico contra células pré-cancerígenas no colo do útero. Testes com mulheres apresentaram resultados promissores 

 
Vilhena Soares
Estado de Minas: 30/01/2014


Uma vacina terapêutica que auxilia o corpo a lutar contra células pré-cancerosas. Essa foi a estratégia utilizada por pesquisadores americanos para proteger mulheres do câncer no colo do útero. O tratamento acelera a reação dos linfócitos T, que combatem a reprodução desordenada de células. Com o progresso detectado, os cientistas acreditam que o procedimento possa futuramente fazer com que o tratamento cirúrgico não seja mais necessário.

Leonel Maldonado, um dos pesquisadores do estudo publicado hoje na revista científica Science Translational Medicine, explica que a vacina não é imunizadora: servirá para tratar uma condição que pode evoluir para o câncer. “Estudos anteriores avaliaram a vacina de sangue (ativação do sistema imune por meio do sangue do próprio paciente) dos voluntários a fim de observar a magnitude de uma resposta imune. Nosso estudo é o primeiro a identificar um aumento da resposta imunitária no tecido de pacientes com uma lesão pré-cancerosa do colo do útero após a vacinação com uma vacina de HPV com alvo terapêutico”, explica o professor do Johns Hopkins Medical Institutions.

No experimento, a vacina terapêutica foi aplicada em 12 mulheres com lesões no colo do útero e os cientistas observaram uma melhora expressiva no sistema imunológico delas. As células T, responsáveis por combater a doença, se manifestaram em níveis antes não vistos. De acordo com os cientistas, essa resposta é positiva e pode contribuir para que o tratamento de lesões seja mais eficiente. “As respostas imunes geradas pela vacina têm o potencial de induzir, em algumas mulheres, a regressão completa da lesão cervical pré-cancerosa, evitando, assim, a progressão de cancro e os tratamentos desnecessários”, completa Maldonado.

Segundo o pesquisador, outros exames podem complementar o procedimento proposto, criando um conjunto de intervenções capaz de aumentar a proteção das mulheres contra o câncer do colo do útero. “Nossos resultados têm o poder de modificar a forma com que futuras vacinas terapêuticas e testes clínicos de HPV podem ser concebidos para analisar as respostas imunitárias em tecidos, uma vez que esses métodos podem ser mais informativos para avaliar a eficácia do tratamento. Além disso, os pacientes com doença pré-invasiva poderiam ser mais bem monitorados com base na resposta imunológica encontrada nas biópsias após a vacinação”, explica.

Novas estratégias A equipe do Johns Hopkins pretende avaliar mais 20 pacientes, testando uma combinação da vacina terapêutica com um creme tópico. A intenção é fazer que, com a união das terapias, a resposta dos linfócitos T seja ainda mais potencializada.

Devido à grande quantidade de variantes e à ligação com o câncer, o HPV tem sido alvo de pesquisadores de vários países. Rosires Pereira de Andrade, chefe do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é um dos que seguem em busca de vacinas mais eficazes contra o vírus. “Nossa equipe, em parceria com pesquisadores de Salvador e de outros centros do Brasil, trabalha em uma vacina nonavalente para nove variações do HPV. Dessa forma, a proteção do colo do útero será mais completa, cerca de 20% maior. Isso é algo que ainda não temos, pois a vacina oferecida pelo governo é quadrivalente”, compara.

Pereira avalia que a ideia dos cientistas do Johns Hopkins Medical Institutions de utilizar uma vacina para ativar o sistema imunológico de mulheres com lesões uterinas também é uma estratégia eficaz. “Se você consegue ativar os anticorpos no lugar da lesão, como foi feito por ele, a resposta imunológica aumenta e a proteção da mulher contra o câncer sobe consideravelmente. Isso pode contribuir para um tratamento mais completo”, destaca.

O especialista também acredita que a vacina terapêutica poderá evitar que as cirurgias para a retirada de lesões do colo do útero sejam feitas. No procedimento atual, uma grande parte do colo é cortada, o que pode facilitar a ocorrência de partos prematuros. “Cirurgias são sempre agressivas; se pudermos evitar isso, sempre é algo positivo”, completa.

Proteção ampliada

A vacina quadrivalente previne contra quatro tipos de HPV – o 16 e o 18, que estão presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero –, e o 6 e o 11, presentes em 90% das verrugas genitais. Ainda em desenvolvimento, a vacina nonavalente pretende agregar mais cinco sorotipos do vírus.

Palavra de especialista
 Mauricio Abrão, professor associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)

Necessidade de mais testes

“É necessário cautela ao interpretar os resultados desse trabalho devido ao pequeno número de pacientes incluídas. Mas isso não desmerece a originalidade da ideia. O papilomavírus humano (HPV) é causador de lesões que, em última instância, vão se transformar em câncer de colo uterino, doença em grande parte prevenível e, atualmente, um significativo problema de saúde pública em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. No Brasil, em 2004, o câncer de colo uterino foi o segundo tipo de câncer mais diagnosticado em mulheres, cerca de 20.700 casos novos (11% do total diagnosticado), perdendo apenas para o câncer de mama. Esse trabalho de Maldonado e dos colaboradores tem o importante papel de levantar novas potencialidades para a vacina, efeitos que devem ser mais bem avaliados por estudos bem desenhados para que o conhecimento científico possa se transferir para a prática clínica.” 

Abalo vem dos EUA - Rosana Hessel

O Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, corta mais US$ 10 bilhões dos estímulos à maior economia do planeta, independentemente do impacto nas nações emergentes

 

Rosana Hessel
Estado de Minas: 30/01/2014



Em sua última reunião à frente do Fed, Ben Bernanke manteve o corte (Karen Bleier/APF)
Em sua última reunião à frente do Fed, Ben Bernanke manteve o corte

Brasília
– Seguindo à risca a cartilha anunciada em dezembro do ano passado, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, deu mais um passo ontem na redução dos estímulos à maior economia do planeta, aumentando a tensão entre os países emergentes, sobretudo os que abriram mão de reformas importantes, como o Brasil. São eles os que mais vão sofrer com a migração do capital para os EUA, que, futuramente, darão início a outro movimento importantíssimo: o aumento dos juros. O Fed cortou em mais US$ 10 bilhões, para US$ 65 bilhões, o programa de compras mensais de títulos que estão em poder do mercado.

Apesar do tremor que abalou as economias emergentes, que foram obrigadas a elevar drasticamente os juros – na Turquia, a taxa saltou de 7,75% para 12% ao ano –, o BC dos EUA já avisou que manterá o processo de redução dos estímulos ao longo de 2014. Deu, porém, uma amenizada temporária na tensão, pois reforçou a promessa de manter os juros próximos de zero por um bom período, mesmo depois de a taxa de desemprego norte-americana, atualmente em 6,7%, cair abaixo de 6,5%, e caso a inflação se mantenha próxima da meta de 2%.

O comunicado do Fed provocou alívio no governo de Dilma Rousseff. Apesar de, publicamente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que o Brasil está preparado para o tapering, como é chamado o corte de estímulos à economia dos EUA, o Palácio do Planalto vê com muita preocupação uma ação mais forte da autoridade monetária norte-americana. Como quase todos os indicadores do país pioraram – a dívida bruta está encostando nos 60%, a meta de superávit primário é cada vez menor, o crescimento econômico continua pífio e o rombo das contas externas bate recorde – os investidores andam arredios e não descartam o rebaixamento da nota de crédito brasileira.

A reunião de ontem foi a última de Ben Bernanke na presidência do Fed. Ele conduziu o banco em um território desconhecido nos oito anos em que ocupou o posto, construindo um balanço patrimonial de US$ 4 trilhões e mantendo os juros próximos de zero por mais de cinco anos para afastar a economia dos EUA do pior revés em décadas. Amanhã, passará o comando da autoridade monetária à atual vice-presidente, Janet Yellen.

Mudança Entre os investidores, não há, por enquanto, expectativa de grandes mudanças na política do Fed. Mas a grande maioria deles acredita que, já no início de 2015, Yellen dará início ao aumento dos juros, para evitar desequilíbrios na economia dos EUA, que vem se mostrando mais forte, sempre com revisões para cima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

No comunicado pós-reunião, o Fed reconheceu que “a atividade econômica dos EUA ganhou fôlego nos trimestres recentes” e minimizou o fraco resultado da abertura de empregos em dezembro último. “Os indicadores do mercado de trabalho foram mistos, mas o balanço mostra melhorias”, destacou a instituição. Dados divulgados nas últimas semanas, incluindo os gastos do consumidor e a produção industrial, foram amplamente otimistas e alimentaram a tese de que os EUA estão melhorando. Analistas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 3,2% no quarto trimestre, após o avanço de 4,1% nos três meses anteriores.