Agência rebaixa OGX para nível pré-default; bancos preveem ação a R$ 0,10
Percepção externa ajuda a derrubar Bolsa de SP para pior nível desde 2009; saída seria venda ou aporte de dono
DENISE LUNAMARIANA SALLOWICZDO RIORAQUEL LANDIMDE SÃO PAULOInstituições financeiras internacionais apontaram ontem risco mais concreto de calote da OGX, líder do grupo de Eike Batista, e bancos estimaram que os papéis da petroleira podem chegar a valer R$ 0,10. As ações das empresas do grupo desabaram.
A agência de classificação de risco Standard & Poor's cortou a nota da OGX de "B" para "CCC" --nível anterior a "default" (calote).
A S&P atribui a perspectiva negativa "à grande vulnerabilidade de não pagamento e à dependência de condições favoráveis para cumprir seus compromissos".
O mercado reagiu à avaliação e à drástica revisão dos planos de produção da OGX, divulgados anteontem.
A empresa informou que seu único campo de petróleo em atividade, Tubarão Azul, na bacia de Campos (RJ), pode parar de produzir em 2014.
Também suspendeu os planos de colocar em produção os campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Azul.
"Essa base de ativos menor prejudicará a capacidade da OGX de atingir níveis de produção e de geração de caixa para cobrir seus níveis de dívida", disse a agência.
As ações da OGX caíram 19,64%, para R$ 0,45. Em 12 meses, o tombo é de 92,9%.
Na avaliação dos bancos, o papel pode cair ainda mais. O Deutsche Bank reduziu seu preço-alvo de R$ 0,70 para R$ 0,10. O Bank of America e o Merrill Lynch, de R$ 1 para R$ 0,10. Crédit Suisse e HSBC estimam o preço em R$ 0,30.
Os títulos da dívida da OGX continuaram caindo para um nível que indica risco de calote. Os papéis com vencimento em 2018 eram negociados ontem por 20% do valor de face, ante 32% na sexta-feira.
A queda das ações da OGX voltou a contaminar as outras companhias do grupo. MMX, LLX e OSX caíram, respectivamente, 17,3%, 11,2% e 15,8%.
O efeito respingou até na Petrobras, que recuou 4,76% e ajudou a derrubar a Bolsa.
Também foram afetados os papéis de bancos --investidores estão preocupados com a dívida que o grupo de Eike tem com as instituições.
O Ibovespa recuou 4,24%, maior tombo desde 22 de setembro de 2011, e fechou no pior nível desde 22 de abril de 2009, também sob influência da queda da produção industrial.
O QUE SOBROU?
Em relatório, os analistas do Credit Suisse afirmaram ontem que "não sobrou muito para o acionista" da OGX.
Pelas contas do banco, os ativos da empresa valem US$ 2 bilhões --US$ 1,2 bilhão por Tubarão Martelo, US$ 500 milhões pelos blocos na bacia do Parnaíba e US$ 270 milhões pelo bloco BS-4.
O problema, aponta o Crédit Suisse, é que o valor patrimonial não é suficiente para pagar a dívida da empresa, que chega a US$ 4 bilhões.
Segundo o relatório, se a OGX pagar e investir tudo o que previu, chegaria ao fim do ano com um caixa negativo de US$ 400 milhões.
Pelos cálculos do banco, a empresa começou 2013 com um fluxo de caixa de US$ 1,6 bilhão. Mas teria que gastar US$ 200 milhões em capital de giro, US$ 335 milhões em juros da dívida e US$ 1 bilhão em investimentos.
Além disso, a OGX tem que pagar US$ 188 milhões até agosto para a ANP (Agência Nacional do Petróleo) pelos novos campos que ganhou em leilão. E se comprometeu a pagar outros US$ 449 milhões para a OSX, estaleiro do grupo EBX, pelo rompimento de contrato para a construção de plataformas.
Para Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), "a OGX agora contou a verdade para o mercado e está com sua dimensão real".
Ele considera que a empresa ainda tem alternativas se conseguir uma "injeção de capital", porque ainda possui alguns bons ativos.
A "injeção" poderia vir do próprio Eike, que se comprometeu a colocar R$ 1 bilhão na petroleira, ou de um sócio estratégico, que o BTG, banco que fechou parceira com o empresário, tenta encontrar.
O mercado tem dúvidas se Eike vai realmente injetar esse capital, pois ele vendeu ações da empresa a valores baixos para levantar recursos.
Investidor estrangeiro se preocupa com exposição de bancos ao EBX
PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOAs ações dos principais credores das empresas do grupo EBX despencaram ontem. Os papéis do BTG, que tem R$ 458,7 milhões em empréstimos de curto prazo para o grupo de Eike Batista, segundo levantamento da Folha, tiveram queda de 7,59%.
De acordo com relatório do BofA (Bank of America), entre os bancos privados, o BTG tem a maior exposição às empresas do grupo X em dívidas de curto e longo prazo, de 6,2% de seu capital de nível 1 (parte do patrimônio que absorve as perdas da atividade normal do banco).
As ações do Bradesco, que tem R$ 996,4 milhões em empréstimos de curto prazo para empresas do grupo (exposição de 1,8% segundo o Bofa), caíram 5,07%.
E os papéis do Itaú, que tem R$ 1,007 bilhão de crédito de curto prazo para as empresas X e exposição de 1,7%, tiveram baixa de 4,32%.
Segundo o BofA, a exposição do BNDES a dívida das empresas de Eike é de 10,1%, e a da Caixa Econômica Federal, de 6,2%.
A exposição de bancos brasileiros às empresas de Eike preocupa muito investidores estrangeiros.
"A grande preocupação do mercado agora é descobrir exatamente quanto cada banco emprestou para as empresas de Eike; por isso as ações de bancos como Itaú e Bradesco já estão caindo", disse o chefe de negociação de ações de um grande banco em Nova York.
"É o segundo estágio da crise --o que vai acontecer com os bancos e o que o governo vai fazer."
"Não falamos sobre ações específicas, especialmente em uma situação como essa", disse Michael Shaoul, presidente da Marketfield Asset Management, gestora de recursos em Nova York.
"Mas esperávamos que os usuários mais agressivos de crédito no Brasil começassem a ter problemas agora e esperamos mais casos de inadimplência", disse.
Segundo Shaoul, "os credores vão ser afetados pelas preocupações do mercado, e a atividade de crédito bastante agressiva dos bancos estatais e de bancos de investimento privados do Brasil levará a problemas nas próximas semanas."
OGX já busca compradores que a salvem
Eike aceita abdicar do controle da petroleira para viabilizar venda; empresa deve ser fatiada para melhorar preço
Segundo executivos, BTG Pactual, que assessora o grupo, busca interessados e aceita assumir parcela
RENATA AGOSTINIDE BRASÍLIA
Com a ação da OGX reduzida a centavos, Eike Batista tenta buscar um grupo de compradores para a petroleira como último lance para salvá-la.
O empresário, que detém hoje 59% das ações da companhia, já aceitou abrir mão de seu controle para viabilizar a operação, apurou a Folha com executivos próximos a Eike e ao banco BTG Pactual, que assessora o grupo X.
Eike autorizou o banco a iniciar um processo de venda da companhia para atrair novos sócios ao negócio --um pool de investidores, no jargão do mercado. O próprio BTG já manifestou interesse em assumir uma parcela da empresa se necessário.
Para banqueiros, é mais fácil conseguir um bom preço negociando a OGX por fatias, em vez de tentar passá-la a um só comprador. Assim, o risco se dilui entre os novos sócios, que tenderiam a exigir desconto menor no valor a pagar.
A fatia final que restará a Eike, caso o processo seja bem-sucedido, é incerta, pois dependerá de quanto os investidores estarão dispostos a desembolsar pela empresa.
Não se descarta, no entanto, a possibilidade de a porção do empresário ser reduzida a até 25%, abrindo espaço para aportes maiores na OGX.
Há consenso entre os banqueiros do BTG e os executivos de Eike de que a venda não será fácil, diante do baixo valor de mercado e das dificuldades de caixa da empresa.
ESTRATÉGIA
A aposta é tentar convencer interessados de que os ativos valem mais do que o mercado está disposto a pagar agora.
"Atrair um sócio implicará termos desvantajosos, mas a OGX já passou dessa fase", avalia Roberto Altenhofen, da Empiricus Research. "Agora é a busca por sobrevivência."
Entre os interessados, está a petroleira russa Lukoil, que iniciou conversas com o grupo neste ano para assumir até 40% da OGX, como revelou a
Folha. A negociação, porém, não será mais exclusiva.
O processo estava em estágio avançado, e um escritório no Brasil já havia sido acionado pelos russos em abril para esquadrinhar dados da OGX.
Eike e os russos, contudo, não chegaram a um acordo sobre preço até o momento.
Sem um cheque irrecusável na mesa, o lado político pesou, segundo executivos da EBX. A Petrobras, que Eike vê como peça valiosa para o plano de resgate do grupo, sinalizou que não via com bons olhos a associação aos russos.
Além de eventuais parcerias em campos operados pela Petrobras, executivos da OGX esperam conseguir "vender" a petroleira de Eike como parceira ideal para empresas estrangeiras investirem no pré-sal, cujas licitações serão coordenadas pela estatal.
Procurados, OGX e BTG Pactual não se pronunciaram.
Para consultores, vender as ações agora é má ideia
DANIELLE BRANTCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAApesar do tombo das ações das empresas do grupo de Eike Batista, é pior para os investidores vender os papéis do que mantê-los, afirmam consultores.
Mesmo no caso das ações da OGX, que fecharam ontem a R$ 0,45 e foram avaliadas por bancos a R$ 0,10.
"Quem já aguentou as perdas até hoje deve permanecer no jogo", diz Clodoir Vieira, consultor de investimentos. "Pode ser que o BNDES libere verba ou que o governo faça alguma interferência junto com Petrobras, ou mesmo que um estrangeiro surja e compre a empresa", acrescenta.
Caso o socorro não venha, porém, o investidor precisa estar preparado.
"O acionista é o último a ser ressarcido em caso de quebra da empresa. Antes, vêm credores e funcionários", diz Bruno Gonçalves, da corretora WinTrade.
Como regra geral, especialistas aconselham que o investidor não se deixe influenciar pela queda de uma ação ao decidir vendê-la, pois ele perde o dinheiro da aplicação se desfizer do papel por um valor menor que o pago na compra.
"Muitas vezes, pode ser uma queda conjuntural da Bolsa, e não um problema específico da empresa. É preciso analisar o contexto", diz Michael Viriato, professor de finanças do Insper.
No caso da OGX, porém, especialistas ouvidos pela
Folha dizem haver sérias dúvidas sobre a capacidade financeira da empresa.
"O grupo como um todo está sob uma desconfiança muito grande, o que faz com que todas as portas [de bancos] fiquem mais difíceis de serem abertas", diz Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Título Corretora.