quarta-feira, 3 de julho de 2013

FERNANDO BRANT » Quando o coração está deserto‏


Estado de Minas: 03/07/2013 


Sou um homem em busca da felicidade. Se não for possível, me contento com paz, harmonia e tranquilidade. Vocês dirão, mas esse cara é maluco, quem não quer esse ambiente em sua existência?. No geral sou bem aquinhoado em meus desejos, mas alguns dias, algumas pessoas, algumas situações me tiram o sossego e chegam mesmo a formar um turbilhão em minha mente, me perturbam.

Será que ainda vale a pena lutar contra a ignorância, a mentira e a avidez de alguns que andam em nosso redor? Confesso que, por momentos, o desânimo toma conta de mim. O que existe de gente que só sabe falar, imperiais em suas convicções, e nunca ouvem e prestam atenção no que lhes é dito. Arrogantes donos da verdade, seres que se julgam superiores, mas não passam de medíocres participantes de uma farsa.

Preferiria estar falando de pessoas de quem gosto, que amo e me alegram. Ou do baile que a Seleção deu no tique-taque dos espanhóis, no domingo de festa em que o relógio deles enguiçou. Gosto da vida que é gol, abomino as bruxas de espírito pesado e malditos que frequentam salões elegantes da música popular brasileira. Reparem, por outro lado, que ficou fora de moda defender o direito e a Constituição cidadã de 1988. Eles não se importam, ou porque não viveram os tempos militares ou porque querem a sua ditadura, que se rasgue a maior conquista de nossa geração.

Um senador acaba de sugerir, na televisão, que não importa se uma reforma política, que não estava nos cartazes das manifestações de rua, seja aprovada depois do prazo dado pela Constituição. Faz-se uma emenda e se resolve a questão. Ô louco, há cláusulas irremovíveis na Constituição e essa é uma delas. Pensam que podem fazer com a bíblia do cidadão o que quiserem. Não podem e não farão, porque o Brasil não é a casa da mãe joana. Entre o palácio e a praça, o palácio quer que a praça, o povo, só diga sim ou não.

Os tempos mudam e as pessoas também. Mas o direito, a justiça e a dignidade de todos – garantidos pelo capítulo constitucional dos direitos e garantias individuais –, são permanentes. Não será o poder econômico, muito menos a vaidosa impressão daqueles que se pensam donos do mundo, que irá apagar o que se conquistou com tanto amor dos brasileiros com o nosso país.

Escrevi há tempos uma frase para uma gravura de Galileu Galilei, criada por Gianfranco Cerri, para uma campanha dos professores universitários mineiros: “O poder não tem o poder de esconder eternamente a verdade”. Viva a inteligência, viva a vida. Pronto: desabafei. Volto à festa e à alegria.

Frei Betto-Recado das ruas‏

O povo nas ruas exige novos mecanismos de participação democrática, enquanto manifesta sua descrença nos partidos

Frei Betto

Estado de Minas: 03/07/2013 


As manifestações de rua no Brasil fundem a cuca de analistas e cientistas políticos. Dirigentes partidários e lideranças políticas se perguntam perplexos: quem lidera, se não estamos lá? Recordo quando deixei a prisão, em fins de 1973. Ao entrar, quatro anos antes, predominava o movimento estudantil na contestação à ditadura. Ao sair, encontrei um movimento social – Comunidades Eclesiais de Base, oposição sindical, grupos de mães, luta contra a carestia – que me surpreendeu. Do alto de meu vanguardismo elitista fiz a pergunta: como é possível se nós, os líderes, estávamos na cadeia?

Com essa mesma perplexidade Marx encarou a Comuna de Paris, em 1871; a esquerda francesa, o Maio de 1968; e a esquerda mundial, a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, em 1989.

“A vida extrapola o conceito”, já dizia meu confrade São Tomás de Aquino, no século 13. Agora, aqui no Brasil, todas as lideranças políticas encaram confusas e despeitadas as recentes manifestações de rua. Com a mesma interrogação invejosa que a esquerda histórica do Brasil mirou o surgimento do PT em 1980: que história é essa de, agora, os proletários quererem ser a vanguarda do proletariado?

Historicamente eram os líderes da esquerda brasileira homens oriundos da classe média (Astrogildo Pereira, Mário Alves e João Amazonas), dos círculos militares (Prestes, Gregório Bezerra, Apolônio de Carvalho) e da intelectualidade (Gorender e Caio Prado Júnior). Marighella foi das raras lideranças provenientes das classes populares.

O recado das ruas é simples: nossos governos se descolaram da base social. Para usar uma categoria marxista, a sociedade política se divorciou da sociedade civil, risco que previ e analisei no livro A mosca azul – Reflexão sobre o poder (Rocco, 2005). A sociedade política – Executivo, Legislativo e Judiciário – se convenceu de que representava de fato o povo brasileiro, e mantinha sob seu controle os movimentos de representação da sociedade civil, como ocorre, hoje, com a UNE e a CUT.

Nem só de pão vive o homem, alertou Jesus. Embora 10 anos de governo petista tenham melhorado as condições sociais e econômicas do Brasil, o povo não viu saciada sua fome de beleza – educação, cultura e participação política. O governo petista optou por uma governabilidade assegurada pelo Congresso Nacional – onde ainda perduram os “300 picaretas” denunciados por Lula. Desprezou a governabilidade apoiada nos movimentos sociais, como fez Evo Morales, com êxito, na Bolívia.

Assim, nosso governo aos poucos perdeu os anéis para conservar os dedos. Acreditou que tudo permaneceria como dantes no quartel de Abrantes. Seja porque a oposição anda enfraquecida por suas próprias disputas internas, seja porque considera Eduardo Campos e Marina Silva meros balões de ensaio. O que nem a Abin (olhos e ouvidos secretos do governo) previu foi o súbito tsunami popular invadindo as ruas do Brasil em pleno período da Copa das Confederações – quando se esperava que todos estivessem com a atenção concentrada nos jogos.

Agora o governo inventa o discurso de que sem partidos não há política nem democracia. Ora, basta uma aula de história de ensino médio para aprender que a democracia nasceu na Grécia muitos séculos antes da era cristã, e mais ainda do aparecimento de partidos políticos. Hoje, a maioria dos partidos nega a democracia ao impedir um governo do povo com o povo. Não basta pretender governar para o povo e, assim, considerar-se democrata. O povo nas ruas exige novos mecanismos de participação democrática, enquanto manifesta sua descrença nos partidos, que são intimados a renovar seus métodos políticos ou serão atropelados pela sociedade civil.

Eis o recado das ruas: democracia participativa, não apenas delegativa, ou seja, governo do povo, com o povo e para o povo. Isso não é utopia, desde que não se considere modelo perpétuo o pluripartidarismo e se admita que o regime democrático pode e deve ganhar novos desenhos de participação popular nas esferas de poder.

Eduardo Almeida Reis-Besteirol‏

Qualquer coisa que se faça para atenuar o risco representado pelo islamismo deve ser feita 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas:
03/07/2013 


O besteirol internético “em favor de Edward Snowden”, em que os puros de sentimentos e pobres de inteligência se mostram preocupados com as respectivas privacidades, suscita considerações do mais alto philosophar, a primeira das quais é a seguinte: qualquer coisa que se faça para atenuar o risco representado pelo islamismo deve ser feita, pouco importando a “privacidade” dos tolos.

Risco não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo inteiro. Os bobocas e babacas ficam falando em privacidade, de mesmo passo em que pretendem defender o tal sujeito. Que se pode esperar de um cavalheiro de 29 anos com aquela imensa verruga preta no pescoço?
Refresco a cuca do leitor com o que foi escrito aqui, logo que instalei no computador o sistema Windows 7 Ultimate, que traz embutido um dicionário nos conformes do tal Acordo Ortográfico. Assim, quando a gente escreve “estréia”, pela ortografia antiga e inteligente, o sistema sublinha a palavra em vermelho ou corrige automaticamente para estreia.

Normalmente, escrevo uma porção de palavras que não constam das dicionarizadas no Windows 7. Sabe o leitor o que aconteceu e dei notícia nesta coluna? Se não sabia, fique sabendo: três vezes fui consultado pelo sistema pedindo autorização para analisar e eventualmente acrescentar ao seu dicionário as palavras que uso.
As listas eram de 30 ou 40 palavras. Que me lembre, incluíam eneagrama, apê, supimpitude e Ruminanças, entre muitas outras. Claro que autorizei e fiquei lisonjeado com a espionagem. Nada faço e nada fiz, em muitos anos de vida, que seja motivo de segredo. Desconfio dos que se dizem invadidos em suas privacidades.

Fumante

Esta conversa de fumante passivo me faz lembrar do tempo em que o gay não era gay, era pederasta dividido entre ativo e passivo, como se fizesse diferença. No Rio, entre os colegas de trabalho no banco, havia muitos passivos e uns poucos ditos ativos. Ainda me lembro do desgosto demonstrado por famoso passivo, o Princesinha, que vivia elogiando um surfista, apelido Pecado, seu vizinho de prédio em Copacabana. Acho que o apelido vinha do filme “O pecado mora ao lado”, lançado em 1955.


Por qualquer motivo e até sem motivo algum, Princesinha falava dos músculos e da figura apolínea do Pecado, que via sair do prédio para surfar al mare. Também me lembro da decepção do mesmíssimo bancário, num dia em que o Pecado estava com dor de dente, a família viajando, e foi parar no apê do Princesinha em busca de alívio com a Cera do Doutor Lustosa, cuja propaganda copio ipsis litteris do Google: “Aqui, meu bem, só há um geito: uma aplicação da Cêra Dr. Lustosa, o remédio infalível na dôr de dente”.

Pois muito bem: aplicada a cera, o Pecado acabou dormindo com o vizinho, que, por seu turno, deixou de ser passivo para desempenhar o papel ativo, daí sua decepção no dia seguinte, arrasado, confessando aos colegas de sala no banco: “Não acredito mais em homem”.
Volto aos chamados fumantes passivos, que dizem morrer feito moscas depois de um esguicho de Raid, para lembrar ao caro, preclaro e pacientíssimo leitor que todo santo dia a imprensa nos dá notícia de garçons famosos, que trabalharam até depois dos 80 anos. Na belo-horizontina Cantina do Lucas tivemos o Sr. Olympio, que faleceu com 84 anos. No Rio, houve dezenas de casos parecidos, no Bar Lagoa, no Lamas, no Bar Luiz, donde se conclui que a passividade no tabagismo tem relação estreita com a genética.

O mundo é uma bola

3 de julho: faltam 181 dias para acabar o ano que começou outro dia. Em 987, Hugo Capeto é coroado rei da França, o primeiro da dinastia capetíngia. Entre as várias hipóteses para explicar o esquisito cognome Capeto, que serviu para distinguir Hugo de seu pai, o povão dizia ser o rei da capa (chape), pois já era abade antes de ser rei e os abades daquele tempo usavam capa característica, capelo em português, que foi o cognome de Sancho II, rei de Portugal.


Há quem sustente que a etimologia de capelo deriva dos termos para chefe (caput), zombador (capetus) ou cabeça grande (capillo). De repente, diz aqui o philosopho, Hugo (938-996) foi menino traquinas, um capetinha, daí o cognome. Teve oficialmente quatro filhos, um dos quais o rei Roberto II, de França. Digo “oficialmente”, porque os reis daquele tempo, se gostassem de mulher, teriam centenas de filhos. Basta ver o interesse das senhoritas de hoje pelo futebolista Neymar.
Em 1722, parte de São Paulo com destino a Goiás a bandeira chefiada por Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, hoje sem direito a trema no u. Bartolomeu nasceu em Parnaíba, vila de São Vicente, Brasil, em 1672, morrendo em Vila Boa de Goiás, capitania de São Paulo, em 1740, e tinha nacionalidade portuguesa, tanto assim que é considerado bandeirante português. A exemplo dos demais bandeirantes, deve ter aprontado por aí.

Ruminanças
 “Todas as bandeiras foram de tal forma sujadas de sangue e de m., que é tempo de abrir mão delas” (Flaubert, 1821-1880). 

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      LÉZIO JUNIOR/EDITORIA DE ARTE/FOLHAPRESS
Lézio Junior/Editoria de Arte/Folhapress

Mercado vê risco maior de calote de Eike; Bolsa desaba

folha de são paulo
Agência rebaixa OGX para nível pré-default; bancos preveem ação a R$ 0,10
Percepção externa ajuda a derrubar Bolsa de SP para pior nível desde 2009; saída seria venda ou aporte de dono
DENISE LUNAMARIANA SALLOWICZDO RIORAQUEL LANDIMDE SÃO PAULOInstituições financeiras internacionais apontaram ontem risco mais concreto de calote da OGX, líder do grupo de Eike Batista, e bancos estimaram que os papéis da petroleira podem chegar a valer R$ 0,10. As ações das empresas do grupo desabaram.
A agência de classificação de risco Standard & Poor's cortou a nota da OGX de "B" para "CCC" --nível anterior a "default" (calote).
A S&P atribui a perspectiva negativa "à grande vulnerabilidade de não pagamento e à dependência de condições favoráveis para cumprir seus compromissos".
O mercado reagiu à avaliação e à drástica revisão dos planos de produção da OGX, divulgados anteontem.
A empresa informou que seu único campo de petróleo em atividade, Tubarão Azul, na bacia de Campos (RJ), pode parar de produzir em 2014.
Também suspendeu os planos de colocar em produção os campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Azul.
"Essa base de ativos menor prejudicará a capacidade da OGX de atingir níveis de produção e de geração de caixa para cobrir seus níveis de dívida", disse a agência.
As ações da OGX caíram 19,64%, para R$ 0,45. Em 12 meses, o tombo é de 92,9%.
Na avaliação dos bancos, o papel pode cair ainda mais. O Deutsche Bank reduziu seu preço-alvo de R$ 0,70 para R$ 0,10. O Bank of America e o Merrill Lynch, de R$ 1 para R$ 0,10. Crédit Suisse e HSBC estimam o preço em R$ 0,30.
Os títulos da dívida da OGX continuaram caindo para um nível que indica risco de calote. Os papéis com vencimento em 2018 eram negociados ontem por 20% do valor de face, ante 32% na sexta-feira.
A queda das ações da OGX voltou a contaminar as outras companhias do grupo. MMX, LLX e OSX caíram, respectivamente, 17,3%, 11,2% e 15,8%.
O efeito respingou até na Petrobras, que recuou 4,76% e ajudou a derrubar a Bolsa.
Também foram afetados os papéis de bancos --investidores estão preocupados com a dívida que o grupo de Eike tem com as instituições.
O Ibovespa recuou 4,24%, maior tombo desde 22 de setembro de 2011, e fechou no pior nível desde 22 de abril de 2009, também sob influência da queda da produção industrial.
O QUE SOBROU?
Em relatório, os analistas do Credit Suisse afirmaram ontem que "não sobrou muito para o acionista" da OGX.
Pelas contas do banco, os ativos da empresa valem US$ 2 bilhões --US$ 1,2 bilhão por Tubarão Martelo, US$ 500 milhões pelos blocos na bacia do Parnaíba e US$ 270 milhões pelo bloco BS-4.
O problema, aponta o Crédit Suisse, é que o valor patrimonial não é suficiente para pagar a dívida da empresa, que chega a US$ 4 bilhões.
Segundo o relatório, se a OGX pagar e investir tudo o que previu, chegaria ao fim do ano com um caixa negativo de US$ 400 milhões.
Pelos cálculos do banco, a empresa começou 2013 com um fluxo de caixa de US$ 1,6 bilhão. Mas teria que gastar US$ 200 milhões em capital de giro, US$ 335 milhões em juros da dívida e US$ 1 bilhão em investimentos.
Além disso, a OGX tem que pagar US$ 188 milhões até agosto para a ANP (Agência Nacional do Petróleo) pelos novos campos que ganhou em leilão. E se comprometeu a pagar outros US$ 449 milhões para a OSX, estaleiro do grupo EBX, pelo rompimento de contrato para a construção de plataformas.
Para Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), "a OGX agora contou a verdade para o mercado e está com sua dimensão real".
Ele considera que a empresa ainda tem alternativas se conseguir uma "injeção de capital", porque ainda possui alguns bons ativos.
A "injeção" poderia vir do próprio Eike, que se comprometeu a colocar R$ 1 bilhão na petroleira, ou de um sócio estratégico, que o BTG, banco que fechou parceira com o empresário, tenta encontrar.
O mercado tem dúvidas se Eike vai realmente injetar esse capital, pois ele vendeu ações da empresa a valores baixos para levantar recursos.
    Investidor estrangeiro se preocupa com exposição de bancos ao EBX
    PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULOAs ações dos principais credores das empresas do grupo EBX despencaram ontem. Os papéis do BTG, que tem R$ 458,7 milhões em empréstimos de curto prazo para o grupo de Eike Batista, segundo levantamento da Folha, tiveram queda de 7,59%.
    De acordo com relatório do BofA (Bank of America), entre os bancos privados, o BTG tem a maior exposição às empresas do grupo X em dívidas de curto e longo prazo, de 6,2% de seu capital de nível 1 (parte do patrimônio que absorve as perdas da atividade normal do banco).
    As ações do Bradesco, que tem R$ 996,4 milhões em empréstimos de curto prazo para empresas do grupo (exposição de 1,8% segundo o Bofa), caíram 5,07%.
    E os papéis do Itaú, que tem R$ 1,007 bilhão de crédito de curto prazo para as empresas X e exposição de 1,7%, tiveram baixa de 4,32%.
    Segundo o BofA, a exposição do BNDES a dívida das empresas de Eike é de 10,1%, e a da Caixa Econômica Federal, de 6,2%.
    A exposição de bancos brasileiros às empresas de Eike preocupa muito investidores estrangeiros.
    "A grande preocupação do mercado agora é descobrir exatamente quanto cada banco emprestou para as empresas de Eike; por isso as ações de bancos como Itaú e Bradesco já estão caindo", disse o chefe de negociação de ações de um grande banco em Nova York.
    "É o segundo estágio da crise --o que vai acontecer com os bancos e o que o governo vai fazer."
    "Não falamos sobre ações específicas, especialmente em uma situação como essa", disse Michael Shaoul, presidente da Marketfield Asset Management, gestora de recursos em Nova York.
    "Mas esperávamos que os usuários mais agressivos de crédito no Brasil começassem a ter problemas agora e esperamos mais casos de inadimplência", disse.
    Segundo Shaoul, "os credores vão ser afetados pelas preocupações do mercado, e a atividade de crédito bastante agressiva dos bancos estatais e de bancos de investimento privados do Brasil levará a problemas nas próximas semanas."
      OGX já busca compradores que a salvem
      Eike aceita abdicar do controle da petroleira para viabilizar venda; empresa deve ser fatiada para melhorar preço
      Segundo executivos, BTG Pactual, que assessora o grupo, busca interessados e aceita assumir parcela
      RENATA AGOSTINIDE BRASÍLIA
      Com a ação da OGX reduzida a centavos, Eike Batista tenta buscar um grupo de compradores para a petroleira como último lance para salvá-la.
      O empresário, que detém hoje 59% das ações da companhia, já aceitou abrir mão de seu controle para viabilizar a operação, apurou a Folha com executivos próximos a Eike e ao banco BTG Pactual, que assessora o grupo X.
      Eike autorizou o banco a iniciar um processo de venda da companhia para atrair novos sócios ao negócio --um pool de investidores, no jargão do mercado. O próprio BTG já manifestou interesse em assumir uma parcela da empresa se necessário.
      Para banqueiros, é mais fácil conseguir um bom preço negociando a OGX por fatias, em vez de tentar passá-la a um só comprador. Assim, o risco se dilui entre os novos sócios, que tenderiam a exigir desconto menor no valor a pagar.
      A fatia final que restará a Eike, caso o processo seja bem-sucedido, é incerta, pois dependerá de quanto os investidores estarão dispostos a desembolsar pela empresa.
      Não se descarta, no entanto, a possibilidade de a porção do empresário ser reduzida a até 25%, abrindo espaço para aportes maiores na OGX.
      Há consenso entre os banqueiros do BTG e os executivos de Eike de que a venda não será fácil, diante do baixo valor de mercado e das dificuldades de caixa da empresa.
      ESTRATÉGIA
      A aposta é tentar convencer interessados de que os ativos valem mais do que o mercado está disposto a pagar agora.
      "Atrair um sócio implicará termos desvantajosos, mas a OGX já passou dessa fase", avalia Roberto Altenhofen, da Empiricus Research. "Agora é a busca por sobrevivência."
      Entre os interessados, está a petroleira russa Lukoil, que iniciou conversas com o grupo neste ano para assumir até 40% da OGX, como revelou a Folha. A negociação, porém, não será mais exclusiva.
      O processo estava em estágio avançado, e um escritório no Brasil já havia sido acionado pelos russos em abril para esquadrinhar dados da OGX.
      Eike e os russos, contudo, não chegaram a um acordo sobre preço até o momento.
      Sem um cheque irrecusável na mesa, o lado político pesou, segundo executivos da EBX. A Petrobras, que Eike vê como peça valiosa para o plano de resgate do grupo, sinalizou que não via com bons olhos a associação aos russos.
      Além de eventuais parcerias em campos operados pela Petrobras, executivos da OGX esperam conseguir "vender" a petroleira de Eike como parceira ideal para empresas estrangeiras investirem no pré-sal, cujas licitações serão coordenadas pela estatal.
      Procurados, OGX e BTG Pactual não se pronunciaram.
      Para consultores, vender as ações agora é má ideia
      DANIELLE BRANTCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAApesar do tombo das ações das empresas do grupo de Eike Batista, é pior para os investidores vender os papéis do que mantê-los, afirmam consultores.
      Mesmo no caso das ações da OGX, que fecharam ontem a R$ 0,45 e foram avaliadas por bancos a R$ 0,10.
      "Quem já aguentou as perdas até hoje deve permanecer no jogo", diz Clodoir Vieira, consultor de investimentos. "Pode ser que o BNDES libere verba ou que o governo faça alguma interferência junto com Petrobras, ou mesmo que um estrangeiro surja e compre a empresa", acrescenta.
      Caso o socorro não venha, porém, o investidor precisa estar preparado.
      "O acionista é o último a ser ressarcido em caso de quebra da empresa. Antes, vêm credores e funcionários", diz Bruno Gonçalves, da corretora WinTrade.
      Como regra geral, especialistas aconselham que o investidor não se deixe influenciar pela queda de uma ação ao decidir vendê-la, pois ele perde o dinheiro da aplicação se desfizer do papel por um valor menor que o pago na compra.
      "Muitas vezes, pode ser uma queda conjuntural da Bolsa, e não um problema específico da empresa. É preciso analisar o contexto", diz Michael Viriato, professor de finanças do Insper.
      No caso da OGX, porém, especialistas ouvidos pela Folha dizem haver sérias dúvidas sobre a capacidade financeira da empresa.
      "O grupo como um todo está sob uma desconfiança muito grande, o que faz com que todas as portas [de bancos] fiquem mais difíceis de serem abertas", diz Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Título Corretora.

        Vinicius Torres Freire

        folha de são paulo
        A voz das ruas do mercado
        Liquidação no Brasil pode até passar logo, mas 'manifestantes' e 'vândalos' abalam economia
        NENHUM MOTIVO parece despropositado o bastante ou sem sentido quando a manada financeira está mugindo e correndo para a saída. Motivos reais, fantasistas ou mesmo picaretas não faltam hoje em dia no Brasil.
        Ontem, até os bloqueios de estradas do Movimento Brasil Caminhoneiro, do velho Nélio Botelho, andavam na boca e nos bate-papos eletrônicos dos rapazes do mercado (e das mais raras moças também).
        O motivo principal da liquidação na Bolsa era, óbvio, o problemaço no grupo "X", de Eike Batista. Mas as ações de empresas e bancos maiores também estavam indo para o vinagre (sim, a segunda revolta do vinagre acontece ora nas finanças).
        Como se sabe, o país havia derrapado na ladeira entre maio e junho.
        Primeiro, como vítima da manada financeira mundial, que antecipava ávida e ansiosamente a mudança na política monetária americana (em suma, tirando dinheiro daqui, de investimentos em commodities e recursos naturais que vendemos etc.).
        Depois, veio o desarranjo no mercado de títulos da dívida pública brasileira (juros sobem, o preço dos papéis cai e quem emprestou para o governo leva uma tunda). A coisa toda ainda está meio difícil de entender nos detalhes, mas aumentou o mau humor.
        O mau humor vinha inflando desde 2012: crescimento baixo, política econômica na biruta, governo metendo bronca e intervindo em mercados. Histórias velhas, mas vivas.
        Como resultado, o dólar saltou, cresceu o risco de inflação e alta de juros maiores. História de sempre.
        Para piorar, ninguém ainda acredita na "virada fiscal" prometida pelo governo no fim de maio (isto é, o governo gastar menos). As contas estão ruins, os povos dos mercados dizem temer mais gastos em razão da "reação às ruas" e, cerejinha recente nesse bolo de desconfiança, o governo apareceu agora com mais uma novidade contábil.
        Na prática e em resumo grosso, o governo pode tirar dinheiro do BNDES com uma mão (para tapar buracos na conta do governo) e entregar com outra (fazendo mais dívida). A coisa toda é pequena, mas virou motivo de troça e escárnio na praça do mercado.
        Até a queda da produção industrial virou motivo, da boca para fora, para a liquidação no mercado, como se a maioria dos que faziam negócio ontem estivesse ligando a mínima. De resto, nem dá para saber bem o que significou o tombo industrial de maio. Na média dos últimos meses, a coisa vai como sempre, recuperação lerdinha e miúda.
        No entanto, o estresse financeiro e político dos últimos dois meses mais a lerdeza de dois anos vão jogar mais areia na economia. O dólar mais caro, no curto prazo (e dada a lerdeza mundial), não vai ajudar muito a exportação e vai prejudicar investimentos (máquinas e equipamentos ficam mais caros).
        Convém notar que a taxa de investimento no Brasil tem caído porque os empresários estão em "greve de confiança" (foi o investimento do setor privado que caiu, desde 2012; o do setor público, embora minúsculo, até aumentou um tico). Em vez de surgirem sinais animadores, o caldo engrossou: dólar mais caro, juros mais altos, incerteza política, finança global mais conturbada. Se não atrapalhar muito, pelo menos não vai ajudar em nada.
        vinit@uol.com.br

          Nina Horta

          Folha de São Paulo
          Línguas
          Nem desconfiam do bicho da goiaba. Nem sabem que para comer uma goiaba boa há que se morar perto do pé
          Estava lendo um livro sobre traduções, a quase impossibilidade delas, quando me dei conta do problema idêntico na tradução e na transposição de receitas culinárias de um lugar para outro. Acabei de fazer um curso na internet e havia um capítulo sobre "Madame Bovary". E, é claro, os americanos liam em inglês. Cada frase me deixava estuporada, tinha que ir correndo ao original par ver se estava errada. E era igualzinha, só que não.
          No livro "Frutas", da inglesa Jane Grigson, ela ensina como descascar uma manga. Nem marcianos descascariam uma manga assim, e me dei conta, de novo, que ingredientes que não temos num país são enigmas para nós, de alguma maneira. Alguém vê uma jaboticaba pela primeira vez. O que lhe ocorre? Dá para comer, o que se come? É para descascar? Engole-se o caroço? Já dá para comer verde ou tem que esperar ficar preta? Quando está mole, está boa?
          E o kiwi? Descasca-se, corta-se ao meio no sentido da largura ou do comprimento? É de chupar, comer em rodelas, ou comer de colherinha dentro da casca? Perceberam? Vi goiabas na Fauchon que seriam jogadas fora por uma criança de três anos de idade e o cheiro permeava a loja, cheiro de trópico podre, decadente.
          Não temos que ser só bilíngues para traduzir uma receita, mas biculturais, "possuidores de todo o complexo de emoções, associações e ideias que relacionam a língua de uma nação à sua vida e tradição". Diz o livro que leio, sobre traduções. Claro. Fauchon pode dar o nome científico da goiaba, de onde veio, em qual mês estaria pronta para ser comida, sua origem, mas ela continua impermeável para os franceses.
          E nós, ao lermos uma receita de ruibarbo, se tivermos o bichinho à mão, podemos fazê-lo, mas sem saber ao certo se é para o almoço, para o lanche e com o quê combina bem.
          Ao lermos, no entanto, a palavra goiaba, o que vem à nossa cabeça?
          Cozidas à Pedro Nava "têm a polpa quente e corada como o dentro dos beiços, o embaixo da língua e o fundo das bochechas". Em compota são como "orelhas em calda".
          Na sua estrutura, é uma árvore criada para criança subir. O tronco liso e tortuoso, esgalhado, abrindo espaços, de um marrom muito claro. É só passar a unha e o verde claríssimo aparece, contrastando com as formigas passeadeiras.
          As flores das goiabas nascem nos sovacos dos ramos novos e são brancas, perfumadas. A goiabinha se forma em verde escuro, vai clareando até ficar "de vez" com um gosto adstringente que é a hora da verdade da goiaba.
          Dali, descamba para o fruto marchetado de pintas duras e pretas como pregos ou são bicadas por passarinhos, ou se esborracham no chão com um cheiro forte e almiscarado, exagerado, penetrante, ruim para sermos mais precisos.
          A goiaba é nossa, a "guava" não é deles. Eles nem desconfiam do bicho da goiaba. Nem sabem que para comer uma goiaba boa há que se morar perto do pé, e nós não sabemos que uma maçã de beira de estrada pode ensopar nossa blusa de um caldo doce-azedo, o que explica ser ela a fruta do bem e do mal.
          ninahorta@uol.com.br
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          ninahorta.blogfolha.uol.com.br

            Quatro revistas brasileiras são suspensas de índice internacional

            folha de são paulo
            Periódicos são suspeitos de 'turbinar' citações de forma irregular
            GIULIANA MIRANDADE SÃO PAULOQuatro periódicos brasileiros da área médica foram suspensos do JCR (Journal Citation Reports) da Thomson Reuters, um dos principais índices que medem o fator de impacto das revistas científicas (número de citações dos artigos publicados), por irregularidade em suas citações.
            Os afetados foram a revista "Clinics", da Faculdade de Medicina da USP, o "Jornal Brasileiro Pneumologia", a "Revista da Associação Médica Brasileira" e a "Acta Ortopédica Brasileira". Eles fazem parte de um total de 67 publicações suspensas.
            Um dos mais populares modos de medir o trabalho científico, o fator de impacto é a média de citação por artigo que um periódico tem em um intervalo de tempo. Apesar das críticas ao modelo, é comum associar o fator de impacto ao prestígio da revista.
            A Thomson Reuters, que organiza a lista do JCR, diz que as revistas brasileiras usaram um truque conhecido como "stacking" para inflar o fator de impacto.
            A prática é uma espécie de citação cruzada. Uma revista A cita a revista B, enquanto a B cita a revista A. Assim, a média de citações é inflada.
            Um dos problemas apontados pela empresa está em dois artigos da revista da AMB que citam 330 trabalhos brasileiros, sendo 127 publicados na "Clinics", o que foi considerado uma distorção.
            "As revistas afetadas são boas. Se foi isso o que aconteceu, é uma escorregadela quase infantil", diz Rogerio Meneghini, coordenador científico do SciELO, que indexa periódicos do Brasil.
            Os quatro títulos afetados fazem parte dessa plataforma. Segundo Meneghini, haverá uma reunião para discutir possíveis providências.
            Os periódicos suspensos do JCR não terão fator de impacto em 2012.
            Ontem, o editor da revista "Clinics", Maurício Rocha e Silva, foi afastado temporariamente do cargo até que o caso seja esclarecido.
            Carlos Carvalho, editor do "Jornal Brasileiro de Pneumologia", suspenso por citações suspeitas em um artigo de outra revista, disse ontem que pediu revisão do caso.
            "O trabalho era uma revisão de pesquisas brasileiras na área respiratória. E é o nosso jornal que publica a maioria delas. É normal uma quantidade maior de referências."
            Bruno Caramelli, editor da revista da AMB, afirmou que pode estar havendo uma diferença de tratamento com os brasileiros. "Os editores das revistas científicas do Brasil não são profissionais como os da Europa e dos EUA. Nós somos autores."
            A "Acta Ortopédica Brasileira" não respondeu à reportagem.

              Câmara arquiva proposta da 'cura gay'

              folha de são paulo
              Deputado tucano João Campos (GO), autor do texto que gerou polêmica, pediu que ele deixasse de tramitar
              Líderes da bancada evangélica na Casa já se articulam para apresentar hoje novo projeto sobre o tema
              DE BRASÍLIA
              Em reação às manifestações que sacudiram o país, a Câmara arquivou ontem o projeto que pretendia liberar psicólogos a promover a "cura" da homossexualidade.
              Apelidado de "cura gay", o texto era capitaneado pela bancada evangélica.
              Relator do projeto na Comissão de Direitos Humanos, o deputado Anderson Ferreira (PR-PE) discutiu com assessores uma nova versão do texto. A ideia é protocolar ainda hoje uma proposta similar.
              Como há impedimentos regimentais para que o texto seja idêntico ao que foi arquivado, o novo projeto suspende três em vez de dois artigos da resolução do Conselho Federal de Psicologia. A derrubada do texto foi motivada por manobra de parte dos líderes da Câmara e do PSDB --partido do autor do projeto, o deputado João Campos (GO).
              Após pressão do PSDB, Campos solicitou ontem o fim da tramitação da matéria e o pedido foi aprovado rapidamente pelo plenário da Casa.
              A proposta pretendia derrubar trechos de uma resolução do CFP (Conselho Federal de Psicologia) e, dessa forma, permitir que os psicólogos oferecessem tratamento para a homossexualidade.
              Há três semanas, a proposta foi aprovada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, sob o comando de Marco Feliciano (PSC-SP). Após protestos, líderes começaram a recolher assinaturas para levar o projeto diretamente ao plenário sem passar por outras comissões.
              Em outra frente, o PSDB, temendo a exploração do fato na eleição de 2014, passou a trabalhar contra o texto.
              Campos afirmou que o principal motivo para o pedido de arquivamento foi a nota divulgada pelo PSDB, na semana passada, em que o partido chama a "cura gay" de um "grave retrocesso".
              "Meu partido soltou uma nota com posição contrária, matou o projeto. E esse projeto não é uma pauta da sociedade, qual é a urgência? Não vou permitir que o governo use o projeto para desfocar a pauta das ruas, que são segurança e saúde de qualidade, o fim da impunidade e a adoção de punições contra os mensaleiros pelo Supremo", afirmou o deputado.
              O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) afirmou que preferia ter votado o projeto. "Gostaria de ver o texto derrotado no plenário, para que fosse jogado no lixo da história."
              A "cura gay" foi um dos alvos das manifestações das últimas semanas. Na semana passada, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), prometeu a um grupo que trabalharia para "enterrar" o projeto.
              Ontem, Feliciano fez uma provocação: "Na próxima legislatura a bancada evangélica vem dobrada, e a gente vem com força total", declarou.

              Painel Vera Magalhães

              folha de são paulo
              Terapia preventiva
              O programa Mais Médicos, uma das poucas medidas novas de gestão que Dilma Rousseff tem na manga para responder à pauta dos protestos, será lançado na segunda-feira. O discurso para acalmar as corporações médicas, contrárias à contratação de profissionais estrangeiros para atuar em regiões remotas, será que o governo vai priorizar os brasileiros. A ênfase será na abertura de 11 mil vagas de graduação e novos cursos de medicina, além de 12 mil novas vagas de residência.
              -
              Pronto-socorro Dilma quer os profissionais atuando nas periferias e no interior do país já em outubro.
              Sem acordo O governo não vai ceder à pressão das entidades para que os médicos estrangeiros que se inscrevam no Mais Médicos tenham de revalidar o diploma. Isso porque, se fizessem a prova, os médicos poderiam atuar em todo o país, e não só nos lugares determinados e para atender ao SUS.
              Pressão... Ao informar o Planalto sobre a disposição da Câmara de adiar o plebiscito da reforma política, Henrique Alves (PMDB-RN) foi alertado que, sem a consulta, o Congresso seria pressionado a votar projetos de iniciativa popular, como os da OAB e do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.
              ...alta Nesse caso, o governo apoiaria os projetos. Assim, manteria o discurso de consulta popular e o Congresso ficaria "falando sozinho'', nas palavras de um interlocutor do Planalto.
              Segundona De Fábio Lepique, tesoureiro do PSDB de São Paulo: "O governo Dilma só é padrão Felipão se for na fase Palmeiras dele''.
              Olho na tela Na reunião de anteontem, ministros falaram sobre as pressões que têm de administrar em suas áreas. Segundo relatos, Paulo Bernardo (Comunicações) deu o exemplo da regulação da mídia e disse que não é o momento dessa discussão.
              Carga... O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, recomendou à Petrobras que abra processo interno para verificar o cumprimento de contratos pela Coobrascam, comandada pelo sindicalista Nélio Botelho, do Movimento União Brasil Caminhoneiro, com a estatal.
              ... pesada A cooperativa, presidida pelo líder dos protestos que têm fechado rodovias no país, tem 39 contratos, que rendem R$ 4 milhões mensais, com a Petrobras, de acordo com a AGU. "Ou ele está furando a própria greve ou está descumprindo contratos'', diz o advogado-geral, Luís Inácio Adams.
              Última... Geraldo Alckmin (PSDB) nomeou o pastor licenciado da Igreja Universal Vinícius Carvalho para uma coordenadoria da Secretaria de Desenvolvimento Social. Carvalho é presidente estadual do PRB, partido que recebeu o comando da pasta no fim de maio, em troca do apoio à reeleição do tucano.
              ...oração O dirigente será responsável por estabelecer e monitorar parcerias do governo com entidades sociais. Instituições vinculadas à Universal já declararam interesse em firmar convênios com o governo paulista para tratar dependentes químicos.
              Luz de velas Com discrição, Aécio Neves (PSDB) aproveitou uma passagem por São Paulo, na segunda-feira, para jantar com três grandes empresários. Dois do setor produtivo e um do mercado financeiro.
              Turnê O presidenciável também se reuniu com um grupo de 20 prefeitos do interior de São Paulo. Os governantes o convidaram para visitar suas cidades a partir de agosto, quando Aécio pretende começar a visitar o Estado com mais frequência.
              com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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              TIROTEIO
              "Se Dilma quer ouvir a voz das ruas, deveria perguntar à população se o salário dos políticos deveria ser igual ao de um professor."
              DE ZÉ MARIA, PRESIDENTE NACIONAL DO PSTU, sugerindo uma pergunta para o plebiscito proposto pelo Palácio do Planalto para realizar a reforma política.
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              CONTRAPONTO
              Bolsa Passeata
              Na reunião de segunda-feira na Granja do Torto com Dilma Rousseff, todos os ministros tiveram a oportunidade de falar e fazer sugestões sobre medidas que poderiam ser anunciadas para atender às reivindicações dos protestos de junho. Marco Antonio Raupp (Ciência e Tecnologia) falava sobre a importância de o governo criar uma agenda positiva, e citou o Ciência Sem Fronteiras.
              A presidente, que anotava todas as ideias, brincou:
              --Raupp, a gente sabe que metade do pessoal que protestou no exterior era do programa!
              Foi o momento mais descontraído da reunião.

                Elio Gaspari

                folha de são paulo
                As passeatas dos empulhadores
                Depois que o andar de baixo foi para a rua, o de cima tomou o rumo da mistificação
                Desde que o monstro foi para a rua, o andar de cima virou urubu que voa de costas. Em poucas semanas, aprontou o seguinte:
                1) A doutora Dilma reuniu o ministério e propôs "cinco pactos". Quais? Ninguém lembra. A quem? Ninguém sabe.
                2) Em seguida defendeu uma constituinte exclusiva, ideia que durou 24 horas, porque ninguém sabia o que era.
                3) Agora quer um plebiscito para orientar uma reforma política na qual o PT quer arrancar o financiamento público das campanhas (sendo seu maior beneficiário) e, se der, algum voto de lista.
                4) O governador Geraldo Alckmin, cuja Polícia Militar acendeu o pavio da explosão da rua. (Argumente-se que ele não a controla como devia, mas esse é um problema do doutor.) Dias depois suspendeu o aumento de 6,5% dos pedágios nas rodovias paulistas, previsto para o início deste mês.
                5) O Senado poderá aprovar hoje um projeto que dá transporte gratuito a estudantes.
                6) Finalmente, o prefeito Fernando Haddad propôs um conjunto de medidas a tirou da manga o surrado aumento de impostos sobre bens supérfluos.
                Tudo marquetagem.
                Suspender aumento de pedágio pode até ser uma providência saudável, mas resulta num estímulo ao transporte individual. O problema está noutro lugar, nas relações promíscuas dos Estados com a privataria que atende pedidos de governadores e prefeitos para fazer obras, retarda serviços e vai buscar no escurinho da agências a prorrogação de seus contratos. Assim acontece em São Paulo, assim sucedeu no Rio, onde a prorrogou-se o contrato do metrô e das barcas Rio-Niterói antes da venda das concessões. A compensação para os empresários de São Paulo virá da redução do valor que são obrigados a remeter à agencia reguladora (ferro na Viúva) e do desconto no que é devido por atraso de obras (ferro na Viúva, de novo).
                O passe livre para estudantes oferecerá transporte gratuito a todos os estudantes, inclusive àqueles que não precisam. Tem dia em que o chofer está de folga ou a mamãe foi para Miami. Como resolver isso? Ganha o passe quem pedir, pela internet, indo buscar a carteirinha duas vezes por ano num posto do governo. Se o pessoal do Bolsa Família é obrigado a pedir, porque a Bolsa Passe Livre deve ser automática, sujeita à conhecidas fraudes? Durante o New Deal, Franklin Roosevelt não deu moleza a quem disse que precisava de ajuda. Só a recebia quem pedia e ralava para coletá-la.
                Sempre que um governo não sabe o que fazer defende mais impostos sobre bens supérfluos. O PT manda em Brasília desde 2003, passou a voar nos jatinhos amigos, aninhou-se na rede de interesses da plutocracia e cobra IPVA de quem tem carro velho (produto supérfluo), mas nada pede a quem tem helicóptero (um bem essencial).
                O que a rua quer é menos empulhação dos sábios de planilhas que confiaram nos mecanismos de persuasão da polícia e dos pensadores. O que a doutora Dilma, governadores e prefeitos estão oferecendo é pouco mais que uma marquetagem destinada a embaralhar o debate. Inverte-se um velho slogan que se dizia: "Peça o Impossível". Noves fora o passe livre, a rua pede o possível: menos roubalheira e mais contas abertas. Os palácios estão oferecendo o impossível.

                  Consumo, a porta de entrada da cidadania - Tendências/Debates

                  folha de são paulo
                  FLÁVIO ROCHA
                  TENDÊNCIAS/DEBATES
                  Sem deixar de exigir a troca de liquidificadores ou geladeiras com defeito, o brasileiro começa a enxergar a viabilidade de um recall também para quem não se mostra capaz de fazer bom uso do mandato popular que lhe foi delegado
                  No momento em que não faltam candidatos a intérprete da "voz rouca das ruas", aqueles que identificaram e acompanham a migração dos 40 milhões de brasileiros para a emergente classe C podem esclarecer aspectos que ainda não mereceram atenção.
                  Muitos desses intérpretes continuam plugados em um modelo antigo para analisar o Brasil, mas a velha pirâmide social se transformou num losango com o ingresso da nova classe consumidora.
                  Boa parte dos cidadãos que deixaram seu comodismo e letargia para fazer barulho e protestar nas ruas de todo o país cumpriu um aprendizado completo antes de alcançar o estágio da questão política.
                  Eram súditos apáticos e conformados. Ao conquistarem a capacidade de consumir, conheceram seu poder de exigir o que lhe havia sido prometido numa operação de crédito ou num serviço de telefonia, por exemplo. Perderam o medo de protestar.
                  Nós, do varejo, além de espectadores privilegiados dessa evolução, temos sido partícipes da vida dos atores desse movimento social. A transformação do súdito em cidadão foi possibilitada por empresas que não foram afetadas pelo pibinho, exatamente porque se alimentam da força motora desse novo contingente de consumidores.
                  Foram essas empresas que abriram as primeiras linhas de crédito para o público emergente, não instituições bancárias. O resultado é que o varejo brasileiro é hoje o maior especialista em classe C --conhece seus anseios e se antecipa no atendimento de suas demandas.
                  Definiu-se um verdadeiro processo de transformações demográficas e sociais. Seria ingenuidade imaginar que mudanças tão profundas ficariam restritas ao mundo econômico. Os reflexos políticos seriam mesmo inevitáveis. Só não viu quem não quis ver.
                  Os emergentes protagonizam uma mudança radical na relação com o Estado. Antes, a via era de mão única e pouco diferia daquela que os colonizadores portugueses estabeleceram com os nativos. Os súditos se deslumbram com miçangas, quinquilharias e bugigangas.
                  A grande novidade para cada um dos indivíduos que compõem as dezenas de milhões que deixaram a pobreza é a reciprocidade.
                  A figura do consumidor passou a se sobrepor ao velho Jeca Tatu urbano. E o cidadão começou a ganhar importância. Descobriu a necessidade de exigir contrapartida. Aprendeu a questionar constantemente a relação custo-benefício. Aprendeu os benefícios da concorrência e passou a se indignar com quem vende mais caro.
                  Assim como faz com seus fornecedores, o cidadão-consumidor começa a cobrar do governo a correta aplicação dos recursos dos impostos que ele paga e o mesmo nível de eficiência, qualidade e excelência que reclama dos produtos e serviços que contrata. Ineficiência? Desperdício? Corrupção? É incompatível.
                  Quando o Brasil conquistou o privilégio de sediar os três maiores eventos esportivos do planeta, nossos governantes devem ter imaginado que tamanha overdose de pão e circo garantiria eleições e reeleições por muito tempo.
                  Jamais poderiam imaginar que, em vez de perguntas sobre quando e onde seria a festa, surgissem incômodas questões: Quanto custa? Por que no Brasil é mais caro? Quem paga? A saudável e profunda transformação na postura do cidadão-consumidor está por trás do grande susto do qual governantes e políticos demoram a se recompor.
                  Não se crê mais em um Estado provedor todo-poderoso.
                  Depois de 25 anos, finalmente começa a ser regulamentado um artigo da Constituição Federal (de autoria do então deputado constituinte Afif Domingos) que garante a todos os brasileiros a transparência dos tributos e permite que o consumidor-contribuinte saiba o quanto a manutenção do Estado pesa no seu bolso.
                  A verdade é que muitos reduziram o recado da voz rouca das ruas a pleitos pontuais, quando a resposta está na mudança de postura do cidadão, que aprendeu a cobrar enquanto consumidor. E suas primeiras reivindicações são custos menores e um Estado menos presente.
                  Sem se esquecer de exigir a troca de liquidificadores ou geladeiras com defeito, o brasileiro começa a enxergar a viabilidade de um recall também para quem não se mostra capaz de fazer bom uso do mandato popular que lhe foi delegado.