sábado, 5 de julho de 2014

João Paulo - Uma questão de classe‏

Estado de Minas: 05/07/2014 



Trabalhadores estão voltando às ruas para reivindicar salários: uma boa notícia (Paulo Filgueiras/EM/D. A Press)
Trabalhadores estão voltando às ruas para reivindicar salários: uma boa notícia

Ninguém parece se entender quando o assunto é classe média. Para algumas pessoas, trata-se de uma classificação por faixa de renda, que pode ser medida por salário e quantidade de bens acumulados. Para outros, trata-se de uma categoria sociológica, formada muito mais por características de comportamento e imaginário que por aspectos materiais. E há ainda os que, por um viés marxista, entendem classe social em ligação com o modo de produção, a partir de sua localização no processo de divisão social do trabalho.

O que poderia parecer uma confusão conceitual ou, talvez, uma riqueza da expressão, na verdade carrega uma visão de mundo. Um jeito de conceber a sociedade e o lugar do indivíduo. Tanta liberalidade, no entanto, não ajuda muito quando se trata de compreender a realidade social e menos ainda na hora de se pensar a ação política necessária ao seu aprimoramento. É este o sentido do importante livro O mito da gr

Desde o título, o autor deixa claro que estamos no terreno do mito quando falamos em classe média. Há uma espécie de silêncio em torno da expressão, como se ela calasse o conflito entre capital e trabalho, capitalistas e classe operária. Como se a desigualdade fosse apenas um erro de percurso, a ser corrigido com o crescimento econômico. Pochmann vai defender que, no Brasil, o que estamos vendo é a emergência de uma nova classe trabalhadora.

Mas por que há tanto apego ao pertencimento à classe média? Talvez a razão seja menos econômica que comportamental. As pessoas não querem se sentir excluídas, alinhadas com a base da pirâmide. Ser de classe média, dessa forma, é uma maneira de se livrar do risco da pobreza e emular comportamento dos mais ricos. Os abonados, por sua vez, interpretam qualquer indício de ascensão dos pobres como ameaça, razão pela qual tentam excluir novos consumidores de shoppings, viajantes de aeroportos e estudantes de escolas privadas (com o falso argumento da meritocracia).Trata-se de uma motivação moral. Ou imoral.

O livro de Pochmann vai em outra direção. Ele busca limpar o terreno de ideologia para mostrar, de forma objetiva e a partir de dados, o que de fato se desenha no novo cenário social brasileiro, no atual estágio do capitalismo nacional e na economia mundial. Na primeira parte, o autor mostra como a definição de classe média no Brasil precisa ser contextualizada no desenvolvimento da produção capitalista no país. Não se pode, sob a pena de perder em poder explicativo, conceber classe social ancorada apenas no critério do rendimento. O risco é duplo: de um lado, a euforia do acesso ao consumo; de outro, a condenação do papel do Estado como indutor do desenvolvimento. Como se vê, nada mais ideológico que a ciência.

Em seguida, Pochmann introduz o debate a partir da classe trabalhadora, frente à condição de subconsumo derivado do ciclo de industrialização tardia e da resistência dos setores dominantes em aceitar o novo patamar de participação no mundo do consumo. A situação se torna ainda mais radical quando a classe dominante (e seus cães de guarda), além de se negar a dividir os mesmos espaços, passa a condenar as reformas civilizatórias, que sempre elogiaram no chamado “Primeiro Mundo”.

A terceira parte de O grande mito da classe média vai tratar do tema do salto do consumo dos brasileiros, em contexto mais ampliado do capitalismo monopolista e transnacional. Em outras palavras, ainda que o país não tivesse passado pelas políticas desenvolvimentistas internas e de distribuição de renda, teria havido uma indução ao consumo de bens industrializados. Há uma mudança no padrão aquisitivo das famílias brasileiras, que incorpora parte significativa da classe trabalhadora ao acesso a bens duráveis. Esse movimento é sem volta.

Por fim, o autor analisa como todo esse quadro fundamenta o retorno à mobilidade social, que ficou congelada por décadas. Não se trata de um movimento inédito no país e, nem tampouco, do surgimento de uma nova classe social. Trata-se de uma desconcentração que precisa se tornar cada vez maior, transferindo renda para os mais pobres e criando condições sociais de mobilidade por outros mecanismos, como a educação. Assim, tão importante quanto a mobilidade social é a recuperação da pressão dos trabalhadores, inclusive na cobrança por serviços públicos de qualidade .

Mais que se orgulhar de ser classe média, os brasileiros precisam assumir sua nova posição no capitalismo pós-industrial. Não somos constituídos de uma nova classe média, mas de uma nova classe trabalhadora. É um cenário menos dourado, mas muito mais real e promissor.

Orelha

Orelha
Estado de Minas: 05/07/2014
Aldous Huxley foi crítico de seu tempo e desconfiado do futuro do homem     (Editora Globo/Divulgação)
Aldous Huxley foi crítico de seu tempo e desconfiado do futuro do homem


Admirável Huxley


Dentro do projeto de reedição das obras completas de Aldous Huxley (1894-1963), a Biblioteca Azul, selo da Editora Globo, está com três novos títulos nas livrarias esta semana. Sem olhos em Gaza, lançado originalmente em 1936, narra o desenvolvimento emocional e intelectual de Anthony Beavis, cujos privilégios permitiram a ele uma vida dedicada ao pensamento e aos prazeres mundanos. Também o cisne morre, de 1939, fala do encontro entre um intelectual britânico e um milionário americano, poderoso e superficial, num retrato amargo da sociedade americana. Por fim, a nova edição de Admirável mundo novo impressiona pela atualidade da distopia premonitória de Huxley sobre a invasão da ciência nas decisões políticas.

Quadrinhos radicais

A Boitempo lança este mês o selo Barricada, especializado em quadrinhos. O catálogo com títulos nacionais e estrangeiros é coordenado pelo conselho editorial formado por Luiz Gê, Ronaldo Bressane e Gilberto Maringoni. Entre os primeiros lançamentos estão programados Último aviso, de Franziska Becker, e alguns dos trabalhos mais ambiciosos, como a antologia Cânone gráfico: clássicos da literatura universal em quadrinhos (Graphic Canon), de Russ Kick, que traz adaptações dos clássicos A divina comédia e Ilíada. Outra novidade é o projeto brasileiro transmídia Claun, de Felipe Bragança, cineasta e corroteirista do longa Praia do futuro.

Capital 1


O segundo volume de O capital (Livro II: o processo de circulação do capital), de Karl Marx,  chega às livrarias ainda este mês pela Boitempo, dentro do projeto de edição das obras completas de Marx e Engels pela editora. A edição é a primeira no Brasil a se basear no monumental projeto Mega II, da Alemanha – especialmente importante em se tratando de uma obra complicada como é o livro II de O capital, finalizado por Engels a partir de uma quantidade imensa de manuscritos deixados por Marx.

Capital 2


 (Charles Platiau/Reuters)


Por falar em O capital, a obra O capital no século 21, do francês Thomas Piketty (foto), um dos livros mais comentados (e menos lidos) da temporada, já está em regime de pré-venda no Brasil. O autor partiu de registros históricos para defender a tese de que o capitalismo tende a criar um círculo vicioso de desigualdade, pois, no longo prazo, a taxa de retorno sobre os ativos é maior que o ritmo do crescimento econômico, o que se traduz numa concentração cada vez maior da riqueza. Informações sobre a reserva dos primeiros exemplares no site da Editora Intrínseca: www.intrinseca.com.br.

Anos 70


A Cosac Naify anuncia o lançamento, no fim do mês, do livro O que amar quer dizer, do jornalista cultural Mathieu Lindon. Ambientado na Paris do fim dos anos 1970 e início dos 80, o livro recupera os momentos de convivência do autor com o filósofo Michel Foucault (1926-1984). Filho de Jérôme Lindon, fundador das Editions de Minuit e editor de Samuel Beckett e Marguerite Duras, Lindon rememora as festas no apartamento de Foucault, em descrições bem-humoradas de sua vivência homossexual em meio a viagens de ácido e música clássica. Em seguida, trata da sombra que surgiu no meio gay com a chegada da Aids, que viria a vitimar o filósofo.

Letra e música

 (Dani Gurgel/Divulgação)

O cantor, violonista e compositor Celso Viáfora (foto), depois de nove discos e dezenas de canções, estreia na literatura com o romance Amores absurdos. O livro narra a história de um compositor que fez o circuito dos festivais na juventude, dedicando-se depois ao mercado publicitário. Como pano de fundo, além do cotidiano vivido por muitos músicos no início dos anos 1980 pelo interior do país, o autor traça um perfil social, político e cultural do Brasil nos últimos 40 anos. Viáfora lançou recentemente disco com o mesmo título do romance, com canções que fazem parte da narrativa.

Frutos estranhos
A Editora Rocco está lançando coleção dedicada a ensaios que têm como tema a literatura contemporânea. A série Entrecríticas é um espaço teórico voltado para pensar as letras em conexão com outras práticas artísticas. A coleção estreia com dois volumes, Frutos estranhos – Sobre a inespecificidade na estética contemporânea, de Florencia Garramuño; e Poesia e escolhas afetivas – Edição escrita e poesia contemporânea, de Luciana de Leone.

Olho da rua‏

Olho da rua 
 
Vivian Maier - Uma fotógrafa de rua revela o trabalho da artista que por 50 anos registrou a vida norte-americana em mais de 100 mil negativos e morreu sem mostrar suas imagens

João Paulo
Estado de Minas: 05/07/2014


Autorretrato de Vivian Maier (Vivian Maier/Autêntica/Reprodução)
Autorretrato de Vivian Maier

Esta talvez seja uma das histórias mais singulares da arte no século 20: uma fotógrafa que, por quase 50 anos – de 1950 ao fim da década de 1990 –, registrou em 100 mil negativos a trajetória social, política e psicológica dos EUA. O que destaca o trabalho de Vivian Maier, no entanto, são três aspectos singulares de sua obra: ninguém sabia que ela fotografava; suas imagens portam uma qualidade extraordinária; tudo foi construído sem o intercâmbio com outros profissionais. Em outras palavras, uma artista anônima, genial e completamente solitária.

A vida pessoal de Vivian Maier é pouco conhecida em seus lances externos. Nasceu em Nova York em 1926 e trabalhou como babá ou governanta para famílias de Chicago. Nunca se casou nem conviveu com a própria família. Em sua velhice, foi amparada pelas crianças das quais cuidou. Morreu em 2009, aos 83 anos. Sua vida, contudo, era preenchida pelo prazer em fazer fotografias de rua, que se somaram aos milhares e as quais não compartilhou com ninguém. Sua obra poderia ter se perdido nos guarda-volumes onde ficou depositada, não fosse o trabalho salvador do acaso.

Em 2007, o escritor e fotógrafo John Maloof, ligado à preservação histórica do noroeste de Chicago, descobriu os primeiros negativos de Vivian Maier quando pesquisava imagens para um livro sobre a história da vizinhança de Portage Park, onde nasceu e viveu na juventude. Durante três anos, passou a pesquisar tudo sobre a fotógrafa, chamando a atenção do mundo da fotografia. Em 2011, ele editou um livro com fotografias de Vivian Maier, que agora chega ao Brasil em edição da Autêntica.

Vivian Maier – Uma fotógrafa de rua é a síntese de um tesouro impressionante, que não cessa de encantar o público e os profissionais com suas imagens soberbas e seus registros sociais únicos. O livro já disparou outros produtos no mundo da arte, de exposições a documentários que se dividem entre duas formas de espanto: o acervo fotográfico propriamente dito (em sua dimensão estética e sociológica) e a história por trás de sua construção. Não há como deixar de pensar nas duas faces reveladas de Vivian Maier, a grande artista e a mulher solitária que foi edificando, imagem a imagem, um dos maiores documentários visuais sobre a vida americana na segunda metade do século 20.
 (Vivian Maier/Autêntica/Reprodução)

Como o editor destaca na apresentação do livro, “a combinação de intensa privacidade com a falta de confiança de Maier no próprio talento quase determinou que sua coleção ficasse relegada ao esquecimento”. No entanto, talvez essa mesma combinação tenha servido de empuxe para que a fotógrafa seguisse trabalhando. Há um senso de missão no trabalho de Maier que é dado ao mesmo tempo pelo extremo cuidado de seus registros (próprio de alguém que desconfia de seus instrumentos), como pela abrangência de seu resultado. Para a fotógrafa, tudo merecia ser captado com cuidado técnico e olhar atento ao detalhe.

No prefácio escrito por Geoff Dyer são destacadas as qualidades estéticas do trabalho de Vivian e, sobretudo, sua relação com a visualidade da fotografia do século 20. Assim, o conhecedor de fotografia pode detectar traços do trabalho de Helen Levitt, Diane Arbus e Walker Evans, entre outros. Se Vivian se espelhava neles, não se sabe, mas é possível imaginar um diálogo no campo das imagens, seja na composição ou nas cenas. A lembrança de outros profissionais mostra apenas como somos marcados pela fotografia em nossa capacidade de imaginação, ainda que, por sua história, o trabalho de Vivian Maier não tenha contribuído para isso. Ela é uma espécie de eco de sons que já escutamos pelas lentes de outros artistas.

Mas o que mais chama a atenção de Dyer é o personagem Vivian Maier, quase uma figura de ficção, com sua rica vida íntima e sua esmaecida condição social. As governantas, como se sabe, vivem perto da existência, mas parecem apenas observá-la, sem de fato ser convidadas a participar. Por isso a fotógrafa se esmera em registrar mulheres como ela, discretas e quase invisíveis, como se prefigurasse, no retrato das senhoras solitárias e um pouco exóticas, um pouco de seu próprio destino.

Não é necessário, contudo, exagerar na qualidade técnica das fotografias de Vivian, o que poderia ser uma tentação frente a sua trajetória de vida. A artista, não se sabe muito bem como, dominava bem seu repertório, enquadrava com competência, tinha certo senso dramático de composição, sabia trabalhar com a luz. Mesmo sem treinamento formal, há constância em seu estilo e um volume impressionante de grandes trabalhos. É desses casos em que a quantidade se torna qualidade.

Vivian Maier é uma historiadora. Suas imagens, como o próprio título destaca, são feitas sempre nas ruas. O trabalho anônimo, num cenário que é de todos, parece exigir ainda mais atenção. Não se pode parar o fluxo da vida, exigir poses, subtrair o movimento. A sensação de momento decisivo é fundamental; o olho treinado para destacar o personagem arquetípico é uma condição profissional. Nada pode ser perdido, mas tudo está em vias de se desmanchar aos olhos do fotógrafo.

O exame das fotografias do livro dá ao leitor muitos enredos possíveis: o sonho americano e seu esfacelamento, a construção das cidades, os personagens marginais, as mulheres maduras em sua solidão elegante, os trabalhadores aparentemente deslocados numa sociedade em crise, o avesso do luxo, os becos, o lixo, a solidão, a tristeza, os animais e a morte. Há ainda uma pequena seleção de autorretratos, com a câmera na mão, que usa sempre o recurso especular. Imagem da imagem.

Algumas fotografias parecem transmitir esperança, outras a decepção. Há traços comoventes em algumas cenas e muita aspereza e desencanto em outras. São alguns dos elementos de que é feita a vida de um fotógrafo de rua. Vivian Maier tinha razão em não confiar totalmente no que fazia, embora tenha mantido a obsessão em levar seu trabalho adiante. A vida não cabe numa imagem. O grande desafio é manter o humilde esforço em ser testemunho do descaso do destino com os sonhos humanos.
 (Vivian Maier/Autêntica/Reprodução)

Vivian Maier – Uma fotógrafa de rua
• Editado por John Maloof
• Editora Autêntica
• 136 páginas, R$ 108

Livro reúne correspondência de Carlos Lacerda entre 1933 e 1976

Em primeira pessoa 

Livro reúne correspondência de Carlos Lacerda entre 1933 e 1976. Cartas tratam de temas familiares, literários e políticos com a mesma verve radical que caracterizou o governador, tribuno e jornalista
João Paulo
Estado de Minas: 05/07/2014


Carlos Lacerda discursa na Câmara dos Deputados: parlamentar era conhecido pela inteligência e força histriônica de seus pronunciamentos (O Cruzeiro/Arquivo EM - 1/2/55)
Carlos Lacerda discursa na Câmara dos Deputados: parlamentar era conhecido pela inteligência e força histriônica de seus pronunciamentos

Demolidor de presidentes. Tribuno da língua ferina. Adversário temível. Não são poucos nem ponderados os julgamentos em torno de Carlos Lacerda (1914-1977). E ele, certamente, não gostaria de ser tratado sem paixão. No ano em que se celebra o centenário do jornalista e ex-governador da Guanabara, uma importante fonte de estudo chega ao leitor pela Editora Bem-Te-Vi. Trata-se da correspondência de Lacerda abrangendo o período que vai de 1933 a 1976, um ano antes de sua morte.

Embora não fugisse de polêmicas e disputas, Carlos Lacerda foi um homem relativamente reservado e, por isso, suas cartas, tanto privadas como públicas (ele gostava de enviar cartas abertas a diretores de jornais), guardam significação para quem se interessa pelos rumos do país. Carlos Lacerda esteve próximo ou no papel de opositor em vários momentos marcantes da vida republicana brasileira de seu tempo.

O livro que reúne a correspondência de Lacerda tem ainda o valor adicional de trazer muitos documentos ainda inéditos, sobretudo os que tratam da correspondência familiar e com escritores. As cartas políticas já são conhecidas de pesquisadores e figuram como fonte das biografias disponíveis, com destaque para o trabalho de John Foster Dulles, em dois volumes. Lacerda foi ainda personagem de destaque do filme Getúlio, de João Jardim, como um dos responsáveis pelo acirramento da crise que levaria ao suicídio d

É bom destacar ainda que, recentemente, o neto de Carlos, Rodrigo Lacerda lançou o romance A república das abelhas, que trata da primeira fase da vida do avô e de sua relação com a rica história política familiar. Sinal de que, com o tempo, já amainadas as disputas protagonizadas por Lacerda, sua vida se torna tema para diferentes abordagens, da análise política à história romanceada, passando pelo cinema. E é nesse caminho que as cartas agora publicadas ganham em interesse histórico.

A organização do livro foi feita por Cláudio Mello e Souza a partir de 2009. O jornalista, que morreu em 2011, pesquisou nos maiores arquivos literários brasileiros, entre eles a Casa de Rui Barbosa, que hoje guarda o acervo de Carlos Lacerda, a Academia Brasileira de Letras e a Biblioteca Nacional. O trabalho foi completado por Eduardo Coelho, professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O trabalho dos organizadores, além da reunião, fixação do texto e recuperação da correspondência, demandou uma profunda leitura do material, que resultou em quase 900 notas. São informações sobre o contexto, pequenas biografias de cada um dos destinatários e pessoas citadas nas cartas. As anotações são sempre úteis, sem se perder em interpretações polêmicas, dando ao leitor o domínio dos personagens e dos fatos citados na correspondência. Como se trata de um longo período histórico, as notas se tornam imprescindíveis mesmo para os especialistas.

Gatinha
As cartas foram divididas em quatro seções. A primeira, “Família”, é toda dedicada à correspondência dirigida a Letícia Abruzzini (1919-1990), professora nascida em Valença (RJ), que viria a ser mulher de Carlos Lacerda. Ela é tratada como Gata, Gatinha e Nega e as cartas vão do tempo de namoro, em 1937 (eles se casaram em 1938), a 1944. O tom pessoal é intercalado com temas políticos. Em 10 de agosto de 1937, por exemplo, ele escreve de Belo Horizonte, onde participava de caravana de estudantes durante a campanha em torno da candidatura de José Américo de Almeida à Presidência da República.

A segunda parte chama-se “Amigos” e reúne cartas endereçadas ao pernambucano José Osório de Borba, ao médico Marcelo José Amorim Garcia, ao jurista Afonso Arinos de Melo Franco, a Juraci Magalhães e a Fernando Cícero Veloso, entre outros. As cartas cobrem período que vai de 1939 a 1975, por ocasião dos 70 anos de Afonso Arinos. Mesmo no trato com companheiros, o assunto é quase sempre a política.
A terceira seção, “Autores e livros”, reúne a correspondência de Lacerda com escritores ou que versam sobre romances e ensaios. As primeiras cartas desse capítulo foram enviadas a Mário de Andrade, entre 1933 a 1941. Lacerda fala de literatura, sobretudo dos modernistas, mas também trata do movimento integralista e até da política externa norte-americana. O tom das primeiras missivas de Lacerda é de discípulo, mas como é próprio dele, logo se sente seguro para interpelar Mário de Andrade e, em carta de 1941, chega a acusá-lo de infâmia.

Além de Mário de Andrade, Carlos Lacerda se correspondeu com outros escritores, entre eles Dinah Silveira de Queirós, Josué Montelo, Otto Lara Resende, Erico Verissimo e Gilberto Freyre. A carta ao sociólogo pernambucano reflete bem a personalidade dos dois amigos. Freyre reclama do pouco espaço dado a ele em uma enciclopédia editada por Lacerda, comparando ao que foi reservado a Jorge Amado, numa típica manifestação do conhecido ego de Freyre. Lacerda defende a decisão editorial, mas ao fim dá uma estocada em Amado: “Não me dou com Jorge desde o tempo do pacto teuto-soviético”.

A quarta seção, “Política”, que cobre mais da metade do livro, vai de 1947 a 1976 e trata praticamente de todos os movimentos e ações políticas do período. Carlos Lacerda escrevia para aclarar sua disposição política, mas muitas vezes para marcar publicamente suas posições, sobretudo em cartas dirigidas à imprensa e a presidentes, ministros e generais. Mas se envolvia também em assuntos administrativos, como, por exemplo, a construção do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
As cartas políticas são uma fonte de informações sobre vários momentos da vida republicana, dirigidas a personalidades com as quais Lacerda dividia opiniões e com seus contendores. Assim como ganhou fama de tribuno, o correspondente Carlos Lacerda não deixava por menos nem economizava nas palavras duras. Na carta que enviou a Burle Marx em outubro de 1965, sobre as divergências do artista com Lota Macedo Soares, Lacerda não perde tempo e, na primeira linha, sentencia: “Ser grande paisagista não desobriga ninguém da obrigação de ter caráter”. E acusa ainda Burle Marx de ser oportunista e cobrar além da conta.

Entre os destinatários de cartas com teor político estão dom Helder Câmara, Magalhães Pinto, Jânio Quadros, João Goulart, Golbery do Couto e Silva, Henry Kissinger e Castelo Branco. Do apoio inicial ao golpe ao questionamento da supressão das eleições e crítica à política econômica do primeiro governo militar, as relações com os golpistas de primeira hora vão se azedando até a prisão e greve de fome de Lacerda, depois do AI-5, em 1968. Em carta dirigida à mulher e aos filhos, Lacerda escreve: “Os heróis de fancaria vão ver como luta e morre, sozinho e desarmado, um brasileiro que ama a pátria livre”. Lacerda, em seguida, foi cassado.

Carlos Lacerda era homem de imprensa, dirigiu revistas e a Tribuna da Imprensa. Por isso se sentia à vontade para enviar cartas para os diretores de redação de publicações de São Paulo e do Rio, sobretudo quando estava com a palavra sob suspeita ou sem tribuna. Na última carta da coletânea, de maio de 1976, dirigida a O Estado de S. Paulo, ele pede para ser esquecido e acusa o jornal de publicar mentiras a seu respeito.

O material é rico. Basta seguir as datas das cartas para se ver, em meio às questões que ganhavam a opinião pública na época, a posição de Lacerda. Não é difícil, em todos os momentos, identificar seus interesses (e discordar deles), mas é sempre vivo poder acompanhá-lo em primeira pessoa, com seu desassombro habitual.

Carlos Lacerda/Cartas 1933-1976 é uma fonte rica. Para um livro de história já é meio caminho andado. O leitor, em diálogo com outras informações, precisa fazer seu trabalho. O correspondente Carlos Lacerda, no entanto, enriquece ainda mais o perfil do político, polemista e jornalista.

Trechos

• “No Estado Novo, os homens como você têm uma função: a de desconversadores, isto é, de homens a quem se pergunta: ‘Por que no Brasil não pode haver liberdade de pensamento?’ e dos quais se recebe esta resposta: ‘Vamos ver que perfeição de pronome tem aquele senhor que acaba de entrar para a Academia?’. Você agora é um acadêmico do lado de fora, um acadêmico que bebe chope e com chope consegue a irresponsabilidade suficiente para caluniar, difamar e corromper tudo aquilo que representa sacrifícios obscuros, esforço constante, intenção refletida.”
Carta a Mário de Andrade, 11 de outubro de 1941
“A não realização de eleições estaduais este ano – inspirada sobretudo na miragem da ‘coincidência de mandatos’ que tem como alternativa para escolha das Assembleias – me parece um erro contra o aperfeiçoamento democrático. (…) Não estou interessado em prorrogação, até porque teria que me desincompatibilizar para tentar merecer a honra de ser o seu sucessor. Não desejo assumir responsabilidades, aliás indeclináveis, em face do meu estado e dos demais. O melhor, o certo, o corajoso, o democrático é realizar eleições.”
Carta ao presidente Castelo Branco, 20 de março de 1965
“A UDN não poderia continuar a apoiar, ao mesmo tempo, Castelo Branco e a minha candidatura. Pois o senhor Castelo Branco não admite minha candidatura e tudo faz para condenar o país à escamoteação da ‘eleição indireta’. O senhor Castelo Branco foi vítima de sua obsessão de evitar a minha candidatura e o voto do povo.”
Carta redigida depois do anúncio da prorrogação do mandato do marechal Castelo Branco, 7 de outubro de 1965


Carlos Lacerda/Cartas 1933 –1976
Organizado por Cláudio Mello e Souza e Eduardo Coelho
Editora Bem-Te-Vi
392 páginas, R$ 78

Histórias que valem ouro - Walter Sebastião

Publicação: 05/07/2014 



Lavagem de ouro em Vila Rica, de Johann Moritz Rugendas, mostra as várias formas de extração e separação do minério na região (Rugendas/Reoprodução)
Lavagem de ouro em Vila Rica, de Johann Moritz Rugendas, mostra as várias formas de extração e separação do minério na região

O publicitário Francisco de Paula Vasconcelos Bastos, mineiro de Ouro Preto, é um apaixonado pelo passado de Minas Gerais. Contador de histórias, como se define, quer levar informações de qualidade a leitores não especializados. Neste sentido, publicou o livro independente A igreja de São Francisco de Assis de Vila Rica, sobre o templo mais celebrado do período colonial brasileiro. Recentemente, ele lançou Ouro? Ouro! A construção do Brasil brasileiro, sobre a corrida do ouro no século 18 mineiro. Para o autor, é um esforço para popularizar uma história tão rica quanto a similar norte-americana, embora menos conhecida e pouco valorizada pelos brasileiros.

No fim do século 16 já havia notícias sobre a existência de ouro em Minas Gerais. Mas só em 24 de junho de 1698 o bandeirante Antônio Dias descobre o Pico do Itacolomi, referência geográfica usada por cronistas como André João Antonil (1650-1716) para chegar às minas, que ninguém sabia onde ficavam. “Surge corrida em busca do ouro que quase despovoa Portugal”, conta Francisco Bastos. Caminhos até a região de Ouro Preto, Mariana e Sabará, que praticamente não existiam, foram criados. E a região foi tomada por multidão de aventureiros em busca do ouro.

Gente, explica Francisco Bastos, que acostumada a comprar o que precisava se esquece de plantar para comer. “Como durante a invernada, época de chuvas, os tropeiros não conseguiam chegar às minas, a região passou por duas fases de fome, em 1699 e 1701, que matou milhares de pessoas”, conta. Os conflitos, especialmente entre portugueses e paulistas, vão se agravando de tal forma que a Coroa pede a Artur de Sá Menezes, governador do Rio de Janeiro (única representação no Brasil além do governo-geral, na Bahia), que abarcava a área das Minas, para que vá até o local. E ele vem, com o Exército, tentar acalmar os ânimos.

 Sá Menezes vai negociar com o paulista Borba Gato, então foragido por ter matado um agente do rei, mas que conhecia o caminho até as minas do Rio das Velhas (Sabará). Convence o rei a autorizar a criação do Caminho Novo, trilha do Rio de Janeiro a Minas Gerais, para facilitar a vinda de mais gente em busca do ouro e assim aumentar a produção. Cria também novo regimento, que regulariza a exploração do ouro. “E volta ao Rio de Janeiro muito rico”, ironiza Francisco.

Guerra Só que os portugueses começam a chegar em grande número a partir de 1705. “E a se estranhar, de novo, com os paulistas”, explica Bastos. Os atritos se ampliam e, em 1708, estoura (em vários lugares e períodos diferentes) combates armados, a chamada Guerra dos Emboabas. Conflito que vai até setembro de 1709, com a derrota dos paulistas. Os portugueses, então, aclamam Manuel Nunes Viana governador. “Há quem diga que foi o primeiro ditador erigido nas Américas”, observa o escritor. Manuel Viana cuida de expulsar ou reduzir o poderio dos paulistas e, tentando ficar bem com a Coroa, organiza a cobrança de impostos.

A Coroa Portuguesa, preocupada, traz, para a região do ouro, em 1710, Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho. Autoridade do Rio de Janeiro que se torna, por decisão de dom João V, o primeiro governador de uma nova capitania: a de São Paulo e Minas do Ouro. Manuel Nunes Viana entrega o poder ao escolhido pela Coroa sem resistência. E começa a se implantar o estado em Minas Gerais. Cria, em 1711, as primeiras vilas: a do Carmo (Mariana); a Rica (Ouro Preto); a Real de Nossa Senhora de Sabará (Sabará). “Criar vilas era forma de conter o povo não obediente”, observa. Instalando Câmara Municipal (para fazer justiça e cobrar imposto) e estabelecendo autoridades.

Essas são algumas das histórias que podem ser lidas com prazer no novo livro de Francisco de Paula Vasconcelos Bastos.

Ouro? Ouro! A construção do Brasil brasileiro – A MINERAÇÃO NO BRASIL ONTEM E HOJE
• De Francisco de Paula Vasconcelos Bastos
• Edição do Autor, 256 páginas

Uma senhora matreira - André di Bernardi Batista Mendes

Uma senhora matreira
Ganhadora do Prêmio Nobel, a escritora canadense Alice Munro deleita os leitores com a força e a simplicidade dos contos de A vista de Castle Rock


André di Bernardi Batista Mendes
Estado de Minas: 05/07/2014


A canadense Alice Munro sempre se expressou por meio dos contos, com singeleza e profundidade   (Peter Muhly/AFP)
A canadense Alice Munro sempre se expressou por meio dos contos, com singeleza e profundidade


Não parece estranho. O Prêmio Nobel de Literatura é, como se sabe, um belíssimo divisor de águas. Até agora, não conheci nenhum livro destes mestres laureados que fosse ruim ou médio. Todos eles foram, para mim, no mínimo, extraordinários. E não foi diferente diante da descoberta de Alice Munro, uma simpática canadense de 83 anos que levou o Nobel em 2013, a 13ª mulher a conquistar o cobiçado prêmio. É dela o livro A vista de Castle Rock, publicado pela Editora Globo. A última mulher premiada havia sido Herta Müller, em 2009.

Durante vários anos, Alice dedicou-se a investigar a história de um lado de sua família escocesa, os Laidlaw. Foram inúmeras páginas de documentos consultados, além de cartas e outros registros escritos. A busca lhe rendeu uma boa quantidade de informações: o longo caminho que fizeram seus familiares até chegarem ao Canadá em um navio cheio de imigrantes e, finalmente, o estabelecimento na região rural de Ontário, onde Alice Munro cresceu. Mas apesar deste viés, destes indicativos pouco ficcionais e de escrever em uma prosa em alguns momentos mais próxima ao relato, o livro da Alice apresenta belos e longos contos.

Não se trata, portanto, de um livro de memórias nem de uma autobiografia. A autora preferiu a liberdade para completar as histórias com aquilo que sentiu falta. Ela sentiu-se livre para mudar um ou outro fato, para mudar o próprio passado, como só um escritor pode fazer.

O livro segue uma linha cronológica e é dividido em duas partes. Na primeira, reúnem-se os contos sobre os antepassados mais remotos, aqueles que ainda viveram em Ettrick Valley, os que viajaram em 1818 rumo ao sonho da nova vida no continente americano. Na segunda parte, estão os contos mais próximos ao presente, que são explicitamente feitos a partir das experiências da autora. A vista de Castle Rock foi lançado originalmente em 2006 e é o 12º livro da autora.

Alice conquistou certa autonomia, que também pode ser coragem, para criar amplos espaços mágicos. Ela não perde tempo reinventado a roda, não aponta novos rumos. Ela simplesmente escreve. Belamente escreve, como canta, como se recitasse um longo poema.

Entra neste turbilhão afetivo a força avassaladora de reminiscências, esse tempo dentro do tempo, a força paradoxal das fraquezas, a incerteza das contingências, o inexato que existe em todos os nossos cálculos, certos e errados, e as belezas da condição, da alma humana. O bom de tudo isso é que existe, para todos, a alegria de inventar e reinventar. Alice Munro é uma artista que tece, pinta e borda diante de um céu propício. Pardais e pintassilgos, as rosas trivias, o lugar-comum pode ser mais perturbador do que imaginamos.

Histórias brotam de situações. Das aventuras, das glórias de familiares distantes; de montanhas que constantemente atraem nuvens; do cheiro que a terra exibe, orgulhosa, quando chove; das travessuras do silêncio; de estradas lamacentas, intransitáveis de abandono e lirismo; de coisas sem proveito, como abetos, estuários, cataratas.

Os contos de Alice Munro desdobram-se obedecendo a vontade de um vento imperceptível, tudo acontece regido por uma calma, dentro de uma – perigosa – atmosfera de um quarto de criança. Alice escreve como quem inventa uma canção de ninar. Até que, para nosso deleite, surge, subitamente, um ranger de máquinas que desce do desconhecido, que sobe para o alto de algo precioso e atemporal.

Mansidão


Esta bela artista escreve, posiciona-se estrategicamente recuada, para não ser vista de imediato. Ela escreve dentro de inexistências. Mas quando ela aparece, pula um tigre, como se fosse um incêndio. Alice planta, sorrateira, a dúvida. O leitor, num primeiro momento fica angustiado com estes contos feitos de uma aparente mansidão, pois, como já disse, nada acontece. Mas, do nada, surge uma revoada de pássaros. Ler é ver.

Alice Munro, mal comparando, escreve com aquele nosso jeito mineiro, mineiramente, matreira como só ela. Ela nos pega pela mão e nos conduz, como quem não quer nada, como quem nada quer, até o de repente. Não tem nada de boba essa distinta senhora canadense. Ainda que fale de fatos concretos, das aventuras e glórias de antepassados, Alice encontra brechas para transitar, lúcida, diante, dentro, acima e abaixo do abstrato. Não parece simples.

Alice Munro viaja, longamente, num carrossel divertido. Prêmios são importantes, mas, como já alertou Clarice Lispector, “mais vale um cachorro vivo”. Prêmios são ótimos, mas muito melhor é a simplicidade e a força do humano das histórias de Alice Munro, mais importante são os sonhos que, naqueles de repentes, desnorteiam.

Alice Munro é dona de uma alma nova, ou antiga, tanto faz. Alice é, através de sua literatura, ao mesmo tempo, arco e flecha, dedo e gatilho. Ela reordena todo um processo de sim e não, ela sugere, ou busca, equilíbrio e sensatez. Através de suas palavras, através de sua arte, do verbo em ponto de bala. Eis uma espécie de chave. Alice Munro percebeu que é nos meandros, é justamente no fugaz que residem, que nascem as melhores sementes.

Alice Munro já deixou para todos, com seus livros, uma parte grande, absurda, de vida e ensinamento. O mundo é muito estranho, existem línguas e linguagens, famílias e linhagens, gestos que ficaram no passado, aguardando, na sombra. Alice trabalha diante desse caldeirão de descobertas.

Assim, através da literatura, através das palavras, pelas mãos de Alice Munro, entre o medo e a esperança, do alto de Castle Rock, do cume de nossas maiores montanhas, conseguimos vislumbrar o início de uma coisa chamada sonho.

Fugitiva foi seu primeiro livro lançado no Brasil, em 2006, sendo também relançado pela Editora Globo. Nas oito histórias que integram o livro, as protagonistas, sempre mulheres, caminham entre problemas do dia a dia e tragédias pessoais. O cenário é sempre o mesmo: as paisagens desoladas do Canadá, o que destaca ainda mais o aspecto moral e psicológico das narrativas

Alice Munro nasceu em 1931, em Wingham, Canadá. Estreou na literatura em 1968. A partir daí, escreveu seus livros enquanto criava as três filhas e ajudava o marido, dono de uma livraria. Foi casada duas vezes e vive hoje em um chalé do século 19.

A VISTA DE CASTLE ROCK

. De Alice Munro
. Editora Globo, 352 páginas, R$ 44,90

A terceira via - Carlos Herculano Lopes

O ensaísta e tradutor Cláudio Willer mergulha na obra e do projeto existencial dos autores da Geração Beat, com destaque para Jack Kerouac e Allen Ginsberg


Carlos Herculano Lopes
Publicação: 05/07/2014



O poeta Allen Ginsberg, autor de Uivo, poema que marcou várias gerações, em imagem captada por Williams Burroughs         (Gabriel Bouys/AFP)
O poeta Allen Ginsberg, autor de Uivo, poema que marcou várias gerações, em imagem captada por Williams Burroughs


Um dos maiores especialistas brasileiros na chamada Geração Beat, movimento literário de vanguarda, composto por alguns escritores tidos como marginais, que surgiu nos Estados Unidos na década de 1950, com reflexos que perduram até hoje em todo o mundo, o escritor e ensaísta Cláudio Willer acaba de publicar um novo livro sobre o tema, Os rebeldes – Geração Beat e o anarquismo místico. O trabalho, que enriquece a bibliografia já existente, é resultado do pós-doutorado em letras, Religiões estranhas, misticismo e poesia, realizado por Willer como bolsista no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, concluído em 2011.

Se no seu primeiro livro sobre o tema, Geração Beat (Editora L&PM Pocket, 2009), que teve nas figuras de Allen Ginsberg e Jack Kerouac seus principais representantes, Cláudio Willer contou a história do movimento, com seus desdobramentos literários e sociais, em Os rebeldes… ele explora, entre outras facetas, o anarquismo místico, as viagens (reais ou imaginárias, muitas vezes embaladas pelas drogas) e as tendências religiosas da turma, sobretudo de Allen Ginsberg. Tanto que, logo no início do segundo capítulo, “As religiões Beat”, ele pergunta: “Poderia a Geração Beat ser considerada um movimento religioso?”.

De acordo com Willer, que é autor ainda de Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e poesia (Civilização Brasileira, 2010),  essa tendência religiosa dos beats é como uma procura de respostas a questões fundamentais sobre o sentido da vida e estar no mundo, como um desejo de autoconhecimento e de transcendência. “E como busca de uma terceira via: nem religião institucional, nem visão cientificista de mundo”, diz.

Para Willer, a ligação de Allen Ginsberg com a religiosidade, que acabou levando-o a países como Israel, Índia e Cuba, onde se interessou pela santeria, culto oriundo de ritos africanos, começou desde criança, apesar de ele não ter sido criado em ambiente religioso. No seu diário de juventude, por exemplo, já se encontram referências a Deus e às religiões.

Tendências religiosas à parte, Cláudio Willer, paulistano nascido em 1940, conta que seu interesse por aquela geração, que teve ainda, entre seus expoentes, nomes conhecidos como Gregory Corso, MacClure, Di Prima e Burroughs, surgiu no início dos anos de 1960, quando caiu na vida. “Li On the road e The dharma bums (Os vagabundos iluminados), de Keroua, e gostei. Beat era tema na imprensa, novidade que interessava, inclusive por escândalos e tentativas de censura e libertinagem”, conta Willer.

Ocorreu também que um dia, ainda segundo ele, o poeta Roberto Piva apareceu na sua casa com uma pilha de livros da turma, lançados pela City Lights. Não deu outra, simplesmente leram tudo, como adolescentes descobrindo um novo mundo. “Já em 1967, com Décio Bar, fiz América, uma encenação teatral de poemas beat. Depois traduzi Uivo, de Ginsberg, e quando o mercado editorial brasileiro começou a se despertar para os beats, em 1984, eu estava preparado para participar”, conta.

Os rebeldes – Geração Beat e o anarquismo místico

. De Claudio Willer
. L&PM Editores, 198 páginas, R$ 34,90



três perguntas para...
Claudio Willer
escritor

 (Rodas de Leitura/Divulgação)


Quando os beats surgiram nos EUA, na década de 1950, causaram furor por suas ideias e escritos, tidos como anarquistas. Foram perseguidos e execrados pela mídia conservadora. O que ficou daquela época?

O que deixaram? Obras, em primeira instância. Algo para ser lido. E, como espero ter mostrado nesse meu novo livro, para ser estudado. Em termos mais gerais, se compararmos como era o mundo há 60 anos e como é hoje, examinando o que melhorou, há uma contribuição beat para essa melhora, em temas como tolerância, respeito pela diversidade, valorização do multiculturalismo (insisto muito na contribuição de Kerouac nesse tópico); enfim, liberdade.

No seu livro você diz que Allen Ginsberg foi a figura central do movimento. Por quê?

Barry Miles, em sua biografia de Ginsberg, afirma que, sem ele, não teria havido o movimento Beat. Isso, por ele incentivar os amigos, acreditar na existência de um movimento, atuar como ideólogo e animador. Era uma figura maravilhosa. Deu-me atenção, respondeu a minhas consultas assim como as de outros tradutores (Willer traduzir o poema Uivo, de Ginsberg), fez que seus livros sempre me fossem enviados. Sua obra é definitiva, como criação poética e documento histórico.

Qual o lugar de Jack Kerouac entre os escritores da mesma geração?

Kerouac é ao mesmo tempo um autor complexo, que promove uma síntese da língua falada e da expressão erudita – em passagens de Vanity of Duluoz, por exemplo, ele emenda Shakespeare e fala das ruas. E foi o criador da expressão Geração Beat, com plena consciência das consequências dessa criação. 

TeVê

TV PAGA » Abracadabra!

Estado de Minas: 05/07/2014

 (Summit Entertainment/Divulgação)


Jesse Eisenberg, Mark Ruffalo, Woody Harrelson, Morgan Freeman, Michael Caine e Isla Fischer estão no elenco de Um truque de mestre, suspense que estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium. Na história, Daniel Atlas (Eisenberg) é o líder de um grupo de ilusionistas chamado The Four Horsemen. Enquanto distrai o público com suas mágicas, a trupe assalta bancos em outros continentes e ainda distribui a quantia nas contas da plateia. Parece engraçado, né? Pelo menos até a polícia entrar em ação…

Muitas alternativas
no pacotão de filmes

No Telecine Action, os agentes secretos são convocados para uma sessão que emenda Missão impossível 3 (17h10), O legado Bourne (19h30) e 007 – Operação Skyfall (22h). No Telecine Touch, Reese Witherspoon faz hora extra em Eleição (15h45) e Doce lar (17h40). No A&E, quem está em dose dupla é Natalie Portman, em Beijo roubado (20h) e As coisas impossíveis do amor (22h). Ainda na faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: Como esquecer, no Canal Brasil; Beleza americana, no Telecine Cult; O vingador do futuro, na HBO 2; Celeste e Jesse para sempre, no Max HD; Ligeiramente grávidos, no TBS; e Noites com sol, no Futura. E mais: O mundo imaginário do dr. Parnassus, às 21h, no Cinemax; A rede social, às 21h30, no Sony; e Padre, às 22h30, no FX.

Feras do futebol entra
em campo no NatGeo

Ainda no clima da Copa do Mundo, o NatGeo estreia hoje, às 19h, a produção original Feras do futebol, mostrando as semelhanças entre alguns dos melhores jogadores do mundo com predadores muito temidos, como leões e onças – o uruguaio Luisito Suárez que o diga! Mais cedo, às 17h. estreia a nova temporada de Desafio Alasca.

HBO exibe a festa do
Hall da Fama do rock

A HBO não vai fazer concorrência ao Telecine hoje. Pelo menos no horário nobre, dedicado aos lançamentos de filmes. É que a emissora vai apresentar, às 22h, um especial sobre a 29ª cerimônia de nomeação do Rock and Roll Hall of Fame, realizado em abril no Brooklyn’s Barclays Center, em Nova York, e que reuniu os músicos mais prestigiados e influentes do gênero no mundo. Entre eles, Sheryl Crow, Tom Morello, Joan Jett, Bonnie Raitt, Emmylou Harris e Youssou N’Dour.

Programação musical
vai do rap ao erudito

Por falar em música, a Cultura vem com o Manos e minas, às 17h, com dois dos maiores nomes do cenário do rap atual, Kamau e Rashid. Às 18h, no Cultura livre, a convidada de Roberta Martinelli é a cantora Alzira. Já às 20h30, vai ao ar a transmissão ao vivo do concerto de abertura do 45º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Coros da Osesp e Acadêmico da Osesp, o barítono Paulo Szot e solistas convidados, executando a Nona sinfonia, de Beethoven, sob a regência de Marin Alsop. No Multishow, às 21h, tem o Baile da Favorita.



CARAS&BOCAS » Humor e força
Simone Castro

Thammy, Dani, Carlos Alberto, Raul Gil, Penélope e Val: agito no quadro Elas querem saber (Rodrigo Belentani/SBT)
Thammy, Dani, Carlos Alberto, Raul Gil, Penélope e Val: agito no quadro Elas querem saber


Carlos Alberto de Nóbrega, apresentador de A praça é nossa, é o convidado do quadro “Elas querem saber”, do Programa Raul Gil deste sábado, no SBT/Alterosa. Cercado por Thammy Miranda, Dani Bolina, Penélope Nova e Val Marchiori, ele fala sobre separação, filhos, carreira e também pelo procedimento no coração pelo qual passou recentemente. “Eu nunca fui cacique, mas sempre fui um grande guerreiro. Eu nunca fugi da briga. A doença não vai me derrubar”, avisa. Sobre a amizade com Sílvio Santos, Carlos Alberto comenta: “Saímos toda a semana juntos, viajamos juntos”. Ele também lembra o pai, o humorista Manoel de Nóbrega. “Meu pai me ensinou a ser profissional, a ser homem”. Carlos Alberto não se esquivou de responder às perguntas sobre seu relacionamento com Andréa e acenou com uma possível reconciliação. “Você fica na sua casa e eu na minha. E vamos ser namorados”, falou sobre sua proposta a ela. Depois de admitir que os filhos são seu ponto fraco, Carlos Alberto falou sobre os novos talentos do humor. “Além dos humoristas da Praça, gosto do Marcius (Melhem) e do Adnet (Marcelo)”, disse.


BOLA NA ÁREA ANALISA
JOGO DO BRASIL NA COPA

Bola na área, hoje, na TV Alterosa, comenta o jogão de ontem na partida decisiva entre Brasil e Colômbia. O apresentador Péricles Souza, com representantes da Rádio Itatiaia, analisa o resultado, os principais lances e a próxima fase da Copa do Mundo.


REMAKE DE A VIAGEM EM
REPRISE NO CANAL VIVA

Estrelado por Christiane Torloni e Antônio Fagundes, estreia dia 14, no canal Viva (TV paga), o remake da novela A viagem, grande sucesso exibido na Globo em 1994. Ela substituirá a reprise de A próxima vítima. Também integram a trama, entre outros, Guilherme Fontes, Laura Cardoso, Maurício Mattar, Andréa Beltrão, Lucinha Lins, Miguel Falabella, Cláudio Cavalcanti e Yara Cortes. O tema trata da vida depois da morte.


ELENCO ASSISTE A ÚLTIMO
CAPÍTULO NA ARGENTINA

O último capítulo da novela Avenida Brasil (Globo), que repete na Argentina o mesmo sucesso que fez no Brasil, será exibido, segunda-feira, em local público, no Luna Park, em Buenos Aires. O evento, realizado pela TV argentina Telefé, terá ares de cerimônia e contará com tapete vermelho. Além disso, receberá alguns atores da trama de João Emanuel Carneiro, como Cauã Reymond, já confirmado, que interpretou Jorginho. Especula-se que da lista de celebridades esperadas pelos fãs estejam, ainda, Débora Falabella (Nina), Adriana Esteves (Carminha), Murilo Benício (Tufão) e Max (Marcello Novaes).


STÊNIO GARCIA FALA SOBRE
A TELONA NO CINEJORNAL

O ator Stênio Garcia é o convidado do Cinejornal deste sábado, às 21h, no Canal Brasil (TV paga). Ele comemora 50 anos de carreira em 2014 e fala sobre seu próximo filme, O beijo no asfalto, que marca a estreia do ator Murilo Benício na direção. O ator de 81 anos comentou sobre longa, que é baseado na peça de Nelson Rodrigues: “É um projeto interessante do Murilo. Tem o Andrucha (Waddington), um diretor de cinema, e o Amir Haddad, que tem uma visão teatral. Essa junção vai deixar o filme com uma linguagem teatral e cinematográfica ao mesmo tempo. Vou aprender muito nesse longa-metragem, afirma. Sobre os planos para o futuro, Stênio diz que vai dirigir filmes para a telona: “Eu vou acabar dirigindo cinema. Teatro e televisão eu já fiz. Dentro da minha participação na sétima arte, acho que posso tranquilamente me aventurar nesta outra importante função. Ainda mais com os excelentes profissionais que temos hoje.”


PAPO É COM A MARROM

A cantora Alcione participa do Sem censura desta segunda-feira, às 16h, na Rede Minas e TV Brasil. Ela conta detalhes sobre o novo álbum, Eterna alegria ao vivo, e lembra histórias de carreira. O novo disco nasceu de um bate-papo com a irmã e produtora Solange Nazareth. A proposta do espetáculo é privilegiar, segundo a cantora, as várias vertentes do samba. Alcione comenta ainda que a gravação do CD e DVD ocorreu em 21 de novembro do ano passado, exatamente no dia do seu aniversário, em um momento de grande euforia. Para realizar o álbum, a compositora maranhense reuniu amigos e convidados ilustres, entre eles Zeca Pagodinho, Djavan e a dupla Vitor e Léo. No disco, Alcione canta 25 composições de grandes nomes da música brasileira como Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Ana Carolina, Xande de Pilares, Serginho Meriti, Altay Veloso e Sereno, do Grupo Fundo de Quintal. Além do novo trabalho, a Marrom fala sobre as ações voluntárias que desenvolve na comunidade da Mangueira, onde fica a tradicional escola de samba verde e rosa do Rio de Janeiro.




VIVA

Série Morar, do GNT (TV paga). Linda!


VAIA


 Filmes para lá de reprisados na TV paga.

Todo o poder da uva bordô‏

Todo o poder da uva bordô
Estudo aponta que casca e semente da fruta, transformadas em pó, podem gerar benefícios para a saúde humana, combatendo radicais livres e inibindo o protozoário da leishmaniose

Luciane Evans
Estado de Minas: 05/07/2014


O engenheiro de alimentos Volnei de Souza quis trabalhar com subprodutos da fruta, transformá-los em pó e, a partir daí, avaliar sua atividade antioxidante (Arquivo pessoal)
O engenheiro de alimentos Volnei de Souza quis trabalhar com subprodutos da fruta, transformá-los em pó e, a partir daí, avaliar sua atividade antioxidante

No Brasil, ela não está em supermercados nem nas feiras. Sua cor e gosto fortes atraíram aqui os produtores de vinhos e sucos caseiros e, assim, a uva bordô, originária dos Estados Unidos, está desde o século 20 na mesa dos brasileiros. Porém, seu colorido esconde um tesouro muito além do paladar: pigmentos funcionais. Na maioria das vezes dispensados durante o processo de fabricação de vinhos, as cascas e as sementes da fruta, transformadas em pó, apresentam alto potencial antioxidante que protege o corpo dos efeitos prejudiciais dos radicais livres, tem poder antibacteriano e até mesmo capacidade de inibir a enzima arginase, associada ao metabolismo e à reprodução da Leishmania, protozoário causador da leishmaniose.

Essa nova face da uva bordô é conclusão de estudo da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP), em Pirassununga, interior paulista. De autoria do engenheiro de alimentos Volnei Brito de Souza, a dissertação de mestrado teve como objetivo trabalhar com os subprodutos da fruta, obtendo deles um pigmento em pó que pode ser usado pelas indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. Os artigos foram publicados em periódicos científicos holandês e inglês. “Para a análise, conseguimos no interior de São Paulo cerca de 50 quilos de cascas e sementes da fruta, mas nem tudo foi usado. Essa espécie de uva é tinta, tem uma cor roxa mais forte, gosto amargo e é conhecida por ser rica em pigmentos, que se chamam antocianina”, afirma Volnei.

O pigmento, presente em todas as uvas, exceto nas brancas, de acordo com o pesquisador, é responsável por dar cor à fruta e está presente na casca dela. “Aqui no Brasil, essa espécie frutífera é mais usada na produção de vinhos e sucos, e não é muito consumida in natura, já que dá uma sensação amarga na boca. Aquelas que consumimos, geralmente, têm menos pigmentos e não têm um roxo tão intenso”, compara. A primeira etapa do estudo teve como objetivo retirar esse pigmento da casca com a ajuda de um solvente líquido, composto por uma mistura de etanol e água. “Na semente não há pigmentos, mas há nutrientes que seriam essenciais para a nossa pesquisa”, esclarece Volnei.

Depois de triturar as sementes e cascas, ele adicionou o solvente. “Agitamos o material durante três horas. Depois o filtramos, para ter em mãos somente o extrato. Como o obtivemos em forma líquida, a intenção era transformá-lo em pó. Para isso, usamos um equipamento chamado atomizador, muito usado na indústria para produzir leite em pó”, detalha. É por meio de um processo de secagem que a máquina, rapidamente, faz a transformação. Porém, segundo o pesquisador, no caso da pesquisa, o extrato em análise continha um teor muito baixo de sólido, o que levou o estudioso a adicionar um carboidrato chamado maltodextrina, um açúcar obtido do amido e que ajuda no processo de secagem.

CAPACIDADES A partir do pó pronto, o pesquisador passou a analisar a capacidade da substância. O primeiro teste foi avaliar a estabilidade do pigmento e, para isso, segundo Volnei, o pó foi armazenado durante 120 dias em diversas condições de temperatura e umidade. “Percebemos que quanto maior a quantidade de maltodextrina, menor era degradação que o produto sofria. Ou seja, o carboidrato servia como proteção para o pó”, esclarece. Outra avaliação foi a atividade antioxidante da mistura. “Por meio de uma análise in vitro , avaliamos se o pigmento seria capaz de inibir os radicais livres. E o resultado foi positivo, o que indica que ele pode ser usado em produtos voltados para benefícios da saúde, tanto para tratamentos de câncer quanto para cosméticos”, aponta o engenheiro de alimentos.

Outro ponto levantado é a capacidade antibacteriana que o pigmento apresenta. Segundo Volnei Souza, há bactérias que causam problemas quando presentes em alimentos, as chamadas bactérias patogênicas. “Elas causam infecção e intoxicação alimentar. Testamos, então, o poder do pigmento de inibir quatro bactérias e conseguimos um resultado positivo para duas delas, a Staphylococcus aureus e a Listeria monocytogenes, relacionadas a infecções de origem alimentar”, revela Volnei. Ele diz que essa atividade antimicrobiana pode ser aproveitada, por exemplo, para inibir o crescimento dessas bactérias em diferentes produtos alimentícios.

As amostras ainda tiveram alta inibição da atividade da enzima arginase, associada ao metabolismo e à reprodução da Leishmania, protozoário causador da leishmaniose. “O pigmento poderia ser testado na produção de alguma droga para o tratamento da doença”, sugere o pesquisador, concluindo que o pigmento obtido no estudo poderia substituir os corantes sintéticos, que podem ser tóxicos. “O pigmento é natural, solúvel em água, não tem gosto e remete à uva por causa da cor roxa. Pode ser empregado em bebidas, iogurtes e cosméticos, entre outros”, acrescenta. O trabalho contou com a colaboração do professor Edson Roberto da Silva, da FZEA, e da professora Maria Inés Genovese Rodriguez, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.

RICAS EM ANTIOXIDANTES

Não só a uva bordô, mas todas as uvas escuras são benéficas para a saúde, conforme comenta a coordenadora do curso de nutrição do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), Sabrina Fabrini. “Quanto mais escura é a casca, maior é seu poder antioxidante”, diz. Reconhecendo que a uva bordô não é tão usada pelos brasileiros, ela indica para uma alimentação saudável o uso do suco dessa uva, já que o vinho tem álcool. A nutricionista afirma que para uma dieta balanceada, 100 gramas de uva rubi, encontrada com facilidade em supermercados e feiras, contêm cerca de 70 calorias. “A uva não é uma fruta calórica. É rica em vitamina dos complexos B e C, é fonte de carboidrato, além de conter potássio, fósforo e magnésio. As uvas-passa, por exemplo, são uvas concentradas e contêm muitas fibras. O ideal é que sejam consumidas, no máximo, 10 unidades por dia”, indica. 

MUITO ALÉM DO PALADAR

Conheça os benefícios da casca e da semente da uva bordô, de acordo com estudo da USP:

Antioxidante: o pigmento apresentou, entre suas propriedades funcionais, capacidade antioxidante,
que protege o corpo dos efeitos prejudiciais dos radicais livres (substâncias geradas no organismo, responsáveis por reações que prejudicam as células).

Antibacteriana: o pigmento foi testado contra a ação de quatro bactérias patogências, conseguindo inibir o crescimento de duas delas: Staphylococcus aureus e Listeria monocytogenes, relacionadas a infecções de origem alimentar.

Leishmaniose: o pó teve alta inibição da atividade da enzima arginase, associada ao metabolismo e à reprodução da Leishmania, protozoário causador da leishmaniose.  

Mejor que Pelé uma ova! ARNALDO VIANA‏

Mejor que Pelé uma ova!
ARNALDO VIANA - arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 05/07/2014


Sentemo-nos no divã. Não necessariamente para uma consulta, um desabafo diante de um profissional da mente. Sentemo-nos para mera reflexão sobre os gratos ensinamentos proporcionados por esta ocorrência chamada Copa do Mundo. Comecemos assim: se o Brasil mostrar ao planeta que é mesmo o melhor no futebol, será bom, muito bom. Caso contrário, sairemos também vencedores. O mundo está nos mostrando que não somos apenas uma pátria calçada de chuteiras com uma bola no lugar da cabeça. Temos muito mais a mostrar do que imaginávamos. A invasão estrangeira em BH se surpreende com uma cidade mais atraente do que aquela que imaginávamos. Cara feia para o cheirinho da Pampulha, nunca mais! O que há acima do espelho d’água é esplêndido. Desdenhar do Mercado Central, nunca mais também! E da Savassi, da Praça da Liberdade? E o olhar gringo se espalha por grutas, serras, casarões, quitandas e quitutes. Bom aprendizado. Quem viaja mundo afora é apresentado a cada coisa chamada de atração turística que não faz nenhuma inveja a um pedregulho do cerrado. Então, mineiro, a beleza do Brasil não se encerra no Corcovado e no Pão de Açúcar.

O divã é também para o brasileiro refletir sobre ídolos. Para os argentinos, pouco importa se Maradona cheirou cocaína ou se fala bobagens (e como fala!). É o herói deles no futebol. Brilhante! Condutor da seleção na conquista do bicampeonato mundial, no México, em 1986. Pouco lhes importa o homem com as imperfeições inerentes. O brasileiro age diferente. “Viu o Pelé? Tem o filho envolvido com drogas!” É inadmissível o homem que foi aclamado atleta do século 20 ter alguém com tal fraqueza na família. “E o Pelé, hein? Não quis reconhecer a filha!” Negaram-lhe o direito à dúvida, por ser o rei do futebol. “Que decepção, o Pelé. Só fala bobagem na política!” Pelé, além de jogador de futebol, tinha de ser cientista político. O que deveria ser Pelé para o brasileiro, afinal? Apenas o herói de mais de mil gols, cada um mais bonito que o outro, tricampeão mundial com a camisa canarinho, o brasileiro mais famoso no mundo, no tempo em que não havia internet, celular e TV a cabo. O craque que fez um país africano suspender uma guerra civil por três dias só para vê-lo jogar. Mas é apenas Pelé a vítima da decepção brasileira. “O Romário, que pula de mulher em mulher?” “O Ronaldo, flagrado num motel com travestis?” “Garrincha, o alcoólatra que abandonou as filhas para ser amante de uma cantora?” “E o antipático do Nelson Piquet?” O Ayrton Senna, tricampeão da F-1, como é o Piquet, é adorado, acima de todas as coisas, porque não viveu o bastante para ser imperfeito como são todos os outros humanos. Ídolo no Brasil tem que ser tipo que a mamãe sonha como genro.

Os argentinos descobriram nossa fraqueza de aceitação e estão enchendo o saco em ruas e praças com o tal de “Maradona es mejor que Pelé!”. E deve ser mesmo. Na concepção deles, sim. Maradona não tem defeitos. Não o craque. Pelé, pelo contrário, é cheio deles, porque misturamos o jogador com o homem. Quando marcou o milésimo gol, Pelé pegou a bola no fundo das redes e pediu ao país para olhar melhor suas criancinhas. Chamaram-no de demagogo. “Ele é que tinha que cuidar das crianças, porque ganha muito dinheiro!” Ora, ele estava apenas, com o foco de todo o país naquele momento, fazendo um pedido de uma política social e educacional intensa voltada para a infância. Se o apelo fosse atendido, a realidade seria outra. Ah, deixem o Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, ser ídolo em paz.

Reflexão do Negão: Novos viadutos, passarelas e afins. Passar por cima ou por baixo? Tô fora!

Eduardo Almeida Reis-Pandegando‏

Tudo é esquisito, muito esquisito, num tribunal de contas, a começar pela maioria dos conselheiros em todos os estados, sem olvidar os ministros do Tribunal de Contas da União


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 05/07/2014





Como sabe o leitor, pandegando é o gerúndio do verbo pandegar, viver em pândegas como vivem os tribunais de Contas de um país grande e bobo. Ainda quando aqui ou ali, eventualmente acolá, seja possível encontrar cavalheiros e damas capacitados e bem-intencionados procurando trabalhar honestamente, o conjunto da obra é pândego.

Agora em maio os telejornais nos mostraram alguns dos bens imóveis de um conselheiro do TCESP, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, cavalheiro que recebe por mês pouco mais de R$ 26 mil e deve gastar perto disso na manutenção de cada um dos seus muitos imóveis. Não é fácil ter acesso ao saldo de suas contas nos paraísos fiscais, mas as assinaturas daqui coincidem com as fichas dos bancos paradisíacos, como deu para perceber nos jamegões mostrados pela tevê.

Tudo é esquisito, muito esquisito, num tribunal de Contas, a começar pela maioria dos conselheiros em todos os estados, sem olvidar os ministros do Tribunal de Contas da União. Quais são os critérios de escolha? Quem escolhe? Por que escolhe? Quem elege? Por quê?

O fenômeno é contagiante e se estende aos funcionários concursados e/ou apaniguados. No TCMG – e Minas é estado menos incivilizado que os outros – vi coisas do arco da velha, como por exemplo: um conselheiro analfabeto de pai e mãe, sem prejuízo do seu próprio analfabetismo pessoa física. Deve ser carismático, pois o carisma tem sido usado para explicar a eleição de outro analfabeto para cargo muito mais importante do que o de conselheiro do TCMG.

Releva notar que carismáticos eram Lampião, Hitler, Mao, Ceausesco, Benito Amilcare Andrea Mussolini, Pol Pot, Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, e tantos outros do mesmo naipe, donde se conclui que é melhor não concluir nada e não acreditar na inviolabilidade das urnas eletrônicas.

Hebdomadário


O vestibular da Nacional de Direito, no Rio, tinha provas escritas e orais. Em francês, pediam a tradução de autor moderno. Até hoje não falo uma palavra de francês, mas estudei Françoise Sagan (1935-2004), que tinha publicado Bonjour Tristesse aos 18 aninhos com enorme sucesso: “Sur ce sentiment inconnu dont l'ennui, la douceur m'obsèdent, j'hésite à apposer le nom, le beau nom grave de tristesse”.

Pensei que fosse autora moderna e caiu na prova a tradução de um trecho de Balzac (1799-1850), que falava de uma “fête hebdomadaire” nos arredores de Paris. Mesmo para um analfabeto em francês, a tradução era fácil, mas empaquei no “hebdomadaire”. Julgando improvável a existência de camelos e dromedários nos subúrbios parisienses, mantive “hebdomadaire” na tradução, explicando no final da lauda: “Hebdomadaire é palavra muito usada na França, principalmente nos arredores de Paris, e significa esquisito, inusual, incomum”. Voltando para casa, fui ao dicionário e descobri que “hebdomadaire” é semanal. Portanto, no subúrbio parisiense a festa era semanal. Tirei 6 na prova escrita.

Dias depois a prova oral, anfiteatro imenso, centenas de vestibulandos, três professores sentados na banca lá embaixo. Fui dos primeiros sorteados. Levantei-me de terno e gravata, lá em cima, e gritei para os professores-doutores: “Aqui vai o homem do hebdomadaire”. Os três caíram na gargalhada. Minha “tradução” tinha circulado entre eles. Conversamos sobre os mais diversos assuntos, menos sobre a língua oficial da França: os três já sabiam da minha ignorância. Tirei 10.

Provas orais são muito perigosas. Aluno desembaraçado leva os professores na lábia. Tirei 10 em diversas disciplinas no vestibular da Faculdade do Catete. Em vez de responder às perguntas, elogiava as obras publicadas pelos examinadores. Obras que nunca li, mas sabia os nomes dos autores. Na prova de medicina-legal – especialidade médica que aplica conhecimentos médicos na resolução de questões jurídicas –, quando o professor Hélio Gomes perguntou se o sujeito, querendo, pode ficar maluco, respondi que sim. “Como?” perguntou o mestre. E o aluno engravatado: “Comprando um carro velho”. Opinião de um vestibulando que havia comprado, um mês antes, um Cadillac 47, hidramático, que chegava aos 135km/h na Praia de Ipanema sem o menor compromisso com a estabilidade e vivia enguiçando, sem falar da noite em que pegou fogo na porta do melhor rendez-vous do Rio. Graças ao carro velho tirei 10 em medicina-legal.

O mundo é uma bola

5 de julho: faltam 179 dias para acabar o ano e oito dias para acabar a Copa das Copas. Em 1687, publicação dos Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, de Isaac Newton (1642-1727), que tomava conta da fazendinha de sua mãe e vivia no mundo da lua próximo do seu alto filosofar. Em 1811, independência da Venezuela, o primeiro país da América do Sul a livrar-se da Espanha. Decorridos 203 anos, a Venezuela está nas mãos de Nicolás Maduro e falta papel higiênico. Pobre país.

Em 1914, portanto há exatos 100 anos, o aviador Eduardo Pacheco Chaves faz o primeiro voo de São Paulo para o Rio de Janeiro em seis horas e meia. Monoplano Bleriot, velocidade média: 80 km/h.

Ruminanças

“Não foi Chesterton quem escreveu que o avião faz encolher o mundo e que o microscópio o engrandece?” (Paul Morand, 1888-1976). 

Tecnologia a favor da água‏

Agricultura deve buscar soluções tecnológicas ante ameaça de escassez

Marcos Balbi
Engenheiro-agrônomo, especialista em gestão estratégica em serviço pela FGV, consultor na Olearys S/A
Estado de MInas: 05/07/2014



Que a água é essencial todos sabem, mas só valorizamos esse líquido poderoso quando sentimos na pele a falta que ele nos faz. A pouca incidência de chuvas nos últimos meses e o intenso calor em alguns municípios brasileiros têm piorado cada vez mais a situação dos reservatórios de água. E mesmo sendo dono do maior potencial hídrico do mundo, o Brasil corre grandes riscos de chegar ao próximo ano com problemas de abastecimento. Segundo levantamento realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o governo deverá investir R$ 22 bilhões para evitar a escassez no futuro. A demanda de água no Brasil é direcionada, basicamente, para quatro finalidades: agricultura, produção de energia, usos industriais e consumo humano. Porém, a agricultura é a atividade que faz uso intensivo desse recurso natural, o que corresponde a 70%.

De acordo com o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos – documento principal da ONU Água –, as estimativas de consumo mundial de água para a agricultura são de 19% até 2050, que poderá crescer ainda mais, caso não ocorra uma melhoria no rendimento dos cultivos e a eficiência da produção agrícola. Além disso, a maior parte desse aumento de uso da água para irrigação ocorrerá em regiões já afetadas pela escassez de recursos hídricos. A gestão com responsabilidade da água para fins agrícolas contribuirá fortemente para a segurança desses recursos do planeta. Diante desse cenário e no que diz respeito à melhoria da qualidade de vida mundial, além de, consequentemente, economia de água, algumas tecnologias estão sendo aplicadas na busca de soluções sustentáveis. Um bom exemplo é a área da agricultura, cuja finalidade da inserção de equipamentos tecnológicos é possibilitar que o agricultor realize irrigações no campo, reduzindo energia e, ao mesmo tempo, potencializando a produção sem perder qualidade na colheita. A tecnologia empregada no campo é, sem dúvida, um caminho sem volta não só para economizar água, mas também para monitorar o clima, diminuir o uso de agrotóxicos e prevenir contra doenças e pragas, que a cada ano, a cada safra, trazem para os agricultores prejuízos incalculáveis. Isso significa que as culturas que vão sofrer menos serão aquelas que utilizarem tecnologia avançada, rompendo com paradigmas de hábitos e costumes passados de geração em geração.

A percepção do novo empresário rural terá que ser alinhada ao que há de melhor em termos de tecnologia que possa ser agregada ao dia a dia do campo. Enfim, a real iminência da escassez de água será, sem trocadilhos, um divisor de águas não só para o setor agrícola, mas para toda a sociedade e cadeia de produção dos mais variados segmentos. E a tecnologia certamente se apresenta como uma das principais aliadas na busca de soluções efetivas.

PARTIDA VIRTUAL » David Luiz agita as redes‏

PARTIDA VIRTUAL » David Luiz agita as redes Zagueiro brasileiro marca gol, rouba a cena durante o jogo e cai nas graças do torcedor

Shirley Pacelli
Estado de Minas: 05/07/2014


O zagueiro da Seleção Brasileira foi comparado a personagens da série The Simpsons%u2026. ( Twitter/Reprodução)
O zagueiro da Seleção Brasileira foi comparado a personagens da série The Simpsons%u2026.

Tudo estava programado: no campo, Neymar e James Rodríguez duelariam nas quartas de final entre Brasil e Colômbia. No palco virtual, inventado pelos torcedores conectados, o combate seria travado entre as cantoras Joelma e Shakira. Mas o zagueiro David Luiz não quis saber de pré-acordos e roubou a cena durante o jogo, marcando um lindo gol de falta.

Durante a partida, 580 mil tuítes utilizaram o termo “David Luiz”, de acordo com dados do Topsy, ferramenta de análise da rede social. Até mesmo os colombianos reconheceram os méritos do atleta e, usando a hashtag #golazo, elogiaram a jogada. Segundo o Twitter, o momento da cobrança do brasileiro foi o mais tuítado da partida, com 259.352 posts por minuto.

Pra fechar sua atuação com chave de ouro, o zagueiro ainda consolou o colombiano James Rodríguez no fim do jogo e pediu à torcida que o aplaudisse. O gesto de respeito mereceu lugar de destaque no Trending Topics da rede social. Na verdade, muitos internautas se atentaram mais para a troca simultânea de camisas entre os jogadores do que para a solidariedade do zagueiro.

Memes dos mais variados surgiram na rede com David Luiz. A maioria brincava com a farta cabeleira loira, fazendo referências a marcas de xampu e comparações a um personagem da série The Simpsons e até coqueiros em meio a uma tempestade.

No início do jogo, os internautas não economizaram nos conselhos ao técnico Felipão e sugeriram que ele mandasse o Fred para a zaga e deixasse o David no ataque. Muitos chegaram a implorar a presença da jogadora Marta, que estava na arquibancada, no lugar de Fred.
O gol marcado por Thiago Silva também rendeu diversos comentários na web. A maioria deles dizia que sem choro o capitão sabia marcar. Neymar também não escapou de virar piada depois de levar um tombo em campo na comemoração da equipe com o primeiro gol. Virou gif animado e ganhou criativas versões, compartilhadas sob a hashtag #FailNeymar.

MUSA Uma colombiana que assistia à partida no estádio virou musa do jogo ao se surpreender com sua imagem no telão. Bastou a cantora pop Rihanna postar a cena em seu Twitter com a hashtag #colombiancute (colombiana fofa) para a jovem ganhar menção em todos os perfis. Muitos brasileiros espertinhos escreveram que a Seleção poderia voltar para a Colômbia, que eles acolheriam a bela em casa.

ZONA MISTA » Agora é clássico mundial

Kelen Cristina, » Com Braitner Moreira e Paulo Galvão
Estado de Minas: 05/07/2014


 (Luciana Whitaker/Reuters %u2013 16/2/06)


 “Semifinal do Mundial. Belo Horizonte vai ferver!!!”, avisou o volante Fernandinho, em sua conta no Instagram, em foto ao lado do lateral Marcelo, assim que terminou a dramática partida entre Brasil e Colômbia, no Castelão. A vitória por 2 a 1 sobre os Cafeteros garantiu à Seleção de Felipão seu primeiro confronto com peso de clássico mundial na Copa, terça-feira, contra a Alemanha, no Mineirão. Pensa que os alemães secaram os donos da casa, para fugir da pressão? Nada disso! Antes de a bola rolar em Fortaleza, o volante Schweinsteiger logo revelou sua torcida pelas redes sociais. “Vamos, Brasil”, escreveu, assim, em português. Capitães das equipes na década de 1970, Carlos Alberto Torres e Beckenbauer também se esbarraram na internet. “Parabéns à Alemanha, agora é ver quem estará na semifinal”, postou o Kaiser. O brasileiro devolveu de primeira: “Espero te ver na semifinal!”. Tão logo foi confirmada a passagem do Brasil à próxima fase, o atacante da Seleção Germânica Podolski tuitou: “Alemanha x Brasil. Melhor, impossível. Nos vemos em Belo Horizonte…”. O duelo perdeu um pouco de brilho, com o desfalque de Neymar – diagnosticado com uma fratura na terceira vértebra. Mas será, certamente, outro teste para corações fortes.


Com a bênção do presidente

Pela primeira vez neste Mundial, o presidente da Confederação Brasileira do Futebol (CBF), José Maria Marin, foi para o estádio no ônibus dos jogadores. O cartola foi o segundo a descer do veículo, logo depois do técnico Luiz Felipe Scolari. Enquanto a comissão técnica seguiu para o vestiário, Marin permaneceu parado, esperando que os atletas descessem. Cumprimentou todos, um a um, com um abraço.


Vermelho que deu azar
A “febre amarela” da Colômbia contagiou os estádios pelos quais os Cafeteros passaram. Ontem, em Fortaleza, porém, a torcida decidiu abraçar o time e boa parte dela vestiu a camisa vermelha, uniforme reserva usado pela primeira vez pela equipe em uma Copa desde 1990. Depois da derrota, muitos devem ter se arrependido de ter aberto mão do amarelo...


Na bronca
Argentinos e mexicanos se notabilizaram nesta Copa pela animação, fazendo festa não só nos estádios, mas também nas ruas das cidades por onde passaram. Os comerciantes do Rio, porém, não viram muita graça nos hermanos. “Eles fazem muito barulho, mas gastar dinheiro que é bom, nada”, disse o dono de um tradicional bar de Copacabana. “Quem deve ter gostado são os donos de supermercados e padarias,  pois eles compraram muito pão, queijo e presunto. Só comem isso”, afirmou  outro comerciante.


Revolta…
Poucos minutos depois de ser confirmada a lesão de Neymar, o colombiano Zúñiga – autor da joelhada que machucou o jogador brasileiro – teve seu perfil na versão em português da Wikipédia (página de conteúdo colaborativo) modificado de forma radical. Na descrição do atleta, a seguinte definição: “Futebolista colombiano criminoso safado que devia ser preso e apedrejado, que atua como lateral. Atualmente, joga pelo Napoli”. Depois de 10 minutos no ar, a descrição foi alterada, limitando-se a informar origem, posição e clube de Zúñiga.


… e corrente
A hastag #ForçaNeymar liderou os Trending topics (lista de assuntos mais comentados) do Twitter ontem à noite, tão logo a notícia se espalhou. E não foi apenas no Brasil. Na Argentina, paradoxalmente à propalada rivalidade entre os países, o corte do brasileiro também causou comoção, com a hashtag sendo traduzida para o espanhol:  #FuerzaNeymar. Não faltaram, ainda, ironias. Uma torcedora se lembrou do episódio de Os Simpsons que mostrou Homer no Brasil apitando um jogo de Copa. Em uma das cenas, Neymar aparece caído no campo, durante Brasil x Alemanha, no Itaquerão, pela final do Mundial. A intenção dos roteiristas foi levar para a telinha a fama de cai-cai do brasileiro. Mas não deixou de ser uma coincidência, no mínimo, macabra.

COLUNA DO JAECI » Brasil x Alemanha.‏

COLUNA DO JAECI » Brasil x Alemanha. 

Agora na semifinal "Vencemos e despachamos a zebra. Contra a Alemanha, não existe favorito. Vamos ao Mineirão na terça-feira, torcer e acreditar no Brasil" 
 
Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 05/07/2014


Foi no sufoco, na raça, na vontade. Brasil nas semifinais, apesar de Felipão, técnico ultrapassado, sem nada de novo a apresentar. Mas, como escrevi na quinta-feira, a Colômbia não tem tradição e jamais iria para cima. James Rodríguez, artilheiro da Copa, até fez seu gol, de pênalti, mas, bem marcado, nada pôde fazer, assim como Neymar. Vamos pegar a Alemanha, em sua 13ª semifinal, com time pragmático e de muita força. Prevaleceram a força e a camisa brasileira, com futebol ruim, mas de boa marcação. A entrada de Maicon no lugar da Avenida Daniel Alves deu resultado, os problemas por aquele setor acabaram.

Não foi um grande jogo. Tanto que os goleiros foram pouco acionados. As equipes se respeitaram demais. O Brasil foi pragmático, como tinha de ser, e até imitou o futebol alemão. O que importa é que está na semifinal e tem a chance de disputar o título, embora a Alemanha não seja a Colômbia. Tem tradição, três títulos e sabe que é a última chance de consagrar o técnico Joachim Löw, há oito anos no cargo. Neymar saiu machucado e está fora da competição. Como o Brasil venceu sem a participação dele, pode continuar assim.

Mas a Copa é aqui. Apostei em Alemanha, Argentina, Holanda e Espanha nas semifinais. Errei uma e posso acertar três. Sobre o jogo de ontem, de muita marcação, os craques não jogaram e ele foi decidido em três bolas paradas, como dizem os treinadores. Um escanteio para o Brasil determinou o gol de Thiago Silva. O de David Luiz foi de falta. E o de James Rodríguez, de pênalti. Escrevi que se a Colômbia nos respeitasse, seria eliminada. Não deu outra. Felipão, por determinação do presidente da CBF, José Maria Marin, trocou Daniel Alves por Maicon, que marca mais, apoia com maior determinação e neutralizou as opções ofensivas do adversário.

Nesta reta final, não há jogo bonito. Como jamais chegou às quartas, a Colômbia sentiu o peso da camisa rival. O Brasil não teve grande atuação, mas fez o suficiente para chegar às semifinais. Pela primeira vez em Mundiais, pegamos a Alemanha na final de 2002. Agora, será na semifinal. Duas seleções de camisa, tradição e títulos, e a que for mais competente vai chegar à final. Os alemães tiveram essa chance em casa, em 2006, mas não resistiram à Itália.

Terça-feira, no Mineirão. O Brasil, mesmo com time fraco, chegou lá e, se melhorar um pouco, pode até ir à final. Há quatro anos aposto em Alemanha x Argentina. Jamais acreditei nos brasileiros. Hoje, contra a Bélgica, não tenho dúvidas de que os argentinos vão passar. Acho que vão pegar a Holanda na outra semifinal. Os holandeses podem perfeitamente vencer os hermanos.

Vencemos e despachamos a zebra. Contra a Alemanha, não existe favorito. Vamos ao Mineirão na terça-feira, torcer e acreditar no Brasil. Não estamos jogando bom futebol, mas quem está? A torcida quer ver o Brasil campeão, em casa. Nada mais justo. Mesmo que ele não ande jogando futebol de primeira. E quem está? Já escrevi aqui e disse no meu Alterosa no ataque: não há uma seleção referência nesta Copa. Jogar em casa é uma vantagem. Vamos torcer para chegarmos à final. Sinceramente, acho difícil passarmos pela Alemanha, mas não custa tentar.

PELO MUNDO » Contusão domina as manchetes‏

PELO MUNDO » Contusão domina as manchetes Problema de Neymar e despedida honrosa da Colômbia recebem destaque internacional

Estado de Minas: 05/07/2014

O ponto final à participação do atacante Neymar na Copa do Mundo’2014 rapidamente tomou conta da imprensa internacional, que deu destaque à lesão na terceira vértebra da coluna do principal jogador da Seleção Brasileira. O site do diário espanhol Mundo Deportivo, de Barcelona, foi dramático ao relatar o ocorrido com o jogador do Barça: “De dúvida a baixa absoluta. Uma mau presságio se acentuou quando Luiz Felipe Scolari disse na sala de imprensa que seria difícil contar com o jogador. Minutos mais tarde, a confirmação de que ele estava fora do resto do mundial”, explicou.

O Diário Olé, da Argentina, conhecido pela ironia no tratamento aos brasileiros, também mudou sua notícia principal rapidamente. A manchete provocativa “Seguem chorando...”, que falava da dificuldade do Brasil para avançar à semifinal, foi substituída pela “É para chorar”, contando o drama do brasileiro. “Levaram Neymar para o hospital, diagnosticaram a lesão e está fora da Copa. O Brasil está sem sua principal figura”, dizia a matéria.

Os principais jornais europeus também comentaram a perda. O italiano Corriere dello Sport afirmou “Fim do Mundial para Neymar”. O Bild, da Alemanha, próximo rival do Brasil, chamou a atenção para a lesão do principal jogador da Seleção Brasileira: “Brasil vence! Mas preocupações com Neymar”.

ORGULHO E RECLAMAÇÃO “Obrigado, minha Seleção. A melhor da história. Colômbia, eu te amo”. Desta forma, o site do jornal El Tiempo, o principal do país vizinho, tratou a derrota da Colômbia para o Brasil, por 2 a 1, ontem, no Castelão, que deu fim à melhor campanha dos Cafeteros na história das Copas: “Tricolor sai do Mundial, mas cumpriu o sonho de gerações. Voltou a fé”. O periódico, no entanto, não deixou de criticar a atuação do árbitro espanhol Carlos Velasco: “com arbitragem discutida, Brasil venceu”.

A crítica à arbitragem – que economizou nos cartões amarelos e anulou um gol de Mario Yépes, por impedimento no início do lance –, foi endossado pelo maior ídolo do futebol no país, Falcao Garcia, que ficou fora do Mundial por lesão. “Para a próxima partida, entrem em acordo para chamar o árbitro, que hoje não veio”, escreveu em sua conta no Twitter. A popular rádio Gol Caracol, por sua vez, destacou: “Colômbia se despediu de cabeça erguida.”