domingo, 25 de novembro de 2012

14 versos - Nelson Ascher

Nelson Ascher : "14 versos"

Não zombes, crítico, da forma 
que, além de poetas como Dante, 
Quevedo ou Mallarmé durante 
os séculos quando era a norma,

Púchkin, narrando com mestria 
um duelo em seu Ievguêni Oniéguin
(num duelo desses morreria),
usou como outros não conseguem.

Sem rejeitar a própria era,
Drummond e Rilke, todavia,
levaram o soneto a extremos

de perfeição e, em sua cegueira,
Borges também, conforme via
mais do que nós, que vemos, vemos.

ASCHER, Nelson. Parte Alguma. Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.





via http://antoniocicero.blogspot.com.br/

Retrocesso - Tostão


Retrocesso


A dispensa de Mano Menezes é um retrocesso. Em dois anos, ele acertou mais que errou. Acertou, principalmente, na concepção de jogo coletivo. Errou, principalmente, em algumas convocações e escalações.
A seleção principal tem marcado por pressão, comandado as partidas, jogado com a bola no chão e com mais troca de passes, que era o estilo brasileiro. O time não deu um chutão contra a Colômbia. Provavelmente, vai entrar um técnico tradicional, desses que ajudaram na transformação do estilo brasileiro, que gostam de chutões, de pegada, de jogadas aéreas, de volantes brucutus, de marcar mais atrás para contra-atacar e de um centroavante parado, esperando a bola.
Mano estava certo em deixar o centroavante fixo como opção. O ataque da seleção principal ficou mais imprevisível, envolvente e com mais mobilidade. Além disso, não existe, no Brasil, um típico e excepcional centroavante, para o nível de uma seleção brasileira. Fred é hoje o melhor. Não adianta também ter um artilheiro, e o ataque jogar mal.
Mano Menezes também cometeu erros. Se o Brasil quiser ganhar de uma grande seleção, o que não ocorreu sob o comando do técnico, não pode ter dois jogadores no meio- -campo e quatro só no ataque. Vira o antigo 4-2-4 dos anos 1950. Um meia de cada lado tem de marcar o lateral adversário. Isso não ocorreu ante a Colômbia e em outros jogos.
Na final da Olimpíada, inexplicavelmente, trocou Hulk pelo lateral Alex Sandro, para ser o secretário de Marcelo. Quando percebeu o erro, já era tarde. Contra a Colômbia, escalou Thiago Neves e Leandro Castán. Se fosse para Thiago Neves marcar o lateral Cuadrado, teria um motivo. Nem isso ele fez. Castán não foi zagueiro nem lateral.
Mano e um grande número de treinadores de clubes e seleções, do Brasil e de todo o mundo, sofrem de um problema crônico, geralmente incurável, que é o de ter um rei, ou melhor, um deus na barriga. Eles escutam apenas os auxiliares. Para os técnicos, auxiliar bom é o que quase não fala, nunca discorda do chefe nem sonha em ser treinador.
A decisão da CBF é inoportuna, no momento em que a seleção começava a agradar. Imagino que o Marin já tinha decidido a saída de Mano há mais tempo. Deve ter decidido tirá-lo agora para não correr o risco de a seleção ganhar a Copa das Confederações e com isso ter de manter o técnico.
Felipão deve ser o escolhido, por seu carisma e aceitação popular. Já é consultor do Ministério do Esporte. Será treinador e garoto-propaganda da Copa de 2014.
A CBF está preocupada com o desencanto do torcedor com a seleção. Para empolgar o público, investidores e marqueteiros já sonham com o nacionalismo exacerbado, com milhares de bandeiras brasileiras nas janelas, como ocorreu em Portugal, quando Felipão era técnico da seleção do país.
Tostão
Tostão, médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1970. Afastou-se dos campos devido ao agravamento de um problema de descolamento da retina. Como comentarista esportivo, colaborou com a TV Bandeirantes e com a ESPN Brasil. Escreve às quartas e domingos na versão impressa de "Esporte".

    Juca Kfouri


    O maior e o melhor


    Fim de temporada os botequins fervilham com as seleções do ano, os melhores e os piores. Por ironia os dois gols mais bonitos não estarão na votação da Fifa, mas as bicicletas de fora da área do sueco Ibrahimovic e do francês Mexès, do Milan, são candidatas às mais fabulosas do século --mais espetacular a primeira, mais bonita a segunda.
    Minhas seleções do ano e do Brasileirão tratarei de dá-las depois, mas adianto que os goleiros são Cássio e Diego Cavalieri, as revelações, Romarinho e Bernard, e a assombração, Zé Roberto.
    Quem ganhou o maior título do ano foi mesmo o Corinthians que pode ganhar ainda mais.
    Aliás, se preocupava o Santos ir para o Japão tão como azarão diante do Barcelona como foi, preocupa na mesma medida essa falsa ideia de que o Corinthians já é favorito contra o Chelsea.
    Ah, sim, acho o alvinegro ainda melhor que o Fluminense.
    ENCAIXA, CÁSSIO!
    Do goleiro ao ponta-esquerda, a Caixa estará no peito do time do Corinthians até, no mínimo, o fim do ano que vem e por R$ 31 milhões.
    Quem não tem o poder de comunicação do alvinegro chia, embora cale quando beneficiado ou não se importe, por exemplo, em ter o BMG, um dos bancos do valerioduto, na camisa.
    Que Lula tem influência, direta e indireta, na vida corintiana até São Jorge sabe, mas foi nele que o São Paulo apostou para ter o Morumbi na Copa do Mundo.
    Em bom português: malandro que é malandro não berra.
    SEI, SEI
    Sete anos atrás o governo Alckmin quis privatizar o Conjunto Esportivo do Ibirapuera.
    Não conseguiu, embora seja mesmo o caso de se discutir se é função do Estado administrar praças de esporte. Agora, no entanto, e sub-avaliado por R$ 168 milhões, o complexo está na lista dos bens dados como garantia no projeto de lei 650 enviado à Assembleia Legislativa para irrigar a Companhia Paulista de Parcerias.
    O governo, oficialmente, garante que não quer vender coisa alguma, mas nos corredores do Palácio dos Bandeirantes a conversa é outra.
    Além do mais, o texto do projeto fala que "fica a Fazenda do Estado autorizada a alienar os imóveis indicados".
    Especialistas garantem à coluna que se tudo se resumisse a dar garantias, bastaria indicar uma CESP ou CPTM como tais.
    Ou seja, o governo pede um cheque em branco e quer que acreditemos que não vá preenchê-lo, assim como quis nos fazer crer que não há uma onda de violência em São Paulo ou que não investiria um tostão no estádio do Corinthians.
    CURTO E SECO
    Do cineasta alemão Werner Herzog ao repórter Rodrigo Salem, desta Folha: "O maior de todos os jogadores sempre será Garrincha. Ele é o Brasil".
    FIM DE PAPO
    Raí disse à coluna que não passa por sua cabeça assumir a Secretaria de Esporte da prefeitura paulistana como tem sido noticiado. "Posso ajudar. Mas sem cargo."
    Juca Kfouri
    Juca Kfouri é formado em ciências sociais pela USP. Com mais de 40 anos de profissão, dirigiu as revistas "Placar" e "Playboy". Escreve às segundas, quintas e domingos na versão impressa de "Esporte".

      As incríveis Hulk - MARTHA MEDEIROS

      ZERO HORA - 25/11/2012


      Lamento ser portadora de más notícias, mas o tempo faz você alargar. Apenas isso

      Você nunca pensou em fazer cirurgia nos seios, nem para aumentá-los, nem para reduzi-los, pois está satisfeita com eles do jeito que são e não sente necessidade de transformar nada, ainda mais que já atingiu meio século de existência. Mas uma transformação aconteceu à sua revelia. Eles aumentaram um pouquinho de tamanho. Você não está grávida, naturalmente. Aconteceu. E, pensando bem, ficaram mais bonitos. E mais pesados, um perigo, você sabe por quê. Mas a vida segue.

      Um dia você está no trabalho e sente um desconforto. Não entende bem a razão. Quando chega em casa, sente a compulsão de tirar o sutiã. Anda pela casa com tudo solto, seu marido acha que você está tendo uma recaída hippie, mas deixe ele pensar o que quiser. Consigo mesma, você dialoga: será que andei comprando um número menor do que costumo usar?

      Passam as semanas e de novo a sensação de aperto. Não consegue mais atravessar o dia inteiro de sutiã, mesmo usando alguns muito confortáveis. Secretamente, você começa a usar os seus sutiãs mais velhos, aqueles que já estão meio folgados. Só quando há a promessa de uma noite de amor é que troca por um belo sutiã de renda bem justo, e na hora em que ele é aberto pelo felizardo com quem divide os lençóis, você solta um gemido de prazer antes da hora.

      Hum. Tem alguma coisa estranha aí.

      Você descobre o que é no dia em que recebe de presente uma camiseta de manga comprida. Tamanho médio, não tem erro, você usa o tamanho médio desde os 15 anos. Você a veste e está tudo ok, ela escorrega pelo tórax, e tem o cumprimento ideal. Se você for como eu, vai sair com o presente já no mesmo dia em que o recebeu. Sou do tipo que compra uma roupa numa loja e saio usando, não espero ocasiões especiais. Então, você usa a camiseta que ganhou no mesmo dia também, até que, durante o encontro com as amigas à tardinha, sente uma compressão no bíceps, igualzinho a quando seu marido a agarra enciumado para levá-la embora da festa.

      Na hora de erguer o braço para fazer um brinde, tem a impressão que a camiseta rasgará na altura da axila. Quando chega em casa, mal consegue despi-la, parece uma roupa de neoprene, você se sente um surfista que acaba de sair do mar. Ao conseguir, depois de 10 minutos, se desfazer da camiseta, seus braços quase falam e agradecem: obrigada por nos devolver a circulação do sangue.

      Calma. Pense. Você não está mais gorda. Alguém pode explicar?

      Lamento ser portadora de más notícias, mas você alargou, apenas isso. Segue linda, mas seus braços não são mais aqueles dois gravetos de antigamente e suas costas não fazem mais os marmanjos suspirarem cada vez que usa frente única. Os ombros pontiagudos, outrora tão elegantes, deram uma arredondada.

      Enfim, o tempo fez um preenchimento por conta própria no que antes era naturalmente delgado. Nada grave. Não tome nenhuma providência, pois isso não se resolve com dieta nem cirurgia. É o efeito colateral de continuar viva e saudável – não queria ter morrido esquelética aos 40, queria? Aumente a numeração do sutiã e siga vivendo como se nada estivesse acontecendo.

      E, por cautela, reforce todas as costuras.

      Affonso Romano de Sant'Anna - A moda da caveira‏


      AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA
      Estadode Minas: 25/11/2012 
       Em seu programa de auditório, Silvio Santos reparou que várias moças tinham joias reproduzindo caveiras. No dia seguinte, vi umas moças passarem por mim na rua com camiseta de caveira. Olhei mais atentamente as vitrines e vi vários manequins usando roupas em que a caveira aparecia. E comecei a reparar que na academia de ginástica, nos bares, em toda parte, enfim, havia moças usando pulseiras com caveira, tatuagem de caveira, brincos de caveira, camiseta de caveira.

      Será que estou num cemitério e não sabia?

      Isso me lembrou aquele poema de Cruz e Sousa no qual ele repetia a palavra: “Caveira, caveira, caveira”, só que, à maneira dos poetas de sua época, aquilo era uma coisa meio mórbida, macabra. Ele descrevia a mulher amada apodrecendo, se decompondo. 

      Mas essa proliferação de caveiras em torno de nós não parece triste. Há um deboche nisso tudo. As moças que ostentam caveiras, com aqueles cabelos loiros alisados pela técnica da chapinha, estão rindo, parecem felizes. Nenhuma delas tem cara de bruxa. Não são desgrenhadas, desdentadas. Em vez do terror, estão do lado daquilo que outros chamam de “terrir”.

      Brincar com a morte. Jogar com a morte. Dançar com a morte.

      Primeiro foram os Hell’s Angels, que botaram as caveiras na ordem do dia ou na garupa das suas tenebrosas motos. Passavam zunindo perto da gente com aqueles blusões com ostensivas caveiras desenhadas nas costas. E usavam os anéis de caveira, os colares de caveira, tinham até o olhar mefistofélico de caveiras motorizadas.

      Depois foram os grupos de rock, trazendo a morte para o palco da vida. Misturavam tanto a realidade e a fantasia que alguns deles pareciam zumbis, eram autênticas caveiras vivas. Alguns, pelas drogas, viraram caveiras mortas.

      No México, a morte é uma coisa vivida. Ou melhor, a morte é comida: as crianças comem doces de caveira como se estivessem comendo o mais inocente chocolate. As famílias fazem até piquenique nas sepulturas das pessoas amadas. Comem, celebram e riem.

      E, se vocês olharem no Google (ninguém mais consulta enciclopédias, até a Britannica é digital ) e botarem lá “dança macabra”, vão ler: “Acredita-se que representações artísticas de Danças macabras surgiram no século 14, mas os detalhes sobre o lugar e forma em que se desenvolveram inicialmente são muito discutidos”.
      Se quiserem, podem ver as gravuras e desenhos em torno do tema.

      Toda vez que vejo uma multidão de braços e pernas requebrando, chacoalhando o esqueleto na semiluz de um clube, penso que aquilo é também uma alegre dança de caveiras. Algumas, deslumbrantes. 

      Sigo, no entanto, tentando entender por que as garotas do programa do Silvio Santos, que não vivem na Idade Média, nem tiveram que enfrentar a peste negra, por que elas, tão contemporâneas, usam tão alegremente adereços mortais.

      Alguém me sussurra: 

      – É que vivemos numa sociedade decadente e isso mostra como andam nossos costumes.

      – Será?

      Outra pessoa me explica: 

      – É que a morte se tornou uma coisa tão banal em nossa cultura, um fato tão cotidiano (olha os crimes em São Paulo, olha a guerra no Oriente Médio), que as pessoas para se livrarem desse pesadelo brincam com o que é sério, fazem troça com o macabro.

      – Será?

      Tereza Cruvinel - Algo se move‏

      "Ante um PT golpeado pelo julgamento do chamado mensalão, o PSDB sai do casulo e toma ofensiva, com gosto de sangue na boca" 

      Tereza Cruvinel
      Estado de Minas: 25/11/2012 
      O voto popular, nas eleições ocorridas há pouco mais de 50 dias, manteve o status quo, a hegemonia política do bloco liderado pelo PT. Mas por outras vias, um tanto prussianas, movimentos na superestrutura institucional fizeram o pêndulo se mexer. Ante um PT golpeado pelo julgamento do chamado mensalão, o PSDB sai do casulo e toma ofensiva, com gosto de sangue na boca.

      Afora o destino pessoal de quadros históricos, como José Dirceu e José Genoino, os petistas sentem o efeito do estrondo do julgamento perante a opinião pública em geral e à base política em particular. Essa base inclui ampla maioria dos mais pobres e uma fração da classe média, em especial da emergente, mas o martelar das sessões do STF chegou a todos os ouvidos nacionais. Surfando a onda do julgamento e da condenação dos petistas, os tucanos saíram da apatia tão criticada por sua base, agregaram aliados e isolaram o PT na CPI do Cachoeira, impedindo a aprovação do relatório final, que responsabilizava um governador do PSDB, um jornalista e o procurador-geral da República. Preparam a candidatura do senador Aécio Neves e mudanças na face visível do partido. Os petistas falam de uma aliança da oposição, mas, ainda que seja apenas convergência natural, os tucanos têm a seu lado o Ministério Público e o STF, poder que se levanta com o fim do julgamento e a posse de um presidente com o perfil de Joaquim Barbosa.

      Mais água para o moinho adversário foi levada na CPI do Cachoeira por um PT retraído e atônito pela pancada de um julgamento que ainda será analisado por sua heterodoxia, pelas inovações com objetivo claro, que terão de ser revistas ou trarão consequências graves para o nosso ordenamento jurídico. O relator da CPI, Odair Cunha, apresentou relatório que nem pôde ser votado. Ao incluir o governador tucano Marconi Perillo e o jornalista Policarpo Junior, da revista Veja, pelas relações com Carlinhos Cachoeira, e o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter sobrestado durante dois anos o primeiro inquérito sobre a quadrilha, o relator juntou adversários para derrotá-lo. Mais ainda: excluindo, por falta de provas, o governador aliado do Rio de Janeiro e o governador petista do Distrito Federal, deu ao PSDB mais um discurso anti-PT: o de que o partido protegeu aliados e buscou acertar contas com os que ajudaram a construir a narrativa do mensalão. Na sexta-feira, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, postou seguidos ataques nesse sentido no Twitter. Em nota, aspergiu louvores a Barbosa e solidariedade a Gurgel. Abrindo caminho para a candidatura de Aécio, o PSDB deve elegê-lo presidente do partido. Ele montará uma executiva com caras novas que emergiram na eleição, embora toda campanha precise, como dizia seu avô Tancredo, de alguém com cabelos brancos. Mas, no Senado ou na rua, Aécio já virou, como ele diz, “pau de enchente”. Todos o param, ainda que só para um aperto de mão.

      No polo petista, a presidente Dilma governa ao largo das adversidades petistas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava na Índia, na sexta-feira, depois de passar pela África do Sul, Moçambique e Etiópia. Para alguns petistas, tal viagem numa hora dessas indicaria que, embora indignado e solidário aos companheiros, ele está subestimando os efeitos danosos do julgamento. Para outros, estaria apenas ruminando para reagir, como sempre fez quando atacado.

      A aceitação de qualquer julgamento é obrigação democrática, mas a discussão é legítima e não configura desacato ao STF, como alardeia a oposição. Esse discurso, no entanto, também ganhou pernas e penas na medida em que a reação foi desorganizada. Essa tarefa não pode ser dos condenados, mas só eles falaram até que o partido soltasse uma nota. O que João Paulo Cunha fez na sexta-feira em Osasco (SP) foi uma plenária de prestação de contas do mandato aos militantes, uma atividade que todos os deputados de esquerda, não só do PT, realizam periodicamente. No entanto, foi noticiada como ato público contra o julgamento. Há notícias, no PT, de uma reação mais elaborada, comprometida com o acatamento das penas, mas buscando oferecer a verdadeira história do mensalão e desconstuir os argumentos que levaram a cada condenação. Isso inclui a teoria do domínio do fato, que substituiu as provas contra Dirceu, a dispensa do ato de ofício para condenar por corrupção passiva e, sobretudo, a tese da compra de votos com recursos que, sustenta a legenda, foram transferidos a dirigentes partidários como ajuda de campanha. O déficit de votos do PT, no período, era de 106, e não de sete votos para formar a maioria. Se já tivesse feito isso, talvez o PT tivesse convencido alguns de seus algozes. Se não o fizer no pós-julgamento, pode perder mais: o apoio de segmentos que lhe têm garantido o poder. Agora, o sangue da oposição esquentou.

      A conjuntura pós-julgamento é o que preocupava Dirceu em sua passagem por Brasília, segundo interlocutores. Mais que a provável prisão, para a qual se prepara com a conhecida racionalidade. Na sexta-feira, a Operação Porto Seguro, da PF/Ministério Público, sugeria nova semana de mau tempo para o PT.


      Brasil mudando

      Da redução das desigualdades de renda e classe nos últimos anos, já sabemos muito. Agora, o IBGE revela números importantes sobre a redução das desigualdades regionais. Entre 2002 e 2010, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste aumentaram as participações no PIB nacional em 0,6% a primeira e 0,5% as duas últimas. O Sul e o Sudeste perderam, no período, 1,3% e 0,4%, respectivamente. Mesmo assim, oito estados ainda respondem por 77,8% do PIB. O Distrito Federal continua tendo o maior PIB per capita (R$ 58.489,46). Tocantins foi o estado que mais cresceu no período: 74%. É consenso entre os cientistas sociais que as transferências de renda – não apenas pelo Bolsa-Família, mas também por meio de aposentadorias e salário mínimo maiores, outros benefícios de prestação continuada, bolsa estiagem e similares ajudaram a dinamizar as economias das regiões mais pobres. Vamos deixando de ser Belíndia.

      Marcos Coimbra - Lula e seus prêmios‏

      Lula foi um governante com aprovação recorde em todos os segmentos relevantes da sociedade, em termos regionais e socioeconômicos 

      Marcos Coimbra
      Estado de Minas: 25/11/2012 
      É comum haver discrepância entre a imagem de uma liderança em seu país e no resto do mundo.

      Nos regimes autoritários, os governantes tendem a ser mais benquistos em casa, pois não permitem que seus compatriotas desgostem deles. Nas democracias, acontece o inverso, e é normal que sejam mais bem avaliados fora. 

      Isso costuma decorrer dos alinhamentos partidários internos, que, para um estrangeiro, são pouco relevantes. Ou vem do sentimento traduzido pelo aforismo “ninguém é profeta em sua terra”.

      É mais fácil condescender com quem conhecemos menos. 

      No Brasil, são raríssimos os políticos que adquiriram notoriedade fora de nossas fronteiras. Só os brasilianistas conhecem a vasta maioria, que chegou, no máximo, à América do Sul e aos países de expressão portuguesa. 

      Lideranças brasileiras de fato conhecidas internacionalmente são duas: Fernando Henrique e Lula. Dilma está a caminho de ser a terceira. 

      O tucano é um exemplo daqueles cuja imagem interna e externa é marcadamente distinta. 

      Fora do Brasil, FHC é visto com olhos muito mais favoráveis que pela maior parte dos brasileiros. É evidente que tem admiradores no país, mas em proporção substancialmente menor que daqueles que não gostam dele. 

      Tem, no entanto, reconhecimento internacional, que se traduz em homenagens, prêmios e convites para integrar colegiados de notáveis. 

      Sempre que é saudado no exterior, nossa mídia e os “formadores de opinião” de plantão registram com destaque o acontecimento, considerando-o natural e como a compreensível celebração de suas virtudes. 

      Acham injusta a implicância da maioria dos brasileiros para com ele. 

      Lula é um caso à parte. A começar por ser admirado dentro e fora do país. 

      Como mostram as pesquisas, os números de sua popularidade são únicos em nossa história. Foi um governante com aprovação recorde em todos os segmentos relevantes da sociedade, em termos regionais e socioeconômicos.

      Acaba de colher uma vitória eleitoral importante, com a eleição de Fernando Haddad, a quem indicou pessoalmente e por quem trabalhou. Feito só inferior ao desafio que era eleger Dilma em 2010.

      No resto do mundo, é figura amplamente respeitada, à esquerda e à direita, por gregos e troianos. Já recebeu uma impressionante quantidade de honrarias.

      Esta semana, foi-lhe entregue o Prêmio Indira Gandhi, o mais importante da Índia, por sua contribuição à paz, ao desarmamento e ao desenvolvimento. Na cerimônia, o presidente do país ressaltou que Lula o merecia por defender os mesmos princípios que Indira e Mahatma Gandhi. O que representa, para eles, associá-lo à mais ilustre companhia possível.

      Quem conhece a imagem que Lula tem quase consensualmente no Brasil e no estrangeiro deve ficar perplexo.

      Será que todo mundo – literalmente – está errado e a direita brasileira certa? Só sua imprensa, seus porta-vozes e representantes sabem “quem é o verdadeiro Lula”? O resto do planeta foi ludibriado pelas artimanhas do petista? 

      É até engraçado ouvir o que dizem alguns expoentes da direita tupiniquim, quantos adjetivos grosseiros são capazes de encontrar para qualificar uma pessoa que o presidente da Índia (que, supõe-se, nada tem de “lulopetista”) coloca ao lado do Mahatma. 

      Só pode ser porque não conhece o que pensa aquele fulaninho, um dos tais que sabem “a verdade sobre Lula”.

      Quando os poderes batem de frente - Marcelo da Fonseca‏

      Legislativo e Judiciário devem travar queda de braço sobre a perda de mandato dos deputados condenados no mensalão. Embates como esse têm sido comuns na história recente do país 

      Marcelo da Fonseca 
      Estado de Minas: 25/11/2012 
      Superados os temas envolvendo a participação de nomes fortes do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no esquema do mensalão e a definição de suas penas, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) terão outro ponto controverso pela frente: a perda de mandato dos parlamentares condenados. Nesta semana, a discussão ganhará espaço no plenário, mas do outro lado da Praça dos Três Poderes, deputados e senadores estarão de olho no que será definido pelos ministros, prontos para questionar os limites do STF para decidir sobre a cassação de colegas. No entanto, as disputas entre as Casas que compõem os poderes da República não são novidade no Brasil e têm se intensificado ainda mais nos últimos anos. A interferência de um poder no outro é quase sempre o motivo dos embates, que muitas vezes envolvem o ego de seus representantes e a tentativa de valorizar suas instituições. 

      A atenção desta vez se voltará para o debate dos ministros sobre o destino dos deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e José Genoino (PT-SP) – que pode voltar ao Congresso em 2013 no lugar do deputado Carlinhos de Almeida, eleito prefeito de São José dos Campos. Os quatro foram condenados pelo Supremo pelo envolvimento no esquema de compra de votos parlamentares, mas ainda não ficou claro se a perda da vaga no Congresso será incluída como pena ou se será necessário que o futuro dos parlamentares seja deliberado no plenário do Legislativo. Segundo o Código Penal, o efeito da condenação resultaria na perda de função pública ou mandato eletivo, mas a Constituição Federal também prevê que nessa hipótese a decisão será tomada pela Casa à qual o parlamentar pertence. 

      Na semana passada, o relator do processo, e agora presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, tentou colocar o assunto em discussão para que o presidente que deixava o cargo, Ayres Britto, se manifestasse. Mas, sem apoio dos colegas para adiantar o tema, o debate não ocorreu. Segundo o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT), os parlamentares condenados continuariam exercendo sua função normalmente e, quando terminasse o processo – inclusive a fase de recursos –, a Casa decidiria se cassa os mandatos. “A Câmara não vai contestar a condenação. Vai tratar e debater sobre a perda do mandato ou não, que é uma decisão, nesse caso específico, da Câmara dos Deputados e do Senado. Não é uma decisão do STF pura e simples”, disse Maia. 

      O professor de direito constitucional da PUC Minas José Luiz Quadros considera que a corte ultrapassa sua função ao definir sobre a cassação de políticos e aponta que essas intervenções têm sido cada vez mais comuns nos últimos anos. No entanto, ele ressalta que isso só está ocorrendopela recorrente omissão dos poderes responsáveis para se posicionar em alguns temas polêmicos. “Algumas iniciativas sobre a reforma política, por exemplo, e outras decisões recentes deveriam ser atribuições de outros poderes. Mas é importante entender o motivo dessas atuações do Judiciário. Um Congresso que se temomitido deixa um vazio de poder e a demanda da sociedade faz com que esse buraco seja ocupado”, explica. O especialista aponta a negociação como forma de evitar tensões nas discussões desta semana e reforça que a confusão entre o limite dos poderes só atrapalha o funcionamento da democracia.

      CONTRA-AtaQUE Incomodado com o que considerou uma série de “invasões” em temas que deveriam ser decididos pelo Legislativo, o deputado Nazareno Fontelles (PT-PI) apresentou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza o Congresso a derrubar atos normativos dos tribunais e do Executivo. Em abril, o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e aguarda a análise de uma comissão especial antes de ser votado em plenário. “Acompanhamos várias situações em que juízes vão além de suas funções e criam regras para o país. Ocorreu nas questões sobre o aborto de anencéfalos, união afetiva, fidelidade partidária, entre outros episódios maiores ou menores”, lembra o petista. 

      No entanto, o parlamentar garante que a medida não tem como objetivo  violar a autonomia dos três poderes prevista na lei brasileira e considerada por ele essencial para a democracia. As decisões de natureza estritamente jurisdicional – sentenças e acórdãos dos tribunais – continuam sendo definitivas. Para o petista, se a perda de mandato for incluída entre as penas determinadas aos réus do mensalão, o Supremo estará ultrapassando sua função. “Esperamos que o Legislativo acorde para se legitimar e garanta que se cumpra a divisão prevista em lei. A cassação dos parlamentares tem que ser avaliada pelos parlamentares, que vão se inteirar das decisões e apontar se concordam ou não com o tribunal”, afirma Fontelles.

      Enquanto isso...
      ...O 'choro' de Dirceu
      Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha a 10 anos e 10 meses de prisão, o ex-ministro José Dirceu convocou a militância petista a fazer o "julgamento do julgamento" do mensalão, durante discurso em evento do PT, em Osasco (SP), na sexta-feira à noite. Aos companheiros de partido, afirmou: "Temos que fazer o julgamento do julgamento agora. Não temos medo da verdade dos autos, porque nos autos está a prova da nossa inocência. (…) Temos que fazer na sociedade, como este ato aqui hoje, que é uma demonstração da nossa força. Temos que reproduzi-lo em todo o país, não só no estado". No discurso, que durou cerca de 11 minutos, Dirceu disse ainda que o julgamento da ação foi politizado e feito sob intensa pressão da imprensa.

      No ringue da República 

      EXECUTIVO X JUDICIÁRIO 

      » O discurso de Lula – abril de 2003 

      Uma declaração do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou um tremendo mal-estar entre os dois poderes. Durante um debate sobre o crime organizado, em Vitória (ES), o petista defendeu o controle externo do Judiciário e criticou a existência de uma Justiça “classista” no Brasil. "É por isso que nós defendemos há tanto tempo o controle externo do Poder Judiciário. Não é meter a mão na decisão do juiz. É pelo menos saber como funciona a caixa-preta de um Judiciário que muitas vezes se sente intocável", afirmou o presidente. A fala causou indignação em ministros da mais alta corte do país e magistrados de vários estados. O ministro Gilmar Mendes afirmou que, em resposta a uma ação no STF de magistrados do Paraná que se sentiram ofendidos com a declaração, Lula seria notificado pessoalmente para prestar esclarecimentos sobre as afirmações. O presidente respondeu por meio de documento enviado ao Supremo que os juízes adotaram “interpretação exagerada” e que ele teria “não apenas o direito constitucional de se expressar como cidadão, mas também o dever, inerente ao cargo, de identificar problemas e propor soluções”.

      » Cortes no orçamento – julho até setembro de 2011 

      Equipe econômica do governo federal informa ao presidente do STF, ministro Cezar Peluso, que os pedidos do tribunal não seriam totalmente atendidos no orçamento para 2012, deixando de fora dos gastos previstos o plano de cargos e reajustes salariais do Judiciário. A decisão foi rebatida de forma dura pelos ministros do Supremo e Peluso foi a público cobrar uma correção do Planalto: “Parece que houve um pequeno equívoco que o Executivo vai retificar, sem dúvida”, disse. Seu colega, o ministro Marco Aurélio Mello, também deixou clara a sua insatisfação com o corte determinado pelo Executivo e citou que a medida desrespeitava a Constituição. “O que está em jogo não é pecúnia, não é dinheiro, não é gasto. O que está em jogo é o princípio que implica equilíbrio, que não haja supremacia de poderes que estão no mesmo patamar”, criticou. A presidente Dilma Rousseff firmou o pé na disputa e argumentou que para enfrentar a crise econômica e preservar empregos, não há margem fiscal para conceder reajustes. 

      JUDICIÁRIO X LEGISLATIVO 

      » Fidelidade partidária – março de 2007 

      A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ratificada pelo STF, em defesa da fidelidade partidária criou desgaste entre parlamentares e juizes. Apesar de receber apoio de muitos parlamentares, a mudança foi considerada uma interferência direta do Judiciário nas questões do Legislativo e levou a um bate-boca entre os então presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do TSE, Carlos Ayres Britto. Por causa da demora em cumprir a decisão dos tribunais em um caso de um deputado que mudou de partido e deveria ter perdido o mandato, Britto cobrou maior agilidade da Câmara e foi rebatido de forma dura por Chinaglia. “Quero dizer ao ministro Ayres Britto que Sua Excelência não preside um poder, Sua Excelência preside o TSE. Aqui, presidimos um Poder. Se eu quiser cobrar publicamente do ministro processos em que Sua Excelência ficou determinado tempo sem deliberar, posso fazê-lo publicamente também", ameaçou o parlamentar. 

      » Validade da Ficha Limpa – março até julho de 2010 

      Com a aprovação no Congresso depois de grande mobilização popular, a proposta que barraria a candidatura de políticos condenados por decisões colegiadas poderia ter entrado em vigor nas eleições de 2010, mas o STF considerou inconstitucional a validade da regra no mesmo ano em que foi criada – a norma entrou em vigor em 7 de junho, quatro meses antes do primeiro turno eleitoral. Por seis votos a cinco, o tribunal contrariou a decisão do Legislativo e a estreia da lei ficou para as eleições municipais de 2012. No Congresso, sobraram críticas à interpretação dos ministros. “Ficou clara a divisão do tribunal. O que prevaleceu foi a leitura do texto constitucional e não a vontade da população”, observou a deputada Carmen Zanotto (PPS). Os desencontros com a Suprema Corte já se vinham tornando repetitivos em relação à inelegibilidade de políticos desde 2008, quando o STF decidiu que os políticos que respondem a processos – chamados “fichas-sujas” – não poderiam ser impedidos de disputar a eleição. Para explicar o momento de protagonismo do tribunal, Gilmar Mendes colocou mais lenha na fogueira ao explicar: “É preciso se ter em mente que o STF ocupa, e ocupará cada vez mais, a condição de uma verdadeira terceira Câmara no Brasil, ao lado da Câmara e do Senado”. 

      LEGISLATIVO X EXECUTIVO

      » Fim da CPMF – dezembro de 2007 

      Considerada a maior derrota do governo Lula no Congresso, a rejeição à prorrogação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) deixou dias de tensão entre o Palácio do Planalto e o Legislativo. Mesmo com grande mobilização da base aliada e horas de negociação com a oposição o “imposto do cheque” foi derrubado no Senado e representou um redução estimada de R$ 40 bilhões para os cofres da União. Lamentando a decisão, Lula considerou a escolha um ato político irresponsável e colocou na conta dos parlamentares a falta de recursos para a saúde. “Vi uma guerra pela CPMF. Tiraram R$ 40 bilhões do orçamento do governo. E quem mais perdeu com isso? Foi o PAC da Saúde, que já estava pronto", afirmou o presidente. O então ministro da Fazenda, Guido Mantega, também adotou um tom duro em relação à decisão do Senado e destacou que quem mais saiu perdendo com o fim do imposto foi a própria sociedade.

      » Vetos ao Código Florestal – setembro de 2011 até outubro de 2012
       
      Em uma briga de vários rounds, a mais recente disputa entre o Palácio do Planalto e o Congresso durou mais de um ano para apresentar resultados e ainda podem surgir novos embates. Os debates para renovar a legislação que trata da preservação ambiental colocaram em lados opostos a numerosa bancada ruralista do Legislativo e o governo, que já tinha compromissos assumidos com a causa ambientalista. Durante a tramitação do projeto, manifestantes defenderam uma posição da presidente em defesa da natureza. Por meio de decreto, o Planalto reforçou sua posição contrária às mudanças feitas pelos parlamentares e retomou medidas defendidas anteriormente para a preservação em margens de rios. A posição firme gerou duras críticas à relação entre os dois poderes. “A prerrogativa da presidente em vetar existe, é constitucional. O que é totalmente inconstitucional é querer suprimir o Congresso Nacional e querer legislar por decreto”, argumentou Ronaldo Caiado (DEM).

      Um seriado no divã - Ana Clara Brant‏

      Sessão de terapia conquista o público e vai ganhar nova temporada no ano que vem. Série adaptada de original israelense é vista com ressalvas por profissionais da área 

      Ana Clara Brant
      Estado de Minas: 25/11/2012 

      O ator Zécarlos Machado, que interpreta o terapeuta Theo, e o diretor Selton Mello: temas adultos tratados com sensibilidade
      Um elenco afiado, um tema envolvente e inédito na TV, uma direção primorosa e, sobretudo, uma dramaturgia extremamente rica. Essa junção de ingredientes fez com que a série Sessão de terapia, que vai ao ar diariamente no canal pago GNT, se tornasse um dos programas em cartaz de maior repercussão. O sucesso de crítica e de público da atração – que é a versão brasileira da série israelense Be Tipul, de Hagai Levi – deve garantir nova edição em 2013. O último episódio da primeira temporada será exibido na sexta-feira.

      Ambientado em um consultório de terapia, o seriado, com direção de Selton Mello, marcou a estreia do canal em uma grande produção de ficção. Sessão de terapia acompanha o tratamento de cinco pacientes do doutor Theo Ceccato (Zécarlos Machado). Cada dia da semana é pontuado pelos dilemas, dores e alegrias dos personagens vividos por Maria Fernanda Cândido (Júlia), Sérgio Guizé (Breno), Bianca Müller (Nina), André Frateschi (João), Mariana Lima (Ana), e, na sexta, é dia de o próprio Theo trocar de lugar para a sessão com sua analista, Dora, papel de Selma Egrei, junto com a esposa, Clarice, vivida por Maria Luísa Mendonça.

      Quem teve a ideia de trazer a novidade para o Brasil foi o produtor Roberto d’Ávila, da Moonshot Pictures. A versão brasileira é uma “adaptação cultural” do original israelense. Roberto conta que os conflitos centrais foram mantidos, até porque, segundo ele, são temas universais, contemporâneos e urbanos, mas uma ou outra caraterística tiveram que ser alteradas. 

      “O Breno, por exemplo, que lá fora é um piloto de guerra e solta bomba nos palestinos, aqui virou um atirador de elite, porque nossa guerra é interna. Mas a arte psicológica, que é o essencial, a gente manteve. No caso dele, tem a questão da culpa e da relação com o pai, que é bem complicada. O mais fantástico dessa série é que todos aqueles conflitos existem em qualquer lugar. Quem não conhece ou se identifica com uma menina que tem um relacionamento complexo com o pai ou um casal em crise? Além do mais, é algo inédito na televisão. De certa forma, acho que gente presta um serviço e uma homenagem aos terapeutas”, observa o produtor. 

      “O valor central da série é a verdade. Você tem que acreditar naquelas histórias. Sessão de terapia praticamente não tem externas, fica centrado no diálogo terapeuta/paciente. Um dos grandes méritos dessa série, sem dúvida, é o texto”, opina o produtor.

      Fissuras da alma E foi esse um dos principais motivadores para que o ator Zécarlos Machado se aventurasse no projeto. Assim que se deparou com o “nobre e rico material” não teve dúvidas. “Quando você pega um texto bom, uma dramaturgia interessante, isso cativa você. Quando fiz o teste, percebi que aquilo mexia com camadas que me interessam. Você lida com a fragilidade humana, as pequenas fissuras da alma, e tudo foi feito com muito cuidado e uma delicadeza impressionante”, ressalta o ator, que vive o terapeuta.

      A humanização de seu personagem também chamou atenção de Zécarlos, que, assim como o restante do elenco, contou com a consultoria de um psicólogo. No entanto, o ator revela que construiu Theo a partir de sua percepção e intuição. “Nunca fiz terapia, mas sou casado com uma terapeuta. Não quis assistir a nenhuma das outras versões para poder criar o meu personagem de acordo com as minhas vivências. Além do mais, o roteiro (de Jaqueline Vargas, também responsável pela adaptação) já chega com uma sensibilidade e uma linguagem que facilitam o trabalho”, afirma.

      Zécarlos Machado conta que alguns espectadores que o encontram nas ruas brincam querendo marcar uma sessão e está impressionado com a repercussão do programa nas mais variadas classes sociais, idades e profissões. “Recebo manifestações de todo tipo de gente. Tenho muito orgulho de tudo isso e tomara que vingue a próxima temporada. As pessoas já estão chamando a minha linha de trabalho de ‘theorapia’”, diverte-se.

      Nem tudo é verdade 
      Ana Clara Brant
      E como os profissionais do meio estão encarando Sessão de terapia? O ator Zécarlos Machado diz que a esposa (que é terapeuta) aprova o programa e que conhece grupos de psicanalistas que têm debatido a obra. “Pelo que me chegou em e-mails ou comentários, os profissionais da área têm gostado. Ficaram entusiasmados com o andamento e a maneira como a série está sendo abordada. Mas é claro que todo mundo tem noção de que aquilo é ficção e que não seguimos uma linha terapêutica específica”, analisa o ator.

      O psicanalista, doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor-adjunto do Departamento de Psicologia da UFMG Guilherme Massara revela que, inicialmente, achou os pacientes de Sessão de terapia mais interessantes do que o terapeuta e que a tônica geral do seriado é distante da realidade do trabalho de sua classe. “Como psicanalista, não compartilho com o que é retratado ali. Do meu ponto de vida, o programa não tem nada a ver com psicanálise. É como se fosse uma colagem de métodos, algo meio híbrido. E isso pode gerar até uma falsa impressão do que realmente é um tratamento com psicólogo ou psicanalista, principalmente para o público leigo”, pondera.

      Guilherme acredita que a visão do terapeuta seja, na TV ou no cinema, ainda meio caricatural. Ele entende que a dramaturgia tem que se voltar para questões como a audiência e, por isso, há a valorização dos dramas individuais e do próprio terapeuta. “Cria-se uma convicção de que terapia é aquilo ali. Há um interesse, uma maneira de apresentar a realidade para um público maior, e isso acaba criando certa ideologia”, frisa. 

      Já Maria Teresa Vieira Castro, especialista em psicodrama e no enfoque sistêmico, considera positivo levar para a TV assunto ao qual o grande público não tem acesso, mas em sua experiência de 26 anos de consultório acha que Sessão de terapia se presta mais ao entretenimento do que à realidade terapêutica. 

      Teresa percebe uma agressividade verbal muito grande por parte dos pacientes. Ela afirma que o ambiente a que está acostumada é de mais respeito e harmonia. “Não vejo isso nos meus pacientes nem com os colegas com os quais converso. O programa tem um clima noir, meio escuro, pesado. E as pessoas não podem tomar aquele terapeuta como padrão. Mas acho válido abordar o tema. Desperta interesse e curiosidade, principalmente entre os leigos, tanto que tem muita gente comentando”, diz.


      Sessão de Terapia
      De segunda a sexta-feira, às 22h30, no GNT, TV paga. Resumo dos episódios da semana aos sábados, das 22h 
      à meia-noite, e aos domingos, das 18h50 às 20h30. 

      Ciência-Governo muda edital do Ciência sem Fronteiras - Márcia Maria Cruz‏

      Candidatos que se preparam para concorrer a uma bolsa no exterior são surpreendidos com mudança em cima da hora. Capes nega retirada de cursos, alegando adequação às ofertas 

      Márcia Maria Cruz
      Estado de Minas: 25/11/2012 
      A retirada de cursos ligados às áreas de ciências humanas e biológicas do Programa Ciência sem Fronteiras causou rebuliço entre estudantes de universidades públicas e privadas em todo o Brasil. As chamadas em aberto para os intercâmbios que serão realizados no ano que vem deixaram de fora, de acordo com levantamento feito por um grupo de estudantes, 24 cursos, entre os quais cinema de animação, rádio e televisão, comunicação social, enfermagem, fisioterapia, psicologia, sistema e mídias digitais, biblioteconomia, ciências da informação, gestão da informação e documentação. 

      Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff informou que estão abertas 18 mil vagas para bolsas de estudo para universidades parceiras do programa. A meta do governo é mandar até 2014, 101 mil estudantes ao exterior.

      Grande parte dos cursos estava no guarda-chuva de indústria criativa, uma das 18 áreas determinadas como prioritárias pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), instituições de fomento, ligadas, respectivamente, ao Ministério da Educação (MEC) e ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Foram apresentadas as chamadas para graduação sanduíche na Austrália, Alemanha, Canadá, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Hungria, Itália, Japão, Portugal, Reino Unido e Suécia. As inscrições vão até 14 de janeiro e a previsão é de que os bolsistas iniciem as atividades no exterior a partir de meados de 2013. 

      A mudança nas chamadas fez com que os estudantes criassem no Facebook a página Ciências sem Fronteira (www.facebook.com/CienciaComFronteiras), um trocadilho ao nome do programa para demonstrar que muitos alunos ficarão de fora. Quarenta e oito horas depois de criada, a página contava com quase 1,8 mil seguidores. Na sexta-feira, os estudantes entraram com uma ação civil na Procuradoria da República de Fortaleza (CE), com assinaturas de 400 pessoas que se sentiram lesadas com a mudança. A principal queixa é a falta de sinalização por parte da Capes/CNPq quanto às alterações. Os estudantes reclamaram de terem investido recursos em provas de proficiência e cursos preparatórios para esses testes.

      A estudante de fisioterapia da USP de Ribeirão Preto Takae Tamy Kieabatake, de 23 anos, foi surpreendida com a informação de que seu curso não seria mais contemplado pelo programa. A jovem se prepara há seis meses para tentar uma vaga em uma universidade no exterior. “Paguei curso de inglês e estou com exame de proficiência marcado para 7 de dezembro”, afirmou. Para se preparar, ela investiu cerca de R$ 1,4 mil.
      “A mudança é muito injusta. Não avisaram a gente antes. Muitas pessoas estavam se preparando e daí vem a alteração, do nada, no edital.” Na página oficial do programa (www.cienciasemfronteira.gov.br) não há nenhum aviso sobre as mudanças na área de indústria criativa e por que elas estão sendo implementadas.

      A retirada dos cursos, na opinião do estudante de comunicação social Luís Felipe Sá, de 22, representa uma desvalorização da área de humanas. “Tecnologia e inovação não consistem apenas na construção de máquinas e prédios”, diz, em alusão à prioridade que o programa dá aos cursos de engenharia. Luís Felipe faz parte do grupo que está promovendo o debate sobre o tema nas mídias sociais.

      INTERCÂMBIO RICO O Programa Ciência sem Fronteiras fomenta o processo de internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio na graduação, incluindo a modalidade de tecnólogo, e pós-graduação, do doutorado ao pós-doutorado. 

      O programa atua em duas frentes: uma possibilita que estudantes brasileiros mantenham contato com sistemas educacionais competitivos e façam estágio no exterior em áreas de tecnologia e inovação; a outra permite que pesquisadores do exterior atuem nas universidades brasileiras. 

      A Capes informou que não houve retirada de cursos, apenas uma delimitação da área de indústria criativa de acordo com as vagas ofertadas no exterior. Porém, não foi informado quais cursos foram mantidos ou passaram a fazer parte do rol. Os interessados em fazer a graduação sanduíche se inscrevem no programa e participam de processo seletivo na instituição de ensino à qual estão vinculados. Um dos critérios para a aceitação nas escolas do exterior é o domínio do idioma do país em que se pretende estudar.

      O estudante de comunicação Breno Castro de Barcellos, de 20, deverá ir para De Montfort, no Reino Unido, no próximo semestre. Ele lembra que a área de humanas era contemplada, pois as chamadas possibilitavam cursos diversos concorrerem à área de indústria criativa. Com todos os trâmites legais resolvidos e já com a aceitação da universidade, Breno está preparando as malas. Por pouco a mudança não jogou por terra os planos do estudante. O programa cobre todos os custos da viagem, desde o deslocamento à compra de material didático, passando por auxílios para alimentação e moradia. “É uma oportunidade ímpar de estudar em universidades bem conceituadas e aprimorar a proficiência em algum idioma”, pontua.

      Enquanto isso... qualificação exigida está aquém 

      A falta do domínio de outros idiomas impede estudantes brasileiros de fazer intercâmbio. O Estado de Minas mostrou recentemente que das 7 mil bolsas oferecidas para os Estados Unidos, via o programa Ciência sem Fronteiras, apenas 1,5 mil foram preenchidas. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o índice de vagas ociosas por falta de qualificação dos candidatos passa de 40%. Somente pelo Ciência sem Fronteiras, a UFMG enviou 295 alunos para países da América do Norte, Europa e Ásia. Mais 412 inscrições foram homologadas no edital mais recente, mas o diretor de Relações Internacionais da instituição, Eduardo Vargas, acredita que apenas um terço dos candidatos (137 alunos) conseguiriam preencher todos os requisitos exigidos.

      Aversão ao trabalho é doença - Augusto Pio‏

      O INSS registrou em 2011 mais de 12 mil afastamentos por depressão, transtorno ansioso e estresse. Entre os problemas está a síndrome de burnout, marcada por desânimo grave, vazio interior e sintomas físicos 

      Augusto Pio
      Estado de Minas: 25/11/2012 
      O afastamento de trabalhadores por transtornos mentais no Brasil subiu 2% no ano passado, atingindo a marca de 12.337 casos, segundo o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). No universo desses problemas, as doenças que mais se destacaram em 2011 foram episódios depressivos, transtornos ansiosos, reações ao estresse grave e transtornos de adaptação. Colaborando com o número crescente desses problemas está a síndrome de burnout, doença detectada e denominada pela primeira vez em 1974 pelo pesquisador e psicanalista norte-americano Herbert Freudenberger, que a definiu como sendo um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional.

      A descoberta se deu depois de Freudenberger notar oscilações de humor e desinteresse pelo trabalho entre alguns de seus funcionários da área de saúde. Burnout significa queima (burn) e para fora, até o fim (out), ou seja, pode-se traduzir ao pé da letra como combustão completa. Em português, a tradução é algo parecido como “perder o fogo” ou “perder a energia”.
      A prevalência da síndrome de burnout na população ainda é incerta, mas dados sugerem que ela acometa um número significativo de indivíduos, variando de 4% a 85,7%, conforme a população estudada. Um estudo desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB) em 2010, em uma população de 8 mil professores, indicou prevalência de 25% da síndrome.
      Segundo a psiquiatra, psicanalista e membro da diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria Gilda Paolielo, este é apenas um novo nome para um problema que sempre existiu. “George Miller Beard, médico americano do século 19, o descreveu como neurastenia, um mal-estar causado pelas exigências da vida moderna. Sigmund Freud o contestou, mostrando que o furo estava mais embaixo: considerava que o mal-estar seria consequência das repressões sexuais impostas pela cultura, uma espécie de preço pago pela humanidade para se tornar civilizada. Chaplin descreve o Burnout de forma brilhante e hilária em Tempos modernos, mostrando as consequências drásticas de uma sociedade massificada pela revolução industrial”, explica a especialista.

      Gilda, que também é preceptora do curso de residência em psiquiatria do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), salienta que o quadro em geral começa com sinais de cansaço, desânimo em relação a atividades nas quais a pessoa encontrava prazer, chegando à anedonia (perda da capacidade de sentir prazer), comprometimento do sono, com sonolência diurna e insônia noturna. “Como a pessoa em geral não fica alerta a esses sinais de esgotamento e continua se ‘esticando’, o quadro vai evoluindo com sintomas depressivos, descaso com as necessidades pessoais, isolamento, irritabilidade, sensação de vazio interior, que se tenta preencher com mais e mais trabalho automatizado, trazendo como consequência um sério comprometimento do desempenho profissional e até uma paralisação forçada da vida.”

      Manifestações físicas como dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitações, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrintestinais podem surgir e estar associadas à síndrome. Clinicamente, diagnosticar a síndrome de burnout não é difícil, pois a pessoa sempre relata uma exaustão, levando ao comprometimento de sua atuação profissional e pessoal, chegando, `as vezes, a uma aversão ao ambiente de trabalho. “Há técnicas mais específicas para o diagnóstico, como questionários estruturados e outros métodos, como a Escala Likert. Muitas vezes, a própria chefia ou colegas de trabalho percebem as mudanças na pessoa e a encaminham para tratamento”, cita Gilda. 

      Estágios da síndrome de Burnout

      Necessidade de se afirmar no trabalho;

      Dedicação intensificada – com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho;

      Descaso com as necessidades pessoais, como dormir, comer, sair;

      Recalque de conflitos – percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema;

      Reinterpretação dos valores – isolamento, fuga dos conflitos;

      Negação de problemas – os outros são desvalorizados e considerados incapazes;

      Recolhimento;

      Mudanças evidentes de comportamento;

      Despersonalização;

      Vazio interior;

      Depressão – indiferença, desesperança, exaustão;

      Colapso físico e mental.

      Sai o entusiasmo, entra o tédio 
      Augusto Pio
      Publicação: 25/11/2012 04:00
      “Situações traumáticas no ambiente de trabalho, o chamado estresse pós-traumático, podem agir como gatilhos desencadeadores, como a gota d'água de situações desgastantes, que vêm se mantendo, fazendo eclodir a síndrome de esgotamento profissional”, explica o psiquiatra, mestre em biomedicina e professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, Julio de Melo Cavestro, especialista em medicina do trabalho. Segundo ele, os sintomas podem surgir gradualmente: o entusiasmo é substituído por uma vivência de tédio, acompanhada de irritabilidade e mau humor. 

      “O quadro evolui com uma perda progressiva do interesse e da disposição para o trabalho e, posteriormente, vem um sentimento de desgaste emocional e esvaziamento afetivo, reação negativa, sentimento de diminuição da competência e do sucesso no trabalho. O diagnóstico dessas síndromes, associado ao preenchimento dos critérios anteriormente citados, leva ao diagnóstico da síndrome de esgotamento profissional ou burn out”, acrescenta Cavestro.

      A doença atinge homens e mulheres, sendo que grande parte da população acometida pelo problema está ligada às áreas da saúde, como médicos, enfermeiros e cuidadores de idosos e doentes; educação, como professores das redes pública e privada; área de segurança (policiais, agentes penitenciários, transporte de valores); transporte (motorista de coletivo urbano); e na área financeira, principalmente os bancários. “A síndrome pode se apresentar e evoluir de diversas formas, dependendo da personalidade e da capacidade de reação do indivíduo frente às adversidades da vida. Cada pessoa responderá aos fatores estressores de acordo com suas vivências, sua capacidade pessoal de lidar com eventos desfavoráveis, sua saúde física e mental, suporte familiar e social e suas expectativas frente ao trabalho”, diz o psiquiatra.

      Prevenir a síndrome de burnout envolve mudanças na cultura da organização, como estabelecer restrições à exploração do desempenho individual, diminuição na intensidade de trabalho, diminuição da competitividade, busca de metas coletivas que incluam o bem-estar de cada trabalhador. “Alguns pacientes relatam passar bem os fins de semana quando estão de folga, porém sintomas de desconforto como ansiedade, inquietação, tremores internos, diarreia e sensação de medo dão os primeiros sinais no anoitecer de domingo, justamente quando eles percebem que no dia seguinte terão que retornar à sua rotina. Outros apresentam os mesmos sintomas só de lembrar da empresa à qual estão vinculados. Uma paciente que tive sentia-se mal ao assistir aos anúncios publicitários da empresa onde trabalhava na televisão; outro evitava passar em frente a empresas semelhantes àquela no qual trabalhava”, conta.

      ÓCIO Para Gilda Paolielo, a principal intervenção consiste em provocar um corte no circulo vicioso que a pessoa se impõe, pois, em princípio, é como se o cansaço provocasse uma espécie de entorpecimento que a impede de perceber os próprios limites. “Em quase 100% dos casos a pessoa deve ser afastada do trabalho e se submeter a uma terapia que lhe permita refletir sobre suas escolhas, seus hábitos de vida, que muitas vezes se impõem inconscientemente como fuga ou tamponamento de dificuldades em sua vida afetiva. Quando se chega a processos depressivos mais graves, a medicação é necessária. O mais importante é o paciente se permitir um reposicionamento na vida, abrindo espaço para o prazer, a convivência, as atividades físicas e o ócio indispensável”.

      O que pode acentuar o quadro

      Ambiente profissional nocivo;

      Alterações na rotina de trabalho com sobrecarga ao trabalhador;

      Papéis e funções conflitantes entre funcionários da empresa;

      Ritmo de trabalho penoso, frustração, perda de controle ou autonomia na função laboral;

      Falta de retorno ou reconhecimento ao trabalho realizado;

      Insegurança econômica;

      Falta de competência social;

      Reação a uma sobrecarga emocional, ameaças de mudanças da jornada de trabalho.

      TV paga‏


      Consciência negra No encerramento do especial Ser negro no Brasil o que é?, no SescTV, serão exibidos hoje dois documentários: Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de cá (foto), de Silvio Tendler, às 20h; e Em quadro: a história de quatro negros nas telas, de Luís Antônio Pilar, às 23h.

      Desigualdades A animação A história da pobreza abre hoje a programação especial Por que pobreza?, às 19h30, no Canal Futura. A ideia é busca promover uma reflexão global sobre o assunto, e começando por retratar diferentes momentos da miséria no mundo, desde o período Neolítico até a época contemporânea. A série vai ao ar até o mês que vem.

      Show de calouros O grupo vocal Libertas, formado por alunos da Escola de Música da UFMG, participa da oitava eliminatória do Pré-estreia, concurso de música clássica da TV Cultura. Hoje às 16h, Valquíria Gomes, Talita Martins, Gustavo Eda e Francisco Maciel disputam a classificação à próxima fase com o Quarteto Nó na Madeira e o Quinteto Si-Ré-Mi.