quinta-feira, 27 de março de 2014

Marina Colasanti - Garganta acima‏

Garganta acima 
 
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com
Estado de Minas: 27/03/2014


Ela bem que tentou me dizer “não sou feliz”, mas em meio às pessoas, às falas alheias, ao movimento com que andávamos em grupo rumo a um restaurante, não foi possível.

E no entanto, sorria muito até então, um sorriso amplo, próximo do riso. Parecia contente. Eu teria dito que estava bem, em harmonia com sua vida, seu trabalho, seu casamento. Mal a conhecia, alguns dias de proximidade ao longo de uma viagem, algumas fotos, conversas conjuntas ao redor da mesa, só isso. Pareceu-me apenas uma mulher de meia-idade, neutra, como tantas.

Mas não existem mulheres neutras da meia-idade, como tantas. Cada uma é uma, com sua carga que a vida teve tempo para tornar pesada.

Terá sido alguma coisa que eu disse ou fiz? O tempo todo deixei que ela desse o mote das conversas. Não por generosidade, certamente, mas porque me era mais fácil, estando eu com o pensamento em outro lugar, deixá-la escolher os temas que lhe fossem mais familiares. Pensava no trabalho que me esperava na volta, na crônica que teria que fazer ao chegar, ela falava de coisas cotidianas que não me exigiam empenho na resposta. Conversa sem esforço, que parecia fluir sozinha. Em algum momento, porém, alguma coisa deve ter tido um som diferente e atuado como disparador. Alguma coisa que alguma de nós duas disse varou a superfície daquele encontro sem importância e foi se cravar na viva carne dela. Sem que me desse conta, começou a sangrar.

Havia-me dito que aquele não era seu primeiro marido, embora já o fosse há algum tempo. Nem era o pai de todos os seus filhos, embora o fosse de alguns. Ela tivera um outro amor, um outro casamento, uma outra vida, que aparentemente havia deixado como a serpente deixa a pele, porque seu tempo havia passado e era hora de mudar. O marido de agora era um bom marido, assim me havia dado a entender no princípio, sorrindo aqueles seus sorrisos.

Tudo certo, então. Mas as contas podem não quadrar, mesmo no acerto.

Havia nela, percebi depois, uma tensão interna, desejosa, como se precisasse de mais espaço do que aquele de que dispunha ou de maiores emoções. Como se fosse jovem. A pele que vestia ia-lhe apertada, algo nela queria perder-se de moto nas estradas, algo pedia mais ar. E o medo não deixava.

Por que sua falta de felicidade começou a subir-lhe garganta acima não sei. Talvez por ter-me ouvido, em meio a tantas conversas, contar uma história de amor. Talvez por uma identificação que a levava, no pouco tempo de que dispúnhamos, a querer ser vista por mim como realmente era.

É uma longa história, me disse aquela noite enquanto andávamos, não vai dar para te contar. Então não conte, respondi, querendo evitar a entrega que parecia-me não caber naquelas circunstâncias. Mas ela precisava falar, mesmo que o ruído da rua não me deixasse ouvir, mesmo que tivesse que me reter pelo braço, porque eu andava alguns passos à sua frente na calçada apertada. Da longa história só colhi acenos, mínimos fragmentos, quase nada. E logo estávamos no restaurante, sentadas à grande mesa de amigos, uma diante da outra.

Só depois, cheios os copos, vi que ela chorava em silêncio, sem que os outros se dessem conta.

Da longa história que não havia conseguido me contar, o principal estava dito. 

Tereza Cruvinel - Já era tempo‏

Tereza Cruvinel - Já era tempo

Ao chamar Ricardo Berzoini para a articulação política, a presidente informa que lhe caiu a ficha sobre o grau de esgarçamento da própria coalizão


Estado de Minas: 27/03/2014


Quando um governo apoiado por uma coalizão que reúne quase 400 dos 513 deputados leva quatro meses para aprovar uma lei relevante como o Marco Civil da Internet, ou não consegue evitar a convocação caprichosa de 10 ministros pela Câmara, algo mais grave pode acontecer se continuar falhando na articulação política. A presidente Dilma demorou para compreender isso. Foi há duas semanas, quando a base governista se rebelou, formando o já falecido “blocão”, que ela acolheu a sugestão feita pelo ex-presidente Lula há quatro meses e convidou o deputado Ricardo Berzoini para ser ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, a SRI. A primeira pergunta dele foi sobre o destino da ministra Ideli Salvatti, que Dilma já resolvera: substituiria na Secretaria de Direitos Humanos a ministra Maria do Rosário, já informada de que não sairia na semana passada, com os demais ministros que serão candidatos.

O problema da Petrobras e o risco de uma CPI mista no Congresso ainda não estava, portanto, em pauta. Mas Berzoini tomará posse no curso de uma das mais delicadas situações políticas já enfrentadas pelo governo atual, pois envolve a própria Dilma, na condição de presidente do conselho de administração que aprovou a danosa compra de uma refinaria no Texas, EUA. Se a vasta coalizão governista não acumulasse tantas insatisfações, seja com a prepotência palaciana, o desdém de Dilma ou o mal atendimento dos ministros, afora as tensões pré-eleitorais na relação com o PT nos estados, a oposição, com suas limitações nas duas Casas, nem estaria falando em CPI. Restaurar o tecido da coalizão será o principal desafio do futuro ministro, quando fala do que o espera: “Há quatro meses, quando o (ex) presidente Lula me falou disso, respondi que pretendia renovar meu mandato de deputado, mas, como sempre, não fugiria de uma missão, se minha contribuição fosse importante. Agora, quando a presidente me convidou, disse-lhe o mesmo. É isso que vou fazer: emprestar minha experiência, minhas relações com as diferentes correntes, construídas nestes anos todos de parlamento, ao objetivo de ampliar o diálogo entre os dois Poderes em favor da agenda de interesse do país”.

Berzoini está no quarto mandato federal, já foi ministro da Previdência e do Trabalho e presidente do PT. Tem os atributos para sair-se bem. O sindicalista “duro” que chegou à Câmara em 1999 se tornou um dos melhores negociadores da bancada petista e um interlocutor confiável a aliados e adversários. A vida entre os deputados tem seus códigos, suas manhas, sua cultura. Na semana passada, por exemplo, com Marco Maia, Cândido Vaccarezza, José Mentor e outros petistas empenhados em assoprar as feridas, jantaram na casa do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e alguns peemedebistas. Entre eles, o líder Eduardo Cunha, protagonista da rebelião que fez a ficha de Dilma cair sobre o grau de esgarçamento da coalizão. Lá, ficaram até de madrugada, conversando abobrinhas. Costumes quase fúteis, mas importantes no dia a dia da política.

São antigas as críticas de Berzoini à gestão política do governo. Não a Ideli, que ele reconhecia muito empenhada, porém carente da autonomia e dos instrumentos necessários à articulação política. Aqui, ou em qualquer democracia que exige a prática da coalizão, tais instrumentos são os mesmos: aos aliados, o governo deve garantir o cumprimento dos acordos, o compartilhamento do poder (o que envolve cargos e emendas orçamentárias) e um mínimo de atenção e carinho, como reclamam eles. Um deputado gostaria de estar em seu município quando Dilma lá aparece para a formatura de uma turma do Pronatec ou para entregar tratores e retroescavadeiras. Mas, quando são convidados, reclamam, é na véspera, não dá tempo de ir. E estando lá, gostariam de apertar a mão da presidente, mas acontece até de serem barrados no palanque. Esse jogo, Berzoini compreende e domina, mas terá de contar com a boa vontade de Dilma, com a parceria do ministro Aloizio Mercadante e – parece que houve aceno neste sentido – com o fortalecimento da minúscula (e hoje desacreditada) SRI. Quanto a Ideli, vai agora para a Secretaria de Direitos Humanos, mas deve ser indicada ministra do TCU no fim do ano, o que também dependerá dos aliados. O governo já perdeu duas indicações para o tribunal, em mais um sinal de que as coisas não estavam funcionando.

Seleção das espécies

A lei brasileira prevê que os membros dos conselhos de administração das estatais são, todos eles, responsáveis solidários pelos atos da diretoria, onde a responsabilidade também é colegiada. Na Ação Penal 470, do chamado mensalão, apenas um diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, foi processado, embora todos tenham assinado o ato questionado. Agora, a oposição representou apenas contra Dilma Rousseff no Ministério Público, pela aprovação da compra da refinaria nos EUA. Outros integrantes, inclusive três pesos-pesados do setor privado, como Jorge Gerdau, Claudio Haddad e Fabio Barbosa, não foram mencionados. A ata da reunião diz que eles também votaram a favor.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 27/03/2014



 (Bruno Bernard/Divulgação)
Eterna Marilyn

O Telecine Cult exibe às 22h o documentário Love, Marilyn. No longa dirigido há dois anos por Liz Garbus, anotações pessoais de Marilyn Monroe (foto) são reveladas e lidas por personalidades do cinema. Muitas das angústias, desejos e sonhos da atriz vêm à tona, mostrando um lado do ícone do cinema que muita gente não conhecia.

Nova temporada do
programa Decora


Estreia às 22h no GNT a sétima temporada do Decora. No programa, a arquiteta Bel Lobo transforma ambientes de acordo com a recomendação dos participantes. A atração mostra o passo a passo da reforma do cômodo e a alegria e surpresa dos participantes quando tudo fica pronto. No primeiro episódio, Bel atende um chamado muito especial: o de quatro irmãos gêmeos que, com a ajuda da mãe, mandaram um vídeo pedindo um quarto novo.

Leilão de depósitos?
Só mesmo no Texas


Leilões de unidades de armazenamento são a mais nova e maior fonte de renda ainda inexplorada pelos norte-americanos. Estes depósitos estão cheios de tesouros escondidos. As ofertas vão da diversão à aventura, como mostra a terceira temporada de Quem dá mais? Texas, às 22h30, no A&E.

Documentário
sobre pássaros


O +Globosat estreia às 17h o documentário Beija-flor – Mensageiro de Deus. O filme dirigido por Paul Reddish mostra detalhes da vida da espécie, comum no Brasil e no Equador. Para se ter uma ideia, menos de um segundo é o suficiente para o sangue do beija-flor percorrer todo o seu organismo. Por outro lado, a ave precisa se alimentar a cada 15 minutos. E sabe toda a beleza de suas penas? É propositalmente produzida por eles com a ajuda dos raios solares, para afastar rivais indesejáveis. Para captar cada detalhe do movimento das velozes asas dos beija-flores, a produção precisou recorrer às mais modernas câmeras de alta velocidade disponíveis no mercado.

Paul Walker em
três aventuras


A Fox exibe a partir das 23h15 maratona com filmes de Paul Walker, ator morto em 2013 em acidente de carro. O primeiro filme é Ladrões, sobre grupo de bandidos acostumado a executar assaltos sem deixar vestígios que resolve se aposentar, mas para isso tem que executar um último serviço, que irá render a bolada de US$ 20 milhões. À1h15 irá ao ar Mergulho radical, sobre um casal que se dedica a encontrar tesouros perdidos. Por fim, às 3h, será reprisado Velozes e furiosos, a estreia da franquia que fez Walker alcançar a fama.

A trajetória de
um cometa


O episódio inédito da série Cosmos, às 22h30, no Nat Geo, leva o título de Quando o conhecimento venceu o medo. A Nave da Imaginação está no reino da Nuvem Oort, cercada de 1 trilhão de cometas. Ela faz uma viagem perseguindo um único cometa em seu mergulho de milhões de anos até o Sol.



CARAS & BOCAS » Doença precoce
Simone Castro

Selma (Ana Beatriz Nogueira) apresentará sintomas de senilidade na trama de Em família   (Cynthia Salles/TV Globo)
Selma (Ana Beatriz Nogueira) apresentará sintomas de senilidade na trama de Em família

Com a morte do marido, a tristeza tomou conta de Selma, vivida por Ana Beatriz Nogueira na trama de Em família (Globo). Nos próximos capítulos, ficará claro que ela está ficando doente. A personagem dará mostras de sofrer de senilidade precoce, revelada numa sucessão de esquecimentos. Numa cena, ela se irritará com Mauro (Remo Rocha), quando ele diz que a patroa não lhe deu o dinheiro para fazer os pagamentos da casa. Selma afirmará que foi ao banco e pedirá para a empregada Ceiça (Ju Colombo) confirmar. “Ao banco a senhora foi na semana passada e retirou para duas semanas”, responderá. Selma chegará a dizer que alguém poderá ter levado a quantia sacada. Mas Ceiça encontrará o dinheiro em uma caixa e perguntará se a patroa esqueceu de tê-lo colocado ali. Mais irritada, Selma dirá: “Claro que eu lembro! Que pergunta é essa?”. Outros episódios colocarão a empregada em alerta. A mãe de Laerte (Gabriel Braga Nunes) vai esquecer uma panela no fogo e quando sair de casa não perceberá que calça um tênis num pé e no outro uma sandália. Ceiça decidirá falar com o músico sobre o assunto.

SUBSTITUTA DE ISIS VALVERDE
EM FILME JÁ FOI ESCOLHIDA


Isis Valverde, que se recupera de uma lesão na coluna cervical, consequência de um acidente de carro que sofreu no fim de janeiro, teve que abrir mão de sua participação no filme Divã 2, em que seria a protagonista. A substituta foi escolhida e anunciada: Vanessa Giácomo, que brilhou como a vilã Aline em Amor à vida (Globo).

VILÕES DE JOIA RARA TERÃO
FINAL PARA LÁ DE TRÁGICO


Apesar de confessar seus crimes e se resignar a cumprir anos de cadeia, o agora bonzinho Ernest Hauser (José de Abreu) não escapará de um fim trágico em Joia rara (Globo). E o mesmo acontecerá com seu companheiro de maldades durante toda a trama, Manfred (Carmo Dalla Vecchia). Tudo começará quando este raptar Pérola (Mel Maia). Ele manterá a criança em cativeiro, mas a polícia descobrirá o local. Manfred conseguirá fugir levando Pérola. Cercado, ele se entregará colocando as mãos para cima, mas fará um movimento suspeito e será baleado. Ernest se jogará na frente do rapaz e também será atingido. Manfred ouvirá o empresário chamá-lo de filho e morrerá. Levado ao hospital, Ernest não resistirá.

ATRIZ SE LANÇA A NOVO
DESAFIO COMO DIRETORA


Malu Mader, que já dirigiu o documentário Contratempo, parceria com Mini Kerti, lançado em 2008, se lança a novo desafio na telinha. Ela vai participar do grupo de direção do remake da novela O rebu (Globo), que irá ao ar às 23h. A estreia será em julho. No elenco, Marcos Palmeira, Marco Pigossi e Sophie Charlotte. Com os dois últimos Malu trabalhou na novela Sangue bom, em que interpretou a suburbana Rosemere, novidade em sua carreira, sempre marcada por mocinhas finas e elegantes. E se saiu muito bem.

CSI PERDE UM DOS SEUS
PRINCIPAIS PERSONAGENS


Na série CSI desde o primeiro episódio, o ator Paul Guilfoyle, que interpreta o capitão Jim Brass, se despedirá da atração no fim da atual 14ª temporada. Os produtores Carol Mendelsohn e Don McGill anunciaram a saída do ator, destacando sua importância para a série. Com a saída de Paul, agora só resta George Eads, que vive o Nick, do elenco original. A série segue firme e forte, já renovada para mais uma temporada. E apresentará, em breve, um spin-off para tratar de crimes virtuais. No Brasil, CSI é exibida no canal Sony (TV paga).

NOVELA DERRAPA

O site TV Square, que acompanha a repercussão de atrações da TV nas redes sociais, divulgou que a novela Em família, de Manoel Carlos, desperta menos interesse do que as tramas vespertinas e noturnas importadas do SBT/Alterosa. A produção do horário nobre da Globo, na semana passada, foi alvo apenas de 1,56% dos comentários, sendo superada por Chiquititas, com 2,51%, e pelos enlatados Rebelde (2,30%) e A madrasta (1,61%). A situação da trama é preocupante, pois sua antecessora, Amor à vida, de Walcyr Carrasco, não deixava para ninguém. Como é de praxe, apela-se para cenas apimentadas. Mas nem isso tem ajudado Em família. No capítulo de segunda-feira, por exemplo, rolou transa entre Luiza (Bruna Marquezine) e André (Bruno Gissoni), além do encontro nada esperado entre Juliana (Vanessa Gerbelli) e Jairo (Marcello Melo Jr.), numa pegação danada. Nenhuma das cenas, porém, atiçou a curiosidade dos internautas. Em família foi a quinta novela mais comentada, com 1,04% das citações, atrás de Além do horizonte e Joia rara, da mesma emissora, e de Chiquititas.

VIVA
J. P Rufino, mais uma vez, dá show como o Nilson de Além do horizonte (Globo). Agora como o pequeno homem de negócios, o ator mirim rouba ainda mais a cena.

VAIA
André (Caco Ciocler), em Além do horizonte. Ele é um policial que não assume as rédeas das investigações da tal comunidade e, às vezes, age como um amador.

Riscos de desnutrição em idosos gerados por perdas na dentição

Atenção aos dentes na terceira idade 

Estudo japonês mostra os riscos de desnutrição em idosos gerados por problemas relacionados às perdas na dentição 
 
Vilhena Soares
Estado de Minas: 27/03/2014


Puxões de orelha para escovar os dentes são comuns em crianças, que ouvem o alerta dos pais durante toda a infância. A saúde bucal, porém, precisa de vigilância também décadas depois das primeiras broncas: na terceira idade. Com o tempo, muitas pessoas perdem dentes por conta de descuidos e doenças, o que compromete a ingestão de alimentos e pode debilitar um organismo já marcado pelas fragilidades acarretadas pelo envelhecimento. Cientistas japoneses realizaram estudo que mostra o quanto os idosos podem se prejudicar ao deixar de cuidar da boca. Eles reforçam que mais visitas ao dentista e tratamentos como implantes e próteses podem contribuir para a diminuição de deficiências nutricionais depois dos 60 anos.

Shingo Moriyaa, um dos autores do estudo e pesquisador do Instituto Nacional de Saúde Pública Health, explica que o trabalho buscou analisar se os idosos com problemas de dentição enfrentavam mais dificuldades relacionadas à alimentação. Ele destaca que essa preocupação tem sido constante e foco de estudo de muitos cientistas. “Examinamos as relações entre as condições bucais e as gerais, ou seja, a nutrição, o desempenho físico, a capacidade funcional, a necessidade de cuidados de longa duração e a longevidade. Essas ligações foram estabelecidas em muitos outros trabalhos”, destaca, no estudo publicado na revista Japanese Dental Science Review.

Segundo Moriyaa, os idosos analisados que tinham menos de 28 dentes relataram um significativo consumo menor de cenouras, saladas e fibras alimentares em comparação àqueles com a dentição mais completa. “Eles também apresentaram menores níveis de betacaroteno (antioxidante presente em plantas, ácido fólico e vitamina C), indicando que a condição dentária afetava significativamente a dieta e a nutrição”, destaca o cientista.

O organismo malnutrido, entre outras debilidades, dificulta a locomoção de idosos, aumentando os riscos de quedas. Estudo recente da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca indica que a mortalidade acumulada em um ano em decorrência de tombos é de 25,2% em idosos vítimas de quedas graves e de 4% nos que sofreram acidentes mais leves. “Muitos estudos como o nosso têm mostrado que a mortalidade é significativamente associada com o estado dental. Para corrigir essa mastigação, acreditamos que nada mais adequado do que a utilização de próteses”, defende Shingo Moriyaa.

 Professora de odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dalva Padilha ressalta que outros recursos podem ser utilizados para que esses problemas não afetem a saúde dos idosos. “No caso da desnutrição, pode-se cuidar para que a pessoa tenha uma dieta mais adequada. Ela precisa se adaptar ao que pode comer”, diz. No entanto, a especialista frisa que o mais importante é a manutenção dos dentes. “O ideal é fazer sempre uma boa manutenção, visitando o dentista periodicamente. Nada é melhor do que a dentição natural. Existe um mito de que, ao envelhecer, perderemos todos os dentes. Isso está errado, podemos seguir toda a vida com eles”, complementa.

Léo Kriger, coordenador de Saúde Bucal do Estado do Paraná e professor da PUC Paraná, também ressalta que a manutenção é a melhor arma de proteção para os idosos. “Antigamente, não existia um diagnóstico adequado. Até a descoberta de problemas na boca o paciente enfrentava um longo percurso. Hoje, já temos técnicas mais avançadas. As novas gerações vão chegar à terceira idade com todos os dentes, pois há muitas intervenções eficazes e que garantem a longevidade da dentição.”

Kriger acredita que os idosos têm se preocupado mais com a saúde bucal e ido mais ao dentista em busca de minimizar problemas. Em alguns casos, uma postura que reflete mudanças no atendimento oferecido pelo sistema público de Saúde. “Durante muitos anos, as secretarias de saúde deram atenção somente à saúde bucal das crianças, mas isso está mudando. Agora, o foco é no paciente durante toda a vida e isso fez com que as pessoas mais velhas procurassem mais esses serviços. Esse cuidado é de extrema importância, pois existem problemas que podem até influenciar problemas cardíacos, que podem se agrava na terceira idade”, complementa.

Alternativas nutricionais

Um dos maiores problemas nutricionais enfrentados pelo idoso é a deficiência na digestão proteica, que pode provocar a diminuição de produção de ácido clorídrico, necessário para a digestão. A condição pode ser agravada pela dificuldade de mastigação, segundo o nutricionista Murilo Pereira, do Centro Universitário Iesb de Brasília. “A diminuição do ácido clorídrico, que nós chamamos de hipocloridria, exige ainda assim uma mastigação melhor dos alimentos, porém muitos idosos sofrem com esses problemas dentais e precisam de uma atenção maior quanto à alimentação”, destaca.

 Pereira explica que uma alternativa utilizada é o uso de suplementos. “Para preencher os nutrientes que não são ingeridos em alimentos mais duros, principalmente a carne, recomendamos o uso de proteínas hidrolisadas, suplementos proteicos que não necessitam de trituração mecânica, e que auxiliam também na digestão caso exista a diminuição do ácido clorídrico”, destaca. “Aminoácidos de forma líquida e o whey protein também podem ser utilizados para preencher o déficit de ingestão proteica.”

 O especialista destaca que o grande desafio é substituir os nutrientes das carnes pela textura dela. “No caso de frutas e legumes, eles podem ser batidos para a ingestão. Com a carne já não podemos usar essa alternativa.” (VS)

Palavra de especialista
Katyuscia Lurentt, cirurgiã dentista do Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro 
Métodos mais acessíveis

“ É um mito falarmos que, com a idade, iremos perder os dentes. Se for feita a visitação de seis em seis meses ao dentista, a pessoa poderá conseguir prevenir a perda óssea e da gengiva e chegar aos 80 ou 90 anos com todos os dentes. Uma das preocupações que temos com os idosos, por exemplo, é em relação ao uso de antidepressivos, comuns nessa idade, e que podem provocar uma salivação menor. A saliva é algo importante, pois previne o dente e a mucosa. Quanto à mastigação, estratégias podem ser a mudança da dieta e as próteses. Mas, caso haja recursos financeiros, vale investir no implante fixo, que substitui as funções exatas de um dente. Uma opção para quem não pode pagar pelos implantes é buscar faculdades que desenvolvem trabalhos nessa área. Nelas, os idosos podem ser atendidos a custos mais baixos.” 

OBSTETRÍCIA » Exposição ao sol reduz nível de ácido fólico‏

OBSTETRÍCIA » Exposição ao sol reduz nível de ácido fólico
Estado de Minas: 27/03/2014


Mulheres que tentam engravidar ou que estão grávidas devem tomar cuidado com o sol, alertam pesquisadores americanos. Após realizar um experimento científico, eles concluíram que a exposição aos raios UVs pode diminuir significativamente os níveis de ácido fólico. Os resultados do estudo foram publicados no Jornal de Fotoquímica e Fotobiologia.

No experimento, os pesquisadores analisaram 45 mulheres jovens e saudáveis, com idade entre 18 e 47 anos. Na análise fisiológica feita por eles, os resultados mostraram que altas taxas de exposição ao sol causam até 20% de redução nos níveis de folato. “As mulheres em risco eram aqueles que passavam grande parte do dia expostas ao sol, cerca de 10 horas, e com pouca proteção “, explica o professor Michael Kimlin, um dos autores do estudo, em um comunicado à imprensa.

Segundo Kimlin, professor do AusSun Research Lab, o ácido fólico é responsável por reduzir os riscos de aborto e outros problemas relacionados a bebês, como a malformação fetal. “Geralmente, a recomendação médica é de que as mulheres grávidas ou aquelas que planejam uma gravidez tomem 500 microgramas de suplemento de ácido fólico por dia”, complementa. Apesar dos benefícios, o cuidado ainda é pouco adotado pelas mulheres. Levantamento feito pelo médico Eduardo Borges da Fonseca, professor de obstetrícia da Universidade Federal da Paraíba, com 500 mulheres, mostra que só 13,8% tomaram suplemento de ácido fólico antes de engravidar. Metade das entrevistadas era atendida no sistema público de saúde e a outra na rede particular.

Apesar de os resultados apontarem malefícios do sol quanto aos níveis de ácido fólico, os cientistas explicam que o estudo precisa de uma continuidade para que as conclusões sejam mais esclarecidas. “Não estamos dizendo às mulheres que parem de tomar suplementos de ácido fólico, mas incitando-as a conversar com seu médico sobre e a importância do ácido fólico na dieta, especialmente aquelas que estão planejando uma gravidez “, frisa David Borradale, um dos autores do estudo e também professor do AusSun Research Lab. 

GOLPE DE 64/50 ANOS » Histórias marginais‏

GOLPE DE 64/50 ANOS » Histórias marginais Quando a esquerda tentou matar o assassino de Che e a ditadura tramou a morte de Brizola 
 
Daniel Camargos
Estado de Minas: 27/03/2014 04:00


Os embates entre os militares que tomaram o poder no Brasil por mais de 20 anos e os militantes que partiram para a luta armada na tentativa de resistir à ditadura e tentar devolver o país à democracia renderam episódios essenciais da história do país. Na série de reportagens que o Estado de Minas publica sobre os 50 anos do golpe militar, hoje são contadas duas histórias que estão à margem das narrativas sobre o período. Isso porque, apesar de planejadas com cuidado e pensadas nos mínimos detalhes, elas acabaram não ocorrendo.

No final da década de 1960, duas organizações – o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) – tramaram o assassinato de Gary Prado, o militar boliviano responsável pela prisão de Che Guevara na Bolívia. Quando Che foi assassinado, em outubro de 1967, os algozes do revolucionário argentino – que foi um dos comandantes da Revolução Cubana, em 1959, e estava na selva boliviana tentando implementar um foco guerrilheiro – se tornaram os alvos prediletos das organizações de esquerda. Afinal, o principal ícone e espelho de todos aqueles que brigavam para derrubar os governos militares havia sido assassinado.
Do outro lado do espectro ideológico uma trama de morte também deu errado. O plano quase levado a cabo pelo o ex-delegado do Departamento de Ordem Político Social (DOPS) do Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra, era matar o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (PDT), um ícone da resistência ao golpe, que havia voltado ao país com anistia e preparava sua candidatura para o governo do Rio de Janeiro.

As "duas mortes" de Gary Prado



A primeira tentativa de matar Gary Prado foi de militantes do Colina. Quem conta a história é o professor da Universidade Católica de Salvador (UCSAL) Amilcar Baiardi, de 72 anos, que tinha 26 em 1968. "O Gary Prado veio fazer um curso do Estado Maior do Exército", lembra. O curso habilitava os militares a serem promovidos a coronel e posteriormente a general. A notícia foi divulgada nos jornais e ouriçou os cabeças do Colina. "Na época, o Colina ainda era pequeno e o argumento era que, fazendo uma ação dessas se teria um impacto enorme e poderia se converter na força hegemônica dos movimentos que pretendiam conduzir a luta armada no Brasil", conta o professor.
Amilcar já havia feito mestrado profissional na Colômbia e trabalhava em Salvador, onde vivia uma vida dentro da legalidade, apoiando os movimentos, mas sem ser clandestino. Ele conheceu em 1967, em Porto Alegre, onde morou, um dos líderes do Colina, João Lucas Alves, que foi à cidade dar treinamento militar, e ouviu dele: "Nós vamos vingar o Che". Passados alguns meses, se encontrou novamente com João Lucas, que lembrou da conversa e pediu que ele fosse para o Rio de Janeiro.

João Lucas encarregou Amilcar de ser o responsável pela redação do documento comunicando a nação e as outras organizações da América Latina da execução de Gary Prado. Amilcar foi para um aparelho de olhos vendados (como eram chamados os apartamentos usados pelas organizações) e começou a rabiscar o que seria o comunicado. Enquanto isso, João Lucas e mais dois militantes (Severino Viana Colon e José Roberto Monteiro) partiram para execução, confiando nas informações passadas por um agente infiltrado no comando do Estado Maior.

"O soldado avisou que ele (Gary Prado) passaria em uma rua do Botafogo", recorda Amilcar, que não faz ideia de quem era o agente infiltrado. Porém, a informação era errada e os três fuzilaram o major do exército alemão, Edward Ernest Tito Otto Maximilian Von Westernhagen, que também fazia o curso do Estado Maior. O erro foi descoberto no aparelho, quando olharam os documentos na pasta que Edward carregava. Amilcar lembra que fizeram um pacto de silêncio e o mistério sobre a morte do alemão (que havia lutado com os nazistas na Segunda Guerra Mundial) permaneceu até 1985, quando ele revelou a trama para o historiador Jacob Gorender (1923-2013), que escrevia o clássico livro Combate nas trevas (Editora Ática, 1985).
João Lucas e Severino Viana foram assassinados na prisão, após serem brutalmente torturados. José Roberto também foi preso, mas sobreviveu e morreu anos depois em um acidente de carro. "Foi uma frustração não ter vingado o Che", avalia Amilcar. Entretanto, ele acredita que se Gary Prado tivesse sido assassinado teria mudado pouco a história. "O grande equívoco foi iniciar a luta armada", entende.

Outro pretenso vingador de Che pensa diferente. Um dos líderes da VPR, Wellington Moreira Diniz, acredita que se o plano arquitetado pela organização tivesse dado certo a história seria diferente. O plano, aliás, incluía o sequestro de Gary Prado e também do então vice-presidente do país, o Almirante Augusto Rademaker, que meses depois fez parte da trinca que governou o Brasil, quando Costa e Silva se afastou do cargo.

"Pensa o tamanho da pancada no país que tem o vice-presidente sequestrado e o cara que matou o Che também. Pensa que naquele momento o pleno poder era dos militares. Sequestrar o vice-presidente e o símbolo da direita e do imperialismo que era o Gary Prado teria influenciado um movimento mundial", acredita Wellington, de 67 anos.

Wellington é, provavelmente, o militante com o maior número de ações armadas entre todas as organizações. É acusado pelos inquéritos militares de 38 assaltos, entre bancos, quartéis e automóveis, e de ter matado 12 pessoas em ações de resistência à ditadura. Foi ainda o responsável pela segurança do líder da VPR, o capitão Carlos Lamarca, e fez parte do grupo que roubou US$ 2,598 milhões (R$ 15 milhões) do cofre da amante do político Adhemar de Barros.

Em 1969 ele estava escalado para morar em um sítio na área da reserva de Tinguá, em Petropólis, na região serrana do Rio de Janeiro. Vivia com uma companheira e se passava por sitiante. Plantava milho e cana-de-açúcar e durante as noites cavava um buraco, que serviria como cativeiro de Rademaker e Gary Prado. "Era um buraco que deveria ser cavado com retroescavadeira. Na picareta, eram horas e mais horas de serviço", recorda.

Porém, quando a organização ia se reunir para decidir os passos finais das ações o plano deu errado. "Eu era o comandante da segurança e fui verificar o local do encontro. Quando entrei, os militares estavam lá", lembra. Wellington tentou resistir, trocou tiros com os militares, mas foi preso e o plano do sequestro ruiu. O objetivo era trocá-los por militantes presos, como foi feito meses depois pelo Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) e pela Aliança Libertadora Nacional (ALN), que sequestraram o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. "O Gary Prado ia dançar. Acidentes acontecem. Ele ia tropeçar e cair", confessa Wellington, dando a entender que o responsável pela morte de Che seria executado.

O padre que "executou" Brizola





Leonel Brizola (1922-2004) voltou do exílio no dia 6 de setembro de 1979. Desceu em Foz do Iguaçu, no Paraná, e na manhã seguinte foi para São Borja, no Rio Grande do Sul, onde visitou os túmulos do seu padrinho de casamento, o ex-presidente Getúlio Vargas, e de seu cunhado, o também ex-presidente João Goulart. Quando Brizola chegou a Porto Alegre, dias depois, viu um impresso soturno: o convite para seu próprio enterro. Em 1983, Brizola assumiria o governo do Rio de Janeiro pela primeira vez, sem saber que seu futuro por muito pouco não foi interrompido no início dos anos 80.

"Eu recebi a ordem do coronel Freddie Perdigão de executá-lo quando ele saísse do apartamento em que morava, em Copacabana", afirma o ex-delegado do Departamento de Ordem Político Social (DOPS) do Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra. O plano, segundo Guerra, deveria implicar a Igreja Católica e os cubanos. A "tese de cobertura", nas palavras dele, era sustentar o assassinato com o argumento de que Brizola havia se apossado de dinheiro enviado por Cuba para fomentar a guerrilha no Brasil e comprado fazendas e gado no Uruguai.

Existe uma lenda entre a esquerda, que era alimentada pelas forças repressivas, de que Brizola havia ficado com parte do dinheiro que Cuba enviou para as guerrilhas. Porém, após a derrota da Guerrilha do Caparaó, em 1967, Brizola abandonou a estratégia dos focos guerrilheiros. Atribuem ao ex-presidente cubano, Fidel Castro, o apelido de "El Ratón" dado ao político gaúcho. Porém, o desvio nunca foi comprovado e Brizola sempre negou a acusação.

"Fui vestido de padre e ia executá-lo com uma pistola .45, pois era a arma preferida dos cubanos", recorda Guerra, que contou essa história pela primeira vez em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, no livro Memórias de uma guerra suja (Topbooks, 2012). Guerra lembra que chegou à portaria do prédio em que Brizola morava e ficou conversando com o porteiro. Esperou por 15 minutos, mas como Brizola não desceu e nem saiu da garagem de carro, ele ligou para o coronel Perdigão, cujo codinome era Doutor Flávio, e que foi um dos mais cruéis torturadores do regime militar. "Ele mandou abortar e ir embora", recorda Guerra.

O ex-delegado, que, depois de ser preso acusado de vários crimes, se converteu e hoje prega em uma igreja evangélica, disse que houve um acordo e o plano falhou. "Se ele (Brizola) fosse assassinado causaria uma revolta muito grande. A sociedade civil ficaria revoltada com a esquerda. Tudo que era feito tinha o objetivo de desastabilizar o país para não ter a abertura", afirma Guerra.