Zero Hora 26/02/2014
Enquanto assistia à novela, você comparou a atriz ao Coringa por causa
da plástica que ela fez na boca. Ao ver a foto de uma socialite no
jornal, comentou que aquilo não era um penteado, e sim uma vingança do
cabeleireiro. Num bar, deu uma zoada no garçom assim que ele se virou de
costas: é a cara do Bart Simpson! A dona de olheiras profundas que é
amiga da amiga da sua amiga não escapa de uma piadinha em off. Você não
se conforma: por que a Teca continua usando aquela camisa azul-turquesa
acetinada? E não acreditou no microtamanho do biquíni da vizinha de
praia. Ela não tem espelho em casa?
Sei que você é boa gente e que jamais negaria um emprego ao garçom
com cara de Bart Simpson, que ama de paixão a amiga que usa camisa
azul-turquesa e que convidaria a vizinha fora de forma para ser madrinha
do seu filho. Você sabe que as pessoas valem pelo que são por dentro.
Você tem plena noção de que aparência não determina caráter,
inteligência, talento, importância. Você não é burra. Você apenas pega
no pé de vez em quando, como todo mundo.
Nenhum de nós passaria incólume por um “microfone aberto”. Falar mal
faz parte da natureza humana, mas quem quer saber de absolver
humanizações quando se pode ser o paladino da justiça? Todas as pessoas
são terríveis e preconceituosas, menos você, não é assim?
É bem ilustrativo o caso da professora de uma universidade carioca
que teve a infeliz ideia de fazer uma foto de um sujeito na área de
embarque do aeroporto vestindo bermuda e camiseta regata, publicando-a
no Facebook com a seguinte legenda: “Aeroporto ou rodoviária?”. Bastaram
essas três palavras para ser afastada do cargo e sofrer um linchamento
moral por internautas que não perdoaram a indelicadeza do registro.
Não defendo a postagem de fotos de desconhecidos no Face – aliás,
não defendo nem a de conhecidos. Não considero elegante a atitude da
professora, ainda mais que o rosto do sujeito foi exposto. É possível
que venha a ser processada por ele: não foi uma crítica ao pé do ouvido,
e sim pública. Não dá. Não pode. Que o cara se sentisse ridicularizado,
era de se esperar, mas a reação exagerada da coletividade evidencia uma
certa hipocrisia. A professora foi massacrada por todos os anjos do
universo que jamais fizeram um comentário jocoso em suas vidas.
Particularmente, acho que homem de camiseta regata, só se for
salva-vidas. Questão de gosto, opinião que se compartilha entre risadas
com meia dúzia de amigas. Era o que a professora imaginava estar
fazendo, sem considerar as consequências dessa nova sociedade em que
nada mais fica “entre nós”, tudo fica entre todos. Ninguém deve humilhar
ninguém, e ela o fez, mesmo que num impulso zombeteiro, sem intenção de
que repercutisse fora da sua turma. Foi ingênua. Que sirva de exemplo
para todas as postagens indevidas em redes sociais. Não existe mais
piada interna.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
De grão em grão... - Mãe Stella
A Tarde/BA 26/02/2014
Maria Stella de Azevedo Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá
opoafonja@gmail.com
O artigo anterior, intitulado “Sucateiro, sucateiro”, foi construído através de uma mistura entre realidade e fantasia. Para minha surpresa não foram poucos os e-mails que recebi tecendo comentários sobre o referido artigo. Uns falavam com saudosismo sobre os antigos vendedores que caminhavam pelas ruas exaltando suas mercadorias; outros diziam o quanto sorriram naquele dia ao lembrar o texto; já muitos outros comentavam sobre a relação entre sonhos e ilusões.
Fiquei espantada com a surpresa que alguns leitores tiveram ao saber que eu ainda tinha sonhos. Transformei esse fato em um bom motivo para reflexão. Quando o corpo não nos dá condição de fazer uma boa faxina em uma casa, aproveita-se a cabeça para faxinar a alma e o espírito.
Por que será que algumas pessoas puderam pensar que eu não tenho mais sonhos? – perguntei-me. Achavam eles que eu já tinha conquistado tudo o que eu queria? Pensavam que o mundo já estava tão chato para mim, tão repetitivo, que eu mais nada queria?
Como não posso concluir o pensamento dos outros, não encontrei resposta para minhas indagações, mas espantei-me com a quantidade de sonhos (concretizáveis) que ainda guardo em meu interior.
Uma das proibições que nós recebemos enquanto iniciados no candomblé é ficar sentado com a mão segurando o queixo. O aprendizado embutido neste tabu é de quenão devemos ficar apenas no mundo das ideias, devemos partir para a ação. Sendo assim, compartilharei com todos um dos muitos sonhos que ainda pretendo concretizar.
Todos os religiosos que sejam convictos de sua função na Terra, principalmente aqueles que são consagrados para o sacerdócio, têm consciência de que precisam fazer duas coisas aparentemente simples, mas que são complicadíssimas em seus fundamentos: dar e pedir. É a famosa lei universal da troca que insisto em repetir em muito do que escrevo na esperança que fixe de vez em meu coração, e que penetre nos corações daqueles que ainda não atentaram em cumprir tão importante lei.
A religiosa baiana Irmã Dulce foi um exemplo de cumprimento da lei em questão. Sua capacidade de doação é facilmente identificada através de suas obras, mas acredito que poucos conhecem o quanto ela precisou fazer uso da humildade para pedir o que necessitava, a fim de que seus sonhos se concretizassem. Quando crianças estudamos no mesmo colégio, assim pudemos acompanhar mesmo de longe a vida sacerdotal uma da outra. Eu sabia, por exemplo, que quando faltava algo que Irmã Dulce necessitava para ajudar aos menos favorecidos, ela simplesmente entrava em uma loja e pedia ao vendedor aquilo que precisava, carregava com suas próprias mãos e se despedia alegremente dizendo: “Deus lhe pague”.
Inspirando-me no exemplo que nos foi dado por Irmã Dulce, concluo este artigo revelando um de meus maiores sonhos que pretendo vê-lo concretizado estando eu ainda viva. Tenho a certeza que “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Por isso, busco em mim a humildade que me foi proporcionada pela vida religiosa para pedir, pedir muito, a ajuda de todos que, preocupados com a violência que aumenta cada dia mais, vejam no estímulo à busca por uma maior espiritualidade uma das saídas (mesmo sendo em longo prazo) para a diminuição de tanta agressividade.
Revelo agora meu sonho acompanhado dos pedidos que faço para os amigos e os amigos de meus amigos, no sentido de que eles usem a web como uma grande rede de pescar benefícios coletivos: gostaria de construir uma biblioteca ambulante, composta por livros voltados para o despertar da religiosidade inerente ao ser humano. Preciso de um ônibus que venha a ser adaptado.
Peço a ajuda de pessoas físicas, empresas particulares, governamentais, enfim, peço ajuda aos homens e mulheres de boa vontade, que sabem que não basta apenas reclamar, nem apenas sonhar, tem que concretizar. Sendo assim, espero agora receber muitos e-mails com oferecimento de ajuda (não importando a forma nem o valor a ser oferecido), para que eu possa dizer, parafraseando Irmã Dulce: Que os orixás lhes paguem com bênçãos de todos os tipos.
Maria Stella de Azevedo Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá
opoafonja@gmail.com
Revelo meu sonho e
peço ajuda: gostaria
de construir
uma biblioteca
ambulante,
composta por
livros voltados
para o despertar
da religiosidade
O artigo anterior, intitulado “Sucateiro, sucateiro”, foi construído através de uma mistura entre realidade e fantasia. Para minha surpresa não foram poucos os e-mails que recebi tecendo comentários sobre o referido artigo. Uns falavam com saudosismo sobre os antigos vendedores que caminhavam pelas ruas exaltando suas mercadorias; outros diziam o quanto sorriram naquele dia ao lembrar o texto; já muitos outros comentavam sobre a relação entre sonhos e ilusões.
Fiquei espantada com a surpresa que alguns leitores tiveram ao saber que eu ainda tinha sonhos. Transformei esse fato em um bom motivo para reflexão. Quando o corpo não nos dá condição de fazer uma boa faxina em uma casa, aproveita-se a cabeça para faxinar a alma e o espírito.
Por que será que algumas pessoas puderam pensar que eu não tenho mais sonhos? – perguntei-me. Achavam eles que eu já tinha conquistado tudo o que eu queria? Pensavam que o mundo já estava tão chato para mim, tão repetitivo, que eu mais nada queria?
Como não posso concluir o pensamento dos outros, não encontrei resposta para minhas indagações, mas espantei-me com a quantidade de sonhos (concretizáveis) que ainda guardo em meu interior.
Uma das proibições que nós recebemos enquanto iniciados no candomblé é ficar sentado com a mão segurando o queixo. O aprendizado embutido neste tabu é de quenão devemos ficar apenas no mundo das ideias, devemos partir para a ação. Sendo assim, compartilharei com todos um dos muitos sonhos que ainda pretendo concretizar.
Todos os religiosos que sejam convictos de sua função na Terra, principalmente aqueles que são consagrados para o sacerdócio, têm consciência de que precisam fazer duas coisas aparentemente simples, mas que são complicadíssimas em seus fundamentos: dar e pedir. É a famosa lei universal da troca que insisto em repetir em muito do que escrevo na esperança que fixe de vez em meu coração, e que penetre nos corações daqueles que ainda não atentaram em cumprir tão importante lei.
A religiosa baiana Irmã Dulce foi um exemplo de cumprimento da lei em questão. Sua capacidade de doação é facilmente identificada através de suas obras, mas acredito que poucos conhecem o quanto ela precisou fazer uso da humildade para pedir o que necessitava, a fim de que seus sonhos se concretizassem. Quando crianças estudamos no mesmo colégio, assim pudemos acompanhar mesmo de longe a vida sacerdotal uma da outra. Eu sabia, por exemplo, que quando faltava algo que Irmã Dulce necessitava para ajudar aos menos favorecidos, ela simplesmente entrava em uma loja e pedia ao vendedor aquilo que precisava, carregava com suas próprias mãos e se despedia alegremente dizendo: “Deus lhe pague”.
Inspirando-me no exemplo que nos foi dado por Irmã Dulce, concluo este artigo revelando um de meus maiores sonhos que pretendo vê-lo concretizado estando eu ainda viva. Tenho a certeza que “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Por isso, busco em mim a humildade que me foi proporcionada pela vida religiosa para pedir, pedir muito, a ajuda de todos que, preocupados com a violência que aumenta cada dia mais, vejam no estímulo à busca por uma maior espiritualidade uma das saídas (mesmo sendo em longo prazo) para a diminuição de tanta agressividade.
Revelo agora meu sonho acompanhado dos pedidos que faço para os amigos e os amigos de meus amigos, no sentido de que eles usem a web como uma grande rede de pescar benefícios coletivos: gostaria de construir uma biblioteca ambulante, composta por livros voltados para o despertar da religiosidade inerente ao ser humano. Preciso de um ônibus que venha a ser adaptado.
Peço a ajuda de pessoas físicas, empresas particulares, governamentais, enfim, peço ajuda aos homens e mulheres de boa vontade, que sabem que não basta apenas reclamar, nem apenas sonhar, tem que concretizar. Sendo assim, espero agora receber muitos e-mails com oferecimento de ajuda (não importando a forma nem o valor a ser oferecido), para que eu possa dizer, parafraseando Irmã Dulce: Que os orixás lhes paguem com bênçãos de todos os tipos.
FERNANDO BRANT » É mais do que vinte centavos
FERNANDO BRANT »
É mais do que vinte centavos
Estado de Minas: 26/02/2014
De que serve esquecer
que os problemas existem e jogá-los para frente, como se o tempo ou o
vento pudessem eliminá-los, como se, não enfrentados, não retornassem
com mais força? Na vida de cada um de nós, adiar as soluções acaba por
nos tornar reféns do evitável. Antes tarde do que nunca ou deixar para
amanhã o que se deve fazer hoje não são sinônimos de sabedoria popular.
São imprudência, imprevidência. Ignorância, enfim.
Quase ninguém hoje foi trabalhar. Há uma greve geral de ônibus e as ruas, oficinas e escritórios estão vazios. O transporte coletivo é como o sangue em nosso corpo. Sem ele percorrendo as artérias e veias não há vida.
E por que os motoristas de ônibus e trens pararam a cidade? Serão insensíveis às agruras de seus semelhantes, familiares e amigos? Certamente que não. Eles também sofrem na carne e em casa os atropelos do dia a dia das grandes metrópoles. Trabalham e suam e merecem ser remunerados com dignidade, para que eles e os seus tenham uma vida decente.
Mas há algo errado nesse movimento, pois os que mais são prejudicados são os trabalhadores assalariados, é a imensa maioria de brasileiros que se desdobra para crescer e, em consequência, fazer o país avançar.
Quando se iniciaram os movimentos populares em 2013, o mote inicial era a discordância com um aumento de R$ 0,20 nos bilhetes do transporte de São Paulo. Da faísca fez-se um fogaréu que se espalhou por todo o Brasil. O saco de todos estava mais que cheio e as reclamações contra a corrupção e a incompetência dos governos falou alto. O padrão das obras para a Copa do Mundo deveria espelhar o padrão da educação, da saúde, da segurança e dos transportes oferecidos para todos os cidadãos. E não é o que acontecia ou acontece.
O Congresso discursou e não entendeu nada. Propôs porcarias irresponsáveis. O governo implantado em Brasília, além de também não compreender a força e o significado dos protestos, sugeriu pauta que se casava mais com ditadura do que democracia. Enfim, nada se fez de proveitoso para sair da pasmaceira política geral.
O que se vê então, nesta manhã em que a cidade de Belo Horizonte amanheceu sem condução que nos leve de casa para o trabalho e do trabalho para casa, é a constatação de que os problemas existem e devem ser enfrentados, não adiados ou provisoriamente esquecidos.
Estava na cara que, aumentados todos os preços que movem os ônibus e trens e todos os itens da sobrevivência dos brasileiros, uma hora a conta iria chegar. A discussão dos preços do transporte coletivo volta às ruas, não há como fugir dela. Os administradores públicos foram eleitos para deliberar com clareza sobre essa e outras questões. Que façam o que deve ser feito. É o mínimo que esperamos.
Quase ninguém hoje foi trabalhar. Há uma greve geral de ônibus e as ruas, oficinas e escritórios estão vazios. O transporte coletivo é como o sangue em nosso corpo. Sem ele percorrendo as artérias e veias não há vida.
E por que os motoristas de ônibus e trens pararam a cidade? Serão insensíveis às agruras de seus semelhantes, familiares e amigos? Certamente que não. Eles também sofrem na carne e em casa os atropelos do dia a dia das grandes metrópoles. Trabalham e suam e merecem ser remunerados com dignidade, para que eles e os seus tenham uma vida decente.
Mas há algo errado nesse movimento, pois os que mais são prejudicados são os trabalhadores assalariados, é a imensa maioria de brasileiros que se desdobra para crescer e, em consequência, fazer o país avançar.
Quando se iniciaram os movimentos populares em 2013, o mote inicial era a discordância com um aumento de R$ 0,20 nos bilhetes do transporte de São Paulo. Da faísca fez-se um fogaréu que se espalhou por todo o Brasil. O saco de todos estava mais que cheio e as reclamações contra a corrupção e a incompetência dos governos falou alto. O padrão das obras para a Copa do Mundo deveria espelhar o padrão da educação, da saúde, da segurança e dos transportes oferecidos para todos os cidadãos. E não é o que acontecia ou acontece.
O Congresso discursou e não entendeu nada. Propôs porcarias irresponsáveis. O governo implantado em Brasília, além de também não compreender a força e o significado dos protestos, sugeriu pauta que se casava mais com ditadura do que democracia. Enfim, nada se fez de proveitoso para sair da pasmaceira política geral.
O que se vê então, nesta manhã em que a cidade de Belo Horizonte amanheceu sem condução que nos leve de casa para o trabalho e do trabalho para casa, é a constatação de que os problemas existem e devem ser enfrentados, não adiados ou provisoriamente esquecidos.
Estava na cara que, aumentados todos os preços que movem os ônibus e trens e todos os itens da sobrevivência dos brasileiros, uma hora a conta iria chegar. A discussão dos preços do transporte coletivo volta às ruas, não há como fugir dela. Os administradores públicos foram eleitos para deliberar com clareza sobre essa e outras questões. Que façam o que deve ser feito. É o mínimo que esperamos.
Frei Betto-Carnaval incessante
Carnaval incessante
Cantarei marchinhas no coro dos anjos e clamarei todos os efes da fartura brasileira: fé, festa, feijão, farinha e futebol
Frei Betto
Estado de Minas: 26/02/2014
Neste Carnaval, quero baile à fantasia e a loucura insaciada dos que desfilam em blocos seus desejos irrefreáveis. Arrancarei do coração uma por uma de minhas máscaras: do cínico, do farsante e do pusilânime.
Quero-me nu na passarela em que me exibirei pelo avesso – aversões e preconceitos, contradições e mesquinharias. Sairei desfantasiado de barro e sopro, tal qual Deus me pôs no mundo.
Serei anônimo na euforia da escola de samba que terá como enredo a triste sina da alegria infeliz. Embriagado de nostalgias, contemplarei da avenida o brilho sideral dos carros alegóricos que atravessam em corso a Via Láctea.
Cantarei marchinhas no coro dos anjos e clamarei a altos brados todos os efes da fartura brasileira: fé, festa, feijão, farinha e futebol. Segredarei à porta-estandarte o ritmo de minha respiração compassada e compassiva. Desatolado de todas as alegorias, entrarei em meditação em pleno apogeu do recuo da bateria.
Cessado o burburinho das ruas, esmaecidas as luzes, adormecidos os foliões, atravessarei sozinho o sambódromo e recolherei pelo chão as sombras das tristezas fantasiadas de júbilo, das lágrimas contidas no ritual do riso, das ilusões defraudadas pela realidade. Deixarei ali os retalhos dessa descomplacência que me atordoa o espírito, na esperança de que a magia do próximo desfile exiba, em solene pompa, essa represada voracidade amorosa.
Se por acaso cruzar com Momo, hei de sugerir que se aposente. Carnaval já não é a festa da comilança que empanturra o estômago. São olhos glutões a engolir, sôfregos, seios e bíceps e coxas e nádegas e braços e pernas, sedentos de narcísico reconhecimento, imprimindo ao espírito o fastio irremediável, tão enjoativo quanto a certeza de que, das cinzas da quarta-feira, a fénix da esbeltez não renasce.
Se a bateria prosseguir ressoando em meus ouvidos, apelarei a Orfeu para que me empreste a sua lira e me permita mergulhar nos mares subterrâneos do inconsciente. Aspiro pelo canto inebriador das musas e prefiro a agonia imponente do órgão e a suavidade feminina da harpa aos sons desconexos dessa parafernália que bem traduz minhas atribulações.
Carnaval é feito de momentos e eu, de tormentos. Devo fugir para alguma ilha deserta, abscôndita, embarcado no mar revolto de meu plexo solar ou fingir na avenida que os deuses do Olimpo vieram coroar-me? Onde andarão as cabrochas do meu bem-viver e o mestre-sala do meu destino?
Ah, quem dera pudesse eu trocar de humor a cada nova roupa, rasgar os mantos lúgubres que não me protegem do frio, acreditar nessa inversão de papéis que me conduz à apoteose exatamente quando o show é obrigado a cessar. Deixarei banhar-me de confetes na folia e me enroscarei em serpentinas para encobrir essa minha ânsia de desnudar a alma despudoradamente.
Ao amanhecer, quando o exército da faxina adentrar, serei encontrado estirado no asfalto, cada pedaço espalhado em um canto, à espera de que suas vassouras me juntem os cacos, cicatrizem-me as articulações, energizem os meus ossos e inflem a minha carne, até que eu ouse o mais difícil – fantasiar-me de mim mesmo.
Então ingressarei no baile da transparência, exibirei as vísceras no bloco da sensatez, trarei lá do fundo de meu ser a fonte de uma alegria que inaugura o império do silêncio. Ficarei tão leve que, com certeza, voarei sem asas, embriagado pela euforia que o carnaval suscita.
Sim, quero mais, quero um carnaval que nunca cesse e seja tão deslimitado que faça os mortos dos cemitérios saírem pelas ruas em infindável cordão, entoando loas à vida. E que o brilho do coração irradie tanta luz que traga aos meus olhos a cegueira para o transitório.
Neste carnaval, sejam ternas e eternas as minhas alegrias, distantes dos melindres fugidios, entregues às mais puras melodias, às mais inefáveis poesias.
TeVê
TV paga
Estado de Minas: 26/02/2014
Estado de Minas: 26/02/2014
Artes plásticas
A série Artes visuais apresenta hoje, às 21h30m, no SescTV, a exposição Tomie Ohtake: correspondências, a primeira de três mostras que o Instituto Tomie Ohtake preparou para comemorar, em novembro de 2013, o centenário de nascimento da artista plástica que dá nome ao instituto. Com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, a exposição apresenta os principais trabalhos da carreira de Tomie (foto) desde 1956 até 2013. O documentário também mostra desenhos do arquiteto Oscar Niemeyer, amigo de longa data de Tomie, cuja semelhança com a artista está nos gestos circulares.
Documentário revela
as batidas do samba
O Canal Brasil continua com a mostra de produções sobre o carnaval , reservando para hoje, às 19h, o documentário As batidas do samba, de Bebeto Abrantes. O filme propõe uma reflexão sobre a evolução histórica do ritmo sob o ponto de vista da própria música, abordando as transformações sofridas a partir da introdução de novos instrumentos e do uso de diferentes levadas, enriquecendo o debate com depoimentos de Wilson das Neves, Monarco, Paulão 7 Cordas e Moacyr Luz.
No Futura, o destaque
é o pífano nordestino
No Canal Futura, às 14h35, o Sala de notícias exibe o documentário Na rota dos pifes, de Hidalgo Romero e Alice Villela. Como o titulo indica, o programa conta a história do pífano, a mais tradicional entre as diversas flautas tocadas no Brasil, criada a partir da mistura de flautas indígenas e europeias, e isso já há 200 anos. Esta reportagem poético-documental cria um trajeto simbólico que sai de Pernambuco, passa por São Paulo e chega ao Rio de Janeiro, analisando o êxodo migratório e as tradições musicais brasileiras a partir do trabalho de três mestres de pífano.
Muitas alternativas na
programação de filmes
O Telecine Cult dá sequência à seleção de produções indicadas ou vencedoras do Oscar, com mais dois filmes esta noite: Filhos do silêncio (19h50) e Gente como a gente (22h). Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Dia de preto, no Canal Brasil; Kick-Ass – Quebrando tudo, no Studio Universal; As pontes de Madison, no Glitz; Amostras grátis, na HBO; Jogos vorazes, no Max HD; Jeff e as armações do destino, no Telecine Touch; U-571 – A batalha do Atlântico, na MGM; e De olhos bem fechados, no TCM. Outras atrações da programação: As horas, às 21h30, no Arte 1; Encontro de casais, às 22h15, no Universal Channel; Pecados íntimos, às 22h30; e Os infiltrados, também às 22h30, na TNT.
Nova atração do Curta!
também fala de cinema
No canal Curta!, estreia às 23h o programa Filmes que marcaram época, produção francesa que revela detalhes de bastidores do cinema, começando com o clássico O último tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider. De resto, um pacotão de curtas-metragens brasileiros, em dois blocos. Às 20h, a emissora emenda seis filmes de Marcelo Marão: Cebolas são azuis, Engolervilha, O arroz nunca acaba, O anão que virou gigante, Eu queria ser um monstro e EngoleLogoUmaJacaEntão. Às 22h45, a emissora exibe O encontro, de Marcos Jorge.
CARAS & BOCAS » Só confusão
Simone Castro
Soltas no Rio de Janeiro, as irmãs Selma (Luciana Paes) e Rita (Mariana Xavier), como era previsto, só querem curtir a vida. Deslumbradas, ela tentam, a todo custo, se firmar na cidade e adiar o quanto puderem a volta para a pacata Tapiré. Mas nada com a dupla é simples e, claro, tanta animação se transforma em confusão. No capítulo de Além do horizonte (Globo), as moças conseguem ir a uma festa vip. Selma, que quer ser "artística” de todo jeito, se passa por Rúbia, a cantora que foi contratada para dar o show da noite. No palco, assim que solta a voz, ela recebe uma vaia daquelas, deixando Rita bastante envergonhada. Depois, como se nada tivesse acontecido, as irmãs se divertem no cassino. O que é bom, porém, dura pouco: elas acabam presas por conta de um pacote suspeito que têm nas mãos. Já em Tapiré, a outra irmã, Fátima (Yanna Lavigne), tenta desvendar um segredo. A moça vive cismada desde que descobriu que sua mãe teve um envolvimento com Kléber (Marcello Novaes). Ela procura Keila (Sheron Menezzes), fala sobre suas suspeitas e comenta que tem medo de conversar com vó Tita (Analu Prestes) e confirmar que o vilão é seu pai. Esposa do mandachuva da cidade, Keila incentiva a amiga a esclarecer tudo. “Melhor falar logo, Fátima. Essa história de você ser filha do Kléber... Se é que isso é mesmo verdade... Essa história já ficou muito tempo guardada...”, diz Keila. “Eu sei... Mas é que tô com medo do que minha vó vai me falar... Eu gosto tanto dela... Tô com medo de me desapontar...”, diz Fátima.
ATRIZES NÃO RENOVAM
CONTRATO COM GLOBO
Nem mesmo o sucesso como Márcia, em Amor à vida (Globo), parece ter sido capaz de tornar Elizabeth Savalla exclusividade da Globo. A atriz não teria renovado seu contrato, que terminou dia 15, e, agora, deve receber por obra. O mesmo vale para a atriz Fernanda Rodrigues.
ESTREIA DE HUMORISTA
AINDA SEM DATA CERTA
Há uma interrogação no ar quanto à data da estreia do Agora é tarde, na Band, desta vez sob o comando de Rafinha Bastos. Enquanto algumas notícias dão conta de que está mantida a data inicial divulgada, ou seja, 11 de março, outras informam que a estreia foi antecipada e marcada para o dia 5. Tudo, claro, para se adiantar em relação à estreia do talk show The noite, de Danilo Gentili, no mesmo formato, no SBT/Alterosa, prevista para dia 10. Agora, uma quase certeza: se houver mudanças nas datas da Band, não será surpresa se o SBT for no mesmo compasso. É disputa boa!
PAPO DE BBB GERA AÇÃO
NA JUSTIÇA POR RACISMO
Uma conversa do participante Cássio Lanes com Valdirene, na passagem da personagem vivida por Tatá Werneck, de Amor à vida, no Big brother Brasil 14 (Globo), exibida pelo pay-per-view durante a primeira festa da atração, em 16 de janeiro, é alvo de investigação, segundo o site Uol. A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) solicitou o vídeo à emissora. O comentário de Cássio em relação aos detalhes de ter feito sexo com uma afrodescendente foi considerado racista pela Coordenação Nacional de Entidades Negras, que entrou com uma representação contra Cássio no Ministério Público. Segundo ele, por causa de uma performance sexual é acusado de assassinato e responde a um processo criminal. Cássio disse que fez sexo com uma afrodescendente porque pensou que ela poderia aguentar o seu avantajado órgão reprodutor, por estar acostumada a se relacionar com os afrodescendentes.
SUBÚRBIO CARIOCA VIRA
CENÁRIO DE PROGRAMA
O Tempero de família, que retorna à grade do GNT (TV paga) dia 24 de abril, com episódios inéditos, levará o apresentador Rodrigo Hilbert por caminhos do subúrbio carioca. O programa vai mostrar histórias e receitas tradicionais de pratos que fazem parte da vida de muitos brasileiros, como cozidos, feijoadas, carré à mineira, entre outros. Em 13 episódios, além de cozinhar Rodrigo vai conhecer e contar histórias de família que existem por trás de cada receita. Ao final do programa, o apresentador prepara um almoço ou jantar e prova o prato junto com a família reunida. Tempero de família vai ao ar às quintas-feiras, às 20h.
INESQUECÍVEL JUDY
Os 75 anos de O mágico de Oz, um clássico do cinema produzido em 1939, serão homenageados na cerimônia do Oscar 2014. No palco estarão os filhos de Judy Garland, protagonista do filme, a atriz e cantora Liza Minelli, Lorna e Joey Luft, de acordo com o site da revista The Hollywood reporter. Liza é filha de Judy com o diretor Vincent Minnelli, seu segundo marido, e já ganhou o Oscar de Melhor atriz, em 1973, por Cabaret, de Bob Fosse. Lorna Luft, filha de Garland com o terceiro marido, Sid Luft, também é atriz e cantora, enquanto Joey não seguiu a carreira artística. Detalhes da homenagem, ainda segundo o site, não foram divulgados.
VIVA
Patrulha salvadora, uma aventura imperdível para a criançada, no SBT/Alterosa.
VAIA
Domingão do Faustão (Globo) fica ainda pior com participação dos ex-BBBs. Chato.
A série Artes visuais apresenta hoje, às 21h30m, no SescTV, a exposição Tomie Ohtake: correspondências, a primeira de três mostras que o Instituto Tomie Ohtake preparou para comemorar, em novembro de 2013, o centenário de nascimento da artista plástica que dá nome ao instituto. Com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, a exposição apresenta os principais trabalhos da carreira de Tomie (foto) desde 1956 até 2013. O documentário também mostra desenhos do arquiteto Oscar Niemeyer, amigo de longa data de Tomie, cuja semelhança com a artista está nos gestos circulares.
Documentário revela
as batidas do samba
O Canal Brasil continua com a mostra de produções sobre o carnaval , reservando para hoje, às 19h, o documentário As batidas do samba, de Bebeto Abrantes. O filme propõe uma reflexão sobre a evolução histórica do ritmo sob o ponto de vista da própria música, abordando as transformações sofridas a partir da introdução de novos instrumentos e do uso de diferentes levadas, enriquecendo o debate com depoimentos de Wilson das Neves, Monarco, Paulão 7 Cordas e Moacyr Luz.
No Futura, o destaque
é o pífano nordestino
No Canal Futura, às 14h35, o Sala de notícias exibe o documentário Na rota dos pifes, de Hidalgo Romero e Alice Villela. Como o titulo indica, o programa conta a história do pífano, a mais tradicional entre as diversas flautas tocadas no Brasil, criada a partir da mistura de flautas indígenas e europeias, e isso já há 200 anos. Esta reportagem poético-documental cria um trajeto simbólico que sai de Pernambuco, passa por São Paulo e chega ao Rio de Janeiro, analisando o êxodo migratório e as tradições musicais brasileiras a partir do trabalho de três mestres de pífano.
Muitas alternativas na
programação de filmes
O Telecine Cult dá sequência à seleção de produções indicadas ou vencedoras do Oscar, com mais dois filmes esta noite: Filhos do silêncio (19h50) e Gente como a gente (22h). Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Dia de preto, no Canal Brasil; Kick-Ass – Quebrando tudo, no Studio Universal; As pontes de Madison, no Glitz; Amostras grátis, na HBO; Jogos vorazes, no Max HD; Jeff e as armações do destino, no Telecine Touch; U-571 – A batalha do Atlântico, na MGM; e De olhos bem fechados, no TCM. Outras atrações da programação: As horas, às 21h30, no Arte 1; Encontro de casais, às 22h15, no Universal Channel; Pecados íntimos, às 22h30; e Os infiltrados, também às 22h30, na TNT.
Nova atração do Curta!
também fala de cinema
No canal Curta!, estreia às 23h o programa Filmes que marcaram época, produção francesa que revela detalhes de bastidores do cinema, começando com o clássico O último tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider. De resto, um pacotão de curtas-metragens brasileiros, em dois blocos. Às 20h, a emissora emenda seis filmes de Marcelo Marão: Cebolas são azuis, Engolervilha, O arroz nunca acaba, O anão que virou gigante, Eu queria ser um monstro e EngoleLogoUmaJacaEntão. Às 22h45, a emissora exibe O encontro, de Marcos Jorge.
CARAS & BOCAS » Só confusão
Simone Castro
Selma (Luciana Paes) banca a cantora, se diverte em cassino e acaba presa em Além do horizonte |
Soltas no Rio de Janeiro, as irmãs Selma (Luciana Paes) e Rita (Mariana Xavier), como era previsto, só querem curtir a vida. Deslumbradas, ela tentam, a todo custo, se firmar na cidade e adiar o quanto puderem a volta para a pacata Tapiré. Mas nada com a dupla é simples e, claro, tanta animação se transforma em confusão. No capítulo de Além do horizonte (Globo), as moças conseguem ir a uma festa vip. Selma, que quer ser "artística” de todo jeito, se passa por Rúbia, a cantora que foi contratada para dar o show da noite. No palco, assim que solta a voz, ela recebe uma vaia daquelas, deixando Rita bastante envergonhada. Depois, como se nada tivesse acontecido, as irmãs se divertem no cassino. O que é bom, porém, dura pouco: elas acabam presas por conta de um pacote suspeito que têm nas mãos. Já em Tapiré, a outra irmã, Fátima (Yanna Lavigne), tenta desvendar um segredo. A moça vive cismada desde que descobriu que sua mãe teve um envolvimento com Kléber (Marcello Novaes). Ela procura Keila (Sheron Menezzes), fala sobre suas suspeitas e comenta que tem medo de conversar com vó Tita (Analu Prestes) e confirmar que o vilão é seu pai. Esposa do mandachuva da cidade, Keila incentiva a amiga a esclarecer tudo. “Melhor falar logo, Fátima. Essa história de você ser filha do Kléber... Se é que isso é mesmo verdade... Essa história já ficou muito tempo guardada...”, diz Keila. “Eu sei... Mas é que tô com medo do que minha vó vai me falar... Eu gosto tanto dela... Tô com medo de me desapontar...”, diz Fátima.
ATRIZES NÃO RENOVAM
CONTRATO COM GLOBO
Nem mesmo o sucesso como Márcia, em Amor à vida (Globo), parece ter sido capaz de tornar Elizabeth Savalla exclusividade da Globo. A atriz não teria renovado seu contrato, que terminou dia 15, e, agora, deve receber por obra. O mesmo vale para a atriz Fernanda Rodrigues.
ESTREIA DE HUMORISTA
AINDA SEM DATA CERTA
Há uma interrogação no ar quanto à data da estreia do Agora é tarde, na Band, desta vez sob o comando de Rafinha Bastos. Enquanto algumas notícias dão conta de que está mantida a data inicial divulgada, ou seja, 11 de março, outras informam que a estreia foi antecipada e marcada para o dia 5. Tudo, claro, para se adiantar em relação à estreia do talk show The noite, de Danilo Gentili, no mesmo formato, no SBT/Alterosa, prevista para dia 10. Agora, uma quase certeza: se houver mudanças nas datas da Band, não será surpresa se o SBT for no mesmo compasso. É disputa boa!
PAPO DE BBB GERA AÇÃO
NA JUSTIÇA POR RACISMO
Uma conversa do participante Cássio Lanes com Valdirene, na passagem da personagem vivida por Tatá Werneck, de Amor à vida, no Big brother Brasil 14 (Globo), exibida pelo pay-per-view durante a primeira festa da atração, em 16 de janeiro, é alvo de investigação, segundo o site Uol. A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) solicitou o vídeo à emissora. O comentário de Cássio em relação aos detalhes de ter feito sexo com uma afrodescendente foi considerado racista pela Coordenação Nacional de Entidades Negras, que entrou com uma representação contra Cássio no Ministério Público. Segundo ele, por causa de uma performance sexual é acusado de assassinato e responde a um processo criminal. Cássio disse que fez sexo com uma afrodescendente porque pensou que ela poderia aguentar o seu avantajado órgão reprodutor, por estar acostumada a se relacionar com os afrodescendentes.
SUBÚRBIO CARIOCA VIRA
CENÁRIO DE PROGRAMA
O Tempero de família, que retorna à grade do GNT (TV paga) dia 24 de abril, com episódios inéditos, levará o apresentador Rodrigo Hilbert por caminhos do subúrbio carioca. O programa vai mostrar histórias e receitas tradicionais de pratos que fazem parte da vida de muitos brasileiros, como cozidos, feijoadas, carré à mineira, entre outros. Em 13 episódios, além de cozinhar Rodrigo vai conhecer e contar histórias de família que existem por trás de cada receita. Ao final do programa, o apresentador prepara um almoço ou jantar e prova o prato junto com a família reunida. Tempero de família vai ao ar às quintas-feiras, às 20h.
INESQUECÍVEL JUDY
Os 75 anos de O mágico de Oz, um clássico do cinema produzido em 1939, serão homenageados na cerimônia do Oscar 2014. No palco estarão os filhos de Judy Garland, protagonista do filme, a atriz e cantora Liza Minelli, Lorna e Joey Luft, de acordo com o site da revista The Hollywood reporter. Liza é filha de Judy com o diretor Vincent Minnelli, seu segundo marido, e já ganhou o Oscar de Melhor atriz, em 1973, por Cabaret, de Bob Fosse. Lorna Luft, filha de Garland com o terceiro marido, Sid Luft, também é atriz e cantora, enquanto Joey não seguiu a carreira artística. Detalhes da homenagem, ainda segundo o site, não foram divulgados.
VIVA
Patrulha salvadora, uma aventura imperdível para a criançada, no SBT/Alterosa.
VAIA
Domingão do Faustão (Globo) fica ainda pior com participação dos ex-BBBs. Chato.
Já passarinhou hoje? Marlyana Tavares
Já passarinhou hoje?
Marlyana Tavares
Estado de Minas: 26/02/2014
A cada nota entoada o belíssimo surucuá-variado balança a cauda na vertical e horizontal |
Santana dos Montes – O engenheiro civil Daniel Santos, morador de Santo Antônio do Monte, região Centro-Oeste de Minas, não sabia que gostava tanto assim de aves. Até que há 10 anos, quando organizava suas fotos digitais, percebeu que grande parte era de pássaros. Aí começou a catalogá-las por espécies, comprou guias, procurou grupos especializados, sites. A paixão por "passarinhar" já estava instalada. O filho Luiz Henrique, de 14 anos, seguiu a trilha do pai, que o leva nas viagens desde os 7. Uma das vitórias de Daniel é ter conseguido fotografar espécies raras, entre elas o pica-pau-bufador, no Parque Estadual do Rio Doce. "A foto é horrível mas tenho muito orgulho porque foi o primeiro registro fotográfico em Minas Gerais publicado no Wikiaves, site de compartilhamento de observadores."
Daniel e o filho viajaram 600 quilômetros (ida e volta) até Santana dos Montes, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, uma bela região pontuada por hotéis-fazendas. Em um deles, o Fonte Limpa, passaram o fim de semana procurando pássaros. O caneleiro, o gritador e o canário-da-terra que você vê nesta página(acima) foram algumas das espécies que flagrou. O engenheiro perdeu a conta de quantas vezes foi ao Pantanal. Já visitou Ubatuba (SP) e fez várias viagens dentro de Minas. "É uma atividade saudável entre amigos, na natureza, e no meio de aves, o que é maravilhoso". Venha conosco conhecer mais sobre esse mundo, saiba o que é necessário para ser passarinheiro e como, por meio da atividade, conhecer muitos lugares bacanas.
Orquestra afinada
Marlyana Tavares
Caminhada por trilha de mata atlântica em área do Hotel Fazenda Fonte Limpa: grupo segue em fila indiana, no mais absoluto silêncio, na expectativa dos pássaros que irá encontrar |
O tororó (Poecilotriccus plumbeiceps) cantou os primeiros acordes. O patinho (Platyrinchus mystaceus) já chegou afinando os instrumentos. A elegante choca-de -chapéu-vermelho (Thamnophilus ruficapillus) entoou seu irritado canto. O pica-pau-rei (Campephilus robustus) também veio, com seu pio soberbo. O teque-teque (Todirostrum poliocephalum), entrou com um piado entrecortado e agudo. O surucuá variado (Trogon surrucura) impôs sua presença com um cantar que lembra o latido de cãozinho. Batendo asas, mexendo as cabecinhas pra lá e pra cá, cada um no seu galho, eles executaram a linda sinfonia. O caneleiro (Pachyramphus castaneus), o gritador (Sirystes sibilator) e o arapaçu-rajado (Xiphorhynchus fuscus), foram alguns dos mais aplaudidos pelos observadores experientes. Os iniciantes se encantaram com o desempenho do tucanuçu (Ramphastos toco), os gaviões carijó (Rupornis magnirostris) e de rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus), a alma-de-gato (Piaya cayana).
Durante todo um fim de semana, 40 componentes da orquestra da mata atlântica compareceram para o espetáculo. Alguns foram só vistos, outros vistos e fotografados e outros só ouvidos pelo grupo de observadores que se reuniu no Hotel Fazenda Fonte Limpa, em Santana dos Montes, a 130 quilômetros de Belo Horizonte. Segundo Ricardo Mendes, organizador da expedição pela Minas Birding Tours, os mais experientes conseguiram registrar, em saídas avulsas, ao todo 109 espécies. Na região de Santana dos Montes, Mendes já conseguiu cadastrar mais de 150 espécies. Como escreveu no blog do Minas Birding Tours, a presença de mais observadores elevou este número para 170.
Os grupos se embrenharam em duas das trilhas disponíveis na área do hotel, de mata atlântica e uma em área aberta. Todo mundo em silêncio, cada um com seus equipamentos, uns mais, outros menos preparados. A atitude era de respeito pelos sons da mata, ouvidos à espera, lentes a postos. A cada visualização (hiperlink) uma festa e mais uma espécie para colocar na lista. É, porque passarinheiro que é passarinheiro faz lista pessoal, publica na internet, vários tem blogs em que contam e compartilham histórias. Para os iniciantes, paixão à primeira vista e o desejo de mais passarinhadas.
Minas é um dos estados mais ricos do Brasil em número de espécies de aves e um dos três pontos melhores de observação (os outros são o Pantanal e a Amazônia). O país tem 1.901 espécies e Minas mais de 750, diz o biólogo passarinheiro Eduardo Franco, diretor vice-presidente da Ecoavis (www.ecoavis.org.br), organização não governamental que se dedica a fomentar a atividade de observação de pássaros. O grande número de espécies é favorecido, explica ele, pela diversidade de ambientes dos três biomas do estado – Mata Atlântica, o cerrado e a caatinga, no Norte. “Numa caminhada é possível passar pelos três ambientes, com espécies distintas”. Na região de Santana dos Montes, de acordo com levantamento realizado pelo observador Ricardo Mendes, agora já são 170 espécies (a lista atualizada está em taxeus.com.br/lista/2001).
O grande dia No Brasil, o turismo de observação de aves, lembra Eduardo Franco, começou na década de 70 mas o grande boom foi há 10 anos atrás, impulsionado muito pelo Wikiaves, site que permite o compartilhamento de informações entre cerca de 17 mil observadores brasileiros cadastrados. Por ele é possível identificar as espécies, comparando os pios e as fotos.
Os observadores estão constantemente viajando em busca de novas e raras visualizações. Para as regiões visitadas representam um incremento de renda pois não ficam o tempo todo de binóculo na mão: consumem serviços turísticos como hotéis, restaurantes, bens e produtos culturais locais. Não há números precisos sobre este mercado no Brasil mas nos Estados Unidos, estima-se que a observação de aves gere em torno de US$ 60 bilhões, com a compra de equipamentos e pagamento de serviços turísticos, informa o observador. A gana dos americanos por engordar a tal lista pessoal de espécies é tema da comédia O grande ano, filme estrelado por Jack Black, Steve Martin e Owen Wilson, em que os três se digladiam para ser aquele que conseguirá registrar o maior número de espécies raras da América do Norte.
A raridade, por sinal, é um dos desafios que mais move estes intrépidos caçadores de pios e imagens. Ameaçados de extinção ou endêmicos – que só existem em determinada área – são os mais cobiçados. Por exemplo, o pato-mergulhão (Mergus octocetaceus), que tem no Parque Nacional da Serra da Canastra um dos poucos locais de ocorrência; o beija-flor-de-gravata-verde (Algastes scutatus), que só é visto nas serras do sul da cadeia do Espinhaço; o joão-cipó, que só existe na Serra do Cipó; o soldadinho do araripe (Antilophia bokermani), só existe no Ceará, na Chapada do Araripe.
“Na verdade a observação de aves é como fazer um álbum de figurinha. O observador sempre está tentando ver um número maior de espécies para aumentar sua coleção. À medida em que você vai ficando com o álbum mais cheio, mais quer ter novas figurinhas. Vira uma cachaça. Quem tem um pouquinho de gosto por atividade ao ar livre e gosta de passarinho ou de fotografia, quando começa não pára mais”, diz Eduardo, que tem 360 aves brasileiras registradas (algumas eu fotografei, algumas eu só vi, outras só consegui ouvir, outras só consegui gravar). Ele compartilha suas experiências no blog História de observador (http://www.historiasdeobservador.com.br/).
Serviço
Minas Birding Tours
Próximas saídas
Março: 22 e 23
Abril: 19 e 20
Maio: 2 e 3; 24 e 25
Junho: 7 e 8
http://minasbirdingtours.com.br
Ecoavis
(também organiza passeios e uma vez por mês faz observações em um parque municipal de BH)
www.ecoavis.org.br
www.facebook.com/ecoavisBH
Como ver
Os melhores horários para observar as aves são das 6h às 10h, já que elas estão mais ativas nesse horário e no final da tarde, das 16h às 19h. A melhor época é a partir da primavera, de setembro até fevereiro, quando os bichos estão se reproduzindo. Eles ficam muito coloridos, agitados, respondem ao playback e a disponibilidade de alimento para eles está bem maior.
Passarinho bom é solto Do passado de criadores em gaiolas, os observadores estão longe. Além do próprio interesse, se comprazem em ensinar os iniciantes sobre como admirar e amar as aves em seu voo livre
Marlyana Tavares
Felipe Nogueira e Lorena Morato: observação no mato rende inspiração para futuras tatoos |
SANTANA DOS MONTES – Canário, sabiá, codorna, azulão. Tudo ele criava em gaiola. Até que um dia o ainda estudante Ricardo Mendes, hoje analista de sistemas e observador de aves, esqueceu de alimentar o azulão. Depois da morte do bicho, Ricardo nunca mais prendeu um passarinho. A primeira câmera foi comprada em 2006, numa viagem ao Chile, e as observações iniciais foram feitas em sítios da família, em Conselheiro Lafaiete. Até que encontrou sua turma, por meio da Ecoavis. Em andanças por Santana dos Montes, Ricardo foi catalogando aves e percebeu o potencial turístico de agregar passeios por trilhas à oferta de atividades na região. Criou a Minas Birding Tours, que, em parceria com hotéis da região, leva os hóspedes para ver a natureza por outras lentes. “Estamos começando agora, mas a minha expectativa é de que dê muito certo”, anima-se Ricardo.
Pelos caminhos do Hotel Fazenda Fonte Limpa ele guiou vários interessados, entre eles o casal Felipe Nogueira, de 34 anos, filósofo, e Lorena Morato, tatuadora, de 30 anos. Lorena traz na mão um amzel, pássaro preto de bico amarelo que sempre aparece na primavera na cidade de Colônia, na Alemanha, país onde a tatuadora passou os últimos 10 anos. Ela e o companheiro estão abrindo um ateliê de tatoo e arte no Bairro Santa Lúcia (confira em facebook.com/goldentimestattoo).
Sobre o passeio, Lorena achou que “valeu demais. Vimos várias espécies com binóculo, entre elas, estrelinha, a alma-de-gato (que dizem ser difícil de ver), tucano, saí azul. É interessante perceber as espécies e conhecer o lugar em que vivem. Faremos de novo com certeza, até pela minha profissão: tatuo muitos animais e pássaros”. Entre muitas outras tatoos, Felipe tem uma coruja suindara (Tyto furcata) no antebraço.
O observador de aves Daniel Esser, de 61, logo se apressa a explicar: “A suindara é também chamada coruja da igreja ou rasga-mortalha, por causa do barulho que faz. Parece que está rasgando um tecido”. Daniel, como Ricardo, também começou a observar passarinhos nas gaiolas de um tio. “Passei a vigiar os que passavam pelo quintal, doido para também colocá-los em gaiolas minhas. Já se foram 55 anos. Até 2007 tive aves cativas, a partir daí passei a prendê-las apenas na câmera fotográfica”, conta. No blog http://pegandopassarinho.blogspot.com.br, você conhece as peripécias do observador.
Mestre da avenida [Martinho da Vila] - Ailton Magioli
Mestre da avenida
Martinho da Vila se apresenta sábado, na Praça da Estação, em Belo Horizonte. O cantor, acompanhado dos filhos, mostra sambas-enredo que vem compondo desde os anos 1950
Ailton Magioli
Estado de Minas: 26/02/2014
Martinho da Vila condena a rapidez dos novos
sambas e denuncia que muito compositor que assina o enredo está lá mais
como investidor |
A trajetória de Martinho na avenida começa com Carlos Gomes, primeiro samba-enredo que compôs, na década de 1950, para a extinta Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato, e vai até o que o consagrou no concurso do ano passado da Vila Isabel, ao lado dos parceiros Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e do filho Tunico da Vila, com os quais assina A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo, água no feijão que chegou mais um. “Dos sete sambas de enredo que fiz para o desfile da Boca do Mato, só consigo cantar quatro, e da Vila Isabel também já não me recordava totalmente de dois que não desfilaram: No doce embalo de um sonho e De alegria pulei, de alegria cantei”, confessa.
Como lembra Martinho, ao contrário das marchinhas, que se tornaram a verdadeira música de carnaval do Brasil, o samba-enredo sempre foi feito para atender as escolas. “De acordo com o enredo, um samba funciona bem ou não”, afirma, salientando que pode ser até um samba triste. As marchinhas, por sua vez, lembra Martinho da Vila, decaíram junto com o carnaval de salão, estando hoje restritas ao teatro, onde estrelam musicais como Sassaricando.
“Os sambas também ficaram mais acelerados. São todos de embalo e alegres”, critica, admitindo que no sistema que predomina hoje é fácil fazer samba-enredo. “Se quiser, você pode concorrer em qualquer escola. É fácil, pega o tema, faz um refrão. O samba hoje é mais para embalar do que qualquer outra coisa”, acrescenta Martinho, que, em Enredo, em vez da pompa da bateria – como deve ser no samba-enredo – se preocupou mais com a harmonização para destacar a riqueza melódica de seus sambas.
Para tanto, convocou os arranjadores Rildo Hora, Leonardo Bruno, Ivan Paulo, Wanderson Martins e a filha pianista Maíra Freitas, além do coro coordenado pela também filha Analimar. As participações especiais vão de Beth Carvalho, com quem ele divide a interpretação do célebre Onde o Brasil aprendeu a liberdade e Sonho de um sonho, a Alcione, em Prece ao sol e Iemanjá, desperta!, entre outras que incluem os filhos. Na série de atributos perdidos pelo samba-enredo, Martinho lembra que antigamente as alas de compositores das escolas eram independentes, cada qual com regras próprias.
“Agora, para fazer um samba direito é muito difícil. Você tem de ouvir o carnavalesco para ver o que ele quer”, lamenta a dependência, além de admitir dificuldade de se fazer um samba para ser cantado em grupo. “Os sambas acabam sendo feitos para conduzir a escola”, critica, salientando que a sua Vila Isabel só desfila bem com um samba bom, poético e de cunho bem cultural. Martinho, que fez a maioria dos sambas-enredo sozinho, lembra que, atualmente, muita gente assina um samba. “Mas, na realidade, quem faz é um, dois, três autores no máximo”, garante. “Os demais estão ali porque fazem parte da campanha. É um investidor, tem dinheiro. Este leva vantagem”, denuncia.
Quando se dedica à composição de um samba-enredo, Martinho diz que para a vida artística. “Normalmente, me dou por inteiro. Participo da elaboração do enredo”, justifica, lembrando do envolvimento dele com personalidades como Rosa Magalhães, a carnavalesca com a qual ganhou o carnaval do ano passado, da Vila Isabel. Entre os mestres que teriam inspirado o compositor a fazer samba-enredo estão Erlito Machado Fonseca (1917-1997), o Tolito da Mangueira, que teria lhe ensinado a levar a cadência do partido-alto para o gênero; Walter Rosa, da Portela; e Silas de Oliveira (1916-1972), da Império Serrano, além de Hélio Rodrigues Neves, o Hélio Turco, e Darci (1932-2008), ambos da Mangueira.
Carnaval
é o show
Em Belo Horizonte, Martinho da Vila se apresenta acompanhado de banda, além dos filhos Maíra de Freitas, Tunico da Vila e Juju Ferreira. A noite será aberta pelo grupo Imperavi de Ouros, seguido de Samba de Luiz e Samba de Comadre. “Será um show de carnaval, bastante alegre e com muito samba-enredo”, anuncia o cantor, que destaca no roteiro do disco Enredo o samba Carnaval de ilusões, com o qual venceu o primeiro carnaval na Vila Isabel, em 1967.
Uma das figuras mais conhecidas da escola, Martinho da Vila entrou para a agremiação em 1965. Antes, fazia parte da Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato e, segundo consta, já estaria partindo para a Império Serrano quando veio o convite para integrar a ala de compositores da Vila. Na nova escola, ele reestruturou a forma de compor samba-enredo com a introdução de letras e melodias mais suaves.
Em abril, Martinho da Vila lança um box com DVD e livro de Enredo. Além de bastidores e depoimentos da gravação do CD, o cantor-compositor promete revelar segredos de cada um dos sambas de enredo que fez. De Belo Horizonte, ele segue para o Recife, onde faz shows nos dias 3 e 4 de março, para descansar a seguir, porque, segundo admite, a batalha em 2014 vai ser grande.
MARTINHO DA VILA, BANDA & FILHOS
Sábado, a partir das 19h, no palco Praça da Estação, Avenida dos Andradas, 201, Centro. Entrada franca.
• Enredo
» Carlos Gomes – Foi a primeira vez que Martinho da Vila gravou, na década de 1950
» Noel – A presença do Poeta da Vila – Venceu o concurso da Vila Isabel e foi para a avenida
» Onde o Brasil aprendeu a liberdade – O samba venceu na Vila e foi para a avenida
» Por ti América – Perdeu na eleição interna da Vila e é inédito
» Pra tudo se acabar na quarta-feira – Venceu concurso e foi a para avenida com a Vila
» Tribo dos Carajás (Aruanã Açu) – Perdeu na eleição interna da Vila e foi gravada no álbum Canta, canta, minha gente
» Machado de Assis – Gravou originalmente em um álbum dos anos 1980
» Carnaval de ilusões – Primeiro carnaval de Martinho na Vila Isabel, em 1967
» Gbala – Viagem do templo da criação – Também foi para a avenida com a Vila
» Tamandaré e Rui Barbosa – Ambos nunca haviam sido gravados
» Vila Isabel anos 30 – Perdeu na eleição interna e nunca havia sido gravado
» Ai que saudades que eu tenho – Perdeu na eleição interna mas já havia sido gravado
» IV séculos de modas e costumes e Yayá do Cais Dourado – Ambos foram para a avenida com a Vila
» De alegria pulei, de alegria cantei – Perdeu na eleição interna da Vila e nunca havia sido gravado
» Teatro brasileiro – Perdeu na eleição interna e já foi gravado
» Trabalhadores do Brasil – Perdeu na eleição interna da Vila e é inédito
» Prece ao Sol – Perdeu na eleição interna e também nunca havia sido gravado
» Iemanjá, desperta! – Também perdeu na eleição interna, mas já havia sido gravado
» A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo, água no feijão que chegou mais um – Ganhou o carnaval do ano passado e foi para a avenida com a Vila Isabel
Eduardo Almeida Reis-Fígaros
Fígaros
O só fato de andar cercado de bandidos não transforma o sujeito em facínora
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/02/2014
Jassa em Sampa, Souza no Rio de Janeiro, Wander em Belo Horizonte são sinônimos de cabeleireiros top, que só cuidam das melenas das celebridades: Sílvio Santos, pseudônimo de Señor Abravanel, Ivo Pitanguy, Lúcio Costa. Em BH, quando enjoei de uma cabeleireira que não sabia cortar cabelos e vivia falando em Deus, porque cortava a juba de um deputado pastor, o empresário Lúcio Costa, bom amigo, indicou-me o Wander, que nunca foi para o meu bico: só corta (e pinta...) os cabelos das celebridades: milionários, jornalistas donos de empresas de comunicação, empresários famosos e companhia ilimitada. Corta com navalha para neutralizar os degraus dos cortes com tesoura e tem uma touca admirável, de borracha, com uma dúzia de furinhos. Se o cliente conta com 24 fios na moleira, o Wander pesca 12 com um ferrinho através dos furinhos e os pinta do lado de fora da touca, faz luzes, serviço muito chique. Aí, você encontra com um amigo famoso, no almoço do batizado de filho de jornalista famosíssimo, e o amigo grita de longe, apontando para sua própria calva: “Hoje estive lá!”.
Resumindo: 99 entre 100 clientes do Wander são celebridades e somam 90% do PIB mineiro. O outro cliente era um philosopho metido a besta quando morava em BH. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e os philosophos: vim parar em Juiz de Fora, cidade-polo da Zona da Mata, onde me indicaram barbeiro razoável, atendimento domiciliar, barateiro, que vivia falando em Deus e fazendo curso para pastor pentacostalista. Desafortunadamente, seu Deus não conhece os relógios e os calendários, o que o faz marcar visita para as 8h e chegar depois do meio-dia, quando chega, porque costuma vir dois dias depois. Excomunguei-o e fiquei com uma juba de três meses, quando fui parar no hospital em BH. Operado pelo doutor Caetano, pedi ao Wander que fosse ao Felício Rocho dar um jeito na minha indecorosa cabeleira. O bom amigo apareceu de moto, único veículo capaz de circular em BH a partir das 6h45 nos dias úteis, navalhou-me as melenas em cortesia que emocionou o convalescente, obrigando a pobre faxineira hospitalar a encher saco plástico imenso com cabelos mais que grisalhados. Durante o corte, fiquei sabendo que alguns muitos dos seus velhos fregueses célebres estão infelizmente presos com sentenças transitadas em julgado: AP-470, vulgo mensalão.
Fulano
A Justiça quer saber se o fulano roubou. O verbo é forte, mas simplifica as coisas. Prova dos autos, votos demorados e chatíssimos, cada ministro querendo mostrar que sabe mais do que os outros, quando até os postes da Cemig sabem que os votos são escritos pelos assessores, rapazes e moças brilhantes. Como podem certos ministros demonstrar erudição, quando é sabido que foram reprovados em concursos para a magistratura? Carta de bacharel e registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não valem. Poucos brasileiros haverá que tenham obtido seus diplomas numa escola com a expressão daquela em que estudei, com o corpo docente (e decente) que lá estava. Estudei o suficiente para saber que nada sei da ciência do direito. No caso específico do fulano basta consultar o Serafim Jardim, que o assessorou durante anos ganhando uma tuta e meia. Serafim sabe tudo e mais alguma coisa sobre o fulano – e sabe como se comporta fora da vida pública, quando sócio de modesto estabelecimento hoteleiro. Que se pode esperar do caráter de um Nem da Rocinha? Nada mais que atitudes próprias de um Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Ressalve-se o fato de o bandido carioca ter nascido em casa humílima, de família humildíssima, no dia 24 de maio de 1967, antes de assumir o lugar do Bem-te-vi no comando do tráfico da Rocinha.
Companhias
O só fato de andar cercado de bandidos não transforma o sujeito em facínora. Se transformasse, não poderíamos citar os 10 deputados que não se misturam nem podem ser confundidos com os outros 503 da Câmara dos Deputados. Contudo, num conjunto de 190 países, quando o governo de um deles resolve enturmar-se com os piores, com os cocôs dos cavalos dos bandidos, há que desconfiar da opção. Aplica-se, nesse caso, a locução diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Dou um doce ao leitor que me disser qual foi o governo que se enturmou com Cristina Kirchner, Evo Morales, Raúl Castro, Nicolás Maduro e Rafael Correa. Enturmou-se e não dá um pio sem consultar seus parceiros. Se o leitor souber, me diga, por favor, que certas verdades a gente precisa ouvir de muita gente para acreditar.
O mundo é uma bola
26 de fevereiro de 1848: Proclamação da Segunda República Francesa. Francês adora segundas, terceiras, a começar pelas primeiras-damas. Temos exemplos recentes em Paris com o presidente François Hollande, baixinho, barrigudinho, trocando de mulher como trocamos de camisas. Mil vezes o uruguaio Mujica, fiel à companheira de muitos anos. Também, com aquele sítio e aquele fusca, o máximo que pode pegar é um resfriado no próximo inverno. Hoje é o Dia do Comediante.
Ruminanças
“Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo...” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).
O só fato de andar cercado de bandidos não transforma o sujeito em facínora
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/02/2014
Jassa em Sampa, Souza no Rio de Janeiro, Wander em Belo Horizonte são sinônimos de cabeleireiros top, que só cuidam das melenas das celebridades: Sílvio Santos, pseudônimo de Señor Abravanel, Ivo Pitanguy, Lúcio Costa. Em BH, quando enjoei de uma cabeleireira que não sabia cortar cabelos e vivia falando em Deus, porque cortava a juba de um deputado pastor, o empresário Lúcio Costa, bom amigo, indicou-me o Wander, que nunca foi para o meu bico: só corta (e pinta...) os cabelos das celebridades: milionários, jornalistas donos de empresas de comunicação, empresários famosos e companhia ilimitada. Corta com navalha para neutralizar os degraus dos cortes com tesoura e tem uma touca admirável, de borracha, com uma dúzia de furinhos. Se o cliente conta com 24 fios na moleira, o Wander pesca 12 com um ferrinho através dos furinhos e os pinta do lado de fora da touca, faz luzes, serviço muito chique. Aí, você encontra com um amigo famoso, no almoço do batizado de filho de jornalista famosíssimo, e o amigo grita de longe, apontando para sua própria calva: “Hoje estive lá!”.
Resumindo: 99 entre 100 clientes do Wander são celebridades e somam 90% do PIB mineiro. O outro cliente era um philosopho metido a besta quando morava em BH. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e os philosophos: vim parar em Juiz de Fora, cidade-polo da Zona da Mata, onde me indicaram barbeiro razoável, atendimento domiciliar, barateiro, que vivia falando em Deus e fazendo curso para pastor pentacostalista. Desafortunadamente, seu Deus não conhece os relógios e os calendários, o que o faz marcar visita para as 8h e chegar depois do meio-dia, quando chega, porque costuma vir dois dias depois. Excomunguei-o e fiquei com uma juba de três meses, quando fui parar no hospital em BH. Operado pelo doutor Caetano, pedi ao Wander que fosse ao Felício Rocho dar um jeito na minha indecorosa cabeleira. O bom amigo apareceu de moto, único veículo capaz de circular em BH a partir das 6h45 nos dias úteis, navalhou-me as melenas em cortesia que emocionou o convalescente, obrigando a pobre faxineira hospitalar a encher saco plástico imenso com cabelos mais que grisalhados. Durante o corte, fiquei sabendo que alguns muitos dos seus velhos fregueses célebres estão infelizmente presos com sentenças transitadas em julgado: AP-470, vulgo mensalão.
Fulano
A Justiça quer saber se o fulano roubou. O verbo é forte, mas simplifica as coisas. Prova dos autos, votos demorados e chatíssimos, cada ministro querendo mostrar que sabe mais do que os outros, quando até os postes da Cemig sabem que os votos são escritos pelos assessores, rapazes e moças brilhantes. Como podem certos ministros demonstrar erudição, quando é sabido que foram reprovados em concursos para a magistratura? Carta de bacharel e registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não valem. Poucos brasileiros haverá que tenham obtido seus diplomas numa escola com a expressão daquela em que estudei, com o corpo docente (e decente) que lá estava. Estudei o suficiente para saber que nada sei da ciência do direito. No caso específico do fulano basta consultar o Serafim Jardim, que o assessorou durante anos ganhando uma tuta e meia. Serafim sabe tudo e mais alguma coisa sobre o fulano – e sabe como se comporta fora da vida pública, quando sócio de modesto estabelecimento hoteleiro. Que se pode esperar do caráter de um Nem da Rocinha? Nada mais que atitudes próprias de um Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Ressalve-se o fato de o bandido carioca ter nascido em casa humílima, de família humildíssima, no dia 24 de maio de 1967, antes de assumir o lugar do Bem-te-vi no comando do tráfico da Rocinha.
Companhias
O só fato de andar cercado de bandidos não transforma o sujeito em facínora. Se transformasse, não poderíamos citar os 10 deputados que não se misturam nem podem ser confundidos com os outros 503 da Câmara dos Deputados. Contudo, num conjunto de 190 países, quando o governo de um deles resolve enturmar-se com os piores, com os cocôs dos cavalos dos bandidos, há que desconfiar da opção. Aplica-se, nesse caso, a locução diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Dou um doce ao leitor que me disser qual foi o governo que se enturmou com Cristina Kirchner, Evo Morales, Raúl Castro, Nicolás Maduro e Rafael Correa. Enturmou-se e não dá um pio sem consultar seus parceiros. Se o leitor souber, me diga, por favor, que certas verdades a gente precisa ouvir de muita gente para acreditar.
O mundo é uma bola
26 de fevereiro de 1848: Proclamação da Segunda República Francesa. Francês adora segundas, terceiras, a começar pelas primeiras-damas. Temos exemplos recentes em Paris com o presidente François Hollande, baixinho, barrigudinho, trocando de mulher como trocamos de camisas. Mil vezes o uruguaio Mujica, fiel à companheira de muitos anos. Também, com aquele sítio e aquele fusca, o máximo que pode pegar é um resfriado no próximo inverno. Hoje é o Dia do Comediante.
Ruminanças
“Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo...” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).
Orquestra afinada rege a fome
Orquestra afinada rege a fome
Vários órgãos do corpo trabalham para alertar quando é a hora de comer e quando o organismo já está saciado. O emocional, no entanto, pode desregular o complexo processo e pôr tudo a perder
Celina Aquino
Estado de Minas: 26/02/2014
“Você tem fome de
quê?” A clássica pergunta que ganhou destaque com a banda Titãs leva a
uma reflexão sobre as escolhas diante da necessidade de se alimentar.
Sentir fome é importante para nos lembrar de repor as energias, mas não
podemos deixá-la crescer tanto a ponto de devorar um prato enorme de
comida. Para não cair em tentação, vale a antiga recomendação de
preparar pequenos lanches entre as principais refeições com alimentos
saudáveis, nutritivos e pouco calóricos. Cuidado para não se enganar,
pois há casos em que a fome está ligada a questões emocionais.
O gastroenterologista Dan Waitzberg explica que a fome é uma sensação fisiológica pela qual percebemos a necessidade de comer, já que os alimentos são transformados em energia para manter o organismo em pleno funcionamento. Ouvir a barriga roncar, por exemplo, é um dos sinais que alertam para a hora da comida. O barulho é resultado da contração do estômago, que chacoalha porque está cheio de líquido, preparando-se para receber os alimentos. “Vamos supor que você tome café da manhã às 7h e não coma nada no intervalo até o almoço. Quando chega ao meio-dia, o corpo começa a avisar que precisa repor energia e envia vários sinais, entre eles a contração gástrica”, explica.
Diante de um jejum prolongado, observa-se queda de glicose, baixa de insulina e aumento de grelina, hormônio produzido quando o estômago está vazio, responsável por liberar a sensação de fome. “Fatores endócrinos, intestinais, do tecido gorduroso e neuronais formam uma orquestra muito sintonizada que regula a fome (veja arte). Os sinais são convertidos pelo cérebro em comando para as moléculas que estimulam o apetite”, informa o gastroenterologista. Fora as manifestações físicas, é comum notar que as pessoas famintas ficam inquietas e nervosas. Waitzberg esclarece que a prioridade metabólica no momento é ganhar energia, então torna-se mais difícil executar outras tarefas.
A produção do hormônio que estimula o apetite diminui na hora em que a comida expande o estômago e, assim que ela chega ao intestino, células especiais acabam com a fome. “Quando o sujeito come o suficiente e manda para o cérebro a informação de que está satisfeito, moléculas inibidoras de apetite passam a ter expressão maior no organismo, fazendo com que ele pare de comer”, destaca.
Normalmente, a sensação de saciedade chega em 20 minutos. Já a duração dela depende do que se ingere. Tomar água para enganar o estômago surte efeito por pouco tempo, enquanto quem come um prato de feijoada pode só voltar a ter fome muitas horas depois. Isso porque, quanto mais volumoso e gorduroso é o alimento, mais tempo o organismo precisa para processá-lo. Mas não pense que ingerir gordura é a melhor alternativa para inibir o apetite. “A fome indica a necessidade de energia, mas você também precisa de vitaminas e minerais, o que não se encontra em alimentos ricos em energia como carboidratos e gorduras”, pontua o gastroenterologista. Frutas, vegetais e legumes, apesar de estarem relacionados a uma digestão mais rápida, não podem faltar no cardápio.
Regra essencial: coma devagar
O segredo está em lidar de maneira saudável com a fome. Na hora de fornecer energia ao organismo, o endocrinologista Geraldo Santana recomenda optar por um cardápio balanceado, dando preferência aos alimentos que promovem mais saciedade, quando o objetivo é emagrecer. As proteínas presentes em carnes, leite e ovos conseguem prolongar o processo de esvaziamento gástrico, assim como as fibras encontradas em frutas, verduras, legumes e alimentos integrais. As gorduras também entram na lista, mas o problema é que são muito calóricas. O diretor do Instituto Mineiro de Endocrinologia orienta, portanto, privilegiar as de origem vegetal, entre elas azeite e oleaginosas. “Hoje a preocupação é com carboidratos como farináceos, açúcar, arroz branco e massas, que são absorvidos rapidamente pelo estômago. No instante seguinte, o organismo volta a produzir grelina e aí vem a fome rebote”, ressalta.
Comer devagar também ajuda a controlar a fome. De acordo com Santana, durante o processo de mastigação, percepção do sabor dos alimentos, plenitude do estômago e até de absorção dos nutrientes no intestino, o cérebro recebe impulsos que desencadeiam a sensação de saciedade.
SAIBA DIFERENCIAR Fome ou vontade de comer? Saber diferenciar as sensações também é importante para não ser enganado pelo cérebro diante da comida. Por um lado, a fome física aumenta aos poucos, aparece mais de três horas depois da refeição anterior, não é muito seletiva (serve até feijão gelado), desaparece quando comemos o suficiente e dá satisfação. “Mas é muito raro sentir fome real em um mundo que tem tanta oferta de alimentos. As geladeiras estão cheias e sempre encontramos uma padaria ou uma lanchonete por perto. A maioria das pessoas não espera ficar com muita fome para comer”, alerta Geraldo Santana. Já a fome emocional surge de repente, é seletiva (quero tomar sorvete), ocorre em qualquer hora, pode persistir mesmo quando ingerimos bastante comida e leva a um sentimento de culpa.
Isso ocorre com muitas pessoas. Se estava triste, ela descontava na comida. Quando ficava alegre, comia demais. Era assim a rotina alimentar da contadora Andréa Cristina Santiago dos Santos, de 40 anos. Ela não precisava sentir fome para devorar um prato de comida ou uma caixa de bombom. Comia compulsivamente e, depois, sentia culpa. “Agora consigo entender a minha fome. Se estou com fome de verdade, como alimentos que tenham nutrientes para estar bem para exercer as atividades. Quando você está com vontade de comer, pega a primeira coisa que vê pela frente”, conta. Andréa come de três em três horas, mesmo sem apetite, para não deixar a fome se instalar. Resultado: emagreceu 27 quilos em dois anos.
Três perguntas para:
Aline Rodrigues, psicóloga do Instituto Mineiro de Endocrinologia
O que desencadeia a fome emocional?
Incapacidade de entender e elaborar as insatisfações e frustrações, sentimentos que não conseguimos expressar, estresse com o trabalho, nervosismo, questões não resolvidas, entre outros. Cada vez mais a ansiedade e a preocupação levam ao ato compulsivo de comer.
Por que descontamos os problemas na comida?
Vivemos em uma sociedade do imediatismo. Seja no trabalho ou com a família, queremos realizar tudo muito rapidamente. Podemos ter acesso à comida na hora que quisermos. A cada esquina consigo achar um bolo, chocolate ou comer um sanduíche em cinco minutos. Internamente, você está na busca pelo prazer, por algo que vai saciar e apaziguar a angústia. Parece que naquele momento a pessoa consegue até se esvaziar, mas o que realmente deseja e precisa?
Como diferenciar a fome da vontade de comer?
Naquele momento em que se sente fome, tente perceber se existe algum gatilho emocional envolvido para conter o impulso. O que não estou dando conta de elaborar? Rejeição, frustração e inquietude sempre levam ao ato de comer. A comida traz satisfação, mas é passageira. Logo em seguida vem a culpa. Quando a pessoa tem consciência do que tem fome, não busca mais a comida.
O gastroenterologista Dan Waitzberg explica que a fome é uma sensação fisiológica pela qual percebemos a necessidade de comer, já que os alimentos são transformados em energia para manter o organismo em pleno funcionamento. Ouvir a barriga roncar, por exemplo, é um dos sinais que alertam para a hora da comida. O barulho é resultado da contração do estômago, que chacoalha porque está cheio de líquido, preparando-se para receber os alimentos. “Vamos supor que você tome café da manhã às 7h e não coma nada no intervalo até o almoço. Quando chega ao meio-dia, o corpo começa a avisar que precisa repor energia e envia vários sinais, entre eles a contração gástrica”, explica.
Diante de um jejum prolongado, observa-se queda de glicose, baixa de insulina e aumento de grelina, hormônio produzido quando o estômago está vazio, responsável por liberar a sensação de fome. “Fatores endócrinos, intestinais, do tecido gorduroso e neuronais formam uma orquestra muito sintonizada que regula a fome (veja arte). Os sinais são convertidos pelo cérebro em comando para as moléculas que estimulam o apetite”, informa o gastroenterologista. Fora as manifestações físicas, é comum notar que as pessoas famintas ficam inquietas e nervosas. Waitzberg esclarece que a prioridade metabólica no momento é ganhar energia, então torna-se mais difícil executar outras tarefas.
A produção do hormônio que estimula o apetite diminui na hora em que a comida expande o estômago e, assim que ela chega ao intestino, células especiais acabam com a fome. “Quando o sujeito come o suficiente e manda para o cérebro a informação de que está satisfeito, moléculas inibidoras de apetite passam a ter expressão maior no organismo, fazendo com que ele pare de comer”, destaca.
Normalmente, a sensação de saciedade chega em 20 minutos. Já a duração dela depende do que se ingere. Tomar água para enganar o estômago surte efeito por pouco tempo, enquanto quem come um prato de feijoada pode só voltar a ter fome muitas horas depois. Isso porque, quanto mais volumoso e gorduroso é o alimento, mais tempo o organismo precisa para processá-lo. Mas não pense que ingerir gordura é a melhor alternativa para inibir o apetite. “A fome indica a necessidade de energia, mas você também precisa de vitaminas e minerais, o que não se encontra em alimentos ricos em energia como carboidratos e gorduras”, pontua o gastroenterologista. Frutas, vegetais e legumes, apesar de estarem relacionados a uma digestão mais rápida, não podem faltar no cardápio.
Regra essencial: coma devagar
O segredo está em lidar de maneira saudável com a fome. Na hora de fornecer energia ao organismo, o endocrinologista Geraldo Santana recomenda optar por um cardápio balanceado, dando preferência aos alimentos que promovem mais saciedade, quando o objetivo é emagrecer. As proteínas presentes em carnes, leite e ovos conseguem prolongar o processo de esvaziamento gástrico, assim como as fibras encontradas em frutas, verduras, legumes e alimentos integrais. As gorduras também entram na lista, mas o problema é que são muito calóricas. O diretor do Instituto Mineiro de Endocrinologia orienta, portanto, privilegiar as de origem vegetal, entre elas azeite e oleaginosas. “Hoje a preocupação é com carboidratos como farináceos, açúcar, arroz branco e massas, que são absorvidos rapidamente pelo estômago. No instante seguinte, o organismo volta a produzir grelina e aí vem a fome rebote”, ressalta.
Comer devagar também ajuda a controlar a fome. De acordo com Santana, durante o processo de mastigação, percepção do sabor dos alimentos, plenitude do estômago e até de absorção dos nutrientes no intestino, o cérebro recebe impulsos que desencadeiam a sensação de saciedade.
SAIBA DIFERENCIAR Fome ou vontade de comer? Saber diferenciar as sensações também é importante para não ser enganado pelo cérebro diante da comida. Por um lado, a fome física aumenta aos poucos, aparece mais de três horas depois da refeição anterior, não é muito seletiva (serve até feijão gelado), desaparece quando comemos o suficiente e dá satisfação. “Mas é muito raro sentir fome real em um mundo que tem tanta oferta de alimentos. As geladeiras estão cheias e sempre encontramos uma padaria ou uma lanchonete por perto. A maioria das pessoas não espera ficar com muita fome para comer”, alerta Geraldo Santana. Já a fome emocional surge de repente, é seletiva (quero tomar sorvete), ocorre em qualquer hora, pode persistir mesmo quando ingerimos bastante comida e leva a um sentimento de culpa.
Isso ocorre com muitas pessoas. Se estava triste, ela descontava na comida. Quando ficava alegre, comia demais. Era assim a rotina alimentar da contadora Andréa Cristina Santiago dos Santos, de 40 anos. Ela não precisava sentir fome para devorar um prato de comida ou uma caixa de bombom. Comia compulsivamente e, depois, sentia culpa. “Agora consigo entender a minha fome. Se estou com fome de verdade, como alimentos que tenham nutrientes para estar bem para exercer as atividades. Quando você está com vontade de comer, pega a primeira coisa que vê pela frente”, conta. Andréa come de três em três horas, mesmo sem apetite, para não deixar a fome se instalar. Resultado: emagreceu 27 quilos em dois anos.
Três perguntas para:
Aline Rodrigues, psicóloga do Instituto Mineiro de Endocrinologia
O que desencadeia a fome emocional?
Incapacidade de entender e elaborar as insatisfações e frustrações, sentimentos que não conseguimos expressar, estresse com o trabalho, nervosismo, questões não resolvidas, entre outros. Cada vez mais a ansiedade e a preocupação levam ao ato compulsivo de comer.
Por que descontamos os problemas na comida?
Vivemos em uma sociedade do imediatismo. Seja no trabalho ou com a família, queremos realizar tudo muito rapidamente. Podemos ter acesso à comida na hora que quisermos. A cada esquina consigo achar um bolo, chocolate ou comer um sanduíche em cinco minutos. Internamente, você está na busca pelo prazer, por algo que vai saciar e apaziguar a angústia. Parece que naquele momento a pessoa consegue até se esvaziar, mas o que realmente deseja e precisa?
Como diferenciar a fome da vontade de comer?
Naquele momento em que se sente fome, tente perceber se existe algum gatilho emocional envolvido para conter o impulso. O que não estou dando conta de elaborar? Rejeição, frustração e inquietude sempre levam ao ato de comer. A comida traz satisfação, mas é passageira. Logo em seguida vem a culpa. Quando a pessoa tem consciência do que tem fome, não busca mais a comida.
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