segunda-feira, 15 de julho de 2013

Facebook chateado - Richard Waters

folha de são paulo
Aplicativos de troca de mensagens para smartphones, como o Snapchat, ameaçam receitas da rede em aparelhos móveis
RICHARD WATERSDO "FINANCIAL TIMES"Com o campo de batalha da mídia social se transferindo para os aparelhos móveis, será que o Facebook está a ponto de ser derrotado por desafiantes mais novos?
Isso pode parecer improvável, dadas as impressionantes estatísticas de uso móvel que a empresa registra --estima-se que um quinto do tempo de uso de smartphones ocorra em sua rede social. No primeiro trimestre deste ano, o Facebook gerou 30% de sua receita de publicidade neste segmento, um ano da veiculação de seus primeiros anúncios nesse tipo de aparelho.
Mas uma nova geração de apps leves para mensagens ameaça tal domínio.
Ao contrário do Facebook, eles já foram concebidos para o mundo móvel, e não adaptados de um site. A maioria começou buscando incorporar mensagens de texto. Tendo encontrado espaço nos aparelhos, agora os novos serviços de chat estão determinados a devorar o território ocupado pelos apps sociais, de jogos, fotos e vídeos.
Um sinal disso surgiu no mês passado, em rodada de capitalização que estimou o valor do Snapchat --que usa fotos instantâneas como moeda de suas mensagens--, em cerca de US$ 800 milhões.
As fotos e os textos que os usuários trocam por esse app têm um truque: elas se destroem em até dez segundos depois de abertas.
Ainda que tenha sido criado apenas em 2011, o Snapchat já supera o Instagram, adquirido pelo Facebook, em número de fotos subidas para a rede. Quase um terço das imagens compartilhadas on-line neste ano serão trocadas por ele, de acordo com Mary Meeker, analista de internet da consultoria KPCB.
"Evan Spiegel e Bobby Murphy [fundadores do Snapchat] são exemplos da nova geração de empreendedores que cresceram com smartphones e mal sabiam o que era a web quando existia apenas em um navegador de desktop", define Dennis Phelps, sócio da Institutional Venture Partners, um dos maiores grupos de investimentos do mundo que listou o Snapchat como bom alvo.
Diversos outros apps de mensagens têm anotado sucesso viral semelhante. E a concorrência que está se desenvolvendo parece mundial: as redes que ganharam espaço incluem a WeChat, Line e KakaoTalk, da Ásia, e WhatsApp e Viber, americanas.
E o mercado não parece destinado a ser controlado por um único ganhador, e sim a seguir padrões regionais. A tendência provavelmente será acentuada com os esforços dos governos nacionais para reprimir redes de mensagens que eles não possam controlar ou monitorar, e pelos avanços de preferências culturais específicas.
O Line, por exemplo, explora o apreço pelos emoticons, que é forte na Ásia.
Aproveitando a onda viral, alguns dos recém-chegados conquistaram vantagem inicial. Entre eles, WeChat, WhatsApp e Line, que têm 750 milhões de usuários --número semelhante ao de pessoas que usam o Facebook nos celulares a cada mês. Eles não são só divertidos, mas também permitem que os usuários evitem pagar os salgados preços dos serviços de mensagens das operadoras.
Mas o teste real está apenas começando. Será que os apps de chat conseguirão encontrar maneiras de ganhar dinheiro em um mercado no qual as barreiras de entrada são baixíssimas, as modas passageiras predominam e os usuários não apreciam a intrusão de publicidade?
O Line e o WeChat avançaram mais, se posicionando como redes de distribuição para outros aplicativos.
Usar redes de mensagens para a distribuição de conteúdo digital é um sonho antigo. Era uma das ideias que embasavam a malfadada aquisição da Time Warner pela AOL, em 2000. Mas a definição de conteúdo mudou bastante daqueles dias para cá.
A segunda forma evidente de receita é o marketing social. Os predecessores dos apps nas redes sociais experimentaram misturar publicidade a comunicações pessoais, mas há riscos. O mais valioso para um anunciante seriam mensagens comerciais que usuários adotem e difundam por meio de suas redes pessoais. Nessas redes, as etiquetas e as fotos serão a moeda dos anunciantes.
Nada disso significa que os 750 milhões de usuários móveis do Facebook vão deixar de postar fotos das pessoas queridas na rede social. Mas a empresa vem sendo mais seguidora do que líder.

    Luli Radfahrer - Servos e servidores

    folha de são paulo
    Ao cultuar as redes e os dispositivos em vez do conteúdo, qualquer aura mística é redirecionada
    Desde o surgimento do controle remoto, o poder editorial vem se transferindo para o usuário. Internet, smartphones, tablets e redes sociais criaram um mundo em que praticamente tudo é personalizado.
    Há um componente vicioso, quase pornográfico-masturbatório, nesse controle. Caminha-se para o dia em que cada residência terá um conjunto de escravos digitais dispostos a fazer de tudo para divertir, tranquilizar, excitar ou alienar seus donos, por mais bizarros que sejam os anseios.
    Mas quem é realmente o submisso na relação? É cada vez mais comum ver pessoas "viciadas" em coisas, com cara e jeito de "junkie", aprisionadas aos seus tamagochis, incapazes de abandoná-los, em uma relação que beira a dependência. Não é curioso que as chamemos de usuários?
    As queixas de quem prejudica trabalho, família ou vida social para ficar mais tempo conectado são típicas: desejam sinceramente abandoná-las por um tempo ou reduzir seu uso, mas quase nenhum consegue. Afastados, muitos mostram ansiedade e sintomas de abstinência.
    Redes de relacionamento, comércio eletrônico, jogos, compartilhamento e outros opiáceos sociais fazem cada vez mais parte da vida cotidiana. Se não houver um equilíbrio em seu uso, o envolvimento pode alterar a noção de identidade.
    Espelho photoshopado da realidade, a personalidade digital interfere cada vez mais na pessoa que deveria refletir. Aperfeiçoado pelo avatar, é tentador confundir as fronteiras entre o papel que se representa e quem se é. Chega-se a um extremo de, como um retrato invertido de Dorian Gray, coisas horrorosas serem feitas por perfis impecáveis.
    Delírios de grandeza, morbidez, crueldade e outras perversões cada vez mais comuns no mundo digital dão a impressão de que ele está mais para "oeste selvagem" do que para utopia. Não é raro quem se comporte como se a internet funcionasse além dos limites históricos, econômicos, racionais e jurídicos.
    Da mesma forma que os espelhinhos dados aos índios por seus conquistadores, muitos desses novos ambientes de relacionamento dão a ilusão de poder, à medida que aumentam a submissão, criando uma espécie de simbiose entre o usuário e seu fornecedor de alegria transitória.
    Em 1936, o filósofo Walter Benjamin alertava para o perigo de que a reprodução tecnológica criasse uma impaciência que acabaria por destruir a "aura" da arte e eliminar a humildade necessária para compreendê-la. Ele não imaginou que essa deferência fosse transferida do quadro para a moldura que o abriga.
    Ao cultuar as redes e os dispositivos tecnológicos em vez do conteúdo que abrigam, qualquer aura mística é redirecionada para os aparelhos e os aplicativos. Esse novo ritual não tem nada de arte nem de religião --é puro fetiche. Seu uso não encoraja o conhecimento nem estimula a descoberta. Pelo contrário, fixa suas vítimas a objetos e as escraviza.
    Revoltado com o excesso de ordem e de controle da sociedade do "Admirável Mundo Novo", um de seus personagens desabafa sua insatisfação com o mundo hermeticamente limpo: "Não quero conforto. Quero a poesia, quero o perigo real, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado", resumindo a fascinante complicação que nos torna demasiadamente humanos.

    Minha História - Josephine Henrichsen

    folha de são paulo

    Filha de cinegrafista argentino morto na queda de Salvador Allende critica Justiça chilena

    DEPOIMENTO A
    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    RESUMO A professora de inglês Josephine Henrichsen tem 48 anos. Em junho de 1973, aos 8, recebeu a notícia de que o pai, o fotógrafo e câmera argentino Leonardo, tinha morrido assassinado por um oficial chileno enquanto cobria a tensão que antecedeu o golpe militar que derrubou Salvador Allende. As imagens da morte do pai ficaram famosas através do filme "A Batalha do Chile", de Patrício Guzman. Aos 40 anos de sua morte, Leonardo acaba de ser homenageado pela prefeitura socialista de Santiago, mas a família Henrichsen ainda busca justiça no país em que ele foi morto.
    *
    Não havia internet quando eu era criança. Então meu pai era meu guia para saber o que se passava no mundo.
    Ele voltava de seus trabalhos em outros países, como o México, a Nicarágua, o Chile e a Bolívia, e ouvíamos seus relatos como se fossem aventuras que nos faziam entender o que acontecia na América Latina.
    Divulgação/Arquivo Pessoal
    Josephine Henrichsen durante cerimônia em homenagem a seu pai, em Santiago, em junho
    Josephine Henrichsen durante cerimônia em homenagem a seu pai, em Santiago, no Chile, em junho
    Quando ele viajou ao Chile, em junho de 1973, foi como se partisse apenas para um novo trabalho.
    O país estava convulsionado entre a direita e os apoiadores de Salvador Allende (1908-1973). Não se imaginava que algo tão violento e grave como o golpe militar de 11 de setembro fosse acontecer, mas o clima era tenso de qualquer maneira.
    Papai era o câmera freelance contratado por uma televisão sueca para reportar sobre o que acontecia na cidade de Santiago.
    Naquela tarde, eles saíram para cobrir a repressão às manifestações nas quadras ao redor do Palácio de La Moneda. As imagens mostram um caminhão cheio de oficiais parando numa esquina e atirando contra um grupo de pessoas, que deixa o local.
    Papai, ao contrário dos outros, se aproximou, tentou focar os soldados. Eles atiravam, até que um deles mira nele e o atinge. Ele não morreu na hora, ficou ali, caído no chão, agarrado à sua câmera.
    Um oficial se aproximou e tentou arrancar o filme, mas não sabia que a câmera gravava as imagens de duas maneiras. Ao deixar meu pai e a câmera na calçada, não sabia que deixaria ali também o registro de seu crime.
    Ele foi levado a um hospital por seu companheiro sueco, mas não resistiu e morreu.
    Por muito tempo investigamos a gravação, que foi usada no documentário "A Batalha do Chile", do diretor Patrício Guzmán, para procurar saber quem era o autor dos disparos.
    A princípio nos confundimos, porque ele veste o uniforme de um major, mas tratava-se apenas de um recruta. Hoje conhecemos seu nome e residência. Já o apresentamos à Justiça chilena, que alega falta de provas para iniciar uma ação contra ele.
    É lamentável que o Chile não esteja prestando contas com relação a seu passado como está a Argentina.
    Nós não buscamos uma indenização, apenas o reconhecimento de que meu pai morreu por conta de um crime de lesa-humanidade cometido pelo Estado chileno.
    Lembro bem de como recebemos a notícia em casa.
    Somos três irmãos, eu sou a do meio, meu irmão mais velho tinha 10, a menor, 2, e eu 8. Hoje, tenho 48 anos e também tenho três filhos. A lembrança de meu pai, que morreu tão novo, aos 33 anos, é fundamental no modo como me relaciono com eles.
    Meu pai, não sei, creio que sabia de alguma forma que morreria jovem e desde cedo tentou inocular nos filhos o sentido de responsabilidade, de que deveríamos cuidar nós mesmos de nossos passos.
    Sei que ele tentou, da melhor forma possível, passar tudo o que sabia para nós o mais rápido que pudesse.
    Eu o acompanhava em muitos de seus trabalhos e o admirava muito. Penso demais nele quando me relaciono com meus filhos.

    A diferença de Marina Silva - Renato Janine Ribeiro

    Valor Econômico - 15/07/2013


    Na política, o que importa é a atitude




    Como já informei, logo depois de meu artigo "Marina Silva e as chances perdidas", a líder da Rede Sustentabilidade me convidou para uma conversa, que ocorreu na casa do professor Ricardo Abramovay. O que chama a atenção em Marina - pelo menos para quem nunca tinha conversado com ela - é a informalidade. Chamei-a de "senadora", mas ela afastou a forma de respeito e me convidou a dar-lhe o você. Mas este é apenas um sinal de algo mais significativo.

    Se você conversar com um presidenciável petista ou tucano, esperará que fale de projetos para o Brasil e dê números para sustentá-los. Falarão em investimentos, em PIB e, se tiverem noção dos fins para que governam, mencionarão problemas sociais e econômicos e os remédios que lhes propõem. Eis duas características do discurso político habitual: os dados, que fazem crer na seriedade do candidato - e o subentendido de que a ação política é totalmente diferente da ação individual ou pessoal. O candidato não se apresenta como um igual a você. A agenda dele é diferente da que você pode ter. Você não pode influenciar o crescimento do PIB, o aumento do crédito, a reindustrialização.

    Nada disso acontece com Marina. Não só porque cita Freud e até Lacan, o que atesta uma curiosidade intensa, mas sobretudo porque, me parece, ela não vê a política como um domínio separado da vida das pessoas. O que vale na psicologia vale na política. Arrisco-me a dizer que talvez esteja aí a raiz de uma crítica que lhe dirigem, sobre a possível interferência de sua fé evangélica em decisões políticas: se o que lhe interessa é a pessoa, nem psicologia nem valores podem se confinar num espaço extra-político. Eles devem fecundar a politica; aqui, sugiro a tese de que a política, no Brasil, vampiriza. Ela de tempos em tempos requer sangue novo, gente como Mario Juruna, Fernando Gabeira, Regina Gordilho, dos quais a maior parte (Gabeira é a exceção) acaba triturada por esse misto que nossa política exibe - a necessidade de sangue novo, mas também a ojeriza a tudo o que é novo, tudo o que rompa com o sistema existente, culminando num ultimato: "rende-te ou te destruo".

    O projeto de Marina Silva pode ser expresso tanto na linguagem da política quanto na da vida pessoal. É como se para ela não fizesse sentido cindir a política, reino da repartição do PIB, e a vida pessoal, espaço só privado. Por isso ela pode transitar o tempo todo de uma para outra. Por isso seu tema não está na ação convencionalmente política. Por isso seu partido não se chama partido. Por isso ela pode se associar a ex-tucanos sem maiores problemas. Por isso suas ideias podem apelar aos mais jovens, aos rebeldes dos últimos meses. Quem não entender isso não a entenderá; nem entenderá o que tem acontecido, de novo, entre nós.

    Uma tal atitude abre caminhos. Permite condenar a corrupção nas esferas de governo, não como a oposição, que se esmera em apontar o cisco no olho do outro mas esconde a trave no seu próprio (quem usa a imagem bíblica sou eu, não Marina), mas de um ponto de vista que sai da política, para ser intensamente ético. Não é fortuito que os sustentáveis tenham nascido dos verdes. Mesmo não conhecendo Rousseau, eles parecem dever muito de suas convicções a uma ideia do filósofo, que agora exponho.
    Rousseau afirma que há males que fazem mal ao próprio autor deles. A propriedade privada é um mal, assim como a vaidade. Mas o rico e o vaidoso também são vítimas de suas próprias ações. Rousseau não divide o mundo em bons (as vítimas) e maus (os algozes). Superar a degradação do mundo fará bem até aos malfeitores. Ora, não é este o eixo da politica verde? que lembra que o próprio predador da natureza sofrerá pelo mal que causa. Não opera com uma soma zero, na qual o que as vítimas perdem vai para o algoz, mas com somas negativas (todos perdem) ou positivas (todos ganham). O modelo de um projeto político win-win, como alguns o chamam, pode estar na ecologia. Um meio-ambiente limpo beneficia a todos. Daí que a política verde seja diferente das políticas de disputa. Ela pretende integrar. Se navegar pela exclusão, como as demais políticas, não será verde.

    Um dos grandes êxitos na educação básica, nos últimos anos, é a difusão do "reduzir, reutilizar, reciclar". E não é por acaso que esse princípio, que vem eticizando nossos filhos, é um mote que efetua a passagem do verde ao sustentável. Poderia ser um mote da Rede - mas não do PT ou do PSDB. Para esses partidos, é uma proposta apolítica. Para o projeto da Rede, porém, é exemplar. O que eles pretendem vai além da política.

    Volto ao que pude ouvir de Marina Silva e seus colaboradores. Eles estão otimistas. Creem num crescimento até rápido de sua força. Eu, embora simpatize com tudo isso, vejo problemas. A passagem de "verde" a "sustentável", por exemplo: verde é limitado, mas preciso (e positivo); sustentável é amplo - mas vago e requer muita discussão. Já as propostas de reforma política, conquanto bem intencionadas, lembram medidas que, adotadas na Califórnia, tiveram resultados contrários aos esperados. Também penso que a agenda petista - a da urgência de enfrentar a miséria - está longe de se esgotar. Querem também pôr fim ao ódio e à exclusão em nossa política, mas creio que infelizmente a demofobia de nossos abastados é maior do que imaginam.

    Mas eles são o grupo que mais pensa o futuro, que está mais perto do que a vida de hoje, nas ruas e nas redes, imagina.

    PS - Como se vê, o mais importante para mim não foram os assuntos tratados, que a maior parte conhece, mas a atitude - que procurei descrever e ousei interpretar.

    Minha história - Paulo Sérgio da Silva

    folha de são paulo
    3 balas perdidas
    Vítima de fogo cruzado entre PM e bandidos, autônomo ainda está com uma delas alojada no rosto
    ROBERTO DE OLIVEIRADE SÃO PAULOSaí de manhãzinha da periferia de Mauá, rodei 35 km de moto até pertinho da avenida Paulista para um trabalho que me renderia R$ 50.
    Era um serviço para um pessoal conhecido, então revolvi fazer um preço camarada. Voltei para casa no fim da noite, com fome, sem dinheiro, sujo de sangue e baleado em três lugares do corpo.
    Carrego ainda uma bala alojada no meu rosto, abaixo da orelha esquerda, e uma dúvida: não sei se vão conseguir retirá-la um dia.
    Vez ou outra, parece que a bala se mexe. A parte em que ela bateu, no antebraço direito, queima. A lateral da barriga do outro lado do corpo também queima. E muito.
    Eram quase 9h de um sábado tranquilo, de céu azul, no dia 15 de junho, quando cheguei a um consultório odontológico, na alameda Ribeirão Preto, na Bela Vista.
    Consertei as torneiras do consultório e saí para buscar tinta em um depósito que fica na avenida Brigadeiro Luís Antônio, a duas quadras de onde eu trabalhava.
    Por volta das 9h50, comecei a subir a Ribeirão Preto, perto da alameda Joaquim Eugênio de Lima, quando um carro, um Space Fox preto, desceu em disparada.
    A polícia vinha logo atrás.
    Segundos depois, o assaltante fez o caminho inverso. A polícia continuava na cola.
    Nessa perseguição de PM contra bandido, a vítima fui eu. Estava na frente deles quando as balas me atingiram. Duas de raspão.
    A terceira continua bem aqui, no meu rosto.
    QUE SITUAÇÃO É ESSA?
    Naquele instante, não dava para contar os tiros.
    Sei que eram muitos. Foi tudo rápido demais.
    Corri a mão nas costas, para ver se a bala tinha atravessado, quando percebi que muito sangue estava escorrendo pelo rosto.
    Me lembro claramente de ter dito a um moço que passava de carro e me olhava assustado: "Acho que fui baleado". Tinha sido mesmo!
    Uma mulher se aproximou. Disse que era médica e falou para eu me deitar. Colocaram uma toalha no meu rosto, mas não parava de sair sangue. Deu muito medo.
    Em menos de dez minutos, o resgate chegou. Eles foram rápidos e gentis. Pediram o telefone de algum conhecido, alguém da minha família.
    Pensei: "Para quem eu ligo?" Eu mesmo disquei para o celular da minha mulher, Raquel, e passei para eles.
    "Digam que eu sofri um acidente de moto, por favor", foi o meu pedido. O que menos queria naquela hora era assustar a minha família.
    Jamais imaginei que bem pertinho da avenida Paulista, uma das mais importantes da cidade e talvez até mesmo do país, pudesse acontecer uma coisa assim.
    Mas hoje, em São Paulo, a gente fica esperto. Você sai e não sabe se vai voltar vivo para casa. É muito triste. Me pergunto: "Que situação é essa que a gente está vivendo?".
    Já fui assaltado três vezes, todas elas foram na periferia. Levaram duas motos, mas nada tinha sido tão assustador como foi na Paulista.
    Quatro dias depois, voltei ao Hospital das Clínicas para o médico analisar se a bala poderia enfim ser retirada do meu rosto. Que nada.
    Pediram para ficar atento e tomar cuidado com o ferimento. Vou ter que voltar ao hospital no final deste mês.
    Enquanto isso, terei que conviver com essa situação. Já vieram me perguntar se sei de onde partiram os tiros. Agora, isso pouco importa.
    Só quero ter saúde para voltar logo a ter uma vida normal, trabalhar e cuidar da minha família. Ficar em paz.
    MEU MENINO
    Geralmente, nos finais de semana, eu costumo levar o meu filho mais novo, o Rodrigo, de quatro anos, para trabalhar comigo. É um jeito de a gente ficar juntos por mais alguns momentos.
    Naquele sábado de manhãzinha, pensei em ir de carro com o menino, mas não tinha dinheiro para colocar gasolina. Então, tive que pegar a moto e deixei o garoto dormindo em casa. Ainda bem.
    Com certeza o Rodrigo estaria sobre os meu ombros naquela hora do tiroteio.
    No sábado, o médico que me atendeu no HC disse: "Você nasceu de novo". Quando penso naquelas palavras do doutor, prefiro acreditar em outra coisa: sorte mesmo teve o meu menino.

      Tv Paga


      Estado de Minas: 15/07/2013 


      Com tantas novidades na programação, a HBO reservou para hoje a estreia da segunda temporada da cultuada série Newsroom, às 22h. A atração mostra os bastidores de um telejornal, tendo como atores principais Emily Mortimer e Jeff Daniels, respectivamente nos papéis de uma produtora e do âncora do canal Atlantis Cable News (ACN). Quem já viu costuma usar adjetivos como inteligente, moderno e divertido para descrever o programa.

      Paranormais ajudam
      a desvendar crimes


      Novidade também no canal Bio, com a estreia da nova temporada de Parapsicólogos forenses, às 22h. A produção recria investigações policiais verdadeiras conduzidas com o auxílio de médiuns. O primeiro episódio relata o caso de uma universitária que certa noite desaparece de casa. A força policial é colocada em cena para encontrar pistas, mas, sem conseguir grandes avanços, o desesperado pai da jovem recorre à médium Gale St. John, que lhe confirma que sua filha está morta. A partir daí a polícia corre contra o tempo para identificar e prender o assassino antes que ele cometa outro crime.

      Muitas alternativas
      no pacotão de filmes


      Em comemoração aos cinco anos do canal, o Megapix preparou uma programação especial, o Top 5 nacionais, que vai exibir todas as segundas-feiras de julho, às 22h, grandes sucessos do cinema brasileiro, começando hoje com Tropa de elite. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem pelo menos mais oito opções: Cronicamente inviável, no Prime Box Brasil; Um homem de sorte, na HBO; Perigo por encomenda, na HBO2; Missão madrinha de casamento, no Telecine Fun; Um divã para dois, no Telecine Pipoca; Gran Torino, na Warner; Alguém para Eva, no Glitz; e Perigo em Bangkok, na MGM. Outras atrações da programação: Peggy Sue, seu passado a espera, às 22h30, no Comedy Central; e a animação Rio, também às 22h30, na Fox.

      Seriado revela a barra
      pesada de Copacabana

      O canal Multishow estreia hoje, às 23h15, a série Uma rua sem vergonha, produção baseada no livro homônimo de Cláudio Henrique, com direção de Carol Jabor e Cláudia Castro. A produção é da Conspiração Filmes e terá 13 episódios, mostrando o dia a dia das garotas de programa da Rua Prado Júnior, em Copacabana, no Rio de Janeiro. No elenco, Juliana Knust, Pollyana Rocha, Jéssica Barbosa, Natália Vidal, Patrícia Elizardo e Bayard Tonelly.

      Canal Brasil também
      oferece boas opções


      O compositor e instrumentista Edu Krieger é o convidado de Zé Nogueira em Estúdio 66, às 18h45, no Canal Brasil. A dupla interpreta Galileu e Clareia. Já às 21h30, em episódio inédito de Espelho, Lázaro Ramos entrevista a atriz Adriana Esteves, falando sobre o início da carreira, os desafios do ofício e o sucesso de seus personagens, incluindo a vilã Carminha, da novela Avenida Brasil.

      Atrizes e humoristas conquistam cada vez mais espaço em tramas dramáticas-Ana Clara Brant‏

      Atrizes e humoristas conquistam cada vez mais espaço em tramas dramáticas. Quatro comediantes roubam a cena em duas produções globais, Amor à vida e Sangue bom 


      Ana Clara Brant

      Estado de Minas: 15/07/2013 


      As atrizes Fabiana Karla e Tatá Werneck não são protagonistas de Amor à vida, trama das nove. Nem Ingrid Guimarães e Fafy Siqueira, em Sangue bom, novela das sete. Mesmo não estando nos papéis centrais das produções da Globo, elas roubam a cena. E, mais do que isso, arrancam gargalhadas dos telespectadores. Especialistas em comédia, as quatro não negam sua origem e sentem muito orgulho do que fazem.

      “As pessoas querem rir. E comédia está na moda. Acho que acaba sendo exigência do próprio povo, que nos elege. Toda trama densa precisa de respiro. Acabamos tendo essa função”, acredita Ingrid, que interpreta Tina em sua terceira novela. A estreia foi em 1997, em Por amor, com Teresa, empregada com veia cômica das personagens de Regina e de Gabriela Duarte.

      Inicialmente, a participação de Ingrid em Por amor não seria grande, mas com o sucesso da atração de Manoel Carlos, o papel cresceu. Depois disso, ela enveredou por outros caminhos, caso dos programas Sob nova direção e Zorra total e de peças de teatro ao lado da grande amiga Heloísa Pérrissé. Outra novela só viria anos depois: Caras e bocas, de 2009. Porém, Ingrid não reclama. “O ritmo de novela é outro. Tem mais cenas, menos tempo. Por outro lado, nossa função é só decorar, então pra mim é um descanso não ter que produzir, escrever. Só gravar. Acho, na verdade, um treino muito bacana”, observa.

      Colega de elenco de Ingrid, Fafy Siqueira, que faz a Madá na trama de Maria Adelaide Amaral, é uma das pioneiras entre as humoristas na teledramaturgia brasileira, e não esconde sua preferência pela comédia. Ela lembra que, certa vez, o diretor Herval Rossano cismou de colocá-la num papel mais sério, em um episódio do extinto Você decide. “Claro que fiz, mas sou palhaça. Prefiro fazer comédia. É interessante que sou parte de uma geração que tem Claudia Gimenez, Regina Casé e que levantou a bola para essa turma que está nas novelas. Antes havia Nair Bello, Consuelo Leandro e Zilda Cardoso, que também inovaram, mas elas enfrentaram mais resistência. Minha geração é a que realmente conseguiu abrir as portas para que quem viesse depois, como a própria Ingrid, Marisa Orth e Heloísa Pérrissé, marcasse o gol. O mais bacana é que já tem uma turma nova: Tatá Werneck, Dani Calabresa e Renata Gaspar. A coisa só tem melhorado”, defende Fafy.

      Preconceito

      Fafy Siqueira acredita que ainda há certa discriminação com relação ao pessoal da comédia, apesar de isso estar diminuindo ao longo do tempo. “Até porque o humor está muito em alta. Acho que tem profissionais que realmente só sabem fazer isso. Mas não é porque você é humorista que não é um grande ator e não consegue atuar em outras coisas”, ressalta.

      Já Ingrid Guimarães revela que chegou a sofrer preconceito por vir da comédia, pois muita gente considera esse gênero mais fácil e menor. “É assim desde os tempos de Charles Chaplin e de Peter Sellers. Somos eleitos pelo povo, não pela crítica. Sou muito feliz fazendo humor, mas não temo ficar estigmatizada. Fiz outras coisas e, ano que vem, farei dois filmes com personagens mais sérios”, acrescenta.

      Intérprete da divertida enfermeira Perséfone em Amor à vida, a pernambucana Fabiana Karla também comenta a discriminação com relação ao humor, mas não se recorda de ter passado por isso. Pelo contrário. A atriz, que ficou conhecida do grande público no Zorra total , tem recebido o carinho de vários colegas de elenco, que elogiam seu trabalho. Fabiana, que estreou fazendo uma ponta em Mulheres apaixonadas, em 2003, e só voltou às novelas e minisséries no ano passado, com Olga, esposa de Tonico Bastos, em Gabriela, da Globo, afirma que foi por falta de oportunidade que ingressou mais no universo da comédia. Agora acha que, finalmente, a teledramaturgia começou a descobri-la e tem sido uma “deliciosa parceria”. “Sou atriz, faço o que for proposto e a comédia me arrebatou primeiro. Creio que os autores estão prestando mais atenção em nós. Mas a galera que faz humor sempre foi lembrada, tanto que temos nomes como Heloísa Périssé, Maria Clara Gueiros, Drica Morais e várias outras que já mostravam que quem faz humor também consegue outra partitura. Chico Anysio mesmo era um ator incrível”, frisa.

      Fabiana Karla assegura que não tem medo de ficar marcada por personagens cômicos e que sempre existirá alguém que será sensível a ponto de perceber e descobrir suas várias facetas. “Amo atuar, essa é a minha paixão. Não me interessa se for drama ou comédia, o que me encanta é o desafio que a profissão me lança a cada trabalho. E cada produto atinge um público-alvo e tem a sua linguagem. A novela realmente maximiza mais o ator, o aproxima das pessoas e já existe um histórico do horário nobre que só vem colaborar com essa visibilidade. É uma exposição maior, sem dúvidas. Mas estou adorando tudo”, celebra.

      Palavra de
      especialista


      Yara de novaes
      atriz, diretora e preparadora de elenco

      Ótimo intérprete

      “O termo comediante é muito mais elogioso do que imaginam. É um ator que tem técnica suficiente para habitar onde quer. Mas a comédia é marginalizada desde a Grécia antiga. O riso, querendo ou não, era desconstrutor, transgressor. Era perigoso e explicitava tudo defeituoso e faltoso na sociedade. Por isso, a comédia foi associada a uma dramaturgia menor. Entre os atores cômicos ficou essa história de que eles tinham pouca elaboração intelectual, artística e estética. O que é uma grande bobagem. O comediante bem habilitado é um ator que qualquer autor e diretor quer. O que interessa mesmo é um profissional que, independentemente da origem, consiga usar tecnicamente todos os meios expressivos para atingir a personagem. O fundamental é que não esteja fechado a nenhum tipo ou gênero, mas que seja ótimo intérprete. É isso que realmente importa.”

      Eduardo Almeida Reis-Sibérias‏


      Estado de Minas: 15/07/2013 


      Moacir Japiassu, 71, paraibano, vascaíno, escritor e jornalista que nos dá o sensacional e imperdível Jornal da ImprenÇa, tem sucursal no Distrito Federal: seu diretor é Roldão Simas Filho, de cujo banheiro, em subindo-se nas bordas do vaso sanitário, é possível enxergar pela claraboia a Câmara dos Deputados, cujos membros costumam se entender em dialeto bundo, como ficou provado no embate entre os parlamentares Ronaldo Caiado e Anthony Garotinho, duas semanas mais tarde assentados lado a lado na decisão das lideranças sobre a impossibilidade do plebiscito em 2013.

      Fui procurar o dialeto bundo no Houaiss e tive a surpresa de encontrar o verbo bundear, regionalismo brasileiro de uso informal: “andar a esmo, vagamundear”. Indicativo presente: bundeio, bundeias, bundeia, bundeamos, bundeais, bundeiam. Gerúndio: bundeando. Taí, bela sugestão para as operadoras de telemarketing, quando a gente pede para falar com o gerente daquela chatura: “O gerente vai estar bundeando durante o almoço”.

      Mestre Roldão, sabendo que não gosto de frio, foi procurar no Guia Brasil 4 Rodas, edição 1997, a lista das 85 cidades e vilas mais altas do Brasil, acima de 900 metros.

      Bastam-me as cinco acima de 1.300m, para imaginar o frio que faz por lá. Vejamos: 1. São Francisco Xavier (vila) (SP) 1.700m; Campos de Jordão (SP) 1.628m; Monte Verde (vila) (MG) 1.554m; Senador Amaral (MG) 1.505m; São Joaquim (SC) 1.352m.

      Só de imaginar o frio que está fazendo nas cinco, tenho vontade de chamar o caminhão de mudanças e mandar meus móveis para Fortaleza (CE), apesar dos irmãos Gomes apitando no caloroso estado. Morar num estado governado por eles deve ser uma gomiada, que, sabe o leitor, significa golpe de gomia, arma cortante usada pelos mouros na costa do Malabar. Apesar disso, as lagostas e os lagostins devem compensar os Gomes, I presume.

      Senador Amaral fica a 475 quilômetros de Belo Horizonte. Diz a Wikipédia que “sua população é presenteada (sic) com um dos melhores climas do mundo”, com temperaturas máximas e mínimas entre 26ºC e -5ºC, temperatura média anual de 18,2ºC, verões amenos e úmidos, e invernos frios e secos. Em 2010, havia 5.225 habitantes gozando aquela “delícia” climática, em sua maioria agricultores e pecuaristas. Brasileiros têm a pretensão de contar com os melhores climas do mundo. Morei alguns anos naquele que passa por ser o terceiro melhor clima: um pavor! Minhas botinas amanheciam brancas de mofo.

      Ininteligível

      Do latim inintelligibìlis,e 'não inteligível', o adjetivo ininteligível, de dois gêneros, significa exatamente a mesma coisa: “não inteligível; que não se pode entender”. É a minha reação diante de amigos inteligentes e cultos, que não entendem o fulcro, o objetivo, a intenção dos e-mails que lhes repasso.

      E me respondem dizendo que a mensagem é hoax, é fake (é trote, é falsa), esquecidos de que o meu objetivo, ao repassar a mensagem, é dizer que concordo com ela, como, de resto, a humanidade lúcida também concorda. Foi assim com um texto atribuído à imprensa do Canadá, em que há considerações sobre determinada senhora que faz política na América do Sul.

      O texto é pouco ou nada jornalístico, mas é a mais pura verdade. Não me importa que seja um trote, texto falsamente atribuído a um jornal canadense, sem citar os nomes do jornal e do autor. A importância do repasse é que acredito e subscrevo tudo aquilo atribuído ao “canadense”.

      E vou mais longe, quando pergunto aos amigos inteligentes, cultos e implicantes: “Que é a verdade?”. A noção bíblica de verdade provém de pontos de vista diferentes da noção ocidental, que remonta principalmente à terminologia grega.

      Para os gregos a verdade é a concordância entre o pensamento e a realidade, ou, então, a própria realidade enquanto se revela ao espírito. Aí se manifesta a compreensão tipicamente grega de clareza, compreensão teórica e intelectual. Contudo, a concepção bíblica de verdade é existencial; corresponde a um desejo prático de conhecimento para a vida. Na própria Bíblia a noção passou por evolução: no judaísmo e no NT, o termo verdade é cada vez mais relacionado com a lei, a revelação, a palavra de Deus.

      E agora que os implicantes estão entupidos de lições verdadeiras, insisto na mais importante delas todas: ao repassar os e-mails, pouco me importa se trotes ou falsos. O fulcro dos repasses é reforçar a evidência dos fatos, que os amigos inteligentes e cultos não podem desconhecer.

      O mundo é uma bola

      15 de julho de 1482: Muhammed XII az-Zughbi, de alcunha Boabdil, é proclamado o 22º rei nasrida de Granada, substituindo seu ilustre pai, Abu al-Hasan Ali, após combates nas ruas da mesmíssima Granada. Durante 10 anos, com um interregno, foi o último rei muçulmano da Península Ibérica. Hoje, a região está entupida de muçulmanos. Parece que Muhammed XII az-Zughbi depôs seu pai, coisa feia entre muçulmanos, cristãos, judeus, evangélicos e outros religiosos.

      Em 1799 é encontrada a Pedra da Roseta, que permitiria a Champollion, em 1822, decifrar os hieróglifos egípcios.

      Em 1921 morreu o poeta Alphonsus de Guimaraens, pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães, ouro-pretano nascido em 1870.

      Ruminanças


      “Um poeta olha para o mundo como um homem olha para uma mulher.” (Wallace Stevens, 1879–1955)

      CIÊNCIA » Poder da Casca de jabuticaba no combate a radicais livres-Paula Takahashi‏

      Pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de Lavras mostram os benefícios da parte externa da jabuticaba, rica em compostos antioxidantes que combatem os radicais livres. Estudo já rendeu à Ufla patente registrada 


      Paula Takahashi

      Estado de Minas:
      15/07/2013 


      Rica em antioxidantes, a casca da jabuticaba é objeto de uma série de pesquisas voltadas para a exploração cada vez mais efetiva de seus benefícios para a alimentação. Na Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas Gerais, uma equipe de pesquisadores do Departamento de Química reforça os estudos sobre o fruto nativo do Brasil com avanços importantes que já renderam, inclusive, patente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A equipe chegou à composição de uma farinha e extrato da casca da jabuticaba que serão usados não apenas como corante, mas também como aditivos para enriquecer alimentos. Até agora, já foram realizados testes com iogurtes e apresuntados, mas já há outros produtos na lista de experimentos.
      A professora e membro do grupo de pesquisas, Angelita Duarte Corrêa, conta que o detalhamento sobre a composição nutricional da jabuticaba começou há mais de sete anos. “Uma aluna de doutorado fez a caracterização química do fruto e de suas frações (casca, poupa e semente). Constatamos a partir daí, que a casca era rica em compostos fenólicos, fibras – especialmente as solúveis – e também minerais”, detalha a estudiosa.
      Os compostos fenólicos são justamente aqueles que concentram grupos de antioxidantes, responsáveis principalmente pelo combate de radicais livres, agentes no processo de envelhecimento celular. As fibras, por sua vez, auxiliam no trato digestório e as solúveis atuam na redução do colesterol e na absorção de glicose. Quanto aos minerais, as concentrações mais expressivas registradas foram de ferro, potássio, magnésio e manganês.
      Com o detalhamento realizado, o próximo passo seria a extração da riqueza presente na parte do fruto que normalmente é descartada durante o consumo. “Veio então um segundo trabalho que culminou com a formulação da farinha e extrato da casca”, explica Angelita. Para chegar a esses produtos finais, era fundamental que a extração dos compostos fenólicos, fibras e minerais fosse a mais eficiente possível, mantendo os altos índices de concentração. Para isso, chegou-se à conclusão que seria necessário secar a casca da jabuticaba em baixa temperatura. “Utilizamos um processo chamado de liofilização, que seria o mais indicado uma vez que manteria grande parte dos constituintes da casca, se assemelhando à composição da forma in natura”, detalha Angelita.
      O processo, porém, é muito oneroso. A alternativa para reduzir os custos foi partir para o secador de alimentos, no qual foram testadas temperaturas distintas. “Trabalhamos com 30, 45 e 60 graus. Queríamos saber qual seria a outra opção que, ainda que apresentasse perdas, teria boas condições e bons teores dos constituintes do fruto. Entre as três, o melhor resultado foi verificado naquela de 45 graus”, explica a professora. Definida a forma de desidratação utilizada, a casca segue para trituração, onde ganhará cara de farinha.
      Concluída a moagem, o produto passa por peneiras onde é determinada a granulometria. Neste momento, tem-se a amostra de trabalho que será aplicada nos alimentos. “No caso do iogurte, escolhemos concentrações da farinha que não alterariam o sabor do produto. Assim como partículas muito pequenas que não comprometeriam a questão sensorial”, observa a pesquisadora.

      EXTRATO Mas a farinha não é a única opção desenvolvida. O extrato obtido a partir da casca da jabuticaba também seria uma ótima alternativa para enriquecer os produtos aos quais é adicionado com antioxidantes. “A intenção era extrair a maior quantidade possível do pigmento da casca para, desta forma, retirar a antocianina, um dos fenólicos característicos de alimentos de cor escura”, lembra Angelita. Para isso, o solvente escolhido foi o etanol acidificado, que é aplicado à farinha de onde vai retirar a pigmentação. “Foi o que respondeu melhor”, garante a pesquisadora.
      Além de ser empregado na indústria alimentícia, o extrato já começa a demonstrar resultados interessantes em diferentes aplicações. “Inclusive no combate a insetos. Estamos fazendo experiências com uma classe de fenólicos encontrada na casca da jabuticaba, que seriam os taninos, responsáveis por bloquear a digestibilidade proteica dos insetos, comprometendo seu desenvolvimento”, explica Angelita. Os frutos do trabalho ainda dependem de novos testes e do interesse da indústria em transformar as descobertas em produtos para o mercado.

      Extrato reduz câncer

      Parecem incontáveis os benefícios da casca de jabuticaba. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas descobriram que, o que até então era descartado durante o consumo, pode ser uma arma importante na redução de dois tipos de câncer e na prevenção de diabetes. O procedimento para trabalhar com a casca se assemelha ao usado na Ufla, onde a parte do fruto é transformada em extrato. Em um dos testes, o extrato foi testado em células humanas com algum tipo de câncer. Foi então observada uma redução de 50% no crescimento de células de leucemia e células de câncer de próstata. Em outro experimento, a farinha de jabuticaba virou ração para ratos obesos. Com o consumo diário, verificou-se que o composto pode agir na prevenção de doenças como o diabetes tipo dois. “A casca de jabuticaba oferecida durante 30 dias aos animais provou ser eficaz na redução de 10% de glicemia e na redução do colesterol sanguíneo”, explicou o pesquisador Mário Roberto Maróstica e chefe do Departamento de Alimentos e Nutrição (Depan).

      Funcionário distribui falsas bênçãos do papa a políticos e ajuda projetos culturais a obter patrocínio - DANIELA LIMA

      folha de são paulo
      Abençoada assembleia
      DE SÃO PAULOPresidente da Assembleia Legislativa, o deputado Barros Munhoz (PSDB-SP) fez pose para o momento solene. O ano era 2009 e a ocasião merecia. Ele acreditava estar recebendo uma bênção do papa Bento 16, trazida do Vaticano especialmente para ele.
      Talvez o deputado ainda não saiba, mas foi enganado: naquele dia, posou para o fotógrafo oficial com uma peça falsa emoldurada. Ela não veio do Vaticano. Segundo funcionários da Assembleia, foi impressa numa gráfica da alameda Jaú, em São Paulo.
      Em Roma, apenas um arcebispo tem permissão para assinar pergaminhos com a bênção apostólica do papa como a que o tucano recebeu.
      E o arcebispo cuja assinatura aparece na bênção de Barros Munhoz, datada de 15 de março de 2009, se aposentara e fora substituído dois anos antes, em julho de 2007.
      Mas o deputado não foi o único. Prefeitos e outras autoridades também receberam bênçãos falsas das mãos do mesmo homem: Emanuel von Laurenstein Massarani, um senhor de 78 anos que, com gravata borboleta e crucifixo na lapela, circula à vontade pela Assembleia paulista há pelo menos oito anos.
      Filho de pai italiano e mãe alemã, Massarani tem sala, equipamentos e funcionários na Casa. Dispõe também de um carro oficial para ir ao trabalho e voltar para casa. Foi nomeado chefe da Superintendência do Patrimônio Cultural da Assembleia em 2005.
      Apesar do cargo, ele não tem vínculo empregatício nem figura na lista de servidores da Casa. Seu posto é "honorífico" --lhe dá direito a regalias, mas não a salário.
      Oficialmente, a função de Massarani é promover exposições e organizar o acervo de arte da Assembleia. Extraoficialmente, ele usa a estrutura do Legislativo para tocar os negócios de uma organização particular que preside, o IPH (Instituto de Recuperação do Patrimônio Histórico).
      O instituto classifica projetos culturais como de "interesse nacional", ajudando a captar verbas de patrocínio que depois podem servir para abater Imposto de Renda.
      Foi por meio de seu instituto, por exemplo, que a pintora Denise Chiaradia Christofari participou das bienais de Florença, em 2009, e Roma, em 2010. Ela viajou graças a uma verba de R$ 46,5 mil da Cesp (Companhia Energética de São Paulo).
      Quem viabilizou o patrocínio da estatal com o IPH foi o pai de Denise, o engenheiro Vilson Christofari, que na época era diretor de geração da Cesp e, meses após a filha voltar de Roma, assumiu a presidência da companhia. (Leia mais no texto abaixo)
      Massarani aparece em documentos oficiais como "ex-embaixador", mas nunca ocupou a posição. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, ele se aposentou no Itamaraty como assistente de chancelaria, antiga carreira de nível médio já extinta.
      Massarani afirma que há uma "confusão" em torno desse assunto. Ele esclarece que trabalhou no passado como "adido cultural" em Genebra, mas recebeu há alguns anos o título de "embaixador de Itápolis", cidade do interior paulista em que ajudou a promover ações de intercâmbio cultural com a Itália.
      As boas relações com os políticos são uma marca na carreira de Massarani, que trabalhou para o ex-presidente Jânio Quadros no período em que ele foi prefeito de São Paulo, e depois foi secretário de Patrimônio Cultural do Estado, no governo Mário Covas.
      Em 2001, o governador Geraldo Alckmin acabou com a pasta e Massarani foi para a Assembleia. "Católico fervoroso", ele diz não entender como as bênçãos que distribui podem ser falsas. "Tenho um contato em Roma. Vou falar com ele. Para mim, eram todas verdadeiras", garante.
      Procurada pela Folha, a Assembleia informou que abriu uma apuração preliminar para verificar a situação de Massarani. No dia em que ele concedeu entrevista à Folha, uma de suas funcionárias interrompeu a conversa na hora de ir embora. "Sua bênção, doutor", ela pediu, dando um beijo na mão dele. Massarani respondeu: "Deus te abençoe, minha filha".
        OUTRO LADO
        Para ex-dirigente da Cesp, não há conflito em patrocínio à filha
        DE SÃO PAULOO engenheiro Vilson Christofari, ex-presidente da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) admite ter atuado na estatal para ajudar a financiar a participação da filha em duas exposições internacionais na Itália, mas diz não haver conflito ético no caso.
        Christofari afirma que a filha, que é pintora, não viajou a passeio e teve trabalhos premiados tanto na mostra de Florença quanto na de Roma.
        "Minha filha recebeu o convite para representar o Brasil, por uma entidade credenciada, o IPH. Comentei com colegas sobre o assunto, sim, e não vejo nada de errado nisso", diz o engenheiro.
        "A empresa patrocina esses eventos. Havia isenção fiscal. Melhor pedir à Cesp do que a qualquer um dos fornecedores da companhia, que certamente não iriam se negar a ajudar", diz Christofari.
        A Cesp afirmou por meio de sua assessoria que deu "apoio financeiro a uma entidade legalmente estabelecida", o IPH (Instituto de Recuperação do Patrimônio Histórico de São Paulo), a quem cabia "aplicar os recursos nos termos da lei".
        O presidente do instituto, Emanuel von Laurenstein Massarani, diz que não sabia que a pintora Denise Chiaradia era filha do presidente da Cesp. "Só fui saber depois do fato consumado", afirma.
        Depois de promover a viagem da filha de Christofari à Itália, Massarani conseguiu ajuda da Cesp para tocar um segundo projeto, um livro sobre as barragens do rio Tietê.
        A Cesp cedeu um de seus funcionários a Massarani. Ele passou a trabalhar para o IPH, com a missão de fotografar as paisagens para o livro.
        Christofari diz ter sido chantageado por esse funcionário, que teria ameaçado revelar o caso do patrocínio da sua filha. O ex-funcionário, Augusto Cezar, negou ter feito chantagem, mas confirmou ter trabalhado para Massarani na Assembleia.

          Deputados querem afrouxar controles sobre campanhas

          folha de são paulo
          Após recusar reforma política proposta por Dilma, Câmara discute projeto que torna legislação eleitoral menos rigorosa
          Medidas incluem fim de recibos para doações eleitorais e liberação de candidatos com contas rejeitadas no passado
          MÁRCIO FALCÃODE BRASÍLIADepois de rejeitar a proposta de reforma política feita pela presidente Dilma Rousseff para responder aos protestos de junho, deputados federais trabalham para aprovar nesta semana mudanças na legislação eleitoral que afrouxam os controles existentes sobre doações de campanha.
          Projeto de lei preparado por um grupo de trabalho composto por representantes de vários partidos acaba com os recibos para doações eleitorais e permite que políticos com contas de campanha rejeitadas pela Justiça Eleitoral voltem a se candidatar nas eleições do ano que vem.
          Atualmente, os candidatos devem dar recibos às pessoas e às empresas que financiam suas campanhas, e esses comprovantes devem ser submetidos à análise da Justiça.
          O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), relator do projeto de lei, afirmou que, sem os recibos, a fiscalização poderá ser feita com registros da movimentação bancária das campanhas, onde os doadores seriam identificados.
          Segundo ele, a ideia é tornar a fiscalização mais eficiente. "Com o número de candidatos que temos atualmente, não há controle", disse. "Estamos melhorando isso ao permitir que o controle ocorra de forma eletrônica."
          Para a procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, a medida é preocupante. "Isso pode dificultar o controle da prestação de contas", disse. "No nosso entendimento, é mais uma dificuldade para cruzar os dados de quem fez a doação e o beneficiário."
          No caso dos políticos com contas de campanha rejeitadas pela Justiça Eleitoral, o projeto permite que voltem a se candidatar se tiverem apresentado suas prestações de contas dentro do prazo legal.
          No ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral chegou a barrar candidatos com contas rejeitadas, mas a questão dividiu o tribunal e a decisão foi revista pelos ministros depois. Pressionados por partidos políticos, eles concluíram que a lei não exige dos candidatos a quitação eleitoral.
          No início deste ano, a Procuradoria-Geral da República questionou o entendimento do TSE e pediu que os ministros voltem a examinar o tema. Para o Ministério Público, o registro de candidaturas de políticos com contas rejeitadas fere a Constituição.
          "Isso é gravíssimo e representaria o liberou geral", disse Sandra Cureau. Vaccarezza discorda. "O cidadão que teve sua conta rejeitada por dolo é processado por outro artigo da mesma lei e vai ser pego de qualquer jeito", disse.
          O projeto também permite que o dinheiro do Fundo Partidário seja usado para pagar multas impostas a partidos políticos que cometerem irregularidades. A legislação atual não prevê o uso do dinheiro com essa finalidade.
          O Fundo Partidário é constituído por recursos públicos, do Orçamento Geral da União. Neste ano, ele deverá repassar R$ 294 milhões aos 30 partidos políticos do país.
          Vaccarezza disse que só vai manter em seu parecer mudanças que forem apoiadas por todos os partidos. Ele deve concluir hoje seu relatório.
          Alguns líderes partidários querem votar o projeto até quarta-feira, quando as duas Casas do Congresso devem entrar em recesso. Se passar na Câmara, o projeto segue para discussão no Senado.

            Dinheiro de volta - Painel - Vera Magalhães

            folha de são paulo
            Dinheiro de volta
            A Advocacia-Geral da União (AGU) ajuíza hoje uma ação contra os sócios da boate Kiss, que pegou fogo em Santa Maria (RS), em janeiro. O objetivo é o ressarcimento de R$ 1,5 milhão que deverá ser gasto pelo governo com o pagamento de benefícios previdenciários às vítimas da tragédia. Até o momento, R$ 68 mil foram destinados a 17 funcionários. Para recuperar valores já pagos aos clientes, a Procuradoria-Geral Federal agora estuda entrar com outras ações do gênero.
            Exemplo Para o procurador-geral federal, Marcelo Siqueira, a importância não é só financeira. "Vamos defender que qualquer comerciante que abre seu estabelecimento ao público tem a obrigação de garantir a segurança dos frequentadores". Caso contrário, terá de arcar com as indenizações.
            Jogada Deputados da base aliada querem modificar texto do Senado aprovado na semana passada que acaba com a vaga de segundo suplente de parlamentares, além de impedir que suplentes sejam parentes.
            Onde pega A ideia inicial no Senado era acabar com os dois suplentes, mas, com a pressão, houve recuo e os senadores também excluíram a mudança que previa nova eleição em caso de renúncia ou morte do titular.
            Apelo O ator global e "marinista" Wagner Moura gravou um vídeo amador para estimular a coleta de mais 40 mil assinaturas para a Rede Sustentabilidade. Moura diz aos espectadores que o novo partido de Marina Silva está "em sintonia com o que se tem visto nas ruas do Brasil".
            Preferência O PMDB está defendendo Candido Vaccarezza (PT-SP) no comando da reforma política, e não Henrique Fontana (PT-RS). Parlamentares alegam que Fontana teve meses para colocar o projeto de pé, mas não avança por ser mais "inflexível" nas negociações.
            Sinal vermelho Alguns dos principais gestores de investimento no país já projetam aumento do desemprego a partir do terceiro trimestre.
            Sinal vermelho 2 Para eles, que não abrem os números, isso será um problema para a reeleição de Dilma Rousseff, que, até o momento, está lidando com PIB em baixa, mas emprego em alta.
            Plano B Conglomerados da área de infraestrutura com obras no Rio intensificaram as conversas com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Eles apostam que Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), candidato do governador Sérgio Cabral, ficará fora do segundo turno e que, nesse caso, o PMDB apoiará Farias.
            Tudo aqui A presidente Dilma Rousseff pediu que o Ministério das Comunicações encontre formas, via Marco Civil da Internet, de obrigar empresas estrangeiras como Google a armazenarem os dados de brasileiros no Brasil e não em servidores nos EUA.
            Pelos ares Com o BNDES operando com o freio de mão puxado na liberação de recursos a campeões nacionais, muitas empresas estão procurando a Caixa Econômica Federal.
            Pelos ares 2 O setor aéreo foi um dos que, recentemente, pediram financiamento ao banco estatal. Mas os pedidos de TAM, Gol, Avianca e Azul foram negados pelo conselho. O setor foi considerado de alto risco.
            Em casa A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) pedirá ao ministro Alexandre Padilha (Saúde) a alteração de uma portaria para que pacientes que respiram por aparelhos possam ser internados em domicílio. Segundo ela, isso evita gastos desnecessários com UTIs.
            TIROTEIO
            De meio expediente ele entende. No governo de Minas Gerais já era assim e, no Senado, passa metade da semana no Rio de Janeiro
            DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), ironizando declaração do senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobre a ausência do ministro Mercadante (Educação)
            CONTRAPONTO
            Fracasso de público
            A Câmara dos Deputados decidiu aprovar a toque de caixa projeto de lei que muda a maneira de gerir os direitos autorais de obras sonoras no país.
            Na semana passada, o texto foi votado no Senado de forma acelerada, depois de forte lobby de artistas brasileiros de peso, que acompanharam a votação no plenário da Casa.
            Diante da falta de público na Câmara, o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA) bradou inconformado:
            -Eu quero saber por que o Roberto Carlos foi para o Senado e aqui nem tocador de viola veio!

              'Desejo que Serra seja feliz', diz Aécio em convenção do PSDB

              folha de são paulo
              Ex-governador busca alternativas para se candidatar à Presidência, mas partido tende a apoiar senador mineiro
              Tucano critica política econômica do governo e promete apresentar propostas de mudança no segundo semestre
              JEFERSON BERTOLINICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FLORIANÓPOLISProvável candidato do PSDB à Presidência da República nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (MG) afirmou ontem que deseja que o ex-governador José Serra "seja feliz", ao ser questionado sobre sua insistência em disputar a Presidência.
              Duas vezes derrotado em eleições presidenciais e sem espaço no PSDB, Serra tem procurado alternativas para se candidatar novamente nas eleições do ano que vem.
              O ex-governador foi convidado pelo deputado federal Roberto Freire (SP), seu amigo, a trocar o PSDB pelo PPS para se candidatar, mas teme ficar isolado se não conseguir levar junto outros integrantes de seu grupo político.
              Serra avalia também a possibilidade permanecer no PSDB e disputar a indicação do partido com Aécio Neves.
              O ex-governador também tem procurado uma reaproximação com o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), que juntou-se à coalizão que apoia a presidente Dilma Rousseff depois das eleições municipais do ano passado.
              "Respeito qualquer que seja a decisão do companheiro José Serra. É uma decisão muito pessoal", disse Aécio à Folha, ao chegar para uma convenção do PSDB em Florianópolis. "Desejo pessoalmente que ele seja feliz e que as oposições possam vencer as eleições. Vou trabalhar muito para o PSDB vencer as eleições."
              Quando os tucanos se preparavam para a campanha presidencial de 2010, Aécio chegou a propor a realização de prévias internas para a escolha do candidato do PSDB, mas a ideia não foi adiante e Serra foi indicado pela sigla.
              Neste ano, Serra recolheu-se diante da movimentação de Aécio para assumir a liderança do PSDB, mas o novo cenário político criado pelos protestos de junho o animou a reavaliar a possibilidade de se candidatar novamente.
              Aécio participou ontem da convenção que elegeu o novo presidente do PSDB em Santa Catarina, o senador Paulo Bauer, que concorreu como candidato único.
              Em discurso para cerca de 600 correligionários, Aécio fez críticas ao governo federal e prometeu apresentar propostas alternativas ainda neste ano. "O PSDB vai andar pelo país neste segundo semestre, construir uma proposta alternativa e apresentar à população", afirmou.
              Aécio disse que a disputa pela Presidência "não é uma opção para o PSDB", mas "uma imposição do quadro que está aí". Para ele, "o Brasil não vai bem e as perspectivas são pessimistas".
              O tucano criticou o inchaço da máquina do governo e o desempenho da política econômica, dizendo que em 2012 o Brasil "só cresceu mais que o Paraguai" e prevendo que neste ano ele "só crescerá mais que a Venezuela".

              Siemens negocia delação também em SP

              folha de são paulo
              Além de denunciar cartel a autoridades antitruste, empresa alemã colabora com Ministério Público em busca de anistia
              Essas investigações têm o objetivo de apurar desvios de recursos públicos e cobrar a devolução do dinheiro aos cofres
              CATIA SEABRAJULIANNA SOFIADIMMI AMORADE BRASÍLIAA multinacional alemã Siemens se comprometeu a colaborar com investigações do Ministério Público paulista de supostos desvios nas licitações para compra de equipamentos e serviços ferroviários pelo governo de São Paulo.
              Segundo um dos responsáveis pelo caso, a colaboração com dois inquéritos em curso no Ministério Público faz parte de acordo entre a empresa e autoridades brasileiras.
              Folha revelou ontem que a Siemens delatou às autoridades antitruste no Brasil a existência de um cartel -do qual fazia parte- em licitações para fornecimento de equipamento, além de construção e manutenção de linhas de trens e metrô em São Paulo e no Distrito Federal.
              Em troca de informações, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) fechou acordo que pode garantir à companhia e executivos isenção caso o cartel seja confirmado e condenado.
              Para se beneficiar de anistia em ambas investigações, a Siemens teve que concordar com uma série de condições. O acordo de leniência foi submetido ao Ministério Público, avalista da negociação.
              Folha apurou que o Ministério Público Federal e o Gedec (Grupo Especial de Combate a Delitos Econômicos) de São Paulo ajudaram na elaboração do documento.
              Pelo acerto, o Cade concentra os dados e repassa ao Ministério Público material para suas investigações.
              Os promotores têm expectativa de que poderão ouvir executivos da Siemens.
              Em São Paulo, existem dois inquéritos civis a cargo da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social para investigar eventual desvios e fraude em licitações.
              Um inquérito de 2010 investiga a atuação da Siemens em licitações e subcontratações. Também há um inquérito da multinacional Alstom.
              Esses inquéritos têm o objetivo de apurar desvio de dinheiro público e cobrar a devolução dessa verba aos cofres públicos.
              A Secretaria de Transportes Metropolitanos de São Paulo afirmou que auxiliará o Ministério Público "no que estiver ao seu alcance, da mesma forma que se colocaram à disposição do Cade".
              O Governo do Distrito Federal também disse que "está à disposição para oferecer as informações necessárias".
              Hoje a cargo da Alstom e da Siemens, o contrato de manutenção do metrô de Brasília, de R$ 96 milhões/ano, é alvo de duas investigações.
              Além da Alstom, o esquema delatado pela Siemens envolve subsidiárias de multinacionais como a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui. Essas empresas e a alemã são as principais candidatas a disputar o projeto do trem-bala que ligará Rio e São Paulo.

                Governabilidade - Aécio Neves

                folha de são paulo
                Por incrível que pareça, o maior problema que a presidente Dilma Rousseff enfrenta não está nas manifestações de rua, na queda da popularidade ou nas vaias em eventos. Quem se dedica à vida pública sabe que faz parte da democracia enfrentar adversidades como essas, por mais constrangedoras que sejam.
                A grande dificuldade vem do seu próprio partido, o PT. Nunca antes na trajetória de um chefe de nação foi tão oportuno invocar a máxima segundo a qual quem tem determinado tipo de amigos, não precisa de inimigos.
                Em fevereiro, com nada menos que 20 meses de antecedência em relação ao pleito de 2014, o PT lançou a candidatura da atual presidente e colocou em marcha, sem disfarce, sua campanha eleitoral, forçando o governo a escolher entre a lógica da reeleição e os interesses do país.
                O marqueteiro ganhou funções de primeiro ministro, com poder para decidir prioridades capazes de fortalecer a imagem da candidata. A agenda de viagens da presidente passou a ser ditada pelas conveniências da afirmação regional de sua imagem. Multiplicou-se a formação de cadeia nacional de TV, substituindo-se, sem qualquer pudor, o horário político gratuito do TSE.
                Imaginando que venceria por WO, o PT acabou atropelado pela força da realidade. Quando as pesquisas indicaram a queda brutal da intenção de voto na candidata, a legenda atirou o seu nome aos leões, ensaiando o coro pela volta do ex-presidente Lula à disputa, enquanto sua base de apoio a tudo assiste sem esboçar qualquer gesto de solidariedade.
                Escolher um candidato é sempre prerrogativa de um partido ou das alianças que se formam. Entretanto, ao retirar o tapete sob os pés da presidente, movido pelas conveniências da conjuntura, o PT, na verdade, contribui para debilitar ainda mais a sua gestão, com graves riscos para a governança. O que é um assunto aparentemente doméstico do PT passa a ser, portanto, uma preocupação de todos.
                A presidente não pode ser diariamente desafiada a demonstrar a viabilidade do seu nome para 2014. Ou ser instada a priorizar uma agenda meramente eleitoral, quando o país espera o combate à inflação e ao baixo crescimento e soluções para a extensa pauta de reivindicações no campo dos serviços públicos em áreas essenciais. Muitas das medidas necessárias talvez não atendam aos interesses políticos do seu partido ou à lógica do seu marketing pessoal, mas são fundamentais para o país e não podem mais ser retardadas.
                Se é legítimo que a sociedade cobre soluções para os problemas brasileiros, é igualmente fundamental que não percamos de vista o que é de fato prioritário.
                Não vamos nos enganar: não há nada que esteja muito ruim que não possa piorar.

                Proibido obrigar - Ruy Castro

                folha de são paulo
                RIO DE JANEIRO - No Brasil, como se sabe, o que não é proibido é obrigatório. Veja a obrigatoriedade da tomada de três pinos. Até há pouco, parecia uma piada. Mas é para valer. Em breve, todas as tomadas domésticas terão de ser adaptadas para receber os fabulosos três pinos. Para ter uma ideia do alcance da medida, imagine um apartamento de quarto e sala. Entre computador, TV, geladeira, micro-ondas, liquidificador, secador de cabelo, carregador de celular, ferro de passar, ar-condicionado, abajures e repelente de pernilongo, ninguém vive sem pelo menos 30 tomadas em casa.
                No Brasil, há 73 milhões de unidades consumidoras de energia. Se todas fossem quarto e sala --esqueça os escritórios, lojas e fábricas--, e à média de 30 tomadas em cada, o número de tomadas a adaptar passaria de dois trilhões. Pode-se avaliar a sensação de poder que deve estar embriagando o pai da tomada de três pinos no Brasil?
                O mesmo quanto a uma medida mais antiga e já em circulação em muitos Estados: a proibição de saleiros nas mesas dos restauran- tes e sua obrigatória substituição por aqueles sachezinhos de sal. A cada 200 refeições servidas por um restaurante, 100 sachês são abertos pelos clientes, salpicados com culpa sobre a batata frita e deixados quase intatos sobre a mesa.
                Agora multiplique o número de restaurantes em sua cidade pela média de refeições que eles servem por dia e, sendo generoso, divida o resultado por dois, se achar que em apenas metade delas se abrirá um sachê. O resultado será a monumental quantidade de sachês/lixo produzida por uma única cidade e cujo destino serão os lixões --ou os esgotos, os rios e o mar. E só porque alguém implicou com os saleiros.
                No Brasil, por 21 anos, foi quase proibido votar. Hoje é obrigatório. Mas, com esses partidos e políticos, deveria ser proibido obrigar.

                  Editoriais FolhaSP

                  folha de são paulo
                  O preço do pedágio
                  A julgar pelas propostas em estudo, o governo não sabe bem como resolver o problema que criou para si ao anunciar que, em 2013, não haveria aumento na tarifa dos pedágios de estradas federais.
                  Por força de contrato, as concessionárias podem reajustar esse preço uma vez por ano para repor perdas com a inflação. Diante das manifestações de junho, porém, o governo achou que faria bem em suspender a majoração.
                  Dizer que a bondade tem efeito publicitário é tão óbvio quanto lembrar que ela tem um custo. Sem ignorar o peso do primeiro desses truísmos, o governo parece amenizar a importância do segundo. Até agora não se sabe como as concessionárias serão compensadas pelo valor que deixarão de arrecadar --o reajuste das tarifas seria da ordem de 6,5%.
                  Cogitou-se, primeiro, usar verbas do Tesouro para restituir a diferença às empresas privadas que administram as estradas, ampliando gastos correntes. Em outras palavras, o pedágio, que por definição deve ser pago pelos usuários das rodovias, seria subsidiado com recursos de todos os contribuintes.
                  Aventou-se, em seguida, a hipótese de ampliar o prazo dos contratos em vigor. Seria um contrassenso, já que concessões feitas nos anos 1990 foram pensadas à luz de um contexto econômico mais incerto --e, por isso, têm taxas de retorno mais elevadas.
                  Ambas as ideias parecem perder força. Segundo afirmou o ministro dos Transportes, César Borges, em entrevista ao "Valor Econômico", ganha peso uma terceira opção. Não menos extravagante, permitiria às empresas reduzir investimentos nas estradas para contrabalançar o deficit na arrecadação.
                  Ou seja, as empresas deixariam de fazer algumas obras de melhoria, como se a qualidade superior do serviço não fosse exatamente o que se espera das concessões.
                  Diante da dificuldade de encontrar uma saída, não se descarta nem mesmo que o governo federal volte atrás em sua decisão. Embora já anunciado, o cancelamento do reajuste dos pedágios, se de fato ocorrer, somente será sacramentado em agosto --quando ocorreriam os primeiros aumentos.
                  Em qualquer dos casos, sobrará para o governo um saldo negativo: se não pelo custo de recuar na sua promessa, pela evidência de que cláusulas contratuais podem ser acochambradas para evitar desgaste político. Tanto pior que isso ocorra às vésperas de importantes licitações de estradas, portos, ferrovias e aeroportos.
                    EDITORIAIS
                    editoriais@uol.com.br
                    Mudança franciscana
                    Papa altera normas penais do Vaticano, mas efeitos concretos devem ser maiores na questão da corrupção do que no combate à pedofilia
                    Em sua primeira homilia dirigida ao episcopado italiano na Basílica de São Pedro, em maio, o papa Francisco falou sobre a vigilância que os membros da Igreja Católica deveriam manter diante de seduções materiais e mundanas.
                    O discurso foi interpretado como um alerta ao corpo eclesiástico, abalado pelos recentes escândalos de pedofilia, de irregularidades na gestão do Banco do Vaticano e de vazamento de informações confidenciais do papa Bento 16.
                    Na semana passada, Francisco foi além do discurso. O papa aprovou uma reforma das leis penais do Estado do Vaticano, aumentando o rigor contra infrações sexuais e financeiras e transformando em delito a divulgação não autorizada de informações. A nova legislação entrará em vigor a partir de setembro deste ano.
                    Até as mudanças, a Santa Sé baseava suas normas penais na legislação italiana para o tema que vigorava no fim do século 19. Qualquer crime contra menor de idade era genericamente definido como abuso, e os crimes sexuais entravam na categoria dos atentados aos bons costumes. As penas iam de três a dez anos de prisão.
                    Agora foram criadas classificações específicas para as diferentes infrações: venda, prostituição, recrutamento, violência sexual, atos sexuais e produção ou posse de pornografia. As sanções previstas vão de cinco a dez anos de de prisão, com multa de até 150 mil euros.
                    A mudança legal dá continuidade à reforma iniciada por Bento 16, hoje papa emérito, que procura tornar o sistema da igreja mais transparente e condizente com as convenções e tratados em vigor na comunidade internacional --muitos deles ratificados pelo Vaticano.
                    O diretor da ONG americana Rede de Sobreviventes de Abusos de Padres, porém, reagiu com ceticismo ao afirmar que novas regras não são a solução para o problema da pedofilia. Na opinião de David Clohessy, é preciso que as autoridades eclesiásticas --a começar pelo papa-- apliquem duras punições aos infratores, um poder que sempre possuíram, mas que não tiveram disposição para usar.
                    Além disso, a alteração refere-se apenas às normas de Estado do Vaticano, não às de Direito canônico, válido para toda a igreja. Padres que cometam crimes sexuais continuarão sendo julgados segundo as leis dos países em que atuam, como não poderia ser diferente, e sob normas eclesiásticas que seguem inalteradas.
                    Não se pode negar o impacto simbólico das novas normas, mas seus efeitos concretos deverão ser mais sentidos em aspectos que interessam à direção do Vaticano --como corrupção e lavagem de dinheiro-- do que no combate à sensível chaga social da pedofilia.

                      Chinês pinta autoridades corruptas de seu país e atiça reflexão sobre censura local

                      folha de são paulo
                      MARCELO NINIO
                      DE PEQUIM

                      Um grande mapa da China enfeita uma das paredes no estúdio do artista plástico e cineasta Zhang Bingjian, na periferia de Pequim. Tudo está no lugar certo, exceto por um detalhe: o mapa está de cabeça para baixo.
                      "Foram cinco anos para inverter os nomes de todas as cidades", conta o artista.
                      Na sutil, mas poderosa mensagem visual, Zhang condensou sua visão das contradições da China moderna, cujo norte nem sempre é o que parece.
                      Ao botar de pernas para o ar o galo de briga que os chineses enxergam com orgulho no desenho de seu mapa, Zhang imprimiu em cores vivas uma das características principais de seu trabalho: a fina crítica política.

                      Zhang Bingjian

                       Ver em tamanho maior »
                      Marcelo Ninio/Folhapress
                      AnteriorPróxima
                      Artista plástico e cineasta Zhang Bingjian e seu painel de retratos de políticos acusados ou condenados por desvio de dinheiro na China
                      Uma marca que ganhou projeção internacional graças a um projeto no qual ele deu contornos artísticos a um dos temas mais revoltantes para os chineses: a corrupção nos altos escalões do Partido Comunista.
                      Depois de chocar-se ao saber pela TV estatal que 3.000 autoridades haviam sido processadas por corrupção em apenas um ano, Zhang decidiu dar caras ao problema.
                      A COR DO DINHEIRO
                      Começava assim o "hall da fama" da corrupção, uma galeria da vergonha que já tem quase 2 mil retratos de autoridades condenadas.
                      Produzidos por Zhang Bingjian sempre em tons rosados, para lembrar a cor do dinheiro chinês (chamado iuan), os quadros são a forma que ele encontrou para dividir com o público chinês seu assombro com o contágio da corrupção no país.
                      "Não penso no valor artístico. O que quero é criar um ponto de interrogação sobre a situação da China. Meu trabalho não dá respostas. Oferece uma plataforma para a reflexão", explica.
                      A ambição de levar sua interrogação ao público, no entanto, esbarrou na dificuldade em expor temas sensíveis num país onde a produção cultural é objeto de rígida censura do Estado.
                      Zhang enviou propostas para várias galerias do país, mas nenhuma respondeu. O hall da infâmia mantém-se limitado às paredes de seu estúdio e aos convites do exterior. Há dois meses, expôs os retratos dos corruptos chineses na Itália.
                      "A corrupção é um tema universal, pode ser compreendido em qualquer parte do mundo. Não sei porque meu trabalho não foi selecionado para a Bienal de São Paulo", brinca.
                      Nascido em Xangai, Zhang, 53, fez parte da primeira geração de chineses que pôde estudar arte depois dos anos de histeria coletiva da Revolução Cultural (1966-1976).
                      NOVIÇA SEM BEIJO
                      Apesar de ainda serem anos de forte repressão, Zhang recorda com emoção a tímida abertura política que lhe permitiu assistir pela primeira vez a um filme estrangeiro, "A Noviça Rebelde" (1965), aos 18 anos.
                      "Todos esperavam uma cena de beijo, que nunca tínhamos visto. Quando ela ia acontecer, uma enorme sombra cobriu a tela. Era a mão do projecionista. Beijo era contra o padrão moral comunista", relembra o artista.
                      Hoje, a censura oficial é muito mais profissional, mas nem por isso menos absurda, na visão de Zhang.
                      "Se há um policial no roteiro, ele é submetido à polícia. Se tem um professor, é checado pelo departamento de educação. E assim por diante. Desse jeito, todas as classes profissionais viram parte da censura", lamenta.
                      A obsessão em decepar as obras no nascedouro induz à atual produção cinematográfica insossa do país, diz ele, dominada por comédias e filmes para adolescentes.
                      Os produtores não querem perder dinheiro investindo em um filme que será decepado pela censura.
                      "É difícil entender a insegurança do governo. Censura é falta de confiança nas pessoas. É uma contradição. O país avança, mas continua atrasado nisso. Parece ser a natureza da China: toda vez que dá passos à frente, tem que dar outro para trás."
                      Contemporâneo na academia de cinema do polêmico Ai Weiwei, o mais conhecido artista chinês, Zhang considera o amigo um modelo de como os limites da censura podem e devem ser esticados ao máximo.
                      Um exemplo disso é o tragicômico documentário que dirigiu, "Readymade", sobre dois camponeses que largaram tudo para viver como imitadores de Mao Tse-tung, o fundador da China moderna.
                      "No filme, Mao deixa de ser um semideus, anda de ônibus e dança com Michael Jackson. Desconstruir uma imagem às vezes é mais forte que criticá-la", diz.
                      Sem permissão para ser exibido no país, porém, o filme permanece fora do alcance do público chinês.