domingo, 10 de novembro de 2013

Dois cafés e a conta com...RODRIGO DA CUNHA PEREIRA

O Globo 10/11/2013

POR MAURO VENTURA
mventura@oglobo.com.br

Desde cedo o advogado Rodrigo da Cunha Pereira revoltava-se com a moral vigente em Abaeté, no interior de Minas, onde nasceu há 55 anos. “Por que o homem podia transar antes do casamento e a namorada não?” Em 1997, ele fundou, com outros especialistas, o Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam), que promove, de 20 a 22, em Araxá (MG), o IX Congresso Brasileiro de Direito de Família, com o tema “Famílias: pluralidade e felicidade”. O instituto tem proposto leis inovadoras e humanizado o direito de família, que tem um histórico de exclusões. “Até 1988 os filhos tidos fora do casamento não podiam ser registrados. E até pouco tempo a mulher que traísse o marido era considerada culpada pelo fim do casamento e perdia a guarda do filho”, lembra. Ele adora criar teses jurídicas para resolver casos que não estão previstos na lei. Foi assim em 1984, quando fez a primeira ação judicial da causa do movimento feminista do país. Uma mulher o procurara: “Só porque tive filho e sou solteira não posso ir ao clube social em Conselheiro Lafaiete. E o pai pode.” Ele inventou a ação, ganhou e ela entrou para o clube.

O GLOBO: Que inovações o instituto tem trazido?

RODRIGO DA CUNHA PEREIRA: Família homoafetiva é expressão inventada
por nós. A sustentação jurídica do STF para reconhecer essas
relações foi com base no que escrevemos. Outra expressão nossa
é paternidade socioafetiva. Os laços de sangue não são suficientes
para garantir a paternidade e a maternidade, os laços de
afeto devem ser considerados tão importantes quanto os biológicos.
Criamos ainda a tese da fraternidade socioafetiva. Três irmãs
viviam com um homem rico, como irmãos. Ele não tinha filhos
e morreu sem fazer testamento. Pela lei, tudo iria para sobrinhos
que moravam na Itália e com quem ele não tinha contato.
Fizemos um acordo e elas receberam metade da herança.

Fale de algumas novas formações familiares.

Há pessoas que querem ter filho, mas sem constituir vínculo
amoroso, e recorrem a sites, onde você conhece alguém, vê o
perfil e decide se ela pode ser boa mãe ou bom pai. Fiz um contrato
de geração de filho e de guarda compartilhada no interior
de Minas. Ele, sem filho, de 35 anos, ela, sua secretária, casada,
com filho, de 50. O marido autorizou a inseminação artificial e o
garoto hoje tem 8 anos. É a chamada parceria de paternidade.

Você tem recebido outros casos pouco usuais?

Duas mulheres de Brasília me procuraram. Viviam juntas, desejavam
ter filho, mas sem ir ao banco de sêmen, porque queriam
que o filho conhecesse o pai. Um casal de homens, amigos delas,
também queria filho. Um deles doou o sêmen, uma delas, o óvulo,
e a criança foi gerada por inseminação. Fiz o contrato de regulamentação
da guarda. O menino tem dois pais, duas mães,
oito avós, 16 bisavós. Isso é ruim para a criança? Não sei, ela vai
ser feliz na medida do amor que receber. Isso é o que interessa.

Sua opção pelo direito de família tem a ver com sua história?

Sempre me indignei com as injustiças nas famílias, inclusive na
minha. Meu avô materno tinha duas mulheres, e teve filhos com
a esposa e a companheira. As duas filhas “legítimas” foram retiradas
dali para não conviverem com as filhas “ilegítimas” e mandadas
para a capital, Belo Horizonte. Já um dos filhos de meu
avô materno teve filho com a empregada. Esse meu tio foi mandado
para o Rio, e a empregada teve que casar com outro empregado.
Tudo para preservar a moral e os bons costumes. Para a
família, tudo bem fazer de conta que aquilo não existe. Mas e
aqueles parentes marginalizados, condenados à invisibilidade?

Existem hoje dezenas de configurações familiares...

A família se reinventa. Antes só havia a formação clássica (pai,
mãe, filhos). Mudou tanto que, ano passado, um de meus filhos,
com 12, falou: “Pai, vocês não vão se separar? Queria ter duas casas,
na minha sala quase todo mundo tem.” (Risos.) Antes, filho
de pais separados era discriminado, hoje ficou comum. O que
interessa é a felicidade, seja a composição que a família tiver.

MARTHA MEDEIROS - A juventude da maturidade

Zero Hora - 10/11/2013

Feliz aniversário!

Foi só ela ouvir o cumprimento e virou o rosto como se estivesse sendo agredida. “Não repita isso de novo. Não sei o que há de feliz em ficar mais velha”.

Respondi: “Você diz isso porque está fazendo 34 anos. Quando fizer 52, vai sentir vontade de pendurar balões pela casa”.

Ela desvirou o rosto e voltou a me encarar como se eu estivesse tendo algum surto de insanidade. Exatamente como aquelas expressões que ilustram a coluna da Mariana Kalil aqui no Donna, com um baloon escrito “HÃ?”.

Só quem atravessa ao menos cinco décadas de vida pode entender a bênção que é entrar na segunda juventude.

Claro que antes é preciso passar pelo purgatório. Poucos chegam aos 50 anos sem fazer uma profunda reflexão sobre a finitude, e dá um frio na barriga, claro. Amedronta principalmente quem ainda não fez nem metade do que gostaria de já ter feito a essa altura. Será que vai dar tempo?

Passado o susto, a resposta: vai. E se não der, não tem problema. Você não precisa morrer colecionando vontades não realizadas. Troque de vontades e siga em frente sem ruminar arrependimentos. Você finalmente atingiu o apogeu da sua juventude: é livre como nunca foi antes.

Sendo assim, não passe mais nem um dia ao lado de alguém que lhe esnoba, lhe provoca ou que não se importa com seus sentimentos. Pare de inventar razões para manter seus infortúnios, você já fez sacrifícios suficientes, agora se permita um caminho mais fácil. Se ainda dá trela a fantasmas, se ainda pensa em vingançazinhas ordinárias, se ainda não perdoou seus pais e seu passado, se ainda perde tempo com vaidades e ambições desmedidas, se ainda está preocupado com o que os outros pensam sobre você, está pedindo: logo, logo vai virar um caco.

Para alcançar e merecer a segunda juventude, é preciso se desapegar de todas aquelas preocupações que existiam na primeira. Quando essa Juventude Parte 2 terminar, não virá a Juventude Parte 3, mas o fim. Então, esta é a última e deliciosa oportunidade de abandonar os rancores, não perder mais tempo com besteiras e dar adeus à arrogância, à petulância, à agressividade, ou seja, adeus às armas, aquelas que você usava para se defender contra inimigos imaginários. Agora ninguém mais lhe ataca, só o tempo – em vez de brigar contra ele, alie-se a ele, tome o tempo todo para si.

Eu sei que você teve problemas, e talvez ainda tenha – muitos. Eu também tive, talvez não tão graves, depende da perspectiva que se olha. Mas isso não pode nos impedir a graça de sermos joviais como nunca fomos antes. Lembra quando você dizia que só gostaria de voltar à adolescência se pudesse ter a cabeça que tem hoje? Praticamente está acontecendo.

Essa é a diferença que tem que ser comemorada. Na primeira juventude, tudo vai acontecer. Na segunda, está acontecendo.

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » O palco, a janela e a vida‏

Estado de Minas: 10/11/2013 






Entro no Palácio das Artes de Belo Horizonte para assistir a Um baile de máscaras, de Verdi. Estou imerso no passado e no presente, vendo tantos rostos amigos quando, de repente, ouço a notícia de que, na véspera, havia morrido o Caiado, Carlos Eduardo Prates. Volto àquele dia (há mais de 50 anos) em que ele fez um teste musical comigo para aceitar-me no Madrigal Renascentista, no naipe dos baixos. Com Isaac Karabchevisky e Carlos Alberto Pinto Fonseca (também falecido), criou o Madrigal, um fenômeno musical brasileiro que percorreu o mundo. Os três seguiram caminhos musicais paralelos e, me parece, foram alunos de Koellreuter, que vi fazer uma palestra em Belo Horizonte.

Assisto, maravilhado, ao milagre operístico dirigido por Fernando Bicudo. Ele foi responsável também por um período excepcional da ópera no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A vida é uma ópera. A vida é um palco. Tudo é representação.

Ainda há pouco estava na janela do hotel e olhava o Parque Municipal de Belo Horizonte. Drummond inventou que Greta Garbo se encontrou, secretamente, com ele e Abgar Renault naquele jardim. Naquele jardim vi Klauss Viana fazendo seu filho Rainer andar num burrinho. Naquele jardim, em frente ao Francisco Nunes, vi Tônia Carrero e Paulo Autran cantarem Qué que ocê foi fazer no mato Maria Chiquinha… Isto foi depois de terem encenado Entre quatro paredes, de Sartre.

Poderia permanecer (intemporalmente) nesse teatro, que vi nascer ao tempo do governador Israel Pinheiro, ou deixar-me ficar na janela desse hotel – jovem e eternamente. Lá longe está a Serra da Piedade! Numa certa noite escalamos a montanha e lá em cima ficamos bebendo, comendo e falando de nossas perplexidades frente às estrelas!

No hall do teatro, Marina e eu recebemos o carinho dos leitores. A cidade vive um belo momento cultural. Mas quando, em 1957, voltei a viver aqui, creiam-me, a cidade tinha 650 mil habitantes. A Avenida Afonso Pena tinha bondes que iam para Santa Tereza e Santa Efigênia. Depois vieram os trólebus. E um deles atropelou o crítico Fábio Lucas na Rua da Bahia, ali onde ficava a Livraria Itatiaia e onde a gente se reunia todo fim de dia. Claro, antes a livraria era lá no Dantés. E quando Pedro Paulo Moreira lançou a tradução do best-seller Doutor Jivago passou a ser respeitado além de Nova Lima.

Nova Lima era longe. Longe era Lagoa Santa e Vespasiano ou Venda Nova.

Até a Pampulha era longe. A cidade ia pouco além da Avenida do Contorno. E quando aportei aqui, com aquela frágil mala de papelão e juventude, fui buscar abrigo lá nas quebradas de Santa Efigênia, na casa do tio Sebastião e tia Vicentina. Como dizia aquele matuto: “Se eu contar minha vida debaixo de um pé de amora, enquanto eu conto você chora!”. Até o Luiz Ruffato chora.

Mas desta janela vejo a Praça Sete. Ali um dia Teotônio Jr., travestido de Fidel Castro, saiu correndo das pauladas da TFP (Tradicão, Família e Propriedade). Durante três anos, bancário, morando em pensão, ia ao Banco do Brasil fazer a compensação de cheques do Banco do Comércio Varejista. Claro, não havia internet. E eu morria de inveja de meus colegas da Faculdade de Filosofia, que podiam estudar sem trabalhar.

Não sei se as pessoas devem ficar numa janela dessas muito tempo encenando na lembrança a ópera da vida. Dessa janela vejo aquele viaduto de Santa Tereza que o romance O encontro marcado, do Fernando Sabino, eternizou. Meio bêbados de vida, ele, Hélio, Otto e Paulinho arriscavam a vida ali. Minha geração os imitou como eles imitaram Drummond e outros. Ainda outro dia me chamaram para um depoimento sobre Fernando Sabino, que faria agora 90 anos. Ele dizia que era capaz de descrever casa por casa várias ruas da cidade.

Numa mesma semana estive de novo duas vezes em Belo Horizonte. E isto tem consequências crônicas. Ao passar diante do Edifício Maletta comecei a contar para a jovem que me acompanhava uma série de coisas idas e vividas – Lua Nova, o Lucas… Ela me olhava como se eu tivesse a idade de Aarão Reis, que construiu a nova capital de Minas. Ela me olhava e eu falava, falava instalado no passado.

No passado que me trespassa e não passa.

A vida é um palco. Uma ópera. Uma janela.


>>  affonsors@uol.com.br

A vida é um show [Leandra Leal]

A vida é um show 

Leandra Leal dirige filme sobre trajetória de travestis que abriram caminho para outras artistas. Equipe luta contra o preconceito para conquistar patrocinadores 

Ana Clara Brant

Estado de Minas: 10/11/2013


Leandra Leal e as divas Rogéria, Jane Di Castro, Waléria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios (Fotos: Daza Produções)
Leandra Leal e as divas Rogéria, Jane Di Castro, Waléria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios

Cartaz antigo com anúncio de show de Rogéria, que completa 50 anos de carreira no ano que vem (Acervo pessoal)
Cartaz antigo com anúncio de show de Rogéria, que completa 50 anos de carreira no ano que vem

O lado atriz de Leandra Leal boa parte das pessoas conhece, mas a faceta de diretora, ainda mais de um longa-metragem, é novidade. “O ator tem um olhar sobre o mundo e sobre pesquisa que é diferente. E acho que esse trabalho que estou fazendo no momento é exatamente esse registro a partir da minha vida de atriz”, revela. A carioca, que soma 19 filmes, 24 projetos de televisão e sete espetáculos teatrais na carreira, está dirigindo o documentário musical Divinas divas, empreitada que surgiu há sete anos, sendo que há três começou a ser rodada. A produção resgata a trajetória de oito artistas pioneiras: Rogéria, Jane Di Castro, Waléria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios, que foram os primeiros homens que se travestiram nos palcos cariocas no fim dos anos 1960, em pleno regime militar. Ano que vem, boa parte delas completam 50 anos de carreira, ainda em atividade, como cantoras, atrizes e comediantes. “Eu as conheço desde criança, porque muitas delas trabalharam e ainda trabalham no Teatro Rival, que pertence à minha família. Sempre acompanhei suas trajetórias e me encantei não só pelo fato de serem pioneiras, mas pela potência artística de cada uma. Todas são apaixonadas pela arte, ela ocupa um lugar central na vida delas”, destaca Leandra.

Além do depoimento das personagens principais, a diretora fez questão de conversar com amigos, familiares e com os companheiros de toda a vida, como o fazendeiro baiano Otávio Bonfim, casado há 44 anos com Jane Di Castro. “A gente conta a história delas dentro e fora dos palcos. Impressionei-me com a trajetória de todas que conseguiram quebrar padrões”, frisa Leandra.

O fio condutor do filme será um espetáculo que será realizado em 13 e 14 de dezembro, no Teatro Rival, onde as sete – que já encenam a produção, que, inclusive, também se chama Divinas divas, há 10 anos – vão cantar, interpretar e reelaborar histórias de suas vidas. “Depois de três anos filmando com a mesma equipe, consegui formatar e mapear o que exatamente eu queria. Primeiro foquei no cotidiano, na vida delas, e achei que esse show comemorativo e os ensaios seriam uma espécie de clímax do longa-metragem”, explica Leandra.

Veteranos A atriz, que já tinha tido experiências atrás das câmeras em clipes, além de já ter produzido filmes, revela que a dedicação é grande no projeto Divinas divas – uma realização da Daza, sua produtora ao lado das sócias e amigas de infância Carolina Benjamin e Rita Toledo – e que tem sido extremamente prazeroso estar nos bastidores. Leandra Leal fez questão de se cercar de gente tarimbada e veterana, como o premiado ator e diretor teatral Gustavo Gasparani, o diretor musical e produtor Plínio Profeta e o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto.

Se a expectativa e a empolgação de Leandra são imensas, imagine a das homenageadas. Jane Di Castro, que tem 47 anos de carreira, acha importante apresentar uma história tão bonita e de superação como a sua e de suas colegas e o fato de ter a atriz no comando dá credibilidade ainda maior. “É um sonho nosso e da Leandra. Ela é uma jovem muito talentosa, de prestígio, que acreditou nesse projeto e percebeu que era uma história que merecia ser contada. Não deixa de ser também um exemplo”, opina. Já Rogéria, que em 2014 completa cinco décadas de trajetória artística, também ressalta o papel de Leandra Leal. “Sinceramente, para mim, o que mais contou em tudo isso é o trabalho da diretora. Porque já sou a Rogéria que todo mundo conhece, 70 anos de vida e 50 de carreira. Tenho uma trajetória consolidada e por isso precisava de uma boa profissional, que fizesse uma coisa de verdade, e tenho certeza que a Leandra conseguiu”, elogia.

“As pessoas tinham uma cabeça melhor”
• Rogéria

Apesar de tanto esforço e talento reunidos, não está sendo fácil concretizar Divinas divas. O tema não despertou o interesse de patrocinadores e foi então que Leandra Leal decidiu viabilizar o projeto por meio de financiamento coletivo na internet, pelo processo conhecido como crowdfunding (ou “vaquinha virtual”, como ela prefere chamar), no qual qualquer pessoa pode dar a sua contribuição em troca de uma série de benefícios. A diretora confessa ter ficado surpresa com tantas negativas e que o único parceiro que conseguiu foi o Canal Brasil, que é coprodutor do filme. “Fui atrás de várias pessoas, mas não tive sucesso. Infelizmente ainda existe um preconceito velado, que eu, ingenuamente, achava que não existia mais. O conteúdo do filme é muito interessante. Elas são artistas com uma trajetória vitoriosa e tão bonita, têm uma luta pela liberdade, pelos direitos civis e não se vitimizam em nenhum momento. Todas são sobreviventes e me chocou saber como a questão do gênero ainda é um tabu. As pessoas não conseguem ainda avaliar o valor artístico da coisa”, lamenta.

Rogéria é outra que se diz decepcionada com o que está acontecendo e acredita que, independentemente das escolhas sexuais, o importante é ter talento e vocação, e isso ela garante ter de sobra. “Se todas nós não fôssemos boas de serviço, não teríamos prosseguido. Estreamos num momento extremamente complicado, em plena ditadura, e conseguimos sobressair. Acho que o povo está mais burro. Um povo culto assimila mais as coisas e, antigamente, as pessoas tinham uma cabeça melhor. O que fazemos é arte e é isso que muitos não conseguem enxergar”, desabafa.

A colega Jane Di Castro também lastima a falta de apoio, mas tem esperanças de que a equipe do documentário vá conseguir alcançar a meta e concretizar a iniciativa. “Infelizmente a cultura GLBT no país é muito empobrecida, ninguém consegue fazer nada. É um sacrifício fazer cinema no Brasil, ainda mais sobre travestis e velhos. Liberam dinheiro para tantos projetos e o nosso, que tem histórias tão bacanas, tem que ficar mendigando. Sinto vergonha de ver isso em pleno 2013, mas espero que com esse financiamento pela internet apareçam pessoas que acreditam na cultura e tenham bom senso”, diz.

A meta é chegar a R$ 150 mil, quantia necessária para complementar os recursos das filmagens e captação de áudio dos ensaios e do show, aquisição de material de arquivo e direitos de imagem, edição do material e montagem do primeiro corte do filme. As cotas vão de R$ 20 a R$ 5 mil e dão direito a lugar garantido na fila do gargarejo do show, visita ao camarim e até um jantar com Leandra e as divas, além do nome exibido nos créditos do filme. Se a meta não for atingida até 9 de dezembro, todo o dinheiro será devolvido. O apoio pode ser dado por meio do site www.benfeitoria.com/divinas.

Tv Paga

Estado de Minas: 10/11/2013 



 (João Markun/Divulgação)

Documento O jornalista Paulo Markun e o cineasta Sérgio Roizenblit (foto) viajaram mais de 12 mil quilômetros por todo o país para produzir a série Habitar, que estreia hoje, às 20h, no Sesc TV. A ideia era revelar detalhes dos diversos padrões de moradia existentes pelo Brasil, desde a maloca indígena até a casa enxaimel, dos colonos alemães de Santa Catarina. O segundo episódio, de domingo que vem, foi gravado em Ouro Preto e vai mostrar as repúblicas da cidade histórica.

Música O documentário Partideiros, que vai ao ar hoje, às 20h30, no canal +Globosat, promove uma roda de samba de partido alto liderada por Tuninho Galante e com a participação dos convidados Marquinho China, Renatinho Partideiro, Serginho Procópio e Thiago Mocotó. À 0h15, na Cultura, a atração é Piano e ganzá – O mundo musical de Mário de Andrade.


E tem mais No Discovery Home & Health, a série sobre adolescência continua hoje com The joy os teen sex, às 22h, sobre a descoberta do sexo pelos jovens. No Nat Geo, às 21h15, será exibido o inédito Quem matou Kennedy?, reconstituição dramática do assassinato do presidente americano, interpretado pelo ator Rob Lowe e com Ginnifer Goodwin como Jacqueline Kennedy.


Enlatados

Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br


Séries na internet 

A Netflix veio mesmo para ficar. O site de streaming fechou nessa semana com a Disney acordo para produzir quatro séries e uma minissérie com pergonagens Marvel. As produções só vão estrear em 2015. Serão séries com os seguintes personagens: Demolidor, Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage. Cada série terá 13 episódios e a minissérie terá o nome de The defenders, com o grupo de personagens. Já a Amazon lança em novembro suas duas primeiras séries, as comédias Alpha house e Betas. O esquema de distribuição vai ser diferente do da Netflix: os três episódios iniciais, lançados em conjunto, serão gratuitos para clientes da Amazon. Depois será lançado um capítulo por semana.

Homem X máquina – A Warner estreia quinta-feira, às 22h25, Almost human, mais uma empreitada de J. J. Abrams. Dessa vez a história se passa em Los Angeles em 2048. Policiais se unem a androides para combater o crime. Dessa forma, o policial John Kennex (Karl Urban) vira parceiro de Dorian (Michel Ealy), robô que tem emoções. Vamos ver se vinga, já que desde Fringe Abrams ainda não emplacou seriamente nenhuma outra série.

Recordar é viver – Também na quinta-feira, às 20h10, no TBS, estreia a terceira temporada de Terapia virtual, comédia estrelada por Lisa Kudrow. Nessa fase, Matt LeBlanc, o Joey de Friends, vai se unir à eterna Phoebe. E às 22h05 entra no ar A banda do casamento. Brian Austin Green (de Barrados no baile) é o protagonista da produção em que amigos que integram uma banda vivem de shows em festas de casamento.

Final
– Sábado, às 21h, o A&E exibe o último episódio da quarta temporada de NCIS: Los Angeles. Os agentes do Serviço de Investigação Criminal da Marinha têm que investigar um suposto depósito de armas nucleares.

 

PERFIL - MARCUS MAJELLA

PERFIL/MARCUS MAJELLA/ATOR » Cem por cento talento
Comediante terá programa próprio na TV e será visto ano que vem em três longas-metragens 


Ana Clara Brant

Estado de Minas: 10/11/2013



Na pele do personagem Ferdinando, de Vai que cola, Marcus Majella conquistou público cativo e ganhou páginas nas redes sociais (Fotos: Juliana Coutinho/Divulgação)
Na pele do personagem Ferdinando, de Vai que cola, Marcus Majella conquistou público cativo e ganhou páginas nas redes sociais


Não há um só dia em que o ator Marcos Majella, de 34 anos, não escute: “É 100% egípcio?”. Tudo por conta de um dos seus personagens com maior repercussão no Porta dos Fundos, o canal de humor que é fenômeno na internet. O episódio em questão é o hilariante A cura, em que Majella interpreta Sandrinho, uma figura que é curada por Jesus Cristo. “As pessoas sabem o texto de cor. É impressionante. O Porta dos Fundos conseguiu atingir um público igual ao da novela das oito. Antes, internet era uma coisa meio restrita, mas acho que o nosso trabalho vem conseguindo angariar gente de todas as profissões, idades e classes sociais. Do meu porteiro até a antropóloga mãe de uma amiga. Todos comentam comigo sobre os vídeos”, observa.

Majella acredita que o canal provocou uma verdadeira revolução e que a liberdade proporcionada pela internet é algo único, que não se consegue nem mesmo na TV a cabo. “Tem coisas que ainda não podem ser faladas, feridas que a gente ainda não pode arrancar e tirar casquinha, porque pode sangrar. Quando você trabalha com risco, gera alguma coisa, uma qualidade, e com o Porta dos Fundos a gente está conseguindo isso. Outro dia, uma pessoa comentou comigo que o que estamos fazendo no humor é o mesmo que as pessoas estão fazendo nas manifestações: provocando mudanças. Achei aquilo bem forte e interessante”, ressalta.

Nascido em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense, Majella é um dos nomes de destaque do humor atual, ao lado de Paulo Gustavo e Fábio Porchat, amigos, parceiros e colegas nas aulas de teatro na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), famoso curso de formação de atores no Rio de Janeiro. “É uma feliz coincidência nós três estarmos juntos num momento ímpar da carreira. Ainda mais que já passamos vários perrengues e dificuldades, inclusive financeiras. E até hoje sempre tentamos nos encontrar não só para trabalhar, mas para nos divertir, comer uma pizza. E, quando se juntam os três, é um assédio igual ao da Xuxa (risos). Mas mesmo com toda essa repercussão, temos o pé no chão”, assegura.

No ano que vem, o trio atuará em conjunto pela primeira vez depois dos tempos de estudante na CAL. Porchat estará em alguns episódios da segunda temporada do seriado Vai que cola, do canal pago Multishow, que já conta no elenco fixo com Paulo Gustavo, na pele do trambiqueiro Valdomiro Lacerda, e com Marcus Majella, que interpreta Ferdinando, o impagável porteiro, ou melhor, o concièrge, como o personagem gosta tanto de frisar. “O Ferdinando é uma loucura, algo inexplicável. Nunca ia imaginar que ele e o programa fossem se tornar esse sucesso absoluto. Claro que sabia que se tratava de algo de qualidade, mas virar a atração com maior audiência da TV a cabo nos últimos 10 anos foi muito bacana. Fiquei impressionado como o público gosta do meu personagem. Criaram páginas e páginas nas redes sociais, repetem os bordões. É fantástico”, comemora.

Programa próprio


Aliás, a relação com o Multishow, que começou em 2010, vai de vento em popa. Depois de ter participado de várias produções do canal, como as séries Será que faz sentido?, O barata flamejante e Sensacionalista, do reality Casa bonita, do BBB – A eliminação, além daquele que considera o divisor de águas na sua carreira – o 220 volts, também ao lado de Paulo Gustavo —, agora ele finalmente vai ganhar o seu próprio programa, previsto para 2014. “O Multishow me deu grandes oportunidades e tem investido nessa turma nova do humor. Ainda estamos idealizando e moldando o meu projeto e certamente será um ótimo desafio”, avisa.

E pelo visto não vai faltar trabalho para o próximo ano. Além da nova temporada do Vai que cola e de sua produção exclusiva, Majella estará no cinema, em Minha mãe é uma peça 2, e nos longas-metragens 220 volts e Porta dos Fundos. Sem falar que está confirmadíssimo na peça 220 volts – Só mulheres. “Não tenho como negar um convite do Paulo. Além de ele ser um amigão, esse programa é muito importante na minha trajetória. É inspirado numa relação real, já que, na época em que eu estava pensando em desistir, o Paulo Gustavo me chamou para ser contrarregra nas peças dele. Depois do 220 volts, as coisas finalmente começaram a acontecer”, recorda.

Outra parceria com o companheiro de tantas aventuras é Paulo Gustavo na estrada, espécie de reality show em que as câmeras acompanham o humorista durante suas viagens pelo Brasil com a turnê de seus espetáculos. Um dos 11 episódios da atração, prevista para entrar no ar em abril, foi gravado mês passado em Belo Horizonte e teve a participação especial de Marcus Majella. “Todo fim de semana ele convida um amigo e em BH fui eu. Nós fomos ao Inhotim e fiquei deslumbrado. Fomos também no show do Caetano Veloso, que acabou nos recebendo no camarim no Chevrolet Hall. Foi bem legal. Vou participar também do programa da Dani Suzuki, Vamos rachar, outra novidade do Multishow, em que as pessoas ganham prêmios se acertarem uma série de perguntas. É muito bom o que está acontecendo. Estou com muitos projetos e não posso me queixar”, vibra.

Majella e Paulo Gustavo são amigos de longa data e foram colegas no curso de teatro em início de carreira
Majella e Paulo Gustavo são amigos de longa data e foram colegas no curso de teatro em início de carreira


Marcus majella em...

   Vídeo

» Porta dos Fundos – YouTube, desde 2012

   Televisão

» Será que faz sentido?, Multishow, 2010
» Barata flamejante, Multishow, 2011
» 220 volts, personagem Marquinhos. Multishow; desde 2011
» Big brother Brasil – A eliminação, comentarista. Globo, 2012
» Casa bonita, repórter e jurado. Multishow, 2012 e 2013
» Vai que cola, personagem Ferdinando. Multishow, 2013

   Cinema

» Minha mãe é uma peça – O filme, 2013
» Mato sem cachorro, 2013

PIANO » Muito além das classificações (André Mehmari )

PIANO » Muito além das classificações 


Ailton Magioli


Estado de Minas: 10/11/2013


 André Mehmari está lançando dois discos, nos quais passeia pelo repertório erudito e popular (Gal Oppido/Divulgação)
André Mehmari está lançando dois discos, nos quais passeia pelo repertório erudito e popular



“O negócio é não pensar em mercado, mas na música”, afirma o pianista, arranjador e compositor André Mehmari, lembrando que há momentos, como o atual, em que sente necessidade de compartilhar sua música. Confirmando esse caminho, ele está lançando simultaneamente Angelus e André Mehmari e Mário Laginha ao vivo no Auditório Ibirapuera.

Produtos de natureza distintas, que portanto não competem entre si, os dois discos, segundo o próprio pianista, são resultado do “ímpeto prolífico” que ele tem, além da facilidade em produzir, por ser o próprio produtor de sua criação. “Se antes os meios eram exclusividade das gravadoras, hoje eles estão em nossas mãos”, comemora André Mehmari, salientando que no mundo digital os meios de produção musical foram democratizados. “É um privilégio para a gente”, comemora o artista fluminense, cuja carreira deslanchou via São Paulo.

Em Angelus, o pianista registra, pela primeira vez, desde a sua produção mais antiga até a mais recente na área de música de câmara, para variados grupos do gênero. O Quinteto Angelus (Para piano e cordas), por exemplo, foi composto por Mehmari para o quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e conta com a participação dos músicos do Ensemble São Paulo, que também comparecem em outras peças de autoria do pianista.

 Nuages gris (Nuvens cinzas), de Franz Liszt, é a única composição que não leva a assinatura do pianista, que também é autor de A vida das moscas (documentário in música para cinco clarinetas), Cheio de dedos, Pequena suíte popular brasileira e Lullaby (para cinco clarinetas), Cantiga e divertimento, também de autoria dele, é a faixa-bônus do CD, que reúne Mehmari ao piano e Sebastião Interlandi Jr. à flauta. Segundo o pianista e compositor, ele recebe encomendas de peças do gênero com uma certa constância. “Estou sempre produzindo, quase sempre a pedido de músicos”, garante.

Diálogo musical
Já o disco André Mehmari e Mário Laginha ao vivo no Auditório Ibirapuera é resultado da admiração mútua entre os pianistas brasileiro e português, respectivamente. “Sou fã antigo da música dele”, revela Mehmari, lembrando que há cerca de dois anos Mário Laginha esteve pessoalmente em sua casa, em São Paulo, quando teve oportunidade de perceber que haveria afinidade musical entre os dois.

A convite do Ibirapuera, que promove o projeto Casa de Bamba, ele decidiu convidar o companheiro de instrumento português para o registro ao vivo do encontro, realizado no próprio auditório, em julho do ano passado. O disco é resultado do registro fiel do primeiro encontro de André Mehmari e Mário Laginha, cujo grande mérito, segundo o pianista brasileiro, é o permanente diálogo musical, permeado por referências trazidas por cada pianista.

Para o português, enquanto para alguns músicos o compartilhamento musical se dá dentro da máxima de que jazz é jazz, música clássica é música clássica e popular é popular, para ele e André Mehmari “as paredes estão completamente jogadas no chão”. “Nós deixamos que essa contaminação aconteça”, acrescenta Mário Laginha, admitindo que, apesar de terem critérios que passam pelo gosto pessoal de cada, ambos se deixam contaminar pelas várias influências. No disco, Mehmari e Laginha mesclam composições próprias com improvisos livres ou sobre estruturas predefinidas. Enquanto Mário Laginha, por exemplo, escreveu Jogo com Mehmari e Um chorinho feliz, André Mehmari escreveu Um fadinho feliz para eles tocarem juntos. 

A bossa permanece - Eduardo Tristão Girão

O pianista Amilton Godoy fala do fim do Zimbo Trio e anuncia novos projetos com grupo que agora leva seu nome. Aos 72 anos, ele lança disco e investe em sua escola de música



Eduardo Tristão Girão


Estado de Minas: 10/11/2013 



Amilton Godoy perdeu o nome de seu trio para o antigo parceiro, o baterista Rubens Barsotti, hoje afastado do grupo (Rafael Ianii/Divulgação)
Amilton Godoy perdeu o nome de seu trio para o antigo parceiro, o baterista Rubens Barsotti, hoje afastado do grupo

Foi um baque: depois de desentendimento com a família do baterista Rubens Barsotti, o pianista Amilton Godoy, um dos fundadores do lendário Zimbo Trio, abriu mão de usar o sólido nome da formação que ajudou a construir desde 1964. Hoje com 72 anos, o artista está certo de que não há tempo a perder com brigas na Justiça. Segue em plena atividade, fielmente escoltado pelos mesmos músicos da última formação do Zimbo, à exceção de Barsotti, que está doente e vinha colaborando cada vez menos nas apresentações.

Agora, ele está à frente do Amilton Godoy Trio. “Em 2001, sem que eu soubesse, o Rubinho registrou o nome Zimbo Trio como sendo dele. O prazo para contestar isso venceu este ano e levaria uns oito anos para resolver isso judicialmente. A família do Rubinho não esperava que eu fosse abrir mão de um nome pelo qual lutei a vida inteira, mas não vou me submeter a isso. Tenho grande satisfação a dar ao público brasileiro. Nunca pensei no meu nome e não estou fazendo isso por vaidade, mas porque fui impedido pela família dele”, desabafa o pianista.

A primeira providência foi relançar o disco Zimbo Trio autoral com outro nome, Autoral – Volume 1, retirando apenas a faixa na qual Barsotti tocava. Com Marinho Andreotti (baixo acústico) e Pércio Sápia (bateria), Amilton reeditou 10 composições de autoria dele, como Choro, Viva Tuca, Caucaia do alto, Antes assim e O batráquio, todas gravadas ao vivo no Teatro Fecap, em São Paulo, em 2010. Quando lançado originalmente, ano passado, o álbum rendeu ao Zimbo Trio o prêmio de melhor grupo instrumental na 23ª edição do Prêmio da Música Brasileira. O volume dois já está a caminho.

Como continuará tocando o mesmo repertório com os mesmos músicos (só o nome mudou), para o pianista o trabalho continua. “Cumprimos nossa missão, só faltou encerrar. Para minha satisfação, tenho recebido convites para trabalhos novos e desafiadores. Não acabou. Por exemplo, outro dia fui tocar em Sorocaba e, chegando lá, os jornais me chamaram de fundador do Zimbo Trio. A história continua comigo. O Zimbo faz parte da minha vida”, observa Amilton.

Legado O Centro Livre de Aprendizagem Musical (Clam), escola criada pelo Zimbo Trio, agora está sob controle de Amilton, que comprou a parte da sociedade que pertencia a Barsotti. “Continuamos funcionando normalmente, com nossos 150 alunos em aulas de piano, baixo, bateria, canto. Sempre fazemos um show especial no fim do ano, do qual participo tocando”, afirma. O Clam, acrescenta, é um marco no ensino da música no país: fundado há 40 anos, respondeu aos anseios dos músicos que queriam aprender e se aperfeiçoar numa época em que o acesso a métodos não era tão fácil como hoje.

O Zimbo Trio tornou-se rapidamente referência na fusão instrumental da música brasileira com o jazz. “O jazz era o objetivo de todo músico com propósitos mais aprimorados. O Zimbo foi criado com o objetivo de sairmos daquele fundo de conversa de boate. Pretendíamos ir para teatros, era um projeto ambicioso para a época. Nosso primeiro disco mostrou que a música brasileira tinha tanta qualidade que podia ter improvisação por cima. Começamos a fazer jazz com música brasileira e resgatamos a bossa nova. O momento foi propício, demos sorte”, lembra o pianista.

Adiamento

Com a divisão entre Amilton Godoy e Rubens Barsotti, projetos que estavam sendo preparados para as comemorações dos 50 anos do Zimbo Trio, ano que vem, foram cancelados. O jornalista Lauro Lisboa, por exemplo, estava escrevendo livro sobre o grupo. Da mesma forma, foi para a gaveta o disco que seria lançado com composições especialmente escritas para o trio, a cargo de nomes como Milton Nascimento e Ivan Lins.

ENTREVISTA/DINAH BUENO PEZZOLO

ENTREVISTA/DINAH BUENO PEZZOLO, JORNALISTA, ESCRITORA E FOTÓGRAFA » Lições históricas de mestra 


Jornalista revela toda a evolução da principal matéria-prima da vestimenta humana 


Mírian Pinheiro

Estado de Minas: 10/11/2013


 (arquivo pessoal)
 
A paulista Dinah Bueno Pezzolo, de 72 anos, é uma pesquisadora nata. De seus estudos nasceram obras de grande importância cultural como A pérola: história, cultura e mercado, publicada pela Editora Senac São Paulo em 2004; Tecidos – história, tramas, tipos e usos, seu terceiro livro, de 2007, e ainda Moda e arte – releitura no processo de criação, seu último livro, também pela Editora Senac São Paulo, em abril de 2013, entre outros títulos. Dinah residiu em Paris, onde se formou estilista-modelista. De volta ao Brasil, foi convidada a ocupar o cargo de editora de moda e beleza de um grande jornal de circulação nacional, onde permaneceu por 33 anos. De 1995 a 2002, fez a cobertura internacional das apresentações do prêt-à-porter primavera-verão e outono-inverno em Milão e Paris, incluindo desfiles de Nova York e Londres. Informação não lhe falta e é exatamente sobre um dos temas abordados em seus livros e sobre o qual por diversas vezes tem sido palestrante, a evolução dos tecidos, que ela conversou com exclusividade com o caderno Feminino & Masculino. Um trabalho que revela toda a evolução da principal matéria-prima da roupa, desde os primitivos tramados feitos manualmente de galhos e folhas até os mais avançados métodos de tecelagem. Ela conta ainda das fibras naturais, dos fios inteligentes de tecidos tecnológicos, das primeiras técnicas de tingimento e das modernas formas de coloração.


Para compor o livro, quanto tempo demandou de pesquisa e onde buscou referências?
Foram quatro anos me dedicando a esse livro, mas bem antes da decisão de escrevê-lo esse tema já me atraía. Os tecidos, de uma maneira geral, sempre me fascinaram – sua textura, maciez, caimento, suas cores, estampas, padronagens. Nas aulas de história da moda, durante o curso de estilista-modelista que fiz em Paris, o tema “tecidos” me atraia. Na criação, o conhecimento dos tipos adequados aos modelos era primordial. De volta ao Brasil, como editora de moda no jornal O Estado de S.Paulo, cargo que ocupei durante 33 anos, tive a oportunidade de fazer coberturas dos desfiles internacionais para cadernos especiais sobre os lançamentos. Nesses cadernos, assinava textos e fotos. No trabalho, sem imaginar que um dia escreveria um livro sobre tecidos, sempre registrava closes dos tecidos apresentados em passarelas – utilizei muitas dessas fotos na ilustração desse livro.

O livro é uma pesquisa histórica, não é?
Sim, a evolução inclui história, tanto assim que iniciei minhas pesquisas no Museu do Tecido de Lion, na França, e passei a visitar outros, com olhos especificamente voltados aos tecidos que apareciam nas telas de grandes pintores: Musée d’Orsay, Louvre, Carnavalet, Instituto do Mundo Árabe, e tantos outros. Passei a me fixar, não só na beleza das telas, mas principalmente nos tecidos mostrados: padronagens, cores, uso, datas... Essa relação entre arte, tecidos e moda me levou a escrever meu último livro lançado pela editora Senac: Moda e arte – releitura no processo de criação.

A partir de que tempo ela mostra a evolução do tecido?
Podemos dizer que desde o início da civilização. Inicialmente, o homem utilizou a pele de animais como proteção, como agasalho. Depois, usou sua lã compactada, prensada e em seguida a lã tramada para se aquecer, se proteger. De prensada para tramada, a primeira fibra têxtil utilizada pelo homem já mostrava uma evolução.

Quais foram os primeiros tramados e por que eles se tornaram necessários ao homem?
As primeiras fibras têxteis cultivadas pelo homem foram as de origem vegetal-linho e algodão e as de origem animal-lã e seda. O linho é a fibra têxtil natural vegeta mais antiga do mundo. Achados arqueológicos indicam sua existência há 8 mil anos. Tecidos de linho foram encontrados em tumbas egípcias envolvendo múmias que datam de 6000 aC. Fragmentos de tecidos de linho e cordões da mesma fibra envolviam vísceras ou estatuetas que eram colocadas ao lado da múmia. O linho também foi usado no santo sudário, hoje em Turim. A peça mede 4,36m X 1,10m, tecido logicamente em tear manual, no padrão espinha de peixe. O algodão, embora a história indique que já era tecido na China por volta do ano 2000 aC., foi a raízes indiana que se estenderam no comércio entre os povos. Em 2600 aC a Índia trocava tecidos de algodão por lãs da Mesopotâmia. O algodão da Índia chegou ao Egito através de mercadores e daí se espalhou para a África, Grécia e Sul da Europa. Já a lã é a mais antiga fibra natural, animal, usada pelo homem. Para a variedade de cores, usavam corantes vegetais, minerais e animais, o que foi provado num fragmento de tecido de lã do séc. 1 aC, com a padronagem pied-de-poule, encontrado em escavações feitas em 1994, no Egito. A padronagem foi obtida no tear, pela trama de fios já tintos. Hoje, além da lã de carneiro, contamos com pelagens de outros animais que também se transformam em lã. A seda, por sua vez, surgiu há mais de 4.000 anos. Inicialmente era utilizada em trocas e chegou a ocupar o lugar de moeda corrente entre povos da Antiguidade. Era símbolo de poder político e religioso e evidenciava classes sociais abastadas. Reza a lenda, que, por volta do ano 2620 aC, a imperatriz chinesa Xi-Ling Shi tomava seu chá no jardim, sentada sob uma amoreira, quando algo estranho caiu dentro de sua xícara. De forma ovalada e muito leve, o casulo molhado pelo chá quente deixou que uma pontinha de seu filamento aparecesse. A grande descoberta foi que os casulos existentes na amoreira podiam ser desenrolados, produzindo um delicado filamento que podia ser tecido. A verdade é que com essa moldura fantasiosa nasceu a seda, fibra têxtil finíssima, produzida pela larva de diferentes borboletas, das quais a mais conhecida é a Bombix mori ou bicho-da-seda, que se alimenta exclusivamente de folhas de amoreira.

Quais foram os primeiros métodos
de tecelagem?
O tear manual acompanha o homem desde a Antiguidade e continua a existir, seja manipulado por povos simples nos mais diversos pontos do planeta, seja como instrumento de trabalho de renomados artesãos. O tear, desde o mais primitivo, consiste numa espécie de máquina que permite o entrelaçamento ordenado de dois conjuntos de fios, longitudinais e transversais, para a formação da trama. O modo de tecer os fios determina a estrutura básica de um tecido, ou seja, seu padrão, sua trama. Da diversidade de fios e de tipos de tramas, surge a variedade de tecidos, sem falar de cores e estamparia.

Quando a produção artesanal deu lugar aos fios inteligentes e à produção tecnológica?
Uma longa estrada foi percorrida desde a produção artesanal até chegarmos aos chamados fios inteligentes. A invenção da lançadeira volante por John Kay, em 1733, foi o primeiro passo na renovação do ramo de tecidos. Adaptada aos teares manuais, propiciou o aumento da capacidade de tecer e permitiu a obtenção de tecidos mais largos, pois até então o tecelão só podia fazer tecidos da largura de seus braços. A Revolução Industrial que se deu na Inglaterra no séc. 18 foi, sem dúvida, a responsável pelo grande desenvolvimento da área têxtil. Outro grande avanço diz respeito aos corantes artificiais. As cores nos tecidos sofreram mudanças radicais graças a William Perkin, que em 1856, com apenas 18 anos, estudante da Escola Superior de Química da Inglaterra, na tentativa de sintetizar medicamento contra a malária a partir do alcatrão de carvão acabou criando um corante de cor púrpura, a malveína. Surgia o primeiro corante artificial. Hoje, os corantes para tinturas têxteis são quase exclusivamente produtos químicos provenientes do alcatrão e do petróleo. Anos se passaram e apesar das conquistas tecnológicas, de as tecelagens trabalharem com maquinários de última geração, a necessidade de suprir o mercado com produtos que satisfizessem exigências além das convencionais motivou o desenvolvimento de novos tecidos ou tecidos inteligentes. Os tecidos inteligentes oferecem uma série de vantagens: não encolhem, não amarrotam, são agradáveis de usar, fáceis de lavar, secam rapidamente, mantém o corpo confortavelmente seco, bem ao contrário do náilon dos anos 1950 que segurava a transpiração. Tudo isso além de propriedades específicas: antibactérias, contra manchas, os que oferecem proteção solar, hidratação da pele, os que contribuem para melhor performance dos esportistas e outros.

Conte-nos um pouco sobre as primeiras técnicas de tingimento e as mais modernas formas de coloração atuais.
Para exemplificar uma técnica de tingimento primitivo, lembro os tecidos da África negra e, em especial, os tecidos bogolan, do Mali, estampados com lama, seguindo técnica primitiva. A fiação do algodão e a arte de estampar são exclusividades das mulheres, enquanto para os homens fica a tarefa da tecer. Inicialmente, mergulham o tecido num banho de mordente à base folhas e cascas de árvores (o mordente serve para fixar a cor, mas é também usado para conseguir diversas tonalidades de um mesmo corante). Em seguida, o tecido é estendido ao sol para secar. Depois de seco, desenham motivos geométricos com lama. Quando a lama seca, o tecido é lavado e novamente seco ao sol – é quando os desenhos aparecem em marrom. Se quiserem escurecer os motivos, repetem a pintura. O interessante é que, originalmente, os tecidos bogolan eram usados em situações onde havia perda de sangue. Os homens, quando iam caçar. As mulheres, quando atingiam a idade adulta, por ocasião do casamento e do nascimento dos filhos. Depois da independência Mali, em 1960, o processo se tornou menos elaborado, com utilização de carimbos para repetição dos desenhos. Hoje, tintureiros têxteis que colorem fios e tecidos admitem que os corantes sintéticos oferecem uma vivacidade e uma pureza de cores desconhecidas no passado. O interesse pelos sintéticos foi estimulado principalmente pela facilidade que oferecem no trabalho.

Fale-nos também sobre as estampas. Quais as principais em voga nos séculos passados (o que elas "falavam", o que queriam dizer naquela  época) e, hoje, quais as tendências mostradas pelos estilistas.
As primeiras matrizes para estampar tecidos foram, provavelmente, as mãos e conchas molhadas em pigmentos. Em seguida, o homem criou carimbos de argila, madeira e metal. Mas a arte de estampar surgiu na Índia e na Indonésia - falamos do batik, cuja técnica continua até hoje inalterada. De modo geral, os temas básicos da estamparia são: geométrico, abstrato, figurativo, floral e animal. O geométrico tem suas raízes na Antiguidade. Em nossa era, a grande valorização do geométrico se deu no início do século. 20 com o movimento art déco. O motivo abstrato pode ser visto como o mais novo deles. Surgiu com a arte moderna do final do século. 19 e início do século 20. Não mostra, formas definidas podem lembrar pinceladas, manchas, borrões, rabiscos, respingos, etc. O figurativo mostra reprodução de figuras, incluindo a humana, lembrada em pinceladas desde a Antiguidade. O berço do floral mais uma vez foi a Índia, com flores estilizadas. Entretanto, o floral usado em estampas de tecidos sofre influência de movimentos diversos, como o artístico art-nouveau, o flower power londrino e outros. Finalmente, o motivo animal, embora hoje faça sucesso em passarelas internacionais como as de Roberto Cavalli, por exemplo, já era usado na época faraônica, no Egito. Prova disso pode ser constatada no Museu do Louvre, onde parte de uma pintura mural datada de 2.500 a.C. mostra a princesa Nefertiabet com estampa animal em seu traje. Falando da atualidade, as últimas tendências apresentadas pelos estilistas indicam o retorno do floral. Analisando os fundamentos dessa tendência, podemos dizer que o mundo, diante de tanta desavença, tanta luta, tanta desgraça, está precisando de um banho de cores, de flores, de beleza. Tenha a certeza de que elas estão sendo bem vindas.

Lições de esperança - Pedro Ferreira

Como milhares de alunos, professores enfrentam dura rotina entre a casa e a escola, inclusive com dupla jornada. Mas eles não perdem ideal de ensinar



Pedro Ferreira


Estado de Minas: 10/11/2013 


5:15 - Darlene saiu de casa de madrugada  e segue para a primeira escola (Paulo FiLgueiras/EM/D.A PRESS)
5:15 - Darlene saiu de casa de madrugada e segue para a primeira escola


Uma hora e 15 minutos é o tempo que a professora Darlene Aparecida Bispo de Moura Pimenta, de 50 anos, gasta para chegar a uma das escolas em que leciona em Ribeirão das Neves, na Grande BH. Com sacrifício, mas muita dedicação, ela enfrenta 88 quilômetros de viagem de ida e volta diariamente, entre o Bairro Tupi, Norte da capital, onde mora, e as duas instituições.  

No domingo passado, o Estado de Minas mostrou as dificuldades e os riscos enfrentados por estudantes na zona rural e nas estradas para chegar à escola. E hoje conta como  professores, a maioria mulheres, enfrentam drama às vezes maior, que implica duas jornadas. São lições de sacrifício e esperança por um futuro melhor para educadores e alunos.


“Acordo às 4h25 para preparar o café da manhã do meu filho, tomo banho e me arrumo. Tenho de sair de casa no máximo às 5h15 para não perder o ônibus. O próximo só passa às 5h35 mais lotado ainda”, conta a professora. Na madrugada fria e chuvosa, ela anda dois quarteirões por ruas desertas, pega o primeiro ônibus às 5h20 e desembarca às 5h45 na esquina das ruas Guaicurus e Rio Janeiro, no Centro. Percorre mais dois quarteirões a pé e toma outro ônibus, mais vazio do que o anterior, às 5h50, na Avenida Oiapoque. Às 6h10, o coletivo chega à BR-040 com o dia já claro. “


5:20 - Depois de esperar no ponto, ela começa a maratona nos ônibus (Paulo FiLgueiras/EM/D.A PRESS)
5:20 - Depois de esperar no ponto, ela começa a maratona nos ônibus

As viagens diárias costumam ser tranquilas quando não ocorrem acidente ou manifestação fechando a BR-040. Ela consegue chegar ao Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, às 6h27. Desembarca na rodovia, atravessa uma passarela, anda mais um pouco e chega às 6h30 à Escola Estadual João de Almeida, onde prepara o material didático durante uma hora e vai para a sala de aula às 7h30.

A segunda jornada de trabalho de Darlene começa às 11h45, quando ela embarca no ônibus na 040 e vai para a Escola Estadual Henrique Sapori, no Bairro Veneza. Chega às 12h10 e sai às 17h35. “Desço do ônibus em BH por volta das 18h30, no Bairro Coração Eucarístico, e pego outro ônibus para o meu bairro, onde chego às 19h40”, conta.



6:10 - Após descer no Centro de BH, pega outro coletivo e desce na BR-040 (Paulo FiLgueiras/EM/D.A PRESS)
6:10 - Após descer no Centro de BH, pega outro coletivo e desce na BR-040

Darlene e milhares de outras professoras mineiras se desdobram em até três empregos para garantir renda melhor. Além do estresse da profissão, elas sofrem com o desgaste dos deslocamentos. Professora há 21 anos na escola do Veneza, ela diz que já se acostumou com a viagem. O ônibus para o Centro de BH sempre chega lotado. Dificilmente, ela consegue um lugar para sentar, mas na sexta-feira teve sorte. O motorista, entretanto, passou apressado pelo quebra-molas e o ônibus jogou os passageiros para cima, despertando quem estava no cochilo.

A professora diz que já passou por situações mais difíceis. Quando se separou do marido, em 1995, a filha Dandara tinha 7 anos e o filho Marco, 5. “Uma moça ia do Bairro Veneza tomar conta deles lá em casa. Quando ela faltava, eu deixava uma criança tomando conta da outra. Muitas vezes, a mais velha telefonava dizendo que o irmão estava passando mal e eu não podia fazer nada. Eu ficava na escola, mas com a cabeça em casa, preocupada. Só chegava às 7 da noite”, lembra.

Quando chega à 040, Darlene pede proteção a Deus, mais ainda quando chove. Ela diz ter visto diversos acidentes graves da janela dos ônibus. Uma vez, o próprio coletivo em que estava bateu num carro e começou a pegar fogo. “Tivemos que descer às pressas e pegar outro ônibus”, contou.



6:30 - Mais uma boa caminhada e finalmente Darlene chega à escola (Paulo FiLgueiras/EM/D.A PRESS)
6:30 - Mais uma boa caminhada e finalmente Darlene chega à escola

A professora também reclama da falta de tempo para a família. “Em casa, sou a primeira a sair e a última a chegar”, diz, orgulhosa de Dandara, hoje com 25, que na noite anterior se formou em gestão pública e já trabalha na UFMG. “O caçula tem 22, estuda para concurso público e é sócio do primo numa empresa de tele-entrega de sanduíche”, comenta.

Hipertensa, Darlene mostra a lista de medicamentos que toma: “Na escola, todo mundo usa remédio controlado”. Caprichosa, ela mostra seus cadernos com planos de aula, um para cada escola, trabalho que normalmente faz à noite, quando chega em casa, e também nas folgas de fim de semana.


Três horas no trânsito


Pedro Ferreira

Em BH, a rotina das professoras é similar à de outras cidades, segundo a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal (Sind-Rede/BH), Andréa Carla Ferreira, de 42. Ela é professora de história no Bairro Dom Silvério, na Região Nordeste, e de geografia em uma escola estadual de Vespasiano, na Grande BH. Como os educadores da rede de ensino estadual, ela enfrenta dura jornada no dia a dia. São mais de três horas diárias no trânsito, quando não há engarrafamento na MG-010 e na Avenida Cristiano Machado. “Tenho medo de acidentes na estrada, principalmente quando chove e a pista fica escorregadia”, disse.

Andréa sai às 6h15 do Bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste, e vai de ônibus para o Dom Silvério. Depois das aulas, pega carona até a Cristiano Machado, onde embarca em um ônibus para Vespasiano. “Gasto duas horas só para ir e voltar de Vespasiano. Para o professor, não é vantagem usar o carro, pois ocorre o desgaste do veículo, manutenção e combustível. É muito caro”, disse. A professora também reclama dos gastos com o transporte. “Em BH, recebo o cartão BHBus. Mas, para Vespasiano, arco com as despesas.”


Durante a semana, Andréa fica por conta do trabalho e retorna tarde para casa. “Dependendo do dia, ainda trabalho à noite em Vespasiano, mas normalmente saio às 18h.


Enquanto isso...
…Proposta de reajuste
está em tramitação


A Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que em 25 de outubro apresentou projeto de lei à Assembleia Legislativa com proposta de reajuste salarial de 5% para os servidores da educação. A progressão na carreira, que estava prevista para janeiro de 2016, será antecipada em dois anos, com 2,5%. O remanejamento de professores é definido no edital dos concursos e o candidato já escolhe previamente a cidade para onde quer ir. A transferência é regida por lei específica, segundo a secretaria, que define prazo para solicitação de remanejamento, disponibilidade de vaga na escola visada e outros critérios.



Entre a família e a sala de aula



Pedro Ferreira


Professora da Faculdade de Educação da UFMG e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Inês Teixeira diz que os educadores enfrentam muito mais dificuldades na zona rural. “Ou o professor mora perto da escola, fica lá de segunda a sexta-feira, longe da família, muitas vezes em condições muito precárias, ou ele sai de casa todos os dias para ir à escola de várias formas, como kombi, motocicleta e bicicleta”, diz.

Em sua pesquisa sobre a rotina de professores, Maria Inês afirma ter encontrado profissionais que iam trabalhar a cavalo. “Em época de chuva tem barro. Em época de sol, poeira”, afirma a professora., que também é coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Condição e Informação Docente (Prodoc), que reúne pesquisadores da educação superior, profissionais de várias instituições universitárias e redes de educação básica.

Há duas situações que levam o educador a se sacrificar tanto, segundo Inês. Uma é a busca por renda maior, o que leva a pessoa a seguir de uma escola para outra. “No ensino rural ele dobra. Fica ali de manhã e de tarde. No caso das escolas das cidades, eles saem de uma escola para outra, mas pelo menos têm transporte público. Já encontrei professor que comia marmita no ônibus quando ia de uma escola para outra”, conta.

A grande maioria dos professores é de mulheres, muitas com tripla jornada de trabalho, disse a pesquisadora. “Elas chegam cansadas em casa e têm que preparar marmita para o dia seguinte. Algumas podem almoçar na escola ou comer a merenda dos meninos”, disse. Quando têm filhos, as professoras arrumam alguém para tomar conta deles e levá-los à escola, segundo Inês.

A pesquisadora também lembra o trabalho extraclasse que a profissional leva para casa. “Por tudo isso, o índice de adoecimento dos professores é um dos mais altos entre as categorias profissionais”, informou. O professor convive com outros desgastes em sala de aula. Segundo Inês Teixeira, os alunos têm muitas dificuldades e chegam à escola com problemas familiares e sociais, o que aumenta a exigência sobre o trabalho docente. “É uma profissão com alto índice de envolvimento humano e emocional. Inclusive, o corpo do professor fica completamente exposto. Ele fica com 45 meninos aqui, mais 35 acolá, e vai pulando de turma em turma e isso aumenta o estresse. Uma hora, está com uma turma com um perfil e depois está com outra com perfil totalmente diferente”, disse.

“O professor vira um aconselhador do pai do aluno, um assistente social, e tudo vai cair na mão dele. Sala de aula é como um espelho da sociedade. O menino não está atento porque às vezes é um problema na família. Inclusive, os alunos já chegam à escola com muita experiência de violência que aprenderam no mundo lá fora”, conclui Inês Teixeira. No primeiro semestre, segundo ela, foram 125 mil atendimentos periciais e 934 licenças médicas de professores por motivo de saúde, muitos agravados pelo estresse.



Carona de risco para escola Desafio de muitos professores vai muito além da sala de aula. Transporte clandestino e viagem de favor são rotina no Norte de Minas devido à falta de linha regulares de ônibus

Luiz Ribeiro




"É humilhante, mas não tem outro jeito para chegar à escola" - Lucélia Siqueira (D), que pede carona com a colega Lívia


Ser professor não é apenas estudar conteúdo, planejar aulas e se dedicar integralmente ao ensino. É preciso superar barreiras. A vida de sacrifícios é encarada pelos professores que lecionam fora das cidades onde moram. Sem carro próprio e com a dificuldade para pegar ônibus, muitos recorrem ao transporte clandestino ou à carona. Essa dura realidade é enfrentada no Norte de Minas.

“Infelizmente, como não têm condições de pagar pelo transporte, muitos professores são obrigados a pedir carona ou usar veículos clandestinos”, afirma Geraldo Costa, diretor da subsede do Sindicato Único dos Trabalhadores na Educação (Sindi-UTE) em Montes Claros. Segundo ele, somente em Montes Claros moram em torno de 200 professores que viajam para dar aulas em cidades próximas, como Francisco Sá, Coração de Jesus, Mirabela, Brasília de Minas e Grão Mogol.

Em muitos casos, em vez de pagar aluguel em cidades vizinhas, os professores continuam morando em Montes Claros, onde têm casa própria ou moram com os pais. O problema é o deslocamento e o perigo nas estradas. A mais arriscada é a BR-251 (Montes Claros–Salinas), que tem tráfego pesado de caminhões e carretas. “Já tivemos casos de pessoas que perderam a vida ao viajar para trabalhar”, relata Geraldo Costa.

Quem dá aulas na zona rural também tem problemas de sobra. Para chegar à escola, eles precisam levantar cedo. A carona é muito comum. No trecho da BR-135 próximo à área urbana de Bocaiuva, diariamente são vistos grupos de professoras esperando carona para chegar ao distrito de Engenheiro Dolabella e municípios vizinhos, como Engenheiro Navarro. Boa parte vai para a beira da estrada antes de amanhecer.



EM mostrou no domingo passado a longa jornada de estudantes mineiros para chegar à sala de aula
EM mostrou no domingo passado a longa jornada de estudantes mineiros para chegar à sala de aula

“É humilhante, mas não tem outro jeito para chegar à escola”, reclama a professora Lucélia Cristina de Oliveira Siqueira. Ela mora em Bocaiuva e trabalha numa escola estadual em Engenheiro Dolabella, a 40 quilômetros da área urbana. Percorre o trecho quatro vezes por dia, pois trabalha em dois turnos (manhã e noite). Professores de Bocaiuva que fazem duas jornadas em Engenheiro Dolabella obrigatoriamente recorrem à carona ou ao transporte clandestino, pois não existem horários de linhas regulares de ônibus antes das 7h e depois das 16h.

Entre o Engenheiro Dolabella e a 135 existe outro pequeno trecho, de dois quilômetros, que, na maioria das vezes, é percorrido pelas professoras, também de carona, nos próprios ônibus que transportam os alunos do Assentamento Heberth de Souza, na antiga usina de açúcar Malvina.

Lucélia não tem receio de contar que, ao pedir carona, já passou pelo constrangimento de ser confundida por caminhoneiros com as chamadas garotas de beira de estrada. Para evitar o problema, as professoras procuram andar sempre em companhia de uma colega e, ao entrar no veículo da pessoa que dá a carona, adotam a tática defensiva de revelar que são educadoras. A professora de Bocaiuva também relata que, por várias vezes, precisou pegar carona à noite, quando o risco é maior.

Ela conta ainda que, às vezes, recorre ao transporte alternativo, pagando R$ 20 para ir a Dolabela. “O que a gente ganha não dá para pagar o transporte. Se não recorrer à carona e gastar com o transporte, tem de pagar para trabalhar”, lamenta.


Para Lívia Viveiros, outra moradora de Bocaiuva que leciona em Engenheiro Dolabella, o sacrifício na estrada é maior ainda. Além de viajar para o distrito durante o dia, ela se desloca por 54 quilômetros a semana inteira para frequentar um curso em Montes Claros à noite. Ela diz que as dificuldades para chegar à escola interferem na relação dos professores com os alunos, afetando a qualidade do ensino. “Mesmo sem querer, o professor passa parte do seu estresse para o aluno, pois chega à sala de aula cansado”, afirma Lívia.

Outra professora de Bocaiuva que enfrenta sacrifícios é Natália de Lourdes Santos. Todos os dias ela acorda por volta das 4h30, prepara o café e cuida do filho. Depois, caminha a pé cerca de dois quilômetros até a 135 para pegar carona entre as 5h30 e as 5h45. “É muito difícil”, lamenta Natália.

Cleonice Machado é professora de uma escola municipal na comunidade de Lagoinha/Pentáurea, em Montes Claros. Nos cinco dias da semana, antes das 6h, ela pega carona na saída de Bocaiuva para rodar 20 quilômetros até a escola, na área urbana. Cleonice conta que cumpre a rotina há mais de 10 anos e que, ultimamente, pega carona com colegas. “Já me acostumei. Como a escola fica na beira da estrada, fica mais fácil”, afirma.

Em Brasília de Minas, Norte do estado, Betânia de Cássia Silva Miranda, de 40, trabalha de manhã, à tarde e à noite e faz todo o deslocamento a pé. Não há transporte público ou escolar que a atenda e ela chega à noite em casa com os pés inchados. “Sou excedente numa escola e tenho que completar o cargo em outras duas escolas que ficam distantes. Fico muito cansada”, disse a professora, que sai de casa às 6h e só retorna às 23h.



'O Amor pela escola nos faz seguir em frente'

Simone Lima


Maria Luiza Grossi enfrenta 13 quilômetros de estrada de terra para dar aula na zona rural de Divinópolis (NANDO OLIVEIRA/ESP.EM/D.A PRESS)
Maria Luiza Grossi enfrenta 13 quilômetros de estrada de terra para dar aula na zona rural de Divinópolis


Todos os dias, a professora de ciências humanas Maria Luiza Grossi acorda às 5h30 para entrar na sala de aula às 7h30. Vaidosa, ela não revela a idade e faz questão de ir bem vestida para a escola onde trabalha, na comunidade rural de Buritis, em Divinópolis, Centro-Oeste de Minas. O trajeto é difícil: são mais de 13 quilômetros de estrada de terra. %u201CDeixo meu carro no Bairro Porto Velho, pego o ônibus escolar para trabalhar. É muito cansativo. Já cheguei a perder o dia de aula por causa dessa estrada%u201D, conta. 

Mas Maria Luiza não desanima. Ela e quase todos os funcionários da Escola Municipal Benjamin Constant fazem esse trajeto. A maioria mora na cidade e usa o transporte escolar para ir dar aula. Em meio aos alunos, eles aproveitam para conversar sobre o conteúdo dado em sala de aula e trocam experiências. %u201CO problema maior é o trajeto. Quando chove, vem o barro, se não, vem a poeira. Tem muito professor que usa touca de banho no ônibus para proteger o cabelo%u201D, diz.

A diretora da escola, Christiane Melo de Souza, de 38, mora no Bairro Cidade Jardim e usa o transporte escolar para ir até a escola. Ela acredita que se a estrada fosse asfaltada, o desgaste seria muito menor. %u201CTemo até mesmo pela segurança, tanto de professores como de alunos. A estrada não é boa e quando chove fica escorregadia. O amor pela escola nos faz seguir em frente. Sempre me identifiquei com a comunidade.%u201D

A supervisora pedagógica Maria Ângela Gonçalves, de 57, trabalha de manhã e à tarde, precisa acordar às 5h30 para não perder o horário e tem apenas 15 minutos de almoço. %u201CVenho no ônibus com os alunos. Temos nossos momentos de diversão com os alunos , brincadeiras. Ficamos mais próximos%u201D, disse. Os três filhos e o marido ficam preocupados, mas Ângela não pretende desistir da escola, onde trabalha há 13 anos.


Eduardo Almeida Reis » Delatores‏

Sempre desconfiei daquela onda patriótica de delatores dos Estados Unidos, país cheio de defeitos, ainda assim bem melhor que a Venezuela, Cuba e a Coreia do Norte



Eduardo Almeida Reis


Estado de Minas: 10/11/2013 






Detesto delatores. Com 10 aninhos fui expulso de um colégio de padres para não delatar um colega de sala, autor da brincadeira. Talvez 40 meninos na sala de aula, quando um colega lá da frente cortou aquele pompom da ponta de uma cordinha, que os padres enrolavam na cintura da negra batina.

O gordo padre Agostinho dava aulas andando entre as carteiras. Quando percebeu o corte do seu pompom, a bola de fios de lã ou seda, que vinha sendo repassada pelos colegas, estava em cima da minha carteira. Expulso, fiz admissão, ginásio e científico no colégio de um casal de professores mineiros, gente nascida para o magistério. Não era o melhor colégio do Rio, mas a minha turma do 3º científico, de poucos alunos, produziu duas embaixadoras, um embaixador, um maestro, um astrônomo e um avicultor, mais tarde transformado em tirador de leite. E um presidente da Academia Brasileira de Letras.

Sempre desconfiei daquela onda patriótica de delatores dos Estados Unidos, país cheio de defeitos, ainda assim bem melhor que a Venezuela, Cuba e a Coreia do Norte. Agora, vejo que os denunciantes prestam desserviço à causa gay. O jornalista americano, que fornece material para o britânico The Guardian, vive no Rio casado com um rapaz de ótima família.

O soldado Bradley Manning, que repassou milhares de documentos para o WikiLeaks, distribui fotos suas vestido de mulher com bela peruca loura e lábios pintados de vermelho-vivo. O Assange, do WikiLeaks, é acusado de estupro: não em Nova Iguaçu, mas na Suécia. Estupro é crime tanto na Suécia como em Nova Iguaçu, mas em BH vem sendo tolerado, que o diga o doutor Pedro Meyer Ferreira Guimarães, que vai muito bem, obrigado.

Edward Joseph Snowden, que conseguiu asilo na Rússia, também não é flor que se cheire. Basta ver suas fotos, com aquela carinha de anjo, para desconfiar de que ali tem coisa. Um sujeito normal não trocaria o Havaí e uma bailarina de shows eróticos pelo frio de Moscou. Deles todos, o único que tem futuro risonho é o Manning, já condenado a 30 anos de cadeia, onde fará sucesso com a peruca loura e os lábios pintados de vermelho.


Depoimento I
Caro Philosopho. Há quase um mês você fez uma pergunta retórica que bateu nas redes da minha alma: “O que é exatamente o alcoolismo?”. Tentei responder na bucha, mas o assunto me exalta de tal modo que precisei esperar para, pelo menos, tentar ser objetivo e sucinto. Minha admiração por Vossa Excelência cresceu ainda mais quando, em vez de já lançar palavras deturpadas a respeito desta doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, o caro Escriba joga a questão no ar para seus milhares de admiradores, com a humildade dos fortes e sábios. Vou tentar.

Experiências com ratos: centenas de animais foram deixados só com bebida alcoólica por dias. É sabido que o álcool é fonte de calorias, embora nada saudável. Ao se darem conta de que não haveria comida, todos beberam e se embebedaram. Após certo tempo, os cientistas lhes ofereceram comida e álcool. Pois bem; 90% dos ratos passaram a optar exclusivamente pela comida, enquanto 10% a ignoraram e enxugaram a cachaça até morrer de falência múltipla dos órgãos.

Ou seja, nada de “psicológico”: ratos são ratos. Esses 10% são os mesmos que entre nós, humanos, têm uma combinação genética que os torna dependentes físicos da bebida alcoólica. Têm uma resistência enorme ao álcool e, progressivamente, ao longo dos anos, vão aumentando a quantidade ingerida, os “dias de beber”, até chegar ao ponto de, praticamente, não se alimentarem e viverem só do álcool, num nível em que o organismo não aguenta. Fazem parte da patologia as “desculpas” para eles próprios e terceiros: “Bebo porque perdi o emprego/minha mulher me largou/minha mulher não me largou”. Nota: a carta do leitor, que não conheço pessoalmente, tem 1.510 palavras, que reduzi para 650. Amanhã teremos o final.

O mundo é uma bola
10 de novembro: faltam 51 dias para acabar o ano. Em 1619, René Descartes teria tido uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. No ano de 1871, em Ujiji, atual Tanzânia, o repórter Henry Stanley encontra o explorador David Livingstone e faz aquela que deve ter sido a pergunta mais idiota da história: “Doctor Livingstone, I presume?”. Alguns muitos repórteres fazem perguntas idiotas, sobretudo entrevistando os treinadores, perdão, professores, depois dos jogos de futebol, mas essa de Stanley levou a palma.

Em 1928 começa a circular a revista O Cruzeiro. Em 1937, instauração no Brasil do Estado Novo: veja a ruminança de hoje. Em 1945, fundação do Partido Libertador. Em 1955, fundação da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, fato que a Wikipédia julga importantíssimo, tanto assim que o anotou.

Em 2006, com 160.398 sócios, o Sport Lisboa e Benfica entrou para o Guinness dos recordes. Resta saber se o clube também conta com torcidas organizadas que se cospem, como as de Cruzeiro.
Hoje é o Dia do Trigo.

Ruminanças
“A metade de meus homens de governo não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo.” (Getúlio Vargas, 1883–1954)