sexta-feira, 23 de novembro de 2012

"Afirmação do presidente da França irrita defensores do casamento gay"


 Gaëlle Dupont, Eric Nunès e David Revault D'allonnes

  Foi como “ex-colega” que o presidente da França, François Hollande, se dirigiu, na terça-feira (20), aos milhares de prefeitos e presidentes de agrupamentos de comunas reunidos em seu 95º Congresso, em Porte de Versailles, Paris. Tanto que os inúmeros sinais dados por Hollande, que já foi prefeito da cidade de Tulle, e sobretudo sua vontade de conciliação sobre a delicada questão do “casamento para todos”, agora correm o risco de lhe tirar o apoio dos partidários mais ferrenhos dessa reforma.


Questionado logo de início sobre o projeto de lei por Jacques Pélissard, presidente da Associação dos Prefeitos da França (AMF, sigla em francês), que transmitia as “preocupações” dos prefeitos, Hollande lembrou que estes “terão, se a lei for aprovada, de aplicá-la” e que “a lei se aplica para todos respeitando a liberdade de escolha”. Uma declaração ambígua, que o presidente completou explicando que “as possibilidades de delegações [de um prefeito a seus adjuntos] existem e podem ser ampliadas”, sem dar mais detalhes.


É uma saída oferecida aos prefeitos mais reticentes. O governo francês se orgulha de seu “pragmatismo”: “O presidente quis afirmar que essa importante reforma seria feita de maneira muito clara, em todo o território, mas a ideia é não ser hipócrita”, explica um conselheiro. “Hoje, quando um prefeito não quer realizar um casamento, ele não o faz e delega a alguém. Portanto, está sendo considerado um princípio de realidade psicológica e política”.


Como era de se esperar, esse pragmatismo irritou os pró-casamento gay, que até hoje já achavam os representantes da maioria extremamente temerosos quanto ao tema. No Twitter, estes se enfureceram contra Hollande, falando em “covardia”, “tapa na cara”, e até em “rendição”. “Não entendo como seria possível justificar que uma lei não seja aplicada da mesma maneira em todo o território da República”, disse Nicolas Gougain, porta-voz da interassociação de lésbicas, gays, bi e transexuais (Inter-LGBT). Para a Federação LGBT, “François Hollande fala em uma pretensa liberdade de escolha ampliada para ceder aos opositores”.




  
  • Etienne Laurent/Epa/Efe



  Fora isso, a afirmação de Hollande despertou algumas reações negativas dentro do próprio Partido Socialista, reunido na manhã de quarta-feira (21) em âmbito nacional. Sobretudo a do deputado de Paris, Jean-Christophe Cambadélis.

“Mensagem de confiança”

No Palácio do Eliseu (sede do governo francês), garante-se que a afirmação do presidente “não tem a ver com a manifestação deste fim de semana”, quando 100 mil pessoas protestaram contra o casamento gay nas ruas: um sucesso, ainda que os opositores praticamente só tenham reunido movimentos próximos dos meios católicos. “O que está em jogo não são alguns conservadores de direita ou católicos de estrita obediência, mas sim fazer com que alguns prefeitos tentados a recusar entendam que estamos determinados a aplicar a lei”, explica um conselheiro, para quem Hollande primeiramente teria passado aos prefeitos “uma mensagem de confiança”.


E assim o presidente se declarou disposto a adiar a reforma do calendário escolar. Ele também prometeu atacar um problema recorrente: as cerca de 400 mil normas às quais estão sujeitas as autoridades regionais e que corroem suas finanças, uma vez que o relatório de 2011 da comissão consultiva de avaliação das normas estabelece em 728 milhões de euros a conta, para as autoridades regionais, dos 287 textos regulamentares examinados. “É preciso atuar no fluxo e no estoque de normas”, disse o presidente, sob aplausos.


Por fim, Hollande concordou com a criação da agência de financiamento das autoridades regionais, uma antiga reivindicação da AMF.


Tradutor: Lana Lim        

Em outro canal - Mariana Peixoto‏

Produção brasileira de cinema tem mais espaço na telinha, que ganha também produtos exclusivos feitos para cumprir exigências da nova lei da TV paga 

Mariana Peixoto
Estado de Minas: 23/11/2012 
Vale a pena ver de novo? E de novo? E de novo? O filme Nosso lar (2010) será exibido de amanhã a 17 de dezembro oito vezes nos canais Fox e Fox NatGeo HD; Houve uma vez dois verões (2002), de amanhã a 15 de dezembro, sete vezes nos canais Sony, AXN (e suas versões HD) e Sony Spin, com algumas exibições em canais diferentes no mesmo dia; e Xuxa abracadabra (2003), exibido ontem à noite, ganha nova sessão hoje, no fim da tarde, no Warner. Não é preciso ser telespectador superatento para perceber que, de uns tempos para cá, a produção cinematográfica brasileira tem aparecido com mais frequência (e um excesso de reprises, como nos exemplos acima) em canais que, até então, pouco ou nada exibiam de programação nacional.

Isso nada mais é do que reflexo da Lei 12.485/11 (a chamada nova lei de TV a cabo), que regulamenta o setor de TV por assinatura e que passou a vigorar em setembro. Pela lei, as emissoras de TV por assinatura deverão exibir cotas semanais de conteúdo nacional no horário nobre (entre 18h e 0h). Procurados pela reportagem, os canais não deram declarações sobre o assunto.

Para cumprir as cotas de empacotamento previstas em lei, um terço daqueles oferecidos em cada pacote terá que ser de canais brasileiros de espaço qualificado. Canais classificados como “superbrasileiros” (com, no mínimo, 12 horas de conteúdo nacional produzido por produtores independentes) passaram a figurar em todos os pacotes de diversas operadoras de TV paga. Alguns, inclusive, são também “supernovos”. Um dos caçulas do time leva o nome de Curta!. No ar desde o dia 1º, está disponível para 9,6 milhões de assinantes (à exceção da Sky, está sendo distribuído em todas as outras operadoras de TV paga).

Preliminares 


O nome é autoexplicativo, mas não limitador. Além de curtas-metragens (o canal nasceu em decorrência do Porta Curtas, portal que reúne no acervo 7,7 mil produções catalogadas e 1 mil filmes para serem assistidos on-line), o Curta! vai também exibir médias e longas, tanto de ficção quanto documentais. “Tivemos que entrar no ar de um dia para o outro, então, agora, estamos exibindo uma programação preliminar. Cento e oitenta curtas já estão pré-contratados, mas ainda não conseguimos a estrutura para apresentá-los como queríamos”, afirma o diretor do canal, Julio Worcman.

O conteúdo que será exibido vai ser selecionado por um comitê de programação. A ideia é, também, levar os próprios realizadores para a frente da tela. “É um canal que não vai ter apresentador. Quem abordará os filmes e programas serão pessoas que atuam naquele universo, curadores e realizadores. Um cineasta, por exemplo, apresentará seu próprio longa. Curadores de festivais vão fazer seleções de filmes para o canal.” Por lei, o Curta! é obrigado a exibir 12 horas diárias de conteúdo nacional e independente. “Nesse primeiro momento, vamos exibir conteúdo licenciado”, continua Worcman. Mais pra frente, o canal vai exibir produções inéditas.

A cadeia produtiva

Com tudo isso, entra em ação o outro vértice da cadeia que tem ganhado muito com a mudança na lei e a criação de cotas: a produção. A demanda, é inegável, cresceu substancialmente no último ano. A produtora mineira Camisa Listrada, até então mais envolvida com projetos dedicados ao cinema, criou recentemente núcleo de TV. Sua primeira produção é Expedições Burle Marx, série de quatro episódios dirigida por João Vargas Penna sobre as incursões do paisagista e artista plástico pelo país. A série está sendo produzida para a TV Brasil. “Esse produto faz parte dessa nova política audiovisual. Esse é o primeiro, mas já temos outros três projetos para serem desenvolvidos”, afirma o produtor André Carrera. 

A série sobre Burle Marx está sendo desenvolvida com verba do chamado Fundo Setorial do Audiovisual. “Para você conseguir a primeira licença da Agência Nacional de Cinema (Ancine), já tem que ter negociado o projeto com um canal de TV”, continua Carrera. Também por causa da nova lei da TV paga, o catálogo de filmes da Camisa Listrada está sendo vendido para outros canais (até então, seus filmes foram vendidos para o Canal Brasil, TV Brasil, TV Câmara e Sesc TV). “Nos últimos dois meses, recebi proposta de um canal para licenciar todo o meu acervo para exibição. Estou estudando ainda propostas isoladas”, acrescenta Carrera. 

Sócia da Quimera Filmes, produtora de Helvécio Ratton, Simone Magalhães Matos comenta sobre o aquecimento do mercado em decorrência da nova lei. “A partir de Belo Horizonte é complicado fazer esse contato. Quem comercializa os filmes são as distribuidoras, que estão de olho na nova demanda de mercado, ampliando suas carteiras e ficando mais agressivas nesse setor. Estou conversando com um distribuidor paulista, que está querendo representar todos os filmes da Quimera”, explica ela. Simone comenta que cada venda de filme é realizada por um prazo e um número de exibições prevista por contrato. “O que venho sentindo é que os novos contratos estão aumentando o número de exibições e o prazo de licença (a média era de dois anos e oito exibições). É uma forma de os canais se protegerem e cumprirem a cota”, acrescenta. Recentemente, ela vendeu o filme Pequenas histórias (2007) para oito exibições em 36 meses, para a TV Aparecida, do interior de São Paulo. 

Maior produção, mais interesse

A programação nacional está em destaque até em espaços que não entram na obrigatoriedade prevista por lei. O NOW, serviço de TV sob demanda da Net, maior operadora de TV paga do país, está oferecendo ao assinante grande oferta de longas-metragens brasileiros. Em torno de 100 filmes de sucesso recentes, como O palhaço e E aí, comeu?, a clássicos da cinematografia nacional, como Todas as mulheres do mundo (1967), e até as populares pornochanchadas dos anos 1970 (um dos destaques é o filme As massagistas, de 1976). “A nova lei não influencia no conteúdo do video on demand, mas acreditamos que como tem aumentado a produção de conteúdo nacional por meio das cotas, aumentará também o interesse”, afirma Alessandro Maluf, gerente de produto da operadora.

CIÊNCIA » Humor musical - Bruna Sensêve‏

Pesquisadores portugueses criam software que organiza as músicas de uma playlist de acordo com a emoção que transmitem. Assim, o usuário pode escolher, por exemplo, uma seleção só de canções felizes, ou, se preferir, que causem medo e tensão 


Bruna Sensêve
Estado de Minas: 23/11/2012 

Desde que vinis, fitas cassete e até mesmo CDs viraram objetos de colecionadores, o número de músicas em um acervo pessoal foi absurdamente multiplicado. Hoje, a discografia de um artista consagrado cabe no bolso e pode ser obtida em poucos minutos de download. Com esse avanço tecnológico, nova necessidade surgiu: uma forma inteligente de montar listas de reprodução. A tarefa de visualizar todas as possibilidades, lembrar-se da sonoridade de cada música e combinar esses fatores com o objetivo final de uma playlist tornou-se uma função mais próxima ao processamento rápido de um computador que dos indecisos e vacilantes cérebros humanos. Para ajudar nessa tarefa, pesquisadores da Universidade de Coimbra, em Portugal, estão desenvolvendo o MOODetector, projeto que, apesar de não estar finalizado, já foi premiado.

O software — cujo nome é formado pela junção das palavras inglesas mood (humor) e detector (mesmo significado em português) — permite catalogar músicas de acordo com os sentimentos que elas transmitem. Na prática, ele permitirá o rastreamento de obras em longas listas de acordo com o perfil desejado. O invento poderá ser útil tanto para o usuário comum quanto para empresas, como uma loja de departamentos. 

“A possibilidade de realizar pesquisas baseadas em conteúdo cria oportunidades também nas indústrias de publicidade ou games. Na produção cinematográfica, por exemplo, seria mais fácil procurar músicas de acordo com uma cena que se pretende criar, instigando medo, revolta, alegria ou outro tipo de emoção no espectador”, afirma o líder da pesquisa, Rui Pedro Paiva, professor do Departamento de Engenharia de Computação da Universidade de Coimbra. Na indústria dos videogames e na publicidade, o uso seria semelhante, com a possibilidade de procurar músicas para aplicar em momentos específicos de forma a aumentar a tensão e marcar um momento de felicidade ou de revolta.

Protótipos Para facilitar a vida do usuário, contudo, o grupo tem tido muito trabalho. As pesquisas, os cálculos e os testes para gerar o algoritmo perfeito foram iniciados em 2010 e continuam. Até o momento, dois protótipos foram desenvolvidos. O primeiro baseia-se em modelos de emoções contínuos, ou seja, nele, as emoções são vistas como pontos de um plano bidimensional posicionados em dois eixos: a valência e a ativação. A valência está relacionada com o tipo de emoção: positiva ou negativa. Uma música alegre tem valência positiva, enquanto uma melancólica, negativa. A ativação refere-se à energia presente na música: canções calmas têm baixa ativação, e as vibrantes, altas.

Paiva salienta que o modelo, na verdade, acaba sendo tridimensional. Existe um terceiro fator designado habitualmente por dominância de potência que está também associado ao tipo de emoção. Por exemplo, medo e agressividade correspondem a uma valência negativa e uma ativação positiva. No entanto, ambos podem ser distinguidos pela dominância: o medo está associado à passividade (dominância negativa), e a agressividade à atividade (dominância positiva). “No entanto, atendendo a complexidade que um modelo tridimensional acarreta para visualização e pesquisa de música, optamos por simplificar e utilizar a versão bidimensional, que é suficiente na maioria dos casos, tal como defendem vários especialistas em psicologia musical.”

O segundo protótipo, que deve ser integrado ao primeiro, baseia-se em modelos de emoção nomeados discretos. Nele, as músicas são classificadas com base em adjetivos: alegre, triste, melancólica, excitante. Foi com esse modelo que o algoritmo alcançou o melhor resultado no concurso Mirex, no qual diversos softwares são testados quanto à precisão que conseguem atingir ao relacionar uma música e um sentimento. Apesar do sucesso no concurso, a precisão de 68% alcançada pelo dispositivo mostra que ainda existe um longo caminho a ser percorrido.

Os desenvolvedores consideram a utilização do sistema bastante intuitiva. Primeiro, é necessário importar as canções para a biblioteca do aplicativo. A partir daí, o processo de classificação emocional ocorre automaticamente. “À medida que as músicas vão sendo classificadas, elas são adicionadas à biblioteca e colocadas no plano bidimensional. A partir do momento que há músicas na biblioteca e no plano, o usuário pode selecionar a sua playlist com base no conteúdo emocional desejado”, explica Paiva.

Cultura Fernando Gomes, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) especializado em inteligência artificial, explica que o sistema lembra o usado hoje para detectar a clonagem de telefones celulares e cartões de crédito. Perfis de uso desses equipamentos são traçados especificamente para cada usuário, da mesma forma que as músicas respeitam uma certa padronagem para se relacionar com determinado sentimento. No caso dos celulares e dos cartões, se o uso fugir ao que normalmente é registrado no perfil, a empresa contata seu cliente. “Essa metodologia não é muito nova e já está em uso. O grande diferencial é ser aplicado para a categorização de músicas”, avalia o brasileiro, que não participa do desenvolvimento do MOODetector.
Na opinião de Nazareno Andrade, professor do Departamento de Sistemas de Computação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), dois pontos ainda precisam ser considerados pelos pesquisadores de Coimbra. Em primeiro lugar, não foi abordado em todos os estudos de desenvolvimento desse tipo de sistema como lidar com a heterogeneidade das músicas em diferentes países. 
“Normalmente, eles lidam com o pop americano e com o público estadunidense. Essa classificação claramente depende do contexto cultural das pessoas. Talvez a melancolia do samba possa soar menos triste para o brasileiro do que para um estrangeiro”, aponta.

Outro fator é a análise das letras das músicas. Na internet, é possível encontrar diversos bancos de dados de letras de canções e muitos desenvolvedores já trabalham com a possibilidade de categorizar músicas pelo conteúdo de suas letras, mas, segundo Nazareno, ainda não foi possível chegar perto de resultados consistentes. “Há pesquisas tentando usar isso para entender o humor e o sentimento. O processamento de linguagem natural é promissor, como aquele que usamos para fazer busca em documentos. Seria possível achar uma combinação de palavras que façam uma música ser triste, romântica ou raivosa.”

Técnica menos invasiva contra a hérnia de hiato - Paloma Oliveto‏

Procedimento criado por médicos brasileiros reduz em pacientes com refluxo os riscos de sangramento e de infecção após cirurgia. Intervenção tem cortes menores 

Paloma Oliveto
Estado de Minas: 23/11/2012 

Sensação de queimação no peito, regurgitação e azia são incômodos bem conhecidos de quem sofre de refluxo gastroesofágico. A culpa é do mal funcionamento do esfíncter inferior esofágico, válvula muscular que evita o retorno do bolo alimentar. Uma das causas do problema é a hérnia de hiato, situação em que uma parte do estômago avança pelo diafragma, podendo provocar úlceras e, em casos mais graves, câncer. Quando o paciente não responde mais ao tratamento convencional, baseado em medicamentos e mudanças de hábitos (veja infográfico), a solução pode ser a cirurgia. 

Ao contrário do que se imagina, um procedimento no aparelho digestivo não exige a abertura do abdômen do paciente. Com a videolaparoscopia, técnica realizada com o auxílio de uma câmera, são feitas pequenas incisões para o acesso dos instrumentos cirúrgicos, enquanto os médicos se guiam pelas imagens que aparecem em um monitor. Essa intervenção pode ser executada com cortes ainda menores, de acordo com dois brasileiros que apresentaram a minilaparoscopia para a hérnia de hiato durante o primeiro Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, realizado há duas semanas em São Paulo. 

Os médicos Angelo Loss e Carlos Marins afirmam que não se trata de uma nova cirurgia, mas da adaptação da já consagrada videolaparoscopia. “Conseguimos fazer a mesma técnica, mas traumatizando menos o paciente, o que ajuda paraa recuperação mais rápida”, esclarece Loss, que realizou quatro cirurgias minimamente invasivas para hérnia de hiato no Rio de Janeiro, nos hospitais Quinta d’Or e São Vicente. Em menos de 24 horas, o paciente pode ir para casa e passados sete dias as cicatrizes são praticamente imperceptíveis. “Como as incisões são pequenas, não é preciso dar pontos, usamos apenas a ponta do bisturi para fechá-las. O resultado estético é muito bom”, conta o médico Carlos Marins.

Na videolaparoscopia tradicional, são feitas cinco incisões de 5mm a 1,2cm, por onde os médicos introduzirem os trocateres, tubos pelos quais passam os instrumentos cirúrgicos. O corte maior é no umbigo, que serve de acesso à câmera. Na minilaparoscopia, além da incisão umbilical, os cirurgiões fazem três cortes com tamanhos que variam de 2mm a 3mm. Angelo Loss explica que a abertura no umbigo, de 1cm, segue o princípio do portal único: nela, além da câmera, entra um trocater, que na cirurgia laparoscópica convencional seria posicionado em outra parte da barriga, exigindo uma incisão a mais. 

“O trauma na parede do abdômen é menor. Tradicionalmente, o cirurgião usa um afastador de fígado para fazer a válvula antirrefluxo. Com os trocateres mais finos, usamos fiozinhos ou hastes”, relata Marins. Além do menor tempo de recuperação e da vantagem estética, os riscos de infecção e de sangramento diminuem, garantem os cirurgiões. “Hoje, a videolaparoscopia é o procedimento escolhido para a grande maioria das patologias cirúrgicas dos órgãos intraabdominais, sobretudo do aparelho digestivo e dos órgãos anexos. Com a rápida evolução dos equipamentos e tecnologias cirúrgicos, inclusive a robótica, a tendência da cirurgia videolaparoscópica é se tornar cada vez menos invasiva”, avalia Isaias Neto, cirurgião geral e do aparelho digestivo e videolaparoscópico do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

Outras aplicações A minilaparoscopia, desenvolvida na década de 1990, é aplicada em outras situações, como problemas ginecológicos, obesidade, correção de hérnia iguinal, retirada de vesícula e de tumores no cólon. “Agora, estamos começando a transportar esse conceito para cirurgias que já fazíamos”, diz Angelo Loss. Ele destaca, contudo, que, em relação à hérnia de hiato, nem todo paciente poderá se beneficiar do procedimento. “Cada caso precisa ser avaliado. Tem pessoas que não vão conseguir por questões anatômicas; o fígado, por exemplo, pode ser muito grande, o que inviabiliza a minilaparoscopia”, esclarece.

O cirurgião Isaias Neto lembra ainda que nem todas as pessoas que sofrem de refluxo gástrico têm hérnia de hiato. Daí a importância de analisar cuidadosamente a indicação cirúrgica. “Quando bem indicada, a cirurgia proporciona excelentes resultados, mas é bom ressaltar que pode haver refluxo mesmo sem a presença da hérnia hiatal. Os pacientes com indicação cirúrgica têm de ser bem avaliados no pré-operatório. Além da endoscopia, é muito importante fazer a pHmetria (exame que mede a quantidade de ácido que flui do estômago para o esôfago e a permanência do líquido no órgão) e a esofagomanometria (o teste de imagem avalia as contrações musculares), além de outros exames de rotina”, afirma.

Implante de anel magnético alivia sintomas

Três estudos apresentados na 77ª Reunião Científica Anual do Colégio Americano de Gastroenterologia, que ocorreu na última semana de outubro, em Las Vegas, demonstraram a eficácia de uma técnica alternativa à cirurgia para o tratamento do refluxo endogástrico resistente a medicamentos. Trata-se do implante de um anel de titânio, composto por bolinhas magnéticas, aprovado em março pelo FDA, órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos. A Clínica Mayo, da Flórida, foi uma das 14 instituições de saúde americanas a participar do estudo clínico do dispositivo e a primeira a realizar o procedimento depois da autorização. 

O anel flexível é colocado ao redor da junção entre o estômago e o esôfago e controla o movimento do esfíncter esofágico inferior. A atração magnética das esferas é suficientemente forte para evitar a passagem do líquido ácido, mas permite que o bolo alimentar chegue normalmente ao estômago. “Os resultados do estudo clínico que levou à aprovação do dispositivo foram surpreendentes quando comparados a outros tratamentos de refluxo gastroesofágico. O sistema oferece um controle eficaz do problema, com efeitos colaterais limitados e, até agora, um excelente histórico de segurança”, afirmou, em um comunicado à imprensa, o chefe do Departamento de Cirurgia da Clínica Mayo, Daniel Smith. “Espero que esse dispositivo mude o jogo no tratamento do refluxo para pacientes que já não respondem aos remédios”, acrescentou Smith, que realiza cerca de 200 cirurgias anuais para a correção do problema. 

No encontro do Colégio Americano de Gastroenterologia, Michael Crowell, pesquisador da Clínica Mayo, e Edy Soffer, da Universidade do Sul da Califórnia, apresentaram dois estudos que avaliaram a melhora dos sintomas e a redução do uso de antiácidos em 25 pacientes que se submeteram à técnica. Eles constataram que 77% das pessoas não sofreram mais episódios ou tiveram uma melhora de 50% depois de 12 meses do implante. Em uma escala que mede a qualidade de vida de pessoas com refluxo, os pacientes submetidos à intervenção reportaram um incremento estatisticamente significativo, disseram os autores. 

Em um estudo separado e independente, Arjan Bredenoord, do Centro Médico Universitário de Utrecht, de Roterdã, na Holanda, constatou que 91% dos pacientes submetidos à mesma técnica não precisaram mais tomar medicamentos antiácidos. A pesquisa constatou também uma melhora na qualidade de vida e uma tendência de equilíbrio do pH esofágico. (PO)

TV PAGA

Estado de Minas - 23/11/2012

Quem quer dançar com Dani Suzuki?

Formada em balé clássico e filha de uma professora de dança, Daniele Suzuki (foto) está de volta ao Multishow, com a estreia hoje, às 21h30, de Vai dançar. No programa, 24 b-boys vão disputar um prêmio de R$ 20 mil. Além das batalhas entre os participantes, o assinante poderá acompanhar os ensaios e aprender alguns passos básicos. DJ Marlboro será o convidado especial desta noite.

Danilo Caymmi relembra 
a emoção do primeiro LP


Da dança para a música é um pulo só. Às 20h45, no Canal Brasil, o programa O som do vinil vai analisar o álbum Cheiro verde, que Danilo Caymmi gravou em 1977. Nesse seu primeiro disco solo, o músico, cantor e compositor lançava as canções Botina, Juliana e Mineiro, além da faixa-título.

Washington Olivetto vai 
encarar Fernanda Young


No GNT, Fernanda Young retoma o programa Confissões do apocalipse, às 20h30. A apresentadora recebe convidados famosos pra flar sobre o fim do mundo, previsto pelo calendário maia, indica que tudo vai acabar em 2012. O publicitário Washington Olivetto é o cara da vez.

Documentarista resume 
seus 50 anos de carreira 


Em Fifty, o lendário documentarista norte-americano Warren Miller reúne em apenas um filme seus 50 anos de carreira com uma variedade de esquiadores e snowboarders olímpicos explorando os locais mais exóticos do mundo. Como a descida de um vulcão no Equador e as íngremes montanhas dos Alpes na França e na Áustria. Confira às 23h, no canal Off.

NatGeo mostra de novo
os horrores do nazismo


Por falar em documentário, o NatGeo apresenta esta noite mais três produções sobre Adolf Hitler e a 2ª Guerra Mundial em Os horrores do nazismo. Na verdade são reprises, começando às 21h45: “O abajur de pele humana”, “Os fantasmas do Terceiro Reich” e “Prisioneiros do Holocausto”.

Cinema brasileiro ganha 
destaque na programação


No pacote de filmes, o Megapix vai abrir o sinal para todos os assinantes da Net de hoje ao dia 2, para uma série de estreias, como a da comédia Muita calma nessa hora, de Felipe Joffily, esta noite, às 22h. No Canal Brasil, As filhas do vento, de Joel Zito Araújo, é o cartaz da Mostra RioFilme, às 22h. Já às 23h, no SescTV, Quase dois irmãos, de Lúcia Murat, dá sequência ao especial Ser negro no Brasil o que é?. O cinemão de Holywwod contra-ataca com King Kong e Jurassic Park 3, em sessão dupla no Universal Channel, a partir das 20h. Já o Telecine Premium vem com a estreia do terror A hora da escuridão, às 22h. Melhor faz o Futura, com Canção de Primavera, de Goran Paskaljevic, às 22h. E a Cultura, com a versão dublada de Teza, também às 22h. Outra boa dica para hoje é o drama A rainha, às 20h, no A&E.

Aids impacta indústria da pornografia


Atores héteros sabiam que a doença era mais comum entre gays e viciados em drogas, mas quem filmava se preocupava


Estúdios passaram a filmar cenas somente com preservativo, mas a prática caiu após uma clínica acelerar testes
DONALD G. MCNEIL JR.DO ‘NEW YORK TIMES’O casal britânico formado por Suze Randall e Humphry Knipe é um dos pioneiros do pornô no sul da Califórnia. Randall, 66 anos, ex-enfermeira e ex-modelo, tirou fotos nua para a página três do jornal "The Sun" e se tornou a primeira fotógrafa da equipe da "Playboy" e, mais tarde, da "Hustler". Ela passou para os filmes de 16 mm e agora tem um famoso site de sexo explícito, Suze.net. Knipe, escritor e roteirista, é seu gerente de negócios.
Holly, a filha, também faz parte do negócio. No mês passado, ela dirigiu um filme pornográfico na remota fazenda da família nas montanhas acima de Malibu.
Eles se lembram da torrente de medo quando os artistas começaram a morrer de Aids na década de 1980.
"Era de petrificar", disse Randall. "Você não quer ser o responsável por alguém fazer amor e depois sofrer com uma morte demorada. A doença acabou com a graça da coisa."
O primeiro teste para Aids foi lançado em 1985 e o setor o adotou, mas não com muita eficácia.
"A gente tinha o 'Furgão do Sangue' na escolha do elenco", contou Knipe. "Era uma ambulância que tirava sangue, mas o resultado só saía depois de duas semanas."
Para piorar, os primeiros testes eram para anticorpos do vírus que só se desenvolviam meses após a contaminação.
HETEROSSEXUAIS
Os atores heterossexuais sabiam que a doença era mais comum entre homens gays e viciados em drogas, mas quem fazia filmes gays e heterossexuais os preocupava. John C. Holmes, por exemplo, o mais famoso ator daquela época, também fez filmes gays. Ele teve a aids diagnosticada em 1985, murchou até pesar 40 quilos e morreu três anos mais tarde.
"Éramos um setor pequeno e fofoqueiro", disse Knipe. "Quando se ficava sabendo que um cara era bi ou tomava drogas, nenhuma garota trabalhava com o sujeito."
Alguns produtores, entre eles o casal, pararam de filmar cenas de penetração.
Alguns atores mudaram de hábito.
Nina Hartley, enfermeira diplomada e atriz desde 1984, disse que não deixa um ator ejacular dentro dela desde 1986. "Simplesmente é arriscado demais", declarou.
Os filmes pornôs costumam terminar com ejaculação sobre a atriz; embora as feministas considerem isso aviltante, para Hartley, esse "recurso" salvou dezenas de vidas entre 1984, quando a Aids passou a fazer parte do cenário, e 1998, quando foi imposto o teste regulamentado pelo setor.
Naquele ano, 1998, aconteceu o maior escândalo da área. Até então, os produtores aceitavam resultados de testes no papel de muitos médicos. Então, uma mulher após a outra começou receber testes positivos para o HIV. Sharon Mitchell, ex-atriz com doutorado em sexualidade humana e capacitada a coletar amostras de sangue, foi contratada pelo setor para investigar o caso. Ela descobriu que as oito mulheres tinham feito cenas de sexo anal com o ator Marc Wallice, com quem a própria Mitchell já havia trabalhado.
Durante entrevista, ela contou que fez os produtores de Wallice o atraírem a sua sala com uma oferta de US$ 10 mil. "Então, nós praticamente o sequestramos e eu tirei o sangue dele. O resultado chegou com uma carga viral muito alta."
Durante coletiva de imprensa na clínica Adult Industry Medical, em Sherman Oaks, Califórnia, aberta por ela com o apoio do setor, ela apontou Wallice como o provável "paciente zero".
RESULTADO ALTERADO
Em entrevistas dadas na época a publicações ligadas ao entretenimento adulto, Wallice negou acusações de haver mudado o resultado positivo de uma clínica obscura de Burbank para negativo.
Os estúdios passaram a filmar cenas somente com preservativo, mas a prática caiu quando a clínica de Mitchell acelerou os testes.
O consultório chegou a fazer 1.200 exames por mês e contava com um banco de dados que poderia ser consultado pelos produtores.
Ela se recorda de haver examinado Darren James, em 2004, após este ter filmado no Brasil e, novamente, 26 dias mais tarde. O primeiro teste deu negativo, mas segundo Mitchell, o ator não parecia bem.
"Eu pedi para ele parar de trabalhar, mas ele ejaculou dentro de 13 mulheres. Quando soube disso, logo vi que entre três e cinco delas testariam positivo, e três estavam infectadas."
Foram as últimas transmissões confirmadas no setor. Desde então, James apoiou a campanha para tornar as camisinhas obrigatórias nos sets de filmes pornográficos.
Então, no ano passado, o banco de dados da clínica foi invadido por hackers; os registros médicos, nomes e endereços de centenas de artistas foram publicados na internet, provocando um furor. Os atores ameaçaram processos por invasão de privacidade e o Estado determinou que Mitchell obtivesse um novo alvará para a clínica. Em vez disso, ela a fechou.

    Comissão acusa agentes da ditadura por cinco mortes


    Grupo que investiga período militar divulgou ontem seus primeiros textos
    Documento elaborado por Claudio Fonteles liga Fiesp à produção de armas para militares que derrubaram Goulart
    RUBENS VALENTEMATHEUS LEITÃODE BRASÍLIAO coordenador da Comissão da Verdade, Claudio Fonteles, divulgou ontem textos que acusam 11 agentes do Estado, militares e civis, pela morte sob tortura de cinco militantes de esquerda durante a ditadura militar (1964-1985).
    Com base numa análise de três peritos da Polícia Civil de Brasília que colaboram com a comissão, ele também afirmou que o guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969) foi morto sem esboçar reação ou tentar pegar sua arma, ao contrário da versão oficial.
    Ele atribuiu a responsabilidade pela morte ao general Milton Tavares (1917-1981), ex-chefe do CIE (Centro de Informações do Exército): "De tudo, resta claro que Marighella foi eliminado por agentes públicos do Estado, sob a supervisão do general Milton".
    Fonteles divulgou ontem, no site da comissão, 11 textos sobre episódios diversos da ditadura. É a primeira vez que a comissão torna públicos textos produzidos por algum de seus integrantes. Para Fonteles, a intenção é "abrir amplo espaço de diálogo, visando enriquecer essa pesquisa inicial com sugestões e críticas".
    Os principais documentos citados por Fonteles já foram objeto de reportagens jornalísticas, estudos acadêmicos e livros. Com seus textos, ele antecipa conclusões que a comissão poderá vir a adotar.
    Ele afirmou que o metalúrgico Manoel Fiel Filho (1927-1976), o militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) Joaquim Câmara Ferreira (1913-1970), o padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto (1940-1969), o engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira (1944-1971) e o sargento da Aeronáutica João Lucas Alves (1935-1969) morreram sob tortura por agentes do Estado.
    No caso de Câmara Ferreira, cita o envolvimento do delegado Sérgio Paranhos Fleury, do extinto Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo.
    Fonteles disse que agentes e médicos legistas encobriram a morte de Aldo de Sá Brito Souza Neto (1951-1971), da ALN. Documento citado por Fonteles diz que quando a família foi reclamar o corpo, militares afirmaram que Aldo estava vivo, e mostraram o corpo de outra pessoa.
    Fonteles disse ainda que houve obstrução do Ministério da Justiça na apuração da morte do padre Silva Neto.
    ARMAMENTOS
    Em outro texto, Fonteles relacionou a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) à produção de armas para o movimento de militares que derrubou o presidente João Goulart, em 1964. Fonteles citou relatório confidencial produzido pelo SNI (Serviço Nacional de Informações), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, que descreve a criação do GPMI (Grupo Permanente de Mobilização Industrial) no dia 31 de março de 64, data do golpe militar.
    Tal órgão, segundo o documento, teve a função de "fornecimento de armas e equipamentos militares aos revolucionários paulistas". Procurada pela Folha, a Fiesp não havia se manifestado até a conclusão desta edição.
    Fonteles apontou: "Portanto, a Fiesp na data mesma da eclosão do golpe militar, que em nosso país redundou no Estado ditatorial-militar, celebrou 'a primeira tentativa de união industrial-militar', sob o fundamento de que 'não é possível existir qualquer poderio militar sem uma indústria que faça esse poderio'".
    A tese não é inédita e foi abordada em estudos acadêmicos sobre as relações entre os militares golpistas e setores da sociedade civil.
    Um total de 75 documentos produzidos pelo GPMI está hoje sob guarda da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

      Hora do Café



      HORA DO CAFÉ      ALVES

      Alves

      Quadrinhos


      CHICLETE COM BANANA      ANGELI

      ANGELI
      CHICLETE COM BANANA      ANGELI

      ANGELI
      PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

      LAERTE
      DAIQUIRI      CACO GALHARDO

      CACO GALHARDO
      MUNDO MONSTRO      ADÃO

      ADÃO
      PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

      ALLAN SIEBER
      PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

      ALLAN SIEBER
      GARFIELD      JIM DAVIS

      EUA podem cortar US$ 50 bilhões da ciência


      RAFAEL GARCIA

      EM WASHINGTON

      Barack Obama foi o candidato preferido dos cientistas na última eleição presidencial dos EUA e quase não ouviu críticas vindas da comunidade de pesquisa durante a campanha.
      Antes mesmo de iniciar seu segundo mandato, porém, o presidente e seu partido já sofrem pressão do meio acadêmico para evitar uma catástrofe iminente: um corte de US$ 50 bilhões no orçamento federal dedicado à ciência.
      Esta redução, uma queda de 17,2%, é aquilo que os recursos de pesquisa de fins não-militares devem sofrer nos próximos cinco anos caso os cortes de verbas necessários para equilibrar as contas do governo poupem a pesquisa e o desenvolvimento na área de defesa.
      Atingindo o país que detém um quinto da produção científica do mundo, valor do corte equivaleria a cerca de cinco vezes o do acelerador de partículas gigante LHC.
      Essa estimativa de redução saiu de uma análise da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que calculou quanto o orçamento federal de ciência deve perder se o contigenciamento -os cortes draconianos de verba previstos para iniciarem 2013- atinjam com mais força a área militar.
      Se os cortes forem equilibrados, ainda assim a fatia abocanhada pelo contigenciamento seria de US$ 22 bilhões (veja gráfico nesta pág.). O melhor cenário -um no qual o orçamento de pesquisa militar e civil seria compensado por cortes em outras áreas- seria o de manter os níveis de gastos equivalentes aos de 2012.
      Isso significaria desistir da curva de crescimento no investimento em ciência que se desenhou na virada do milênio. Os gastos retrocederiam ao nível de 2002, quando foram investidos US$ 60 bilhões.
      Como esse teto já foi fixado pela Lei de Controle do Orçamento no ano passado, sobra pouca margem de manobra para melhora a não ser a gangorra dos gastos militares e civis.
      "Ainda resta algum interesse de certos grupos, sobretudo na Câmara dos Representantes [controlada pelo Partido Republicano], em proteger o lado da defesa na equação e mover parte ou todos os cortes para o lado não-defesa", afirma Matt Hourihan, autor do relatório da AAAS sobre a situação de financiamento à ciência. Essa situação pode mudar até 2017, porém, periodo de vigência do contingenciamento. "Quaisquer decisões futuras vão depender de quem controla a Casa Branca, o Congresso, as comissões de orçamento e como suas prioridades vão evoluir."
      O Partido Democrata, de Obama, cuja candidatura recebeu o apoio de 68 cientistas vencedores do prêmio Nobel, deve sofrer imensa pressão agora para usar todas as suas cartas na tentativa de evitar o pior no corte de verbas para pesquisas não militares.
      "Os cortes de orçamento draconianos embutidos no abismo fiscal fazem dano generalizado à pesquisa e ao desenvolvimento, bem como à proteção e à regulação ambiental" diz Angela Anderson, uma das diretoras da UCS (União dos Cientistas Preocupados). A entidade está engajada agora em fazer pressão para evitar que, além da ciência, a política de energia dos EUA sofra com os cortes.
      Os números dos cortes no primeiro ano do período de contingenciamento devem ser negociados no Congresso dos EUA até o fim do ano.
      CAPACIDADE OCIOSA
      Com uma redução da verba americana para pesquisa, seria natural que cientistas em países em desenvolvimento passassem a se preocupar também. Muitas das oportunidades de trabalho para grupos sem verba surgem de programas de colaboração em grandes projetos internacionais. Há dinheiro americano em quase todos os megaprojetos de ciência.
      No Brasil, porém, o secretário de políticas e programas de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre, diz não estar preocupado.
      "Já estamos distantes do ponto em que a colaboração com os EUA fazia diferença importante no conhecimento cientifico brasileiro", disse o cientista. Para ele, uma queda grande no investimento americano em pesquisa, se ocorrer, pode ter até o efeito contrário, porque a comunidade acadêmica passaria a ter uma "capacidade ociosa", e buscaria ajuda fora para preenchê-la. "Como o Brasil tem tido recursos para participar de colaborações com seus meios próprios, menos recursos na mão de pesquisadores norte-americanos significaria mais oportunidades de colaboração."

      Cientistas veem bom momento para avanço americano na política do clima

      RAFAEL GARCIA
      EM WASHINGTON

      Se há pouca chance de o crescimento do orçamento federal de pesquisa ser retomado nos EUA, ao menos uma outra demanda da comunidade científica parece estar num momento favorável: o avanço na política para o aquecimento global.
      Após sua reeleição, Barack Obama já mencionou duas vezes que promete retomar a agenda com mais força. A avaliação dos pesquisadores é que hoje há uma parcela maior do eleitorado que vê a mudança climática como problema grave, e isso ajudará o presidente em medidas mais concretas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
      O problema, claro, ainda é a maioria republicana na Câmara dos Representantes.
      "Certamente, há alguns congressistas que não vão querer sentar-se à mesa para discutir esse tipo de iniciativa, mas acho que há uma oportunidade maior nos próximos anos para tratar da mudança climática", diz Joanne Carney, diretora para assuntos legislativos na AAAS.
      Segundo ela, diminuiu o medo de que a política ambiental prejudique a economia, e algumas propostas para promover a redução de emissões já tem maior aceitação. "Soluções como a taxa de carbono podem ser um caminho que eles vão considerar."
      Obama explorou pouco durante a campanha as suas duas principais iniciativas para reduzir as emissões de gases-estufa: regras para banir a produção de carros que bebem muito combustível e o veto a novas usinas a carvão que emitem emita mais de 450 kg de CO2 para cada megawatt-hora de energia elétrica gerada.
      A segunda medida, na prática, foi uma abertura para inundar o mercado de energia com gás de xisto, menos poluente que o carvão, e descrito por sua administração como um "combustível de transição" para as energias renováveis.
      "O problema é que estamos descobrindo cada vez mais coisas preocupantes sobre a extração de gás de xisto", diz Angela Anderson, da UCS. "Às vezes ela prejudica a qualidade e a disponibilidade da água e também libera gás metano, que é um potente gás de efeito estufa. O gás de xisto precisa de um arcabouço regulatório mais rígido."
      Esse combustível barato é visto como um problema também por prejudicar a inserção de mercado de energias renováveis como eólica ou solar.
      A união de cientistas, porém, defende que o presidente comece a atacar as emissões pelo lado financeiramente mais fácil, pressionando o fechamento de usinas a carvão subsidiadas que não produzem mais energia a preços competitivos.
      Cientistas também acreditam que Obama terá mais espaço para negociar a entrada dos EUA num sonhado acordo global com metas de redução de emissões.
      "É o segundo mandato dele, e ele não vai ser reeleito, então não tem mais compromisso em ter posição timida na questão ambiental", diz Carlos Nobre, do MCT. "Só que ele tem de se engajar construtivamente, e não travando a pauta, que tem sido a política dos EUA desde a Rio-92. Não adianta mais os EUA quererem ter liderança só nos debates de economia e de segurança, imaginando que o debate do clima --que tem a ver com tudo isso-- pode ser travado".