terça-feira, 13 de novembro de 2012

O sermão de Dilma aos neopobres - Clovis Rossi


O sermão de Dilma aos neopobres
Presidente cobrará de países ibéricos que não se limitem à austeridade, para que saiam da crise
A presidente Dilma Rousseff prepara-se para fazer um sermão sobre as inconveniências da austeridade excessiva aos governantes de Espanha e Portugal, com os quais se reunirá no fim de semana, durante a 22ª Cúpula Iberoamericana.
O sermão será, em tese, durante o que a linguagem diplomática chama de "retiro", uma sessão em que os chefes de governo/Estado se trancam entre eles, para falar livremente sobre o que lhes preocupa.
Que a crise econômica global é a preocupação central está evidente pelas declarações de Enrique Iglesias, o secretário-geral iberoamericano e uma das pessoas mais informadas sobre essa comunidade: "A cúpula vai estar muito dominada pelo tema da crise mundial e de como, de alguma forma, a relação iberoamericana pode apoiar os países que têm problemas e que são basicamente os da península Ibérica" (Portugal e Espanha).
A julgar pelo que a Folha ouviu na diplomacia brasileira, a intenção de Dilma é a de dizer que os países em crise devem se ajudar eles próprios, com medidas de estímulo à economia, em vez da obsessão com cortes de gastos e aumentos de impostos, como vem sendo a regra.
A presidente não se cansa de dizer coisas do gênero a seus pares do mundo desenvolvido, desde que assumiu. Mas o sermão de agora ocorrerá em um momento em que até o Fundo Monetário Internacional, campeão mundial das fórmulas ortodoxas, vem sugerindo um relaxamento sob pena de o remédio adotado matar o paciente.
O caso da Grécia é, talvez, o mais escandaloso exemplo de fracasso da ortodoxia. O país irá, em 2013, para o sexto ano consecutivo de contração econômica, já encolheu 24% em cinco anos (índice de país em guerra), o desemprego está em inacreditáveis 25,5% e, entre os jovens, na estratosférica altura de 55%, para não falar do aumento do número de sem-teto, das doenças mentais e da taxa de suicídios.
Mesmo que fosse possível ignorar as insuportáveis consequências sociais da ortodoxia, ainda assim o fracasso ficaria evidente nos números que se pretende corrigir com a austeridade: a dívida grega, apesar do calote parcial, irá a 189% do PIB em 2013, contra 175,6% este ano.
É tão dramático o quadro que a revista "The Economist" sugere adotar para a Grécia o modelo de perdão da dívida usado, nos anos 90, para os HIPCs (Países Pobres Altamente Endividados, na sigla em inglês). Eram Estados praticamente falidos, uma comparação humilhante para um membro da União Europeia e que não deixa de ser rico, comparativamente aos HIPCs.
Portugal e Espanha também enfrentam uma situação angustiante, que, na Espanha, deu margem até a um impulso independentista por parte do governo (moderado) da Catalunha, uma das suas regiões mais ricas, impulso a ser testado, de resto, uma semana depois da cúpula de Cádiz.
Na quarta-feira, dois dias antes de o encontro começar, haverá greve geral tanto em Portugal como na Espanha, em novo protesto contra os cortes. A voz de Dilma não será, pois, isolada. Se será ou não ouvida, é outra história.
crossi@uol.com.br

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    Fome depois do treino "é mito", diz médico


    Fome depois do treino "é mito", diz médico
    DE SÃO PAULOA fome depois do exercício é muito mais cultural do que fisiológica, segundo o médico do esporte Marcelo Leitão. "A não ser que a pessoa tenha feito jejum antes, uma hora de exercício não vai esgotar os estoques de energia do corpo. As pessoas têm reservas, principalmente quem precisa perder peso", diz ele.
    Para o médico, a culpa pela sensação de fome pós-treino é da dieta desorganizada. É o que também pensa a nutricionista Luciana Rossi, professora do Centro Universitário São Camilo.
    "Não é algo fisiológico. Depois da atividade física, o sangue vai para os músculos [não fica no estômago]", afirma. Ela é contra dietas restritivas -principalmente associadas à prática de exercícios.
    A nutricionista Heloisa Guarita, especialista em esporte, faz coro. "Dá para emagrecer mantendo uma ingestão normal de calorias [de acordo com as necessidades diárias] e aumentando a prática de exercício."
    Para driblar a fome pós-treino é indicado comer antes e depois da atividade, de acordo com Rossi. Uma hora antes de treinar escolha carboidratos leves, como três biscoitos integrais, um suco de fruta ou uma banana.
    Depois, faça um lanche com carboidrato e proteína: uma ou duas fatias de pão integral, uma fatia de um embutido leve (peito de peru) e queijo. "É interessante comer proteína depois do treino porque ajuda a ganhar massa magra. E, quando a pessoa tiver fome, não será incontrolável", diz Rossi.
    Fracionar a alimentação é uma dica que serve mesmo para quem não faz academia. Além disso, é bom aumentar o consumo de vegetais (cinco porções por dia) e de frutas (três por dia) e trocar carboidratos refinados por integrais. Esses truques aumentam a sensação de saciedade.
    Dietas com menos de 1.200 calorias não devem ser feitas, de acordo com a nutricionista Camila Gracia, do HCor. "É difícil conseguir a quantidade ideal de nutrientes com tão poucas calorias. Em geral, fazemos uma redução de 500 a 700 calorias, dependendo de quanto a pessoa come e de quanto gasta."

      'Emagrecimento sem exercício é insustentável', diz o treinador Atalla


      'Emagrecimento sem exercício é insustentável', diz o treinador Atalla
      DE SÃO PAULO
      ESPECIALISTAS CONCORDAM NUM PONTO: QUEM EMAGRECE SEM EXERCÍCIO PERDE MÚSCULO, ALÉM DE GORDURA, O QUE É UM 'CONTRA'
      O treinador físico Marcio Atalla, que atualmente tenta converter o ex-jogador de futebol Ronaldo aos exercícios, foi enfático ao responder à questão "o que emagrece mais?": "É óbvio que o maior problema da obesidade é o sedentarismo. A alimentação tornou-se importante porque hoje o gasto calórico médio da população é ridículo."
      Segundo ele, regimes sem atividade física são insustentáveis e, a longo prazo, acabam em efeito sanfona.
      "A dieta, sozinha, vai naufragar sempre. Quando você faz só a restrição alimentar, tem que comer cada vez menos para continuar perdendo peso. Com o emagrecimento, o metabolismo vai caindo [ficando mais lento]", afirma.
      Segundo Atalla, isso ocorre porque fazendo só dieta a pessoa perde, além de gordura, massa magra (músculo), tecido que, em repouso, gasta mais energia do que a gordura."Quando a pessoa para de emagrecer, o metabolismo está mais baixo e ela volta a engordar com a mesma quantidade de alimento que ingeria antes."
      Esse, porém, é um ponto controverso. O pesquisador americano Timothy Church, por exemplo, argumenta que o maior efeito do exercício não é aumentar o metabolismo, e sim queimar calorias durante a prática.
      "Não há erro em dizer que o exercício é determinante para manter o peso depois de emagrecer, mas o mecanismo exato de como isso acontece ainda não é compreendido pela ciência", diz o médico.
      Os especialistas concordam no seguinte ponto: pessoas que emagrecem sem se exercitar perdem músculo. Esse seria um 'contra' de aderir apenas à dieta.
      Mas não se sabe o quanto de massa magra é perdida, explica o endocrinologista Bruno Geloneze, do laboratório de investigação em metabolismo e diabetes da Universidade Estadual de Campinas.
      "Depende da genética, do tipo de exercício. Mesmo assim, a maior parte do peso perdido é gordura", diz.
      MAIS MASSA MAGRA
      De acordo com Geloneze, mais importante do que perder peso é mudar a composição corporal. "Emagrecer é diminuir a quantidade de gordura no corpo, não só perder quilos", explica.
      Quem treina pode até ganhar uns quilos porque há um ganho de músculo, que é mais pesado que a gordura.
      Para Atalla, os ganhos da atividade física para a saúde são mais certos e mais importantes do que a diminuição de um número no manequim.
      "Não existe alimentação que faça você ter os ganhos de saúde cardiovascular que o exercício traz. É mais interessante um gordinho ativo do que um magro sedentário", compara.
      Dois estudos publicados em setembro comprovaram que o condicionamento físico conta mais que o peso para a saúde cardiovascular. Uma das pesquisas analisou dados de 43 mil americanos e descobriu que os obesos ativos tinham um menor risco de morte e indicadores de saúde semelhantes aos de pessoas magras. O trabalho foi publicado no "European Heart Journal".

        Malhar ou fechar a boca?


        Malhar ou fechar a boca?
        Suar na academia pode até ajudar a perder alguns quilos, mas as últimas pesquisas mostram que é impossível emagrecer de verdade sem mudar o estilo de alimentação
        Victor Moriyama/Folhapress
        O psiquiatra Volnei da Costa, 79 kg, que perdeu 8 kg em dois anos só treinando "pesado", sem mexer na sua alimentação, posa na academia que frequenta, em São Paulo
        O psiquiatra Volnei da Costa, 79 kg, que perdeu 8 kg em dois anos só treinando "pesado", sem mexer na sua alimentação, posa na academia que frequenta, em São Paulo

        JULIANA VINESDE SÃO PAULO
        Ser fisicamente ativo é se movimentar mais o tempo todo. Não adianta a pessoa treinar uma hora e ficar sentada as outras 23 horas do dia
        Para gastar apenas 500 calorias é preciso fazer 60 minutos de uma atividade de alto impacto. E o esforço pode ir embora em dois pedaços de pizza
        O último round da disputa científica entre dieta e exercício físico (qual emagrece mais?) foi vencido pela mudança alimentar.
        Atividade física até ajuda a perder uns quilos, mas quem está acima do peso -48,5% da população brasileira, segundo o Ministério da Saúde- precisa fechar a boca para ter resultado, de acordo com pesquisas recentes.
        Uma delas, publicada em outubro último no periódico "Obesity Reviews", analisou os resultados de 15 trabalhos. Todos mediram o efeito de atividades físicas, como caminhada ou corrida, em pessoas que não fizeram mudanças na dieta.
        As conclusões não animam. Na maioria dos estudos (que envolveram 657 pessoas e duraram de três a 64 semanas), a perda de peso foi menor do que a esperada.
        "Algumas pessoas conseguem emagrecer bastante, mas, em geral, a prática de atividade física resulta em uma perda de apenas dois ou três quilos", disse à Folha Timothy Church, um dos coordenadores do trabalho. Ele é médico do Centro Pennington de Pesquisa Biomédica, em Louisiana (EUA).
        COMPENSAÇÃO
        Se toda atividade física causa queima energética e se para emagrecer basta ter um saldo negativo (gastar mais do que ingerir), por que a conta nem sempre fecha?
        O trabalho de Church levanta algumas hipóteses. Segundo a principal delas, quem faz exercício acaba compensando a perda de calorias comendo mais. Isso aconteceu em pelo menos dois artigos analisados.
        "Não sabemos por que isso ocorre, estamos estudando melhor agora", afirma.
        Para o médico do exercício Marcelo Leitão, da Sociedade Brasileira de Medicina do do Exercício e do Esporte, é comum as pessoas superestimarem os efeitos da atividade física.
        "As pessoas têm uma noção errada de que se fazem exercícios podem comer o que quiserem. Se você fizer uma hora de atividade e depois tomar uma cervejinha, já recuperou o que perdeu."
        Para gastar 500 calorias (meta diária de quem quer perder meio quilo por semana) é preciso fazer uma hora de atividade de alto impacto, como uma aula de "jump". O esforço pode ir embora em dois pedaços de pizza.
        "Uma hora de caminhada por dia muda indicadores de saúde, mas não necessariamente faz perder peso", acrescenta Leitão.
        FAZENDO AS CONTAS
        "É muito mais fácil cortar calorias do que gastar. As dietas, em geral, são supercalóricas", afirma Julio Tirapegui, bioquímico e pesquisador da Universidade de São Paulo.
        Uma pessoa com sobrepeso pode consumir mais de 3.000 calorias por dia e um obeso chega a 5.000, segundo o médico argentino Máximo Ravenna, autor de "A Teia de Aranha Alimentar" (Guarda-Chuva, 264 págs., R$ 38). "Não tem como compensar isso com exercício. Tem que reduzir pelo menos 40% da ingestão de alimentos."
        Outro ponto a considerar é que o gasto de energia resultante do exercício não é exato: varia segundo o condicionamento físico e as características pessoais (altura, peso, idade). Na dieta, dá para fazer as contas com precisão e cortar calorias.
        Foi calculando tudo que colocava para dentro que Lucélia Bispo, 27, auxiliar administrativa, perdeu 23 quilos em cinco meses, sem exercício. Ela fez uma dieta de pontos de um site especializado.
        "Não deixava passar nada, anotava até uma bala", diz ela, que antes já tinha feito regime, sem sucesso.
        "Sempre dá aquela impressão de que não vamos poder comer nenhuma besteira. Mas aprendi que se for um pouquinho, tudo pode."
        O recorde de Lucélia foi ter perdido 2,3 kg em apenas uma semana.
        Depois de emagrecer bastante, ela passou a fazer uma dieta de manutenção. Hoje está com 71 kg. "Só agora vou fazer academia, porque fiquei com um pouco de flacidez."
        IMPOSSÍVEL NÃO É
        É claro que quem pratica exercícios com regularidade e foge da armadilha da compensação alimentar consegue perder peso.
        Na cabeça do psiquiatra Volnei Costa, 31, nunca passou a ideia de fazer regime: "Gosto muito de comer".
        Quando viu que precisava emagrecer, manteve o cardápio e começou a treinar pesado seis vezes por semana, alternando musculação e exercícios aeróbicos. Em seis meses eliminou oito quilos -passou de 79 kg para 71 kg. Hoje está com 76 kg. "Ganhei massa muscular", diz.
        Abandonar o sedentarismo também foi decisivo para a designer Camilla Pires, 23. Com 21 anos e 85 quilos, ela começou a nadar. A atividade motivou mudanças no cardápio. "Passei a pensar mais no que comia. Estava fazendo muito esforço, não podia desperdiçar."
        Por um ano, ela juntou a fórmula dos sonhos dos especialistas: adotou uma " alimentação saudável" e se mexeu mais. Além da natação, passou a correr. Perdeu 24 quilos. "Para mim, o que fez a diferença foi o exercício, mas também parei de comer compulsivamente ", conta.
        O pesquisador americano Timothy Church, apesar das ressalvas, admite que, com a atividade física, o emagrecimento fica mais fácil. E até dá a receita: 150 minutos de caminhada rápida e 2 dias de treinamento com pesos (20 minutos por dia) por semana.
        Para Franz Burini, professor da Unesp e médico da academia Reebok Sport Club, não existe atividade física ideal. "O melhor exercício é aquele que é feito", afirma. E não precisa passar uma hora na academia para ter resultado. "Ser fisicamente ativo é se mexer mais todo o tempo. Tem pessoas que treinam uma hora e ficam paradas as outras 23."

          Uma sociedade de mercado - Michael Kepp


          OUTRAS IDEIAS
          MICHAEL KEPP - mkepp@terra.com.br
          Uma sociedade de mercado
          Interesses econômicos controlam nossas vidas encorajando o consumismo precoce e a auto-humilhação
          Se valores e experiências compartilhados nos unem, ajudando a forjar uma humanidade comum, as leis deveriam proibir práticas de mercado que enfraquecem esse elo?
          Veja a catarinense de 20 anos que, no mês passado, vendeu sua virgindade por US$ 780 mil (R$ 1,58 milhão) a um japonês por meio de um leilão. Deveria a prostituição de uma pessoa que não é menor de idade ser ilegal? E até que ponto a profissão dela a separa do resto de nós?
          Outra questão envolvendo o corpo humano: o Brasil e outros países deveriam continuar a proibir a venda de órgãos? Se isso for liberado, quem tiver condições econômicas para comprar um coração, um fígado ou um rim desfrutará de vantagens enormes, que enriquecem e estendem a vida e que são negadas ao resto de nós.
          Eis outro privilégio injusto que o dinheiro pode comprar: detentos numa prisão da Califórnia podem pagar US$ 90 (R$ 182) por noite para ficar numa cela mais limpa e silenciosa.
          Mais um caso: em 2005, uma americana recebeu US$ 10 mil (R$ 20 mil) de um cassino on-line para fazer uma grande tatuagem permanente do endereço do site do cassino em sua testa. Uma transação financeira que encoraja a auto-humilhação deveria ou não ser proibida?
          Ainda outro exemplo: em 2001, uma escola pública americana ganhou US$ 100 mil (R$ 203 mil) de um supermercado local e, em contrapartida, mudou o nome de seu ginásio esportivo para "ShopRite (CompraCerta) de Brooklawn Center".
          Ou o caso da escola particular de São Paulo, onde a representante de uma fabricante de absorventes internos deu uma aula sobre educação sexual a alunas de 10 anos e distribuiu seu produto para elas.
          Será que as escolas deveriam ensinar crianças altamente impressionáveis a se tornarem consumidoras?
          Em um livro novo sobre questões desse tipo, "O que o Dinheiro Não Compra", o filósofo americano Michael Sandel argumenta que "uma economia de mercado virou uma sociedade de mercado onde tudo está à venda".
          Existem coisas, como o amor, que o dinheiro não compra. Mas há menor quantidade delas, porque os mercados controlam nossas vidas como nunca antes fizeram, encorajando a auto-humilhação e o consumismo precoce. Dão a quem puder pagar privilégios tão injustos que criam um oceano entre eles e nós, os outros. Isso enfraquece o elo que nos une.

          Só falta falar - Cachorro cabeça - Juliana Cunha


          SÓ FALTA FALAR
          Late
          Lobos não latem, só uivam em situações específicas. O latido canino não é uma forma de se comunicar com outros cães, e sim com humanos. Até quando o cachorro late em direção a outro cão, o que ele quer é avisar você sobre o perigo que aquele animal representa
          Você aponta, ele entende
          Para um ser humano, indicar com o dedo onde está um brinquedo é muito natural. Acontece que só os cachorros parecem entender esse recado. Apontar algo não funciona nem com espécies mais inteligentes, como os chimpanzés
          Lambe
          A loba-mãe regurgita alimentos para que os filhotes lambam, daí deve ter vindo essa mania que o cachorro tem de lamber o rosto do dono. Os cães já perceberam que humanos não vomitam para que eles lambam, mas observaram que os donos gostam desse carinho e mantiveram o ritual
          Compreende palavras
          Um cachorro comum é capaz de armazenar e atribuir sentido a 165 palavras. "Supercães", cachorros de raças mais inteligentes que recebem treinamento específico para a atividade, chegam a decorar 250 palavras
          É como uma criança
          O cão tem uma capacidade cognitiva similar a de uma criança de dois anos, mas ganha dela em várias atividades. É capaz, por exemplo, de entender que um objeto está escondido. Já a criança pensa que um brinquedo escondido deixou de existir

            Cachorro-cabeça - Juliana Cunha


            Cachorro-cabeça
            Seu cão evoluiu só para conversar com você; ele compreende melhor os gestos humanos do que as espécies mais inteligentes, mostram experimentos científicos
            JULIANA CUNHACOLABORAÇÃO PARA A FOLHACachorros conseguem interpretar gestos humanos que não fazem sentido para outros animais inteligentes como golfinhos, focas e cabras.
            Um gesto aparentemente simples como o de apontar para um objeto escondido não é compreendido por seus ancestrais lobos e nem mesmo por chimpanzés, nossos parentes mais próximos.
            Milhares de anos convivendo com pessoas -e dependendo de sua comida para sobreviver- fizeram dos cães especialistas em humanos, como mostram duas pesquisas publicadas neste ano.
            Os estudos -um feito no Instituto de Psicologia da USP, outro no Instituto de Antropologia Evolutiva Max Planck, na Alemanha- chegaram a conclusões semelhantes e complementares.
            A pesquisa alemã comparou a habilidade de cães e primatas em reconhecer pistas humanas para encontrar um alimento escondido. O experimento trabalhou com 20 chimpanzés e 32 cachorros de diferentes raças e idades.
            A ideia era fazer com que eles achassem comida escondida sob uma caixa. Durante o teste, uma pessoa apontava insistentemente para a caixa, usando o indicador.
            Resultado: enquanto os cachorros compreendiam a dica facilmente, primatas encaravam a pessoa com desprezo ou cara de interrogação.
            "Não dá para saber se os macacos não entendem por terem menos capacidade de abstração para essa tarefa específica ou se a questão é que não confiam tanto nos humanos. Cachorros estão acostumados a serem beneficiados por homens, por isso dão mais valor às nossas sugestões", diz Juliane Kaminski, uma das autoras do estudo.
            Mesmo filhotes de cães muito jovens e sem nenhum treinamento foram bem-sucedidos na tarefa. Mais bem-sucedidos do que crianças de até dois anos, para quem um objeto escondido simplesmente deixa de existir.
            No Brasil, a psicóloga Maria Brandão, orientanda de César Ades (maior especialista em comportamento animal do país, morto em março), provou que, além de compreender o gesto indicativo de um ser humano, o cachorro consegue reter a informação por até quatro minutos. Uma capacidade de compreensão e retenção de conhecimento que não era esperada da espécie.
            "Mesmo quando são distraídos com outras atividades, eles se lembram do objeto escondido e voltam para buscá-lo", conta Brandão, que testou sua teoria com 25 cães entre dois e oito anos, de diferentes raças.
            Uma pensamento comum era o de que os cachorros aprendiam esse tipo de truque por meio de treinamento, hipótese que a pesquisadora nega: "Entender um gesto abstrato que o dono faz com as mãos é antes uma habilidade que os cães desenvolveram evolutivamente do que algo ensinado", explica.
            As pesquisas de Kaminski e Brandão fazem coro com outros estudos feitos nos últimos anos destacando como humanos e cães criaram juntos mecanismos de comunicação entre suas espécies.
            Cachorros desenvolveram o hábito de latir somente para se comunicar conosco. Deu certo: humanos entendem se um latido é de medo, alegria ou agressividade em 60% dos casos, segundo pesquisa da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, feita em 2005.
            Em 2008, pesquisadores da University of London provaram que cães tendem a bocejar minutos depois de seus donos. O bocejo contagioso era visto como indicativo de empatia entre primatas.
            Em alguns anos talvez acabem descobrindo que cães são mesmo primatas: só lhes falta o polegar opositor e alguns gramas de cérebro.

              Último suspiro - Denise Fraga


              VIDA REAL
              DENISE FRAGA - denise-fraga@uol.com.br
              Último suspiro
              No portão do cemitério a gordinha guardava os carros chupando picolé e exibindo, feliz, a barriga e as coxas
              Há dois anos, perdi minha avó. Foi uma mulher calada e trabalhadeira. Servia a mesa e ficava em pé, ao lado, sem sentar. Trabalhou a vida inteira atrás de um balcão, junto do meu avô. "Não senta que o freguês não entra" - ele dizia. Acostumou-se a ficar de pé. No fim da vida, foi sentando aqui, sentando ali, cavando seu lugar no sofá, silenciando e murchando como uma plantinha.
              A morte gradativa de minha avó me fez pensar muito na vida e em como deveríamos todos poder ir morrendo assim, lentamente, para que pudéssemos ter mais chances de aprender sobre aquilo que insistimos em não aceitar.
              Percebi um sinal, corri para o Rio e ainda pude ver seu último suspiro. Ver alguém morrer é coisa que não se esquece jamais.
              Minha avó morreu em casa, comigo e minha mãe beijando-lhe as mãos, e nos deu a chance de compreender fisicamente o fim. Minha tristeza foi se diluindo nos seus últimos anos de falência e a beleza de seu crepúsculo foi um presente de vida pra mim.
              Difícil escrever sobre isso pois parece frio, mórbido, distante. Mas resolvi tocar no assunto pela simplicidade da existência que me foi projetada no peito naqueles dias.
              Antes do enterro, precisava ser feita a exumação do corpos do jazigo. Fomos eu e minha mãe -a despeito dos conselhos das tias para que não fôssemos, não era coisa boa de se ver. Mas minha mãe teimou, estavam lá os ossos de seu segundo marido, paixão de sua vida. Confesso que a acompanhei num misto de companhia solidária e curiosidade quase infantil de ver a cena completa, a morte em estado bruto, físico, o pó.
              Não acreditava que iria juntar ao último suspiro de minha avó a exumação dos ossos de meu avô. No portão do cemitério, uma mulata gordinha guardava os carros enquanto chupava um picolé e dançava exibindo, feliz, a barriga e as fartas coxas que transbordavam dos seus microshorts. "Deixa solto!" Cantava alto com Renato Russo ao seu ouvido: "É preciso 'amaaar' as pessoas como se não houvesse amanhã...".
              Foi sob essa trilha sonora que eu e minha mãe assistimos ao início do trabalho dos coveiros. Parecia encomendada. Em poucos minutos, lá estavam os ossos daqueles homens que mal trocavam bom-dia e agora tinham seus restos misturados. Com as lágrimas secas, nos aproximamos estarrecidas pela ironia da vida. Uma barata correu.
              Minha mãe gritou. Apesar de tudo, de barata, ela ainda tinha medo. Lá fora, a gordinha cantava agora um sertanejo. A vida continuava.

              Um dedo-duro no peito - Rosely Sayão


              ROSELY SAYÃO
              Um dedo-duro no peito
              Que medo: vamos mesmo implantar chips nos uniformes dos mais novos para controlar suas vidas
              Memória é uma coisa muito encantadora mesmo. Sua existência é inquestionável e não sei dizer se ela é controlável, administrável.
              Diariamente eu constato isso e hoje vou contar uma dessas lembranças que a minha memória guardou sem que eu soubesse.
              Ela -que parece ter vida própria- decidiu que determinado episódio vivido por mim merecia ser arquivado para que, no momento certo, pudesse reaparecer.
              Há uns seis anos eu estava na casa de um criador de cães porque decidira comprar um filhote.
              Lá estava eu tentando decidir qual filhote levar -escolha das mais difíceis porque pareciam todos iguais.
              Mas, ao mesmo tempo, eu estava bem interessada nas conversas das outras pessoas que estavam ali pelo mesmo motivo que eu.
              Devo reconhecer que eu estava assombrada com o conhecimento que aquelas pessoas demonstravam ter a respeito do comportamento dos filhotes: "Se ele se comporta assim agora, quando crescer será de tal maneira" etc.
              Bem, depois de pouco tempo, uma compradora decidida escolheu o filhote que levaria e pediu que fosse colocado um chip nele.
              Eu, que nunca ouvira nada semelhante, me interessei em saber o que era aquilo, como era colocado no animal e qual a razão para colocar algo chamado chip em um cão.
              Creio que eu buscava informações para saber se eu também deveria querer aquela mesma coisa para o meu filhote.
              Aí a mulher me contou que o microchip ajudaria no caso de ela perder o seu cão e me deu explicações detalhadas sobre o funcionamento daquele dispositivo -explicações essas que minha memória deve ter achado bobagem guardar, porque não me lembro de nada.
              Depois de ouvir atentamente a compradora, decidi que eu não queria aquilo e tive um pensamento.
              Foi a esse pensamento que minha memória deu toda a atenção e só descobri isso dias atrás.
              Pensei, naquela ocasião, se nós chegaríamos ao ponto de instalar essa tecnologia em seres humanos. E esse pensamento me deu medo, devo confessar.
              Mais de seis anos depois desse acontecimento, eu estava lendo o jornal quando uma notícia me chamou a atenção. Uma reportagem anunciava que uma escola em Brasília instalara chips nos uniformes dos alunos do ensino médio para controlar sua presença nas aulas.
              Foi ao ler essa reportagem que minha memória decidiu trazer à tona aquele meu pensamento medroso. E, pelo jeito, meu medo também tinha razão de existir.
              Vamos mesmo implantar chips -hoje nos uniformes, amanhã, sabe-se lá onde- nos mais novos para controlar suas vidas. Nós queremos que eles fiquem na escola: que entrem e saiam no horário certo.
              Se a escola se comunica com os estudantes, se consegue dar sentido ao que ensina, se os ouve, se não decifra o conhecimento por eles, nada disso parece importar tanto. O que importa mesmo é que lá os alunos permaneçam até o sinal ser dado.
              Os pais dos alunos que carregam o chip no uniforme são favoráveis à medida. A diretora, em entrevista, afirmou que serão os pais que decidirão se o chip ficará ou não.
              E os alunos? Ah, esses não estão gostando nem um pouco dessa história de carregar um dedo-duro no peito. Mas será que importa o que os alunos acham?
              De novo, parece que não. Não importa, por exemplo, oferecer a eles a oportunidade de aprender que fazer escolhas significa arcar com as consequências delas; não importa que eles conquistem autonomia, tampouco que aprendam o que é liberdade.
              Em nome da segurança, passamos a acreditar que "povo marcado é povo feliz".

                Música ao longe - Maria Esther Maciel‏

                Estado de Minas - 13/12/2012 

                Hoje, ao ouvir uma ária de Mozart na voz leve e ágil da soprano americana Kathleen Battle, lembrei-me de um casal também americano que conheci há dois anos em Lisboa. Ele, de origem judaica, é maestro e professor de música. Ela, de ascendência grega, é cantora lírica e pintora. Moram em Nova York, mas estão sempre viajando pelo mundo, a passeio ou trabalho. 

                Quando os vi pela primeira vez, estavam no restaurante da Casa do Alentejo, sentados à mesa ao lado da minha. Como demonstravam dificuldade para se comunicar com o garçom, que não falava quase nada de inglês, ofereci-me para ajudá-los no que fosse possível. Em retribuição, convidaram-me para sentar com eles. Foi o começo de uma amizade que ocupou boa parte de minha semana na cidade. Eles estavam hospedados num hotel próximo ao meu e isso facilitou nossos encontros seguintes. Num deles, fomos a uma tasca no Bairro Alto, onde o falante maestro me contou a história de amor dos dois. A essa altura, já tínhamos bebido uma garrafa inteira de vinho, o que talvez o tenha estimulado a me revelar as coisas que relatou nessa noite. Já a soprano, uma mulher ruiva de cabelos longos, não demonstrava incômodo com o entusiasmo amoroso do marido, embora se mostrasse meio encabulada. 

                O que ouvi foi bem interessante. Ele me disse que ainda era casado com outra quando pôs um anúncio no jornal divulgando o processo de seleção de cantores líricos para a orquestra que dirigia. À vaga de soprano inscreveram-se oito candidatas qualificadas, e Martha (é o nome da mulher) foi a sexta a participar da audição. Quando ela entrou na sala, o maestro a achou tímida demais para ser uma solista. Por outro lado, ficou impressionado com seus cabelos vermelhos. Mesmo já tendo escolhido duas entre as candidatas anteriores, resolveu ir até o fim no processo de seleção e pediu que Martha interpretasse uma ária de sua preferência. “Quando ela soltou a voz, me arrepiei todo”, ele relatou. E antes de dizer que não teve dúvidas em contratá-la imediatamente, confessou: “Algo indescritível se passou comigo naquele instante: era como se eu ouvisse a voz de uma deusa; me apaixonei imediatamente por ela.” 

                Logo depois, relatou o quanto foi difícil conquistá-la, já que Martha não admitia se relacionar com um homem que, além de casado, tinha lhe dado um emprego. Um ano se passou sem que nada acontecesse além do trabalho profissional. “Mas minha paixão só crescia”, ele disse. Até que um dia ele a chamou e lhe mostrou um documento: era seu atestado de divórcio, assinado dias antes. “Será que agora tenho chance?”, perguntou. Mas nem assim Martha cedeu. E, para o desconsolo do homem, ainda pediu demissão da orquestra. 

                Três meses depois, entretanto, ela o procurou. Tinha conseguido o posto de solista num grande teatro e agora se sentia livre para um vínculo amoroso com o mestre. Os dois se casaram logo. E em um ano, já estavam trabalhando juntos de novo. Desde então, têm se apresentado em vários concertos  mundo afora. 

                O maestro ainda brincou no fim do relato: “Um dia ela me perguntou se eu não tinha me apaixonado por ela só por causa da voz. E eu disse que não, que o motivo maior de minha paixão tinham sido seus cabelos de fogo.”

                Tereza Cruvinel - Todo-poderoso

                Os advogados de defesa temem que, durante o recesso, o procurador-geral, Roberto Gurgel, apresente novo pedido de prisão imediata dos condenados. E que, já presidente da Corte e responsável pelo plantão, o ministro Joaquim Barbosa acolha o pedido 

                Estado de Minas: 13/11/2012 
                O ministro Joaquim Barbosa chega ao ponto decisivo do julgamento do mensalão, as condenações dos ex-dirigentes do PT, às vésperas de sua posse como presidente da Corte, imantado pela popularidade alcançada no papel de justiceiro. E também desfrutando de um poder quase absoluto, sem precedentes na história do STF, que inibe as expressão do dissenso, salutar e necessário à formação do consenso derivado da pluralidade em órgãos colegiados. Suas repetidas e contundentes manifestações de apego ao “pensamento único”, no caso, o dele, já têm arrancado críticas (ainda comedidas) dos mais eloquentes apoiadores de sua fúria condenatória. 


                Já no início do julgamento, os outros ministros, exceto o revisor Lewandowski, curvaram-se à metodologia que ele impôs, abdicando de discuti-la e de decidirem conjuntamente. Prevaleceu o fatiamento e o julgamento segundo os “núcleos”, em que a acusação dividiu os réus para sustentar a narrativa. Muitas foram as asperezas verbais por ele endereçadas, inicialmente ao revisor, e depois a outros ministros, como a que levou Marco Aurélio Mello a reagir com energia. O atrito de ontem com Lewandowski foi motivado exatamente pelo unilateralismo de sua condução. Sozinho, ele decidiu não concluir a dosimetria dos réus do núcleo publicitário, como seria a sequência natural, colocando em pauta o núcleo político – os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Nenhuma razão para a alteração da ordem foi apresentada. Nenhum ministro, exceto o revisor, questionou. E o revisor reclamou por uma razão óbvia: preparou-se para tratar de um tópico, em que votaria, mas entrou em pauta um outro, no qual não teria papel algum, por ter votado pela absolvição. Mais uma vez, Barbosa não conseguiu dissimular sua implicância com o revisor e atuou como líder de bancada: “Está vendo? Ele quer obstruir de todo jeito”, disse a Ayres Britto, quando Lewandowski retirou-se do plenário. Esta coluna publicou, em 23 de outubro, declaração do presidente do tribunal assegurando que não mandaria recolher os passaportes dos condenados. “Não vejo necessidade de medida tão forte”, disse ele. Não diria isso se a decisão não dependesse dele. Ou do todo. Mas eis que, na semana passada, Barbosa decidiu, sozinho, pelo recolhimento dos passaportes e pela inclusão dos nomes dos condenados numa lista de vigilância a potenciais foragidos da Justiça. Os outros ministros não tossiram.

                Ontem, a presidente Dilma Rousseff alterou a agenda para nela incluir a visita de Barbosa, que lhe foi levar, pessoalmente, o convite para a posse, no dia 22. Dilma cancelou a participação no lançamento do programa Mulheres que inovam, do Brasil sem Miséria. A Barbosa, assegurou presença e teria desmentido que o ex-presidente Lula tivesse lhe pedido para não comparecer. Está certa. Irá como chefe de poder e de Estado. Outra coisa é o que ela pensa como filiada ao PT. Mas a visita, certamente inesperada, porque não constava da agenda distribuída na sexta-feira, não deixou de ser uma forma de constrangê-la. 

                Barbosa está preparando um grande ato de posse. Mais de 2 mil convites já foram expedidos e a lista continua crescendo. São esperados pelo menos 50 convidados internacionais, dos meios jurídico e acadêmico. A TV Justiça transmitirá ao vivo. O cargo honroso justifica a festa. Por sua trajetória e origem, ele a merece. Mas há também o zum-zum-zum, que ainda não tinha ganhado letra impressa, registrado pelo jornalista Elio Gaspari em sua coluna de domingo, sobre uma candidatura a presidente da República, que ainda habitaria o mais fundo de sua alma. Se esse murmúrio tem fundamento, saberemos mais adiante. Os rios da política são sinuosos. Já os ministros do Supremo saberão, em breve, como será a Corte sob a presidência de Joaquim Barbosa, com o viés absolutista que floresceu graças à timidez ou reverência de todos eles, e à adulação da mídia e de segmentos políticos que viram nele e no julgamento uma arena para o acerto de contas com o PT. 

                Prisões no recesso

                Em dezembro, o Supremo entrará de recesso, tenha ou não o julgamento do mensalão terminado. Tudo indica que só será concluído mesmo em 2013. No recesso, Joaquim Barbosa já será presidente e será o plantonista natural do tribunal, embora possa revezar-se com o vice (que será Lewandowski) ou com outros ministros. O plantonista analisa pedidos de liminar, prisão preventiva, habeas corpus e similares. O que os advogados de defesa agora estão receando é que, durante o recesso, o procurador-geral, Roberto Gurgel, apresente formalmente novo pedido de prisão imediata dos condenados, ainda que faltem definições complementares, como a publicação dos acórdãos. E, ninguém duvida, se receber esse pedido, tendo poder para decidir sozinho, Barbosa o acolherá. Alguns examinam a hipótese de entrarem com habeas corpus preventivo.

                Bate-chapa

                Vai esquentando a disputa pelos postos nas mesas diretoras do Congresso. O PT marcou para dezembro uma eleição interna na bancada para escolher o nome do candidato oficial do partido à vice-presidência da Câmara. No páreo, Paulo Teixeira (SP) e André Vargas (PR).

                CASO BRUNO » As pistas do cativeiro - Paula Sarapu‏

                Imagens do processo que relata morte de Eliza mostram evidências que reforçarão tese de que a mulher e seu filho ficaram presos no sítio de Esmeraldas antes do assassinato 

                Paula Sarapu
                Estado de Minas: 13/11/2012 


                Em meio ao embate entre defesa e acusação às vésperas de um dos júris mais esperados da história da Justiça mineira, peças do processo em que o goleiro Bruno Fernandes de Souza é acusado de ser o mandante do sequestro e morte de Eliza Samudio recontam o que, na visão da polícia e do Ministério Público, foram os momentos de cárcere que a mulher viveu no sítio do ex-capitão do Flamengo, no Condomínio Turmalina, em Esmeraldas, antes de ser executada. O Estado de Minas teve acesso às mais de 10 mil páginas que mostram imagens do trabalho dos peritos para recolher provas de que a jovem e seu filho, o bebê Bruninho, estiveram na casa por quatro dias, entre 5 e 10 de julho de 2010. O desaparecimento de Eliza foi descoberto a partir de uma denúncia anônima, um mês depois. À polícia, uma amiga carioca da vítima informou que a ex-amante do atleta tinha viajado com Bruno para Belo Horizonte, com a promessa de ganhar um apartamento.
                Segundo o processo, Eliza foi sequestrada pelo braço direito de Bruno, Luiz Henrique Romão, o Macarrão. Naquele dia, mostra o processo, a jovem e o amigo do goleiro se falaram 73 vezes. Um primo de Bruno, J.L.L.R., que na época era menor, os acompanhou até a mansão do jogador na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. O atleta estava concentrado para um jogo do Flamengo e o grupo viajou para Minas no dia seguinte, pernoitando em um motel de Contagem, na Grande BH. A denúncia do Ministério Público afirma que Eliza e o bebê foram mantidos em cárcere privado. No sítio em Esmeraldas, outro primo de Bruno, Sérgio Rosa Sales (assassinado em agosto, no que a polícia apontou como um crime passional), vigiava a modelo e lhe oferecia comida. Foi ele que participou de uma simulação com policiais e indicou aos investigadores onde viu Eliza machucada na cabeça. O ferimento teria sido provocado por J., que afirmou ter dado coronhadas na moça no trajeto entre o Rio e Minas. Reforçando a versão, a perícia encontrou sangue da jovem no banco do carro em que eles viajaram.
                Já no sítio de Esmeraldas, Bruno garante que ela tinha livre acesso à casa e à piscina, mas Sérgio, em depoimento à polícia, contou que Macarrão chegou a impedi-lo de entrar em um dos cômodos onde a mulher estava. A ex-amante de Bruno teria ficado com o filho, Bruninho, em um quarto do primeiro andar, sem acesso a telefone celular. Ali, a polícia recolheu fios de cabelo longos e pretos, que poderiam ser dela. Havia também fios no banheiro social, usado pela modelo. A análise, porém, não conseguiu identificar se o cabelo era de fato da jovem. No quarto ao lado, o colchão estava manchado de sangue, mas o material não era compatível com o de Eliza. A confortável chácara, com campo de futebol e sala de troféus, era avaliada em R$ 1,5 milhão e recentemente foi vendida, em um contrato de gaveta, por menos de R$ 800 mil.
                FRALDAS A perícia foi feita na noite de 13 de julho, por causa do uso do luminol, produto químico que reage com sangue e identifica amostras, inclusive em locais que já tiverem sido limpos. A área externa foi vistoriada no dia seguinte. Peritos recolheram fraldas queimadas e outras encontradas junto com lixo. Uma cisterna ao lado da casa acumulava um monte delas. Na geladeira da cozinha do espaço gourmet havia papinhas de bebê. Um pote de farinha para mingau foi encontrado sobre uma bancada do fogão, além do bico de uma mamadeira. Escondida no forno à lenha, estava uma sacola de plástico com lixo, fraldas e cotonetes.
                Ainda do lado de fora da casa a perícia identificou vários pontos de lixo queimado e um patamar de concreto carbonizado. Os primos de Bruno, J. e Sérgio, em depoimento, contaram que as roupas de Eliza e do bebê tinham sido queimadas por Macarrão e pelo goleiro, depois do crime, junto com a mala vermelha da mulher. Laudo do Instituto de Criminalística sugere que as marcas do material encontrado no cimento são semelhantes às de tecido sintético queimado.

                CIÊNCIA » Dieta ancestral - Marcela Ulhoa‏

                Australopithecus bahrelghazali, hominídeos que viveram há cerca de 3 milhões de anos, se adaptaram para comer capins. Com isso, espécie expandiu seu território e aumentar suas chances de sobrevivência 

                Marcela Ulhoa
                Estado de Minas: 13/11/2012 

                Entre os diversos aspectos que permeiam a história da evolução humana, a alimentação certamente foi responsável por uma série de modificações adaptativas que garantiram a continuidade das espécies. Em um artigo publicado ontem na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Arqueologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, desvendou uma inesperada característica da dieta dos Australopithecus bahrelghazali, hominídeos que viveram há mais de 3 milhões de anos: eles se alimentavam de gramíneas e capins.
                Os A. bahrelghazali são considerados os mais obscuros australopitecíneos, devido ao pouco material fóssil encontrado até hoje. O estudo britânico se tornou possível graças ao material encontrado em 1993 pelo paleontólogo francês Michel Brunet, em Bahr el Ghazal, no Chade. A partir da análise da concentração de isótopo de carbono nessas peças, os pesquisadores revelaram que, ao contrário de outros grandes primatas, a espécie se alimentava de plantas C4, cujo principal representante na época eram plantas rasteiras. “O resultado sugere que os primeiros hominídeos eram capazes de reconhecer e explorar novos alimentos desde muito cedo na história evolutiva. Isso não só lhes permitiu explorar muito hábitats como também marcou a diferença entre eles e os seus primos: os grandes primatas”, explica ao Correio Julia Lee-Thorp, principal autora do artigo.
                Segundo ela, as conclusões foram surpreendentes, pois esse tipo de vegetação disponível em campos abertos era pouco acessado pelos grandes primatas, que habitavam florestas e bosques e se alimentavam principalmente de frutas. O que se esperava, portanto, era que os A. bahrelghazali tivessem um hábito alimentar semelhante, mas, pelo visto, não era isso que ocorria. Ao se adaptar a esse tipo de comida, a espécie pôde ampliar seu território.
                A principal diferença entre as plantas C3 e C4 está na eficiência metabólica de cada grupo para fixar dióxido de carbono (CO2) e transformá-lo em glicose. “Apesar de que cerca de 90% da biomassa terrestre vir das plantas C3, no geral, as C4 são mais eficientes no aproveitamento de água, além de possuírem um ponto de saturação luminosa mais alta, ou seja, realizam fotossíntese em áreas com excesso de incidência luminosa com maior eficácia do que as C3”, esclarece o biólogo Danilo Vicensotto Bernardo, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de São Paulo (USP). Isso significa que as plantas C4 suportam melhor áreas mais secas e com forte incidência solar. Atualmente, um exemplo de planta C4 importante para a dieta de muitas populações humanas é o milho.
                Para Bernardo, como o continente africano sofreu severas mudanças ambientais entre 4,5 milhões e 2,5 milhões de anos atrás, resultando em um processo de savanização, fica claro que a oferta de plantas C4 naquele momento tornou-se mais abundante. “Os hominíneos capazes de consumir esses vegetais desfrutaram, ainda que momentaneamente, de um nicho ecológico mais abundante do que aquele disponível aos indivíduos que só consumiam plantas C3. Evolutivamente, tal característica é pertinente, pois representa uma vantagem na aquisição de energia”, reforça. Dessa maneira, ao consumir essas plantas, os A. bahrelghazali aproveitaram os recursos disponíveis de maneira mais eficiente.

                Variabilidade O tipo de técnica usada no estudo tem permitido aos cientistas aprender muito sobre a alimentação dos ancestrais do homem. Mercedes Okumura, pós-doutoranda do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP), explica que a divisão de espécies dos australopitecíneos era antes feita em gráceis (que incluíam o Australopithecus afarensis, o A. bahrelghazali e o A. africanus) e robustos (A. boisei, A. robustus e A. aethiopicus). Essa separação estava relacionada à morfologia craniana e à dieta adotada pelas criaturas. “Dividíamos de forma simplista: os gráceis comiam alimentos menos duros (e de melhor qualidade) e os robustos, aqueles que demandavam maior mastigação (e de pior qualidade). Atualmente, graças aos estudos de isótopos, sabemos que há uma imensa variabilidade na dieta desses hominíneos, e que não há uma regra definida em termos da morfologia e da dieta”, diz.
                Para Okumura, o estudo revela a ocorrência de diferenças importantes nos ambientes explorados pelas várias espécies de Australopithecus. Segundo ela, as regiões habitadas pelos A. bahrelghazali eram bastante diferentes das dos Australopithecus afarensis, homídeos que viviam na mesma época no leste da África, onde a vegetação era muito mais fechada. “Esses diferentes hábitats puderam ser explorados pelos australopitecíneos devido a adaptações na ecologia alimentar, incluindo uma dieta baseada fortemente em plantas C4, no caso do A. bahrelghazali, ao passo que outros australopithecus tinham dietas bastante diferentes, baseadas em plantas C3”.
                Sobre os próximos passos do estudo sobre os hábitos dos ancestrais humanos, a pesquisadora Julia Lee-Thorp revela que deseja traçar uma comparação das taxa de C4 entre os vários hominídeos que viveram no mesmo período do Pleistoceno para avaliar o quanto de variabilidade alimentar existiu em toda a África. “Nós também gostaríamos de ver outras espécies analisadas, porque nós não achamos que atingimos a origem da inserção dos recursos C4 na alimentação dos hominídeos.” O estudo da Universidade de Oxford recuou para mais de 1,5 milhão de anos a data em que se acreditava que as plantas C4 passaram a fazer parte da dieta dos australopitecíneos, já que, até então, o registro mais antigo referia-se aos A. boisei, que datam de 2 milhões a 1,4 milhão de anos. 

                Palavra de especialista

                Mercedes Okumura - pós-doutoranda do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP

                Informações mais precisas

                “A importância dessa descoberta é enorme, dado que antes do advento dos estudos de isótopos estáveis e suas implicações na dieta dos seres vivos, geralmente inferíamos a dieta desses fósseis através de análises bastante indiretas. Estudávamos a morfologia dos ossos do crânio, especialmente as partes mais relacionadas com a mastigação e processamento os alimentos (mandíbula e maxila, dentes, músculos ligados à mastigação); estudávamos as marcas microscópicas deixadas pela mastigação (“estrias”) na superfície dos dentes; ou até mesmo lançávamos mão de estudos paleoambientais, na tentativa de inferir o que esses indivíduos consumiam. Atualmente, todas essas análises podem ser conjugadas com a análise de isótopos estáveis, que nos dá um panorama mais completo e preciso acerca da dieta dessas criaturas.”

                Problema de audição esquecido - Rebeca Ramos‏

                Estudo da USP indica que exames mais pedidos para idosos com dificuldade de escutar não detectam o transtorno de processamento auditivo central, muito comum na terceira idade 

                Rebeca Ramos
                Estado de Minas: 13/11/2012 

                Os males da saúde surgem na mesma velocidade do avançar da idade. Sejam doenças mais sérias, como os problemas cardiovasculares e degenerativos, sejam distúrbios com menor gravidade, como a perda do vigor muscular e da memória. Talvez seja pelo entendimento da pouca complexidade que alguns casos não recebam a importância devida. Entram aí os problemas de audição. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) comprovou alta incidência do transtorno de processamento auditivo central (Tpac) em 85% de idosos, sendo que a maioria deles não sabia da existência da enfermidade devido a falhas em consultas e avaliações auditivas.

                Participaram do estudo pessoas com idade entre 60 e 80 anos, divididas em dois grupos – com e sem comprometimento cognitivo leve (CCL). Os idosos que tinham CCL realizavam atividades cotidianas como comer, vestir e trabalhar, mas se queixavam de lapsos de memória. “Eram pessoas com um risco maior para desenvolver a doença de Alzheimer”, explica Tatiane Eisencraft, autora do estudo.
                De acordo com a fonoaudióloga, foi preciso avaliar, por meio de testes comportamentais, o processamento auditivo central (PAC), que está ligado à capacidade de o indivíduo processar sons e falar, por exemplo. Também foram realizados testes eletrofisiológicos, que não dependem de resposta dos pacientes, para complementar a avaliação comportamental. Tatiana explica que não houve diferença significante entre os grupos de idosos, mas uma alta incidência do Tpac em ambos. A taxa média foi de 85%.

                A especialista comenta que a avaliação do PAC é muito conhecida e solicitada para crianças em idade escolar que apresentam queixas de compreensão e concentração. Na população idosa, não existe ainda essa “cultura”. Quando reclamam de problemas de audição, as pessoas mais velhas normalmente são encaminhadas para a audiometria, um exame que avalia o quanto elas estão escutando. “Esse exame, muitas vezes, não é suficiente para conseguir detectar as dificuldades, uma vez que avalia apenas uma parte do sistema auditivo”, ressalta.

                Mais caro A fonoaudióloga Bivanete da Fonseca observa que tanto a audiometria quanto a imitanciometria são exames mais prescritos por serem mais baratos. O exame do PAC não é oferecido pelo Sistema Único de Saúde, chega a custar R$ 300 e não tem cobertura dos planos de saúde, já os mais comuns não saem por mais de R$ 50. “Como é um exame mais recente, os convênios não cobrem e poucos médicos prescrevem por ser mais comum realizá-lo em crianças com déficit de atenção”, diz Bivanete.

                Também indicado para detectar o Tpac, o exame P300 é realizado por eletrodos e avalia o potencial auditivo evocado no tronco encefálico, o potencial de média latência (acústica do tálamo) e o potencial de longa latência, que avalia o centro auditivo do córtex, segundo Bivanete. “Esse é bastante caro e chega a custar mais de R$ 1 mil”, acrescenta. Já o sugerido pela pesquisadora da USP é feito na mesma câmara em que é realizada a audiometria, onde o paciente, usando fones de dois canais, escuta em um ouvido sons e ruídos e, no outro, a voz da fonoaudióloga, que pede a ele para repetir algumas palavras. “Esse procedimento verifica a inteligibilidade da fala, a ordenação das palavras, a discriminação dos sons, a resolução e a integração temporal”, descreve.

                ROTINA Tatiana Eisencraft defende que a bateria de testes para a avaliação do Tpac faça parte da rotina de exames dos idosos. Sintomas como queixas auditivas, compreensão falha em ambientes ruidosos e de falar ao telefone, e solicitação frequente para a repetição de informações são sinais de que algo está errado.

                “Com a detecção do transtorno, é possível realizar o treinamento auditivo, uma reabilitação para essas habilidades que se encontram alteradas, melhorando a capacidade auditiva e, consequentemente, a compreensão da fala e da memória, proporcionando principalmente uma melhora na vida social e na autoestima”, opina.

                Falhas também com as crianças 

                Desconsiderar queixas relacionadas à audição é comum também em consultas médicas de crianças. Observações maternas acerca da saúde dos filhos muitas vezes são confundidas pelo especialistas com excesso de amor, de acordo com estudo recente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A pesquisa tentou investigar como as mães lidam com a suspeita, o diagnóstico e o tratamento da surdez dos filhos. Percebeu-se, durante as avaliações, que em alguns casos o tratamento foi retardado por profissionais de saúde simplesmente por terem desconsiderado as queixas maternas.

                Participaram da pesquisa 10 mulheres sem problemas de audição, mas com filhos surdos. Nortearam as análises perguntas sobre como, quando e quem suspeitou que a criança tinha problemas auditivos; quando e como foi realizado o diagnóstico; e de que forma ocorreu o encaminhamento para a habilitação. Os dados mostraram que antes da confirmação do diagnóstico a maioria das mães suspeitava do problema – indicado normalmente pela falta de reação do bebê quando exposto a sons ou pela falta de fala –, mas que ele foi ignorado durante consultas médicas.

                Para a psicóloga e autora do estudo, Angélica Bronzatto, a surdez é encarada em uma visão socioantropológica como diferencial, sendo o surdo o diferente no que diz respeito à língua e que só será reabilitado por meio da oralidade. “Nem sempre o profissional da área da saúde está preparado para dar um diagnóstico que, para a família, será uma notícia ruim e inesperada”, opina.

                Entre as 12 crianças participantes do estudo, seis foram diagnosticadas antes de completarem 1 ano, tempo considerado curto por Angélica levando em conta a realidade brasileira. Outras duas, por terem surdos na família, tiveram acompanhamento de geneticistas ainda durante a gestação. Das quatros restantes, três tiveram o diagnóstico até os 2 anos e uma aos 4 anos.

                Em todos os casos, a descoberta deu-se por observação pelas mães. Uma delas, em depoimento, percebeu a deficiência enquanto trocava as fraldas da filha, na época com 6 meses. “O rádio-relógio despertou e ela não se assustou com o barulho”, conta. Depois da suspeita, a mãe passou a testar a audição da bebê fazendo barulhos atrás do ouvido dela. Ao relatar o problema ao médico, ouviu que era apenas uma impressão. A criança só foi diagnosticada com o problema aos 11 meses.

                “O que não ocorre, muitas vezes, é uma explicação do que realmente é a surdez, quais as possibilidades de reabilitação, as várias abordagens de trabalho, como o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo”, pontua a psicóloga. A especialista afirma também que os pais têm dificuldade de perceber que o filho não está escutando, principalmente quando a perda não é profunda, já que a criança parece responder ao som. “Tem que prestar atenção se a criança responde ao som sem pista visual. Se existe atraso da fala, ele também precisa ser investigado. Não pode confiar apenas na ideia de que outras pessoas da família começaram a falar tarde”, alerta.