quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Marina Colasanti - Em quantos deles?‏

Em quantos deles? 
 
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com

Estado de Minas: 05/12/2013



Foram encontradas mais três jovens mulheres mantidas em cativeiro. Três irmãs, de 12, 13 e 17 anos, aprisionadas durante dois anos em sua própria casa pela mãe e pelo padrasto. Isoladas, cada uma em um quarto, constantemente vigiadas por câmeras, privadas de banho por muitos meses e subalimentadas.

Em 1965, um filme de William Wyler fez muito sucesso e foi indicado a três Oscars. Era O colecionador, com Terence Stamp e Samantha Eggar. Um colecionador de borboletas, delicado, gentil e psicopata, apaixonado desde a adolescência por uma estudante de artes, decide acrescentá-la à sua coleção. Clorofórmio, sequestro e eis que a tem prisioneira no porão da casa isolada que comprou para isso, de onde ela tentará inutilmente fugir, e onde, adoecendo, encontrará a morte. A borboleta está retida para sempre, mas já sem as cores e a beleza, não podendo ser guardada debaixo de vidro.

Já perdi a conta e embaralhei as situações de tantas notícias com que fomos confrontados nos últimos anos. Cativeiros semelhantes estourados por denúncia ou fuga. Parece até uma epidemia. E certamente é um mal.

O colecionador do filme não estupra a moça, não tenta possuí-la, embora a deseje. Ele a respeita, talvez até para não estragar o belo espécime. Mas não é essa a norma. E porque o mais comum é que os sequestradores abusem sexualmente de suas vítimas, nos equivocamos pensando que para isso as mantêm prisioneiras.

Não há falta de mulheres para o sexo, grátis ou a pagamento. E pais abusam de suas filhas com assombrosa frequência, sem precisar, para isso, mantê-las em cativeiro. Não é por necessidade erótica que se aprisiona e escraviza uma mulher, sexo não é o movente, sexo é apenas parte importante do mecanismo de dominação.

Em meus tempos de editora de comportamento de uma grande revista, mantive durante anos uma seção em que respondia às cartas. Confidências terríveis chegavam às minhas mãos. Numa delas, uma mulher, moradora de uma pequeníssima cidade, me disse que o marido a mantinha trancada em casa, com as janelas fechadas, e não lhe dava roupas, para que não pudesse fugir. O único vestido e a única camisola da sua vida de casada eram os que havia usado para ir ao hospital ter sua filha e que o marido havia tomado em seguida. Em casa usava trapos. Já não lembro do artifício de que lançou mão para me mandar a carta. Lembro-me de que lhe disse para tentar chegar ao padre, única autoridade daquela cidadezinha que poderia ajudá-la. E que a carta não relatava nenhuma sexualidade transbordante, apenas algo semelhante ao ciúme, ou ao delírio de posse.

Durante séculos os homens foram proprietários absolutos das mulheres, propriedade que começava pelo pai, era repassada ao marido e, em caso de viuvez, cabia ao senhor. A chave da sua vida nunca lhes era entregue. Nessa sociedade aprisionadora em que trancar uma mulher dentro de casa parecia tão próximo da normalidade, não deve ter sido necessário formalizar o sequestro.

Mas ao se apropriar da chave as mulheres entraram em área de risco, pois para submetê-las plenamente tornou-se necessário o clorofórmio.

O mundo está cheio de porões. Em quantos deles uma menina ou mulher, trancada há tempos, não vê a luz do dia e se lamenta inutilmente entre paredes à prova de som?

Tv Paga e Caras & Bocas

Estado de Minas - 05/12/2013


 (Sorin Lingureanu/Reprodução)

A arte da guerra


Quem não conhece a história corre o risco de repetir os erros do passado. Isso justifica a produção de Obras incríveis do nazismo, que estreia hoje, às 22h30, no Nat Geo. O documentário mostra o sistema de bunkers, casamatas e túneis em verdadeiras fortalezas subterrâneas construídas pelos engenheiros de Hitler durante a 2ª Guerra Mundial. Além de servir como refúgio, também estocavam o arsenal das tropas germânicas, com canhões instalados ao longo da costa, na chamada Muralha do Atlântico (foto). A ideia era impedir uma invasão aliada com um muro de defesa que se estendia por milhares de quilômetros desde o Sul da França até o Norte da Noruega.

De carros a submarinos,  o macho curte de tudo


Obras-primas da engenharia também são inspiração para a série Boys toys, às 21h, no canal Ghistrory. Especialmente quando se fala de carrões como o luxuoso Stingray, da Corvette, com seu motor de 450 cavalos de potência. Ou o BAC Mono, um veículo high tech feito para uso cotidiano que tem a engenharia de um carro de corrida. Isso sem falar na aeronave Project Zero, da Agusta Westland, que combina as virtudes de um avião com as de um helicóptero. Ou o submarino pessoal DeepFlight e a bicicleta elétrica Marrs M-1. Como sempre, brinquedinhos para crianças crescidas.

Carcereiro reencontra três presidiários do rap


A edição de hoje do programa Sala de notícias, às 14h35, no canal Futura, vai apresentar Comunidade carcerária e Seu Valdemar, documentário inédito que discute a reintegração social de presos e acompanha o reencontro do agente penitenciário Valdemar Gonçalves com os ex-detentos Kric, Wo e Fw, fundadores do grupo de rap Comunidade Carcerária, formado no extinto complexo do Carandiru, em São Paulo. A direção é de Silvana Jeha.

Série do SescTV lembra ciclo da cana-de-açúcar


A rota do açúcar é o tema de hoje da série Coleções, às 21h30, no SescTV. O episódio mostra os principais engenhos construídos na Zona da Mata de Pernambuco a partir do século 16, como os engenhos de São João, Uruaé, Poço Comprido e Água Doce e toda a cultura impregnada nesses cenários.

Documentário resgata o mito Rodolfo Valentino


Outro documentário programado para hoje, às 22h, na Cultura, é o biográfico Rodolfo Valentino, narrando a vida e a carreira do primeiro ícone pop da mídia, revelado pelo cinema nos anos 1920. E se o assunto é cinema, o assinante tem pelo menos oito boas opções na concorrida faixa das 22h: Killer Joe – Matador de aluguel, na HBO HD; Behind the candelabra, na HBO 2; Shame, no Max; Looper – Assassinos do futuro, no Max Prime; A escolha perfeita, no Telecine Premium; Sem lei, no Telecine Action; Cartas na mesa, no Studio Universal; e Reencarnação, na MGM. Outras atrações da programação: Simplesmente complicado, às 19h45, no Universal Channel; O homem bicentenário, às 21h, no Comedy Central; A experiência, às 22h05, no TCM; Incontrolável, às 22h30, na Fox; e Indiana Jones e o reino da caveira de cristal, às 22h35, no Megapix.

Generoso, Tom Zé canta em parceria com Moska


Por fim, a música, com duas dicas interessantes. Às 21h30, no Canal Brasil, Tom Zé faz dueto com Moska no Zoombido, ganhando a companhia do violonista Daniel Maia para interpretar as canções Menina, amanhã de manhã, Minha carta e Tô. E às 23h30, na Cultura, o programa Móbile recebe, entre outros convidados, a cantora BluBell lançando seu mais recente CD, Diva é a mãe.

CARAS & BOCAS » Novo galã - Simone Castro
O ator Paulo Leal estreia como o médico Fernando, que vai encantar a protagonista de Chiquititas (Lourival Ribeiro/SBT)
O ator Paulo Leal estreia como o médico Fernando, que vai encantar a protagonista de Chiquititas

No capítulo de amanhã de Chiquititas, às 20h30, no SBT/Alterosa, um personagem cairá nas graças de Carol (Manuela do Monte), protagonista da trama. O encontro marca a estreia do ator Paulo Leal, novo galã da história, no papel de doutor Fernando, um médico voluntário que anima crianças em tratamento de câncer. Carol vai ao hospital acompanhar a amiga Letícia (Amanda Acosta), que sofre de câncer de mama, e conhece Fernando. Tudo começa quando Carol é demitida do Café Boutique pelo empresário José Ricardo (Roberto Frota). Triste, ela aceita o convite da amiga para acompanhá-la numa consulta. Enquanto a espera, Carol se depara com o médico vestido de palhaço. Fernando se apresenta e os dois iniciam um bate-papo. Ela comenta sobre a doença de Letícia e Fernando oferece ajuda. A moça agradece e o doutor se encanta com a estudante de psicologia. A aproximação entre Fernando e Carolina deixará Júnior (Guilherme Boury) enciumado e isso vai atrapalhar a relação do casal

SBT PRODUZIRÁ A SÉRIE PATRULHA SALVADORA

Será quarta-feira, nos estúdios do SBT, em São Paulo, o lançamento para a imprensa da primeira série de teledramaturgia da emissora. Patrulha salvadora vai reunir vários ex-atores da novela Carrossel. No encontro com a imprensa estarão presentes, além da direção, também o elenco do programa.

JOANNA FOMM CONFIRMA VOLTA À TELINHA EM 2014


Afastada da telinha há algum tempo, a atriz Joanna Fomm voltará à cena na série Os experientes (Globo), de Fernando Meirelles, programada para o ano que vem. Na trama, a atriz vai interpretar Maria Helena, dividindo a cena, com Beatriz Segall e Juca de Oliveira, entre outros. Joanna comentou o assunto numa rede social: “Trabalhar com Fernando e equipe é um doce de maravilhas. Não podia haver volta mais deliciosa. Estou feliz. Há muito tempo não me sentia feliz assim! Ave, Fernando!”.

CANAL BRASIL VAI MUDAR  DE NUMERAÇÃO NA NET


A partir do dia 12, o Canal Brasil (TV paga) terá uma nova numeração na operadora NET: deixa o canal 66 e vai para o número 150 em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Outras cidades como São Paulo e Guarulhos virão na sequência, a partir de janeiro. A transição faz parte de uma operação da própria operadora para que os
canais sejam agrupados de acordo com os temas – esportes, filmes, infantis, notícias –, facilitando o acesso do assinante.

SÉRIE NARRA A SAGA DE HANNIBAL, O CARTAGINÊS


Em associação com a Red Arrow Entertainment, a atriz Halle Berry e o roteirista Jeffrey Caine vão produzir a minissérie Hannibal, narrando a trajetória do general que foi um dos maiores estrategistas militares da história e que, entre 218 a.C. e 201 a.C., liderou o Exército de Cartago contra Roma, na segunda Guerra Púnica.

PODER DE CURA

A atriz Mariana Ximenes comentou, no site oficial da novela Joia rara (Globo), sobre a cena, exibida anteontem, em que Aurora, a vedete que interpreta no folhetim, canta La vie en Rose, da francesa Edith Piaf. “Gravar La vie en rose foi uma responsabilidade tamanha... É um clássico. Edith Piaf é um ícone da música mundial.” E acrescentou: “Fiquei superfeliz porque acho uma música deslumbrante, mas, ao mesmo tempo, fiquei com um frio na barriga”. Sem nunca ter dançado e cantado antes em uma novela, Mariana admite que curte a novidade. “Foi uma experiência antológica. A dança tem um poder de cura. É muito gostoso você poder acordar seu corpo e suas articulações, o corpo fala.”

VIVA
A atuação de Sabrina Korgut, a Adenoide de Pé na cova (Globo). Impagável.

VAIA
Episódio da cegueira de César (Antônio Fagundes) em Amor à vida. Deplorável. 

Eduardo Almeida Reis-Austereza‏

Austereza
 
A esmagadora maioria se atira ao bufê como se fosse uma boia depois de um naufrágio


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 05/12/2013



Circula na internet um vídeo sobre festas públicas em quatro países: Canadá, Indonésia, México e Brasil. Canadá, tudo bem, é país civilizado, mas a comparação com a Indonésia e o México deixa o Brasil muito mal. O mais grave é que a cena – a que já assisti inúmeras vezes – se repete nas festas de casamento em salões luxuosos e nas casas de pessoas muitíssimo bem de vida. Festas públicas, nos casos filmados, são aquelas em que há dois bufês quilométricos, paralelos, ao ar livre, com toalhas brancas e fileiras intermináveis de alimentos iguais. No Canadá, dada a partida, cada comensal pega um pedaço civilizado para comer civilizadamente e só então voltar ao bufê, se continuar com fome. Na Indonésia e no México, que são o México e a Indonésia, cada pessoa entre muitos milhares recebia um pedaço pequeno do alimento quilométrico para comer com austereza, o que significa dizer com a qualidade de austero, frugalidade, moderação, considerando que não escrevo com compostura de jeito e maneira: com-com não me soa bem. Na filmagem da festa brasileira, de perto e de longe, o avança é indescritível. Patrícios e patrícias, não necessariamente miseráveis, se atiram sobre os imensos bufês como se dependessem daqueles comes para sobreviver – e tudo às gargalhadas, como as de um imbecil que conseguiu encher meia fôrma de alumínio, que deve ter levado de casa.

Dir-se-á que a festa é “popular”, mas a canadense, a indonésia e a mexicana também o são. E o mais grave, muitíssimo mais grave, é que a cena se repete nos casamentos em salões de luxo e nos apartamentos duplex na Vieira Souto. Não invento: assisti de perto. Tanto nos casamentos de luxo, em BH e no Rio, quanto nos duplex na Vieira Souto, nenhum dos convidados passou fome desde criança. Isso não obstante, a esmagadora maioria se atira ao bufê como se fosse uma boia depois de um naufrágio. Boia, minha gente: qualquer flutuador móvel utilizado para manter algo ou alguém à superfície da água.

O exemplo do naufrágio pega mal, porque naufragar, em nosso idioma desde 1223, pressupõe a ida ao fundo de embarcação que tenha navegado, enquanto a educação do brasileiro, inexistindo, não pode navegar. Ressalvo situações pontuais, como nos churrascos dos peões pantaneiros, às quatro da tarde, depois de um dia de trabalho que começou às duas da manhã. Respeitam a hierarquia da empresa rural e a idade dos colegas de trabalho. Cada um tira pedaço educado da costela que lá está assando desde cedo. E volta à fila para servir-se três ou quatro vezes, quando poderia tirar imenso pedaço de carne logo na primeira investida.


Nomes

Vargem-altense ausente, foi homenageada a delegada Ancila Zanol, da Delegacia da Mulher do Espírito Santo. Vi na tevê e dei um berro, porque me lembrei da ancilostomíase, da anciloglossia e do adjetivo ancilar, velhos conhecidos de um philosopho quase idoso. Fui ao leito encucado com o nome de batismo da ilustre policial capixaba. Geralmente me esqueço do assunto na manhã seguinte, mas hoje me lembrei e fui pesquisar antes de conversar com o leitor de Tiro e Queda. Vargem-altense é relativo a Vargem Alta, município desmembrado em 1988 de Cachoeiro do Itapemirim, tem pouco mais que 20 mil habitantes e é vizinho de Domingos Martins, terra de Ingrid, personagem de um dos meus romances.

Ancilostomíase é grave anemia produzida no homem e em vários mamíferos por vermes nematódeos das espécies Ancylostoma duodenale e Necator americano. Anciloglossia é aderência congênita da língua ao assoalho da boca ou à abóboda palatina, enquanto o adjetivo ancilar significa servil, auxiliar, acessório, suplementar. Mas o melhor da história é Ancila como nome de batismo, considerando que o substantivo feminino ancila significa escrava, serva, mulher que presta serviços mediante pagamento ou, ainda, mulher dedicada ao ascetismo, que, sabemos, significa doutrina de pensamento ou de fé que considera a ascese, isso é, a disciplina e o autocontrole estritos do corpo e do espírito, um caminho imprescindível em direção a Deus, à verdade ou à virtude. Donde se conclui que é melhor não concluir nada, enquanto o philosopho acaba de faturar 240 palavras para gastar com o leite das crianças.


O mundo é uma bola

5 de dezembro de 1496: o rei Manuel I assina o decreto de expulsão dos “hereges” de Portugal. Acho que foi a expulsão assinada em Muge, sobre a qual falei na edição de ontem, quando citei os concheiros pré-históricos daquela freguesia, o maior complexo mesolítico da Europa. Faltou-me espaço para explicar que Mesolítico é período da Idade da Pedra situado entre o Paleolítico e o Neolítico, caracterizado pela mudança do clima gracial para pós-glacial, com a substituição das estepes pelos prados e bosques, dando início à economia produtiva. Em 1732, inicia-se no México a construção de um edifício destinado ao Tribunal da Inquisição. Dá para imaginar o que deve ter sido a Inquisição à mexicana. Em 1792, começa na Assembleia Nacional, durante a Revolução Francesa, o julgamento do rei Luís XVI. Hoje é o Dia da Pátria na Tailândia.


Ruminanças

“Nunca procures penetrar os segredos do amigo.” (Horácio, 65-8 a.C.).

Ele também envelhece [cérebro] - Carolina Cotta

A maioria das pessoas não dá muita atenção para o comandante do organismo humano: o cérebro, que também requer cuidados ao longo da vida


Carolina Cotta

Estado de Minas: 05/12/2013



Cuidar da saúde mental é fundamental. O segredo, segundo o aposentado Aluízio Serpa, de 86 anos, é se manter ativo (Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Cuidar da saúde mental é fundamental. O segredo, segundo o aposentado Aluízio Serpa, de 86 anos, é se manter ativo


O Brasil tem 23 milhões de idosos. A população com mais de 60 anos praticamente dobrou nas duas últimas décadas. Os avanços na medicina, com o desenvolvimento de novas terapias e medicamentos, e o advento de uma cultura de cuidados, em que as pessoas passam a investir em uma boa alimentação e atividade física, estão na base da promoção de longevidade. Mas não basta chegar à velhice com bons exames clínicos e algum déficit cognitivo. Interessados em viver muito, e bem, devem se concentrar na máxima: mente sã em corpo são.

Mesmo em idosos saudáveis, o envelhecimento pode vir acompanhado de alterações na memória e em outras funções cognitivas – atenção, percepção, linguagem e funções executivas. Sem contar aqueles que realmente adoecem, sendo diagnosticados com demência, uma perda global das funções cognitivas. Segundo o médico Ramon Cosenza, doutor em ciências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor aposentado da instituição, tão importante quanto cuidar do corpo é cuidar da mente.
Envelhecimento não é sinônimo de doença, embora venha acompanhado delas. Mas pesquisas já comprovaram que é possível envelhecer de forma saudável. Segundo Cosenza, um dos autores do recém-lançado livro Neuropsicologia do envelhecimento (Editora Artmed), manter o cérebro ativo é de extrema importância para garantir um envelhecimento saudável. “É interessante que a pessoa se envolva em atividades que mantenham o bom funcionamento cognitivo, como o estudo e a leitura, além de cuidar da saúde do corpo”, afirma o especialista.

A ciência já comprovou que as pessoas não costumam manter principalmente as funções que mais usaram. Um engenheiro que sempre lidou com trabalhos matemáticos, por exemplo, consegue manter essas habilidades. Caso do arquiteto Oscar Niemeyer, que apesar de perdas em outros aspectos, continuava lidando com sua capacidade criativa, a área em que mais se destacava. Se as áreas do cérebro que mais se usam são as mais preservadas, a dica é manter essas atividades.

Uma das tarefas para manter a função cognitiva é usar o cérebro. “Estimular o cérebro é manter o interesse pela vida”, defende o médico. Palavras cruzadas fazem bem, assim como ler com frequência, jogar baralho e videogame, assistir a televisão, ir ao teatro, ouvir música, se interessar por gastronomia. Quanto mais diversificada a atividade intelectual ao longo da vida, melhor.

Outra boa notícia é que atividade física faz bem para o corpo e para a mente. O exercício físico tem atuação sobre o cérebro, fazendo com que ele produza fatores de estimulação neuronal. O crescimento neuronal é fator importante para a manutenção da função cognitiva. “Então, tão importante quanto fazer palavras cruzadas é aderir à atividade física. Cento e cinquenta minutos por semana de uma atividade moderada, como a caminhada, são suficientes para estimular o cérebro”, acrescenta Cosenza.

Pesquisas recentes indicam que o estilo de vida tem impacto direto no cérebro. Mantê-lo saudável, portanto, exige atitudes simples. Resultados de um estudo da Universidade de Pittsburg, nos Estados Unidos, com 299 idosos demonstraram que aqueles que percorriam 72 quadras por semana, depois de nove anos de atividades apresentaram aumento do volume de massa cinzenta e tiveram menor declínio cognitivo.
Segundo o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, diretor do Núcleo de Envelhecimento Cerebral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), as pessoas são capazes de aprender e reter novos fatos e competências ao longo de toda a vida, especialmente com estímulo intelectual frequente. “Manter o cérebro sempre ativo, em constante processo de aprendizado e desafios mentais contribui para a manutenção da função cognitiva. Nunca é tarde para aprender algo novo e desenvolver habilidades”, reforça o médico.
Além das atividades físicas e de estímulo para manter as funções cognitivas bem, uma dieta balanceada pode ajudar a preservar a qualidade de vida até mesmo nos últimos anos do indivíduo. “Pesquisas indicam que determinadas dietas antioxidantes, alinhadas a aumento da frequência cardiorrespiratória, podem diminuir os danos causados pelo impacto dos anos na vida de uma pessoa”, conclui.

O ideal, contudo, é que esse cuidado seja constituído ao longo da vida. O envelhecimento começa no nascimento, mas uma maior atenção com a saúde física e mental pode ser adotada em torno dos 30 anos. Principalmente por quem tem casos de doenças cognitivas na família. As demências têm, sim, um componente hereditário, mas mesmo aqueles predispostos a desenvolvê-las podem postergá-la com mais atividade cerebral e física, mantendo a famosa plasticidade cerebral, que é a capacidade do sistema nervoso central de formar neurônios durante a vida adulta.

Segundo Cosenza, o cérebro se modifica ao longo da vida através dessa plasticidade. Até pouco tempo os cientistas e médicos pensavam que o órgão era plástico apenas até a adolescência. Mas a ciência já descobriu que o cérebro continua com essa atividade de regeneração de neurônios pela vida inteira, mesmo que vá perdendo um pouco da plasticidade. “Por isso, as pessoas mais velhas têm mais dificuldade para aprender. Mas, se esforçando, conseguem”, acrescenta.

Personagem da notícia
Aluízio Serpa, 86 anos
Aposentado

Cérebros mais sofisticados, de indivíduos com mais anos de educação, por exemplo, tendem a criar maior reserva cognitiva. É ela que vai evitar, ou retardar, o desenvolvimento de uma patologia no futuro. Aluízio Serpa, de 86 anos, não sabia de nada disso, mas chegou à idade avançada com saúde para dar e vender. Há um ano morando em uma residência para idosos – porque estava se sentindo sozinho na casa da filha, que trabalhava o dia inteiro –, encontrou companhia para os jogos de baralho e tabuleiro de que tanto gosta. Leitor voraz, de livros e jornal, Aluízio é extremamente lúcido e leva a vida como idosos bem mais jovens. Apesar de a atividade física ter ficado um pouco de lado na idade produtiva, quando trabalhava com seguros, ele retomou aos exercícios e se lembra de quando jogava vôlei, basquete, futebol e até remava, na juventude. “Sempre levei uma vida metódica em relação à alimentação e ao lazer. Há anos faço palavras cruzadas, sempre gostei. Que bom que isso me ajudou a chegar até aqui. Tenho uma família longeva e sou muito bem cuidado. E agora tenho até um companheiro para os jogos de cartas”, conta ele, lembrando do parceiro Mário, que também vive na residência de idosos. 

Arte tem novos consumidores‏

Empresários e profissionais liberais com 30 anos, em média, animam esse mercado


Leonardo Reis
Marchand da Errol Flynn Galeria de Arte

Estado de Minas: 05/12/2013



A aquisição de obras de arte deixou de ser um hábito de luxo. O bom momento econômico e a melhoria de renda da população brasileira estão promovendo a chegada de novos consumidores ao mercado de artes plásticas. Os empresários e profissionais liberais com 30 anos de idade, em média, são o retrato dos novos clientes das galerias. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), em 2012 foi registrado um aumento médio de 22,5% no volume de negócios. Entre 2010 e 2011, o aumento foi de 44%. O percentual pode ser considerado um retrato do novo momento da arte: a renovação de clientes que estão adentrando o mercado. A mudança acontece devido à visão tradicional que se tem dos colecionadores de arte. Normalmente, são vistos como pessoas de mais idade e endinheiradas. Observa-se que esses compradores não abandonaram suas coleções, mas, agora, estão dividindo espaço com jovens empresários e profissionais liberais.

É importante ressaltar que os consumidores de arte se dividem em três perfis: as pessoas que compram peças para decoração, investidores e colecionadores. Entretanto, é possível notar a predominância de investidores, e acreditamos que muitos deles viram de perto as obras adquiridas pelos pais se valorizarem com o passar dos anos, e por isso frequentam leilões em busca de boas obras com preços acessíveis, apostando na valorização das peças. As estratégias criadas pelas galerias para democratização das artes também contribuíram bastante para o fomento do setor e conquista desse novo público. É importante destacar ainda a realização de leilões e o parcelamento do pagamento das obras em até 10 vezes sem juros no cartão. Os pregões permitem que os interessados comprem boas obras, de renomados artistas, com preços acessíveis. Ao contrário do senso comum, nem tudo é disputa quando se trata de leilão. Na verdade, grande parte das obras é leiloada pelo lance mínimo, não havendo concorrência no arremate. Outra maneira de participar de pregões são os lances por telefone. As galerias oferecem comodidade aos compradores interessados para incentivar ainda mais o consumo de obras de arte por meio dessa modalidade, não sendo necessário o deslocamento até o local de realização dos leilões. Quando um visitante se interessa por uma obra na exposição, basta comunicar a organização do leilão e já oferecem o lance mínimo.

Quando o pregão da obra em questão estiver acontecendo, os organizadores entram em contato com o comprador, que pode participar da disputa pelos lances de onde estiver e em tempo real. O mesmo é feito por e-mail, quando o interessado deixa registrado seu lance máximo para aquela obra.

É possível iniciar uma coleção de grande qualidade frequentando esse tipo de evento, basta manter contato com as galerias, acompanhar a programação dos leilões de arte, que são sempre uma boa oportunidade para que jovens colecionadores contribuam ainda mais para o crescimento do setor. A melhoria da economia brasileira, juntamente com a comodidade oferecida pelas galerias e o incentivo de terceiros, sendo pais, amigos ou familiares, só contribuirá para ampliar a demanda por artes plásticas.

O perigo dos remédios vencidos‏

O perigo dos remédios vencidos 
 
Spencer Procópio
Diretor-presidente da Farmácia Universal


Estado de Minas: 05/12/2013


Dizem que o melhor remédio é a prevenção. Partindo dessa afirmativa, pode-se dizer que se o medicamento estiver vencido, o cuidado deve ser redobrado. Isso porque o descarte inadequado de remédios no lixo comum, vaso sanitário ou no esgoto traz grandes prejuízos ao meio ambiente, pode contaminar o solo e a água e oferecer riscos à saúde das pessoas.

O perigo pode ser ainda maior quando esse medicamento vencido é utilizado de maneira indevida, a exemplo da automedicação. Se forem descartados no lixo doméstico ou industrial ou no meio ambiente, os remédios podem ser consumidos pelo ser humano, além de ocasionar contaminação do solo e rios e atingir a fauna e a flora.

Embora a Lei Nº 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), defina a responsabilidade sobre o descarte dos resíduos de saúde, ela não tornou obrigatório o recolhimento de remédios vencidos em poder da população.

Portanto, a criação de postos de coleta é voluntária e as farmácias e os hospitais não são obrigados a recolher remédios vencidos ou em desuso. Os consumidores também não são obrigados a recorrer ao descarte correto por meio dos postos de coleta.

Pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), de 2011, sobre o que a população faz com os medicamentos não utilizados ou vencidos, apontou que a maior parte dos entrevistados (242 pessoas) afirmaram que jogam os resíduos de medicamentos no lixo comum, 75 pessoas disseram que descartam no vazo, 23 pessoas na pia e apenas 7 pessoas procuram drogarias, farmácias ou postos de saúde. Os dados revelam que boa parte da população desconhece o descarte correto de remédios.

A falta de informação acerca da destinação racional dos resíduos dos medicamentos, sem danificar o meio ambiente, é, sem dúvida, o grande problema a ser enfrentado. É preciso que ocorram campanhas de conscientização da população para que o paciente, encerrado o tratamento, seja estimulado a devolver os restos de remédios que sobraram e que não serão mais utilizados.

E ainda que haja conscientização da população para a entrega dos remédios vencidos ou inutilizados, faz-se necessário disponibilizar locais de coleta em farmácias, postos de saúde e hospitais em todas as regiões do país.

Preocupa muito o elevado consumo de medicamentos, principalmente entre os idosos, o que de certa forma colabora para o acúmulo de produtos farmacêuticos em casa. Quando jogados indevidamente no lixo, esses medicamentos podem vir a ser consumidos também pela população de rua. Daí a importância de toda a sociedade se mobilizar para a campanha pelo descarte correto dos medicamentos.

Algumas iniciativas valorosas são encontradas, muitas vezes, nas grandes cidades, onde a população tem mais acesso à informação. Mas não bastam apenas iniciativas isoladas, é preciso o envolvimento de toda a sociedade para que de fato ocorra uma mudança substancial no comportamento das pessoas.

Com esse olhar atento, a Farmácia Universal, ao celebrar os seus 80 anos, presenteia a população de Belo Horizonte com uma campanha de coleta permanente de medicamentos vencidos. Esperamos, com essa iniciativa, contribuir para evitar a automedicação e para melhorar a qualidade de vida dos mineiros. 
Juiz nega prioridade a pedido de Dirceu
 
Ex-ministro terá que ficar na fila de análise de propostas de emprego para presos. Situação do futuro patrão gera dúvidas


Diego Abreu

Estado de Minas: 05/12/2013



Brasília – Contratado para receber salário de R$ 20 mil na função de gerente administrativo do Hotel Saint Peter, em Brasília, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu não terá prioridade na análise de seu pedido de autorização para trabalhar. A Vara de Execuções Penais (VEP) do Distrito Federal comunicou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a solicitação do petista será apreciada somente depois daquelas que já se encontram em uma fila de espera. O processo todo leva em média de 40 a 50 dias. Em resposta ao pleito formulado pela defesa de Dirceu para que o caso tivesse prioridade, a VEP destacou que todos os estudos técnicos relativos a autorização para trabalho de presos do regime semiaberto são tratados com rapidez, mas seguem o critério da ordem de chegada.

O ex-ministro, de 67 anos, havia pedido um tratamento diferenciado por ser idoso. A VEP destacou que já vem adotando tal procedimento em razão de Dirceu ter mais de 60 anos, mas ressalvou que isso “não significa a necessidade de finalização da análise da proposta antes de todas as demais”. “Vejo que a proposta de emprego do ora sentenciado José Dirceu não é mais frágil e suscetível de perecimento que as demais que aguardam, há mais tempo, o estudo psicossocial acerca da idoneidade”, destaca a decisão, assinada pelo juiz Vinícius Santos Silva.

Condenado no processo do mensalão, o petista está preso desde 16 de novembro no Complexo Penitenciário da Papuda, em uma ala reservada para detentos do regime semiaberto. Além do elevado salário, outro fator pode complicar a situação de Dirceu durante a análise a ser realizada pela Seção Psicossocial da VEP. Trata-se do fato revelado na terça-feira pelo Jornal Nacional de que o presidente da Truston International, empresa com sede no Panamá proprietária do Hotel Saint Peter, é um auxiliar de escritório que mora em um bairro pobre da capital panamenha. A contratação do ex-ministro foi articulada pelo empresário Paulo de Abreu, amigo do petista e apontado como dono do hotel, embora tenha apenas 0,01% do capital do negócio.

De acordo com a VEP, há critérios rigorosos a serem observados para que um preso seja autorizado a trabalhar. Na decisão divulgada ontem, o juiz alerta que a prioridade conferida para a análise do pedido de Dirceu “não pode se sobrepor à específica hipótese de estudo da idoneidade das propostas de emprego, pela seção psicossocial, tudo sob pena de grave prejuízo aos demais sentenciados e à estabilidade do sistema prisional”.

As suspeitas levantadas contra a empresa dona do hotel que contratou Dirceu levaram ministros do Supremo a cobrarem atenção da VEP quanto à avaliação da petição na qual o petista requer autorização para trabalhar. “É uma questão que precisa ser analisada com cautela pela Vara de Execuções Penais, certamente em entendimento com a relatoria aqui do processo no STF. Como sabemos, incumbe ao Supremo a execução do julgado. O pedido aí é livre, mas, de fato, tem que haver bastante cautela por parte de quem decide para que não ocorram abusos”, disse Gilmar Mendes.

O ministro Marco Aurélio Mello disse que não vê “com bons olhos” as suspeitas levantadas contra o Hotel Saint Peter. “Não chego a julgar o caso, porque não está retratado num processo. Mas, como cidadão, eu não vejo com bons olhos (...) Todos nós devemos contas à sociedade. E cada qual adota a postura que entende conveniente”, frisou.

O advogado de Dirceu, José Luis Oliveira Lima, adiantou que apresentará recurso ainda hoje, ao Supremo, contra a decisão da VEP.