Zero Hora - 16/02/2014
Ao perguntar para o homem se ele quer dirigir seu carro, a mulher se mostra apaixonada. Perdidamente interessada.
É um pedido implícito de namoro.
Ninguém está bêbado, estão se conhecendo, sóbrios das palavras e sussurros, e ela concretiza esta prova de amor.
Entrega a chave sorrindo, como se fosse um prêmio de loteria federal.
Não é uma artimanha da sedução, um teste para ver se ele dirige bem ou não, para classificar ou desclassificar o sujeito.
O pretendente talvez seja um péssimo motorista, um barbeiro, com
mais de 20 pontos na carteira, nada mudará a natureza da declaração.
Ela não se preocupa com o que vai acontecer, porque dentro dela já
aconteceu. Não há acidente que interrompa a escolha de seu coração.
Quando uma mulher oferece seu carro — e só a mulher —, é que ela se entregou para a história.
É quando duplica sua alma. É quando se confessa vulnerável. É quando se anuncia disposta a construir uma vida a dois.
É mais do que um “eu te amo”, é um “não tenho mais reservas com você, não tenho mais segredos, não tenho mais medo”.
Ela vem a dizer que aquilo que é dela é também dele. Ela vem a dizer
que ele pode guiá-la, que pode cuidá-la, que pode levá-la para o mau
caminho, tanto faz o fim, pois chegaram ao destino no momento em que se
encontraram.
A chave do carro é mais importante do que a cópia da chave do apartamento.
Porque o carro não é o mundo para a mulher, como é para o homem. Não
é aventura para a mulher, como é para o homem. Não é ostentação para a
mulher, como é para o homem. Não é um investimento e senha bancária para
a mulher, como é para homem.
Na perspectiva feminina, o carro é extensão de sua personalidade,
conquista afetiva, intimidade. É seu quarto, seu guarda-roupa, seu salão
de beleza móvel.
Ela não tomará a atitude intempestivamente. Foi um gesto pensado, ponderado, maduro.
Alcançará o posto como um convite psicológico para que ele assuma o ponto de vista dela.
É o equivalente a “ponha-se no meu lugar” e “olhe por mim e através de mim”.
Não tem machismo envolvido, não é fraqueza educada. Trata-se de um sinal de confiança.
É um ato de muita coragem, um mergulho consciente nas inconsequências da paixão.
Talvez conte com seguro do veículo, mas dificilmente terá seguro para cobrir o relacionamento. E ela não se importa.
domingo, 16 de fevereiro de 2014
CLAUDIA TAJES - Só a Catherine Deneuve não sua
Zero Hora 16/02/2014
O calor, que bem pode ter diminuído até a publicação desta coluna mas que certamente vai nos assombrar por muito tempo, acaba sendo o tema da maior parte dos assuntos e pensamentos. Notou como anda todo mundo irritado? Bebês chorando, crianças brigando, adultos se estranhando. Parece que até o Bento, o cachorro-galã, andou mordendo um carteiro. A dona dele afirma que, com temperaturas abaixo dos 30 graus, o peludo jamais faria isso.
Em um dos picos de quentura da semana passada, vi no estacionamento de um shopping uma briga que quase terminou com um tiro. Por causa de uma vaga. E o que dizer das pessoas sem condução para ir e voltar exatamente quando a temperatura entrou em ebulição? Greve sim, mas um pouquinho de consideração com os usuários não faria nada mal ao movimento. Além do calor como ele é, ainda existem as condições que determinam a tal da sensação térmica. Ou sensação de inferno, como seria mais apropriado chamar. Ganha força a tese de que Porto Alegre se desprendeu da Terra e agora orbita muito próxima ao sol. Aqui, os acessórios que não podem faltar na indumentária das mulheres modernas custam bem menos do que uma bolsa Prada ou uma sandália Manolo: são uma toalha e uma sombrinha.
Fenômeno: os condicionadores de ar e ventiladores sumiram das lojas. Ventilador, vá lá. Tem de todos os preços e, apertando aqui e ali, dá-se um jeito de comprar. Mas condicionador de ar é caro. E precisa de instalação, que para acessível não serve. Como disse um vendedor: é mais fácil encontrar um bilhete premiado da megasena que um ar-condicionado na cidade. Na última passada pelas lojas, lista de espera de 10 dias úteis – ”mas pode ser mais, a gente nunca garante”. Ao que um senhor respondeu: “Em 10 dias, meu amigo, eu já virei um Doritos torrado, crocante e com sabor bacon”.
É preciso estar sempre com a roupa de baixo bonitinha porque nunca se sabe quando pode acontecer um acidente. Lembrei das palavras da minha avó ao perceber um zumbido nos ouvidos, um enjôo insuportável e o mundo fora de foco. Era tanto calor que a pressão despencou e desmaiei mesmo, eu que sou um cavalo de tão forte. Ou esse inferno dá uma trégua ou a próxima coisa a terminar na cidade serão os estoques de roupa de baixo bonitinha.
Voltando a Deneuve, que dá título à coluna. Quando esteve no Rio de Janeiro em 2011 para promover seu filme Potiche, ela acendeu um cigarro em plena coletiva e esse fato virou um assunto muito mais importante do que a entrevista. Chateada, reclamou: “Não sabia que não se podia fumar. Na França, se o dono da casa não se importar, fuma-se. Eu atravessei o oceano para trabalhar aqui e ninguém fala disso, só do meu cigarro. Já pedi desculpas, o que mais posso fazer? O mundo politicamente correto é uma chatice”. E sobre ser uma musa já com mais de 70: “Minha sorte é que não filmo nos Estados Unidos, onde quase não existem papeis para atrizes mais velhas. Envelhecer é mais fácil para as europeias e as latinas”. Boa atriz, inteligente, não tem rosquinha no umbigo e, ao que tudo indica, não sua. Dane-se a idade, a Deneuve ainda é a mulher perfeita.
De tudo o que a semana trouxe de pesado, nada foi pior do que ficar sem o Nico Nicolaiewsky. Não que eu o conhecesse muito, ia aos shows e, bem de vez em quando, o encontrava por aí. Volta e meia, um abraço no Olímpico, na alegria e na tristeza. Se para a gente, que admirava como fã, é duro, imagina para a Márcia, a Nina e a família. Muita força para elas.
MARTHA MEDEIROS - Woody Allen vs. Mia Farrow, ainda
Zero Hora - 16/02/2014
Nem uma, nem duas, mas oito pessoas me enviaram e-mails exigindo que eu me posicionasse sobre a acusação de que Woody Allen abusou sexualmente de uma filha adotiva quando esta tinha sete anos. Isso mesmo, eu, que não sou irmã, prima, esposa, advogada, terapeuta, amante ou vizinha do Woody Allen, senti como se me jogassem tomates em plena rua. E agora, o que você nos diz sobre seu ídolo, hein, hein?. Me chamaram para a briga.
Não deixo de admirar os filmes do Polanski mesmo ele tendo sido acusado de abuso sexual, nem deixo de me emocionar com a obra de Picasso mesmo sabendo que ele tinha um caráter peçonhento, e não vou deixar de reverenciar a filmografia do Woody Allen mesmo que um dia se comprove sua depravação – da qual sigo duvidando. Mia Farrow, sim, é que não me parece de confiança.
Estou sendo tendenciosa? Ora, estou sendo hiper, super, megatendenciosa, pois é incômodo acreditar que um sujeito com capacidade de transformar neuroses em tiradas geniais, um homem que extrai o melhor de seu elenco, que é fiel à sua equipe técnica, que ama o jazz, que não se deixa bajular por tapetes vermelhos, que deu ao mundo filmes como Manhattan, Hannah e Suas Irmãs, Crimes e Pecados, Match Point e tantas outras obras-primas, vá ferrar com a vida de uma garotinha. É a palavra de um contra o outro, então me dou o direito de escolher de que lado ficar.
A questão é pessoal, familiar e intricada. Allen leva sobre os ombros as acusações de ter seduzido a jovem Soon-Yi, adotada por Mia Farrow e o ex-marido dela, André Previn. Segundo Allen, ele e Soon-Yi nunca tiveram relação de pai e filha nem mesmo moravam sob o mesmo teto (ele e Mia moravam em casas separadas e a moça morava com a mãe). O romance vingou e estão casados até hoje, e lá se vão uns 20 anos – não era um capricho, como se vê. Mas foi suficiente para deixar a ex-esposa ferida em seu orgulho e a opinião pública disposta a julgar o diretor sem atenuar nada.
Será Woody Allen um tarado, um pedófilo, um cara que deveria estar atrás das grades? Não acredito, mas tudo pode nesse mundo maluco. Ainda assim, devemos deixar de admirar o trabalho daqueles que não vivem com retidão? Se um presidiário escrever uma emocionante peça de teatro ou esculpir magistralmente, não merecerá reconhecimento pelo que faz pela arte, a despeito do que fez contra a sociedade? Deixo aqui essas perguntas porque não tenho resposta conclusiva para a questão. Mas vale lembrar aquela máxima de Nelson Rodrigues: se soubéssemos o que cada um faz na intimidade, ninguém cumprimentaria ninguém.
Tomara que nenhuma agressão tenha acontecido de fato, mas se aconteceu, sinto muito, não conseguirei gostar menos dos filmes de Woody Allen. Apenas deixarei de cogitar ter um filho com ele – vá saber.
Nem uma, nem duas, mas oito pessoas me enviaram e-mails exigindo que eu me posicionasse sobre a acusação de que Woody Allen abusou sexualmente de uma filha adotiva quando esta tinha sete anos. Isso mesmo, eu, que não sou irmã, prima, esposa, advogada, terapeuta, amante ou vizinha do Woody Allen, senti como se me jogassem tomates em plena rua. E agora, o que você nos diz sobre seu ídolo, hein, hein?. Me chamaram para a briga.
Não deixo de admirar os filmes do Polanski mesmo ele tendo sido acusado de abuso sexual, nem deixo de me emocionar com a obra de Picasso mesmo sabendo que ele tinha um caráter peçonhento, e não vou deixar de reverenciar a filmografia do Woody Allen mesmo que um dia se comprove sua depravação – da qual sigo duvidando. Mia Farrow, sim, é que não me parece de confiança.
Estou sendo tendenciosa? Ora, estou sendo hiper, super, megatendenciosa, pois é incômodo acreditar que um sujeito com capacidade de transformar neuroses em tiradas geniais, um homem que extrai o melhor de seu elenco, que é fiel à sua equipe técnica, que ama o jazz, que não se deixa bajular por tapetes vermelhos, que deu ao mundo filmes como Manhattan, Hannah e Suas Irmãs, Crimes e Pecados, Match Point e tantas outras obras-primas, vá ferrar com a vida de uma garotinha. É a palavra de um contra o outro, então me dou o direito de escolher de que lado ficar.
A questão é pessoal, familiar e intricada. Allen leva sobre os ombros as acusações de ter seduzido a jovem Soon-Yi, adotada por Mia Farrow e o ex-marido dela, André Previn. Segundo Allen, ele e Soon-Yi nunca tiveram relação de pai e filha nem mesmo moravam sob o mesmo teto (ele e Mia moravam em casas separadas e a moça morava com a mãe). O romance vingou e estão casados até hoje, e lá se vão uns 20 anos – não era um capricho, como se vê. Mas foi suficiente para deixar a ex-esposa ferida em seu orgulho e a opinião pública disposta a julgar o diretor sem atenuar nada.
Será Woody Allen um tarado, um pedófilo, um cara que deveria estar atrás das grades? Não acredito, mas tudo pode nesse mundo maluco. Ainda assim, devemos deixar de admirar o trabalho daqueles que não vivem com retidão? Se um presidiário escrever uma emocionante peça de teatro ou esculpir magistralmente, não merecerá reconhecimento pelo que faz pela arte, a despeito do que fez contra a sociedade? Deixo aqui essas perguntas porque não tenho resposta conclusiva para a questão. Mas vale lembrar aquela máxima de Nelson Rodrigues: se soubéssemos o que cada um faz na intimidade, ninguém cumprimentaria ninguém.
Tomara que nenhuma agressão tenha acontecido de fato, mas se aconteceu, sinto muito, não conseguirei gostar menos dos filmes de Woody Allen. Apenas deixarei de cogitar ter um filho com ele – vá saber.
Affonso Romano de Sant'Anna - A crise tem nome: democratite
A crise tem nome: democratite
Affonso Romano de Sant'Anna
Estado de Minas: 16/02/2014
Affonso Romano de Sant'Anna
Estado de Minas: 16/02/2014
Não adianta fingir
indiferença diante do que está acontecendo. Estamos todos metidos nisso.
Você pode não morar no Rio de Janeiro, mas mora no Brasil. E, se me
permitem, acho que tenho um diagnóstico para essa crise: estamos
sofrendo de democratite, doença que ataca as pessoas que têm uma noção
errada de democracia.
Isso se manifesta de várias maneiras. O governo, porque é populista e conta com alguns guerrilheiros e ex-torturados na sua chefia, tem medo de ser chamado de repressor. O Exército está acuado e recolhido, desgastado pela última ditadura. E a polícia, apesar de muitos avanços no Rio, é sempre vista sob suspeita. Com isso, abriu-se a porteira. Entramos no terreno da permissividade, que começa no Big brother, passa pelas novelas e chega às ruas.
Essa permissividade, esse viver num lugar que não tem lei nem rei leva a alguns mal-entendidos. O primeiro é ignorar que todo sistema tem lei e tem rei. A natureza não é o caos, que o digam os cientistas. A cultura é a implantação de leis e normas para propiciar a convivência e a produtividade.
Estou quase dizendo uma coisa que parece antiga, mas é moderníssima e essencial à vida comunitária: a relação entre ética e estética. O que ocorre nas ruas está acontecendo com as artes. Qualquer um pode se intitular artista e expor suas tolices. Ah, essa mania de ser contemporâneo! Há nisso um equívoco diabólico: lamento informar que nem todo mundo é artista. A maioria gostaria de sê-lo. Assim como há gênios, numa escala decrescente de valores há artistas medíocres e os não artistas.
O que faz a ideologia atual?
O que nos dizem as bienais e galerias de arte?
Dizem que todos são artistas, uma mentira que só interessa aos carreiristas.
Mas a ideologia atual vai da estética à ética e causa danos ainda maiores.
Sabemos que todo mundo tem direito a opinar, dizer o que pensa, botar sua palavra no Facebook, no blog. Claro que têm esse direito, até a Constituição garante esse privilégio. Os jornais ampliaram a parte de opinião. Complicou-se a definição do que é opinião pública e opinião publicada. Mas acontece que as opiniões não se equivalem, não têm o mesmo peso e valor. A opinião de um cientista ou médico não pode ser comparada à de um leigo, à de alguém que nunca estudou fenômenos ou células.
O Brasil está levando a permissividade ao extremo. Temos uma palavra para isso: bagunça. Os estrangeiros veem isso claramente. Outro dia, uma revista publicou charges de uma francesa sobre como ela vê o nosso cotidiano. Um horror! Sem saber, ela estava dizendo algo que eu disse em Que país é este?: uma coisa é um país, outra um ajuntamento.
Se manifestantes com boas intenções são incompetentes para segurar os vândalos que se infiltram nas manifestações, seria bom que pensassem em nova tática. Atualmente, na confusão generalizada, parece que os manifestantes estão gritando como naquela música: “Chama o ladrão!”.
Ora, os bandidos estão a postos, rindo de nossa ingenuidade. Atendendo a esse chamado, eles botam máscaras, vão para as ruas e, em vez de coadjuvantes, passam a atores principais.
P.S.: Democracismo é a democracia pervertida. É achar que cada um faz a sua lei.
Isso se manifesta de várias maneiras. O governo, porque é populista e conta com alguns guerrilheiros e ex-torturados na sua chefia, tem medo de ser chamado de repressor. O Exército está acuado e recolhido, desgastado pela última ditadura. E a polícia, apesar de muitos avanços no Rio, é sempre vista sob suspeita. Com isso, abriu-se a porteira. Entramos no terreno da permissividade, que começa no Big brother, passa pelas novelas e chega às ruas.
Essa permissividade, esse viver num lugar que não tem lei nem rei leva a alguns mal-entendidos. O primeiro é ignorar que todo sistema tem lei e tem rei. A natureza não é o caos, que o digam os cientistas. A cultura é a implantação de leis e normas para propiciar a convivência e a produtividade.
Estou quase dizendo uma coisa que parece antiga, mas é moderníssima e essencial à vida comunitária: a relação entre ética e estética. O que ocorre nas ruas está acontecendo com as artes. Qualquer um pode se intitular artista e expor suas tolices. Ah, essa mania de ser contemporâneo! Há nisso um equívoco diabólico: lamento informar que nem todo mundo é artista. A maioria gostaria de sê-lo. Assim como há gênios, numa escala decrescente de valores há artistas medíocres e os não artistas.
O que faz a ideologia atual?
O que nos dizem as bienais e galerias de arte?
Dizem que todos são artistas, uma mentira que só interessa aos carreiristas.
Mas a ideologia atual vai da estética à ética e causa danos ainda maiores.
Sabemos que todo mundo tem direito a opinar, dizer o que pensa, botar sua palavra no Facebook, no blog. Claro que têm esse direito, até a Constituição garante esse privilégio. Os jornais ampliaram a parte de opinião. Complicou-se a definição do que é opinião pública e opinião publicada. Mas acontece que as opiniões não se equivalem, não têm o mesmo peso e valor. A opinião de um cientista ou médico não pode ser comparada à de um leigo, à de alguém que nunca estudou fenômenos ou células.
O Brasil está levando a permissividade ao extremo. Temos uma palavra para isso: bagunça. Os estrangeiros veem isso claramente. Outro dia, uma revista publicou charges de uma francesa sobre como ela vê o nosso cotidiano. Um horror! Sem saber, ela estava dizendo algo que eu disse em Que país é este?: uma coisa é um país, outra um ajuntamento.
Se manifestantes com boas intenções são incompetentes para segurar os vândalos que se infiltram nas manifestações, seria bom que pensassem em nova tática. Atualmente, na confusão generalizada, parece que os manifestantes estão gritando como naquela música: “Chama o ladrão!”.
Ora, os bandidos estão a postos, rindo de nossa ingenuidade. Atendendo a esse chamado, eles botam máscaras, vão para as ruas e, em vez de coadjuvantes, passam a atores principais.
P.S.: Democracismo é a democracia pervertida. É achar que cada um faz a sua lei.
EM DIA COM A PSICANÁLISE » Educação e amor
EM DIA COM A PSICANÁLISE »
Educação e amor
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 16/02/2014
Pelo título não preciso dizer qual será o conteúdo do artigo. E não será surpresa para nenhum brasileiro ler aqui que o Brasil está entre os 10 países com o maior índice de analfabetismo de adultos. Também não será novidade dizer que o investimento no professorado e nas escolas públicas não cobre nem sequer parte da necessidade. Professores da escola pública não compram livros com o desonroso salário recebido.
Qual seria a novidade dos muitos lotes de merenda escolar perdidos por falta de administração e distribuição? Se fizéssemos uma pesquisa entre os jovens do ensino público, salvo raríssimas exceções, veríamos baixos índices de instrução, muitos são semianalfabetos.
E que a política de protecionismo no Brasil facilita com cotas para os menos favorecidos a entrada na universidade, que, ao final, cairá de nível se quiser que os alunos acompanhem sua grade de ensino.
Há uma cascata de consequências para um país cuja população não obteve instrução e não aprendeu a importância da civilidade. De nada adianta maquiar a realidade, sabemos que não há muito de novo no front. A violência espelhada na mídia diariamente indica completa falta de perspectiva de um futuro melhor.
A miséria diminuiu, mas a violência e a marginalidade não. A discrepância entre ricos e pobres permanece enorme. A corrupção continua exemplar. O assassinato recente de um rapaz no Bairro Gutierrez, ele não reagiu à abordagem dos ladrões que pretendiam levar o carro, demonstra que eles não tinham mais nada a perder. Nada mais importa senão a vingança contra aqueles que têm o que perder.
A morte de Santiago, cinegrafista carioca atingido quando trabalhava, e o homem amarrado ao poste e espancado por justiceiros são afinal atos de agressividade igualmente fora da lei, embora no segundo caso seja contra um marginal. Mas não se pode ignorar a lei.
Seria uma grande novidade, e foi Rita Lee quem deu a ideia em rede social, fazer um Big Brother com os candidatos a cargos políticos, para que a população conhecesse as pessoas em quem vota. Ou ainda se fizéssemos pesquisa entre autoridades e políticos para saber quantos mandaram seus filhos para a escola pública brasileira.
Acredito que um dos fatores de maior risco social é a desigualdade e a consequente desestruturação da família. Uma família sem condições de prover a educação de sua prole lançará seus filhos ao mundo no abandono e desamparo. Filhos desamados e miseráveis de afeto serão sempre pessoas em risco.
Na novela Amor à vida, que acabou recentemente, mostrou-se a que extremos pode chegar um homem que sofreu a rejeição e o desprezo do pai. Félix fez muitas maldades e se mostrou monstruoso.
Embora as redes sociais estivessem mais atentas à possibilidade de um beijo gay, creio que o mais importante no desfecho da novela foi a reconciliação entre o pai e o filho. A declaração de um pai e o reconhecimento e acolhimento amoroso de um filho podem ser curativos e salvadores. O pai honra um filho tornando-o homem.
A novela aponta o esforço feito por um filho pelo pai, para ser importante para o pai. Apesar de todo o desprezo e maus-tratos, ele não desistiu da busca por esse reconhecimento.
Se os pais soubessem a importância da paternidade na vida, educação e futuro do filho, seriam muito cuidadosos no desempenho desta função, capaz de honrar um homem, seja ele pobre ou rico. E o poder público também pode, ao conferir valor de fato ao cidadão, fazê-lo um homem de bem.
>> reginacosta@uai.com.br
Pelo título não preciso dizer qual será o conteúdo do artigo. E não será surpresa para nenhum brasileiro ler aqui que o Brasil está entre os 10 países com o maior índice de analfabetismo de adultos. Também não será novidade dizer que o investimento no professorado e nas escolas públicas não cobre nem sequer parte da necessidade. Professores da escola pública não compram livros com o desonroso salário recebido.
Qual seria a novidade dos muitos lotes de merenda escolar perdidos por falta de administração e distribuição? Se fizéssemos uma pesquisa entre os jovens do ensino público, salvo raríssimas exceções, veríamos baixos índices de instrução, muitos são semianalfabetos.
E que a política de protecionismo no Brasil facilita com cotas para os menos favorecidos a entrada na universidade, que, ao final, cairá de nível se quiser que os alunos acompanhem sua grade de ensino.
Há uma cascata de consequências para um país cuja população não obteve instrução e não aprendeu a importância da civilidade. De nada adianta maquiar a realidade, sabemos que não há muito de novo no front. A violência espelhada na mídia diariamente indica completa falta de perspectiva de um futuro melhor.
A miséria diminuiu, mas a violência e a marginalidade não. A discrepância entre ricos e pobres permanece enorme. A corrupção continua exemplar. O assassinato recente de um rapaz no Bairro Gutierrez, ele não reagiu à abordagem dos ladrões que pretendiam levar o carro, demonstra que eles não tinham mais nada a perder. Nada mais importa senão a vingança contra aqueles que têm o que perder.
A morte de Santiago, cinegrafista carioca atingido quando trabalhava, e o homem amarrado ao poste e espancado por justiceiros são afinal atos de agressividade igualmente fora da lei, embora no segundo caso seja contra um marginal. Mas não se pode ignorar a lei.
Seria uma grande novidade, e foi Rita Lee quem deu a ideia em rede social, fazer um Big Brother com os candidatos a cargos políticos, para que a população conhecesse as pessoas em quem vota. Ou ainda se fizéssemos pesquisa entre autoridades e políticos para saber quantos mandaram seus filhos para a escola pública brasileira.
Acredito que um dos fatores de maior risco social é a desigualdade e a consequente desestruturação da família. Uma família sem condições de prover a educação de sua prole lançará seus filhos ao mundo no abandono e desamparo. Filhos desamados e miseráveis de afeto serão sempre pessoas em risco.
Na novela Amor à vida, que acabou recentemente, mostrou-se a que extremos pode chegar um homem que sofreu a rejeição e o desprezo do pai. Félix fez muitas maldades e se mostrou monstruoso.
Embora as redes sociais estivessem mais atentas à possibilidade de um beijo gay, creio que o mais importante no desfecho da novela foi a reconciliação entre o pai e o filho. A declaração de um pai e o reconhecimento e acolhimento amoroso de um filho podem ser curativos e salvadores. O pai honra um filho tornando-o homem.
A novela aponta o esforço feito por um filho pelo pai, para ser importante para o pai. Apesar de todo o desprezo e maus-tratos, ele não desistiu da busca por esse reconhecimento.
Se os pais soubessem a importância da paternidade na vida, educação e futuro do filho, seriam muito cuidadosos no desempenho desta função, capaz de honrar um homem, seja ele pobre ou rico. E o poder público também pode, ao conferir valor de fato ao cidadão, fazê-lo um homem de bem.
>> reginacosta@uai.com.br
Tereza Cruvinel - Estes tempos
Tereza Cruvinel - Estes tempos
Finalmente, o governo proporá uma lei para coibir a violência nos protestos. Até aqui, todos vacilaram na defesa da criminalização da violência que ameaça a democracia
Estado de Minas: 16/02/2014
Imersos em nossa indiferença ou em nossa estupidez, frequentemente precisamos que a morte ou o espantoso despertem nossos sentimentos ou nossa lucidez obscurecida. Assim dizia Albert Camus, com aquela aguda capacidade de nos sacudir com sua ironia sobre os absurdos da vida. Às vezes, “é preciso que algo aconteça, ainda que seja a servidão sem amor, ou mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros”, disse ele discorrendo sobre os gestos e as palavras que só nos ocorrem depois que alguém morreu. Talvez, como disse a filha Vanessa, a morte do cinegrafista Santiago Andrade não tenha sido em vão. Talvez nos desperte para a gravidade deste tempo em que penetramos, pautado pela violência e pela intolerância, desejoso de convulsão e não de paz, fruto da lenta instalação de um certo pensamento entre nós.
É verdade que não há direita ou extrema direita organizada em partidos no Brasil. Todos eles se dizem de esquerda, centro-esquerda ou centro. Mas as atitudes e as ideias que melhor traduzem a direita foram se consolidando nos últimos 10 anos. Ao longo deles, vimos crescer a intolerância para com o divergente, o preconceito contra os pobres (especialmente a partir do advento do Bolsa-Família), e entre os pobres, o desejo de ostentar e consumir, estimulado pelo aumento da renda.
Nesse tempo, ganhou força o moralismo udenista e os democratas de fachada, que buscavam pretexto em qualquer palha seca para denunciar “cerceamento”, “tentativas de controle” , “ameaças à liberdade de expressão”. Depois veio a negação das instituições políticas, especialmente do Congresso e dos partidos, que já falharam muito, mas são insubstituíveis no funcionamento da democracia. A urgência é de aperfeiçoá-los com uma reforma política, ou de mudar-lhes a composição nas próximas eleições. A quem, senão a essa direita autoritária e difusa, sem rosto e sem partido, interessa a desmoralização das instituições que vêm sendo construídas a tanto custo, desde o fim da ditadura?
O PT, para chegar ao poder e nele ficar, cometeu seus erros. Não exatamente os de que é acusado, levando à cadeia seus melhores quadros. Não soube, de todo modo, enfrentar a vertigem, contrapor-se aos que se valeram de seu infortúnio para fomentar a descrença na política.
A internet contribuiu, e, em seu território, os contendores passaram a se esgrimir com uma violência verbal inaudita, incivilizada, agressiva. Puderam livremente ofender, tripudiar, agredir, desqualificar, provocar. A princípio, digladiavam os representantes da polaridade PT-PSDB. Depois, outras forças entraram no jogo e o dominaram. Ontem, fiquei espantada com o resumo do perfil de um seguidor meu numa rede social: apresentava-se como generalíssimo e pregava: “A violência é a única forma de luta e o sangue é o combustível da história”. A frase é de Stalin, no contexto da guerra contra Hitler. Tudo isso fomos achando normal.
As palavras ajudaram a gestar as ações. As manifestações autênticas e democráticas de junho abriram a porteira para a violência que mostrou sua cara em julho. As máscaras de Anonymous eram vendidas na Rua 25 de Março, em São Paulo, por meros R$ 0,50. Achamos normal, mas obviamente alguém estava pagando. Surgiram os black blocs, mas ai de quem criticasse essa “nova forma de militância”. Os vândalos quase invadiram o Congresso, chegando cobrir com uma cusparada um vidro sobre o gabinete do presidente Renan Calheiros. O Itamaraty por pouco não ardeu em chamas. Mas passou e respiramos aliviados.
Encerrada a crise das passagens, a Copa tornou-se o alvo. Feita uma pausa para o Natal, os rolezinhos acenderam a fagulha e o vulcão da violência aproveitou para voltou à atividade. Centenas de ônibus incendiados, quebra-quebra de metrô, barbárie num presídio, justiçamentos na rua. E tome discursos semifascistas, vindos até de uma apresentadora de televisão.
Nós, imprensa, fizemos a nossa parte nessa construção canhestra. Ante a força de Lula e a debilidade da oposição, surgiu a ideia de que a imprensa deveria substitui-la. Nenhum presidente foi hostilizado como ele, nenhum governo tratado como o dele. Mais dos que as críticas do PT aos meios de comunicação, foi a transfiguração do jornalismo em oposicionismo que mais fomentou as hostilidades à mídia nas manifestações. Mas, como elas podiam ser úteis para desgastar o governo Dilma, as emissoras de televisão se curvaram ao autoritarismo vândalo, cobrindo os protestos com carros não identificados. Nessa fervura, fatalmente aconteceria uma morte, e ela precisa servir como hora do espanto para todos.
Finalmente, o governo anuncia que proporá uma lei que, assegurando o sagrado direito de manifestação, possa coibir a violência nos protestos. É preciso ter a coragem do cientista Wanderley Guilherme dos Santos para dizer: “Sou a favor da criminalização e da repressão às manifestações criminosas, a saber, as que agridam pessoas, depredem propriedade, especialmente públicas, e convoquem a violência para a desmoralização das instituições democráticas e representativas”. Endosso.
A polícia já produziu número maior de mortes, lembra-me Savio Bones: só em Minas ocorreram seis mortes. Duas, de jovens que fugindo da repressão violenta, despencaram de um viaduto em BH. A polícia também precisa de limites para atuar nas manifestações, não está servindo a nenhuma ditadura. A lei que Dilma proporá precisa tratar disso. Mas a lei nada resolverá se não acordarmos para o fato de que, nessa batida, vamos dar em algum buraco. É preciso dar combate às ideias e às ações que não servem à paz e à democracia.
Finalmente, o governo proporá uma lei para coibir a violência nos protestos. Até aqui, todos vacilaram na defesa da criminalização da violência que ameaça a democracia
Estado de Minas: 16/02/2014
Imersos em nossa indiferença ou em nossa estupidez, frequentemente precisamos que a morte ou o espantoso despertem nossos sentimentos ou nossa lucidez obscurecida. Assim dizia Albert Camus, com aquela aguda capacidade de nos sacudir com sua ironia sobre os absurdos da vida. Às vezes, “é preciso que algo aconteça, ainda que seja a servidão sem amor, ou mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros”, disse ele discorrendo sobre os gestos e as palavras que só nos ocorrem depois que alguém morreu. Talvez, como disse a filha Vanessa, a morte do cinegrafista Santiago Andrade não tenha sido em vão. Talvez nos desperte para a gravidade deste tempo em que penetramos, pautado pela violência e pela intolerância, desejoso de convulsão e não de paz, fruto da lenta instalação de um certo pensamento entre nós.
É verdade que não há direita ou extrema direita organizada em partidos no Brasil. Todos eles se dizem de esquerda, centro-esquerda ou centro. Mas as atitudes e as ideias que melhor traduzem a direita foram se consolidando nos últimos 10 anos. Ao longo deles, vimos crescer a intolerância para com o divergente, o preconceito contra os pobres (especialmente a partir do advento do Bolsa-Família), e entre os pobres, o desejo de ostentar e consumir, estimulado pelo aumento da renda.
Nesse tempo, ganhou força o moralismo udenista e os democratas de fachada, que buscavam pretexto em qualquer palha seca para denunciar “cerceamento”, “tentativas de controle” , “ameaças à liberdade de expressão”. Depois veio a negação das instituições políticas, especialmente do Congresso e dos partidos, que já falharam muito, mas são insubstituíveis no funcionamento da democracia. A urgência é de aperfeiçoá-los com uma reforma política, ou de mudar-lhes a composição nas próximas eleições. A quem, senão a essa direita autoritária e difusa, sem rosto e sem partido, interessa a desmoralização das instituições que vêm sendo construídas a tanto custo, desde o fim da ditadura?
O PT, para chegar ao poder e nele ficar, cometeu seus erros. Não exatamente os de que é acusado, levando à cadeia seus melhores quadros. Não soube, de todo modo, enfrentar a vertigem, contrapor-se aos que se valeram de seu infortúnio para fomentar a descrença na política.
A internet contribuiu, e, em seu território, os contendores passaram a se esgrimir com uma violência verbal inaudita, incivilizada, agressiva. Puderam livremente ofender, tripudiar, agredir, desqualificar, provocar. A princípio, digladiavam os representantes da polaridade PT-PSDB. Depois, outras forças entraram no jogo e o dominaram. Ontem, fiquei espantada com o resumo do perfil de um seguidor meu numa rede social: apresentava-se como generalíssimo e pregava: “A violência é a única forma de luta e o sangue é o combustível da história”. A frase é de Stalin, no contexto da guerra contra Hitler. Tudo isso fomos achando normal.
As palavras ajudaram a gestar as ações. As manifestações autênticas e democráticas de junho abriram a porteira para a violência que mostrou sua cara em julho. As máscaras de Anonymous eram vendidas na Rua 25 de Março, em São Paulo, por meros R$ 0,50. Achamos normal, mas obviamente alguém estava pagando. Surgiram os black blocs, mas ai de quem criticasse essa “nova forma de militância”. Os vândalos quase invadiram o Congresso, chegando cobrir com uma cusparada um vidro sobre o gabinete do presidente Renan Calheiros. O Itamaraty por pouco não ardeu em chamas. Mas passou e respiramos aliviados.
Encerrada a crise das passagens, a Copa tornou-se o alvo. Feita uma pausa para o Natal, os rolezinhos acenderam a fagulha e o vulcão da violência aproveitou para voltou à atividade. Centenas de ônibus incendiados, quebra-quebra de metrô, barbárie num presídio, justiçamentos na rua. E tome discursos semifascistas, vindos até de uma apresentadora de televisão.
Nós, imprensa, fizemos a nossa parte nessa construção canhestra. Ante a força de Lula e a debilidade da oposição, surgiu a ideia de que a imprensa deveria substitui-la. Nenhum presidente foi hostilizado como ele, nenhum governo tratado como o dele. Mais dos que as críticas do PT aos meios de comunicação, foi a transfiguração do jornalismo em oposicionismo que mais fomentou as hostilidades à mídia nas manifestações. Mas, como elas podiam ser úteis para desgastar o governo Dilma, as emissoras de televisão se curvaram ao autoritarismo vândalo, cobrindo os protestos com carros não identificados. Nessa fervura, fatalmente aconteceria uma morte, e ela precisa servir como hora do espanto para todos.
Finalmente, o governo anuncia que proporá uma lei que, assegurando o sagrado direito de manifestação, possa coibir a violência nos protestos. É preciso ter a coragem do cientista Wanderley Guilherme dos Santos para dizer: “Sou a favor da criminalização e da repressão às manifestações criminosas, a saber, as que agridam pessoas, depredem propriedade, especialmente públicas, e convoquem a violência para a desmoralização das instituições democráticas e representativas”. Endosso.
A polícia já produziu número maior de mortes, lembra-me Savio Bones: só em Minas ocorreram seis mortes. Duas, de jovens que fugindo da repressão violenta, despencaram de um viaduto em BH. A polícia também precisa de limites para atuar nas manifestações, não está servindo a nenhuma ditadura. A lei que Dilma proporá precisa tratar disso. Mas a lei nada resolverá se não acordarmos para o fato de que, nessa batida, vamos dar em algum buraco. É preciso dar combate às ideias e às ações que não servem à paz e à democracia.
Zeca Baleiro convida os amigos e transforma em canções a poesia de José Chagas
Palavra acesa
O cantor e compositor Zeca Baleiro convida os amigos e transforma em canções a poesia de José Chagas. Fagner, Ednardo e Chico César são algumas das participações especiais
Kiko Ferreira
Estado de Minas: 16/02/2014
Zeca Baleiro, depois de projeto dedicado a Hilda Hilst, volta a casar música e literatura |
Dez
anos depois de gravar e lançar o ótimo Ode descontínua e remota para
flauta e oboé, com 10 poemas de Hilda Hilst transformados em (boa)
música, Zeca Baleiro volta a celebrar a literatura com A palavra acesa
de José Chagas. O veterano poeta, maranhense nascido na Paraíba, em
outubro de 1924, tem 20 livros lançados e tem na bagagem elogios de
Drummond, Gullar e Wilson Martins. A carreira literária começou com
Canção da expectativa, de 1955, e pouco ultrapassou os limites do
Maranhão.
Baleiro teve oportunidade de conviver com o poeta na infância, em São Luís, na casa do poeta, boêmio e jornalista Paulo Nascimento Moraes, na função de... saxofonista. Esta intimidade com a música certamente colaborou para que seus poemas “A palafita” e “Palavra acesa” virassem canções e tenham sido gravados pelo Quinteto Violado no LP Até a Amazônia?!, de 1979. A segunda, que ficou conhecida como tema do personagem Zé Galinha, vivido por Osmar Prado, na novela Renascer, batiza o disco, bolado e produzido por Zeca e pelo poeta Celso Borges, com André Oliveira, Samme Araya e a mineira Rossana DeCelso, sócia de Baleiro na gravadora Saravá.
Aberto com o próprio poeta, lendo trecho de “Os telhados”, de 1965, sobre trilha de Zeca, o livro, digo, disco, já mostra sua densidade na segunda faixa, Os canhões do silêncio, em que o autor da melodia, Assis Medeiros, dá a gravidade necessária a versos que falam de “vasta paz de poeira” e ”ira da carne acesa”. Já Chico Saldanha suinga (com Tássia Campos) em A cidade era feita de poesia, com melodia sinuosa para versos que tratam de trem e poesia numa abordagem que julga o canto “a voz tardia de uma mensagem que se perde no ar”.
Um sol que, em vez de iluminar, incendeia é a chave do Campoema, retrato do camponês em eterna luta tornado música e cantado por Cesar Teixeira. Fagner, que nos anos 80 produziu dois projetos semelhantes, Poetas de Nova York (sobre poemas de García Lorca) e Homenagem a Pablo Picasso, comparece como contido intérprete, ao lado da portuguesa Susana Travassos, da envolvente melodia que Baleiro fez para o poema “Noturno nº 2”, um monumento épico e insone.
Outro talentoso maranhense, infelizmente desconhecido do público, Josias Sobrinho, é autor de A vida é ciranda, defendida com delicadeza pela baiana Márcia Castro. A leveza carnavalesca relaxa ouvidos antes da leitura curta e seca de José Chagas para “Poema II” abrir espaço para Palavra acesa, de Fernando Filizola, com a voz de Baleiro lembrando o Fagner da fase Ave noturna, sensação reforçada pelos violões de Tudo Marcondes. Uma histórica associação das vozes de Chico César e Ednardo emociona com Sobrado, na melodia de Chico sobre versos que poderiam ter sido feitos pelo cearense, com seu jogo de palavras descrevendo um sobrado que simboliza a história da cidade, seus tempos e templos.
Outro maranhenese, Nosly, que já foi Nosly Júnior e morou em BH, canta e divide com Celso Borges a melodia de A ceia do mundo, com ar espanholado e dramaticidade ibérica. A sonoridade mais contemporânea dá os ares da versão que Lula Queiroga e Silvério Pessoa oferecem para a já clássica A palafita (Fernando Filizola/Toinho Alves). O último capítulo é um “Poema III”, lido por José Chagas sobre trilha de Zeca Baleiro, com ares cabralianos e duras críticas ao turismo feito de poeira, à minuta, como às farsas eleitorais, com a figura marcante de “um boi que morreu de tanto/ ser forçado a carnavais/ que são aqui o encanto/ das áreas oficiais”. Um final digno da poesia de um mestre que merece melhor (re)conhecimento.
Baleiro teve oportunidade de conviver com o poeta na infância, em São Luís, na casa do poeta, boêmio e jornalista Paulo Nascimento Moraes, na função de... saxofonista. Esta intimidade com a música certamente colaborou para que seus poemas “A palafita” e “Palavra acesa” virassem canções e tenham sido gravados pelo Quinteto Violado no LP Até a Amazônia?!, de 1979. A segunda, que ficou conhecida como tema do personagem Zé Galinha, vivido por Osmar Prado, na novela Renascer, batiza o disco, bolado e produzido por Zeca e pelo poeta Celso Borges, com André Oliveira, Samme Araya e a mineira Rossana DeCelso, sócia de Baleiro na gravadora Saravá.
Aberto com o próprio poeta, lendo trecho de “Os telhados”, de 1965, sobre trilha de Zeca, o livro, digo, disco, já mostra sua densidade na segunda faixa, Os canhões do silêncio, em que o autor da melodia, Assis Medeiros, dá a gravidade necessária a versos que falam de “vasta paz de poeira” e ”ira da carne acesa”. Já Chico Saldanha suinga (com Tássia Campos) em A cidade era feita de poesia, com melodia sinuosa para versos que tratam de trem e poesia numa abordagem que julga o canto “a voz tardia de uma mensagem que se perde no ar”.
Um sol que, em vez de iluminar, incendeia é a chave do Campoema, retrato do camponês em eterna luta tornado música e cantado por Cesar Teixeira. Fagner, que nos anos 80 produziu dois projetos semelhantes, Poetas de Nova York (sobre poemas de García Lorca) e Homenagem a Pablo Picasso, comparece como contido intérprete, ao lado da portuguesa Susana Travassos, da envolvente melodia que Baleiro fez para o poema “Noturno nº 2”, um monumento épico e insone.
Outro talentoso maranhense, infelizmente desconhecido do público, Josias Sobrinho, é autor de A vida é ciranda, defendida com delicadeza pela baiana Márcia Castro. A leveza carnavalesca relaxa ouvidos antes da leitura curta e seca de José Chagas para “Poema II” abrir espaço para Palavra acesa, de Fernando Filizola, com a voz de Baleiro lembrando o Fagner da fase Ave noturna, sensação reforçada pelos violões de Tudo Marcondes. Uma histórica associação das vozes de Chico César e Ednardo emociona com Sobrado, na melodia de Chico sobre versos que poderiam ter sido feitos pelo cearense, com seu jogo de palavras descrevendo um sobrado que simboliza a história da cidade, seus tempos e templos.
Outro maranhenese, Nosly, que já foi Nosly Júnior e morou em BH, canta e divide com Celso Borges a melodia de A ceia do mundo, com ar espanholado e dramaticidade ibérica. A sonoridade mais contemporânea dá os ares da versão que Lula Queiroga e Silvério Pessoa oferecem para a já clássica A palafita (Fernando Filizola/Toinho Alves). O último capítulo é um “Poema III”, lido por José Chagas sobre trilha de Zeca Baleiro, com ares cabralianos e duras críticas ao turismo feito de poeira, à minuta, como às farsas eleitorais, com a figura marcante de “um boi que morreu de tanto/ ser forçado a carnavais/ que são aqui o encanto/ das áreas oficiais”. Um final digno da poesia de um mestre que merece melhor (re)conhecimento.
TeVê
TV paga
Estado de Minas: 16/02/2014
Esquenta O carnaval está chegando e ninguém melhor que o Velho Guerreiro (foto) para agitar a festa. O canal Viva antecipa a folia com mais uma edição do Cassino do Chacrinha, hoje, às 19h45. No palco, Neguinho da Beija-Flor, Alcione e Jair Rodrigues, entre outros.
Sonoras Ainda no segmento musical, o violonista Marco Pereira é destaque no SescTV, no programa Passagem de som, às 21h, e, em seguida, no Instrumental Sesc Brasil, às 21h30, com Bebê Kramer no acordeom e Guto Wirtti no contrabaixo. No Canal Brasil, a série 100 anos de samba apresenta o episódio inédito “Samba de breque, sincopado e gafieira”, às 21h30. No canal Bio, às 18h, vai ao ar um especial sobre a banda britânica Queen, de Freddie Mercury.
Memória Na Cultura, às 21h, será exibido o documentário Teatro Amazonas., que revela a verdadeira história da construção de um dos mais importante e belos teatros do país. Inaugurado há mais de um século (1896), o tetro se confunde com a história da urbanização de Manaus e o auge do ciclo da borracha na região amazônica. Participam do longa o músico Jair Oliveira, o poeta Thiago de Mello e o escritor Milton Hatoum, além de arquitetos e historiadores.
Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Estado de Minas: 16/02/2014
Esquenta O carnaval está chegando e ninguém melhor que o Velho Guerreiro (foto) para agitar a festa. O canal Viva antecipa a folia com mais uma edição do Cassino do Chacrinha, hoje, às 19h45. No palco, Neguinho da Beija-Flor, Alcione e Jair Rodrigues, entre outros.
Sonoras Ainda no segmento musical, o violonista Marco Pereira é destaque no SescTV, no programa Passagem de som, às 21h, e, em seguida, no Instrumental Sesc Brasil, às 21h30, com Bebê Kramer no acordeom e Guto Wirtti no contrabaixo. No Canal Brasil, a série 100 anos de samba apresenta o episódio inédito “Samba de breque, sincopado e gafieira”, às 21h30. No canal Bio, às 18h, vai ao ar um especial sobre a banda britânica Queen, de Freddie Mercury.
Memória Na Cultura, às 21h, será exibido o documentário Teatro Amazonas., que revela a verdadeira história da construção de um dos mais importante e belos teatros do país. Inaugurado há mais de um século (1896), o tetro se confunde com a história da urbanização de Manaus e o auge do ciclo da borracha na região amazônica. Participam do longa o músico Jair Oliveira, o poeta Thiago de Mello e o escritor Milton Hatoum, além de arquitetos e historiadores.
Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
A volta do canibal
A segunda temporada de Hannibal estreia nos Estados Unidos dia 28. Por aqui, no a série começa pouco depois, em 10 de março, às 23h, no AXN. O canal está fazendo um “esquenta” para a nova temporada, já que a produção inspirada em um dos grandes assassinos seriais do cinema, é um de seus trunfos. Até a estreia, sempre aos sábados, a partir das 17h, serão exibidas maratonas com quatro capítulos. No novo ano, também com 13 episódios, haverá novos personagens. Um dos destaques será Mason Verger (interpretado por Michael Pitt) como um paciente do dr. Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen). Milionário e instável, ele inicia um jogo de gato e rato com o psiquiatra. Para os fãs do serial killer, Verger foi visto no filme de 2001 (a segunda sequência), interpretado por Gary Oldman.
Olhar criminoso –Produção holandesa, Godforsaken: Assassinos verdadeiros chega à sua segunda temporada amanhã, às 21h, no + Globosat. Baseada em fatos reais, traz como diferencial o ponto de vista do criminoso. Em 10 episódios, mostra a vida de dois adolescentes que, nos anos 1990, matam acidentalmente uma pessoa durante um assalto e se envolvem no perigoso mundo da máfia turca.
Sem volta –Mob city estreou com certo alarde no início do mês na TNT. A expectativa foi gerada em torno do nome de Frank Darabont, também a figura por trás do sucesso The walking dead. Pois o canal já cancelou a atração, depois de seis episódios. A fraca audiência, como sempre, foi a razão do cancelamento.
Ponto final –Sábado, às 20h, o A&E exibe o final de The Glades, série policial que teve quatro temporadas. No derradeiro episódio, Jim Longworth (Matt Passmore) e Callie (Kiele Sanchez) têm que decidir o que fazer com o relacionamento deles. E o detetive também terá que investigar um assassinato num campo de golfe.
Caras & Bocas Simone Castrosimone.castro@uai.com.br
Vida preciosa
Quem poderia imaginar que depois do estupro que sofreu, numa cena fortíssima da então segunda fase de Em família (Globo), Neidinha (Jéssica Barbosa) teria força e coragem para aceitar a gravidez e criar a filha gerada num ato violento? Pois a terceira e última fase da trama de Manoel Carlos não deixa dúvidas: a alegre e exuberante jovem Alice, vivida por Erika Januza (foto), é a menina que deixa orgulhosa a mãe, agora interpretada por Elina Souza. Sobrinha de Virgílio (Humberto Martins), Alice foi criada por ele e Helena (Julia Lemmertz) e cresceu com Luiza (Bruna Marquezine), filha do casal, de quem se tornou grande amiga e cúmplice. A Alice nunca soube o que ocorreu com a mãe e vive dias felizes, dedicada ao violino, à dança e ao namoro com Matias (Jorge Sá). Mas, um dia o estupro sofrido por sua mãe virá à tona. “Alice vai sair à procura desse pai estuprador que ela teve. Como faltam referências objetivas dos autores, vai repercutir bastante”, prevê o novelista Manuel Carlos, que baseou a trama numa história real que chocou o país: em março do ano passado, no Rio de Janeiro, uma jovem turista americana, na companhia do namorado, pegou uma van em Copacabana e foi violentada durante seis horas por três homens.
VIAÇÃO CIPÓ VISITA HOJE A REGIÃO DE INHAÚMA
O programa Viação Cipó desembarca em Inhaúma, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, que concentra algumas das melhores fazendas de Minas Gerais. Com destaque para a Fazenda Pacu, que aproveitou o cenário para lançar um condomínio que promete deixar a região ainda mais charmosa. Mais: na receita, confira uma carne na lata; na música, a animação é com o grupo Cachaça com Arnica, que fala do carnaval de Itabirito. Hoje, às 10h, na Alterosa.
SBT MANHÃ TERÁ NOVA CARA E MUDARÁ DE NOME
Apresentado por César Filho, o SBT manhã passará por uma repaginada e também mudará de nome, que ainda não foi divulgado pela emissora. Com bons índices de audiência, a atração projeta maior crescimento no horário em que vai ao ar, das 6h às 9h. Antes, a partir das 4h, os jornalistas Hermano Henning e Joyce Ribeiro comandam o telejornal da madrugada.
THAEME & THIAGO FAZEM A FESTA NO RITMO BRASIL
A dupla Thaeme & Thiago, em sua nova formação, é a convidada do Ritmo Brasil deste domingo, às 18h15, na RedeTV!. Em clima de verão, os cantores fazem um passeio por um clube às margens da represa de Guarapiranga, em São Paulo. Guilherme Bertoldo, ex-vocalista do grupo Tradição e que passou a adotar o nome artístico de Thiago Bertoldo para integrar a dupla, fala sobre as mudanças em sua trajetória, os principais desafios desta nova fase e a experiência de sair de um grupo com o estilo “tradicional” e migrar para o sertanejo pop. Thiago também comenta a convivência com Thaeme, apesar do pouco tempo juntos. A dupla fala, ainda, dos medos e incertezas ligados à carreira.e dos preparativos para o DVD Novos tempos, que será gravado agora em março.
CANAL VIVA ESQUENTA A BATERIA PARA O CARNAVAL
O Viva (TV paga) estreia na transmissão do carnaval. Ao vivo e em HD, o Viva folia exibe, dias 2 e 7 de março, respectivamente, os desfiles do grupo de acesso e das campeãs de São Paulo. Para a cobertura do Anhembi foram escalados os repórteres Alê Primo, Mariane Salerno, Júlia Bandeira, Renata Simões e Paulo Vinícius. O narrador será Roberto Nonato. Cuca Lazzarotto também acompanhará Roberto na narração. Entre os comentaristas, os cantores Luciana Mello e Rappin Hood. Já nas campeãs cariocas, no dia 8, as reportagens vão ficar por conta das atrizes Taís Araújo e Betty Lago, do apresentador Bruno de Luca e da humorista Samantha Schumütz. Na narração, Alexandre Araújo e Vanessa Riche. Para comentar os desfiles, o carnavalesco Max Lopes e a cantora Teresa Cristina.
A GAROTADA VAI GANHAR DUAS NOVAS ATRAÇÕES
O Cartoon Network (TV paga), segundo o site Na telinha, não só comprou o seriado Power rangers como fechou acordo com a produtora Saban Brands para exibir seus conteúdos no Brasil. Por causa disso, a emissora também adquiriu a nova temporada do desenho japonês Digimon fusion, que já foi fenômeno por aqui nos anos 2000. O pacote inclui as antigas fases do desenho, exibidas na Globo, Rede TV! e Disney XD.
PAGODE ROLA SOLTO COM ALEXANDRE PIRES E O SPC
O Domingo legal em ritmo de pagode, hoje, às 11h, no SBT/Alterosa. No palco, o grupo Só Pra Contrariar com Alexandre Pires. Eles vão cantar, ao vivo, os sucessos que marcaram os 25 anos de carreira. Outros destaques da atração de Celso Portiolli: muita torta na cara no “Passa ou repassa” e MC Gui realizando o sonho de suas fãs no quadro “A princesa e o plebeu”, além das pegadinhas do “Telegrama legal”.
A segunda temporada de Hannibal estreia nos Estados Unidos dia 28. Por aqui, no a série começa pouco depois, em 10 de março, às 23h, no AXN. O canal está fazendo um “esquenta” para a nova temporada, já que a produção inspirada em um dos grandes assassinos seriais do cinema, é um de seus trunfos. Até a estreia, sempre aos sábados, a partir das 17h, serão exibidas maratonas com quatro capítulos. No novo ano, também com 13 episódios, haverá novos personagens. Um dos destaques será Mason Verger (interpretado por Michael Pitt) como um paciente do dr. Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen). Milionário e instável, ele inicia um jogo de gato e rato com o psiquiatra. Para os fãs do serial killer, Verger foi visto no filme de 2001 (a segunda sequência), interpretado por Gary Oldman.
Olhar criminoso –Produção holandesa, Godforsaken: Assassinos verdadeiros chega à sua segunda temporada amanhã, às 21h, no + Globosat. Baseada em fatos reais, traz como diferencial o ponto de vista do criminoso. Em 10 episódios, mostra a vida de dois adolescentes que, nos anos 1990, matam acidentalmente uma pessoa durante um assalto e se envolvem no perigoso mundo da máfia turca.
Sem volta –Mob city estreou com certo alarde no início do mês na TNT. A expectativa foi gerada em torno do nome de Frank Darabont, também a figura por trás do sucesso The walking dead. Pois o canal já cancelou a atração, depois de seis episódios. A fraca audiência, como sempre, foi a razão do cancelamento.
Ponto final –Sábado, às 20h, o A&E exibe o final de The Glades, série policial que teve quatro temporadas. No derradeiro episódio, Jim Longworth (Matt Passmore) e Callie (Kiele Sanchez) têm que decidir o que fazer com o relacionamento deles. E o detetive também terá que investigar um assassinato num campo de golfe.
Caras & Bocas Simone Castrosimone.castro@uai.com.br
Vida preciosa
Quem poderia imaginar que depois do estupro que sofreu, numa cena fortíssima da então segunda fase de Em família (Globo), Neidinha (Jéssica Barbosa) teria força e coragem para aceitar a gravidez e criar a filha gerada num ato violento? Pois a terceira e última fase da trama de Manoel Carlos não deixa dúvidas: a alegre e exuberante jovem Alice, vivida por Erika Januza (foto), é a menina que deixa orgulhosa a mãe, agora interpretada por Elina Souza. Sobrinha de Virgílio (Humberto Martins), Alice foi criada por ele e Helena (Julia Lemmertz) e cresceu com Luiza (Bruna Marquezine), filha do casal, de quem se tornou grande amiga e cúmplice. A Alice nunca soube o que ocorreu com a mãe e vive dias felizes, dedicada ao violino, à dança e ao namoro com Matias (Jorge Sá). Mas, um dia o estupro sofrido por sua mãe virá à tona. “Alice vai sair à procura desse pai estuprador que ela teve. Como faltam referências objetivas dos autores, vai repercutir bastante”, prevê o novelista Manuel Carlos, que baseou a trama numa história real que chocou o país: em março do ano passado, no Rio de Janeiro, uma jovem turista americana, na companhia do namorado, pegou uma van em Copacabana e foi violentada durante seis horas por três homens.
VIAÇÃO CIPÓ VISITA HOJE A REGIÃO DE INHAÚMA
O programa Viação Cipó desembarca em Inhaúma, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, que concentra algumas das melhores fazendas de Minas Gerais. Com destaque para a Fazenda Pacu, que aproveitou o cenário para lançar um condomínio que promete deixar a região ainda mais charmosa. Mais: na receita, confira uma carne na lata; na música, a animação é com o grupo Cachaça com Arnica, que fala do carnaval de Itabirito. Hoje, às 10h, na Alterosa.
SBT MANHÃ TERÁ NOVA CARA E MUDARÁ DE NOME
Apresentado por César Filho, o SBT manhã passará por uma repaginada e também mudará de nome, que ainda não foi divulgado pela emissora. Com bons índices de audiência, a atração projeta maior crescimento no horário em que vai ao ar, das 6h às 9h. Antes, a partir das 4h, os jornalistas Hermano Henning e Joyce Ribeiro comandam o telejornal da madrugada.
THAEME & THIAGO FAZEM A FESTA NO RITMO BRASIL
A dupla Thaeme & Thiago, em sua nova formação, é a convidada do Ritmo Brasil deste domingo, às 18h15, na RedeTV!. Em clima de verão, os cantores fazem um passeio por um clube às margens da represa de Guarapiranga, em São Paulo. Guilherme Bertoldo, ex-vocalista do grupo Tradição e que passou a adotar o nome artístico de Thiago Bertoldo para integrar a dupla, fala sobre as mudanças em sua trajetória, os principais desafios desta nova fase e a experiência de sair de um grupo com o estilo “tradicional” e migrar para o sertanejo pop. Thiago também comenta a convivência com Thaeme, apesar do pouco tempo juntos. A dupla fala, ainda, dos medos e incertezas ligados à carreira.e dos preparativos para o DVD Novos tempos, que será gravado agora em março.
CANAL VIVA ESQUENTA A BATERIA PARA O CARNAVAL
O Viva (TV paga) estreia na transmissão do carnaval. Ao vivo e em HD, o Viva folia exibe, dias 2 e 7 de março, respectivamente, os desfiles do grupo de acesso e das campeãs de São Paulo. Para a cobertura do Anhembi foram escalados os repórteres Alê Primo, Mariane Salerno, Júlia Bandeira, Renata Simões e Paulo Vinícius. O narrador será Roberto Nonato. Cuca Lazzarotto também acompanhará Roberto na narração. Entre os comentaristas, os cantores Luciana Mello e Rappin Hood. Já nas campeãs cariocas, no dia 8, as reportagens vão ficar por conta das atrizes Taís Araújo e Betty Lago, do apresentador Bruno de Luca e da humorista Samantha Schumütz. Na narração, Alexandre Araújo e Vanessa Riche. Para comentar os desfiles, o carnavalesco Max Lopes e a cantora Teresa Cristina.
A GAROTADA VAI GANHAR DUAS NOVAS ATRAÇÕES
O Cartoon Network (TV paga), segundo o site Na telinha, não só comprou o seriado Power rangers como fechou acordo com a produtora Saban Brands para exibir seus conteúdos no Brasil. Por causa disso, a emissora também adquiriu a nova temporada do desenho japonês Digimon fusion, que já foi fenômeno por aqui nos anos 2000. O pacote inclui as antigas fases do desenho, exibidas na Globo, Rede TV! e Disney XD.
PAGODE ROLA SOLTO COM ALEXANDRE PIRES E O SPC
O Domingo legal em ritmo de pagode, hoje, às 11h, no SBT/Alterosa. No palco, o grupo Só Pra Contrariar com Alexandre Pires. Eles vão cantar, ao vivo, os sucessos que marcaram os 25 anos de carreira. Outros destaques da atração de Celso Portiolli: muita torta na cara no “Passa ou repassa” e MC Gui realizando o sonho de suas fãs no quadro “A princesa e o plebeu”, além das pegadinhas do “Telegrama legal”.
Novos métodos [Sessão de terapia]
Novos métodos
Na terceira temporada de Sessão de terapia, que estreia só em agosto, no canal GNT, o personagem Theo vai passar a fazer análise com um grupo de psicólogos
Estado de Minas: 16/02/2014
Do ano passado, só Zécarlos Machado continua na série, pois o elenco foi todo reformulado |
Os embates de Theo (Zécarlos Machado) com Dora (Selma Egrei) saem de cena na terceira temporada de Sessão de terapia, prevista para estrear em agosto, no canal pago GNT. Agora, o personagem mostrará o que se passa em sua cabeça em sessões de análise com um grupo de psicólogos criado por Evandro (Fernando Eiras), que conta com um ex-colega de faculdade de Theo, Guilherme Damasceno (Celso Frateschi), e com uma jovem que é extremamente dedicada à psicoterapia, Rita Sanchez (Camila Pitanga).
Essa é a principal novidade na atração, que já começou a ser gravada em São Paulo. O ritmo sem pressa da narrativa, que apresenta um paciente a cada dia da semana, será mantido na nova temporada. “O programa passa a sensação de ser meio salmão, está sempre nadando contra a corrente. Indo na contramão em uma época em que está todo mundo afobado”, diz Selton Mello, que continua na direção do seriado.
RENOVAÇÃO Com exceção de Zécarlos Machado, todo o elenco foi renovado. O protagonista vai continuar atendendo pacientes em seu consultório nos episódios de segunda a quinta-feira. No começo da semana, ele passa a tratar Bianca (Letícia Sabatella), uma professora de literatura que procura a terapia para tentar salvar seu casamento com Tadeu Cadore (Nicolas Trevijano). A relação passa por uma crise por causa do ciúme, mas ela está disposta a tudo para continuar vivendo com o homem que ama.
Às terças-feiras, entra em cena Diego Duarte (Ravel Andrade), um estudante de 16 anos, que é de família rica, mas bebe demais e está viciado em álcool. Nas quartas-feiras é a vez de Felipe Alcântara (Rafael Lozano), um administrador bem-sucedido que enfrenta um grande dilema: casar com uma mulher ou assumir que é gay. Por último, às quintas-feiras, Milena Dantas (Paula Possani) vai fazer terapia para enfrentar o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Ela é a viúva de Breno Dantas (Sergio Guizé), atirador que morreu na primeira temporada de Sessão de terapia.
Nas sextas-feiras, Theo fará a sua nova terapia em grupo. Evandro, personagem de Eiras, é descrito na sinopse da trama como um terapeuta renomado de 65 anos, com carreira no exterior e muito tímido. Já o papel de Celso Frateschi é o de um terapeuta de 58 anos que estudou psicologia com Theo na juventude, enquanto Camila Pitanga terá a missão de representar uma jovem inteligente, aplicada e apaixonada pela profissão.
Às vésperas da estreia da segunda temporada, em outubro do ano passado, o GNT e o produtor Roberto D’Avila, da Moonshot Pictures, que executa o projeto da série, anunciaram que a terceira temporada seria realizada. O que só foi possível pelo retorno de audiência e a boa repercussão em termos de crítica que Sessão de terapia teve desde a primeira temporada.
Selton Mello ainda não entra em cena na nova edição, mas atuar no seriado é algo que ele ainda não descartou de vez. “Quem sabe na quinta ou sexta temporada?”, brinca ele, que ficou oito meses se dedicando à segunda temporada do programa. Selton afirma que como diretor se expressa de maneira mais ampla. “Tudo veio da necessidade de expressão, que chegou em um momento em que eu queria falar algo, que como ator já não estava conseguindo.”
Auxílio luxuoso - Ailton Magioli
Auxílio luxuoso
Autores de telenovelas contam com time de colaboradores para manter qualidade em tramas com mais de 200 capítulos. Com o tempo, muitos se tornam titulares
Ailton Magioli
Estado de Minas: 16/02/2014
Cláudia Lage é atriz, escritora e professora, mas se realiza como autora de telenovelas |
João Ximenes começou como colaborador e vai integrar trio de autores do horário nobre |
Ganhadora do Emmy Internacional 2013 na categoria de melhor telenovela, Lado a lado, da TV Globo, ainda estava no ar quando o autor, João Ximenes Braga, recebeu convite de Gilberto Braga para voltar a trabalhar com ele e Ricardo Linhares em uma das próximas tramas das nove da emissora, prevista para 2015. Antes de se tornar titular da faixa das seis, ao lado de Cláudia Lage, Ximenes já havia trabalhado como autor colaborador da dupla em Paraíso tropical e Insensato coração.
A condição de colaborador vem se tornando espécie de plataforma para voo solo de novelistas no Brasil, ainda que antes disto a maioria tenha de passar pela já famosa oficina de autores e roteiristas da TV Globo, salvo algumas raríssimas exceções. “Conheço alguns que são gratos por terem participado das oficinas: a Beth Jhin, por exemplo. Assim como Emanoel Jacobina e Andréa Maltarolli, todos porém já com alguma bagagem, incluindo a experiência de escritor. Mas não fiz a oficina”, diz Álvaro Ramos, confirmando a existência daqueles que não passaram pela experiência.
“Ninguém chega a uma oficina da Globo sem ter demonstrado talento”, garante ele, que, além de colaborar com Antonio Calmon (Começar de novo, O beijo do vampiro e Um anjo caiu do céu) e Maria Adelaide Amaral (Sangue bom e Ti ti ti), escreveu episódios para as séries A justiceira e Mulher, além de roteiros para Carga pesada, Brava gente e, mais recentemente, Força tarefa. “Minha especialidade são os formatos curtos e fechados. Sou relativamente novo em novelas, nas quais só comecei a colaborar em 2001”, acrescenta Álvaro Ramos, que se profissionalizou na área em 1978, ao fazer o primeiro curso de roteiro ministrado por Leopoldo Serran, “o maior roteirista de cinema que já tivemos”.
João Ximenes Braga participou da oficina da Globo em 2007, com os professores Décio Coimbra e Flávio de Campos. “Já tinha dois romances, um curta-metragem e uma década de coluna de crônicas num grande jornal carioca, que me dava bastante visibilidade. É preciso estudar, seja literatura, teatro ou cinema. Dê o melhor de si para conseguir ter um livro publicado, uma peça encenada, um filme realizado. Não conheço dois roteiristas que tenham tido caminhos iguais”, admite o autor de Lado a lado.
Para ele, a oficina da Globo foi fundamental, porque mesmo com conhecimento teórico ele tinha pouquíssima experiência de roteiro na época. “Um pouco de cinema, mas nada em TV.” E lembra que o processo não é fácil nem rápido. “Quase sempre a pessoa tem oportunidade na TV depois de já ter alcançado alguma visibilidade no teatro, no cinema ou na literatura”, frisa Ximenes. Na opinião dele, desde O direito de nascer a telenovela se tornou das poucas janelas para o encantamento acessível a todos os brasileiros. “Hoje as coisas mudaram, há mais acesso a outros bens culturais, mas a telenovela já está entranhada na cultura do brasileiro.”
Com a vida marcada por obras de Gilberto Braga, João Ximenes Braga lembra que foi alfabetizado assistindo Escrava Isaura, fez vestibular vendo Vale tudo e começou a carreira profissional como jornalista assistindo a Anos rebeldes. Já Ricardo Linhares, diz ele, “é um gênio da estrutura e do ritmo”. Tanto a criação quanto o método de trabalho de Ximenes variam de acordo com cada trabalho e cada parceria. “Para a próxima novela, Gilberto, Ricardo e eu passamos seis meses fazendo três reuniões por semana para criar o perfil dos personagens e a sinopse, que é o arcabouço da história.” Nos dias sem reunião, o trio ia montando a sinopse de trabalho, que é o documento que vai guiar os autores pelo período em que a novela estiver no ar.
Álvaro Ramos, roteirista |
Parceria
Álvaro Ramos, por sua vez, se diz metódico, disciplinado e ordenado no trabalho. “Tenho ampla formação técnica. Entre os vários cursos que fiz, estudei roteiro na Universidade de Nova York. Tento cumprir horário diante do computador: das 8h às 20h, se possível. Sou diurno e procuro dedicar a noite a meus filhos e família. Quando dá, assisto ao noticiário e a um bom filme ou seriado antes de dormir”, diz o autor.
A propósito da declaração recente do autor de Amor à vida, Walcyr Carrasco, de que ele deixa “uns buracos” nos capítulos de suas tramas para os colaboradores (na recém-encerrada novela das nove eram quatro) escreverem, Álvaro reage: “Escrevo muito mais do que ‘buracos’ deixados pelo titular. Colaboração em novela é uma relação de parceria. Quando isso não acontece, é chato. Acredito que ninguém seja tão brilhante a ponto de escrever sozinho uma novela de qualidade”, desabafa.
Dizer que se faz cinema em novela é, na opinião de Álvaro, uma rematada besteira. “A concentração dramática no cinema pode ser absurda. Cinema é síntese, novela é expansão. Seria como comparar poesia e prosa”, argumenta. “Novela é uma corrida, uma ultramaratona de 217 quilômetros, como a que vocês têm aí em Minas, na Serra da Mantiqueira. É escrever um volume estupendo de páginas, diariamente, tentando manter um mínimo de coerência.” Afinal, lembra ele, o espectador espera e merece qualidade.
Segredo de Estado
Antes mesmo de estrear em teledramaturgia, Cláudia Lage, que também é professora e atriz, já era escritora. Parceira de João Ximenes Braga em Lado a lado, seu mais recente livro é Labirinto da palavra, com crônicas sobre literatura. “Apesar de os instrumentos da narrativa serem bem próximos, são construções totalmente diferentes. Concilio isso encontrando tempo para fazer as duas coisas, raramente escrevo dramaturgia e prosa ao mesmo tempo”, confessa ela.
A última vez que Cláudia trabalhou como atriz foi em 2000 e, segundo revela, não tem planos de voltar a atuar. “Continuo trabalhando como professora de criação literária sempre que posso. Dar aulas me alimenta e energiza para a escrita, é muito estimulante”, acrescenta a autora, que, depois de fazer oficina na Globo, foi colaboradora de Manoel Carlos em Páginas da vida e Viver a vida. Em Lado a lado, em que estreou como autora principal ao lado de João Ximenes Braga, contou com a supervisão de texto de Gilberto Braga.
“Cada autor tem uma forma diferente de trabalhar e de montar equipe. E geralmente é segredo de Estado. Aprendi muito com o Maneco, um mestre na construção dos personagens e de tramas fortes”, afirma. Ela destaca que Manoel Carlos e Gilberto Braga são dois mestres da teledramaturgia. Com João Ximenes ela garante ter-se casado na dramaturgia e na visão da narrativa da novela. “Foi uma experiência muito criativa e produtiva. Fizemos uma novela com a nossa cara. Há muito da gente nesse trabalho e isso só é possível quando há afinidade entre os parceiros”, garante Cláudia Lage.
“Em Lado a lado, o que nos uniu foi o interesse pela época e os temas da novela. Por conta do convite do Gilberto, não vamos emendar outra parceria, mas no futuro pode voltar a acontecer. Somos muito amigos”, acrescenta João Ximenes Braga. Em Lado a lado, ele e Cláudia tiveram como colaboradores Chico Soares, Douglas Tourinho, Fernando Rebello, Jackie Vellego, Maria Camargo e Nina Crintzs. “Acho que o trabalho fica mais rico assim.” No momento, ela prepara a sinopse de uma novela de época.
Eduardo Almeida Reis-Pilotos
Pilotos
Brasileiro adora piscina, não só pelo clima quente como também porque parece coisa de rico
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/02/2014
Nos dias em que a sensação térmica nos Estados Unidos beirou os 50 graus celsius negativos, enquanto no Rio de Janeiro andava em volta dos 50 positivos, pensei nos pilotos comerciais, profissão que sonhei seguir quando tinha 17 anos e fui desiludido por um amigo, piloto da Força Aérea Brasileira (FAB), porque tinha e tenho astigmatismo miópico. Nada grave, enxergo perfeitamente sem óculos, mas tenho, hoje agravado pela presbiopia, também chamada vista cansada, presbiopsia, presbitia e presbitismo. Dá para imaginar o desconforto físico de um cavalheiro depois de um voo de 14 horas e uma variação térmica da ordem de 100 graus celsius. Pior que isso: as tripulações vêm e vão, ou vão e voltam, depois de um breve descanso. Deve ser de esborrachar, de deixar os organismos em pandarecos. Não é preciso ir muito longe. O escriba, depois de uma noite bem dormida, tira de letra os mistérios da informática. A operação para compor Tiro e Queda implica a redação num arquivo chamado “Notasdepé”, que é transferido para um quadrinho denominado “Microsoft Word 2010”, que por sua vez exige clique com o botão do lado direito do mouse num negócio chamado “Opções de colagem” depois de descobrir, no “Salvar como” destino desejado para a xaropada. De manhã cedo tiro a operação de letra. No turno da tarde, preciso parar para pensar cada uma das etapas. Será que um piloto cansado também se aperta nas emergências do voo? Receio que sim.
Piscinas
Brasileiro adora piscina, não só pelo clima quente como também porque parece coisa de rico. Sobrevoando cidades médias a gente vê bairros inteiros em que todas as casas têm piscinas. Penitencio-me de ter construído algumas por exigência das companheiras, mas nelas, piscinas, mergulhei poucas vezes. Nesta última virada de ano a tevê nos mostrou uma série de acidentes fatais com crianças nas piscinas. Na embalagem, os comunicólogos transformaram as piscinas em referência para a quantidade de chuva caída numa área. Um deles teve o descoco de informar que os temporais capixabas seriam suficientes para encher 2,5 mil piscinas olímpicas e os telespectadores continuaram desinformados, porque ninguém tinha condições de transformar em milímetros a água contida numa piscina olímpica, ou de realizar, imaginar, calcular o despejo das águas de 2,5 mil piscinas olímpicas numa região. Não bastasse isso, a tevê nos mostrou no final de janeiro episódio ocorrido na piscina de um hotel catarinense, em que uma menina teve um braço sugado pelo ralo da piscina e felizmente escapou com ferimentos leves. A retirada do bracinho exigiu até detergente e o toque divertido, na quase tragédia, foi proporcionado por quatro cavalheiros que tentavam esvaziar a piscina com baldes para 20 litros. Bem-intencionados, coitados, proporcionaram quadro de um ridículo assombroso: tentar esvaziar piscina de bom tamanho a baldadas de 20 litros. E aí cabe trocadilho, infame como todo trocadilhar: escusado é dizer que foram baldados os esforços dos quatro.
Notas paulistanas
O rapaz é simpático, bem-apessoado e ganha R$ 80 mil. Pagos os impostos, sobram mais que 50 mil, salário razoável para um jovem de 20 e pouco anos. Cobriu as férias de seu chefe, sessentão, que ganha R$ 230 mil, salário digno de apresentador televisivo que lidera a audiência em seu horário. São números citados por uma revista de circulação nacional. O chefe tem estilo próprio, que deve deleitar o público telespectador. O rapaz ainda é fraco, mas vai melhorar com o tempo. Em números redondos, o chefe ganha R$ 100 mil por mês. Admitamos que, pagos os impostos, sobrem R$ 70 mil suficientes para comprar, todo mês, um carro de boa qualidade. Apê supimpa em BH custa mais de quatro anos de salários, mas o sessentão, carioca, reside em São Paulo, que teve manifestação pacífica no dia em que completou 460 anos. O pacifismo paulistano, segundo nos mostrou ao vivo o telejornal das 20h, quase destruiu um carro da Guarda Civil Metropolitana, queimou um fusca de forma irrecuperável, quebrou lojas e concessionárias. Assim, os festejos programados para as 22h foram adiados sine die, locução adverbial latina que significa “sem fixar uma data futura”. O pessoal está brincando com as manifestações, com os rolezinhos e outros “eventos” que podem evoluir para situações catastróficas. Longe de mim a ideia de fazer terrorismo midiático, mas os fatos mostram que é preciso repensar o Brasil.
O mundo é uma bola
16 de fevereiro de 1267: assinada por Afonso III, de Portugal, e Afonso X, de Castela, a Convenção de Badajoz que define as fronteiras divisórias entre os reinos de Portugal e Leão, garantindo a soberania portuguesa no Algarve. Em 1773, as distinções entre cristãos-velhos e cristãos-novos são abolidas em Portugal. É igualmente decretada a destruição dos registros cadastrais dos judeus. Em 1832, Charles Darwin em sua volta ao mundo a bordo do HMS Beagle visita os Penedos de São Pedro e São Paulo, que, como todo mundo ignora, são pequenas ilhas rochosas. O arquipélago pertence a Pernambuco, dista 627 quilômetros de Fernando de Noronha e o ponto mais próximo no continente fica no Rio Grande do Norte, às voltas com o entra e sai da ilustre governadora Rosalba Ciarlini. Hoje é o Dia do Repórter.
Ruminanças
“Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).
Vamos brincar juntos?
Vamos brincar juntos?
Meninas pedem mais brinquedos de
raciocínio e famílias tentam evitar que elas se entreguem a mundo só
cor-de-rosa. Especialista alerta que preferência da criança não pode ser
reprimida
Patricia Giudice
Estado de Minas: 16/02/2014
Aretha e o marido, Diogo, fazem questão que Marina e Carolina brinquem de tudo |
Meninas brincam de bonecas, meninos de carrinho. Para meninas, cor-de-rosa. Para eles, azul. O que já foi uma verdade na criação dos filhos começa a ser quebrado por pais e mães. Cada vez mais meninos e meninas brincam juntos de carrinhos, bonecas, bolas, casinha, jogos de raciocínio, blocos de montar. As próprias crianças deram o grito. Recentemente, uma campanha publicitária refletiu os anseios de uma engenheira norte-americana, Debbie Sterling, que, incomodada por não ter sido estimulada na infância a gostar de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, decidiu criar brinquedos para as meninas. Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), dos cerca de 4.500 tipos de brinquedos disponíveis no mercado, 3 mil são para meninas. Os bonecos e bonecas estão em primeiro lugar, mas os jogos de raciocínio têm apresentado aumento significativo nas vendas: de 7% em 2008, fechou 2013 com 12% do mercado.
Em outro episódio, uma garotinha de 7 anos escreveu uma carta para a Lego pedindo mais variedade para o sexo feminino e reclamou que nas lojas só vendem legos para meninos. Ela reclama que as bonecas das meninas ficam sentadas em casa, vão à praia, às compras e não trabalham, enquanto a versão para os garotos faz aventuras, salva pessoas, nada com tubarões e têm um emprego. “Quero que você faça mais meninas e as deixe participar de aventuras e se divertir, ok?”, disse Charlotte Benjamin no texto que se tornou viral na internet.
Numa volta por lojas de brinquedos de Belo Horizonte dá para ver com o que as famílias se deparam. Até os 3 anos, o universo é colorido e sem muita divisão. Nas capas, meninos e meninas brincam juntos em tapetes, cadeirinhas, mesas com sons e cores diversos. A partir dessa idade, os brinquedos começam a se dividir. Atendentes logo perguntam se o desejo é presentear um menino ou uma menina. E levam para uma ala cor-de-rosa, cheia de bonecas.
A inquietação está por toda parte. Aretha Bispo de Castro, mãe e psicóloga de 30 anos, conversa bastante com o marido, o engenheiro de softwares Diogo Kropiwiec, de 33. Pais de Marina, de 4, e Carolina, de 2, foram pegos de surpresa com uma situação que houve na escola. “Para nós, brinquedo não tem gênero”, disse Aretha. Na volta às aulas, Marina chegou em casa um dia com uma coroa de princesa, toda contente. Pediu à mãe um vestido para combinar. “Passou o resto do dia vestida de princesa, foi à rua, padaria, não queria tirar.” Marina contou à mãe que os meninos da sala se vestiram de Batman, mas ela não poderia porque é uma menina. A psicóloga ficou pensativa. Nunca incentivou que a filha gostasse do mundo cor-de-rosa, ao contrário, tentou até evitar. “Como ela estava irredutível, perguntei a ela se conhecia a Batgirl. E expliquei que era a menina do desenho, que vive aventuras como o Batman, e mostrei um desenho. Ela se apaixonou”, disse.
HEROÍNAS No dia seguinte, compraram um papel preto e fizeram juntas máscaras da personagem aventureira. “Expliquei a ela que não só meninos são heróis, meninas também são heroínas. Postei a foto no Facebook e causou um grande movimento. A gente quer que ela seja livre para brincar. Ela já foi o Pocoyo, que é um personagem menino, o Jake da Terra do Nunca faz parte do processo de imaginação dela”, disse Aretha. Agora, diante do episódio, ela e o marido pretendem marcar uma reunião com a direção da escola para conversar. Além da instituição de ensino, enfrentam o problema entre família e amigos. Nos aniversários e datas comemorativas, as meninas ganham bonecas, acessórios cor-de-rosa ou da Barbie. “Nós damos muito kit engenheiro, blocos de montar, brinquedos que trabalham o raciocínio. É o que elas mais têm. Temos muita preocupação em mostrar para elas que o mundo não é da Barbie”, disse.
Fernanda Branco, de 40, é mineira e mora na Noruega há 8 oito anos com o marido, Bjarte, e o filho, Francisco, de 4. Ela fez o que seria inimaginável para algumas mães: presenteou a criança com uma cozinha e boneca. “Tenho essa preocupação de que ele seja exposto a diferentes estímulos de brincadeiras, que não necessariamente estejam vinculados ao fato de ele ser um menino”, justificou. Ela analisa que as crianças são como uma esponja. “Elas absorvem tudo que está a sua volta e assim começam a refletir e se comportar conforme o que elas recebem”, disse. Fernanda ainda estende o que defende para as sobrinhas. Francisco, contou, veste roxo, amarelo, laranja e, da mãe dele pelo menos, as primas não ganham nada rosa. “É um princípio”, disse Fernanda.
FUNÇÃO Segundo a terapeuta familiar e diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia Quézia Bombonatto, o brinquedo tem uma função importante na socialização. “São eles que transmitem para as crianças sobre o mundo social que as crianças vivem.” Ela acredita que a indústria caminha para uma unificação a partir do que pedem os próprios consumidores e analisa que hoje o discurso é outro. “O consumidor mudou. Antigamente davam tijolinhos só para os meninos, hoje temos muitas engenheiras. O conceito mudou, os pais ampliaram suas escolhas e se permitem visitar ambas as sessões de uma loja”, afirmou. Mas, para ela, as meninas avançam mais nos brinquedos masculinos e o contrário pouco acontece.
Quézia Bombonatto aproveita para dar um conselho aos pais: “Não reprimir a escolha das crianças”. Segundo ela, as crianças criam um sentido delas no ato de brincar, não necessariamente é o que o fabricante determina ou a sociedade. O importante, segundo ela, é não podar as crianças. “O fato de uma menina querer, ter uma atração pela bola, não quer dizer que ela será menos feminina. Mas ela só pode dar vazão a esse talento se não for reprimida para a família. Se um pai deixa de dar uma bola para ela estaria reprimindo suas habilidades, é frustrante para a vida toda”, afirma.
Leo adora a casa da Peppa, mas a mãe, Daniella, não incentiva que ele brinque de boneca |
Cada um com sua curiosidade
Mesmo com relutância em presentear as filhas com vassoura, rodo, panelas, ferro de passar roupas, muitas mães preferem não interferir na escolha. Se for da preferência da criança mergulhar no mundo cor-de-rosa, por que não? Mariana Castelo Branco, de 32 anos, empresária, tem duas filhas. Luana, de 15, chegou à adolescência depois de muito subir em árvores, correr, jogar bola, brincar com meninos de espadas. Clara, de 5, brinca de tudo, mas naturalmente prefere as bonecas. “Ela é mais menininha, gosta de princesas. Na sala de aula tem atividades conjuntas, mas ela brinca mais com o grupo das ‘princesas’”, contou.
Para Mariana, o importante é deixar a criança ser ela mesma. “Hoje, a maior parte dos chefs de cozinha é homem, eles ajudam em casa, muita coisa mudou, mas ainda temos um resquício da estrutura da sociedade da época dos nossos avós, quando o homem dirigia, trabalhava fora e as mulheres ficavam em casa. Com brinquedos e brincadeiras é da mesma forma, ainda existe relutância. A ferramenta continua sendo para o menino e o carro feito para elas foi o da Barbie”, disse.
A empresária Daniella Perdigão, de 37, é mãe de Leonardo, de quase 3. Ela diz que não é radical, mas procura comprar brinquedos mais direcionados aos meninos. “Se eu o visse brincando com uma boneca, não iria tomar da mão dele, mas acho também que não tenho que incentivar”, afirmou. Os preferidos dele são os bichos de pelúcia, a Galinha Pintadinha e personagens da Disney. Ao mesmo tempo, tem a casa da Peppa, a porquinha cor-de-rosa que é a sensação da criançada. “São brincadeiras que alguns considerariam de menina, mas não faço objeção.” Por outro lado, o pai, o economista Rafael Damasio, de 34, não lida tão bem com a situação. “O Leo tem curiosidade com os meus sapatos, por exemplo, ele fica muito tempo comigo e pra mim é normal. O pai quando viu não gostou, mas disse com cuidado que sapato de salto é coisa de menina”, contou Daniella.
Homofobia
nos EUA
Na segunda-feira, sites americanos replicaram a foto do norte-americano Michael Morones. Ele tem 11 anos e, segundo contaram os pais, que divulgaram a imagem como forma de protesto, tentou suicídio por sofrer bullying considerado homofóbico na escola. Os pais contaram que o motivo das agressões era o fato de Michael ser fã do desenho My little pony: friendship is magic (Meu pequeno ponei: a amizade é mágica) e ter vários bonecos dos personagens. A história comoveu a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e rodou o mundo pelas redes sociais. Os dubladores do desenho se uniram para arrecadar fundos para o tratamento do garoto e gravaram mensagens de repúdio ao bullying.
nos EUA
Na segunda-feira, sites americanos replicaram a foto do norte-americano Michael Morones. Ele tem 11 anos e, segundo contaram os pais, que divulgaram a imagem como forma de protesto, tentou suicídio por sofrer bullying considerado homofóbico na escola. Os pais contaram que o motivo das agressões era o fato de Michael ser fã do desenho My little pony: friendship is magic (Meu pequeno ponei: a amizade é mágica) e ter vários bonecos dos personagens. A história comoveu a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e rodou o mundo pelas redes sociais. Os dubladores do desenho se uniram para arrecadar fundos para o tratamento do garoto e gravaram mensagens de repúdio ao bullying.
Três perguntas para... Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq
1) Existe o debate de gênero na indústria e expectativa de que os brinquedos sejam mais unificados?
A divisão de gênero não é acentuada no brinquedo e existem alguns valores da sociedade que não queremos quebrar. Não temos nada contra o avanço da sociedade, mas o brinquedo não transforma, ajudamos a construir o cidadão. A gente não quer entrar no debate e não vamos transformar nossos brinquedos em “unissex”. Não queremos desagradar as crianças, vamos fazendo brinquedos cada vez mais lúdicos, que despertam a fantasia, a imaginação.
2) O que se destaca na venda de brinquedos hoje?
Bonecos e bonecas, principalmente para meninas. Representam 40% do mercado. A menina é nossa melhor cliente porque é mais fiel, ela brinca de boneca até ficar moça e continua decorando o quarto. Os jogos de tabuleiro também têm venda significativa, perto de 12%, e vêm crescendo. A razão é que as crianças não querem mais brincar sozinhas e os brasileiros preferem produtos para interagir, não de apertar um botão para que o brinquedo faça tudo.
3) E o pedido das meninas por mais brinquedos de raciocínio, elas são atendidas?
A mãe da menina evita dar a panelinha, o fogãozinho, ela conspira contra de forma positiva. A maioria dos brinquedos fabricados hoje fazem as meninas e meninos pensarem, raciocinarem e aprenderem a tomar decisões. O brinquedo miniaturiza o mundo adulto, que ela vai viver daqui a pouco. Quanto aos meninos, nunca tivemos uma procura por vassoura, rodo, panelas para eles. Se tivesse, chegaria à indústria e ela iria fazer com certeza. Não se brinca por causa do gênero, mas pelo entretenimento.
Obesos sofrem para conseguir tratamento
SAúDE / MUITO ALéM DO PESO »
Obesos sofrem para conseguir tratamento
Minas tem 6,7 milhões de pessoas acima do peso e grande parte não consegue atendimento no interior, sobrecarregando ONG na capital. Doença atinge 51% da população brasileira
Luciane Evans
Estado de Minas: 16/02/2014
A epidemia da obesidade, mal mundial que já atinge 51% da população brasileira, tem ganhado contornos ainda mais preocupantes em Minas Gerais. Sofrendo de obesidade mórbida, nível mais alto da doença, que acomete 800 mil brasileiros, muitos mineiros, reclusos em casa por causa das enfermidades que vieram com o excesso de peso, enfrentam horas de estrada para conseguir tratamento com psicólogos e nutricionistas em Belo Horizonte. Isso porque, segundo eles, não há em suas cidades esse tipo de atendimento pela rede pública de saúde. Diante da situação, os próprios médicos encaminham esses pacientes à capital e, em vez de o Sistema Único de Saúde (SUS) absorver a demanda, o tratamento tem sido feito por uma organização não governamental (ONG), que pede socorro: "Estou com uma bomba nas mãos e não posso parar", desabafa a presidente do Núcleo Mineiro de Obesidade (Nuobes), Jussara Xavier.
Com a denúncia desses mineiros que já se consideram parte de uma população esquecida, o Estado de Minas começa hoje a série de reportagens “Muito além do peso”, mostrando o drama de quem sofre com a doença, as possíveis causas e o tratamento. O mal – que vem crescendo em Minas, onde já são 6, 7 milhões de pessoas acima do peso, cerca de 35% da população mineira – é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 2002, uma epidemia mundial, que se não for tratada pode atingir mais da metade da população mundial em 2025. A obesidade mórbida, quando a gordura corporal coloca em risco a saúde e vida do paciente, é outro agravante. Nos últimos 20 anos, o número de pessoas com esse nível de obesidade aumentou quase sete vezes, passando de 0,6% para 4% da população brasileira.
Esse grau é frequentemente identificado pelo grande acúmulo de gordura e, de acordo com a OMS, é diagnosticado especificamente pelo cálculo do índice de massa corporal (IMC), padrão reconhecido internacionalmente e cujo valor é o peso dividido pela altura ao quadrado: kg/m2. Quando esse valor resulta entre 40 e 49,9, é diagnosticada a obesidade grau 3, conhecida como obesidade mórbida. "Pelo estigma que a palavra mórbida traz a esses pacientes, é melhor denominar a doença como obesidade grau 3 ou obesidade severa, o que já traz por si só a gravidade da enfermidade", comenta o endocrinologista membro da comissão científica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) Paulo Augusto Carvalho Miranda, que preside a Sbem/Minas Gerais. Diante disso, a série do EM tratará a doença como obesidade severa ou de grau 3.
diretrizes redefinidas “Estamos lidando com uma doença crônica incurável, não um desvio de caráter. Essas pessoas não são preguiçosas e não estão nessa situação por quererem”, alerta o diretor do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Cláudio Corá Mottin. O centro é a primeira instituição universitária a receber certificação internacional de Centro de Excelência em Tratamento da Obesidade Grave. "Esse atendimento com psicólogos e nutricionistas é previsto por lei e não pode faltar a esses cidadãos", informa.
Em março de 2013, o Ministério da Saúde redefiniu as diretrizes para a organização da prevenção e do tratamento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritária da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas. "Mas, infelizmente, não é isso que está ocorrendo. Na minha cidade, estava demorando seis meses para marcar uma primeira consulta com um médico. Não podia esperar, então, consegui dinheiro para pagar um médico particular", desabafa Maria Elza dos Reis, de 41 anos. Com indicação para cirurgia bariátrica, ela, a irmã Tereza e a amiga Silviane, todas obesas com grau 3, saem de Abaeté, na Região Central de Minas, e enfrentam, pelo menos duas vezes na semana, 212 quilômetros, para se tratarem com psicólogo e nutricionista do Nuobes.
"Quando reclamei com as autoridades locais, eles me mandaram parar de comer e esquecer a cirurgia", diz revoltada Silvane de Paula Santiago, de 29, pesando 147 quilos. Maria Elza pesa 173 quilos. "Já não saio de casa. Estou há nove meses sem trabalhar", conta Elza, que diz ter sido encaminhada pelo seu médico particular ao Nuobes. A ONG, em Belo Horizonte, conta com a ajuda de profissionais voluntários no atendimento. Mas para Maria Elza chegar até ela, muitas vezes, teve que pagar R$ 300 de táxi ou contribuir com a gasolina para o carro da prefeitura do município. "É um absurdo o que estão fazendo conosco. Será que ter um psicólogo ou nutricionista é tão caro para o SUS? Não é o nosso direito?", questiona.
Núcleo está superlotado
Por semana, batem à porta da ONG, segundo afirma a presidente Jussara Xavier, cerca de 150 pacientes com obesidade severa provenientes principalmente do interior de Minas e com história parecida com a das três mulheres. "Saio de Sete Lagoas, na Região Central, de ambulância. Já cheguei a pagar convênio de saúde para conseguir tratamento. Emagrecia 12, 13 quilos, mas tudo voltou depois de um tempo. Com a ajuda de nutricionistas e psicólogos da ONG consegui perder 20 quilos, em seis meses. Hoje peso 160", comenta Evângela Ramos Gonçalves, de 35.
De acordo com Jussara, há no núcleo atualmente 524 associados. "Mais de 80% são encaminhados por médicos e confirmam a falta de assistência psicológica e nutricional nessas cidades", denuncia. Ela diz que, além da nutricionista e da psicóloga, ela conta com o trabalho de um cirurgião bariátrico. "Somente no ano passado, conseguimos que 90 pessoas fossem operadas. Mas para isso pagamos R$ 15 mil por cirurgia, que é feita dentro de um hospital particular da capital." Ela conta que a associação existe há 12 anos e é a única a fazer esse tipo de serviço no Brasil. "Mas não recebemos recursos públicos e temos dívidas. Tudo que fazemos é com doação." Nas reuniões da entidade, feitas três vezes na semana de manhã e à tarde, a todo momento chegam pacientes, inclusive de outros estados. "Sem recursos, o nosso medo é ter que, um dia, parar o atendimento."
NUTRIÇÃO O conforto pelo qual procuram os pacientes vindos de outros estados é, na teoria, simples: nutricionista e psicólogo. "O obeso é carente, sofre preconceitos e não adianta falar para ele fazer atividade física ou parar de comer tal coisa. É uma doença, e, muitas vezes, não é a comida a culpada. É um problema interno", defende a estudante de nutrição Patrícia Soares, que atende voluntariamente no Nuobes e já pesou 130 quilos. "Hoje estou com 60 quilos e sei bem que não é uma doença que tem cura. A nutrição ajuda a dar a esse paciente uma consciência na escolha do que comer, mas é preciso saber lidar com isso. Não é fácil, mas todo cidadão com obesidade grau 3 deveria estar sendo acompanhado por profissionais, e não esquecido como muitos estão", lamenta Patrícia.
De acordo com a nutricionista da Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Minas Gerais Juliana Cristina Diniz Guimarães, há em todas as cidades mineiras um Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, que conta com profissionais para atendimento. "Além disso, há programas que auxiliam crianças com sobrepeso a fazer atividades físicas. A essas pessoas que não estão conseguindo esse atendimento, orientamos buscar nas regionais de referência o Núcleo de Apoio à Família, que conta com profissionais para o atendimento. Pode estar faltando informações a essas pessoas", esclarece.
O QUE É A OBESIDADE
A obesidade é uma doença caracterizada pelo excesso de gordura no corpo. Esse acúmulo ocorre quando a oferta de calorias é constantemente maior que o gasto de energia corporal e resulta frequentemente em sérios prejuízos à saúde. Atualmente, atinge 600 milhões de pessoas no mundo, 30 milhões somente no Brasil. Se for incluída a população com sobrepeso, esse número aumenta para 1,9 bilhão de pessoas no mundo e 95 milhões de brasileiros. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) projetam um cenário ainda pior para os próximos anos. Estima-se que, em 2015, existirão 2,3 bilhões de pessoas com excesso de peso e 700 milhões de obesos no mundo inteiro.
Doenças associadas
» Diabetes
Estresse, hábitos alimentares não saudáveis e vida sedentária são as principais causas da incidência da doença. Pessoas com excesso de peso têm risco de desenvolver diabetes três vezes superior ao de pessoas com peso normal.
» Hipertensão arterial
Hábitos de vida não saudáveis, como sedentarismo e consumo exagerado de alimentos industrializados ricos em sal, ajudam a aumentar os níveis de pressão arterial.
» Problemas articulares
Na pessoa obesa, o peso do corpo pressiona as vértebras e desgasta as articulações, podendo ocasionar hérnia de disco. É comum o paciente sofrer com dores na coluna e nas articulações dos membros inferiores, como joelhos e tornozelos.
» Outras doenças
A condição de obesidade grave está associada também a outros problemas de saúde, como dificuldades respiratórias e apneia do sono, risco aumentado de embolia pulmonar por alterações da coagulação sanguínea e até alguns tipos de câncer (de útero, mama e intestino grosso, entre outros).
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
Palavra de especialista
Frederico Garcia, professor do Departamento de Saúde Mental da UFMG e membro da diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria
Autoestima
em baixa
"Uma omissão no atendimento traz consequências graves a esses pacientes. Quanto maior for o peso dessa pessoa, há a diminuição na expectativa de vida, além dos ricos de diabetes, colesterol alto, problemas de articulação, coração, entre outros. Sem o atendimento, ela fica cada vez mais sedentária, a autoestima diminui ainda mais, o que pode agravar quadros depressivos."
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