quarta-feira, 6 de março de 2013

O que é ser mulher - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 06/03/2013

Sempre que chega essa época do ano, prometo a mim mesma: minhas próximas férias serão tiradas em março. Vou alugar uma choupana em Ushuaia e só volto quando pararem de falar no Dia da Mulher. Apenas para evitar a pergunta que tantos pedem que a gente responda: “O que é ser mulher?”.

Basicamente, ser mulher é ter nascido com os cromossomos XX. Será que isso responde à questão? Responde, só que de modo desaforado. Espera-se que colaboremos: “Ser mulher é ser mãe, esposa, profissional... ”. Alguém ainda aguenta essa churumela?

Se é para refletir sobre o assunto, então sejamos francos: ninguém mais sabe direito o que é ser mulher. Sofremos uma descaracterização. Necessária, porém aflitiva. Entramos no mercado de trabalho, passamos a ter liberdade sexual e deixamos para ter filhos mais tarde, se calhar. Somos presidentes, diretoras, empresárias, ministras. Sustentamos a casa. Escolhemos nossos carros. Viajamos a serviço. Saímos à noite com as amigas. Praticamos boxe. O que é ser mulher, nos perguntam. Pois, hoje, ser mulher é praticamente ser um homem.

Nossa masculinização é um fato. Ok, nenhuma mulher desistirá de tudo o que conquistou. A independência é um ganho real para nós, para nossa família e para a sociedade. Saímos da sombra e passamos a existir de forma plena. E o mundo se tornou mais heterogêneo e democrático, mais dinâmico e produtivo, em suma: muito mais interessante. Mas não nos deram nada de mão beijada, ganhamos posições no grito, falando grosso. E agora está difícil reconhecer nossa própria voz.

“Sou mais macho que muito homem” não é apenas o verso de uma música de Rita Lee, é pensamento recorrente de cérebros femininos. Alguém ainda conhece uma mulher reprimida, omissa, sem opinião, sem pulso? Foram extintas e deram lugar às eloquentes.

Nada de errado, repito. Acumulamos uma energia bivolt e isso tem nos trazido inúmeros benefícios – deixamos de ser um simples acessório, nos integralizamos. Mas essa nova mulher ainda se permitirá um segundinho de “cuida de mim”? Se os homens estão se permitindo ser frágeis, por que não nos permitimos também, nós que temos os royalties dessa condição?

É no amor que a mulher recupera sua feminilidade. É na relação a dois. Na autorização que dá a si mesma de se sentir cansada e de permitir que o outro tome decisões e a surpreenda. É através do amor que voltamos a confiar cegamente, a baixar a guarda e a deixar que nos seduzam – sem considerar isso ofensivo. Muitas mulheres estão desistindo de investir num relacionamento por se julgarem incapazes de jogar o jogo ancestral: eu, provedor; você, minha fêmea.

Os homens sabem que já não iremos nos contentar em receber mesada e ficar em casa guardando a ninhada, mas, na intimidade, que tal deixarmos a testosterona e o estrogênio interpretarem seus papéis convencionais?

Um amor sem tanta racionalidade, sem demarcação de território, sem guerra pelo poder. Amolecer de vez em quando, com entrega, com gosto. É onde ainda podemos ressuscitar a mulher que fomos, sem prejuízo à mulher que somos.

Diário da Dilma - Em terra de saci, qualquer chute é voleio



REVISTA PIAUÍ > Edição 78 > Março de 2013


1º DE FEVEREIRO_Pelas bengalas do Mandela! Fui dar uma olhada na agenda do mês e meu queixo caiu: o Patriota vai me mandar para a Guiné Equatorial!! Capital, Malabo! MALABO!!! O que eu fiz para esse homem me tratar assim?!
 
2 DE FEVEREIRO_Pé de pato, mangalô, três vezes! É o terceiro telefonema da Ideli hoje. Não atendi nenhum. Ela está se insinuando para passar o Carnaval comigo na Bahia. Disse que está com medo de ir para Santa Catarina por causa dos ataques. Já expliquei que mando a Força Nacional para lá, que ela pode ir tranquila. Para me livrar dela, despacho até o 2º Exército, e ainda pe-ço ajuda à 4ª Frota americana.
 
3 DE FEVEREIRO_Em viagens internacionais, o Ney Latorraca faz a mala com dez dias de antecedência. É dessa eficiência que preciso.
 
4 DE FEVEREIRO_Risco de apagão, aumento da gasolina, polêmica em Belo Monte. Os deuses conspiram para me aproximar do Lobão.
Fui ao Show Rural de Cascavel, no Paraná. É isso que dá colocar Gleisi na Casa Civil.
 
5 DE FEVEREIRO_Gracinha me contou que vai sair na avenida. Fiz cara de paisagem. Precisa ter muito peito para sair na avenida depois dos resultados da Petrobras. Mas cada um com seu cada um. Se ao menos servir para ela prender aquele cabelo.
 
6 DE FEVEREIRO_Fiz uma sessão de cinema aqui em casa para os filhos e netos dos ministros. É como diz oconhecido ditado búlgaro: “Quem meus filhos agrada, minha boca adoça.” Uma gracinha de filme, Tainá. Eu adorei! Tarde fofa!
Coitado do Marco Aurélio. Foi operado do coração aqui em Brasília. É um destemido!
 
7 DE FEVEREIRO_Tá confirmado! Vou para a Bahia no Carnaval! A Base Naval de Aratu vai ficar pequena! Cara, caramba, cara, cara ô!
Brinquei que ia deixar a chave da Nação para o Rei Momo. Em oito minutos, apareceram dezessete parlamentares do PMDB sambando com uma coroa na cabeça. Em terra de saci, qualquer chute é voleio.
 
8 DE FEVEREIRO_Já está tudo arrumado para o nosso tradicional Baile do Toma Lá Dá Cá. Mamãe e titia arrumaram fantasias de Nina e Carminha. Gabrielzinho vai vestido de Pibinho. Se alguém aparecer com a máscara do Joaquim Barbosa, está demitido. Eu botei uns óculos escuros redondinhos, uma roupa branca, domei o topete e fiquei a cara do Psy. “Oppan Gangnam Style!”
10 DE FEVEREIRO_Estava dançando um frevo esperto quando vieram me dizer que o Lobão estava na linha. Fui pega de surpresa, tropecei e quebrei o dedão.
 
11 DE FEVEREIRO_De tédio é que eu não morro. O Gilbertinho me acorda cedo para dizer que o papa renunciou. Fiquei besta! Nunca tinha ouvido falar que papa podia renunciar. Não sei se devo me pronunciar. O que eu posso dizer? Vai com Deus, meu filho. Acho que não é esse o tom da coisa.
 
12 DE FEVEREIRO_Comecei a mascar chiclete. João Santana acha que me dá um ar menos intelectual, mais povão, com um toque de rebeldia.
 
13 DE FEVEREIRO_Tem coisa mais descolada que presidenta de Crocs vermelhos? Para melhorar, esse sapatinho furadinho, coisa fofa, não fica roçando no curativo que titia fez no meu dedão. Me apeguei.
 
14 DE FEVEREIRO_Aprendi, finalmente, a fazer bola com chiclete.
 
15 DE FEVEREIRO_Depois de tanto jornal repetir que o papa é pop, fiquei com a bela obra do Humberto Gessinger na cabeça. Hoje, num despacho com o Patriota, sapequei: “Minha vida é tão confusa quanto a América Central. Por isso não me acuse de ser irracional.” Disse que ia usar na próxima Assembleia Geral da ONU. Precisava ter fotografado a cara que ele fez.
Esse meteorito na Rússia só pode ser coisa do Zé Dirceu. O homem anda amargurado com a falta de apoio da KGB.
 
18 DE FEVEREIRO_A Ideli, que vive se fazendo de prestativa para provar que tem serventia, deu uma checada na Wikipédia e veio me dizer que existem três Guinés. Vão me mandar logo para a piorzinha delas! Nem português eles falam por lá. É espanhol! A princípio, pensei que fosse coisa do Joaquim Barbosa ou da Veja. Mas agora estou achando que foi o Temer mesmo. Ele deve estar doidinho para assumir logo essa porcaria e bem que se beneficiaria se eu pegasse uma boa malária. Onde estão os movimentos sociais que não saem em minha defesa? Ficam perdendo tempo com essa mala da Yoani, enquanto eu desapareço no coração das trevas?
19 DE FEVEREIRO_Vetei a pobreza extrema.
 
20 DE FEVEREIRO_Acordei às cinco da manhã e fiquei enrolando brigadeiro para a festa de 10 anos do PT. Lula disse que sou muito centralizadora. Mas será que a militância saberia deixar a borda crocante?
Malan fez 70 anos. Por que esses tucanos envelhecem tão bem? Será que são os bons vinhos? E eu aqui com o Guido, que a cada dia fica com mais cara de maître de restaurante de aeroporto.
 
21 DE FEVEREIRO_Estou atrás de um mapa para ver onde fica essa Guiné Equatorial. Preciso fazer a mala e nem sei o que levar. Equatorial deve ser um calor de fritar ovo no asfalto. Meu pé incha tanto com o calor...
 
22 DE FEVEREIRO_Isso aqui é feio como Canapi e quente feito Maceió. O presidente é dono até da carroça de cachorro-quente. Renanzinho ia se sentir em casa. Daqui vou para a Nigéria. Patriota não chega até a próxima reforma ministerial.
 
24 DE FEVEREIRO_Ufa. De volta para casa. Coisa boa! É domingão de Oscar! Comprei duas caixas de Guaraviton para não dormir e um potão de sorvete de pistache. Daqui não saio nem que me digam que o Lula se filiou ao PSDB. Já pus meu pijaminha de Les Mis para torcer pelo filme. Russell Crowe cantando à beira do abismo me comoveu demais.
 
25 DE FEVEREIRO_Sonhei que era a Yoani e estava no meio do Congresso da UNE. Os militantes mais exaltados já me atiravam tomos de O Capitalquando Lobão apareceu. Ele vestia a boina de Che Guevara e com um só grito calou a multidão. Amanheci estremecida.
 
26 DE FEVEREIRO_Ideli não confessa, mas anda torcendo pelo Berlusconi nos bastidores. O homem tascou um beliscão na Merkel que quase provocou a Terceira Guerra Mundial. Ideli identificou no gesto uma virilidade sensual que só tinha visto antes no Mitt Romney.
 
27 DE FEVEREIRO_É a terceira vez que digo para o Sarney que não tenho nenhuma influência no Vaticano. Affe.


FERNANDO BRANT » Três estações‏

A simplicidade é uma coisa difícil de buscar e alcançar 



Estado de Minas: 06/03/2013 

Sonhei que estava indo para Maracangalha com o chapéu de palha, o “linforme” branco e a Anália de Dorival Caymmi. Acordei em Lisboa, com as meninas do Amaranto, flores amarelas do nosso sol, cantando coisas belas sobre o rio, o mar e a terra que amamos, regidos pelo talento de Geraldo Vianna. Fazia frio ou calor lá fora? A canção move o mundo, muitos dizem e o Ronaldo Bastos não deixa de insistir. Assim, estou aqui destilando palavras e notas na noite de Portugal. O que apresentamos é singelo, delicado, de adormecer as crianças e acordar as pessoas sensíveis.

A sociedade de massas está longe daqui, não cabe nesse ambiente reservado e cuidadoso que se criou em volta dos presentes. Há canto e poesia tomando conta do ambiente. A simplicidade é uma coisa difícil de buscar e alcançar. Findo o recital, os abraços e a alegria nos trazem de volta à realidade. Estamos na cidade dos portugueses e andamos por suas ruas, ainda há pouco recheadas de um povo que clama contra o arrocho financeiro imposto pelas autoridades da Europa. No ar, a certeza de que os cidadãos não contribuíram para o impasse econômico em que a região se encontra.


E me lembro bem do que pagamos, sem culpa, pela irresponsabilidade dos que lideraram o Brasil durante décadas. Coloco-me no lugar dos portugueses, sem me esquecer de que um vento de tempos antigos começa a soprar em nosso horizonte. Há um cheiro de passado e de resultados indesejáveis no que fazem os que estão à frente dos negócios públicos brasileiros. Mãos dadas com os portugas, que voltam a cantar Grandola, vila morena, pacificamente, enquanto caminham pela Avenida Liberdade, assusto-me, rapidamente, com a possibilidade de ter que fazer o mesmo num futuro próximo.


Mas que coisa, a vida; que coisa, o mundo. Depois de dias batalhando contra o ar pesado do condicionador do hotel, consegui uma maneira, mais fácil do que esperava, de abrir a minha janela para o mundo. As narinas e a garganta não suportavam mais o ar seco do quarto fechado para a natureza. Tentara várias vezes contornar o problema, zerando o ar que não era natural. Faltava o fresco do ar puro, que respiro agora na noite de Lisboa, contemplando seus movimentos e suas luzes depois de uma tarde estupenda com meus sobrinhos, Paula e Lucas, provisoriamente estudando na cidade.


Não sei se foi a alegria da tarde, o vinho do Douro ou o sono reparador que trouxe de volta a sabedoria adormecida, que possibilitou o estalo na mente deste mineiro eternamente amante de sua casa e de sua terra. Minhas janelas agora estão abertas, respiro com prazer o ar de Lisboa. Estou voltando.

Frei Betto-O véu da virtude‏

O ser humano padece de duas limitações intransponíveis: prazo de validade e defeito de fabricação


Frei Betto

Estado de Minas: 06/03/2013 


Nos próximos dias, a Igreja Católica terá novo papa. Até que ele seja eleito, os cardeais de 48 países estão reunidos em Roma debatendo, com certeza, os motivos que levaram Bento XVI a renunciar. Para a opinião pública, um gesto corajoso de humildade, sobretudo nesses tempos em que muitos políticos se julgam imortais e não concebem viver fora do poder. É o caso de Berlusconi, na Itália, que de novo busca ser primeiro-ministro, e de tantos políticos aqui no Brasil, acostumados a lotear a República e a tratar ministros e chefes de autarquias indicados por eles assim como um latifundiário trata seus capatazes.

A Igreja é uma instituição de origem divina, mas formada por seres humanos que, a cada dia, devem orar “perdoai as nossas ofensas e não nos deixeis cair em tentação”. Mas caem, e provocam escândalos, como os sucessivos casos de pedofilia.

Quem conhece a história da Igreja sabe quantos abusos e crimes foram cometidos por ela em nome de Deus. Para citar apenas o caso do Brasil, durante o período colonial, bispos e padres se mostraram coniventes com a escravatura; a Inquisição caçou e cassou suspeitos, conduzidos daqui à prisão e à fogueira em Portugal; e a expressão “santo de pau oco” evoca o contrabando de ouro e diamante recheando as imagens devocionais levadas pelos clérigos ao exterior.

O ser humano padece de duas limitações intransponíveis: prazo de validade (todos haveremos de morrer) e defeito de fabricação (trafegamos entre luzes e sombras). É o que a Bíblia chama de pecado original. Ao transpor sua origem divina ao caráter da instituição, a Igreja comete o erro de tentar cobrir com o véu da virtude os frutos do pecado. Por que chamar o papa de Sua Santidade se até ele é pecador e roga pela misericórdia de Deus? Por que qualificar de “sagradas” as congregações do Vaticano que atuam como ministérios de uma monarquia absoluta?

Quanto maior a altura, maior o tombo. O véu da virtude rasgou-se diante dos escândalos de pedofilia mundo afora e, nesses dias, com a revelação da rede de prostituição que opera em Roma para oferecer serviços sexuais de seminaristas. Nada disso diminui o mérito de tantos membros da Igreja Católica que dão as suas vidas para que outros tenham vida, como é o caso dos bispos Pedro Casaldáliga, Paulo Evaristo Arns, José Maria Pires, e inúmeros padres e religiosos(as) que, despojados de ambições e conforto, se dedicam aos doentes, aos mais pobres, aos dependentes químicos, aos encarcerados.

O grave é a Igreja não se abrir ao debate às candentes questões que concernem à condição humana. “Nada do que é humano é estranho à Igreja”, dizia o papa Paulo VI. Infelizmente, não é verdade. Criou-se em torno da sexualidade uma espessa cortina fechada pelo cadeado do tabu e do preconceito.

Embora na prática o tema seja debatido no interior da instituição eclesiástica, a rigor está oficialmente proibido colocar em questão o celibato obrigatório; a ordenação de mulheres; o uso de preservativos para evitar Aids e outras doenças; a sexualidade por prazer (e não para procriar); o aborto em situações singulares; a união de homossexuais etc.

O novo papa não poderá fugir dessas questões, sob pena de ver a Igreja se esvaziar ou seguir convivendo com a hipocrisia de uma moral contida na doutrina em contradição com a moral vivida pelos fiéis. Além de despir-se do véu da virtude, a Igreja deveria se perguntar que sentido faz o papado proclamar que a Igreja não se mete em política e, no entanto, o Vaticano arvorar-se em Estado soberano, com representação na ONU e núncios como embaixadores em diversos países.

O papa merece ser apenas o pastor dos fiéis católicos, o bispo de Roma, que serve de parâmetro à comunhão universal na fé, e não um monarca absolutista com poderes de intervenção em todas as dioceses do mundo. O Concílio Vaticano II propôs à Igreja um governo colegiado, o que não foi implementado por Paulo VI nem aceito por João Paulo II e Bento XVI. A mosca azul parece picar também o papado. Essa “embriaguez da vitória”, como dizia Toynbee, fez com que a cegueira impedisse o pontífice de evitar a corrupção no banco do Vaticano; o vazamento de documentos sigilosos na Cúria Romana; a traição de seu mordomo; e tantos outros escândalos que, agora, arranham profundamente a imagem da Igreja. 

Jesus não se fez acompanhar por um grupo de perfeitos ou santos. Pedro o negou, Tomé duvidou, Judas traiu, os filhos de Zebedeu ambicionaram o poder temporal. Nem eram todos castos e angélicos. No primeiro capitulo do evangelho de Marcos consta que Jesus curou a sogra de Pedro. Se tinha sogra é porque tinha mulher. Nem por isso deixou de ser indicado como líder da comunidade de apóstolos. Quem caminha sem salto alto tropeça menos. É hora de o papa calçar as sandálias do pescador, abdicar dos títulos honoríficos herdados do Império Romano e assumir, em colegiado com os cardeais de todo o mundo, o mais evangélico de todos os seus títulos: servo dos servos de Deus.

Perigos da vida saudável -Luciane Evans‏

Pesquisas da UFMG apontam que peixes, lácteos derivados de leite de búfala e fitoterápicos comercializados em Minas sofrem fraudes, que colocam em risco a saúde dos consumidores 


Luciane Evans

Estado de Minas: 06/03/2013 

Uma contradição perigosa está na mesa dos mineiros: há riscos de saúde quando se busca uma alimentação saudável em supermercados e restaurantes de Minas Gerais. Isso porque os consumidores estão sendo  enganados justamente na hora de consumir peixes, produtos derivados do leite de búfala e até fitoterápicos,  medicamentos à base de plantas. A denúncia, que promete mexer com  os bons hábitos de vida em todo o Brasil, vem de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que analisam, desde 2010, os alimentos adulterados vendidos aqui e em outros estados. As análises assustam: das 259 amostras de pescados, 21% não são o que o comerciante ou os rótulos dizem. Em 124 amostras de lácteos rotulados como de origem bubalina, 7% continham leite de vaca e, em alguns casos, com presença de até 100%.  E mais: das 147 amostras de fitoterápicos analisados, 70% não eram da espécie declarada.
A exemplo do que ocorre na Europa, com o escândalo da substituição da carne de cavalo em produtos que deveriam conter carne bovina, em Minas também vale o jargão popular  de "comprar gato por lebre" . De acordo com os estudos feitos dentro do laboratório de genética animal da Escola de Veterinária da UFMG, há muitas fraudes nos alimentos vendidos aqui, seja por desconhecimento ou por malandragem dos próprios produtores e comerciantes, como comenta Marcela Drummond, presidente da empresa Myleus Biotechnology, que faz parte da equipe de pesquisa e nasceu dentro da universidade. "Há a lesão ao consumidor de comprar algo e ser enganado, e o risco à saúde, uma vez que muitas pessoas têm alergia a um tipo de peixe ou a leite de vaca", aponta Marcela.
As pesquisas contemplaram restaurantes, supermercados e mercados, tradicionais ou não. Além de Minas, outros estados foram alvo dos estudos (São Paulo, Rio, Espírito Santo e a Região Sul do Brasil). O mais recente, defendido este mês, é a  dissertação de mestrado em zootecnia, de Danilo Alves Pimenta. Ele  analisou várias espécies de peixes, como bacalhau, atum, merluza, panga, salmão, traíra e tilápia. "Comecei essa pesquisa em 2010. Saí coletando amostras desses pescados em restaurantes sel-service, fast-food, japonês e até supermercados. Foram 259 amostras, sendo que 21% eram de espécies diferentes do que estava declarado no rótulo ou no menu. Em geral, eles foram substituídos por peixes mais baratos. Na lista dos que mais sofrem fraude estão o merluza e o panga", revela Danilo, preocupado com o cenário.
Prestes a ser defendida, a dissertação de mestrado de Lissandra Souza Dalsecco em genética pela Escola de Veterinária da UFMG é ainda mais preocupante. Isso porque ela analisou 124 amostras de lácteos rotulados como de búfala, comercializados em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. "Foram queijos, leites,  iogurtes e doces de leite. A Associação Brasileira de Criadores de Búfalo aceitam até 10% de presença de leite de vaca nesses produtos. No entanto, encontramos em 7% deles muito mais do que 10% de leite de vaca. Havia uma contaminação de 12% a 25%, em alguns casos, de até 100%. Ou seja, um queijo era vendido como de búfala, mas não era. A presença do leite de vaca em baixa quantidade pode não ser intencional, mas quando vemos que há essa alta, acredito que tenha produtor agindo de má-fé", critica.
Para os dois casos, especialistas pedem atenção. Segundo avalia a nutricionista e consultora do Programa Alimento Seguro Tatiana Miranda, as fraudes são um risco para a saúde. "As pessoas que têm intolerância a algum componente do leite de vaca, por exemplo, ao escolher o de búfala contaminado pode ter danos na saúde, como a síndrome do intestino irritável ou desenvolver distúrbios gastrointestinais", preocupa-se, dizendo ainda se tratar de uma enganação moral ao cliente.
O nutrólogo Enio Cardillo Vieira lembra que o peixe marinho contém um componente importante para a saúde, o Ômega 3, que protege de muitas doenças. "A substituição de uma espécie dessa por um pescado de água doce é uma enganação ao consumidor, que não terá o benefício na alimentação que espera", observa.

FITOTERÁPICOS Outro produto alvo de fraude sãos os fitoterápicos, como aponta a tese de doutorado em genética de Rafael Melo Palhares. Foram 147 amostras coletadas em farmácias, drogarias e mercados de Belo Horizonte  e também do Sul do Brasil. Quando se trabalha com medicamentos com base em plantas, existe uma lista do Ministério da Saúde que aponta quais espécies podem ser elaboradas para a produção da medicação no país. Cada tipo é recomendado para um mal, que pode ser estomacal, nervosismo, ansiedade, entre outros. "Verificamos que 70% dos fitoterápicos comercializados são de outras espécies da declarada no rótulo, muitas nem aprovadas pelo ministério. É o caso, por exemplo, do Passiflora incarnata, indicado como calmante. Havia nas amostras o gênero Passiflora, mas não era da espécie incarnata. Em outros casos, o princípio ativo que interessa no fitoterápico não existia. E tem sido utilizado espécies que não têm comprovação científica para o uso."
Rafael acredita que isso pode ser resultado da incapacidade de identificar as espécies. Mas para o diretor do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais e vice-presidente da Federação Nacional de Farmacêuticos, Rilke Novato, a informação é preocupante. "Dependendo do componente de um fitoterápico há reações adversas. Uma fraude pode trazer alguns comprometimentos e efeitos colaterais graves para um paciente. Dependendo da variação da espécie, há uma ação diferente, como, por exemplo, uma liberação ou absolvição mais rápida pelo fígado", diz. Diante do estudo, ele diz que a terapia pode ser prejudicada. "Traz um prejuízo imenso para a saúde da pessoa, uma vez que uma ação do medicamento pode se tornar  menos eficaz", reclama.

TÉCNICA
As pesquisas só puderam ser feitas, de acordo com os pesquisadores, graças à  uma nova metodologia de análise que vem sendo usada no laboratório de genética  animal da Escola de Veterinária da UFMG. Trata-se da técnica de DNA Barcode, uma espécie de método que funciona como um código de barras molecular para identificar espécies. "Nos Estados Unidos essa técnica já é exigida para ser aplicada no comércio de pescados. Na Europa, depois do escândalo da carne de cavalo, a comunidade europeia lançou nota apontando interesse em se tornar obrigatório o método. No Brasil, ele ainda está limitado na área acadêmica. É uma metodologia eficaz, que poderia ser aplicada em larga escala para melhorar a autenticidade desses produtos", defende Rafael Palhares. Ele diz que o método é qualitativo, "detecta a presença ou não da espécie em análise". Os estudos feitos são parte de uma cooperação entre diversas instituições: a empresa Myleus, o Laboratório de Genética da Escola de Veterinária da UFMG, o INCT-IGSPB (instituto  financiado pela Fapemig e CNPq), a Faculdade de Farmácia da UFMG e o Instituto René Rachou (Fiocruz). 

Sem queda de conexão-Roberta Machado‏

Espécie de antena caseira, as femtocélulas vão tornar o acesso à internet pelo celular mais eficiente. Já utilizada em alguns países, a tecnologia está em fase de regularização no Brasil 


Roberta Machado

Estado de Minas: 06/03/2013 

Brasília – A internet sem fio e os celulares nem sempre são tão móveis quanto se deseja. Às vezes, a conexão à web está perfeita na calçada, mas basta entrar em um ônibus para a navegação se tornar um desafio. Dentro de casa, é comum o jogo de esconde-esconde, no qual alguns simples passos podem tornar o uso do telefone um suplício. Quem sofre com as oscilações de humor da rede pode até levantar o aparelho para os céus na esperança de obter um sinal melhor, mas a culpa mesmo é das antenas de transmissão, que estão a quilômetros de distância.

Os pontos que transmitem as ondas da central para áreas mais distantes nem sempre conseguem entregar todos os dados, o que resulta numa rede deficiente e congestionada. Geralmente, os usuários que moram nos pontos mais distantes da área de cobertura dependem dos investimentos da operadora em novas antenas para reforçar o sinal na região. Contudo, em alguns países, como Estados Unidos, Canadá e Grécia, os clientes já podem incrementar a cobertura de casas, prédios e até mesmo veículos por conta própria. Os pontos mortos das ondas de internet e de celular são corrigidos por uma tecnologia chamada de femtocélula, tipo de miniestação de transmissão personalizada.

Dos diversos padrões de dispositivos disponíveis para cada necessidade, a femtocélula conquistou o público e é a candidata a ganhar espaço em residências e prédios nos próximos anos. A menor das células existe desde 2007, e atingiu em novembro do ano passado a marca de 6 milhões de aparelhos ativos. Estima-se que esse número chegue a 91 milhões até o fim de 2016. Enquanto algumas operadoras oferecem o equipamento gratuitamente para que os usuários contribuam para o descongestionamento da rede, outras vendem as antenas sob a condição de planos especiais que oferecem uma cobertura com serviços personalizados.

Apesar de serem capazes de melhorar a qualidade das chamadas feitas e recebidas pelo celular, essas antenas trazem vantagem principalmente para quem gosta de navegar em seus smartphones. Calcula-se que 40% dos usuários da rede 3G acessem a web dentro de casa, justamente onde a conexão apresenta mais falhas. “Quanto mais paredes o sinal precisa atravessar, menor é o alcance. E, mesmo dentro do cômodo, há o mobiliário, que também bloqueia o sinal”, explica Luiz Alencar Reis da Silva Mello, professor do Centro de Estudos em Telecomunicações da PUC Rio. 

A ideia das femtocélulas é escoar esse tráfego para a rede de banda larga. Conectando esses aparelhos diretamente a um roteador, é possível obter um sinal otimizado de wi-fi com funcionamento muito superior, capaz de alcançar o celular em qualquer lugar da casa. Com o sinal melhorado, o usuário também ganha acesso a chamadas de maior qualidade e uma taxa de transferência de dados melhor.

Nos países que já usam a tecnologia, dependendo das vantagens oferecidas pelas operadoras, ainda é possível criar planos diferenciados de chamadas feitas pelo sinal das antenas residenciais, além de determinar um único número para ligações fixas e móveis. “Para a operadora, a vantagem é desafogar a rede 3G para usuários que trafegam muitos dados, tornando a cobertura mais eficaz”, aponta Roberto Falsarella, gerente de soluções móveis da Alcatel-Lucent, empresa de telecomunicações que já trabalha com as femtocélulas. No Brasil, a tecnologia ainda depende de regularização pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). As operadoras devem ficar com a responsabilidade de definir como será feita a comercialização do serviço. O assunto foi colocado para consulta pública pelo órgão até o dia 24 deste mês.

Pesquisas em alta
A União Europeia já conta com vários países integrados à rede dessas células, que, em alguns lugares, já supera o número de antenas transmissoras. Foram investidos mais de R$ 26 milhões em pesquisas para aperfeiçoar a tecnologia por meio de um grupo de empresas de telecomunicação, operadoras móveis e outras organizações da área. O projeto BeFEMTO (Redes Femto desenvolvidas em banda larga, na sigla em inglês) existe há três anos e já registrou 12 patentes, além de ter publicado mais de 70 artigos que devem melhorar e baratear a tecnologia.

Os europeus pretendem tornar as femtocélulas, enquanto elas ainda estão sendo implementadas, desenvolvendo modelos inteligentes que selecionam e controlam a conexão de forma independente e evitam interferências entre as antenas. Uma das criações do grupo são softwares de monitoramento de tráfego e algoritmos que garantem uma melhor transmissão. O alvo dos estudos são as novas redes LTE e 4G, que podem ter a potência comprometida por problemas de cobertura.

“O projeto BeFEMTO tem trabalhado em muitos aspectos inovadores, que não foram completamente resolvidos no modelo atual da tecnologia aplicada nas redes comerciais. Temos abordado muitos casos e cenários novos que não foram considerados antes”, explica Thierry Lestable, coordenador do grupo. O projeto conseguiu criar cinco protótipos que usam a tecnologia, incluindo uma rede de 12 femtocélulas interligadas.

Além de criar redes de antenas conectadas para usos corporativos ou ao ar livre, o grupo ainda estuda formas de aumentar a cobertura das células e pesquisa aparelhos móveis para uso no transporte público. Em alguns espaços da Europa, por exemplo, os usuários já têm acesso aberto às redes de femtocélulas da operadora deles. “Queremos que o usuário tenha uma experiência de banda larga real, tendo a conexão em qualquer lugar, com a melhor qualidade e com o custo reduzido para o operador”, resume Lestable.

TV PAGA

Estado de Minas - 06/03/2013

Na base da troca

O A&E já marcou território como o canal das bizarrices. A mais nova investuda é Barter kings, série sobre escambos que dão certo e que estreia hoje, às 22h. Steve McHugh e Antonio Palazzola (foto) são considerados mestres da arte da troca, ganhando a vida com negócios em que dinheiro não está envolvido nas transações. Os caras topam, por exemplo, trocar um iPhone por um porco gordo.


Uma grande aventura
pelos mares na truTV

Na truTV, às 21h30, estreia Águas perigosas, reality show que promete apresentar alguns dos lugares mais extremos e belos do planeta. E isso em pequenas embarcações, 7 mil quilômetros mar adentro, passando pelo Estreito de Bering e o Alasca. Os cinco bravos aventureiros dessa atração vão encontrar pela frente ursos-pardos e outros espécimes selvagens, além
de enfrentar inúmeras barreiras naturais.

Saia justa está de volta
com novas debatedoras

No canal GNT, o programa Saia justa volta com novo formato, às 21h30, comandado agora por Astrid Fontenelle, Barbara Gancia, Maria Ribeiro e Mônica Martelli e trazendo para a pauta temas da atualidade, comportamento e relações pessoais. Já às 22h30 vai ao ar o último episódio da temporada de verão do Viva voz, com a apresentadora Sarah Oliveira conversando com o cantor Erasmo Carlos.

Construir e decorar vai
render prêmio no Glitz

O canal Glitz retoma hoje, às 19h, o reality show The renovators, apresentado por Brendan Moar. A produção impõe desafios de construção e decoração aos participantes, que testam suas habilidades específicas até que um deles conquiste o título de melhor reformador da Austrália.Canal Bio traça o perfil da atriz Nicole Kidman

Por falar em Austrália, a estrela Nicole Kidman é destaque da franquia Biography, hoje, às 16h45, no canal Bio. Em Hollywood, ela estreou em 1989, no longa Terror a bordo, mas o grande sucesso veio no ano seguinte, com Dias de trovão, com Tom Cruise, com quem ficou 11 anos casada. Em 2002, ela ganhou merecidamente o Oscar pelo papel de Virginia Wolf
em As horas.

Uma boa surpresa para
quem é fã de Noel Rosa

O ator Rafael Raposo impressiona como protagonista de Noel – Poeta da Vila, que o Canal Brasil exibe esta noite, às 22h. A cinebiografia narra a trajetória de Noel Rosa, o mais ilustre sambista de Vila Isabel, desde a adolescência. Outro destaque de hoje é Caos calmo, do diretor italiano Antonello Grimaldi, também às 22h, na Mostra internacional de cinema na Cultura. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Star trek, no FX; A sogra, no Glitz; Amor a toda prova, na HBO HD; Pronta para amar, no Telecine Touch; John Carter – Entre dois mundos, no Telecine Pipoca; Hanna, no Max HD; Policial sob suspeita, no Space; e Despertar de um pesadelo, no TCM. Outras atrações da programação: Um tira muito suspeito, às 21h, no Comedy Central; Encontro marcado, às 22h30, no Universal; e A casa do lago, às 23h30, na Fox.