terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER

HORA DO CAFÉ      ALVES

Alves

Charge

folha de são paulo

CHARGE

Marcas de expressão - Denise Mota

FOLHA DE SÃO PAULO

Pessoas com mais de 50 anos aderem à tatuagem e fazem do corpo um livro aberto de experiências, memórias e homenagens a familiares
DENISE MOTACOLABORAÇÃO PARA A FOLHAA tatuagem amadureceu. Cada vez mais, ela deixa de ser vista como marginal, como um símbolo de contestação ou uma escolha exclusivamente juvenil.
Na nova fase -que vem se consolidando, segundo observam tatuadores que trabalham há décadas no ramo-, os desenhos na pele ganharam um crescente número de adeptos entre as pessoas com mais de 50 anos. O que antes era símbolo de rebeldia se tornou expressão de liberdade.
"Eu me acho bonito, saudável", diz Luiz Fernando Bravin, 60, administrador de empresas que tem quatro elaboradas tatuagens (nas costas, no peito e nos dois braços) e já calculou em detalhes o que irá registrar nos próximos três desenhos.
"Tenho um tucunaré [peixe brasileiro], preso na bandeira do Brasil, pendurado em um anzol", descreve a marca de 40 cm, nas costas, que foi a estreia no universo da tatuagem há quatro anos.
Um ano depois, com o nascimento da neta, decidiu registrar o pezinho da bebê "em cima do coração", ao lado dos nomes dos outros netos. Na sequência, veio a inspiração para uma faixa no braço esquerdo, com símbolos, animais e os nomes dos filhos. Para completar, o braço direito recebeu um dragão que irá expelir fogo (o detalhe incandescente é um dos desenhos programados).
Saber exatamente o que quer tatuar é uma característica comum entre os mais velhos, segundo Gustavo Silvano, da Pin Up Tattoo. Ele, que trabalha há 12 anos em Icaraí, bairro de Niterói "com uma alta concentração de pessoas mais velhas", nota que a clientela acima dos 50 anos vem crescendo.
Com 30 anos de experiência em tatuagens, Sergio Maciel, da Led's Tattoo, em São Paulo, confirma a percepção do colega: "Acredito que a popularização da tatuagem, a quebra de velhos conceitos e o reconhecimento da tatuagem como arte são os responsáveis por isso", diz.
LIBERTAÇÃO
Para Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista da Folha, a tatuagem como algo não desviante é um conceito recente e que encontra nas pessoas mais velhas uma correspondência com o "discurso da libertação" que surge com a idade.
"É como se fosse uma segunda vida. Vejo que decidem se tatuar nesse momento, primeiro, porque é algo mais 'normal', segundo, porque se sentem livres para fazer o que bem entenderem."
Goldenberg está escrevendo um livro -"A Bela Velhice", com lançamento previsto para abril- sobre essa sensação de liberdade que vem detectando entre pessoas de 50 a 90 anos.
Na opinião da escritora e jornalista Leusa Araújo, que pesquisou por mais de dois anos o mundo das "tattoos", apesar da maior aceitação, tatuar-se continua a ser uma decisão exposta a preconceitos.
"O que há hoje é uma maneira diferente de lidar com o próprio corpo. A liberdade de escolha parece ter ganho maior importância, como se houvesse uma afirmação de que ao menos o corpo ainda é um lugar próprio. Então faço dele um depoimento do que sou", diz ela, autora do livro "Tatuagem, Piercing e outras Mensagens do Corpo".

    Frases e nomes estão entre desenhos mais pedidos
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    Aos 57 anos, a pediatra paulistana D'Eua de Mello decidiu fazer do corpo uma espécie de livro com experiências e gostos acumulados ao longo da vida. A primeira tatuagem apareceu há dez anos, depois de levar os filhos -que desejavam se tatuar- a um estúdio. Eles titubearam e foram se decidir pelos desenhos semanas mais tarde. A mãe, não: chegou, sentou e saiu tatuada. "Aos 47, você sabe o que quer da vida. Meus filhos acharam o máximo, até porque era algo que não estava na programação."
    A primeira tatuagem foi o símbolo do mantra hindu "om", de 3 cm, na nuca. Depois vieram outros registros, maiores e mais evidentes. "É viciante. Para mim, isso é uma obra de arte." A escolha seguinte, três anos depois, foi gravar nas costas um símbolo de proteção da casa, retirado do feng shui.
    Há três anos veio a terceira, em referência a "eles" -"Ba" e "Du", como ela chama os dois filhos. E, em dezembro passado, resolveu aumentar a homenagem e incrementar os arabescos do desenho, que agora se estende até o braço. "Não tenho mais nada discreto", brinca.
    Ainda em dezembro, fez outro "presente", dessa vez para o marido, com quem está casada há mais de 30 anos. A ideia do desenho veio à cabeça subitamente, quando D'Eua escutava Ana Cañas cantando "La Vie en Rose". Não deu outra: a frase "C'est lui pour moi/ Moi pour lui dans la vie" (É ele para mim / Eu para ele, na vida) foi parar no ombro da paulistana.
    O exemplo de D'Eua deixa evidente uma das tendências mais marcantes atualmente no universo da tatuagem: as escritas com nomes de pessoas amadas, um dos desenhos mais pedidos.
    Mas, de acordo com tatuadores, não há denominador comum quanto à preferência dos mais velhos nos estúdios. A palavra "moda" não existe nessa equação, segundo Gustavo Silvano, da Pin Up Tattoo. "Os clientes com mais de 50 anos raramente pedem desenhos da moda, eles são mais específicos no que querem e têm mais facilidade em decidir qual desenho fazer."
    E não parecem estar muito preocupados com o que os outros vão pensar. O administrador de empresas Luiz Fernando Bravin já se acostumou com os olhares de surpresa quando os amigos pescadores veem suas tatuagens.
    "As pessoas estranham, acham que é coisa de velho maluco. Meus companheiros falam: 'Bravin, o que é isso?'. Aí eu digo: 'Ah, esse foi um peixe que eu pesquei ontem, e ele não quis mais largar de mim'", conta sobre o tucunaré que carrega nas costas.
    A pediatra D'Eua diz que os desenhos na pele não a atrapalham em nenhum sentido, nem profissionalmente -pelo contrário, os pais dos pacientes até se sentem mais próximos, segundo ela.
    DISFARCE
    Além da vontade de refletir uma etapa de plenitude, para alguns a tatuagem também representa um desejo de cobrir cicatrizes e embelezar o corpo, iniciativa que a dermatologista Monica Carvalho considera interessante, especialmente nos casos de quem passou por cirurgias plásticas estéticas ou de redução de estômago.
    Mas nem tudo é favorável na decisão de fazer a tatuagem. Por causa de doenças crônicas mais frequentes com o passar da idade -como diabetes e pressão alta-, o procedimento depois dos 50 anos requer alguns cuidados extras, segundo a dermatologista.




    'Envelhecimento' da tatuagem é diferente em cada região do corpo
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHADepois dos 50 anos, fazer uma tatuagem requer cuidados especiais, como escolher adequadamente a região do corpo que receberá o desenho e ter maior rigor na higienização do local.
    "A tatuagem acompanha as mudanças da pele. Se a pessoa engorda, a pele acompanha e o desenho também", afirma a dermatologista Monica Carvalho.
    De acordo com ela, as alterações causadas pelo envelhecimento são mais lentas do que as resultantes do ganho de peso, mesmo assim é indicado escolher regiões do corpo que mudem pouco com o passar dos anos, como costas, braços, colo e pernas.
    O tornozelo deve ser evitado, porque a cicatrização pode ser mais difícil. "O procedimento pode causar alterações no retorno venoso e dificultar a cicatrização. Por esse mesmo motivo, hipertensos não devem se tatuar nas pernas", diz a dermatologista. Pessoas com tendência a ter queloide (quando a cicatriz fica saliente) precisam fazer um teste antes de se tatuar.
    Segundo Carvalho, o principal risco do procedimento é o de contrair infecções. Para diminuir o risco, é recomendável procurar um estabelecimento "sério, que use materiais descartáveis ou esterilizado em autoclave (por vapor)", afirma.
    A higienização da pele depois da tatuagem é muito importante, principalmente se a pessoa tiver diabetes (que torna a cicatrização mais difícil). "É necessário lavar bem com sabonete neutro e de preferência usar um antisséptico à base de clorexidina. Também é aconselhável o uso de pomadas cicatrizantes. E não se deve expor a tatuagem ao sol nos primeiros dias", explica a dermatologista.
    Outro cuidado é com a hidratação. "Com a idade, a pele tende ao ressecamento. Então mantê-la hidratada é sempre recomendado."
    Se o local apresentar vermelhidão, dor, secreção amarelada ou esverdeada a partir do segundo dia da realização da tatuagem, é melhor procurar um médico. "Podem ser sintomas de uma infecção", afirma Carvalho.


    PARA TODAS AS IDADES
    CLÁSSICAS
    Tigres
    Panteras
    Águias
    Rosas
    Crânios
    Borboletas
    Flores
    NA MODA
    Tribais
    Realistas em preto e branco (3D)
    Tatuagens com o nome de pessoas
    Tatuagens verbais, em português


    AS MAIS PEDIDAS DEPOIS DOS 50
    ENTRE AS MULHERES
    Florais
    Borboletas
    Beija-flor
    Escritas
    Símbolos
    ENTRE OS HOMENS
    Escritas
    Clássicas (tigres, panteras, águias, dragões)
    Realistas


    COMO TIRAR
    TÉCNICA
    O método mais utilizado atualmente, considerado a mais eficaz e menos invasivo, é o laser de rubi; ele é usado no comprimento de onda para atingir o pigmento na derme e pode remover a tinta sem prejudicar a pele
    APLICAÇÃO
    Nuca e costas são áreas em que as remoções são menos dolorosas. Quanto mais colorida e profissional a tatuagem (por conta da quantidade de uso de tintas), mais difícil de retirar. Uma dica para quem pensa em se tatuar e tem medo de se arrepender depois é evitar usar tons fortes como laranja e vermelho, que são muito difíceis de ser eliminados da pele
    DURAÇÃO
    A retirada total de uma tatuagem pode levar de cinco a dez sessões. Geralmente, a aplicação do laser é feita com pomada anestésica. As sessões são mensais, ou seja, a remoção de uma tatuagem pode demorar até dez meses
    PREÇO
    Cada sessão custa, em média, R$ 1.000, mas o preço pode aumentar dependendo do tamanho da tatuagem (quanto mais disparos de laser, mais caro fica o tratamento). E o especialista não tem como garantir que o desenho seja totalmente apagado

      Teoria de psicanalistas define a dependência ao álcool como uma nova forma de religião

      FOLHA DE SÃO PAULO

      Uma dose de fanatismo
      IARA BIDERMAN
      DE SÃO PAULO
      OS AUTORES CRIARAM O TERMO 'IDEALCOOLISMO' PARA EXPLICAR a IDOLATRIA ÀS BEBIDAS ALCOÓLICAS
      O ALCOÓLATRA PRECISA PASSAR POR UM 'CHOQUE DE HUMANIDADE' PARA SE SENTIR RESPONSÁVEL POR SEU TRATAMENTO
      O que define o alcoólatra não é a dependência química, afirmam os psicanalistas Antônio Alves Xavier e Emir Tomazelli, autores de "Idealcoolismo" (Casa do Psicólogo, 282 págs., R$ 47).
      Baseados em dez anos de pesquisa com mais de 5.000 pessoas em tratamento para alcoolismo, os autores chegaram à conclusão de que o alcoólatra é, antes de tudo, um fanático de uma religião individual e autocentrada.
      Em entrevista à Folha, os dois explicam sua teoria e o tratamento para alcoolismo que criaram a partir dela.
      -
      Folha - Por que os srs. comparam o alcoólatra a um fanático religioso?
      * Antonio Alves Xavier* - Porque ele transforma a bebida em uma substância divina. Ao beber o 'deus álcool', comunga com essa substância e acredita que vira deus, não tem que enfrentar as limitações e frustações de ser humano. Vira todo-poderoso e se entrega a esse ídolo que o faz se sentir onipotente.
      No livro, isso é definido como uma forma de religião degradada. O que significa?
      Xavier - Não há uma distância entre o crente e seu deus. Quando alguém toma a si próprio ou a alguma coisa existente no mundo como deus, cria uma religião degradada: a pessoa adora falsos ídolos, que, no caso do alcoólatra, é a bebida. Então acaba sendo uma idolatria.
      A medicina trata como dependência química...
      Xavier -A forma segundo a qual vem sendo tratada a questão do álcool e das drogas tem sido muito útil, mas é uma maneira sobretudo biologicista e medicinal de abordar o problema. Aprendemos muito com a medicina e as pesquisas farmacológicas, mas a nossa proposta é entender o papel da cultura e do psiquismo na construção do vício.
      Emir Tomazelli - Não adianta, para o tratamento, pensar apenas que o corpo se vicia num sistema químico. O que interessa, para nós, é o que a pessoa faz, do ponto de vista psíquico, com a substância química que ingeriu.
      O que o alcoólatra faz?
      Tomazelli - Deixa de ser humano, de se responsabilizar pelo que faz com sua vida -a culpa é do álcool, não dele. E acaba perdendo sua parte ética, porque fica submerso em sua individualidade, sem considerar o outro.
      Xavier - Ele é um indivíduo extremamente narcisista, não entra em contato e, vamos falar português claro, é um chato. Mas nós gostamos muito de trabalhar com alcoólatras, porque encontramos uma técnica de tratamento fundamental para a doença.
      Qual é essa técnica?
      Xavier - Chamamos de choque de humanidade. Tentamos dar referências concretas para ele perceber que é humano, limitado, frágil.
      Tomazelli -Nós queremos que ele tenha culpa, mas não aquela autocomiseração narcisista de quem acha que não precisa se tratar. É uma culpa responsável. Ele precisa sentir tristeza, isso torna as pessoas mais humanas.
      Não há risco de ele entrar em depressão?
      Tomazelli - É uma tarefa difícil, mas não estamos falando de uma tristeza insuportável. É fazer a pessoa entrar em contato com pequenas doses diárias da realidade, na qual a alegria é constituída por um pouco de tristeza, ao contrário da euforia produzida pela bebida ou outras drogas.
      Xavier - O álcool é uma droga potentemente depressiva. No primeiro momento, é estimulante, causa euforia. A excitação é usada pelo alcoólatra como calmante. Ele não precisa enfrentar suas angústias. O alívio vindo pelo excesso de estímulo faz o sujeito pirar, leva à autopunição e à depressão.
      A família é fundamental no tratamento?
      Tomazelli - Pode ajudar, mas nossa técnica é uma grande chance de o sujeito tomar sua loucura em suas próprias mãos.
      Xavier - Em muitos casos, o alcoólatra é o para-raios da família. Todas as angústias individuais estão projetadas nele. Na hora em que ele vai sarando, os familiares são obrigados a lidar com suas próprias angústias. Por isso, não é incomum a família sabotar o tratamento.
      E qual o papel da sociedade?
      Xavier - A sociedade que instiga o alcoolismo é a mesma que o reprime. O prestígio que dá às bebidas é uma forma de idolatria. Se prestarmos atenção, prateleiras de bar, muitas com estátuas de santos no meio, são parecidas com um altar.
      Tomazelli - Outro problema é que a sociedade é muito complacente, trata o alcoólatra com tapinhas nas costas. A própria ideia da dependência química ajuda a tirar a responsabilidade pessoal, como se o vício fosse uma fatalidade da natureza.

        Melhor idade - Mirian Goldenberg

        FOLHA DE SÃO PAULO

        OUTRAS IDEIAS

        Muitas mulheres só conseguem ser mais livres e felizes depois que envelhecem; é preciso esperar tanto?
        "A arte de dizer não", publicada no dia 1º de janeiro, foi a minha coluna de maior sucesso no caderno "Equilíbrio".
        Mais de 2.500 leitores recomendaram o texto no site da Folha. Recebi centenas de mensagens de mulheres que distribuíram o texto para as amigas, fixaram na geladeira, colaram no computador, guardaram na bolsa etc.
        Uma psicóloga de 52 anos escreveu: "A sua coluna, de forma despretensiosa, mas encantadora, dá muitas dicas para sermos mais felizes. A sensação de não estar 'sozinha', de que outras mulheres sentem a mesma coisa, traz um enorme alívio. Ficamos conscientes de que não somos as únicas que sofremos com as cobranças sociais e familiares. Você, sem querer, tornou-se a 'porta-voz' das angústias da mulher brasileira. Seus textos têm mostrado que nós podemos trilhar um outro caminho: o da libertação das amarras do preconceito, da opinião alheia, da obsessão com a perfeição e com a aparência. Você tem me incentivado a ter coragem de ser 'eu mesma'. Como fez Leila Diniz".
        Uma atriz de 56 anos disse: "O gosto que senti ao ler as dicas da sua coluna foi o de felicidade. Imprimi e colei na minha geladeira. Vou tomar muitas cápsulas desses 'nãos' todos os dias e, com certeza, vou ser muito mais feliz. Basta de querer provar o meu valor. Chega de querer agradar a todo mundo. Já desperdicei muito tempo da minha vida buscando o reconhecimento dos outros. Agora, é hora de cuidar de mim. Pena que descobri isso tão tarde".
        Uma dentista de 63 anos afirmou: "Adorei a ideia de ligar o botão do 'foda-se'. Depois de ler sua coluna, cheguei à conclusão que estou na minha 'melhor idade': a idade do 'foda-se'!".
        Portanto, não é o envelhecimento que é valorizado pelas mulheres: o que é valorizada é a liberdade, ainda que tardiamente conquistada, de "ser eu mesma", com foco nos próprios desejos e no cuidado de si.
        Lendo as inúmeras mensagens que recebi, é fácil perceber que a "melhor idade" é aquela em que, finalmente, as mulheres conseguem ser mais livres.
        Muitas brasileiras afirmam que só conseguiram ser mais felizes e livres depois que envelheceram.
        Será que é necessário esperar tanto tempo?

          Denise Fraga


          VIDA REAL
          folha de são paulo - denise-fraga@uol.com.br
          Vivam os grafiteiros!
          Amo as cores e os desenhos dos carros, entretanto, segui a maioria e comprei meu primeiro veículo cinza
          Adoro carros coloridos. Meu primeiro carro foi um Fusca vermelho. Tive também uma Brasília marrom, um Chevette azul, uma Parati e outros tantos carros verdes. Acho realmente um desperdício passarmos horas no trânsito olhando para uma multidão de carros cinzas e iguais.
          Algumas vezes na minha vida, quando estive em dúvida, deixei o veredicto por conta da eventual passagem de um carro vermelho pelo cruzamento. Faz tempo que não uso a tática, os carros vermelhos estão cada vez mais raros.
          Acho a Lei Cidade Limpa um bom projeto, mas parece que acentuou ainda mais a falta de cor do nosso trânsito sobre nossas fachadas despreparadas.
          Não entendia bem o sumiço dos carros coloridos, mas, na última vez em que fomos trocar de carro, o simpático vendedor me deu a resposta. "Verde? Vai demorar mais e é mais difícil de vender." Disse também que os carros mais vendidos são os pretos, pratas e grafites.
          Custo a crer que o gosto da população tenha se igualado em tons tão sombrios nos últimos anos, mas o medo de ter um carro que possa valer menos simplesmente por ser da sua cor preferida pode sim ter sido a grande força que foi tingindo de cinza nosso caótico mosaico urbano.
          Entretanto, rendida ao maior poder de persuasão do mundo, o vil metal, segui a maioria e acabei comprando meu primeiro carro cinza. Agora faço parte da anaconda cinzenta e quase enlouqueço tentando achar meu carro nos estacionamentos.
          Além das cores, parece que também sumiram os desenhos. A evolução da aerodinâmica aperfeiçoou as frentes e traseiras e, com medo de vender menos, uns foram imitando os outros, construindo nosso mar de carros iguais.
          Hoje é quase impossível saber se um amigo já chegou numa festa reconhecendo seu carro parado na porta. Na verdade, já nem sei mais a marca dos carros dos meus amigos. Sei que eles têm lá um veículo cinzento qualquer, que precisamos olhar com cuidado para não cometermos a gafe de ignorar as diferenças que possam ter feito ele pagar duas vezes mais do que o último.
          Parece até que ligo pra carros. Não ligo, mas amo as cores e os desenhos. O que acho mesmo curioso é pensar que o mesmo poder do dinheiro que nos diluiu o sonho de viver em igualdade, acabe nos equalizando em banalidades como essa. Conseguimos ter carros iguais, ainda que de marcas e preços diferentes.
          Me arrependi. Da próxima vez, vou esperar pelo carro verde. E antes que eu me esqueça, vivam os grafiteiros!

            Meninas de exatas - Cássio Leite Vieira

            FOLHA DE SÃO PAULO

            Meninas de exatas
            Números e fórmulas não são coisas de menino; em média, elas são melhores do que eles em matemática
            Este texto é para meninas que gostam de física e matemática. E querem ser cientistas. É também uma mensagem para os familiares delas.
            Na década de 1980, minha adorável experiência como professor de matemática e física no ensino médio me deu algumas certezas. Uma delas: meninas, na média, são melhores que meninos nessas duas disciplinas. Mas um estranho viés cultural sempre alçava um menino a "gênio" das exatas da escola. Mesmo que houvesse meninas com notas melhores. Injustiça.
            Outra certeza: em geral, minhas alunas eram mais meticulosas, organizadas e intuitivas que os meninos -quatro boas qualidades para a resolução de problemas científicos (ou do cotidiano).
            Incentivei muitas alunas -algumas brilhantes- a fazer física, matemática ou engenharia. Em vão. Razão: falta de apoio ou resistência familiar. Ouvi pais dizerem que eram profissões de homem.
            De lá para cá, certamente o cenário mudou. Arrisco dizer que, na biologia e na química, as mulheres já ultrapassaram os homens.
            Se você, menina para quem escrevo este texto, tiver momentos de dúvida, lembre-se dos percalços vencidos por pioneiras. A francesa Sophie Germain (1776-1831), que assinava cartas como "Sr. Leblanc" para ser aceita entre matemáticos, tornou-se a primeira cientista a frequentar as sessões da Academia de Ciências da França; a alemã Emmy Noether (1882-1935), que teve coragem de seguir a profissão do pai, é tida como a matemática mais notável do século passado.
            Na física, a franco-polonesa Marie Curie (1867-1934), que passou boa parte da graduação na França a pão e chá, acabou no seleto clube de cientistas com dois prêmios Nobel (Física, 1903; Química, 1911).
            Como Noether, a austríaca Marietta Blau (1894-1970) e a alemã Maria Goeppert-Mayer (1906-1972) trabalharam por anos sem pagamento -comum para mulheres cientistas no início do século passado. Blau, quando pediu um cargo permanente a seu chefe, escutou: "Mulher e judia... Aí já é demais!". Daria parte de meus vencimentos para ver a cara dos homens que negaram salário a Goeppert-Mayer quando ela ganhou... o Nobel de Física de 1963.
            Gosto, porém, do exemplo de Mileva Maric (1875-1948). Brilhante em matemática e física, foi uma das primeiras mulheres do Império Austro-Húngaro a receber licença do governo para cursar essas disciplinas entre os meninos. Na graduação, suas notas eram tão boas quanto ou superiores às de seu futuro marido: Albert Einstein (1879-1955). Sabemos que ela lia e corrigia os artigos dele, antes de serem enviados para publicação. Seu brilho, no entanto, foi obscurecido pela fama dele. E sua carreira prejudicada pelo tratamento insensato que ele dedicou a ela.
            Há, no Brasil, várias pioneiras. Mas uma delas sempre me impressionou. Sonja Ashauer (1923-1948) fez o doutorado -o segundo obtido por um físico brasileiro- com o britânico Paul Dirac (1902-1984), Nobel de 1933. Mas morreu jovem e de forma misteriosa.
            Essas e muitas outras cientistas facilitaram o ingresso das mulheres nas universidades e nos laboratórios de pesquisa no mundo todo.
            A ciência, aqui e lá fora, sempre precisará de pesquisadores bem formados. Além disso, ser cientista é bacana. Meus argumentos: ninguém vai se importar com o modo com que você está vestida; os salários hoje são razoáveis para alguém com doutorado; não precisa bater ponto; e nem sempre se tem chefe. Você será aquilo que produzir.
            Portanto, não se deixe convencer de que profissões com números e fórmulas são para meninos. Mesmo que sua família diga isso. Siga sua vocação. E, para finalizar, peço licença para uma última opinião pessoal: meninas com um cérebro cheio de fórmulas sempre me pareceram mais atraentes que as outras.

            USP usa raios gama para esterilizar mosquito transmissor da dengue

            FOLHA DE SÃO PAULO

            GIULIANA MIRANDA
            DE SÃO PAULO

            Enquanto na ficção a radiação gama conferiu poderes extraordinários ao Incrível Hulk, na vida real ela ajuda a dificultar a vida do mosquito da dengue, prejudicando sua capacidade reprodutiva.
            Cientistas do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP de Piracicaba desenvolveram uma técnica que usa radiação para tornar o Aedes aegypti estéril.
            Usando uma fonte de Colbalto-60, os pesquisadores fazem uma espécie de "bombardeio" de raios gama no inseto. A técnica, chamada de irradiação, já tem uso consagrado em várias outras aplicações, inclusive na indústria de alimentos.
            A dose de radiação usada é considerada baixa e não mata o mosquito, mas é suficiente para torná-lo estéril.
            "A técnica é perfeitamente segura. Não há risco para o ambiente, porque a radiação não deixa nenhum tipo de resíduo perigoso", explica Valter Arthur, coordenador do estudo.
            A irradiação é feita só nos mosquitos machos, quando eles atingem a chamada fase pupa, em que já estão com todos os órgãos formados, mas ainda não são adultos.
            Editoria de Arte/Folhapress
            A criação dos insetos é feita nas instalações de uma empresa parceira, a Bioagri, em Charqueada (interior de SP).
            Depois do processo, os mosquitos irradiados são soltos no ambiente, onde competirão com os machos normais pela cópula com as fêmeas. As relações chegam a acontecer, mas os ovos decorrentes delas não eclodem, o que ajuda a controlar a população dos insetos.
            Antes de testar os mosquitos em ambientes "reais", os pesquisadores precisam verificar se os exemplares de Aedes aegypti estéreis são tão competitivos sexualmente quanto os outros.
            Essa etapa está prestes a começar, mas o trabalho já foi apresentado na última edição do Congresso Brasileiro de Entologia.
            De acordo com Ademir Martins, pesquisador do instituto Oswaldo Cruz que não participa do trabalho, métodos bastante similares já tiveram bastante sucesso no controle de pragas agrícolas.
            "A técnica andou meio esquecida, mas agora está ressurgindo em alguns trabalhos", avalia o cientista.
            Segundo ele, um possível inconveniente é a baixa autossustentabilidade do método, uma vez que é preciso ficar constantemente irradiando e liberando machos inférteis nos ambientes.
            Os últimos testes com uma vacina para a dengue, doença que mata 20 mil pessoas ao ano no mundo, fracassaram em 2012. Hoje, há várias iniciativas que investem no controle do mosquito.
            No Brasil, duas outras estão em testes. A Fiocruz trabalha inserindo uma bactéria que torna o mosquito "vacinado" contra a dengue. Na Bahia, há uma "fábrica" de mosquitos transgênicos, que dão origem a filhotes incapazes de sobreviver.

            Quatro anos depois, amigos dizem que Obamas mudaram

            folha de são paulo


            JODI KANTOR

            DO "NEW YORK TIMES"

            Barack e Michelle Obama estão sob o olhar atento da nação há mais de mil dias, mas as transformações pessoais pelas quais passaram podem ser difíceis de detectar.
            As pessoas que os conhecem pessoalmente, porém, dizem que percebem um acúmulo de pequenas mudanças no presidente e na primeira-dama desde que eles percorreram o caminho do desfile de posse, quatro anos atrás.
            O homem que queria mudar a natureza de Washington hoje avisa aos candidatos a cargos no governo federal que é difícil conseguir que qualquer coisa seja feita lá.
            Não faz muito tempo, Obama disse que não precisava de uma biblioteca presidencial, um tributo a ele mesmo que custaria centenas de milhões de dólares. Agora uma ex-assessora dele, Susan Sher, está examinando possibilidades nesse sentido para ele em Chicago.
            A primeira-dama que queria criar vínculos com sua nova cidade descobriu que até para ir olhar as flores de cerejeira ela precisa de chapéu, óculos de sol e convencer o Serviço Secreto a autorizá-la. Numa demonstração de como pode ser difícil para qualquer presidente ou primeira-dama conservarem relacionamentos, Michelle Obama deixou de levar suas filhas a um programa de mentoreamento que ela própria fundou, por temer que outras adolescentes tivessem inveja delas, segundo uma assessora.
            Quando o presidente retornou depois de consolar famílias de professores e crianças mortos no massacre de Newtown, Connecticut --ele chorou quando os familiares lhe deram fotos e lhe contaram histórias sobre vítima após vítima--, seus assessores puderam perceber em seu rosto o sofrimento de absorver os traumas do país. "É isto o que eu faço", Obama comentou com eles.
            "Este cargo talvez tenha custado a Obama mais no nível pessoal, até mesmo de sua energia, que à maioria de seus predecessores, porque ele era quase inteiramente outsider", observou o dramaturgo Tony Kushner, partidário que recentemente jantou com o presidente para discutir com ele o filme "Lincoln", cujo roteiro ele (Kushner) escreveu.
            Os Obama ganharam e perderam em seus quatro anos na Casa Branca, tornando-se profissionais experientes ao invés de novatos e ficando mais convencionais, com uma visão contraída das possibilidades reais. Eles são pessoas firmes e constantes, não dadas à reinvenção em série. Mas, em entrevistas, assessores antigos e atuais da Casa Branca e de campanha, doadores e amigos de Chicago do casal disseram que é possível ver como o presidente e a primeira-dama foram afetados por seus papéis.
            Descrevendo Barack e Michelle, eles usaram frases como "estão mais confiantes, mas mais marcados". Mais isolados. Menos hesitantes em dar ordens a membros de sua equipe, quer sejam os mordomos ou os assessores de mais alto nível. Satisfeitos com a reeleição, que eles veem como confirmação bem-vinda de sua atuação, e mais decididos e intransigentes quando se trata de derrotar republicanos.
            E Obama aprendeu que sua Presidência será moldada por acontecimentos imprevistos -- "gafanhotos", como os descreveu um ex-assessor, pelo fato de se acumularem sem aviso prévio.
            DIFERENCIADO
            Barack Obama nunca quis ser um político comum --houve um tempo em que Michelle Obama mal conseguia usar a palavra "político" para descrever seu marido--, e seus assessores resistem à ideia de que ele tenha sucumbido à prática padrão de Washington.
            Alguns doadores e assessores riem da ideia de que o casal agora observe o ritual político com mais cuidado: este é um presidente que não convidou Bill e Hillary Rodham Clinton para jantar, mas que promove almoços para discutir filosofia moral com o colega Nobel da Paz Elie Wiesel. "Ele pensa sobre o destino em termos humanos", comentou Wiesel em entrevista.
            Mesmo assim, outros declaram que os Obama ficaram mais descontraídos, mais à vontade com a divisão porosa entre o político e o social, mais dispostos a revelar-se. Recentemente eles começaram a convidar mais pessoas de fora para seus aposentos residenciais particulares, incluindo Tony Kushner, Steven Spielberg e Daniel Day-Lewis no jantar para celebrar o filme "Lincoln".
            No final de novembro, num jantar de agradecimento aos maiores levantadores de fundos para sua campanha, Barack e Obama agiram como recém-casados, brincando e passeando de mesa em mesa para aceitar felicitações e votos positivos para os próximos anos, fazendo piadas com segundo sentido que os hóspedes se negaram a repetir para publicação.
            Mesmo o discurso do presidente mudou um pouco, dizem observadores atentos. Embora ele ainda desdenhe Washington, hoje Obama frequentemente soa menos como outsider desaprovador e mais como participante. Um ex-assessor dele ficou espantado ao ouvir Obama usar o verbo "impactar", uma tendência nítida na capital.
            Outro assessor de longa data contou que, durante as negociações de 2011 sobre o teto da dívida, ele achou surpreendente ver que Obama ficou ofendido quando o presidente da Câmara, John A. Boehner, não retornou seus muitos telefonemas.
            O Barack Obama antigo teria achado uma bobagem o protocolo de quem telefona para quem, disse o assessor, mas "o mundo que ele habita hoje é o mundo das manobras políticas de Washington". Em imagens de vídeo de Obama, os contrastes notados podem ser sutis, mas interessantes.
            Em sua primeira cerimônia de indulto do peru no Dia de Ação de Graças, em 2009, o presidente cumpriu o ritual, mas depois fez uma pausa para distanciar-se do que estava fazendo e deixar subentendido que achava a tradição ridícula. "Há certos dias que me fazem lembrar por que me candidatei a este cargo", disse ele. "E há momentos como estes, quando extingo a pena de morte de um peru e o envio para a Disneylândia."
            Na mesma cerimônia três anos mais tarde, vemos Obama promovendo um concurso para ver qual peru indultar e rindo um pouco. "Não dá para conservar a atitude de cinismo em relação a essas coisas, no dia a dia", explicou Arun Chaudhary, o ex-cinegrafista da Casa Branca, porque os rituais da Casa Branca têm grande valor para muitos americanos.
            O que o presidente quer realizar no mandato atual está claro: um acordo fiscal e reformas das leis de controle de armas e de imigração, medidas em relação às mudanças climáticas e leis de identificação de eleitores menos restritivas. Mas o que a primeira-dama quer é menos conhecido. Em quase todas suas aparições públicas ela age de modo caloroso e despretensioso; na sexta-feira ela continuou sua "discussão" em tom de brincadeira com Ellen DeGeneres em torno de quem consegue fazer mais flexões abdominais.
            Esse tom de informalidade pode mascarar até que ponto Michelle Obama é disciplinada.
            PRIMEIRA-DAMA
            Embora muitos em torno dos Obama digam que ela mudou muito mais que seu marido, aprendendo a lidar bem com um papel que inicialmente achou incômodo, Michelle ainda trata o trabalho da primeira-dama como território perigoso no qual ela precisa dar um jeito de navegar com segurança.
            A mulher que nunca quis viver numa bolha agora usa a bolha para se proteger, revelam amigos e ex-assessores, preparando suas atividades públicas em planos estratégicos para seis e 12 meses e raramente dizendo qualquer coisa de improviso.
            As primeiras-damas com frequência são figuras que reconfortam o público, mas Michelle não falou publicamente sobre a tragédia de Newtown, exceto por duas cartas breves que publicou, apesar de alguns de seus fãs terem suplicado para que a autodescrita "mãe em chefe" fizesse mais que isso.
            Nas últimas semanas, Michelle Obama e seus fãs vêm discutindo se devem ampliar o trabalho dela para abranger áreas além da obesidade infantil e das famílias militares, discutindo também como capitalizar em cima da popularidade dela.
            Na sexta-feira Michelle mergulhou em cheio no novo esforço de seu marido para organizar seus partidários, apresentando o grupo Organizing for Action num anúncio em vídeo. O esforço ambicioso não parece ter chamado tanta atenção quanto o novo penteado da primeira-dama, que motivou manchetes como "Franja de Michelle Obama é um Choque Total ao Sistema".
            A primeira-dama não poderá esperar demais para embarcar numa trajetória nova: dentro em pouco os Obama terão mais tempo passado na Casa Branca que tempo futuro. Os rituais que eles introduziram deixaram de ser inovações e passaram a ser tradições.
            No Seder (jantar comemorativo da Páscoa judaica) promovido pelos Obama na Casa Branca, o grupinho de presentes, em sua maioria afro-americanos e judeus, lê a lei da Proclamação da Emancipação antes de saudar a chegada do profeta Elias, como no ano anterior.
            O presidente jogou basquete no dia da eleição presidencial de 2012, como fez na maioria dos dias de voto em 2008. Mas desta vez o clima foi diferente: os homens eram mais velhos, a ação era mais lenta. Foi um jogo de reencontro, disse John Rogers Jr., amigo de longa data de Obama que participou da partida. Todos ficaram falando sobre os velhos tempos.
            Em toda sua carreira, Barack Obama sempre procurou chegar à etapa seguinte: se ele pudesse tornar-se advogado, depois funcionário governamental, depois senador, depois presidente, ele poderia criar mudanças reais.
            Mas dentro em breve não haverá cargo mais alto ao qual aspirar, e, dizem assessores, o casal Obama agora manifesta um senso de pragmatismo, contrastando com o senso de possibilidades abertas que permeou a primeira cerimônia de posse. No início de sua Presidência, Obama às vezes passava horas aperfeiçoando seus discursos, como o que ele fez no bicentenário de Abraham Lincoln.
            Hoje, segundo Adam Frankel, ex-redator de discursos presidenciais, o presidente tem uma ideia mais precisa de como fazer uso de seu tempo precioso. Quando Obama saiu do palco na noite da eleição, ele não parou para festejar sua vitória, disse Patrick Gaspard, diretor do Comitê Democrata Nacional --ao invés disso, queria discutir o impacto dos gastos externos sobre as disputas parlamentares daquela noite.
            Mas Obama agora também sabe que ele não é plenamente senhor de seu destino --que a Presidência vai continuar a impor tarefas que ninguém poderia prever. Os Obama previam passar a noite de 16 de dezembro assistindo ao recital "Quebra-Nozes" de sua filha Sasha. Ao invés disso, o presidente se viu fazendo telefonemas de condolências na escola Newtown.
            De acordo com Sarah D'Avino, cuja irmã Rachel morreu defendendo seus alunos, "não existem palavras" para descrever a dor no rosto do presidente quando ele se aproximou das famílias. Obama pediu a cada família que descrevesse o ente querido que morreu, prestando atenção especial às mães de vítimas. Pais enlutados lhe deram fotos de seus filhos para levar com ele à Casa Branca, e Obama lhes disse que as crianças eram lindas e os professores eram heróis.
            Momentos mais tarde, ele estava sorrindo, atendendo a pedidos. Um de seus fotógrafos estava por perto, como sempre, e, apesar de tudo, os parentes de vítimas queriam ser fotografados com o presidente.
            Tradução de CLARA ALLAIN

            Estados limitam aborto nos EUA 40 anos após liberação

            FOLHA DE SÃO PAULO

            Legislativos de maioria republicana aprovam leis para dificultar procedimento
            Decisão do Supremo que descriminalizou o aborto completa hoje quatro décadas, mas país continua dividido
            DE SÃO PAULOQuatro décadas depois da histórica e polêmica decisão da Suprema Corte que descriminalizou o aborto nos EUA, Estados cujos Legislativos são dominados pelo Partido Republicano aprovaram, desde 2010, cerca de 130 leis para restringir o acesso das mulheres a esse procedimento.
            Em 22 de janeiro de 1973, quando julgou o caso conhecido como Roe x Wade (veja quadro nesta página), o Supremo norte-americano decidiu, por 7 votos a 2, que o Estado não pode negar à mulher o direito de decidir sobre a interrupção de sua gravidez.
            A sentença, que desde então dividiu boa parte do país nas facções "pró-vida" (contrária ao aborto) e "pró-escolha" (favorável), permitia aos Estados proibir o aborto só depois que o feto atingisse a "viabilidade" -em decisão posterior, de 1992, essa viabilidade seria fixada por volta da 22ª semana de gestação.
            Embora legalmente não possam vetar o procedimento, Estados em que os republicanos têm maioria na Assembleia (hoje, 28 dos 50 do país) já introduziram várias leis para dificultar ou desestimular o acesso à operação.
            Elas incluem aconselhamento e exames de ultrassom obrigatórios para mulheres que queiram abortar, restrições à cobertura provida por seguradoras e limitações ao funcionamento de clínicas.
            Na Virgínia (sul dos EUA), por exemplo, a Secretaria da Saúde obriga as clínicas a terem o mesmo padrão arquitetônico de hospitais -incluindo corredores de 1,50 m de largura-, e o Texas hoje discute uma norma que impõe realizar todas as operações em centros cirúrgicos ambulatoriais.
            Outros Estados propuseram leis para banir o aborto após a 20ª semana de gravidez, que são contestadas na Justiça por entidades "pró-escolha".
            No Mississippi, também no sul, a única clínica de aborto do Estado ameaça fechar em razão de lei que exige dos médicos que trabalham nela autorização para operar em hospitais locais -a qual os hospitais se recusam a fornecer.
            Em entrevista recente, o governador do Mississippi, o republicano Phil Bryant, afirmou que sua meta é fechar a clínica. "Se eu tivesse o poder de fechá-la legalmente, faria isso amanhã mesmo", disse.
            "Dentro do contexto de Roe x Wade, fomos muito bem-sucedidos em expandir a proteção legal da vida humana. Trabalhamos para tornar essa decisão irrelevante", diz Charmaine Yoest, presidente da entidade antiaborto Americanos Unidos pela Vida.
            DIVISÃO DO PAÍS
            Organizações pró-aborto veem como sinal positivo a derrota, nas eleições de 2012, de candidatos que se disseram contra o procedimento mesmo em casos de estupro.
            Analistas afirmam, porém, que diferentemente de outras iniciativas controversas, como o casamento gay -que tem ganho apoio ao longo dos anos-, o país continua tão dividido a respeito do aborto quanto há quatro décadas.
            "Os gays lutam por algo que eles não têm. No caso dos direitos reprodutivos, a luta é para manter o status quo. Só que as novas gerações não o veem como ameaçado", diz Nancy Keenan, presidente da Naral, uma das maiores entidades "pró-escolha" dos EUA.
            No segundo mandato do democrata Barack Obama, há a possibilidade de que a Suprema Corte seja convocada a decidir sobre o chamado aborto autoinfligido, que é proibido em vários Estados.
            O caso de Jennie McCormack -presa em 2011 em Idaho por abortar sozinha com a ajuda de remédios- é visto por especialistas como um possível novo Roe x Wade.

              Maria Esther Maciel - Noites de insônia‏


              Maria Esther Maciel

              Estado de Minas: 22/01/2013 
              A insone está com a luz do abajur acesa, tentando vencer a noite com um livro. Lê uma dúzia de páginas, mas logo se desconcentra. Olha para o relógio, que marca 4h37. Fecha o volume, vira-se para o lado esquerdo e tenta adormecer. De repente, é assaltada por um turbilhão de pensamentos e se mantém desperta. Minutos depois, abre os olhos, dirigindo-os para o relógio, e vê: já são 5 para as 5h. É, não tem jeito. O melhor, ela pensa, é render-se ao inevitável e tirar algum proveito do silêncio.

              Tem sido sempre assim, há várias semanas: ela acorda por volta das quatro da madrugada e não dorme mais. No início, chegou a tomar remédio para dormir, mas parou porque ficava grogue no outro dia. Recorreu, então, ao chá de erva-cidreira, que tampouco deu certo. Aí resolveu experimentar formas mais produtivas de atravessar as horas, como ler um livro ou acessar o computador. Leu alguns bons livros dessa forma. Já no computador não viu muita graça, pela sensação de estar repetindo, na madrugada, as atividades do dia. Até que, certa noite, ao se entregar aos devaneios, descobriu os poderes criativos da insônia. Passou, a partir daí, a conviver um pouco melhor com ela.

              Entre outras coisas, a insone aprendeu que, em estado de vigília, fica mais fácil encontrar soluções para os problemas do dia, as ideias afloram com mais liberdade, a imaginação aumenta. Uma tarde, chegou a comentar isso com sua amiga Ester, que é insone eventual. Foi quando ganhou dela um livro de Emil Cioran (insone profissional que se tornou filósofo graças às noites sem dormir) com várias frases grifadas a lápis. Entre elas, a seguinte: “A insônia ilumina nossos impasses”. Mais adiante, leu mais esta: “A insônia concede mais saber que os dias consumados no repouso”. Achou interessante. “Se não for verdade, pelo menos vale como consolo”, concluiu.

              Já são 5h58. A insone continua no seu quarto, imersa em pensamentos, como a deixamos no primeiro parágrafo. Pelo menos, conseguiu fazer, de cabeça, a lista dos convidados para a sua festa de aniversário. Encontrou, também, o verso que faltava para terminar um poema iniciado dias antes. Chegou, ainda, à conclusão de que a melhor maneira de lidar com as pessoas que traem a nossa confiança é passar a ignorar a presença delas no mundo. Enquanto o universo ronca e o tempo se move a passos lentos, a insone encontra as respostas que procura. Mesmo assim, a experiência da noite em claro não deixa de ser penosa. Vez por outra, ela olha para os dígitos do relógio e se aflige. Já está quase na hora de todos da casa acordarem. “Quem sabe ainda consigo dormir um pouquinho, até lá pelas 9h?”, ela se inquieta. E, quando menos espera, cai no sono.

              Agora são 8h15 e a insone dorme como um anjo. Mas o telefone toca e ela acorda, assustada. Como ninguém atende, levanta-se e vê que todos ainda dormem. Aí se lembra de que é domingo. Ao pegar o fone e dizer alô, uma voz de homem grita: “Sou eu, mãe, estou na rodoviária, o ônibus acabou de chegar.” Ainda zonza, ela pergunta: “O quê? Quem está falando?”. “É o Toninho, mãe”, a voz responde. A insone, irritada, diz que é engano, e bate o telefone. “Ninguém merece”, cochicha para si mesma, antes de voltar para a cama.

              Francisco Daudt

              folha de são paulo

              Romantismo
              Sexo violento é mais fértil, as mulheres engravidam mais dos amantes "bicho-pega" do que dos maridos acomodados
              O amigo ficou horrorizado quando lhe contei alguns fatos da vida: que os partos se dão como rejeição imunológica ao corpo estranho transplantado para o organismo da mãe, que até se segura equilibrado na corda bamba por 40 semanas, mas ao fim delas o organismo expulsa aquele invasor.
              Que a quantidade de abortos espontâneos é enorme e invisível, pelo mesmo processo. Que ninguém deve chorar pela perda de um feto antes dos seis meses (afora problemas uterinos corrigíveis), pois a natureza está apenas se livrando de um produto defeituoso.
              Que o homem deposita na fêmea de sua espécie três grupos diferentes de espermatozoides, apenas um deles é fecundador. Os outros dois só existem para atrapalhar os gametas de outros homens (que, como a mãe natureza presume, copularam com a fêmea no mesmo período). São os matadores (capazes de detectar espermatozoides alheios, e de destruí-los com suas enzimas) e os obstrutores (que entopem a passagem de outros nos canalículos do colo do útero).
              Que, diferentemente do pensamento do senador republicano Todd Akin ("os casos de gravidez depois de um estupro são muito raros" e "se for um estupro de verdade, o corpo da mulher tenta, por todos os meios, bloquear a gravidez"), a mesma mãe natura considera o estupro apenas como uma das formas de reprodução, bem eficaz, a propósito, já que os índices de gravidez pós-estupro são bem mais elevados do que os do sexo amoroso (na Bósnia-Herzegovina, mulheres de 9 a 50 anos engravidaram dos soldados estupradores).
              Para piorar a situação, o sexo violento é, em geral, mais fértil do que o delicado, por isso as mulheres engravidam mais dos amantes "bicho-pega" do que dos maridos acomodados.
              Que os animais comoventemente monógamos (cisnes, pombos) geram crias bastardas em torno de 20%. Quando começaram os testes de DNA em humanos, surpresa: nos casais mais pobres, o nível de frutos extraconjugais igualava o das aves, caindo à medida que a posição econômica do marido aumentava (mas nunca sumindo).
              Que uma pesquisa americana perguntou às mulheres o que elas prefeririam: ter como marido um fiel e pacato classe média, ou ser a quinta concubina no harém de John Kennedy? Preciso dizer que resposta ganhou com ampla maioria?
              "Mas e o romantismo?", perguntou ele.
              Vamos por partes. Primeiro, ele não foi uma criação cultural dos trovadores do tempo das cruzadas, maridos lutando, mulheres em torres. Nem começou na idealização dos amores impossíveis.
              Com traços mais toscos, ele é produto da seleção natural. Uma forma de reprodução que aposta mais na qualidade, pelo investimento do homem na mulher e suas crias (maior taxa de sobrevivência, melhor alimentação e proteção), do que na quantidade, a estratégia do estuprador.
              Logo, não podemos construir nossa ética com base na natureza.
              O que faz um leão, antes de se acasalar com uma fêmea sem macho, mas com filhotes? Mata-os todos, o que produz instantânea ovulação na fêmea.
              Não é incomum que um homem tenha o mesmo impulso, mas a civilização tem outros tantos fatores a considerar.

                Tereza Cruvinel - O jogo quase feito‏

                "Com a sucessão aberta, os tucanos precisam montar o jogo. E Dilma, com o jogo quase feito, precisa montar o portfolio de realizações que irá apresentar" 

                Tereza Cruvinel
                Estado de Minas: 22/01/2013 
                Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff envergou pela primeira vez a fantasia de candidata à reeleição. Tanto no discurso quanto na indumentária nordestina. Ontem, o PT seguiu abrindo o jogo para a eleição presidencial de 2014. Durante o encontro de intelectuais latino-americanos com o ex-presidente Lula, no instituto que leva seu nome, dois anúncios foram feitos por arqueiros de sua confiança. O primeiro, por Paulo Okamoto: “Nossa candidata para 2014 chama-se Dilma Rousseff”. O ex-ministro Paulo Vanucchi acrescentou depois que Lula não será candidato a presidente nem a governador de São Paulo, duas cogitações recorrentes desde que ele voltou à cena política. 

                Da equipe de Lula vem também a informação de que a prioridade dele, este ano, são as viagens pelo Brasil, embora não devam ter nem o nome nem o formato das antigas caravanas que ele fazia. Tudo combinado, a leitura é simples. Dilma será candidata e cuidará mais e diretamente da campanha, mas Lula estará livre e solto para atuar como grande eleitor, agora sem as limitações do cargo e da liturgia, como em 2010, quando era presidente de dia e cabo eleitoral à noite.

                A coalizão governista largou na frente, enquanto o maior partido de oposição ainda busca agulha e linha para a costura interna em torno do senador tucano Aécio Neves, que, na semana que vem, deve encontrar-se com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e com o ex-governador José Serra. Vai colocar guizos nos gatos paulistas. Alckmin será chamado a sair do muro, deixando o discurso de que é cedo para lançar candidato a presidente. Aécio deve dizer-lhe que, se ele quer ser candidato, terá o apoio de Minas, vale dizer, o dele. Mas que, se vai disputar a reeleição, que se posicione logo. Afinal, Dilma, já tão favorecida por disputar no cargo – receita que o PT herdou dos tucanos com a emenda da reeleição –, já está na estrada. Com Serra, a conversa deve ser mais complicada. Ele não desistiu de disputar a Presidência e não aceita ser excluído apenas porque já perdeu duas vezes. Lula não ganhou na quarta tentativa? Deixa circular os rumores de que poderia deixar o PSDB porque sabe o quanto isso seria letal para a candidatura de Aécio ou de qualquer outro. 

                Outras candidaturas surgirão, talvez a da ex-senadora Marina Silva, talvez a do deputado federal Fernando Gabeira. Só uma, a do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, pode realmente afetar a polarização PT-PSDB. Mas, este ano, ninguém saberá se ele concorrerá ou não contra Dilma.

                Assim, quem tem desafios imediatos são os dois partidos polares. O PSDB precisa montar logo seu jogo. Dilma terá um cabo eleitoral forte e lidera uma grande coalizão, mas precisa montar o portolio de realizações. Por ora, o crescimento econômico foi tímido e as grandes obras físicas em execução são originárias da era Lula. Por isso, o sucesso dos próximos leilões na área de infraestrutura são decisivos para ela. Na política social, embora ela tenha agregado iniciativas como a do Brasil Carinhoso, a marca forte ainda é de Lula. A melhor agenda de Dilma, até agora, é a democrática, na qual se destacam a Comissão da Verdade e a Lei de Acesso à Informação. Uma agenda relevante, mas que não dá votos.

                Realismo

                O deputado Sandro Mabel, um dos três candidatos ao posto de líder do PMDB na Câmara, esteve ontem com o vice-presidente Michel Temer. Disse o mesmo que seu rival Eduardo Cunha: que já tem a maioria dos votos e vencerá a disputa. 

                Veremos depois da apuração, no dia 4, mas um velho cardeal peemedebista traz uma lição de realismo político: deputado não vota em líder que poderá ter dificuldade para liberar suas emendas orçamentárias. Deputados vivem disso, de prestar favores aos eleitores. E quem encaminha o pedido de liberação dos recursos é o líder. Dilma não gosta de Cunha. Logo, Mabel pode estar certo. É uma leitura, embora ela já dito um “nada contra” sobre Cunha na conversa da semana passada com seu vice. Candidata à reeleição, Dilma deve mesmo é seguir a máxima de Nelson Rodrigues, aceitando a política como ela é. Jogará com quem ganhar.

                Tira-prova

                Quem não desconfia de que seu provedor de internet banda larga não entrega o serviço com a velocidade contratada? A Anatel, finalmente, resolveu fiscalizar a qualidade do serviço, implantando medidores nas conexões dos usuários que se oferecerem como voluntários para a pesquisa. Os dados coletados indicarão as medidas a serem tomadas. A participação dos consumidores, portanto, é decisiva para o sucesso da iniciativa. Os voluntários devem se cadastrar emwww.brasilbandalarga.com.br. Vamos lá.

                CUBA » Escola de cinema e TV recebe inscrições‏


                Estado de Minas: 22/01/2013 
                Anote na agenda: estão abertas até 9 de março as inscrições para o curso oferecido pela Escuela Internacional de Cine e TV de Cuba (EicTV). Ela é uma das principais escolas de cinema do mundo e já graduou mais de 1 mil profissionais desde sua fundação, em 1986. O curso, com duração de três anos, começa em setembro.

                No Brasil, as provas serão aplicadas nos dias 15 e 16 de março, em cinco cidades: Belo Horizonte, Recife (PE), Florianópolis (SC), Goiânia (GO) e Belém (PA). 

                O candidato deve ter entre 22 e 29 anos (nascido entre 1983 e 1991) e preencher e enviar por e-mail a ficha de inscrição para eictbrasil@gemail.com, indicando o local onde fará os exames. Cada candidato fará uma prova de conhecimentos gerais e uma específica da especialização que pretende cursar.

                São oferecidas oito especializações: direção, produção, roteiro, fotografia, som, documentário, edição e TV e novas mídias. Não é necessário saber espanhol. As provas e entrevistas são em português e a comissão de seleção é formada por brasileiros. No Brasil, quem responde pela coordenação geral do curso da EicTV é Guigo Pádua.

                O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, subsidia parte do valor da matrícula dos alunos brasileiros, sendo o restante pago pelo estudante. Esse subsídio costuma cobrir integralmente a matrícula do segundo e terceiro anos e parte do primeiro ano do curso.

                Informações e fichas de inscrição em: www.eictvbrasil.blogspot.comwww.eictv.blogspot.com; e no site da Associação Curta Minas/ABD-MG: www.curtaminas.com.br, entre outros endereços eletrônicos.

                Seis erros de peso - Bruna Sensêve‏

                Após analisar relatos de 6 mil pessoas em guerra com a balança, pesquisadores listam atitudes que mais dificultam o emagrecimento. Superestimar efeito dos exercícios e traçar metas inalcançáveis estão entre elas 

                Bruna Sensêve
                Estado de Minas: 22/01/2013 
                Falta de alternativas não é o problema. “Brinco que já fiz dieta de A a Z. Tomei medicamentos, me submeti a uma intervenção cirúrgica, tentei de tudo”, relata Andreia Palazzo, de 38 anos. Ainda assim, há mais de 20 anos a psicóloga se vê em um campo de batalha com altos e baixos. Até perde medidas significativas, mas as recupera rapidamente, voltando ao peso anterior à última dieta. “Desde os meus 15 anos, brigo com a balança. Nessa época, comecei a sentir o aumento de peso. Era pouco, uns 10 quilos acima do normal, mais fácil de perder. Desde então, não parei mais de fazer regime”, conta. “É uma angústia muito ruim. A gente se acha incapaz. Fico me perguntando por que todo mundo dá conta menos eu.”
                A dúvida que domina a mente de Andreia também fez parte dos questionamentos feitos pela equipe de pesquisadores do Registro Nacional de Controle de Peso, nos Estados Unidos. E eles acreditam ter encontrado algumas respostas para ela. O grupo composto por professores de diversas universidades americanas analisou os relatos reunidos durante 15 anos de mais de 6 mil pacientes em luta com a balança sobre comportamento alimentar, atividade física, peso corporal e outros fatores relacionados à saúde física e psicológica, e chegou a uma lista com os principais comportamentos negativos e positivos identificados para a perda de peso. Subestimar aquela única mordida em um sanduíche e verificar o peso semanalmente estão entre os hábitos.
                A nutricionista Isadora Fadul, do Centro Terapêutico Máximo Ravenna, com clínicas em São Paulo, Salvador e Brasília, alerta para o que chama de efeito de compensação, que também faz parte da lista. A dieta é realizada durante a semana, mas no sábado e no domingo não existe qualquer censura à mesa. O mesmo pensamento serve para a atividade física. “A pessoa malha para poder comer. Durante a semana, faz atividade física intensa e depois come em uma lanchonete fast food. Quando a gente fala em um paciente com sobrepeso ou obesidade, percebemos esse efeito de compensação. é por isso que ele não consegue uma mudança significativa e duradoura”, observa.
                Dos participantes da pesquisa americana, 91% haviam se engajado em diferentes tentativas de perda de peso, alcançando um emagrecimento total de 122 quilos em 15 anos. As tentativas normalmente foram seguidas de recuperação de massa. Os participantes que conseguiram se manter mais magros, ao comparar a tentativa final e bem-sucedida com as anteriores, relataram ter maiores razões sociais, de saúde ou ambas para perder peso definitivamente.
                “Um maior compromisso de fazer mudanças de comportamento e o uso de abordagens mais intensivas também é comum durante a tentativa bem-sucedida. Esses achados sugerem que as pessoas fazem várias tentativas de perda de peso e frequentemente experimentam a recuperação dele antes de conseguir a manutenção a longo prazo de um emagrecimento substancial”, avalia John Thomas, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Brown.
                Ele  acredita que o dado pode servir de conforto para os indivíduos que lutam com a manutenção de peso, já que um histórico de tentativas anteriores não parece impedir o sucesso a longo prazo.
                Traumas Filha de Andreia, Amabilys Palazzo, de 17 anos, recebe acompanhamento profissional há cinco anos, desde que começou a ter um aumento de peso significativo: cerca de 10 quilos a cada ano. Hoje, ela sofre de síndrome metabólica. A doença é diagnosticada quando o paciente tem pelo menos três de cinco fatores graves de saúde: circunferência abdominal acima de 88cm para mulheres e 102cm para homens, pressão arterial elevada, nível de glicose no sangue acima do considerado normal, alto índice de triglicerídeos, e HDL, o colesterol bom, abaixo de 45 mg/dl. O diagnóstico da doença faz parte da decisão atual de emagrecer. Somente no último mês, a jovem conseguiu diminuir sete quilos.
                Momentos traumáticos de consciência do próprio peso permeiam grande parte da tomada de decisão de emagrecer. Cerca de 77% dos participantes da pesquisa americana foram capazes de identificar um evento que engatilhou a perda de peso bem-sucedida. Grande parte deles está relacionada a condições médicas ligadas ao sobrepeso, como diabetes, apneia do sono, cansaço e dores nas articulações. Uma porção menor declarou ter passado por uma situação de estresse emocional, como ser provocado por outras pessoas por estar fora do peso. Segundo Andreia, o momento mais traumático dessa angustiante rotina foi cruzar a fronteira dos três dígitos na balança. “Foi uma passagem terrível e ocorreu logo depois da minha segunda gestação. Ganhei muito peso durante a amamentação”, lamenta. Andreia e a filha contam com a ajuda de especialistas para perder peso.

                Ações para o fracasso
                1.Subestimar a quantidade de calorias consumidas. Escrever tudo o que é consumido, incluindo bebidas, mordidas e provas de comida, pode evitar esse erro. Preste atenção nas porções e use copos de medição.

                2.Valorizar excessivamente a atividade física e as calorias queimadas. O exercício não é uma desculpa para comer mais. Uma meta viável seria tentar aumentar as atividade físicas ao longo do dia para fazer mudanças na alimentação.

                3.Dar folga à dieta. Não adianta ter uma alimentação equilibrada durante a semana e exagerar no sábado e no domingo. Isso cria um ciclo prejudicial, que desencoraja a perda de peso.

                4.Dormir inadequadamente. Estudos têm mostrado que as pessoas que dormem menos de seis horas têm níveis mais altos de grelina, hormônio que estimula o apetite, especialmente por alimentos de alto teor calórico e de carboidratos.

                5.Traçar metas irrealistas. As pessoas muitas vezes definem objetivos vagos e relacionados com resultados pontuais, como alcançar determinado peso até o verão. Na verdade, os objetivos devem ser específicos e atingíveis. Comece por tentar perder 10% do peso corporal.

                6.Reagir mal aos contratempos. Ao aprender a dirigir, a praticar um esporte ou a tocar um instrumento musical, é normal que você cometa erros. Por isso existe um instrutor para orientá-lo. As recaídas da dieta podem ter o efeito minimizado se forem divididas com um amigo ou acompanhadas por um profissional especializado.

                Hábitos para o sucesso
                1. Comprometa-se a fazer uma hora de atividade física moderada por dia. A prática não precisa ser consecutiva. Faça três caminhadas rápidas de 20 minutos ou some uma série de atividades, como subir as escadas e limpar a casa, que cheguem aos 60 minutos.

                2.Assista a menos de 10 horas de televisão por semana. Muitos argumentam que não têm tempo para fazer exercício, mas se contarem as horas que passam em frente à televisão ou na internet, vão ver que há disponibilidade para as atividades físicas.

                3.Mantenha uma dieta consistente. Procure comer os mesmos alimentos regularmente e não exagere no consumo de alimentos altamente calóricos nos fins de semana, nos feriados ou em ocasiões especiais.

                4.Não pule o café da manhã. Alimentar-se até uma hora após despertar pode impulsionar o metabolismo em até 20% no resto do dia. O ideal é tentar incorporar à primeira refeição proteína, que é um combustível mais duradouro.

                5.Mantenha o controle da alimentação durante todo o dia. Evite comer exageradamente em resposta a estímulos emocionais ou externos, como a pressão no trabalho ou a disponibilidade de comidas altamente saborosas.

                6.Pese-se uma vez por semana. A detecção precoce de qualquer recuperação do peso permite ajustar o comportamento de acordo com o pequeno ganho reconhecido. 

                Respeito à fome 
                A dificuldade em perder peso, segundo o nutrólogo José Ernesto dos Santos, está vinculada também à inabilidade do homem de distinguir dois sentimentos li-gados ao equilíbrio nutricional: a fome e a saciedade. O especialista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo afirma que é preciso entender que a fome é algo fisiológico, e saciedade, algo natural. “Estamos desacostumados a sentir fome porque comemos simplesmente porque está na hora de comer. Quem vai a um rodízio, vai para dar prejuízo. Ninguém tem fome de 24 pedaços de pizza”, argumenta. Santos recorre a hábitos rotineiros para exemplificar o descaso com a saciedade. “Comemos no cinema, vendo televisão e sem perceber que é o suficiente.”
                A nutricionista Isadora Fadul destaca ainda que deve haver uma preocupação em adequar o alimento ao horário em que ele é ingerido. Caso contrário, alerta, a pessoa corre o risco de cair na armadilha das compensações noturnas. “Ela pensa que como não comeu nada durante o dia e não tomou café da manhã pode compensar e comer bastante no jantar. Exatamente na hora em que devemos comer menos. O organismo se prepara para descansar, e em vez disso está tentando digerir uma quantidade enorme de comida.”
                A endocrinologista Rosana Radominski, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, ressalta que esse comportamento é conhecido como anorexia noturna. “A pessoa não tem fome de dia, mas come muito à noite. Isso pode ser mudado. Se ela conseguir comer menos à noite, vai sentir fome pela manhã, com certeza”, ensina.
                Uma alimentação menos reforçada à noite melhora outra importante questão para o emagrecimento: o sono. Segundo Radominski, ainda não se sabe exatamente qual é o papel biológico da ausência das longas horas de sono no organismo, mas uma associação desse comportamento com a obesidade já é conhecida. Estudos mostram que poucas horas de sono aumentam os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que pode levar ao ganho de peso. Ao mesmo tempo, pessoas que passam menos de seis horas dormindo têm níveis mais altos de grelina, um hormônio que estimula o apetite, principalmente por alimentos de alto teor calórico e por carboidratos. (BS)