quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Tv Paga

Estado de Minas: 17/10/2013 

 (Discovery/Divulgação)

Histórias de pescador


Tem hora que Jeremy Wade (foto)parece um medroso de marca maior. Mas convenhamos que o cara já passou uns perrengues brabos. Biólogo e pescador radical, ele apresenta o programa Monstros do rio, no Discovery Channel, que abre hoje, às 21h40, sua quinta temporada. E começa pela Nicarágua, no coração da América Central, onde Wade tenta pegar um peixe-elétrico assassino do tamanho de um homem. História de pescador? Sim, mas ele documenta tudo com as câmeras, embora nem sempre consiga achar o peixe que procura. Mas isso faz parte…

Carro blindado vira uma
sala de jogos sobre rodas


Novidade também no Discovery Turbo, que estreia, às 21h, a série Por dentro da West Coast Customs. Para Ryan Friedlinghaus, fundador da oficina, nada é impossível. Ele e sua equipe são chamados sempre para atender  celebridades e milionários, transformando, por exemplo, um carro blindado em uma luxuosa sala de jogos, um motor home em uma sala VIP para profissionais de snowboard e um GMC Denali em uma plataforma multimidia móvel equipada com a última tecnologia em computação. A imaginação é o limite.

Cozinha do GNT aposta na
diversidade gastronômica


No canal GNT, a quinta-feira é de dar água na boca, começando com Tempero de família com Rodrigo Hilbert, às 20h, hoje com um prato com língua. Às 29h30, Olivier Anquier comanda a competição Cozinheiros em ação, com os participantes encarando hoje o desafio de preparar pratos com peixe e frutos do mar. E às 21h30 tem o Que marravilha!, com o chef Claude Troisgros.

Rogério Sganzerla dá sua
versão do mito Noel Rosa


O canal Arte 1 exibe hoje, às 21h30, o filme Isto é Noel Rosa, de Rogério Sganzerla. No mesmo horário, o cantor, compositor e instrumentista pernambucano Siba é o convidado de Paulinho Moska no programa Zoombido, no Canal Brasil. Na Cultura, às 23h30, Fernando Faro recebe a cantora Cristina Buarque no programa Ensaio, gravado no Teatro Fecap, em São Paulo.

Série do SescTV convida
para a festa da vaquejada


No SescTV, às 21h30, a série Coleções desenvolve o tema “Autos populares”, hoje falando da vaquejada, uma cultura tipicamente nordestina, e a competição realizada anualmente no Parque Doutor Geraldo Estrela, em Petrolina (PE). Vaqueiros amadores e profissionais, locutor e organizadores da festa contam suas experiências.

Documentário da Cultura
traça o perfil de Visconti


A Cultura exibe hoje, às 22h, o documentário Luchino Visconti: a vida como um romance, sobre um dos grandes diretores do cinema italiano. E se o assunto é cinema, o assinante tem mais seis boas opções na mesma faixa das 22h: Netto e o domador de cavalos, no Canal Brasil; Julie & Julia, no Sony Spin; Quero ser John Malkovich, no TCM; Valente, no Telecine Premium; Hotel Transilvânia, na HBO; e Sobrenatural, na HBO 2. Outras atrações da programação: Shakespeare apaixonado, às 20h, no Universal Channel; Sin City – A cidade do pecado, às 22h30, no Megapix; O grande truque, às 22h30, na TNT; e Eu, minha mulher e minhas cópias, às 23h, no Comedy Central.

Marina Colasanti-Esse João que é Pedro‏

Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com


Estado de Minas: 17/10/2013 





Em Frankfurt, em uma serena rua residencial não longe da Feira do Livro, há uma casa coberta de hera. Não hera como a nossa, de folhas pequenas como confete, mas hera de folhas triangulares, pontiagudas e erguidas como orelhas de gato, que estremecem ao vento e que, neste começo de outono, se fazem vermelhas. Essa casa viva é o Struwwelpeter Museum, ou Museu João Felpudo, onde fui contar histórias e me encontrar com crianças alemãs.

Pergunto-me quanto as crianças brasileiras conhecem esse herói descabelado que, tendo nascido e se tornado famoso no mundo inteiro em meados do século 19, só chegou aqui em 1942, na tradução de Guilherme de Almeida, transformado de Peter em João. Em Frankfurt, é um ícone da cidade.

Seu criador, o psiquiatra Heinrich Hoffmann, responsável pelo manicômio da cidade, jamais imaginaria tanto sucesso quando, não encontrando nenhum livro infantil de seu gosto para dar de presente ao filho de 3 anos, decidiu ele mesmo fazer um, a partir de um caderno em branco. Escreveu poemas satíricos, fez ilustrações coloridas. Na última página, que havia sobrado, desenhou João com sua imensa cabeleira, suas longuíssimas unhas. E as crianças se apaixonaram por ele, levando o autor a transferi-lo para a capa na terceira edição.

As crianças que estavam agora à minha frente, sentadas no chão para ouvir histórias, bonitas como são bonitas as crianças, eram muito diferentes daquelas que receberam o herói felpudo, e eram as mesmas. Diferentes, porque havia ali meninos e meninas de todas as raças, sua origem inscrita no rosto, nos olhos amendoados ou na pele escura, na boca carnuda ou nos cabelos cor de trigo. Iguais, porque como as de séculos anteriores estavam abertas à imaginação, prontas para acolher a emoção de coisas nunca acontecidas.

Eu as olhava, tão atentas, tão quietas, e dizia para mim mesma que essa atenção, essa capacidade de concentração estabelecida desde cedo, resultará adiante na ordem da cidade, no bom acabamento dos produtos, na limpeza e, certamente, em um tanto de intransigência. E que foi para isso, para que fossem assim, e assim fossem educadas, que os pais saíram de seus países, deixaram para trás seus afetos, seu modo de viver, seu clima, e foram encapotar-se e trabalhar na Alemanha.

Nas paredes vermelhas, uma belíssima exposição das ilustrações de Roger Mello nos rodeava – sim, ocupamos todos os espaços em Frankfurt para mostrar nossa cultura –, havia música, a contadora Michaele Scherenberg narrava. E elas ali, ouvindo, juntas como uma ninhada, a menina oriental fazendo e desfazendo a trança no cabelo louro da amiga, três meninos abraçados, a cabeça de um no ombro do outro, cada um deles vestindo suéter de uma cor, vermelho, amarelo, azul, podendo dar origem a todo o arco-íris.

Depois respondi suas perguntas e surpreendeu-me que fossem tão diferentes das perguntas, sempre as mesmas, que estou acostumada a responder nas escolas. Perguntavam movidos pela curiosidade e pelo interesse, rebatendo minhas respostas, sem que nada no nosso encontro fosse dever, embora tivessem vindo com a escola e lido meus contos antes.

Hoffmann, que escreveu seu livro por achar que aqueles disponíveis eram demasiado “educativos”, certamente sorria em algum canto secreto da casa.

TEREZA CRUVINEL » A preferida

Lula e o PT não gostaram das farpas que Dilma lançou contra Marina, elegendo-a como adversária preferida na certeza de que seria mais fácil derrotá-la no segundo turno 


Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 17/10/2013


Não é preciso ser raposa: até uma inofensiva pulga política compreende que, lançando farpas contra Marina Silva, chamando-a para a briga, colocando-a em evidência, a presidente Dilma Rousseff externa a preferência pela ex-petista como adversária em 2014, na certeza de que seria mais fácil derrotá-la no segundo turno. O senador e vice-líder tucano Cássio Cunha Lima arrisca dizer que Dilma só ganharia de Marina perdendo tanto para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) quanto para o governador Eduardo Campos (PSB). Desconte-se, pela condição de candidato, a afirmação de Aécio, feita ontem após reunião com a bancada tucana, de que Dilma perderá para qualquer adversário no segundo turno, pois 60% dos brasileiros seriam contra sua reeleição, dedução que faz a partir dos 42% de preferência que ela teria hoje, segundo o Datafolha. A disputa eleitoral, entretanto, não será uma operação artitmética.
Enquanto se deliciava com o sorvete de bacuri oferecido a todos, no café dos senadores, pelo líder petista Wellington Dias, pela passagem da data cívica do Piauí, o senador Rodrigo Rollemberg, um dos arqueiros de Campos no Congresso, ouvia as advertências do colega tucano Cunha Lima: “Diga ao Eduardo para se acautelar. Dilma quer a Marina como adversária, pois seria fácil derrotá-la no segundo turno. E, para fazer Marina candidata, PT e governo farão o diabo contra Eduardo, para tirá-lo do páreo. Da canelada à degola, ele está sujeito a tudo”. “Chegarão a tanto?”, desconversou Rollemberg.

No PT, muita gente não gostou das farpas, embora evitando verbalizar tal censura a Dilma. O ex-presidente Lula também não teria gostado. Nesse grupo, há quem diga que Dilma foi apenas impulsiva ou tinhosa com as duas estocadas que teriam Marina como alvo: quando disse que todos podem postular a Presidência, mas que precisam estudar os problemas do país, e quando respondeu diretamente às críticas de Marina, de que seu governo estaria “extrapolando o teto da meta” da inflação (6%), o que é sabidamente incorreto, pois o índice está acima é do centro da meta (4,5%). Marina acusou Dilma também de colocar em risco o tripé tucano-petista na economia, composto por inflação controlada, câmbio flutuante e superávit fiscal rigoroso. Dilma rebateu ponto por ponto. Hoje, ainda com Marina na cabeça, a petista lança um importante programa de agricultura ambiental.

Nas proximidades de Lula, garante-se que Dilma não foi aconselhada a “farpear”. Pelo contrário, ali se ouve que, por ora, ela devia evitar referências aos adversários, seguindo o que disse Lula ao Estado de Minas, na entrevista do dia 30 passado: “O PT não escolhe adversários. Deve estar preparado para enfrentar e ganhar de qualquer um”.

Mas é incontroverso que seria mais fácil, para Dilma, derrotar Marina no segundo turno, por uma série de razões bastante conhecidas. “Pela baixa institucionalidade dela”, diz Cunha Lima. Traduzindo isso do politiquês para a vida real: porque Marina não tem sequer um partido para lhe dar sustentação parlamentar, não teria uma coalizão de apoio, já que considera todos os partidos carcomidos (agora reabilitou o PSB, ao ingressar nele), porque enfrentaria resistências do capital e, sobretudo, a insegurança do eleitorado num segundo turno, na hora de escolher entre quem está de fato governando, goste-se dela ou não, e quem se propõe a governar em bases tão idealistas. 

Quando Marina diz que Dilma está sendo chantageada pelo Congresso e que é possível montar coalizões baseadas só em programas, sem lotear o governo, de duas uma: ou ela não sabe do que está falando, ou conhece a realidade, mas prefere verbalizar o sonho. No sistema que temos hoje, não se governa sem coalizões, com base apenas em fundamentos políticos e morais.
Cunha Lima compara Marina ao Lula de 1989. “Collor perderia de Covas, de Brizola e até de Maluf no segundo turno. Só ganharia de Lula. Por isso os que torciam por ele tudo fizeram para que o candidato do PT chegasse lá. Chegou, foi massacrado e perdeu, como previsto.”

Mas, ainda que Dilma queira, que os marinistas insistam, que os institutos continuem pesquisando as intenções de votos em Marina e que elas superem as de Eduardo, os caciques do PSB garantem que será ele o candidato. Apostam agora no aumento da migração dos votos de Marina para Campos, a ser confirmado por novas pesquisas.

Faltando ele

O PSC tem feito pesquisas, com institutos menores, sobre o potencial eleitoral de seu candidato a presidente, Pastor Everaldo. Os resultados são mantidos a sete chaves, com o argumento de que ele prefere crescer em silêncio. É óbvia, porém, a dedução de que ele não pode ter mais de 1% dos votos, considerados os resultados dos grandes institutos, que não incluem seu nome na cartela, devendo habitar a faixa dos “nanicos”, em que o marqueteiro de Dilma, João Santana, tentou jogar todos os postulantes. Mesmo assim, numa eleição apertada, até 0,5% dos votos faz muita diferença, podendo forçar o segundo turno. Na hora certa, o PSC pode valer-se dos índices de Everaldo para negociar com algum dos três candidatos sólidos.


Salada sonhática

A excitação com os rumos da sucessão continua alta nas rodas políticas. Os dilmistas achando que agora ela pode até ganhar no primeiro turno, os da oposição fazendo contas sobre o melhor caminho para destronar o PT. Numa delas, alguém até sugeriu ontem a chapa da oposição que seria imbatível. Eduardo disputaria a Presidência, tendo o governador tucano de Minas, Antonio Anastasia, como vice. Para não perder Minas para o PT, onde o ministro Fernando Pimentel lidera, Aécio disputaria o governo do estado. Seria consagrado. Marina disputaria o Senado pelo Acre e Serra o Senado por São Paulo, para ser ministro da Fazenda

MOSTRA » Mestre do documentário‏

Estado de Minas: 17/10/2013 



Eduardo Coutinho completa 80 anos e ganha livro e retrospectiva em São Paulo (Walter Craveiro/Flip Divulgação)
Eduardo Coutinho completa 80 anos e ganha livro e retrospectiva em São Paulo

A 37ª Mostra Internacional de Cinema, que será promovida de sexta-feira até o dia 31, em São Paulo, fará homenagem Eduardo Coutinho, o mestre do documentário brasileiro, que completa 80 anos. Além de mostra retrospectiva com filmes do cineasta, haverá o lançamento de livro fruto de parceria das Edições Sesc e Cosac Naify. O livro reúne textos em que Coutinho opinou sobre cinema – o seu e o de outros. São dois textos sobre documentário; 40 críticas cinematográficas, escritas para o Jornal do Brasil entre 1973 e 1974, inéditas em livro; e dois textos memorialísticos. Traz, também, depoimentos do cineasta – 10 entrevistas longas cobrindo um arco de tempo que vai de 1976 a 2012 – e de quem conviveu com ele em filmagens, revelando a figura humana e seu processo de trabalho. Na parte final, 27 críticos de várias gerações dissecam seus principais filmes, em um conjunto de textos antológicos e outro de inéditos, especialmente escritos para esse livro. Completam a obra uma cronologia com imagens de arquivo e uma filmografia detalhada.

Coutinho começou sua carreira como roteirista em meio ao Cinema Novo, época em que dirigiu seus únicos longas ficcionais, como O homem que comprou o mundo (1968) e Faustão (1971). No anos 1970 passou a trabalhar no Globo repórter, onde realizou seus primeiros documentários, entre os quais Seis dias de Ouricuri (1976) e Theodorico, o imperador do sertão (1978). A partir dos anos 1980, com Cabra marcado para morrer (1984), sua carreira como documentarista se solidificou. Ele realizou filmes como Santo forte (1999), Edifício Master (2002) e Jogo de cena (2007), obras essenciais da cinematografia brasileira. Os filmes citados estão entre os 20 selecionados pelo próprio Coutinho para a sua retrospectiva, que contém obras raras como o curta-metragem Porrada (2000).

Durante duas semanas, serão exibidos na Mostra Internacional de Cinema cerca de 350 títulos de variados países e diversas cinematografias em mais de 20 espaços, entre cinemas, espaços culturais e museus espalhados pela capital paulista. A seleção deste ano faz apanhado do que o cinema contemporâneo mundial está produzindo, além das principais tendências, temáticas, narrativas e estéticas produzidas em todo o mundo. São cinco seções: Competição novos diretores – que exibe títulos de diretores que tenham realizado até dois longas (os mais bem votados pelo público serão vistos pelo júri internacional, que escolhe posteriormente os que vão receber o Troféu Bandeira Paulista); Perspectiva internacional – que apresenta panorama do recente cinema mundial; Retrospectivas – seção com obras de diretores importantes ou mesmo desconhecidos; Apresentações especiais – exibição de clássicos ou de filmes de diretores que estão sendo homenageados pela mostra; Mostra Brasil – títulos brasileiros inéditos em São Paulo.

À sombra da história‏

No Brasil, a política é míope em relação à atualidade mundial


Antonio Carlos de Albuquerque

Professor, economista, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais

Estado de Minas: 17/10/2013 



A Revolução de 30, extinguindo a política do café com leite, revela outro lado, que entende aquele ano como o da construção do pensamento autoritário no Brasil e o futuro na perspectiva dos vencedores. O estado de São Paulo se levantou em 9 de julho de 1932, buscando, no apoio das elites mineira e gaúcha, as condições para derrubar Getúlio Vargas do poder, mas em três meses o estado paulista foi derrotado. No período, o governador de Minas era Benedito Valadares. As memórias de Valadares (1892 — 1973), em Tempos idos e vividos, apontam significativas transformações (1932 — 1945) para a análise dos destinos políticos do Brasil. No último capítulo, o memorialista escreveu: “No Planalto Central, sem o canto amenizador dos pássaros, ouvindo o vento uivante, fecho as janelas e repito com o poeta: o resto é silêncio.” Que experiência o mineiro Valadares acumulou que não valeria a pena explicitá-la? Trata-se de uma interrogação a ser ainda decifrada. A partir de 1990, o empresariado nacional verificou que houve o surgimento de novo paradigma na produção econômica, denominado pós-fordista. Essa reestruturação do capital buscando inovações organizacionais e tecnológicas se deu num processo de aumento da competição empresarial voltado para um mercado cada vez mais segmentado, gerando dilemas sérios na sociedade do trabalho. A elite política não compreendeu essa mudança. Foi míope e desinteressada. Dá-nos a entender que o país nunca experimentou os sentimentos de decadência como os outros.

No plano político, houve uma metamorfose nas ideologias conservadoras acreditando-se em força demiúrgica de visão paradoxal: modernização conservadora e desenvolvimentista. Ao que se vem assistindo na realidade brasileira nos últimos 10 anos — as materialidades são visíveis — não é o aparecimento de liderança política estruturada com base em um projeto novo de reformas. O que salta aos olhos é a manutenção de um processo de hostilidade permanente sobre a ideologia de modernização e a democracia.

 Paralelamente, a degradação da virtude republicana. Para a busca da verdade os detentores do poder se valem do que podemos denominar de loucura metódica. Ela acaba no maquiavelismo puro no qual os fins justificam os meios. Vai-se estabelecendo um tipo de burocracia pós-stalinista mantendo seus privilégios, enquanto a nação enfrenta todo tipo de obstáculos. Nesse ponto reside a dúvida para o reconhecimento com clareza de quem são os vencedores ou os vencidos nos últimos acontecimentos de mobilização da população nas cidades brasileiras.

De forma soberana, no contexto de paz ou de crise, a decisão do aprofundamento da realidade pertence ao Estado como unidade essencialmente política e deve fazê-lo para bem de todos. Mas não o fez, pois a articulação é desagregada dos objetivos nacionais e dos direitos individuais fundamentais estabelecidos na Constituição federal. O que Valadares teria nos escondido quando escreveu: “o resto é silêncio”? Não se concebe começar o Brasil do zero. Mas como suportar a destruição de todas as esperanças não realizando inclusive o que é possível? Haverá que se seguir na luta, sem o que não se resguardará a certeza da construção da democracia política, social e econômica. Nunca esteve tão apropriado o aforismo: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Descoberta proteína que barra a evolução da Aids‏

Descoberta proteína que barra a evolução da Aids Composto é comum em indivíduos que, mesmo infectados pelo HIV e sem receber antiretrovirais, não apresentam os sintomas 

Isabela de Oliveira

Estado de Minas: 17/10/2013

Na década de 1980, pouco depois da descoberta do vírus da imunodeficiência humana (HIV) como o causador da Aids, foi identificado um pequeno grupo de pacientes em que a infecção não progredia. Mesmo depois de anos sem tomar os antirretrovirais, essas pessoas não apresentavam os sintomas da doença. Esse é um dos maiores mistérios que intriga os cientistas até hoje. Afinal, o que faz o sistema imunológico desses indivíduos – um a cada 300 infectados – ser tão diferente? A resposta, segundo pesquisadores da Northwestern University, nos Estados Unidos, pode estar em uma proteína que desempenha um papel importante na imunidade inata. 


Trata-se da Apobec3G (A3G), produzida nos linfócitos e integrante da família de enzimas responsáveis por corrigir o DNA e o RNA. Essa proteína exerce naturalmente atividade imunológica antirretroviral contra os retrovírus, especialmente o HIV, determinando o controle da replicação deles. Quando o HIV infecta um linfócito, as moléculas de A3G atacam os vírus em formação. Em um processo ainda não totalmente esclarecido, elas entram no invólucro viral e expulsam o vírus da célula. Quando novos vírus se ligam a outras células para infectá-las, acabam levando com eles a A3G. 


Em sua evolução, porém, o HIV adquiriu uma proteína, chamada VIF (virion infectivity factor), que potencializa o pontecial de infecção do vírus e neutraliza a A3G, degradando-a. Indivíduos que têm maiores quantidades de A3G conseguem, portanto, resistir ao HIV por mais tempo sem ajuda de medicamentos. “Mesmo na ausência de antirretrovirais, a imunodeficiência não progride durante períodos prolongados em alguns sujeitos com HIV que tê os alelos HLA B57 e ou B27 (partes de um gene ligado à produção da A3G). Eles têm menos provírus de HIV do que aqueles que não são controladores”, explica Richard D’Aquila, coautor do estudo (veja infográfico), publicado na edição de ontem da revista Plos One.


Kepler de Almeida, professor assistente na Universidade de Miami, explica que indivíduos com esses alelos podem produzir mais A3G, mas nem todos. “Não sabemos ainda por que alguns produzem essa proteína em maior quantidade. Há outras características relacionadas aos controladores e que estão ligadas à forma como as células CD8 (de defesa) lidam com o vírus. Elas produzem alguma substância que ainda não foi identificada. Quando as células dessas pessoas são misturadas, em especial as de alelo B57, que é mais raro, percebemos que eles não se multiplicam”, conta o também médico em dois hospitais em Brasília (DF). 


No experimento com amostras de indivíduos controladores e não controladores, os cientistas perceberam que quanto maior a quantidade de A3G, menor a infecciosidade dos vírus dotados de VIF. “A hipótese de que o controle do HIV está associado a essa proteína pode ser explicada pelo fato de que, quanto mais o indivíduo tem A3G, mais ela é empacotada nos vírus e menos provírus ativos com VIF são liberados”, explica D’Aquila.

Muitas dúvidas Ésper Kallas, coordenador do Comitê de Retroviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que, embora os estudos avancem em direção a uma maior compreensão do organismo dos controladores de elite, inclusive com pesquisas direcionadas para medicamentos que inibam a VIF, deixando que a A3G funcione livremente, ainda há muitas dúvidas. 


“Os pesquisadores mostraram que essa proteína do sistema imunológico é mais eficiente nos controladores, mas ainda não sabemos se isso é causa ou consequência dessa capacidade de controlar o vírus. É sempre uma dúvida: por haver menos vírus nessas pessoas existe mais ação da A3G, ou é essa proteína que funciona melhor nesses indivíduos?”, questiona Kallas, que é professor associado da Universidade de São Paulo. 


Os resultados sugerem que a parte extra de A3G produzida pelos controladores escapou da degradação causada pelo VIF. As células extras entraram nos vírus, que notavelmente tiveram a virulência diminuída.
“Mais estudos precisam ser feitos para entender o organismo dos controladores. Mas uma das explicações pode ser a maior atividade antiviral da A3G. Vimos que menos cópias do vírus surgiram das células com maior quantidade dessa proteína. Compreender esses mecanismos pode ajudar a desenvolver uma vacina ou uma estratégia para a cura funcional do HIV”, acredita o pesquisador.

Três perguntas para...


Rosa dea Sperhache, coordenadora do Laboratório de Pesquisa em HIV/Aids da Universidade de Caxias do Sul

Por que algumas pessoas têm características físicas que enfraquecem ou imunizam o HIV?

Sabe-se que uma vez estabelecida a infecção crônica pelo HIV, o curso de progressão da doença pode ser influenciado por fatores genéticos e imunológicos do hospedeiro, além de fatores virológicos. Até o presente, ainda não foi reportado nenhum curso espontâneo, conduzido imunologicamente, que claramente identifique o curso da infecção. Por outro lado, um pequeno percentual de indivíduos infectados apresenta a doença estável, na qual não se dá o declínio da contagem de CD4+ e existe um controle da replicação do vírus mesmo na ausência da terapia antirretroviral, denominados como controladores da viremia. Além disso, um percentual ainda menor, menos de 1%, de indivíduos infectados apresentam níveis indetectáveis do vírus.

Qual o diferencial desses indivíduos?

Os controladores apresentaram diminuição dos níveis do provírus HIV-1 (tipo mais comum de HIV) em comparação com as células analisadas dos pacientes que não são controladores e que têm a viremia controlada. Outros resultados do presente estudo indicam que as células T de memória com níveis elevados da proteína A3G foram significativamente mais propensas a abrigar menor quantidade do provírus HIV-1 in vivo, e que os viriões (forma infectiva do vírus) contendo maiores níveis de A3G apresentaram menor infecciosidade.

O que isso significa?
Os resultados encontrados sugerem, entre outras, a hipótese de que o aumento da proteína A3G diminui o reservatório de provírus latente, sendo esse um dos possíveis e importantes mecanismos para a manutenção do controle do HIV. Esse estudo também destaca a possibilidade de identificar novas moléculas que possam aumentar especificamente os níveis celulares ou a atividade da A3G e, assim, auxiliar estudos que visem estabelecer outros mecanismos de controle viral. Uma vez que seja possível identificar esses fatores que influenciam no curso clínico da infecção, diversas estratégias podem ser utilizadas para esclarecer alguns mecanismos na resposta imune frente à infecção pelo HIV, permitindo também novas abordagens terapêuticas no desenvolvimento de fármacos e vacinas.

EM CHIMPANZÉS » Bocejo demonstra a formação de empatia

Estado de Minas: 17/10/2013 

Apenas os animais com mais de 5 anos foram contagiados pelo bocejo (Madsen EA/Divulgação )


O bocejo pode ser sinal de empatia: diversos estudos indicam que, quando um indivíduo se identifica com outro, ele é contagiado pelo ato de abrir a boca e fazer o “ahhhh” característico. Segundo uma pesquisa publicada na edição de ontem da revista Plos One, realizada em um santuário de chimpanzés, à medida que esses animais crescem, aumenta também o potencial de contágio, uma indicação de que a juventude, pelo menos entre os primatas não humanos, é um período de intensificação da empatia.

Os cientistas, liderados por Elainie Madsen, da Universidade de Lund, examinaram se a idade e a proximidade emotiva influenciam a suscetibilidade dos chimpanzés ao bocejo contagiante. Trinta e três primatas órfãos, sendo 12 na infância (1 a 4 anos) e 21 na juventude (5 a 8 anos), foram incluídos na investigação. O teste era constituído de uma sequência de sete sessões com cinco minutos cada uma, em que um humano conhecido e um não familiar aos chimpanzés bocejavam ou coçavam o nariz repetidas vezes.

Descobriu-se que o bocejo, mas não a coceira do nariz, era contagiante para chimpanzés jovens. Já os menores não repetiram nenhuma das duas ações. A proximidade da pessoa que bocejava não influenciou o resultado. De acordo com os cientistas, esse é um indicativo de que a empatia vai sendo construída com o tempo. “Os resultados refletem um padrão de desenvolvimento geral, compartilhado por humanos e outros animais. Dado que o bocejo contagiante pode ser uma resposta de empatia, podemos inferir que esse sentimento se desenvolve devagar ao longo dos primeiros anos de vida”, diz Madsen. 

Do ponto de vista evolutivo, a ciência acredita que o bocejo contagiante pode ser um gesto inconsciente para demonstrar identificação. “É como se um indivíduo dissesse ao outro: ‘Ei, eu sou como você e gosto de você, por isso, vou reproduzir seu gesto”, diz Inge-Marie Eigsti, chefe do Laboratório de Psicologia da Universidade de Connecticut. Como, além de seres humanos, outros grandes primatas também mostram essa habilidade, Eigsti, que não participou da pesquisa sugere que a característica seja resultado da evolução.

Cérebro de 520 milhões de anos‏

Pesquisadores descobrem o mais antigo sistema nervoso já identificado ao analisar o fóssil de um animal de apenas 7cm. O estudo ajudará a entender como ocorreu a evolução do órgão e dos artrópodes, filo que reúne 80% da fauna terrestre


Paloma Oliveto


Estado de Minas: 17/10/2013 


O corpo é primitivo e, com pouco mais de 7cm de ponta a ponta, quase insignificante. Dentro da cabeça desse pequeno invertebrado de 520 milhões de anos, porém, um grupo internacional de pesquisadores encontrou um sistema nervoso complexo, semelhante ao de animais modernos, como o escorpião e a aranha. Descrito na edição desta semana da revista Nature, o fóssil da espécie Fuxianhuia protensa tem o mais antigo cérebro já descoberto até hoje, o que, de acordo com especialistas, vai ajudar a entender como esse órgão evoluiu ao longo da história da Terra.

O exemplar foi escavado na província chinesa de Yunuan e pertencia a um grupo extinto de artrópodes conhecidos como megacheira (do grego, “mãos grandes”, em referência ao tipo de garra que os caracterizava). A rocha marinha onde o fóssil estava incrustado preservou bem o animal milenar: foi possível detectar o cérebro, um tecido nervoso relacionado à visão e o cordão nervoso ventral — equivalente à espinha dorsal dos vertebrados — intacto até o oitavo dos 11 segmentos de seu corpo.

“As pessoas podem pensar: ‘O que há de tão importante sobre a cabeça de um fóssil?’. Para isso há muitas respostas, e uma delas é que a cefalização pode ser uma pista para entendermos o sucesso evolutivo dos atrópodes”, avalia Gregory Scholtz, paleontólogo do Museu Australiano e especialista na fauna pré-cambriana. “Essas criaturas dominam o planeta. Nós, vertebrados, somos a minoria aqui na Terra; o planeta, na verdade, é deles”, diz o pesquisador, que não participou do estudo. 

Xiaoya Ma, cientista do Museu de História Natural de Londres, instituição à qual pertence o espécime estudado, afirma que a pesquisa é pioneira. Pela primeira vez, utilizou-se a anatomia do cérebro para determinar a posição evolutiva de um fóssil. Os cientistas chineses, japoneses, americanos e ingleses envolvidos no trabalho tinham uma ideia sobre a classificação do F. protensa, mas, para ter certeza, não podiam confiar apenas na aparência. “Por melhores que sejam as pistas, algumas questões só são resolvidas pelo sistema nervoso. É nele que podemos ver estruturas e características únicas de algumas espécies”, diz. 

A anatomia do corpo do pequenino invertebrado indica que ele fazia parte dos quelicerados, um grande subfilo de artrópodes que inclui aranhas, escorpiões e límulos. A principal marca desses animais é que, para triturar suas presas, eles não usam a mandíbula, mas as quelíceras, garrinhas que ficam perto da boca, prendem o alimento e o destroçam. Apesar de a espécie parecer fisicamente com um quelicerado, não havia como afirmar isso com certeza, tendo como base apenas um fóssil de meio bilhão de anos. 

“Precisávamos ir mais longe e compará-lo com outros animais, para ver exatamente a que grupo pertence. A interpretação das estruturas nervosas do espécime nos mostrou que estávamos certos: essa criatura pequenina é um ancestral dos quelicerados e é um parente mais distante dos mandibulados, como os crustáceos”, conta Nicholas Strausfeld, professor de neurociência da Universidade do Arizona e coautor do artigo publicado na Nature. “Em relação à história evolutiva dos artrópodes, isso nos mostra que eles se diferenciaram de um ancestral comum há muito tempo, no Período Cambriano. Há 520 milhões de anos, já existiam os precursores e os antecessores dos mandibulados”, destaca. 

Nervos óticos Para Xiaoya Ma, além das implicações diretas no estudo da evolução dos artrópodes e de seu sistema nervoso, a pesquisa é importante por demonstrar a possibilidade de usar uma moderna técnica de obtenção de imagem para resolver uma questão milenar. As estruturas neurais do fóssil ficaram visíveis graças à tomografia computadorizada, uma tecnologia que reconstrói em três dimensões órgãos e tecidos que estão dentro do espécime. Com um outro método avançado, de escaneamento por laser, os cientistas mapearam a distribuição de elementos químicos no corpo do animal, procurando os depósitos de ferro, que compõem o cérebro e os tecidos neurais.

O mesmo procedimento foi usado em um escorpião e em um límulo. A comparação permitiu visualizar as semelhanças entre o F. protensa e seus descendentes quelicerados. Uma delas, a mais decisiva na opinião dos pesquisadores, é a presença de três agrupamentos de células nervosas, que se fundem no cérebro e ao longo do corpo do animal. Diferentemente, nos artrópodes mandibulares, como os crustáceos, esse mesmo tipo de célula se distribui de maneira difusa e não agrupada como foi verificado no fóssil. Outra característica do sistema nervoso do animal que os cientistas conseguiram observar foi a presença de nervos óticos dentro e fora do cérebro, terminando em dois pares de olhos, como ocorre nos escorpiões. 

Agora, os cientistas estão atrás do “elo perdido” dos artrópodes: um fóssil que tenha tanto mandíbula quanto quelíceras. “Não sabemos se esse animal existe mesmo, mas é claro que há um ancestral comum, que depois se dividiu. Para que quelicerados e mandibulados existissem, diversificassem e, ainda assim, mantivessem características semelhantes, houve um antecessor. Estamos ansiosos para encontrá-lo, é o que estamos procurando”, diz Nicholas Strausfeld.

Envelhecimento do corpo humano‏

Guydo Marques Horta Duarte
Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Quadril,
coordenador do Serviço de Ortopedia do Hospital Vila da Serra


Estado de Minas: 17/10/2013 



Vemos cada vez mais pessoas idosas fazendo as suas caminhadas no espaços públicos da cidade, assim como em clubes e praticando esportes. Essas imagens são muito positivas, principalmente se fazemos comparações com décadas atrás, quando uma pessoa com mais de 65 anos de idade era muito distante desse comportamento dos tempos atuais. Os avanços da medicina e a prevenção de doenças são dois pontos que devem ser ressaltados como aliados dos idosos.

Entretanto, temos que destacar que os problemas relacionados ao sistema músculo-esquelético com disfunções dos ossos, músculos e articulações estão entre os principais que acometem a saúde dos idosos. Nesses casos, roubam-lhes a independência devido a dores, redução da capacidade de andar, limitação das atividades da vida diária, comprometendo a qualidade de vida e dificultando o tratamento de outras doenças, relacionadas a altos índices de mortalidade, como as cardíacas e diabetes, por exemplo.

O envelhecimento da população é uma realidade cada vez mais preocupante. Envelhecer com qualidade, ou seja, com independência, sem dores articulares e ósseas, é um desafio que cada vez mais se impõe, revestindo-se de grande importância social e de saúde pública. As principais doenças do aparelho locomotor dos idosos, que não podem ser completamente evitadas, mas sim minimizadas e controladas, são a osteoporose, a perda de massa muscular (sarcopenia) e a osteoartrose. Medidas preventivas como atividade física, recreativas, ocupacionais e dietéticas são fundamentais.

A osteoartrose degenera a cartilagem que reveste a extremidade dos ossos que se articulam. São causas importantíssimas de incapacidade, principalmente quando acometem as articulações de apoio dos membros inferiores como o quadril e o joelho, levando o idoso, e também os jovens, a uma imobilidade crônica com as suas graves consequências.

Podemos dizer que as doenças que acometem o sistema locomotor no idoso são inter-relacionadas. Por exemplo, uma pessoa que sofre de osteoartrose do quadril tem a sua osteoporose e perda de massa muscular exacerbadas por essa doença, que agrava as outras duas citadas. O tratamento dela é condição primordial para as outras. Portanto, para tratamento, é necessária uma abordagem sistematizada e que tem várias opções terapêuticas, muitas vezes cirúrgicas. A atividade física é o pilar central no tratamento da osteoporose e da sarcopenia, associada a uma dieta adequada, para suprir as necessidades de cálcio e proteína. Sem adequada exposição à luz solar, para permitir a síntese de vitamina D, o cálcio ingerido não é absorvido convenientemente.

Doenças causadoras de dor ou deformidades, que impeçam a prática de atividade física ou que comprometam a capacidade de marcha, devem ser enfrentadas e eficientemente tratadas, para preservar a saúde não só esquelética, mas geral, o que é vital. Cuidar da saúde músculo-esquelética do idoso equivale a preservar a vida e sua qualidade, bem como, evitar quedas, causadoras de fraturas, que têm um alto índice de morbidade e mortalidade.