Depois de ter feito um discurso contundente na abertura da participação brasileira na Feira do Livro de Frankfurt, em outubro, o escritor Luiz Ruffato pôs ponto final em um novo romance, a sair ainda neste semestre pela Companhia das Letras. "O título é 'Flores Artificiais'", diz o autor. "Um livro que o Luiz Ruffato recebeu, chamado 'Viagens à Terra Alheia', de um engenheiro consultor do Banco Mundial, chamado Dorio Finetto. O Luiz Ruffato reescreveu o livro do engenheiro - são algumas histórias passadas em várias partes do mundo." Contado assim, o mote de "Flores Artificiais" parece apontar para um caminho diferente das densas narrativas de Ruffato, principalmente as que compõem a pentalogia "Inferno Provisório", centrada no universo proletário dos imigrantes mineiros de origem italiana.
"Flores Artificiais" se junta a outras boas novidades do universo ficcional brasileiro prometidas para 2014. Ainda pela Companhia das Letras, um escritor muito fino, o renomado crítico de artes plásticas e professor de história da arte Rodrigo Naves, retoma o percurso de narrador depois de um hiato de 15 anos. Em 1998, Naves publicou, pela mesma editora, o surpreendente "O Filantropo", estranho livrinho, muito magro de tamanho, difícil de classificar, mas belo e importante. "O Filantropo" sobrepunha textos confessionais, pequenos perfis de artistas, boxeadores e gente comum para delinear um narrador arguto, sensível e misterioso.
Dessas magras páginas perturbadoras e bem escritas, num estilo que remete a uma tradição rara na literatura brasileira, parece ter nascido "A Calma dos Dias", o novo e curto livro de Naves. Não é uma continuação do anterior, mesmo porque "O Filantropo" não contava propriamente uma única história. Mas algo daquela atmosfera única, condensada e lírica (no sentido mais seco do termo) se manteve. A espera foi grande, mas ainda neste começo de ano as peças da ficção do autor vão se encaixar um pouco mais.
O editor Marcelo Ferroni, da Alfaguara, anuncia as coisas boas que devem sair pela editora em 2014: "Teremos um romance novo de Maria Valéria Rezende, chamado 'Quarenta Dias'. Depois, o segundo romance da Luisa Geisler [e o primeiro dela na Alfaguara], chamado 'Luzes de Emergência Se Acenderão Automaticamente'". Aos 22 anos, Luisa, premiada com seus dois livros anteriores, "Contos de Mentira" e o romance "Quiçá", fez parte da antologia "Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros", da revista "Granta". "Luzes de Emergência Se Acenderão Automaticamente" é um título tão intrigante quanto deve ser a sua narrativa.
Pela Alfaguara pode sair, ainda em 2014, o livro de contos de Emilio Fraia, que também estava na antologia da "Granta", intitulado "Sebastopol". O próprio Marcelo Ferroni, que ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2011 com "Método Prático da Guerrilha" (Companhia das Letras), aparece no primeiro semestre com seu segundo romance, "Das Paredes, Meu Amor, os Escravos Nos Contemplam", pela mesma editora. Tem um quê de policial, em tom paródico.
Ferroni apresentou o livro assim para a sua agente Lucia Riff: "Humberto Mariconda tinha tudo para ser uma pessoa realizada: estava prestes a lançar seu primeiro livro, 'A Porrada na Boca Risonha e Outros Contos', e conhecera uma garota rica e enigmática, com quem achava que poderia ser rico e feliz. Seu livro, no entanto, não tem o sucesso esperado. E a garota, Julia, é uma figura fugidia que, ao convidá-lo para passar o fim de semana numa fazenda histórica da família, o submeterá a dramáticas experiências: um crime, uma entrevista com mortos, um duelo. Fechado nesse casarão assombrado por más recordações, isolado do mundo por uma tempestade e alheio à passagem do tempo, Mariconda se verá como o investigador de um crime brutal, que parece saído de um romance".
O novo livro do premiadíssimo Cristovão Tezza também sai neste ano pela Record. "Chama-se 'O Professor'", conta Tezza. "Levei praticamente dois anos para escrever. No ano passado, trabalhei nele praticamente todo dia (e viajei pouco)." O escritor havia ganhado todos os prêmios importantes de 2009 por "O Filho Eterno", o livro que mudou a sua vida. Graças a ele, Tezza deixou de ser professor para se transformar em escritor em tempo integral.
"'O Professor' é o meu romance de maturidade, eu acho. O mais, digamos, ambicioso, desde 'O Filho Eterno'. E não tem absolutamente nada de autobiográfico. Ficção em estado puro. E é estranhamente pessimista. Conta a história de um catedrático de filologia românica que, aos 70 anos, se prepara para receber uma homenagem. Numa linguagem que lembra a sintaxe de 'Um Erro Emocional', um narrador duplo vai pontuando fatos de sua vida. O eixo em torno do qual gira o romance é a sua paixão por uma doutoranda francesa, que defendeu uma tese curiosa sobre a cultura brasileira e seus efeitos na nossa linguagem".
Na área dos estreantes, a Cosac Naify aposta no jornalista André Viana. Seu romance de estreia, "O Doente", caiu nas mãos da editora Marta Garcia no ano passado. "Fiz sugestões mínimas", diz ela. "O texto chegou muito pronto." "O Doente" foi escrito ao longo de muitos anos e é resultado de longas conversas gravadas com um personagem real. Sai em março. O ano de 2014 parece começar bem para a literatura brasileira.