sábado, 8 de dezembro de 2012

SEM INTERVALO - CRISTINA PADIGLIONE


Doki,mascote do Discovery Kids, vai à praia

Com direito a patrocínio, o Discovery Kids instalará sua tenda em três praias de São Paulo durante as férias de verão, duas no litoral norte e uma no litoral sul, ainda a definir, entre 8h e 17h. Uma arena batizada como Divertilha abrigará Doki, mascote do canal, e será ponto de referência para outros personagens da casa, em circuito de atividades que se repetirá a cada 30 minutos. Na tenda do Peixonauta, a pauta está nas dicas de reciclagem e combate à poluição. Já na tenda de VelozMente, um jogo da memória sobre elementos de praia dá as regras. Para se refrescar, Sportacus e a turma de Lazytown recebem o público com cama elástica e informações sobre alimentação na Lavadora de Ideias.

Intimidade



Marcos Mion encontra Paula Fernandes de bobes nos cabelos e ferro de passar na
mão, no camarim. Hoje à noite, ela estará no Legendários, pela Record, para cantar e
participar de outros quadros do programa, como Vale a Pena Ver Direito.



5
prêmios Emmy, incluindo melhor minissérie
e melhor ator, faturou Hatfields &
McCoys, com Kevin Costner, que estreia
em janeiro no Brasil, pelo canal Space


‘Impressionante é rir de si mesmo.
Assim estamos rindo da humanidade,
que, sem se dar conta
disso, mora em nós’ Fernanda
Young a Gabi: amanhã, 22 h, no GNT


A Globo Marcas conta que vendeu
mais de 70% dos produtos confeccionados
para a Copa de 2014 apresentados
pela primeira vez em um quiosque
instalado no Anhembi, em meio à
realização do sorteio das chaves da
Copa das Confederações. Uma camisa
polo preta licenciada pela Drastosa
foi a primeira peça a se esgotar.

Ímãs, bonés, canecas e roupas
compunham a primeira safra de produtos
da Copa 2014 no Anhembi, sábado
passado. Mais de 30 contratos de
licenciamento já estão fechados.

Maisinha continua faturando
extra com Carrossel. A menina prodígio
de Silvio Santos gravou para janeiro
imagens da campanha publicitária
em que anunciará uma escola de inglês
para crianças.

Fernando Haddad, prefeito
eleito de São Paulo, será sabatinado
no Roda Viva da Cultura, segunda-
feira. A bancada é composta por
Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo
do Grupo Estado, Sérgio Dávila,
diretor-executivo da Folha de
S.Paulo, Clara Becker, repórter da
Piauí, João Gabriel de Lima, Redator-
chefe da Época, e Maria Cristina
Fernandes, editora de Política
do Valor Econômico. A mediação é
de Mario Sergio Conti, com participação
do cartunista Paulo Caruso.

Adeus, Niemeyer.ODiscovery
reprisa amanhã, às 22h40, o documentário
Brasília: A Construção de
Um Sonho. A produção expõe depoimentos
de quem testemunhou a
construção da capital e também de
gente que participou diretamente
do projeto, incluindo Oscar Niemeyer,
Carlos Murilo Felício, primo e
assessor de Juscelino Kubitschek e
Cel. Affonso Heliodoro, sub-chefe
do gabinete de JK.

Em nome do Mundial de Clubes
da Fifa, que tem o Corinthians
na final, no Japão, os canais Sportv
abrem seus três sinais a toda a base
de assinantes até 16 de dezembro
nas principais operadoras do País.




CLÁUDIA LAITANO - A boa mentira

Zero Hora - 08/12/2012

O melhor conselho que recebi quando estava grávida já não lembro quem deu, mas tenho repetido como um mantra nos últimos 14 anos. Alguma mãe mais sábia e experiente me disse apenas isso: “Confia no teu instinto”.

Seguir os próprios instintos obviamente não garante que se vá acertar sempre, mas assinala a importância de conceder aos pais a liberdade para criar seus filhos como lhes parece mais adequado e não conforme a cartilha que tias, vizinhas e amigas bem-intencionadas tão graciosamente ditam a partir do momento em que alguém anuncia que está grávida.

Uma das situações em que segui meu instinto – mais ou menos contra a corrente dominante – diz respeito a esta época do ano: nunca consegui mentir a respeito do Papai Noel. Pronto, falei.

Especialistas em psicologia infantil garantem que por volta dos oito anos, quando a maioria já percebeu que aquele Papai Noel magricelo que distribui presentes todos os anos é, na verdade, o tio Oscar metido em um traje ridiculamente inapropriado para o calorão de dezembro, as crianças já são capazes de distinguir dois tipos de mentiras contadas pelos adultos.

A “má mentira” é aquela que os pais contam para fugir de uma responsabilidade (“Não vamos ao Marina Park hoje, meu bem, porque eles fecham no dia de São Benedito”) ou de uma culpa (“Não fui na festinha na sua escola porque pegou fogo no escritório.”) A “boa mentira” é a que os pais inventam não para livrar a própria barra, mas para alimentar a imaginação dos pequenos – como no caso das histórias de Natal. A boa mentira ensina a fantasiar, a má mentira ensina a mentir.

OK, bacana, os especialistas apenas confirmaram o que todo mundo já sabia: ninguém precisa sentir-se culpado por inventar histórias sobre renas, trenós e duendes. Mas, quando minha filha me olhou com aquela confiança absoluta que apenas as crianças pequenas têm nos pais e me perguntou como, afinal, era possível que o Papai Noel soubesse, lá no Polo Norte, se ela se comportava bem aqui em Porto Alegre, não consegui recitar o texto recomendado pelo senso comum ou pelas propagandas de refrigerante.

Ali, diante de mim, estava uma nova navegante esforçando-se para entender como as coisas funcionam neste mundo estranho em que acabara de chegar. Uma aprendiz de cientista, testando hipóteses e pedindo apoio dos mais velhos para prosseguir decifrando outros, maiores, mistérios. Era justo reconhecer o seu esforço: “Não, não existem câmeras escondidas pela casa, e a única pessoa que sabe o que se passa na sua cabeça é você”.

Uma das graças da “boa mentira” é saber que ela nunca dura para sempre. É um jogo de esconde-esconde em que as crianças sempre ganham. Alguns pais curtem prolongar a brincadeira – e eles obviamente não estão errados. Outros preferem saborear a satisfação de ver uma criança perceber que há graça e encantamento não apenas no que se inventa, mas também no que se descobre através das magníficas e inesgotáveis estratégias da razão.

Quadrinhos



folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
QUASE NADA      FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ

FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
HAGAR      DIK BROWNE

dik browne


O homem velho - João Paulo‏

Estado de Minas -08/12/2012

Há alguns anos Caetano Veloso compôs uma canção, O homem velho. Era uma música muito bonita, um tanto melancólica, mas que parecia soprar um certo apaziguamento. Entre o versos se falava de alma saturada de poesia e rock, de se tornar um farol em meio a mutação do entorno, da coragem de saber que é imortal. São palavras sábias que deixam entrever uma boa relação com o destino. Saber-se imortal é um jeito próprio de aceitar a finitude. 

Caetano Veloso completou 70 anos e lançou um novo álbum, Abraçaço, que compõe com Cê (2006) e Zie e Zii (2009) um tríptico ao lado da banda formada pelo guitarrista Pedro Sá, pelo baterista Marcelo Callado e pelo baixista Ricardo Dias Gomes. São discos que soam únicos na longa obra de Caetano, que parecem nutridos no mesmo núcleo do indie rock. Um cantor e compositor, que é um homem velho, se encontra com jovens para conversar além do tempo. O que fica nítido no processo da trilogia é que os dois lados saem ganhando.

Há um espírito de rock inegável. Mas também se ouve, nos três discos, nuances que os diferenciam, como se fossem todos eles o mesmo e o outro. Em Cê, é o desejo do corpo (embora os sinais da passagem do tempo sejam evidentes); em Zii e Zie parece ser a vontade de participar do mundo (sem pensar que talvez não dê tempo para fazer tudo); em Abraçaço, ao jeito de conclusão, surge a afirmação de certezas, para o bem e para o mal (um abraçaço pode ser um presente ou uma ameaça).

O novo disco tem canções sobre amor e ódio. Cobra justiça contra crimes hediondos na terra sem-lei dos grileiros, reescreve a história da bossa nova com uma energia de luta em vez de abraços e carinhos, tem uma canção muito triste, que dá vontade de chorar. O herói baiano, poeta e guerrilheiro Marighella, assassinado pela ditadura civil-militar, ganha homenagem que a memória brasileira vinha adiando há décadas. A vida está toda lá. A musicalidade, que tem apoio no mesmo violão e na mesma guitarra, com sons eletrônicos antigos e quebradas de ritmo que exigem muito da voz do cantor, tudo isso é a assinatura. Mas o rosto parece ser mesmo o tempo.

Se O homem velho é uma canção para o pai, Caetano também flertou com o tempo para cantar para o filho em Oração ao tempo. Os três discos mais recentes embaralham essa dimensão filosófica, o fato de ser ao mesmo tempo pai e filho, colocando em cena as provocações da história. Caetano não quer se retirar, por isso procura o novo. Ele tem o que dizer para pessoas, que não estão mais atentas a sutilezas. Suas novas canções perfazem esse projeto quase impossível: são intelectuais quanto mais partem da sensibilidade. O rock é talvez seja o último resquício de inteligência possível. Mesmo ele vem se perdendo. Depois só vai restar o silêncio.

Outros 70 
A trajetória dos artistas brasileiros que este ano entraram na casa dos 70 parece trazer elementos que ajudam a colorir um pouco a psicologia e arte popular brasileira. Além de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulinho da Viola estão aí confirmando trajetórias e apontando novos rumos. 

Gilberto Gil foi sempre um homem em trânsito. Seu conhecimento da cultura oriental, que é determinado e seguro, fez dele uma pessoa que consulta sempre o I ching, o livro das mutações, não para frear o tempo, mas para confirmar a dinâmica da história. Na música, experimentou dos ritmos nordestinos (talvez seja o maior herdeiro de Luiz Gonzaga e quem melhor entendeu sua herança) ao reggae, passando por tantas fases (rock, punk, afro, disco) quanto lhe inspiravam os desejos e a sabedoria. 

Se Caetano, em sua inclinação ao novo rock nesse momento da vida tem emanações metafísicas, Gil foi espalhando sua inquietação filosófica ao longo dos anos. O tempo, que também perpassa sua poética, é cíclico. Caetano é trágico, vê o passar dos dias como uma seta em direção ao desconhecido, embora saiba o fim da história e não se encante tanto assim com ele; Gil é romântico e sente na carne as demandas do eterno retorno. 

Milton Nascimento é de outra espécie de setentão. Se os baianos buscam, ele confirma. Sua música, que já nasceu madura, carrega elementos de vários momentos de nossa história cultural. Ao surgir, pronto e completo, Milton trazia na voz elementos do passado. Suas canções eram barrocas e modernas. Com o tempo, foram ficando modernas e barrocas. 

Ao propor e levar adiante um projeto coletivo de criação, fez ver aos que estavam a seu lado que a arte é desígnio de homens e mulheres abertos ao mesmo trato com o universo. A beleza, como um passarinho, é de quem pegar. Tudo que ele tocou se tornou Milton Nascimento. Houve um momento em que a história se inverteu. Ele passou a ditar o sentido. Não sabemos bem por que, mas temos uma corda da emoção que foi inventada por ele.

Já Paulinho da Viola foi capaz de uma proeza única, atravessou um rio na vida de um povo. O maior mérito estético do cantor e compositor foi criar o que os físicos chamam de universo paralelo. No fim dos anos 1950, sem que se soubesse bem de onde vinha, a bossa nova tomou conta do samba. A partir daí todo mundo se tornou bossa nova. Paulinho foi o único que não se tocou por ela. Entendeu tudo e continuou fazendo o mesmo samba. Assim, por uma licença especial dos deuses, ficamos habitados por duas manifestações de samba: a bossa nova e Paulinho da Viola.

O mais impressionante, no entanto, é que Paulinho não cessou de evoluir, só que em outro sentido, com outros elementos e belezas. Seu samba tradicional, com o tempo, se tornou ainda mais moderno que a bossa. Se em arte ele é único, em comportamento pessoal criou um padrão de elegância no qual gostamos de nos espelhar. Assim, deixou ao mesmo tempo ao nosso gozo dois prazeres supremos, o da estética e o da ética. 

Para terminar, uma pergunta: você já notou como Caetano está ficando cada dia mais bonito?


 jpaulocunha.mg@diariosassociados.com.br

Ousadia concreta (Décio Pignatari) - Carlos Herculano Lopes‏

Com obra que marcou a inteligência brasileira, Décio Pignatari deixa herança na literatura e na teoria da comunicação, com reflexões que avançam além das disciplinas rígidas, com vocação para o novo 

Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 08/12/2012 
A morte do poeta, tradutor e ensaísta Décio Pignatari, aos 85 anos, no domingo passado, é uma perda que ainda vai demorar a sedimentar na cultura brasileira, tantos eram seus interesses e realizações, na criação, na teoria e na capacidade de propor novos olhares sobre a arte e a inteligência. Espírito universal, Décio dialogava com várias tradições e épocas, além de ampliar o espectro da literatura em direção às artes visuais e à teoria da comunicação. 

Paulista de Jundiaí, Pignatari foi ainda criança para Osasco, onde viveu até os 25 anos. Gostava de dizer que a cidade era a sua Dublin e foi lá que iniciou seus estudos “num lindo casarão francês”, onde teria vivido Dimitri Sensaud de Lavaud, um dos pioneiros da aviação no Brasil. Em Osasco, gostava de andar descalço, brincar com os amigos e, ainda adolescente, ajudou a fundar o grupo Juvenil Soma, da Cia. Sorocabana de Material Ferroviário, no qual também atuou. 

Formado em direito pela USP, ocupou lugar de relevância nos últimos 60 anos, sobretudo no universo da poesia concreta, no qual brilhou ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Com eles ficou conhecido internacionalmente no grupo de poetas do qual participou o mexicano Octávio Paz. Com Augusto e Haroldo esteve presente em vários movimentos culturais dos anos 1950 e se aproximou do tropicalismo, já na década de 1960. Com os irmãos Campos, a seis mãos, publicou Teoria da poesia concreta, em 1965; Mallarmagem, em 1971; e Ezra Pound-poesia, em 1983, entre outros. 

Seu polêmico rompimento com a famosa geração de 1945, que deu muito o que falar, ocorreu em 1951, por ocasião da 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Nos anos 1970, já totalmente dedicado à literatura, tornou-se professor de teoria literária no curso de pós-graduação da USP, onde fez doutorado tendo como orientador o professor e crítico literário Antonio Candido. 

Comunicação e semiótica Polêmico e às vezes chamado de rabugento pelos inimigos, escreveu também textos teóricos sobre comunicação, poesia e semiótica. Entre suas obras destacam-se o livro Teoria da poesia concreta, de 1965; o volume de contos O rosto da memória, de 1988; o romance Panteros, de 1992; e a peça Céu de lona, de 2004, na qual tratava das mudanças ocorridas na vida e na obra de Machado de Assis depois do casamento do romancista carioca. 

Como tradutor, foi responsável por versões de clássicos de Dante e Shakespeare e do mais conhecido livro do canadense Marshall McLuhan, Os meios de comunicação como extensões do homem. Um dos seus poemas mais famosos, “Cloaca”, musicado por Gilberto Mendes, com uso das referências concretistas, faz referência à Coca-Cola e ao consumo, com linguagem visual ousada e forte dose de sarcasmo.
Em depoimento dado a Edla van Steen para o livro Viver & escrever, lançado em 1981, Décio contou que suas primeiras influências literárias foram José de Alencar, Castro Alves e o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, cujo livro O amor, as mulheres e a morte, lido aos 13 anos, o deixou muito impressionado. Ainda na entrevista, lembra que a arte concreta fazia parte de um movimento internacional, tendo à frente Max Bill, e cujo líder no Brasil foi Waldemar Cordeiro, de quem fui discípulo e com o qual rompeu em 1960, depois de ter chegado à conclusão de que o stalinismo dele o estava arrastando para a “caretice de um carreirismo individual”. 

Sobre a poesia concreta, pela qual se tornaria conhecido, disse que ela foi o primeiro movimento realmente internacional da poesia brasileira – chegando à Líbia e ao Japão –, e que ela foi o Santos Dumont da cultura brasileira do período. “E como está a poesia concreta atualmente?”, quis saber Edla van Steen. “Quanto mais irreconhecível, melhor”, respondeu Décio Pignatari. Sobre os contemporâneos, confessou que lia pouco e em diagonal: “Dos novos, por inteiro, só o Catatau, de Paulo Leminski”, respondeu.

Em 2009, Décio Pignatari publicou Bili com limão verde na mão, que descrevia como “um livro para todas as idades”. Uma obra que fundia prosa e poesia, ideias e imagens. Maduro, Décio parecia ter descoberto um jeito de ir além das formas, das idades e das classificações. Para quem sempre aspirou à liberdade e ao novo, foi uma espécie de acerto de contas com a arte e com a vida.
Artista e 
pensador


“Para quem, como eu e tantos outros poetas e artistas brasileiros, não se rende à ideia de que já não haveria espaço, hoje, para a radicalidade, a ousadia, o inconformismo e o posicionamento ético perante os modelos impostos pelas grandes corporações midiáticas e, na outra ponta, pelo passadismo que orienta o grosso das pesquisas acadêmicas sobre arte e cultura, a morte de Décio Pignatari representa um golpe duríssimo. Como Affonso Ávila, outro gigante de quem nos despedimos neste cruel 2012, Décio foi um tipo raro de artista pensador, que se empenhava, ao mesmo tempo, em investir contra a mediocridade e em nos oferecer sugestões de caminhos críticos e criativos tão abertos quanto plurais.” 

Ricardo Aleixo, poeta, artista visual e ensaísta

Vanguarda e revolução

“Coincidência: em 1961, Décio tinha 34 anos e fez aquela conferência, Situação atual da poesia brasileira, no célebre congresso organizado por Antonio Candido em Assis, São Paulo. Eu tinha 23 anos, estudante de letras na UFMG, fiz um aparte, que está nos anais. Em 2012, 51 anos depois, há um novo congresso em Assis e chamam-me para abrir o encontro e comentar a tese antiga do Décio e a poesia atual. Muita água rolou debaixo da concretude das pontes. Nossa geração viu duas ilusões se diluírem: a vanguarda e a revolução. O verso não acabou, a visualidade é apenas um dos aspectos da poesia. Mas Décio e os concretistas deram uma chacoalhada na poesia brasileira. Drummond, Bandeira e Cassiano Ricardo – mais velhos – foram influenciados. Os mais novos também. Tenho cartas de Décio. Gostava dele, de seu jeito briguento. É verdade que a vanguarda virou “estilo de época”. Mas acho que certa poesia brasileira, hoje tão próxima do que ele chamava de geleia geral, bem precisa de uma freada de arrumação.”
Affonso Romano de Sant’Anna, poeta

Convergência e transmídia

“A relevância de Décio Pignatari no âmbito dos estudos comunicacionais no Brasil deve-se, principalmente, à natureza de suas contribuições à área. Um dos responsáveis pela introdução da semiótica no país, ele defendeu o experimentalismo de linguagem e a integração dos meios como parâmetro comunicacional. 

Em seu livro Contracomunicação (Editora Perspectiva, 1971), por exemplo, Pignatari postulou dois princípios básicos que deveriam reger a estruturação de uma nova escola de comunicação: a) integração dos meios, códigos e linguagens (“quem compreende apenas um meio torna-se um burocrata servil desse médium”); b) integração entre professores e alunos (“uma classe deve ser uma equipe de trabalho criativo”). Essa proposta comunicacional, radicalmente criativa e intermidiática, antecipa em quase 40 anos a discussão contemporânea sobre convergência e transmídia. 

Ele é responsável ainda pela introdução no Brasil de pensadores relevantes para área de comunicação, como Marshall McLuhan. Pignatari traduziu, em 1964, Os meios de comunicação como extensões do homem, referência obrigatória para conhecer o pensamento de McLuhan. 

Poeta, tradutor e ensaísta, Décio Pignatari soube, como poucos, unir experimentalismo de linguagem e rigor científico. Razão pela qual sua contribuição à área de comunicação, embora circunstancial e de certo modo periférica, é indiscutivelmente relevante.”


Geane Alzamora, professora adjunta do Departamento de Comunicação Social da UFMG

A neve estava suja ( Biografia Stieg Larsson) - João Paulo‏

Biografia do jornalista e romancista Stieg Larsson, autor da Trilogia Millennium, revela o lado obscuro da sociedade sueca do pós-guerra, marcada pelo preconceito, violência e xenofobia 

João Paulo
Estado de Minas: 08/12/2012 
Não há imagem mais limpa, sobretudo para quem vive nos trópicos, do que um campo de neve, imaculadamente branco. O romancista belga George Simenon, em uma de suas melhores novelas, narra uma história de violência juvenil que se passa numa aldeia durante o inverno. O nome do livro, A neve estava suja, é um achado poético: por trás da brancura se revela uma sujeira quase invisível, mas que é pegajosa e daninha. Não há nada mais sujo que a neve maculada de sangue.

Quando o jornalista sueco Stieg Larsson (1954-2004) morreu, deixando três grossos volumes de sua Trilogia Millennium, o que se revelou ao mundo foi algo como uma grande poça de sangue na neve. A imagem da Suécia, quase sempre vista como uma espécie de paraíso de civilização e justiça social, não combinava em nada com o cenário de tramas que expunham crimes, violências contra mulher, homofobia, ódio racial e movimentos neonazistas, que pululam nos romances policiais de Stieg Larsson.

O susto foi ainda maior à medida que a vida do escritor foi sendo conhecida aos poucos. Larsson era um jornalista célebre em seu país por revelar tramas da extrema direita, grupos neofascistas e ações criminosas contra estrangeiros, negros e judeus. A rica e justa Suécia vivia um refluxo da social-democracia que a notabilizou, com emergência de um conservadorismo antidemocrático de múltiplas faces, que viceja até mesmo nas bandas de rock “branco”, que funcionam como caixa de grupos terroristas.

A trajetória do jornalista e romancista é reconstituída na biografia Stieg Larsson – A verdadeira história do criador da Trilogia Millennium, de autoria de Jan-Erik Petterson, jornalista e editor, responsável pela publicação do primeiro livro de Larsson sobre o grupo de extrema direita Democratas Suecos, lançado em 2001.

Para quem espera uma biografia recheada de pesquisas sobre a infância do autor, cheia de intimidades sexuais e histórias curiosas (afinal, morrer aos 50 anos, sem conhecer o sucesso de seus romances em todo o mundo, ainda por cima cheio de dívidas, é uma história e tanto), vai se deparar com outro tipo de biografia. O que interessa a Jan-Erik é o papel público de Stieg Larsson. Mesmo seus romances, com nítidos paralelismos em relação à vida do criador, são vistos muito mais como documentos políticos do que psicológicos.

O que parece ser um contrassenso, frente ao frenesi de fofocas que tomou conta das biografias, se torna o grande atrativo do livro. O leitor fica conhecendo, a partir da vida de Stieg Larsson, uma Suécia bastante diferente, com problemas políticos, econômicos e comportamentais muito singulares, mas nem por isso distantes de nós. Além disso, recupera a trajetória digna e corajosa de seu personagem num terreno igualmente nivelado por baixo na contemporaneidade: o jornalismo. 

A biografia de Stieg Larsson não é um capítulo da saga de vencedores, mas dos lutadores.

Sucesso e fracasso A Trilogia Millenniumm, com seus milhões de livros vendidos em todo o mundo e duas versões para o cinema, deu ao século 21 uma dupla de heróis pouco comuns, o jornalista Mikael Blomkvist e a jovem hacker Lisbeth Salander. Eles não formam um casal, mas uma dupla que se junta em função de suas carências. Blomkvist, diretor da revista Millennium, dedicada a investigar ações da direita sueca, e Lisbeth, uma assustada punk perseguida por fantasmas reais e imaginários que aprendeu a se defender do mundo real invadindo o universo virtual, acabam metidos em tramas que embaralham problemas que afligem os dois ao mesmo tempo: as mentiras que sustentam a sociedade em que vivem.

Com esses ingredientes, Larsson mesclou literatura policial, suspense, psicologia e política para criar sua saga. Quando morreu de ataque cardíaco, aos 50 anos, passava por apertos financeiros, era perseguido e ameaçado e trabalhava como um condenado para dar conta de seus projetos, o maior deles a revista Expo. Jan-Erik reconstrói a vida de seu biografado não para explicar o homem, mas para criar um contexto verossímil para sua trajetória. Por isso, a biografia por vezes se parece mais história social que qualquer outra coisa.

O livro é dividido em três longos capítulos. No primeiro, “Ativista”, o biógrafo fala da juventude de Stieg, de sua família (os pais eram de esquerda e ligados a causas sociais), do impacto da Guerra do Vietnã em sua vida, dos sonhos do maio de 1968, das viagens pela Europa, do fracasso em entrar para a faculdade de jornalismo e do emprego em uma agência de notícias, na qual trabalhava compondo ilustrações e mapas. O jovem Stieg era filho de um lar de classe média, o pai complementava o trabalho como operário trabalhando como porteiro de cinema e os sonhos revolucionários faziam parte do dia a dia do rapaz, que saiu de casa aos 16 anos, com a ajuda dos pais.

O segundo capítulo, “Cartógrafo”, mergulha no mundo da extrema direita sueca. Já trabalhando para publicações independentes, Stieg Larsson se torna um investigador determinado das ações racistas e conservadoras de toda ordem. Ainda jovem, ele se torna um dos grandes conhecedores das redes antidemocráticas da Suécia, em suas mais variadas manifestações. O resultado seria publicado em forma de artigos e ensaios, o que destacaria o talento de Stieg para a pesquisa e o trabalho obstinado. Jan-Erik recheia a biografia de informações relevantes sobre a política e economia de seu país, além de contextualizar os acontecimentos e envolvimentos de Stieg Larsson com as causas mais variadas, não apenas na Suécia. Ao acompanhar a vida do jornalista, o leitor ganha uma história dos subterrâneos da extrema direita europeia.

O terceiro capítulo, “Escritor de romances policiais”, se aproxima mais do leitor comum, interessado nos segredos de Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist. Mais uma vez, o autor da biografia parece frustrar o fã da saga de Larsson. Em vez de falar do que todo mundo sabe (até mesmo acerca da rumorosa disputa pelos direitos do legado do romancista), ele apresenta uma sucinta história da literatura policial na Suécia, que vem ganhando, depois de Stieg Larsson e Henning Menkell, um lugar destacado no mercado literário mundial. Conhecer a literatura que vem do frio é a recompensa para o leitor.

Stieg Larsson não se achava um herói. Fazia seu trabalho. Quando precisou de grana, escreveu num jorro centenas de páginas e criou dois personagens que ficaram em seu lugar. Sua obra não é perfeita, mas é impressionante em termos de maturidade, estrutura e fôlego narrativo. A biografia de seu amigo Jan-Erik Pettersson honrou essas escolhas. Preservou o homem e alertou para a sua causa. Quem lê a Trilogia Millennium talvez sinta a mesma coisa em relação aos homens e ao mundo. Seria a derradeira vitória de Stieg Larsson.


Ciência - Habilidade diante do predador - Pedro Cerqueira‏

Bióloga mineira mostra que macacos guigós têm comunicação bastante elaborada. Dependendo de onde está a ameaça - em terra ou no ar -, eles emitem sons totalmente diferentes 

Pedro Cerqueira
Estado de Minas: 08/12/2012 
Durante quatro anos, de 2007 a 2011, a bióloga Cristiane Cäsar estudou a comunicação entre grupos de macacos guigós (Callicedus nigrifrons), concluindo que a espécie tem habilidade da comunicação referencial bastante elaborada. Trata-se da primeira pesquisa do gênero realizada com a espécie. De acordo com a pesquisadora, atualmente pós-doutoranda na PUC Minas, em Belo Horizonte, a comunicação referencial é a capacidade de o animal produzir uma vocalização específica como uma resposta para determinadas situações e os outros indivíduos da mesma espécie entenderem essas vocalizações. No caso desse estudo, foi identificada a vocalização emitida pelos guigós quando em contato com diferentes predadores.
O estudo indica que esse macaco produz uma vocalização específica para alertar seu grupo quanto à ameaça de um predador aéreo (como uma águia) e uma outra vocalização caso o predador seja terrestre. “Além de avaliar a capacidade cognitiva do animal, esses resultados mostram que alguns aspectos da linguagem humana – como, por exemplo, a produção e percepção vocal – ocorrem em outro espécime e podem aumentar o entendimento sobre a evolução da nossa linguagem”, avalia Cristiane, que realizou a pesquisa para conclusão de seu doutorado pela Universidade de Saint Andrews, na Escócia.
A primeira parte do estudo foi a livre observação e coleta de dados dos animais e suas respostas naturais aos estímulos de sua rotina. A segunda parte foram os experimentos. A bióloga levou a campo vários predadores naturais dos guigós (gavião, onça, gato-do-mato etc.) empalhados a fim de testar sua reação. A pesquisadora deixava o animal empalhado numa rota em que possivelmente os macacos passariam e ficava dentro de uma tenda camuflada com microfone e gravador a postos.
Depois da coleta das vocalizações em campo, sua análise foi feita em um laboratório de bioacústica em Saint Andrews. Um software foi usado para obter gráficos (espectrogramas) de cada vocalização, o que tornou possível aferir as diferenças e semelhanças dos sons captados.
Cristiane explica que, para uma pesquisa científica, não basta confiar no ouvido humano. A partir disso foi identificada uma estrutura padrão entre as vocalizações de todos os grupos. Assim, foi obtido um gráfico padrão a partir da resposta aos predadores aéreos e outro gráfico padrão para a reação aos predadores terrestres.

FILMAGEM Apesar de os gráficos obtidos entre os diferentes grupos serem semelhantes, eles não são idênticos, revelando que existe um tipo de sotaque (ou individualidade) entre esses grupos. E, para confirmar se as vocalizações captadas são “entendidas” pelos indivíduos de todos os grupos, a bióloga reproduziu as vocalizações gravadas para seu próprio grupo e também os outros grupos, filmando as respostas. O resultado obtido foi que um grupo reage de forma adaptativa à vocalização do outro. Além disso, um grupo reage mais rapidamente à gravação de sua própria vocalização, sugerindo que existe uma maior identificação e confiança ao alerta do próprio grupo.

Códigos usados são bastante específicos 
Quando reproduziam a vocalização alertando a presença do gavião, os indivíduos olhavam imediatamente para cima e os que estavam nas partes mais altas das árvores desciam logo. Já a vocalização referente a predadores terrestres fazia com que os indivíduos olhassem em direção à caixa de som, procurando pelo predador.
Na presença de um predador terrestre, enquanto um indivíduo vocaliza os outros integrantes do grupo se agrupam. Dependendo do predador eles arqueiam o corpo, ficam com o pelo eriçado (para parecer maiores) e balançam a cauda para intimidar o predador. Para não se mostrar para o predador, os macacos guigós começam os alarmes com vocalizações mais baixas e curtas, já que o objetivo é alertar o grupo. No final, as vocalizações são mais altas, longas é graves, mais direcionadas para o predador.
Foram detectadas variações dentro das vocalizações destinadas ao alerta de predadores terrestres em função de qual era o espécime escolhido pela pesquisadora (cobra ou onça, por exemplo). A hipótese levantada pela bióloga Cristiane Cäsar é que existe a possibilidade de os guigós terem a capacidade de diferenciar por vocalização, além de identificar simplesmente se o predador é aéreo ou terrestre, qual é o predador terrestre que está ameaçando o grupo. Mas ainda não foi testado se os grupos entendem essas variações e esse é um projeto para o futuro.
O ESTUDO 
A pesquisa de campo foi realizada no Santuário do Caraça, a 120 quilômetros de Belo Horizonte. A região foi escolhida porque ali a bióloga já havia realizado em 2003 outra pesquisa com a mesma espécie em uma área de 50 hectares onde quatro grupos de guigós já estavam habituados à presença humana. Para este novo estudo, outra nova área, próxima a uma cascata, foi agregada, com o acréscimo de mais dois grupos da espécie. Os grupos familiares de guigós encontrados dentro desses fragmentos de florestas têm de dois a seis indivíduos, sendo um casal e os filhos.
 
A cientista explica que o método da habituação consiste em conviver com os animais para que eles se acostumem e não associem o homem a um predador, tornando possível observá-los em seu hábitat. Ela conta que o método foi escolhido para não ter que capturar os animais e observá-los em cativeiro e nem ter que segui-los a partir do sinal de um radiocolar, ou seja, o objetivo era interferir o mínimo possível no comportamento dos animais. 
 
O tempo de habituação pode variar de um mês a um ano, dependendo do tempo corrido em que o pesquisador fica em campo e das experiências que os animais já tiveram com pessoas. A bióloga conta que os grupos que vivem em áreas com ocorrência de caça são muito mais difíceis de habituar, já que tiveram péssimas experiências com pessoas. Já os grupos que vivem próximos a trilhas (utilizadas para passeio, por exemplo) tendem a levar menos tempo para acostumar com a presença do pesquisador, mas, mesmo assim, na mata fechada, eles os estranham.

O farol (Mário de Andrade) - Ângela Faria‏

Estado de Minas - 08/12/2012

Cultuado entre intelectuais e acadêmicos, Mário de Andrade (1893-1945) ainda está longe de seu povo. Poeta, romancista, contista, cronista, fotógrafo, colecionador, pianista, professor, ensaísta e – sobretudo – pensador, esse paulistano transcende seus breves 51 anos de vida. Nunca é demais lembrar: todo prosa de sua performance no mundo globalizado, o Brasil do século 21 deve a Mário boa parte de sua autoestima.

Escrito pelo cientista social André Botelho, o oportuno De olho em Mário de Andrade – Uma descoberta intelectual e sentimental do Brasil, lançado pelo selo Claro Enigma, “apresenta” o autor do clássico Macunaíma ao cidadão pouco afeito ao universo acadêmico.

Ainda não foi desta vez que Mário ganhou sua merecidíssima (e aguardada) “alentada biografia” – como aquelas dedicadas a Nelson Rodrigues e a Carmen Miranda por Ruy Castro, ou a Olga Benário e Assis Chateaubriand por Fernando Morais. Mas o pequeno livro de André Botelho cumpre com louvor a missão de introduzir o leigo no multifacetado universo de Mário, um dos “pais” da brasilidade.

De olho em... funciona quase como guia informativo: fácil de ler, oferece um voo panorâmico sobre a trajetória do farol que iluminou tanto a Semana de Arte Moderna de 1922 quanto as mais recentes experimentações de Caetano, Gil e Chico Science. Traz indicações de leituras e questões úteis para o trabalho dos professores.

Graças a Mário, aprendemos a nos orgulhar do barroco das cidades históricas mineiras e a proteger o patrimônio histórico nacional. Ele nos instiga a valorizar o nosso DNA, sem aquela inveja quase atávica do chamado Primeiro Mundo. Quase sete décadas depois de sua morte, ainda ouvimos o provocador Mário: “Orgulhe-se de sua língua falada”; “valorize as lições do povo”, “pare de macaquear a Europa”. 

Turista aprendiz, o autor de Macunaíma mergulhou com gosto na cultura popular, seja ela vinda do Nordeste, do Norte, do sertão, dos índios ou dos caipiras. Fez isso na marra, enquanto elites e intelectuais davam as costas ao país, mirando-se na Europa. O homem nos ensinou a não ter vergonha do Brasil brasileiro. Vacinado contra a xenofobia, sabia “compartilhar” com o mundo já na primeira metade do século 20 – época de Picasso, Dalí, Stravinsky, Lévi-Strauss e tantos outros. 

“Brasilidade não é sinônimo de nacionalismo ingênuo e tampouco de patriotismo. As tensões e ambiguidades de Mário de Andrade e sua relação com o Brasil são constitutivas de seu pensamento e de sua ação, como muitas delas são constitutivas do próprio Brasil”, escreve André Botelho. Ele mostra como o líder modernista e sua geração – Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Sérgio Buarque de Hollanda, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Rodrigo de Mello Franco, Villa-Lobos, Portinari e Gilberto Freyre, entre tantos outros – redescobriram o próprio país para reinventá-lo à luz do século 20.

No livro da coleção Claro Enigma, o leitor toma contato tanto com ideias caras a Mário quanto com a trajetória do intelectual paulistano: a família; os estudos; as viagens reveladoras (destaca-se a “expedição” a Minas Gerais, em 1924); a militância modernista; os embates, as vitórias e frustrações no serviço público; o frutífero diálogo epistolar com companheiros e jovens admiradores.

Para André Botelho, os modernistas, sobretudo Mário, cumpriram a missão de “desgeograficar” o nosso país, amalgamando não apenas as regiões, “como também o espaço social em sua complexidade, aproximando as gentes, as práticas culturais, a língua escrita das faladas, o erudito do popular”.

Mário de Andrade se propôs a dar uma alma ao Brasil. Noventa anos depois da Semana de 1922, ele ainda serve de farol à sua gente.

DE OLHO EM MÁRIO DE ANDRADE
. Uma descoberta intelectual e sentimental do Brasil
. De André Botelho
. Claro Enigma, 141 páginas, R$ 26,50