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O pianista e percussionista Antonio Loureiro já prepara a segunda turnê no Japão |
Antonio
Loureiro acaba de lançar um disco só no Japão, gravado com músicos
locais durante sua primeira visita ao país, em 2013 – a segunda já está
marcada para o mês que vem. Alexandre Andrés teve seu Macaxeira fields
premiado como melhor álbum brasileiro do ano passado pela revista
nipônica Latina, incluindo versão com letras traduzidas para o japonês.
Rafael Martini, cujo Motivo também foi levado para lá, quase perdeu a
conta dos japoneses que lhe pediram amizade no Facebook – muitos ele nem
sabe quem são.
Esses são apenas alguns exemplos de jovens
músicos mineiros (ou que aqui construíram carreira) integrantes da nova
fornada de brasileiros “devorados” pelo público japonês, frequentemente
descrito como extremamente atento, curioso e respeitoso em relação ao
que é produzido no país. Em termos de exportação, a bossa nova é
consumida lá há muitos anos: Roberto Menescal, Joyce Moreno e Wanda Sá
são habitués – Minas Gerais engrossa essa lista com Toninho Horta,
Affonsinho e o duo Renato Motha e Patrícia Lobato, entre outros.
“No
Brasil, o público cresce constantemente, mas aqui tem menos gente
identificada com esse som do que lá. O mercado fonográfico japonês
funciona até hoje. As pessoas abrem lojas de disco, o mercado funciona e
funciona de um jeito eclético. As pessoas ouvem um monte de coisas
diferentes. Respeito muito esse público, que quer ouvir de tudo e
conhece muito de tudo”, conta o pianista e percussionista Antonio
Loureiro. Seu novo disco, In Tokyo, acaba de sair apenas no Japão pelo
selo NRT, de Yoshihiro Narita, produtor que abre as portas desse mercado
para os mineiros.
O primeiro disco de Loureiro foi lançado lá e
cá; Só, o segundo, teve prensagem japonesa e letras traduzidas; Aqui é o
meu lá, com o violonista Ricardo Herz, está em fase de importação. O
álbum mais recente registra sua performance ao vivo ao lado de três
instrumentistas japoneses. “São músicos que têm público lá. O show ficou
lotado, foi surreal. O público conhecia meu trabalho e depois fiquei
duas horas assinando discos – meus e projetos de que participei com o
Ramo, Kristoff Silva, Rafael Martini, Alexandre Andrés. Um público muito
grande se identifica com um monte de outras coisas”, diz.
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Rafael Martini já perdeu a conta de quantos amigos japoneses ganhou no Facebook |
ACESSO O
cantor e compositor Alexandre Andrés acompanhava de longe o interesse
pela música mineira até receber de Narita um e-mail, no qual o produtor
se mostrava interessado em lançar Macaxeira fields. O CD chegou-lhe por
meio do pianista André Mehmari, que assinou a direção musical do
trabalho. A edição tem letras traduzidas para o japonês e arte
especialmente desenvolvida para o mercado oriental. O primeiro disco de
Andrés, Agualuz, e o mais recente, Olhe bem as montanhas, também estão
nas lojas nipônicas. “Convite ainda não tive, mas quero ir lá”, afirma
Andrés.
No Facebook, ele percebeu a presença de vários japoneses
interessados em seu trabalho e em sua página no Soundcloud (na qual é
possível ouvir músicas) – a maioria das visitas era do Japão, à época do
lançamento de Macaxeira fields. O pianista Rafael Martini calcula ter
cerca de 100 amigos japoneses no Facebook. “Alguns nem sei quem são”,
diverte-se. “Já achei um artigo de lá me comparando à pianista Maria
Schneider. Nunca falo dela, mas é uma influência importante para mim. Os
caras têm ouvido muito especial”, elogia.
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Alexandre Andrés ganhou prêmio da revista Latina
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IRENE A
cantora Irene Bertachini, que enviou 170 cópias de seu disco de
estreia, Irene preta, Irene boa, para o Japão, diz que esse contato tem
dupla importância. “Para artistas como eu, é uma quantidade muito boa e
interessante ver que os japoneses ainda apreciam o disco físico. Quando
você tem só o MP3, desvincula o trabalho de todo o processo gigantesco
da música: compositor, arranjo, músicos. O MP3 facilita o acesso, mas
tira um pouco da profundidade da fruição”, analisa. Discos de outros
projetos de que ela participa, Coletivo A.N.A. e Elas de Minas, também
foram para lá.
Turnês e amizadesA
relação com o Japão, lembra o cantor e compositor Renato Motha, começou
há exatos 10 anos com o convite para lançar lá o álbum Dois em Pessoa,
com poemas de Fernando Pessoa musicados em parceria com a mulher, a
cantora Patrícia Lobato. De lá para cá, foram mais CDs – dois exclusivos
para o mercado oriental. In mantra foi considerado melhor disco de
música brasileira pela revista Latina, em 2010. O casal fez turnês no
país em 2009, 2010 e 2012. Em 2012, o artista ainda participou da versão
belo-horizontina do festival japonês Sense of Quiet, a cargo de
Yoshihiro Narita.
Seu recém-lançado disco Menino de barro já está
à venda no país. “O público japonês é único. Profundo conhecedor da
nossa música, sensível, respeitoso. Estabelece ressonância sutil e ao
mesmo tempo entusiasmada com o músico durante toda a apresentação, o que
nos inspira a sempre darmos o melhor de nós”, avalia.
O cantor e
compositor Affonsinho ainda não foi ao Japão, apesar de já ter sido
convidado, mas comemora o fato de ter vários discos lançados lá desde
2000. O músico gosta de contar o caso da amiga japonesa que ganhou. “Ela
foi a um show do Milton Nascimento no Japão e, na saída, encontrou o
baterista Lincoln Cheib. Pegou com ele meu telefone e quis me conhecer e
me entrevistar, quando veio ao Brasil. Foi lá em casa, sabia tudo da
vida da gente, quis ver o meu violão, a cadeira que usava para compor e
ficou amiga do meu filho Fred. Morou seis meses aqui”, revela.
Três perguntas para...YOSHIHIRO NARITAProdutor
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Yoshihiro Narita
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Como você teve o primeiro contato com a música mineira?
Foi
com o LP Clube da Esquina, de 1972. Fiquei surpreso e ele me tocou.
Isso há 20 anos, quando tinha uns 19 e esse era um álbum clássico nos
meus círculos de amizade. Os LPs brasileiros foram muito populares entre
a minha geração. Claro que eram pequenos círculos, mas as cabeças
musicais eram várias. Gente que gostava de jazz, club jazz e house, por
exemplo, conhecia Tudo que você podia ser. Gente influente, como o
colecionador e dono de selo Giles Peterson, apresentou essas canções.
Há interesse especial dos japoneses pela música mineira?
Sim.
Antonio Loureiro se tornou um músico brasileiro conhecido. Alexandre
Andrés recebeu prêmio de melhor álbum brasileiro de 2013, da revista
japonesa Latina, por Macaxeira fields. The sound of young Minas, a
exemplo de The sound of young America (Motown Records), está se tornando
tendência entre as cabeças musicais daqui. Além disso, Renato Motha e
Patricia Lobato são populares devido a nove discos e três turnês. Milton
Nascimento e Toninho Horta, é claro, são conhecidos pelos japoneses
desde os anos 1970.
Os mineiros apontam grande diferença entre os públicos daqui e do Japão. Você concorda? Como definiria o consumidor japonês?
Sim
e não. A maioria do público japonês está interessada em coisas do tipo
música do passado, mas essa é a situação de quase todo o planeta
atualmente. Além disso, muitos japoneses conseguem perceber a beleza da
música brasileira com facilidade. Nós talvez adoremos a suavidade e o
caráter melodioso da língua portuguesa falada no Brasil.