sábado, 19 de julho de 2014

João Paulo - Mito da competência‏

Mito da competência
João Paulo
Estado de Minas: 19/07/2014


Marilena Chauí faz da filosofia um instrumento de compreensão e transformação da realidade social     (Ricardo Stuckert/Divulgação)
Marilena Chauí faz da filosofia um instrumento de compreensão e transformação da realidade social


Todo mundo defende a competência. Se você tiver que cair na mão de um cirurgião ou construir sua casa, certamente vai querer conhecer as credenciais dos profissionais que vão se encarregar de mantê-lo vivo e com a casa de pé. No entanto, o que deveria ser traduzido como capacidade de realização prática foi sendo substituído ao longo do tempo por uma escala valorativa em que uns são mais competentes que outros. A base de meritocracia está justamente aí: os melhores merecem lugar de destaque e maior confiança da sociedade. Nada mais transparente, nada mais perigoso.

Como toda forma de ideologia – e a competência é uma delas –, o discurso que valida aquelas decisões se faz a partir de verdades universais que são, na realidade, construções sociais. E é a crítica dessa elaboração mítica e ideológica que está na base do livro A ideologia da competência, que reúne textos de Marilena Chauí publicados na imprensa, em revistas especializadas ou como capítulos de livros. O volume é o terceiro da série Escritos de Marilena Chauí, com organização de André Rocha, lançado recentemente pela Editora Autêntica. Os anteriores tratavam da servidão voluntária e do autoritarismo brasileiro.

Marilena Chauí teve carreira acadêmica reconhecida no Brasil e no exterior, com reflexões na área da filosofia moderna e contemporânea. Com vasta obra de caráter mais técnico, dedicada sobretudo a Espinosa (1632-1677) e Merleau-Ponty (1908-1961), escreveu ainda sobre história da filosofia antiga, analisou a repressão sexual da sociedade ocidental (tão orgulhosa de sua liberdade de fachada), coordena trabalhos na área de introdução ao pensamento filosófico, além de participar do debate intelectual e político no Brasil, por meio de intervenções na imprensa, em seminários e congressos. Intelectual pública, teve ainda experiência administrativa, como secretária municipal de Cultura de São Paulo, durante a gestão de Luiza Erundina.

Com tantas credenciais, Marilena bem que poderia se sentar no trono da própria “competência”. Uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, ela tinha tudo para assumir a postura de guru da esquerda brasileira, com suas análises sempre refinadas e contundentes dos descaminhos do neoliberalismo em política, economia e cultura. Mas é exatamente pelo fato de desconfiar da ideologia da competência que ela escolheu a tarefa mais dura: enfrentar o debate público com as armas dos argumentos. A nova coletânea de textos é a reafirmação desse projeto.

A ideologia da competência é um livro plural, com textos publicados num longo arco de tempo e com temáticas diferentes. Mas que se unifica na tese central: há uma modernização do autoritarismo brasileiro em curso. O que a ideologia da competência tem a ver com isso? Tudo. É por meio da ideia de que há um discurso verdadeiro sobre a dinâmica e gestão da sociedade que se valida a perspectiva antipopular que parece nos definir tão bem. Com isso, as pessoas são isoladas das decisões, como consequência de sua incompetência intrínseca. As grandes questões políticas são sérias demais para ficar na mão do povo. De um lado, os competentes, de outro, os obedientes. Manda quem sabe (tradução malandra do “manda quem pode”).

A ideia da construção de um cenário de competência não é nova. Ela já passou por outros estágios do modo de produção capitalista, que remonta aos processos fordistas de produção científica. O que difere no atual momento é a sofisticação dos instrumentos ideológicos e a construção sutil do consenso em torno dos especialistas. Por isso, em vez de falar de igualdade, é sempre mais “técnico” perguntar pela produtividade; no lugar da democracia política, com seus conflitos necessários, entram em cena os tecnocratas com seus choques de gestão. A metáfora do choque é interessante: ela lembra um remédio que faz mal ao paciente, incapaz de perceber que tudo é feito “para seu bem”. É a mesma lógica que ameaça o tempo todo com “medidas impopulares”. O povo, afinal de contas, não sabe o que é bom para ele.

Em outros termos, há uma atualização das estratégias convencionais de exclusão popular, por meio de ferramentas consideradas mais avançadas. O que Marilena Chauí vai mostrar em seu livro é que o autoritarismo moderninho afronta, entre outros territórios fundamentais da vida da sociedade brasileira, a universidade pública, os meios de comunicação e a política. Para cada um desses terrenos, ela apresenta um conjunto de análises que vão desenhando as peculiaridades do funcionamento da ideologia da competência no neoliberalismo e na pós-modernidade.

No caso da educação, no sentido mais amplo, e da universidade, em particular, a pensadora mostra como o autoritarismo mudou de temperatura com o tempo. Durante a ditadura militar, o projeto era voltado para um modelo de crescimento do qual o homem era mero instrumento. Educação e treinamento se igualavam no âmbito da sociedade administrada. É nesse cenário que a ideologia da competência se torna uma exigência da economia, como formação de mão de obra, e não do desenvolvimento de consciências, como pensamento crítico. O que se viu no país foi a educação a reboque da tecnocracia, a universidade livre tutelada pelos interesses de mercado, o pensamento amortecido pelos padrões de rendimento.

Com o fim da ditadura e o novo modelo econômico, com a hegemonia do neoliberalismo, o autoritarismo puro e simples foi sendo trocado pela ideologia. O saber se instrumentaliza, a universidade passa a ser questionada em seu financiamento público e autonomia. Marilena vai denunciar a relação de classes presente na universidade e detonar a cobrança por produtividade que atende muito mais aos interesses industriais do que propriamente de conhecimento. A filósofa identifica os dois lados pouco livres da universidade: do ponto de vista econômico, voltado para fortalecimento das forças produtivas; e do ponto de vista político, com o encolhimento do espaço público em favor de interesses privados.

A pensadora também volta seus argumentos para os meios de comunicação. Marilena critica a pasteurização do discurso da imprensa (dirigido mais pela emoção que pela razão), aponta seu caráter monopolista e familiar, sua cruzada contra a cultura nacional-popular (em nome do imaginário que atenda ao mercado internacional) e a fragmentação da linguagem que destrói a inteligência. Chauí analisa a criação de simulacros, a destruição da esfera da opinião pública e a instauração da condição pós-moderna, com tudo de dissolvente que ela carrega.

A ideologia da competência é um livro de combate. Ensina que a crítica precisa ser exercitada e que a filosofia, muito além de uma disciplina teórica, é uma forma de pensamento em ação. Curiosamente, num dos textos mais fortes do livro, Marilena Chauí defende o direito de se calar. Ao ser questionada pela mídia, da qual faz um retrato iracundo e desconfiado, teve a coragem de virar as costas e dizer: “Não falo”. Como o torturado que se nega a dar o poder ao torturador, o pensamento sabe usar a liberdade para bradar o seu não. Que ninguém, no entanto, duvide da força das palavras da filósofa. Mas é preciso saber procurá-las nos lugares certos. Essa não é uma lição menor.


 jpaulocunha.mg@diariosassociados.com.br

Carta a Ignacy Sachs, pioneiro na cooperação Índia-Brasil‏

Carta a Ignacy Sachs, pioneiro na cooperação Índia-Brasil
Maurício Andrés Ribeiro
Estado de Minas: 19/07/2014


O primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi, a presidente Dilma Rousseff e o presidente chinês Xi Jinping durante o encontro do Brics, quarta-feira, em Brasília     (Sergio Moraes/Reuters)
O primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi, a presidente Dilma Rousseff e o presidente chinês Xi Jinping durante o encontro do Brics, quarta-feira, em Brasília


Prezado Professor Sachs,

O Brasil sedia uma reunião do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – da qual podem resultar avanços na cooperação entre esses países que, juntos, têm 40% da população mundial e 24% da área de terras do planeta.

 Durante mais de 65 anos, trabalhaste para a cooperação Brasil-Índia. Em uma entrevista, impressionado com a independência da Índia em 1947, perguntavas: “Como um país colonizado consegue se livrar da dominação do maior império colonial do mundo quase sem derramamento de sangue? A mensagem é absolutamente extraordinária”(in Estudos avançados, “Entrevista com Ignacy Sachs”, dezembro de 2004).

Gandhi enfatizava a importância da autolimitação das necessidades e foi para ti uma referência no tema do desenvolvimento: “Gandhi para mim era e continua a ser o precursor das boas teorias de desenvolvimento, pela maneira como considerava a massa camponesa como o ator central do processo de desenvolvimento.” Também foste inspirado pelo Nobel de Economia Amartya Sen: “Foi a leitura de Amartya Sen que me levou a propor a reconceitualização do desenvolvimento em termos de universalização efetiva do conjunto das chamadas três gerações de direitos: os direitos políticos, civis e cívicos (a democracia como pedra angular, foundational value, diz Sen); os direitos econômicos, sociais e culturais, incluindo o direito ao trabalho decente; e por último os direitos coletivos do desenvolvimento, ao meio ambiente, à infância”. (A terceira margem)

Nos anos 1950, enquanto fazias o doutorado em Delhi, vivenciaste o forte prestígio internacional daquele país, que demonstrava grande confiança em si próprio e que recebia chefes de estado e cientistas sociais de fama mundial. Também são presentes em teus textos a admiração pela Índia, descrita como terra de inspiração e laboratório do desenvolvimento. Neles, expressas sua dívida intelectual para com os indianos e nomeias aqueles de quem recebeste estímulos: os economistas K. N. Raj, ex-reitor da Universidade de Delhi; Sukihomoy Chakravarti; Deepak Nayar, reitor da Universidade de Delhi; Amartya Sen. Além deles, relembras a importância dos contatos com outros cientistas, tais como o politólogo Rajni Kothari; o historiador da ciência Rahman; Ashok Parthasarathi; Amulya K. N. Reddy; M. S. Swaminathan; Anil Agarwal; o ecologista Gadgil e o historiador Guha.

Ao acreditar na importância da cooperação entre países tropicais, que podem construir civilizações modernas da biomassa, enfatizas a necessidade de abre-alas para esse desenvolvimento e propões que o Brasil e a Índia assumam tal posição. Reforçaste a importância de nos aproximarmos dos indianos através de rede de cooperação técnica por biomas. Ao postular a reforma da ONU, enxergas as possibilidades da liderança colaborativa desses dois países no aprimoramento das instituições internacionais, oxigenando o ambiente e fazendo circular ideias novas, originárias do pensamento do sul.

Hoje, continuam precários os laços culturais e de comunicação entre esses países. Para transpor esse abismo, propões estabelecer um centro de pesquisa sobre o Brasil contemporâneo em uma universidade indiana e um centro de pesquisa sobre a Índia contemporânea em uma universidade brasileira e intercambiar estudiosos e bolsistas, criando massa crítica de pessoas que lancem pontes de cooperação. Seria uma estratégia para, em poucos anos, formar um conjunto de jovens com melhor conhecimento mútuo.

Prezado Professor Sachs,

A Índia é uma terra fértil para se estudar e compreender a evolução humana e o papel que a nossa espécie desempenha nessa atual crise da evolução. O conhecimento aprofundado sobre psicologia e sobre a natureza do ser humano encontrado em filosofias indianas ajuda a lidar com esse grande ator da crise atual. No campo da ecologia do ser, dos estudos da consciência e da educação integral, a civilização indiana é guardiã de riquezas valiosas para a autossuperação humana.

A cosmovisão indiana propõe que cada um de nós nessa vida tem seu dharma, sua missão ou tarefa a cumprir. Trabalhar pela aproximação Índia-Brasil tornou-se parte de meu dharma, que exerço com alegria. Agradeço à Índia pela inspiração que me proporcionou.

Nos idos de 1977, quando pus os pés na Índia pela primeira vez, sabia que percorria caminhos que trilharas, pioneiramente, nos anos 50. Sou grato pelas orientações e pelas valiosas referências que me ofereceste desde então. Sinto-me em ótima companhia filosófica e intelectual, que me estimula a prosseguir no caminho das Índias.

Cordialmente, aqui me despeço com um grande abraço,

Maurício.

. Maurício Andrés Ribeiro é ex-pesquisador visitante no Indian Institute of Management, Bangalore. Autor de Tesouros da Índia para a civilização sustentável. www.ecologizar.com.br

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 19/07/2014



 (Warner/Divulgação)
O melhor do cinema

Muito se esperava de  O cavaleiro solitário, mas o filme estrelado por Johnny Depp só merecia mesmo as indicações ao Oscar nas categorias maquiagem e efeitos visuais, como se pode comprovar hoje à noite, às 22h, no Telecine Premium. Melhor opção é O grande Gatsby, com Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan (foto) à frente de um elenco que conta ainda com Tobey Maguire, Joel Edgertonm e Isla Fisher, estreando também às 22h, na HBO. Já o clássico A noite de São Lourenço, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, vai ao ar no Futura, igualmente às 22h.

Muitas alternativas na
programação de filmes


Sábado costuma ter as famosas sessões especiais, como faz o Telecine Touch, homenageando dois ícones da música internacional: Ray Charles (Ray, às 14h35) e Tina Turner (Tina, às 17h10). Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito alternativas: O príncipe, no Canal Brasil; Achados e perdidos, no Sony; O livro de Eli, no Universal; Intocáveis, no Megapix; Sex and the city 2, no TBS; Além da escuridão – Star Trek, no Telecine Pipoca; Um homem sério, no Telecine Cult; e A outra história americana, no TCM. E mais: Ervas daninhas, às 20h, no Arte 1; O amor acontece, às 20h, no A&E; Encurralada, às 21h, no AXN; Biutiful, também às 21h, no Cinemax; Zumbilândia, às 21h30, na TNT; Carga explosiva, às 22h30, na Fox; e Guerra é guerra!, às 22h30, no FX.

Série New girl encerra
o terceiro ano na Fox

A terceira temporada de New girl chega ao fim hoje, às 18h, no canal Fox. Nomeada para o Globo de Ouro como melhor comédia, a série gira em torno de Jess Day (Deschanel), uma garota não convencional que, depois de uma separação difícil, passa a morar com três homens solteiros, Nick (Jake Johnson), Schmidt (Max Greenfield) e Coach (Damon Wayans Jr.). No último episódio, “Cruise”, Coach tenta superar seu medo de barcos, Schmidt tenta reconquistar Cece (Hannah Simone) e Winston (Lamorne Morris) tenta ajudar Jess e Nick a ficarem juntos novamente.

Atleta adaptado vai dar
uma aula de superação


O canal Off estreia hoje, às 21h30, a série Sem limites. Inspirada no empresário e multiesportista adaptado André Cintra, que teve a perna amputada após sofrer um acidente de moto, os três episódios mostram a superação dele por meio dos esportes radicais. André foi um dos destaques do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Sochi, em março na Rússia.

Esta noite tem show ao
vivo de Saulo Fernandes


A banda Primos Distantes participa hoje do programa Cultura livre, às 18h, na Cultura. Já às 23h, a emissora exibe o documentário Sou feia mas tô na moda, com Tati Quebra-Barraco, DJ Marlboro e a Gaiola das Popozudas, entre outros nomes do funk carioca. No Multishow, às 20h30, tem o ex-vocalista da Banda Eva Saulo Fernandes, ao vivo diretamente de Brasília. Ainda no Multishow, às 23h30, é a vez de Diogo Nogueira e Arlindo Cruz. E no Film& Arts, às 21h, o show fica por conta de Sheryl Crow no festival Avo Session Basel, na Suíça.


CARAS & BOCAS » Antes do palco
Simone Castro
Publicação: 19/07/2014


Eliana em bate-papo exclusivo com Anitta, no hotel, algumas horas antes de a cantora fazer um show (Artur Igrecias/sbt)
Eliana em bate-papo exclusivo com Anitta, no hotel, algumas horas antes de a cantora fazer um show

No programa Eliana deste domingo, às 15h, no SBT/Alterosa, a apresentadora faz uma entrevista exclusiva com Anitta direto de um hotel luxuoso, onde estava hospedada antes de um show. Ela acompanha toda a preparação da cantora até poucos momentos de subir ao palco, como cabelo, maquiagem, jantar, escolha de figurino, entre outros detalhes. Depois de algumas horas com Anitta, Eliana descobriu segredos de beleza, falaram sobre homens e qual é o tipo ideal. A apresentadora ficou sabendo por quais famosos ela se interessaria e, ainda, investigou por qual motivo Anitta continua solteira. A cantora também revela que sempre assiste ao programa com sua mãe e comenta que o cabeleireiro Rodrigo Cintra “é um gato”. Por falar em Cintra, ele traz, nesta edição, dicas valiosas para as mulheres sobre como recuperar cabelos maltratados depois do uso de química, cuidar dos fios, além de sugestões de corte para melhorar cada caso.

BOLA NA ÁREA TRAZ BONS
DEBATES SOBRE FUTEBOL


Péricles de Souza comanda o Bola na área deste sábado, às 12h30, na TV Alterosa, com debate sobre a retomada do Campeonato Brasileiro, depois da Copa do Mundo. A atração também avalia o desempenho do Atlético na Recopa. O Galo venceu a partida de ida contra o Lanús, na Argentina, e agora disputa a final na quarta-feira, no Mineirão.

ENCONTRO CASUAL PODE DAR
INÍCIO A NOVO ROMANCE


Em Geração Brasil (Globo), no capítulo de terça-feira, Verônica (Taís Araújo) e Herval (Ricardo Tozzi) se conhecerão, casualmente, durante um voo entre Brasília e o Rio de Janeiro. A jornalista tropeça e cai sentada no colo de um passageiro. Nada menos do que Herval. Os dois se olham e rola uma atração imediata, de acordo com o site da novela. Envergonhada, ela pede mil desculpas, já que até estragou a leitura dele. “É a revista de bordo, nenhuma grande perda”, minimiza Herval. E quem está na capa? Jonas Marra (Murilo Benício)! Sem pensar, Verônica desabafa: “Ainda mais sendo o Jonas Marra”. Ela disfarça e volta para o seu lugar, mas Herval fica impressionado com a jornalista. Ainda mais com essa opinião sobre seu maior desafeto... Já na hora do desembarque, Verônica se atrapalha para pegar a bagagem e Herval se oferece para ajudá-la. O toque do celular de Verônica interrompe o climinha entre os dois. “Tô vendo que você é bem mais perigosa do que eu imaginava. Deixou o celular ligado durante o voo”, brinca Herval. Os dois se olham com interesse, mas Verônica acaba atendendo ao telefone e se afastando do rapaz.

CASAMENTO GAY EM SÉRIE
É PARA ADOTAR CRIANÇA


Cancelada, a série Two and a half men, exibida no Brasil pelo canal Warner (TV paga) e no SBT/Alterosa, terá estreia de sua última temporada, a 12ª, em outubro, nos Estados Unidos, e já promete. Segundo revelação, anteontem, da chefe de entretenimento do canal CBS, Nina Tassler, Walden e Alan, respectivamente, personagens de Ashton Kutcher e Jon Cryer, vão se casar e adotar um bebê. “Walden terá um problema de saúde grave, o que vai lhe causar uma crise existencial”, adianta Nina. “Então, vai querer encontrar algum sentido na vida e decidirá adotar um filho.” Mas, ele vai se deparar com a burocracia para se adotar sendo solteiro. Daí, o bilionário vai pedir Alan em casamento e dá entrada no processo como um casal gay.

 (SBT/Divulgação)


PERTO DO DINDIM


Celso Portiolli (foto) vai mostrar no Domingo legal, amanhã, às 11h, no SBT/Alterosa, matéria exclusiva de sua visita à Casa da Moeda, em Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Confira como o dinheiro é feito, desde a impressão da cédula de segurança até a finalização, as curiosidades e mudanças nas cédulas do real. Já no quadro “Stand up legal”, três comediantes fazem suas apresentações e tentam agradar aos jurados Alexandre Porpetone, Gigante Léo e a atriz Carla Fiorone. O mais engraçado leva prêmio em dinheiro. O “Passa ou repassa” recebe atores do elenco de Chiquititas, como Júlia Oliver, que interpreta Pata, e Gabriel Santana, que vive Mosca.

VIVA
O inverno chegou em Meu pedacinho de chão (Globo) e o cenário remete à estação, com destaque para a neve! Belíssimo!

VAIA
Áudio de O rebu (Globo) deixa a desejar em algumas cenas. Às vezes não se ouve o que certos personagens dizem. 

Do lado do povo [João Ubaldo Ribeiro] - Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 19/07/2014

Do lado do povo -  Carlos Herculano Lopes
 
Com Viva o povo brasileiro, João Ubaldo Ribeiro escreveu a saga da formação brasileira a partir do olhar das pessoas comuns





Morre aos 73 anos o escritor João Ubaldo Ribeiro, autor de Sargento Getúlio.  Romancista baiano teve obras adaptadas para o teatro, cinema e televisão   (Márcia kranz/divulgação)
Morre aos 73 anos o escritor João Ubaldo Ribeiro, autor de Sargento Getúlio. Romancista baiano teve obras adaptadas para o teatro, cinema e televisão


O escritor João Ubaldo Ribeiro, autor do épico Viva o povo brasileiro, morreu na madrugada de ontem, de embolia pulmonar, aos 73 anos. Ele estava em sua casa, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, quando se sentiu mal por volta das 3h. Baiano de Itaparica, era um dos mais celebrados escritores brasileiros, imortal da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1993, onde ocupava a cadeira de número 34. O corpo foi velado, como manda a tradição, na sede da ABL. O enterro deverá ser realizado hoje, às 10h, no mausoléu da academia, no Cemitério de São João Batista, em Botafogo. A família espera a chegada da filha do escritor, Manuela, que mora na Alemanha.

Nascido em 23 de janeiro de 1941, com apenas dois meses João Ubaldo foi com a família para Sergipe, onde viveu até os 11 anos. Em Aracaju, onde os Ribeiro passaram a morar, seu pai, Manoel, trabalhou como professor e advogado. Muitos anos depois, após ter morado por um período no Rio de Janeiro e em Lisboa, ele voltaria a viver em Itaparica, onde permaneceu por sete anos. Adorava a ilha, que lhe serviu de inspiração para muitos textos e onde era querido por todos os moradores.

Nas andanças da família, já de volta à Bahia, foi matriculado no Colégio Sofia Costa Pinto e depois transferido para o Colégio da Bahia, também conhecido como Colégio Central. Foi ali que conheceu e se tornou amigo do cineasta Glauber Rocha, com quem chegou a editar revistas culturais na juventude, além de participar do movimento estudantil. Foram muito ligados até a morte de Glauber, em 1981.

Formado em direito pela Universidade Federal da Bahia, João Ubaldo Ribeiro não chegou a exercer a profissão. A literatura o conquistou desde cedo. Seu primeiro livro, Setembro não tem sentido, foi escrito quando tinha 21 anos e já dava mostras, pela densidade do texto, do que viria em seguida. O primeiro nome que escolheu para o romance de estreia foi A semana da pátria, mas um editor o convenceu a mudá-lo. O mesmo ocorreria com outro livro, Vencecavalo e o outro povo, de 1974, que pela vontade do autor se chamaria A guerra dos paranaguás.

Entre as atividades que exerceu antes de dedicar-se exclusivamente à literatura, foi professor da Escola de Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e jornalista. Foi repórter, redator, chefe de reportagem e colunista do Jornal da Bahia, e editor-chefe da Tribuna da Bahia. Velhos colegas de profissão até hoje falam da sua brilhante passagem pela imprensa baiana. Ultimamente, publicava crônica semanal em jornais do Rio e de São Paulo, além de colaborar com o Jornal de Letras, de Portugal, o Times Literary Suppplement, da Inglaterra, e o Frankfurter Rundschau, da Alemanha.

Ainda no início da carreira de ficcionista, João Ubaldo foi um dos jovens autores brasileiros a participar do International writing, programa da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Em 1964, o escritor fez mestrado em ciência política na Universidade da Carolina do Sul, curso que está na base do único ensaio que publicou, Política: quem manda, por que manda, como manda, de 1981. O romancista também morou em Berlim entre 1990 e 1991, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio. Sobre a sua experiência na Alemanha, deixou um delicioso livro de crônicas, Um brasileiro em Berlim.

A consagração veio em 1971 com a publicação do romance Sargento Getúlio, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti como autor estreante. Traduzido para várias línguas, a novela, de acordo com a crítica, “sintetizava o melhor de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa”. O livro foi levado ao cinema por Hermano Pena, em 1983, com Lima Duarte no papel principal. Atualmente, Sargento Getúlio circula o Brasil em adaptação para o palco do Grupo de Teatro NU, da Bahia.

As obras de Ubaldo sempre foram vistas com interesse por diretores de teatro, cinema e televisão. O romance O sorriso do lagarto, de 1989, foi adaptado para minissérie da TV Globo, no início da década de 1990, com Tony Ramos, Maitê Proença e José Lewgoy no elenco. O apimentado romance A casa dos budas ditosos ganhou uma elogiada adaptação para o teatro em 2003, em monólogo de Fernanda Torres, com direção de Domingos de Oliveira. O espetáculo deu à artista o Prêmio Shell de melhor atriz naquele ano.

Épico popular

Seu livro de maior repercussão entre os leitores e a crítica foi o romance Viva o povo brasileiro, que Ubaldo começou a escrever em 1982, com o título provisório de Alto lá, meu general. Lançado em 1984, daria ao autor outro Jabuti, além de traduções em vários idiomas. Romance caudaloso, conduzido com ritmo épico e humor, Viva o povo brasileiro cruza dados históricos com elementos da cultura popular, propondo outro olhar sobre a formação do brasileiro. João Ubaldo construiria com seu livro uma obra de forte peso político – pela visão popular e a contrapelo da história oficial –, realizada com sofisticado tratamento da linguagem.

Nesta época, na companhia do colombiano Gabriel García Márquez e do argentino Jorge Luis Borges, João Ubaldo foi um dos convidados para participar de uma série de filmes sobre a América Latina, produzidos por uma rede de televisão do Canadá. Três anos depois do lançamento de Viva o povo brasileiro, o livro foi escolhido como tema do samba-enredo da Escola de Samba Império da Tijuca.

No encerramento de seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 1994, ele disse com emoção: “Tendo sido criado em Sergipe até os 11 anos, não posso deixar de ser meio sergipano; tendo nascido em Itaparica, sou baiano. Agradeço, abraço e peço a bênção ao povo da Bahia e de Sergipe. Imagino que agora, lá na ilha, algum itaparicano levanta um copo em minha lembrança, e lá, em Aracaju, tão doce e amável na minha infância, algum amigo antigo fala em mim com orgulho conterrâneo”.

Em 2008, o escritor foi escolhido para receber o Prêmio Camões, o mais importante para autores de língua portuguesa. João Ubaldo Ribeiro foi casado com Maria Beatriz Moreira Caldas, com quem teve dois filhos, Emílio e Manuela. Em 1980, se casou com Berenice de Carvalho Batella Ribeiro, com quem teve dois filhos, o ator Bento Ribeiro e Francisca.



“Minha geração se vai. Companheiro de tantas viagens, conversas, risos. Um personagem. Foi se encontrar com Glauber,
a quem venerava, com Jorge Amado, que idolatrava, com Zélia, com Scliar. Assim como ele disse, décadas atrás, em um hotel de Colônia, aos gritos: ‘Que falta você faz, Glauber’, digo agora, ‘Que falta você faz João Ubaldo’.”

. Ignácio de Loyola Brandão, escritor e jornalista


“Foi uma surpresa, um choque para a academia. Ele estava muito bem disposto, em um momento de plena produção literária. É uma grande perda para as letras. Ele renovou a literatura brasileira. Com a publicação de Viva o povo brasileiro ele inaugurou uma nova etapa do nosso romance.”

. Geraldo Holanda Cavalcanti, presidente da Academia Brasileira de Letras


“João Ubaldo foi um escritor revolucionário. Trouxe nova dicção para a literatura focada nos personagens populares do Brasil. Fez da ilha de Itaparica um resumo do Brasil. Após ciclo de grandes romances, João Ubaldo se destaca por crônicas primorosas, extremamente criativas. Textos que são deliciosos pelo modo como tratam, de forma desabusada e satírica, os problemas brasileiros.”

. Miguel Sanches Neto, romancista e crítico


Um clássico irreverente Para escritores e críticos, a obra de João Ubaldo Ribeiro é referência importante para a literatura brasileira contemporânea, com destaque para o livro Viva o povo brasileiro

Walter Sebastião

 (TV Brasil/Divulgação)

“É com tristeza que recebo a notícia da morte de João Ubaldo, tanto pela perda do ser humano quanto do grande escritor, reunidos num só corpo”, afirma a escritora Nélida Piñon. Ela conheceu o colega nos anos 1960, trocando correspondência com ele. O amigo, conta, foi tipo divertido, irreverente – “de humor rabelaisiano” – e muito crítico, que gostava de ridicularizar a realidade. Para Nélida, o escritor era homem culto, que sustentou trabalho de ficção exercitando o idioma português com riqueza e apuro. “Ele era leitor dos clássicos. Desde cedo entrou nos mistérios da língua portuguesa”, conta, recordando que o pai de João Ubaldo obrigava o filho a ler clássicos portugueses.

Com formação barroca, baiano, observa Nélida, não foi difícil para João Ubaldo abraçar a volúpia “pela excedência” e pela multiplicidade de formas, que, para ela, é fundamento do pensamento do escritor. “O livro Viva o povo brasileiro, para mim o grande romance dele, tem título carnavalesco, como se Ubaldo já soubesse que um dia seria homenageado por escola de samba”, brinca. A obra do escritor não se reduz a esse título, observa a escritora, destacando ainda Sargento Getúlio e A casa dos budas ditosos. Este, de acordo com Nélida, é ideal para quem quer entrar na literatura do baiano “de forma divertida, pela luxúria, por meio de provocação, com linguagem indecorosa no melhor sentido”.

Nelida Piñon fez parte do grupo – “com Afrânio Coutinho à frente” – que foi à casa de João Ubaldo para convencê-lo a se candidatar à Academia Brasileira de Letras. “Ele fez charme, sempre fazia, dizendo que não se importava com a carreira, mas aceitou, não foi empurrado. Inscreveu-se, submeteu-se ao belo ritual da casa e tomou posse”, conta. O escritor foi homem que gostava do bem viver, “de convívio agradável, histriônico e teatral”, mas também era caseiro, acordava cedo para caminhar pelas ruas do Leblon, onde morava. “João Ubaldo levava tempo para concluir um livro, o que é bom sinal, por indicar a seriedade com que tratava a literatura”, observa a colega de academia.

O crítico e romancista Silviano Santiago conheceu o escritor baiano nos anos 1970. “João Ubaldo tem uma das obras mais sólidas da literatura brasileira atual, então é perda grande”, afirma. A obra do escritor dá continuidade à “linha vitoriosa do romance brasileiro”, que vem dos anos 1930, que é o regionalismo. “O que o distancia da linguagem neorrealista é a aproximação, buscando atualização estética com João Guimarães Rosa, sobretudo no que refere à visão inventiva, imaginosa, da língua portuguesa”, explica. Vê, inclusive, guardadas as distâncias, afinidade entre a prosa do baiano e a poesia de vanguarda do fim dos anos 1950.

O projeto cultivado por João Ubaldo, para Silviano Santiago, era escrever o “grande romance moderno brasileiro” de sua geração. “Que tomou forma com Viva o povo brasileiro”, observa. O crítico considera que o livro está para a geração dos anos 1960 (a de Ubaldo) como Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, está para a dos anos 1950, e Macunaíma, de Mário de Andrade, para a dos anos 1920. O estudioso confirma: “É unanimidade que João Ubaldo esbanjava simpatia e bom humor. Foi um tipo popular e sabia disso”, diz.


Regionalismo que se abre para o universal

Letícia Malard/Especial para o EM

O baiano João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) foi um dos mais talentosos, produtivos e diversificados escritores do Brasil contemporâneo. Foi, também, dos brasileiros mais premiados e adaptados para o cinema e a televisão, no país e no exterior. Na primeira década do século 21, várias de suas obras foram traduzidas na Alemanha. Extremamente culto, polêmico e engajado politicamente, sua marca dominante é a denúncia político-social, privilegiando temas e locações da Bahia. Pautadas num regionalismo que se abre para o universal, nelas a tragédia, a ironia e o humor se sobrepõem, numa espécie de continuidade do melhor Jorge Amado, de quem foi amigo e recebeu grandes elogios desde o primeiro livro publicado.

Jornalista, professor universitário de direito e ciências sociais na juventude, tradutor, teatrólogo e sobretudo romancista e contista, Ribeiro foi considerado por grande parte da crítica como o maior romancista brasileiro vivo. O primeiro romance – Setembro não tem sentido (1968) – já anunciava o mestre de estilo que explodiria com Sargento Getúlio (1971). Publicado nos anos mais duros da ditadura militar, seu tema é a condução de um preso por policiais através do sertão, espécie de alegoria ao regime ditatorial. Traduzido no estrangeiro, foi o livro que lhe trouxe notoriedade.

eguiram-se os romances Vila Real (1979), Viva o povo brasileiro (1984), O sorriso do lagarto (1989), O feitiço da Ilha do Pavão (1997), A casa dos budas ditosos: luxúria (1999), Diário do Farol (2002) e O albatroz azul (2009), entremeados com vários livros de contos, crônicas e infantojuvenis.

Concentremo-nos nos romances: na quarta capa do terceiro, Vila Real, Ubaldo já dizia a que vinha: “Sou contra as belas letras, a contrafação, o elitismo. Acho que o principal problema do escritor brasileiro é a busca da nossa linguagem, do nosso fabulário, dos nossos valores próprios”.

É o que se vê com toda a exuberância em Viva o povo brasileiro, um épico que abrange três séculos da história do Brasil contada no espaço do Recôncavo Baiano e no avesso da história oficial. É a saga de um povo em busca de sua identidade e de sua raízes.

O sorriso do lagarto se afasta do universo regionalista, apesar de passar-se em Itaparica. As personagens poderiam viver em qualquer cidade brasileira litorânea, girando em torno de traições, mentiras, vingança e demonismo,

Em O feitiço da Ilha do Pavão retorna o Ubaldo estilista, manejador da língua portuguesa de modo ímpar, não só na sintaxe e no vocabulário, mas também nos elementos satíricos, no riso de si mesmas das personagens e na melhor técnica de montagem da narrativa contemporânea.

No Diário do Farol – narrativa de um religioso monstro, tomado pela doença mental –, o escritor atinge o ápice de sua carreira romanesca. Narrada em primeira pessoa, é uma obra demolidora, ácida, contundente, o que há de melhor em nossa literatura.

Letícia Malard é professora emérita da UFMG.

Um mar de histórias Contos e romances do escritor baiano fizeram sucesso no cinema, no teatro e na televisão. Em Minas Gerais, Ponto de Partida levou para o palco personagens da obra-prima do autor



Carolina Braga

Fernanda Torres em A casa dos budas ditosos, adaptação para os palcos do apimentado romance do escritor baiano (Luciana Prezie/Divulgação)
Fernanda Torres em A casa dos budas ditosos, adaptação para os palcos do apimentado romance do escritor baiano


“Foi meu companheiro de muitas noites”, brinca a diretora do Grupo Ponto de Partida, Regina Bertola. Isso porque os livros do escritor não só frequentaram a cabeceira da cama dela, como um deles serviu de inspiração para um dos espetáculos mais marcantes na carreira da companhia de Barbacena: Viva o povo brasileiro. “Ele foi incrível com a gente. Nosso contato foi só em conversas. Usamos do livro dele o nome e as ideias da Alminha do poleiro das almas e o herói baiano”, lembra Regina.

João Ubaldo não chegou a ver a montagem, que estreou em 1996. O musical era uma proposta muito particular do Ponto de Partida, no sentido de ressaltar a identidade nacional a partir de uma ópera popular. “Ele era muito boa-praça e ficou superorgulhoso porque o texto da personagem Alminha foi escrito por Bartolomeu Campos de Queirós. Ele achou uma proposta diferente e ficou empolgado”, diz Bertola.

Embora não tenha escrito especificamente para teatro, a obra de João Ubaldo é frequentemente levada aos palcos. Uma das adaptações mais marcantes foi o monólogo A casa dos budas ditosos, com Fernanda Torres e direção de Domingos de Oliveira. O espetáculo, que estreou em 2003, deu à artista o Prêmio Shell de melhor atriz naquele ano. Assim como no romance, a personagem narra no palco as experiências sexuais de uma mulher de 68 anos. Na versão teatral, Fernanda Torres sustenta 90 minutos de espetáculo sem se levantar da cadeira. Fica o tempo todo sentada, atrás de uma mesa com um gravador e em nenhum minuto perde a atenção do espectador. Humor e picardia em altas doses.

Atualmente, o Grupo Teatro NU, da Bahia, percorre o Brasil com a montagem de Sargento Getúlio. Em agosto, passará por Belo Horizonte na programação do festival Palco Giratório, do Sesc. Na adaptação de Gil Vicente Tavares, o romance deu origem a um monólogo com o ator Carlos Betão. A peça marcou tanto os cinco anos da companhia como também os 70 de Ubaldo, que esteve presente na plateia. “Homenageá-lo em vida, com nossa montagem de Sargento Getúlio, ao menos deu-nos o consolo, ao Teatro NU, de não repetir o erro recorrente deste país, que, muitas vezes, deixa morrer à míngua grandes homens para depois exaltá-los”, escreveu o dramaturgo no texto publicado no site da companhia.

Para o diretor Gil Vicente Tavares, seja no teatro, no cinema ou na televisão, a adaptação da obra de João Ubaldo Ribeiro sempre demandará esforço. “Por ter um forte teor poético, acho que muitas das grandes obras sejam inadaptáveis, porque valorizam o que a literatura tem como ferramenta”, destaca. Para o dramaturgo baiano, o escritor é um dos grandes romancistas do século 20. “Conseguiu traduzir muito bem essa Bahia, esse Nordeste, o sertão e esse povo do interior. Tem uma força muito grande e um teor poético marcante.”

O ator Carlos Betão na montagem baiana do espetáculo Sergento Getúlio, que chega a BH no mês que vem (Lica Ornelas/Divulgação)
O ator Carlos Betão na montagem baiana do espetáculo Sergento Getúlio, que chega a BH no mês que vem


Com a bênção de Glauber

Curiosamente, a estreia de João Ubaldo na sétima arte foi como ator, em A idade da terra (1980), filme de Glauber Rocha. Como eram grandes amigos, ele fez uma ponta no longa. “Fui apresentado ao João pelo Glauber Rocha. Fiz uma viagem a Salvador para entrevistar o Jorge Amado e o Glauber me disse: ‘Você vai conhecer o maior escritor brasileiro’. Eles eram muito amigos e se pareciam um pouco. Tinham aquele gestual exuberante na maneira de falar e também na maneira de ver o mundo”, comenta o jornalista e escritor Zuenir Ventura.

Depois disso, o nome de João Ubaldo Ribeiro surge em fichas técnicas como o roteirista na adaptação de Sargento Getúlio (1983). O longa dirigido pelo cearense Hermanno Penna e protagonizado por Lima Duarte foi o vencedor do Festival de Gramado, em 1983, com os Kikitos de melhor filme, ator, coadjuvante e som, curiosamente criado por Zé Celso Martinez Corrêa e seu Teatro Oficina.

João Ubaldo voltaria ao cinema em 1996, na adaptação de um clássico de seu conterrâneo Jorge Amado. Foi ele quem assinou o roteiro de Tieta do agreste, longa de Cacá Diegues com Sônia Braga, Marília Pêra e Chico Anysio no elenco. A parceria com o diretor se repetiu em 2003, com o roteiro de Deus é brasileiro, inspirado em O santo que não acreditava em Deus.

 O mesmo conto também serviu de base para um seriado na TV, em 1993. Para a telinha, o trabalho mais marcante ligado ao nome de Ubaldo foi a minissérie O sorriso do lagarto (1991), com dramaturgia de Walter Negrão. Exibida entre junho e agosto de 1991, tinha Maitê Proença, Tony Ramos e Raul Cortez no elenco.

Zuenir Ventura completa dizendo que João Ubaldo deixa um legado como cronista e romancista, sobretudo por sua visão de mundo e independência. “Não era ligado a nenhum partido, não tinha vinculação ideológica. E como escritor deixa essa literatura maravilhosa.”

João Ubaldo escreveu o roteiro de Deus é brasileiro, de Cacá Diegues, filme estrelado por Antônio Fagundes e Wagner Moura (Zeca Guimarães/Divulgação)
João Ubaldo escreveu o roteiro de Deus é brasileiro, de Cacá Diegues, filme estrelado por Antônio Fagundes e Wagner Moura



“A literatura brasileira perde um grande nome com a morte de João Ubaldo Ribeiro. Neste momento de dor, presto minha solidariedade aos familiares, amigos e leitores.”

. Dilma Rousseff, presidente da República, em comunicado oficial


“João Ubaldo é dono de texto poderoso e deixa contribuições muito importantes no conto, na crônica e no romance. É um dos autores mais fortes de minha geração, gente que já está indo embora, como Moacyr Scliar ou os mineiros Oswaldo França Júnior, Roberto Drummond e Wander Piroli. Cada um de nós, à sua maneira, fez mergulho no Brasil. Nosso tema é o Brasil e não é por acaso que temos vários livros com títulos com a palavra ou fazendo alusão à vida brasileira.”

. Antônio Torres, escritor


“Ubaldo era um erudito. Ele pegava esses sambinhas e fazia tudo em latim. Ele sabia latim, inglês, francês, alemão. Viveu muito tempo ma Alemanha. Enfim, ele era muito divertido. Acho que o primeiro a rir dessa embolia é ele. Era um erudito, muito acima dessas coisas todas. Deve estar rindo da embolia e de todas as embolias de que somos vítimas.”

. Lima Duarte, ator


“A obra deixada por João Ubaldo Ribeiro nos auxilia, neste momento, a superar a dor pela sua perda. Imortal das academias de letras do Brasil e da Bahia, irônico e bem-humorado, soube como poucos desvendar as entranhas da epopeia brasileira. Sua crítica social muitas vezes incomodava, porém também apontava caminhos.”

. aques Wagner, governador da Bahia, em comunicado oficial


“O João Ubaldo tinha uma bela voz de barítono e gostava de cantar. A gente brincava que ele era o verdadeiro Dorival Caymmi. Mas não era só a voz: na linha do Caimmy e do Jorge Amado, de quem ele foi herdeiro literário, o João Ubaldo tinha aquela coisa boa que só pode ser chamada de baianice, mistura de bom humor, sensualidade e talento para viver.”

. Luis Fernando Verissimo, escritor


“João Ubaldo Ribeiro era um operário da palavra, muito criativo e bastante sacana. Nunca tivemos proximidade, mas sou seu leitor assíduo. A maneira como ele conta as coisas é uma delícia, é daqueles escritores que repartem sensações. Alguns livros dele são essenciais. Todas as palavras são pobres para dizer o que significa essa perda.”

. Hermínio Bello de Carvalho, pesquisador e compositor


Obras completas

Publicação: 19/07/2014 04:00
» Romances
• Setembro não tem sentido (1968)
• Sargento Getúlio (1971)
• Vila Real (1979)
• Viva o povo brasileiro (1984)
• O sorriso do lagarto (1989)
• O feitiço da Ilha do Pavão (1997)
• A casa dos budas ditosos (1999)
• Miséria e grandeza do amor de Benedita (2000)
• O albatroz azul (2009)

» Contos
• Vencecavalo e o outro povo (1974)
• Livro de histórias (1981)
• Contos e crônicas para ler na escola (2010)

» Crônicas
• Sempre aos domingos (1988)
• Um brasileiro em Berlim (1995)
• Arte e ciência de roubar galinhas (1999)
• O conselheiro come (2000)
• A gente se acostuma a tudo (2006)
• O rei da noite (2008)

» Ensaio
• Política: quem manda, por que manda, como manda (1981)

» Infantojuvenil
• Vida e paixão de Pandonar, o cruel (1983)
• A vingança de Charles Tiburone (1990)

O que não foi escrito - Arnaldo Viana

O que não foi escrito

Arnaldo Viana - arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 19/07/2014




“Brasileiros, brasileiras. Crianças, jovens e adultos. Estamos escrevendo estas mal traçadas linhas para dizer muito obrigado! Confessamos que nos surpreendemos com os ótimos resultados obtidos na Copa do Mundo, embora não devêssemos, porque, acima de tudo, deveria partir de nós o voto de confiança em vocês. Obrigado, trabalhadores do sistema de transporte aéreo, do carregador de malas aos operadores e comandantes de voos, passando pelo setor administrativo, prestadores de serviço e agentes alfandegários. Vocês nos ajudaram a derrotar o vaticínio do caos. Sabemos que não estávamos 100% preparados para receber tantos visitantes, mas a colaboração de vocês, a presteza e a responsabilidade não nos deixaram com cara de tacho.

Obrigado, trabalhadores do transporte coletivo. A dedicação e a paciência no trato com grande fluxo de passageiros, muitos falando em idioma desconhecido por vocês, compensaram as deficiências desse serviço. Houve críticas, sim, mas houve mais elogios. Obrigado, senhores e senhoras, funcionários e funcionárias de bares, hotéis, albergues, hospedarias, pensões, restaurantes, lanchonetes, mercados e padarias. Desdobramento não apenas no atendimento, mas também no jeitinho com que se armaram para atender pedidos em inglês, francês, alemão, holandês, japonês, coreano e até em língua persa. E se saíram bem. Não se tem conhecimento de agressividade, intolerância e desrespeito.

Obrigado, policiais, civis e militares, e servidores das Forças Armadas a serviço da segurança pública pelo dever cumprido. Há muito o país não se sentiu tão tranquilo não só em sair da casa, mas também seguro e confiante para receber visitas de pessoas que nem conheciam o país. Houve ocorrências, sim, mas corriqueiras, tais quais as registradas em países e cidades com índices de violência considerados toleráveis. Agradecimentos por não deixar exposta uma chaga, a criminalidade, que nos atormenta. E parabéns, especialmente, senhores da Polícia Civil carioca, por desvendar a máfia dos ingressos da Copa do Mundo e revelar o envolvimento de parceiros da Fifa no escuso negócio. Obrigado, voluntários, pela excelência na condução dos torcedores nos estádios. Agradecimento especial às famílias por não relutar em privar os filhos de aulas por mais de 30 dias, o que desafogou o tráfego e não revelou nossas deficiências na questão da mobilidade.

Agradecimentos a todos vocês, brasileiros e brasileiras, pelo exemplo de civismo, educação, solidariedade. Pela forma gentil e prestativa com que receberam os estrangeiros, deixando-os à vontade para conhecer o país, experimentar petiscos e iguarias. Pelo clima de paz, sem incidentes capazes de pôr à prova o frágil sistema de saúde. E, mais uma vez, pela maneira com que se fizeram comunicar com os turistas do exterior, não evidenciando as nossas falhas na educação. Nossos aplausos pelo festival de cores e criatividade nos estádios, por cantar o Hino Nacional com o coração, não apenas com a garganta. Obrigado! O futebol perdeu a chance de conquistar o hexa em casa. E ainda passou por humilhação. Aliás, não se esperava tanto dele. Mas vocês, brasileiros e brasileiras, são os vencedores. E nos orgulhamos.

Atenciosamente,

Governo federal, governos estaduais, governos municipais, CBF, Comitê Organizador, autoridades em geral e afins.”

Esclarecimento do Negão: A carta acima é obra de ficção. Não foi escrita e não o será. Mas deveria haver, de alguma forma, um agradecimento especial, formal ou informal, ao povo deste país por ter se dedicado a proporcionar ao mundo um dos mais bonitos e agradáveis eventos de nível internacional. Tão especial que quase 100% dos visitantes declararam que voltariam ao país. Que voltem! 

Eduardo Almeida Reis - Globalização‏

Globalização 

Enquanto isso, num país grande e bobo, os comentaristas andavam empenhados na citação do envolvimento do venerando presidente da CBF com o pessoal dos anos de chumbo 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 19/07/2014




Restaurante alemão em Bangcoc, noite seguinte aos 7 x 1 da seleção de Joachim Löw no timeco de Felipinho. Linda jovem mineira, fluente em inglês e alemão, jantava com seus parentes e traduzia as falas dos alemães. Pormenor curioso: em lugar da gozação, os comentários eram de pena do timeco, do “técnico” e do povo que canta o hino a capela.

Enquanto isso, num país grande e bobo, os comentaristas andavam empenhados na citação do envolvimento do venerando presidente da CBF, José Maria Marin, advogado, ex-futebolista, dirigente esportivo e político paulista, nascido no dia 6 de maio de 1932, com o pessoal dos anos de chumbo (sic). Muito mais recente, em 25 de janeiro de 2012, filmado em cores, foi o episódio em que o dirigente esportivo embolsou medalha presumivelmente destinada a um dos atletas da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Razão têm os alemães da Tailândia quando não debocham do futebol brasileiro nem do país que realizou a Copa das Copas, ambos, país e futebol, dignos de pena.

Turismo

As autoridades de Brasília vibraram com os 600 mil turistas, depois transformados em 1.015.035 ou em 846.669 (parece piada...), que vieram ao Brasil pela Copa das Copas. Grande parte deles para dormir em barracas, tomando banhos na Rodoviária do Rio onde gastavam a expressiva quantia de R$ 1,50 (hum real e cinquenta centavos) por limpamento corporal. Muitos prometem voltar com as suas barracas, mesmo que o banheiro da Rodoviária passe a cobrar R$ 2. Curioso, fui ao Google para ver os números do turismo em 2010, isto é, no terceiro ano da crise econômica de 2008. França, 76,8 milhões de turistas, Estados Unidos, 59,7 milhões, China, 55,7 milhões, Espanha, 52,7 milhões, Itália, 43,6 milhões. Três anos antes, em 2007, o Times Square nova-iorquino recebeu 36 milhões de turistas e a Torre Eiffel parisiense 6,7 milhões.

Em 2012, o Brasil recebeu 6,6 milhões de turistas, contra 59 milhões da Espanha. Donde se conclui que é melhor não concluir nada e deixar como está para ver como é que fica.

Idiotice

O Viaduto Batalha dos Guararapes, que desabou em Belo Horizonte, caiu por dois motivos: primeiro, pela idiotice do nome; depois, pelos motivos que devem ser descobertos com a perícia técnica. Quem foi que disse que Batalha dos Guararapes é nome de viaduto? É verdade que antecipou a batalha do timeco de Felipinho com os holandeses de Aloysius Paulus Maria van Gaal, 1,85m, nascido dia 8 de agosto de 1951 em Amsterdam, Nederland, no mesmo dia, porém alguns anos depois, do nascimento de um philosopho amigo nosso, que tem 1,88m e não entende nada de futebol.

Aos 3 minutos da Batalha de Brasília, DF, quando van Gaal já batia o timeco de Felipinho por 1 x 0, telefonei para a senhora que me recebeu em sua residência para assistir aos 7 x 1 da Alemanha, quando tive a desfortuna de acompanhar o prélio através da narração do doutor Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, com os comentários medíocres dos doutores Casagrande e Ronaldo Fenômeno.

Ao telefone, a referida senhora disse que estava na fazenda e não tinha ligado o televisor, porque se ocupava, junto com o marido e os filhos, a observar lindo tucano que pousara numa árvore diante da casa. Tucanos têm virtudes estéticas que só encontramos nas florestas das Américas Central e do Sul. Na Bulgária, a caça às aves é muito popular e a estação de caça começa dia 15 de agosto com a codorniz, a rola-brava, a pomba-trocaz e a bécasse. Dia 1º de outubro marca o início da caça ao faisão, à perdiz, à perdiz-grega, ao pato e ao ganso. Há oito espécies de bécasse, ave que se caracteriza por seu bico fino e comprido. Em português, bécasse é galinhola; em sentido figurado, mulher estúpida.

O mundo é uma bola

19 de julho de 711: forças muçulmanas comandadas por Tariq ibn Ziyad derrotam os visigodos do rei Roderik na Batalha de Guadalete (ou Guadibeca), maior tragédia da Península Ibérica até junho de 2014, quando as seleções da Espanha e de Portugal sucumbiram diante dos selecionados da Holanda e da Alemanha.

Em 1553, depois de reinar por exatos nove dias, Lady Jane Grey é substituída no trono da Inglaterra por Mary I. Jane Grey (1536-1554) foi declarada rainha da Inglaterra e Irlanda após a morte de Eduardo VI; teve excelente educação humanística e a reputação de ser uma das jovens mais cultas de seu tempo. Foi executada na Torre de Londres aos 18 aninhos.

Em 1799, as tropas de Napoleão encontram a Pedra da Roseta, que serviria de base para decifrar os hieróglifos egípcios. Em 1848, tem início em Nova York a Convenção de Seneca Falls sobre os direitos da mulher, considerada um dos primeiros movimentos da doutrina feminista, que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade. Hoje é o Dia do Futebol, da Caridade, da Junta Comercial e dos Povos Oprimidos.

Ruminanças


“Não gosto de anedotas com prefácio” (Abgar Renault, 1901-1995).

Diferenciais do café gourmet

Interesse em consumir o produto de alta qualidade cresce entre os brasileiros


Rafael Duarte
Diretor-executivo do Villa Café
Estado de Minas: 19/07/2014



Não há dúvida de que o café já faz parte da cultura do brasileiro. Entretanto, o consumo do tipo conhecido como café gourmet está crescendo e aumentando a demanda de produção no país. De acordo com a Associação Brasileira de Indústria de Café (Abic), a ingestão do café no Brasil é de aproximadamente 20 milhões de sacas por ano. Desse total, um milhão de sacas são de cafés especiais. A expectativa, segundo a Abic, é que nos próximos 10 anos o café gourmet represente de 10% a 12% da produção no país. Nos últimos 15 anos, o café gourmet está conquistando os apreciadores da bebida devido às suas características inigualáveis, como sabor diferenciado e aroma mais acentuado.

O consumo de café gourmet até alguns anos atrás era quase inexistente no país. A cultura de apreciar lotes com alta qualidade era atribuída somente aos países como a Itália e Japão, por exemplo. Entretanto, ações desenvolvidas por órgãos relacionados apontaram o café especial como nicho de mercado brasileiro. Atualmente, esse trabalho vem sendo reconhecido pelo aumento de consumo e a desmistificação de que o grão especial é produto elitizado. O café gourmet apresenta características ímpares. Entre elas, o processo de produção, aspecto dos grãos, forma de colheita e o tipo de preparo. O método se inicia no plantio e na escolha da amostra de café, pois o produto com qualidade especial é 100% do tipo arábica. Esses grãos são sensíveis, precisam de atenção desde o primeiro minuto e de condições favoráveis: clima, altitude, solo rico em nutrientes e muita irrigação. A colheita é seletiva, manual ou mecânica, realizada no momento ideal da maturação para garantir um bom rendimento. Todo processo exige dedicação, passando pela estocagem e transporte das sacas, torra e moagem dos grãos, com precisão de tempo e calor, até o preparo e a hora de servir. Em relação ao sabor, o diferencial do expresso com grão arábica é ainda mais acentuado em relação ao café comum e apresenta várias nuances, muito semelhante ao vinho. Assim como o consumo, a produção do café gourmet cresceu nos últimos anos. A Abic lançou o Programa de Qualidade do Café (PQC) para auditar e certificar todo esse processo que define a qualidade do produto. Ao receber esse certificado, a empresa produtora é monitorada periodicamente e garante a qualidade do produto ao consumidor. O aquecimento do mercado também favoreceu o lançamento de artigos para o segmento, como as cápsulas de café gourmet, consideradas tendência de consumo da bebida em dose única.

Todas essas ações contribuem para desmistificar a ideia de que consumir uma bebida de qualidade é possível somente no exterior. Chegamos a um momento em que o Selo de Pureza, apesar de extremamente importante, não é mais suficiente. O consumidor de café que se valoriza quer apreciar o mesmo café brasileiro que, até então, só ia para o exterior, para ser beneficiado por indústrias europeias, americanas e japonesas. As empresas precisam ter o cuidado de oferecer um produto final com garantia de qualidade. Assim, será possível valorizar a bebida e estimular a oferta local.

Entraves à adoção

Entraves à adoção 


Há 30 mil famílias brasileiras à procura de filhos adotivos, mas a legislação e a demora nos processos não ajudam
Estado de Minas: 19/07/2014


Para cada criança na adoção, há seis pessoas dispostas a abrir as portas e recebê-la na família. Atualmente, cerca de 30 mil famílias brasileiras estão à procura de filhos adotivos no país, sendo que, segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), apenas 5,4 mil crianças e adolescentes estão registrados na lista para adoção. Diante desse cenário, por que os abrigos e orfanatos ainda estão cheios?

Entre as possíveis respostas para esse questionamento estão às leis brasileiras, que não contribuem para a agilização dos processos, e a demora com os cadastros em nível nacional e regional, além dos atrasos para a liberação do estágio de convivência entre a criança e a nova família. Mas o principal fator é a falta de cadastro dos jovens no CNA. Segundo o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCA), existem 44 mil crianças e adolescentes que vivem em abrigos atualmente e, por diversos motivos, não estão na lista, sendo que, em fevereiro de 2013, 37 mil jovens não estavam cadastrados.

Há pouco tempo, a diferença entre o perfil desejável da criança pelos pais adotivos e os perfis das crianças disponíveis para adoção era um dos principais fatores que contribuía para a lentidão nas adoções. Porém, atualmente o cenário mudou e o preconceito vem diminuindo a cada ano. De acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 40% das pessoas cadastradas atualmente no CNA dizem não ter preferência por etnia ou cor de pele das crianças. Em 2011, essas pessoas correspondiam só a 31%. Nos últimos três anos, o percentual de famílias que só aceitavam adotar um filho de pele branca caiu de 38 para 30%.

Entretanto, o número de pessoas dispostas a adotar mais de uma criança ao mesmo tempo ou irmãos também é baixo: gira em torno de 18%. Outro obstáculo difícil de ser superado é que apenas um em cada quatro pretendentes, ou seja, 25% das famílias, aceita adotar crianças com quatro anos ou mais, enquanto apenas 4% dos jovens que estão no cadastro à espera de uma família se encaixam nesse perfil.

Um fato que gera grandes polêmicas nas adoções é a possibilidade de devolução da criança adotiva aos pais biológicos. A ação, também conhecida como reinserção familiar, permite que a criança, mesmo após ser acolhida por uma nova família, possa voltar a morar com seus progenitores. Em outubro do ano passado, um caso de reinserção familiar em Contagem foi destaque na mídia. Após a menina Duda, de quatro anos, passar dois anos e meio com a família adotiva, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu aval para que a garota retornasse para a casa dos pais biológicos.

O que chama atenção nesse caso é que a criança foi entregue à adoção ainda aos dois meses de idade por ter sido vítima de maus tratos por parte de seus progenitores, que perderam a guarda dos outros seis filhos pelo mesmo motivo. A história repercutiu em jornais de todo o país e pouco tempo depois a Justiça voltou atrás em sua decisão, autorizando a criança a permanecer com os pais adotivos.

Graças à Justiça brasileira, existem várias famílias que já estão com suas casas prontas para receber a criança adotada, mas ainda não concretizaram o sonho em função da demora para julgamento e finalização dos processos. Há casos em que a adoção se arrasta nos tribunais por até 12 anos. É preciso rever e fazer alterações na Lei de Adoção, a fim de que os processos sejam agilizados, o número de crianças na fila de espera diminua e casos como o da menina Duda não voltem a acontecer.

A classe C vai ao exterior Virgínia Câmara

A classe C vai ao exterior
Virgínia Câmara

Estado de Minas: 19/07/2014


Neste ano, a chamada classe média, ou classe C, pretende consumir 8,5 milhões de viagens nacionais e traçar 3,2 milhões de roteiros internacionais, segundo o estudo “Faces da classe média”, realizado pela Serasa Experian e o Instituto Data Popular. Esses números são excelente notícia não apenas para o setor de turismo, que está mais aquecido com o aumento do poder aquisitivo desse público, mas também para os novos turistas, que podem agora se aventurar mundo afora. Em suma, caiu por terra a ideia de que fazer turismo fora do Brasil é artigo de luxo entre a população.

A pesquisa considera classe C as famílias cuja renda mensal per capita (por pessoa) varia de R$ 320 a R$ 1.120. Consumindo cada vez mais, essa parcela da população, que atualmente é composta por aproximadamente 108 milhões de pessoas no Brasil, gastou mais de R$ 1,17 trilhão em 2013 e movimentou 58% do crédito no país.

Já há alguns anos, a classe média deixou de ser mera classificação de segmento de mercado e, para a maioria das categorias, incluindo o setor de turismo, tornou-se um dos principais públicos consumidores. Dessa forma, a tendência é a de que redes hoteleiras, operadoras de turismo e companhias aéreas aproveitem essa expansão do turismo popular para aumentar as ações dirigidas a essa fatia da população. Mas é bom lembrar que o crescimento deve vir acompanhado por um atendimento de qualidade: a classe C está ciente de seu papel na economia e cada vez mais exigente com os produtos e serviços a que tem acesso, buscando qualidade e excelência.

Países vizinhos ao Brasil, na América do Sul, como Chile, Argentina e Peru, são excelentes opções de turismo, por terem passagens mais acessíveis e câmbio favorável.

Outra pesquisa sobre a classe média encomendada pelo Ministério do Turismo, o projeto “Classe C e D, o novo mercado para o turismo brasileiro”, revela que, de modo geral, esses turistas têm comportamento e visão específicos de passeios, viagens, excursões e turismo. Eles costumam viajar em grupo e percebem a experiência como uma forma de fortalecer laços de sociabilidade.

Uma curiosidade é que 92% das viagens realizadas por pessoas desse segmento são pagas à vista, ou seja, os consumidores pouparam dinheiro para realizar esse sonho. Outra constatação do Ministério do Turismo é que o desejo de viajar para o exterior é mais forte junto ao público jovem, que tem tendência a querer conhecer novas culturas e se aventurar pelo mundo.

Essa informação revela o potencial dos jovens da classe C para estudar em outros países, indo além do turismo de lazer, e engrossar as estatísticas da Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta). Conforme a pesquisa “Mercado de educação internacional e intercâmbio do Brasil”, o brasileiro nunca viajou tanto para estudar no exterior. Em 10 anos, o número cresceu seis vezes; em 2014, cerca de 230 mil estudantes farão as malas – 15% a mais do que no ano passado.

É certo que o custo de vida no local de destino, o câmbio favorável à moeda brasileira e as oportunidades de trabalho são fatores decisivos. Por exemplo, Austrália e Nova Zelândia são os países mais interessantes para brasileiros trabalharem; sobre o câmbio, a Cidade do Cabo tem a moeda local barata em relação ao real. Ou seja, para realizar esse objetivo, basta adequar o sonho ao orçamento.