O Globo - 08/10/2013
Em
entrevista publicada anteontem pelo jornal alemão "Tagesspiegel" o
escritor Paulo Lins disse que a lista de autores brasileiros convidados à
Feira do Livro de Frankfurt é racista e não representa o Brasil, país
homenageado no evento, que começa hoje. Único negro entre os 70
brasileiros, ele comenta a acusação feita na semana passada pelo
"Süddeutsche Zeitung" de que houve racismo na seleção.
"Eu
sou o único autor negro desta lista. Em que caso isso não é racismo?"
afirma Lins, quando questionado sobre a seleção, feita pelo jornalista
Manuel da>Costa Pinto, pela diretora de Livro, Leitura e Literatura
da Fundação Biblioteca Nacional, Maria Antonieta Cunha, e por Antonio
Martinelli, coordenador de programação do Sesc São Paulo.
"É
claro que depende do que e de quem se procure, e de que concepção se
tenha da literatura. Esta lista não representa o Brasil" diz.
O
autor de "Cidade de Deus" já havia postado uma foto em sua página no
Facebook em que ironizava a lista de autores convidados. Em imagem em
que aparece ao lado do escritor paraense Daniel Munduruku, Lins escreveu
"O negro e o índio". Também destacado pela imprensa alemã ao longo das
últimas semanas, Munduruku é o único autor de ascendência indígena a ser
escolhido.
Lins
lança, na Alemanha, seu segundo romance, "Desde que o samba é samba"
pela editora Droemer (tradução de Barbara Mesquita), sobre o qual
comenta na longa entrevista ao "Tagesspiegel" Ele diz ainda que o Brasil
conversa a contragosto sobre racismo, mas que, no país, os negros "só
podem ser ser jogadores de futebol ou músicos". "Quando eu entro num
restaurante caro, há imediatamente olhares questiona-dores" afirma.
Na
semana passada, o presidente da Feira de Frankfurt, Jürgen Boos, negou
que houvesse critério racista na lista de autores. A ministra da
Cultura, Marta Suplicy, engrossou o coro ao também rebater as críticas,
em entrevista coletiva, na Biblioteca Nacional, na última quarta-feira.
- O critério não foi étnico. Primeiro (foi valorizada), a qualidade estética, depois, que os autores tivessem livros traduzidos em língua estrangeira.
- O critério não foi étnico. Primeiro (foi valorizada), a qualidade estética, depois, que os autores tivessem livros traduzidos em língua estrangeira.
A
afirmação de Lins não foi o único fato a estabelecer um tom político
entre a delegação brasileira, às vésperas da feira. Os autores
convidados recolhem assinaturas para um manifesto em defesa da greve dos
professores do Rio de Janeiro, organizado por João Paulo Cuenca, em
parceria com o próprio Lins e Luiz Ruffato.
OUTRAS CONTROVÉRSIAS
A
nova controvérsia acontece depois de o escritor Paulo Coelho anunciar,
na sexta-feira, que não iria mais participar da comitiva brasileira em
Frankfurt. Fazendo duras críticas ao governo brasileiro — que ele chamou
de "um desastre" —, Coelho reclamou da ausência de best-sellers da
literatura in-fantojuvenil e fantástica na delegação, como Eduardo
Spohr, Raphael Draccon e André Vianco, entre outros. O mago disse
duvidar que todos os autores convidados fossem "escritores
profissionais".