sábado, 7 de junho de 2014

João Paulo - As palavras e os minutos‏

As palavras e os minutos
João Paulo
Estado de Minas: 07/06/2014


José Mujica mostrou que o rei estava nu: as drogas não são violentas. Quem mata é a repressão   (Brendan Smialowski/AFP)
José Mujica mostrou que o rei estava nu: as drogas não são violentas. Quem mata é a repressão

À medida que vão sendo fechados os acordos eleitorais entre os partidos, vai ficando claro o tempo que cada candidato deverá ter no horário eleitoral gratuito. Tudo parece indicar que, quanto mais minutos, mais propaganda e, consequentemente, mais votos. Nessa matemática pouco sincera não entram nem o discurso em si nem a resistência intelectual e moral do eleitor.

De fato tem sido assim. Há uma hipocrisia que faz com que as campanhas se norteiem menos pelos projetos e mais pelas mensagens que podem ser traduzidas operacionalmente em votos. Tanto o que é dito quanto o respeito ao destinatário das mensagens se tornam objetos manipuláveis, que podem ser testados e, se necessário, trocados por outro.

A cada eleição parece haver um tema que se torna tabu. É a pergunta que surge com o propósito de interferir na atmosfera moral e causar impacto pelo impacto. Há alguns anos, se indagava sobre a crença em Deus, em seguida o tema foi o aborto. Hoje parece ser o consumo de drogas. Questionar se um candidato já usou drogas ilícitas se tornou um clássico. Mas é, quase sempre, uma operação de má-fé, no sentido sartriano.

Para o existencialismo de Jean-Paul Sartre, a má-fé era uma posição de inautenticidade, um erro assumido no pleno domínio da liberdade, não apenas um ato calhorda. Não se trata de uma mentira ao outro, mas de uma mentira a si mesmo. De certa forma, as campanhas políticas abusam da má-fé, com certeza de que os resultados garantem a necessidade do gesto. Um maquiavelismo de resultados, que costuma inclusive operar a troca de marqueteiros como se faz com técnicos de futebol frente ao insucesso esportivo.

A pergunta acerca das drogas é sempre posta de forma atravessada. Um dos grandes temas atuais, a questão das drogas é, de acordo com as pesquisas mais avançadas em sociologia e neurociência, um índice do fracasso social, não uma capitulação ou defeito individual. As pessoas consomem drogas, como defende Carl Hart, por falta de melhores opções, ou por livre opção por um prazer potencialmente destrutivo. A miséria não é resultado do crack, é, quase sempre, sua causa. Quem tem escolhas melhores a fazer, com tempo deixa as substâncias estupefacientes de lado.

No entanto, até por razões moralistas, sempre foi melhor apostar todas as fichas na repressão, no uso da violência e na criminalização ostensiva do usuário. A proposta de José Mujica, presidente do Uruguai, de liberar o consumo recreativo da maconha, é a quadratura do círculo dos impasses das campanhas repressivas: ataca o bolso do tráfico e destrói a corrupção do sistema. Por isso assusta tanto e recebe tamanha resistência. Foram décadas vendendo repressão, armas e ideologia higienista.

Mas não é disso que se trata nas campanhas eleitorais brasileiras. O aguilhão da pergunta de má-fé quer apenas emparedar o candidato. E, nesse aspecto, a hipocrisia está dos dois lados. O postulante que se recusa a responder a pergunta, ou foge dela acusando quem o questiona ou o meio que representa, presta um desserviço à democracia. O melhor é responder com sinceridade, positiva ou negativamente, e passar para os temas que interessam.

Por outro lado, quando a oposição, mesmo defendendo posturas mais libertárias, passa a usar o tema a seu favor, dando vazão ao mesmo papel de acusador contumaz e intolerante, reza na mesma cartilha da mentira, reforçando a discriminação. O que deveria estar em jogo, nos dois lados, não é se o candidato fuma, bebe ou cheira, mas se tem propostas coerentes para o debate público e se é capaz de realizá-las .

Nos Estados Unidos, por exemplo, os três últimos presidentes declararam o consumo de drogas ilícitas na juventude. Nem por isso perderam as eleições nem deixaram de cumprir com suas responsabilidades. Os eleitores reconheceram naqueles homens (um deles, Obama, ainda está o poder) qualidades para dirigir o país e tomar decisões fundamentais para suas vidas e, em alguns casos, da segurança de todo o planeta. Mesmo tendo usado drogas ilegais. Devemos ter orgulho das ações, não da folha corrida. Tanto com os candidatos quanto com nossos filhos.

O consumo de drogas numa fase da vida não impossibilita ninguém de exercer qualquer função, nem mesmo a presidência da República. A mentira, no entanto, é um pecado muito grave, que envenena todo o jogo político. É muito melhor um presidente que, como a maioria dos jovens, fumou maconha na juventude, do que um adulto que mente para se preservar dos preconceitos e acusações religiosas regressivas.

Por outro lado, quem condena um candidato por sua vida particular, sobretudo quando exibe os mesmos comportamentos criticáveis do ponto de vista das convenções, padece de grau equivalente de hipocrisia. Está mais do que na hora de deixar de lado pegadinhas e passar para o que realmente interessa. No caso das drogas, que políticas apresenta para a questão; em relação ao aborto, suas reais convicções e disposição de oferecer atendimento público às mulheres que optarem por ele; no caso de Deus, reafirmar o caráter laico do Estado.

Todos precisam aprender com as eleições: a imprensa a fazer as perguntas necessárias e não se deixar intimidar, os candidatos a responder com honestidade porque são pessoas públicas, o eleitor a deixar de lado seus preconceitos para julgar a partir de critérios racionais e intersubjetivos quem quer como representante.

Está na hora de amadurecer. Temos coisas muito importantes para resolver, como saúde, segurança e educação. Sem falar que a Copa vai roubar boa parte do tempo que temos até a eleição. 

ENTREVISTA/SEBASTIÃO SALGADO » "O Brasil passa por uma auditoria popular"

Autor da série de fotografias Genesis, exposta no Palácio das Artes, defende a preservação da natureza

Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 07/06/2014
(Alexandre Guzanche/EM/D.A Press)


Mineiro de Aimorés, no Vale do Rio Doce, e atualmente um dos fotógrafos mais celebrados do mundo, Sebastião Salgado esteve em Belo Horizonte esta semana, na companhia de sua mulher, a arquiteta Lélia Wanick, para a abertura da exposição Genesis, que até 24 agosto poderá ser vista na Grande Galeria e na Sala Mari’Stella Tristão, do Palácio das Artes. Estão à mostra 245 fotos em preto e branco, dividas em cinco seções geográficas, através das quais são reveladas paisagens e povos que ainda estão às margens da chamada civilização moderna. Preocupado com a preservação do planeta, que segundo ele anda muito castigado, Sebastião e Lélia (curadora da exposição) há 15 anos criaram, em Aimorés, em uma antiga fazenda da família, o Instituto Terra, de preservação ambiental. De lá para cá, já foram plantadas no local mais de 2 milhões de mudas de árvores da mata atlântica. Atualmente, Sebastião Salgado está com três projetos em andamento: um sobre o café, outro com populações indígenas do Brasil e o terceiro sobre a preservação do Rio Doce. “É um dos rios mais importantes do Sudeste brasileiro que está morrendo, e não podemos deixar que isso aconteça, daí a nossa luta para mantê-lo vivo, para preservar as suas nascentes”, disse o fotógrafo, em entrevista ao Pensar.

Depois da maratona de exposições de Genesis, quais são suas próximas frentes?

Já estou terminando outro projeto, que iniciei em São João do Manhuaçu, no Vale do Rio Doce, também em Minas, e é sobre o café. Volto para a França daqui a alguns dias e passo a Copa do Mundo lá. Gosto muito de futebol. Nesse período não viajo, pois quero assistir a todos os jogos do Brasil. Esse projeto do café já está praticamente terminado, e vem sendo realizado em parceria com uma empresa da Itália. Fiz fotos sobre o café também na Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Etiópia, Índia, China e, logo depois da Copa, já tenho uma viagem programada para a Tanzânia e outra para a Ilha de Sumatra, na Indonésia. Mas esse projeto nasceu aqui em Minas, em São João do Manhuaçu.

É uma história sobre a origem do café?

Não. É sobre as pessoas que trabalham com o café. Quando alguém compra um quilo de café, a ideia que se tem é que o pé nasceu ali mesmo, perto do supermercado ou no armazém da esquina. Não é nada disso. Só para se ter uma ideia, depois do petróleo, o café é um dos negócios que envolvem mais gente e mais dinheiro no mundo. É um produto importantíssimo. Em Minas, por exemplo, e no Espírito Santo também, milhares de pessoas dependem diretamente do café para sobreviver. Meu trabalho não tem nada a ver com os grandes produtores do café ou com as indústrias que o processam, mas com as pessoas que trabalham diretamente com ele nas lavouras: as pessoas comuns, os pequenos proprietários, os operários. Esse trabalho fica pronto no final do ano e a Lélia já está começando a pensar o livro, que deve sair no ano que vem. Logo depois, começo a deslanchar um projeto sobre as populações indígenas do Brasil.

Com que povos indígenas você vai trabalhar?

Estou atuando em conjunto com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o trabalho envolve principalmente populações indígenas isoladas, que ainda existem no Brasil. São dezenas de tribos. Tenho um ótimo diálogo com a Funai e nosso foco maior é trabalhar com as tribos que estão tendo suas terras e culturas ameaçadas, em decorrência do avanço do homem branco e dos seus interesses e que ao mesmo tempo ainda estão conseguindo manter suas tradições. Recentemente estive no território dos ianomâmis, em Roraima, e voltei muito preocupado, pois o senador Romero Jucá (PMDB-RR) apresentou um projeto que visa permitir a exploração mineral no território, que só no Brasil é de 9 milhões de hectares, mais 8 milhões na Venezuela. Se esse projeto passar, não tem outro jeito: acaba com a terra e com a cultura deles. Será uma tragédia. No Brasil, eles são cerca de 20 mil índios e na Venezuela 16 mil. Dentro do mundo ianomâmi, que é imenso, existem cerca de quatro dialetos e eles têm uma cultura riquíssima.

É uma ameaça real?

Com certeza. No início dos anos de 1980, eles já sofreram muito com a invasão dos garimpeiros em suas terras, em busca de ouro, e esse contato foi muito ruim para eles, que morreram aos milhares de envenenamento por causa do mercúrio despejado nas águas, de febre e em decorrência de algumas chacinas que foram cometidas. Existe outra proposta em tramitação, feita pelo agronegócio, que é de retirar da Funai o direito de fazer a demarcação das terras indígenas. E também de tirar da Presidência da República o direito da homologação, o que seria inconstitucional. Eles querem que esse direito passe para a Câmara dos Deputados: serão eles que irão decidir o que é terra indígena ou não. E se isso passar, acaba com tudo, inclusive com a floresta amazônica. E é contra isso que todos devemos lutar, para que esses povos e a Amazônia sobrevivam.

Em meio a essas ameaças contra o homem e a natureza, você ainda continua mantendo a esperança?

As coisas estão ficando muito complicadas. Acho que se não mudarmos o nosso comportamento vai ser muito difícil sobreviver. Veja aqui em Minas. Vamos falar do Rio Doce: ele está morrendo, o Jequitinhonha também, o São Francisco, o Paraíba. Se hoje isso está complicado, imagine daqui há 20, 30 anos. As águas serão menores ainda e, daqui a 50 anos, elas vão acabar, não tenhamos dúvidas disso. Praticamente não iremos ter água para beber e nem para gerar energia elétrica, que também é uma coisa vital para a nossa sobrevivência. E então, como as coisas vão ficar? A única esperança, a meu ver, é voltarmos para a proteção do meio ambiente, para tentar preservá-lo, para poder recuperar as nascentes do rios e ajudar a manter a vida, como já começamos a fazer em relação ao Rio Doce.

Você e Lélia desenvolvem alguns projetos no Instituto Terra, em Aimorés, não é mesmo?

Se você plantar a floresta, ela nasce. Veja o que fizemos na Fazenda Bulcão, lá em Aimorés. Foi um grande sucesso e a floresta e os animais estão voltando. Antes, aquilo estava um deserto e hoje é um ecosisstema sofisticado. Um dos nossos projetos – e já contamos com o apoio do BNDES –, é recuperar todas as nascentes do Rio Doce. Devemos recuperar em torno de 370 mil nascentes. Vamos dar aos fazendeiros o arame, os mourões, as mudas e eles terão de plantar as árvores e cercar os olhos d’água para protegê-los das patas dos animais. A patada de um boi de 600 quilos pesa mais de 200, é mais forte do que uma mão de pilão batida no chão com força. Não tem nascente que resista. A presidente Dilma abriu as portas do BNDES para nós e encampou o projeto. Mas ele vai além disso: depois de recuperar o Rio Doce, pelo qual iremos lutar com todas as forças, vamos também tentar recuperar todos os rios do Sudeste do país. Estamos criando um novo viveiro em Colatina, no Espírito Santo, com capacidade para 5 milhões de mudas. Na Fazenda Bulcão, estão sendo preparados técnicos de recuperação de nascentes e os resultados estão sendo muito bons.

Como é esse projeto?

Damos aos jovens formação intensiva e cada garoto será o responsável por recuperar cerca de 150 nascentes em três anos. É claro que teremos resistência de alguns fazendeiros, mas tenho certeza de que, assim que os resultados forem aparecendo, a resistência irá desaparecer. O projeto já foi testado e conseguimos recuperar 1.200 dessas nascentes com o apoio da Vale e da Fundação Príncipe Alberto, de Mônaco. Também criamos um projeto com o Banco do Brasil, que se chama Arredonde. Se você vai ao banco e paga com o cartão de crédito, pode optar em doar os centavos que sobrarem na conta para o Instituto Terra, para nos ajudar. O governo do Espírito Santo está financiando o viveiro de Colatina e o governo de Minas, que havia prometido ajudar na formação dos técnicos, só ficou na promessa.

Além da questão ecológica, como você está vendo a realidade brasileira atual?

O país está passando por um momento muito importante. Depois da ditadura, vivemos uma espécie de letargia, em que as coisas não estavam muito claras. Mas agora as coisas estão mudando e as pessoas estão pedindo as contas, cobrando e pagando para ver. Está sendo feita uma espécie de auditoria no Brasil: é forte, é popular, às vezes é complicada, mas está acontecendo. E acho isso muito bom. O país está vivendo uma crise econômica, mas ela não é só nossa, é mundial. Está acontecendo o mesmo na França, na Espanha, em Portugal. Mas existe um problema. Nos últimos 500 anos, não criamos nenhuma infraestrutura no país, não nos preparamos para o desenvolvimento. Temos poucos técnicos capacitados, e o mesmo acontece com os professores, que não foram preparados adequadamente. E a educação aqui no país não existe, ela é uma mentira e não dá para fugir dessa realidade. O país começou a ir para frente, mas para deslanchar ainda vai demorar muito. Além do mais, somos um povo que necessita de autoafirmação.

No início da conversa você falou sobre o desejo de assistir aos jogos da Copa. Está acreditando no Brasil?
Tenho uma grande esperança de que vamos ganhar. Ganhar a Copa das Confederações foi importante, deu moral ao time. Mas o que me preocupa é que a Seleção é nova, pouco experiente, embora o time seja dinâmico. Fico pensando: se em algum jogo tomarmos dois gols, por exemplo, o que a garotada irá fazer para recuperar? Noventa minutos passam muito depressa. Mas o Felipão é um homem experiente e acho que vai conseguir passar a segurança necessária para os meninos. Estou muito esperançoso na vitória.

A política e as redes - Carolina Braga

A política e as redes 
 
Livro com artigos de pesquisadores do Centro de Convergência de Novas Mídias analisa as jornadas de junho de 2013 a partir da nova dinâmica da comunicação na sociedade brasileira contemporânea

Carolina Braga
Estado de Minas: 07/06/2014


As manifestações políticas se transformam imediatamente em material informativo, que circula nos diferentes suportes (Mídia Ninja/Divulgação)
As manifestações políticas se transformam imediatamente em material informativo, que circula nos diferentes suportes

Enquanto as ruas brasileiras pegaram fogo em junho do ano passado, muitos pensadores, jornalistas e acadêmicos arriscaram explicações para as manifestações difusas que tomaram o país de assalto. As tentativas foram muitas, das mais diferentes abordagens, mas poucos conseguiram de fato explicar os levantes conhecidos como Jornada de Junho. Os pesquisadores do Centro de Convergência de Novas Mídias  (CCNM) da UFMG apresentam em Ruas e Redes – Dinâmicas dos protestos BR alguns olhares. Não é uma abordagem inédita, mas traz um recorte particular.

O diferencial do trabalho é saber exatamente onde pretende chegar com as reflexões que levanta sobre como a comunicação funciona nos dias de hoje. Não é um livro sobre movimento social, suas identidades ou reivindicações, como a introdução trata de esclarecer. Sobre isso, há muitos outros no mercado. O negócio aqui são “temporalidades que explodiram em um acontecimento aparentemente único na história brasileira”, como afirma a coordenadora Regina Helena Alves da Silva também no texto de abertura.

Nesse sentido, a escolha da palavra “dinâmica” para o subtítulo da obra é acertada. Ela diz respeito ao movimento necessário a qualquer aproximação ao tema, assim como o ponto central da discussão: “A dinâmica de articulação entre as redes urbanas e as intermidiáticas nos recentes processos de mobilização política”. À sua maneira – e com múltiplas vozes –, o livro pretende problematizar a já relativa percepção que temos do tempo hoje. A comunicação não passa incólume a isso.

Como afirma a escritora argentina Beatriz Sarlo, “hoje o tempo é mais fluido”. Para os pesquisadores do CCNM, “a ideia de fluxo ligada ao tempo não pode ser vista como algo que nos arrasta em direção ao mar, e sim como um território disputado. O tempo não é matéria constante e estável; sabemos que é plural e sempre em movimento”. É por isso que em todos os artigos, de uma maneira ou de outra, há alguma mudança em questão, seja de fluxo de informação, de registro de imagens, de abordagem. Os seis capítulos tratam de aspectos diferentes, mas sempre relacionandos ao uso das mídias – ou suas respectivas dinâmicas – durante a movimentação de junho. Em todos eles há uma contextualização sobre a ocupação das ruas. É o ponto em comum para o leque de abordagens que se abre.

Em “Imagens violentas nas manifestações de 2013: multiplicidades, estética e dissenso nas narrativas em vídeos de comuns e de instituições”, por exemplo, Carlos d’Andréa e Joana Ziller se debruçam sobre as narrativas audiovisuais. Os eventos criados no Facebook para a convocação das manifestações sào o foco das pesquisadoras Geane Alzamora, Tacyana Arce e Raquel Utsch no artigo “Acontecimentos agenciados em rede – os eventos do Facebook no dispositivo protesto”.

Já a pesquisadora Sônia Caldas Pessoa parte do entendimento de “autocomunicação de massas”, defendido pelo sociólogo espanhol Manuel Castells, para falar sobre produção de conteúdo pelos cidadãos, no terceiro artigo da obra. A repercussão dos protestos no interior de Minas Gerais é o tema abordado por João Marcos Veiga em “Novas faces do interior: cidades de Minas Gerais em rede durante os protestos de junho de 2013”.  Em “Fios de política que tecem redes: a web e os intelectuais de hoje”, Valdeci da Silva Cunha se dedicou às análises publicadas em blogs e sites por nove formadores de opinião e questiona: estamos assistindo à emergência de novas formas de ser do intelectual?

“Vandalismo e política nas redes sociais: caso do Anonymous e Black Block” traz o resultado de uma observação participante e de uma análise da imprensa sobre a cobertura realizada à época, seja na mídia tradicional ou em movimentos autônomos criados naquela ocasião. Nenhum dos artigos fecha questões, já que o objetivo não era esse. Afinal, trata-se de “uma pesquisa dinâmica, que se faz em movimento e que nos tomou de assalto quando caminhávamos nas ruas dos espaços que hoje são possíveis”.



TRECHO

“Este livro entende que é fundamental discutir e problematizar a dinâmica de articulação entre as redes urbanas e as intermidiáticas nos recentes processos de mobilização política no Brasil. Entendemos que esse fenômeno é fruto de mobilização política no Brasil. Entendemos que esse fenômeno é fruto da apropriação social das ferramentas digitais e do espaço urbano que, entre outros aspectos, se caracteriza por agenciamentos múltiplos e em rede, pela sobreposição de mediações sociotécnicas e por complexificação da circulação de ideias na interface entre a internet e as ruas.”


RUAS E REDES – DINÂMICAS DOS PROTESTOS BR

• Organização de Regina Helena Alves da Silva
• Editora Autêntica
• 190 páginas

O avesso do poder - Jorge Zepeda Patterson

O avesso do poder

Em seu primeiro romance, o thriller Os corruptores, o jornalista mexicano Jorge Zepeda Patterson mergulha nos bastidores da política de seu país



Mariana Peixoto
Estado de Minas: 07/06/2014

Suspense de Jorge Zepeda Patterson, pela atmosfera tensa e relação com a imprensa, lembra a trilogia Millenium     (Planeta/Divulgação)
Suspense de Jorge Zepeda Patterson, pela atmosfera tensa e relação com a imprensa, lembra a trilogia Millenium


No poder desde 1929, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) perdeu sua hegemonia no México no ano de 2000, quando Vicente Quesada, do Partido da Ação Nacional (PAN), venceu as eleições presidenciais. O PRI retomou a presidência há dois anos, com a eleição de Enrique Peña Nieto. Durante sua campanha presidencial, vieram à tona uma série de escândalos de corrupção, fraude eleitoral e narcotráfico. Sua vida também enfrentou períodos turbulentos. Ele teve dois filhos fora do casamento, e sua primeira mulher, Mônica Pretelini, morreu em 2007 em circunstâncias mal esclarecidas – depressiva, houve insinuações da responsabilidade de Peña Nieto na morte. Hoje o presidente-galã está casado com Angélica Rivera, atriz da Televisa. A principal rede de TV do país esteve diretamente ligada à campanha presidencial de Peña Nieto.

Isso é vida real, qualquer busca rápida na internet pode provar. O que Os corruptores, primeiro romance do jornalista mexicano Jorge Zepeda Patterson faz, é ficção. Mas pautada pelo real, fruto dos anos de redação do autor, fundador de dois jornais, Siglo 21 e Público, além de responsável por vários livros de análise política. Há 20 anos, Zepeda tem uma coluna semanal que se dedica a lançar luzes sobre os desmandos da política mexicana. Com o romance, ele leva sua experiência no jornalismo investigativo para uma narrativa de fôlego que mistura relato policial, thriller e até mesmo uma história de amor.

A narrativa de Zepeda tem início em novembro de 2013, ou seja, ao final do primeiro ano do retorno do PRI ao poder. É o assassinato bárbaro de Pamela Dosantos, atriz que sempre esteve envolvida com as altas rodas do poder mexicano, que desencadeia a ação. Tomás Arizmendi, um jornalista que já teve seus dias de glória e hoje se resume a assinar uma coluna semanal sem muito impacto, é o primeiro que relaciona o crime com as altas esferas do poder, através de uma informação, aparentemente sem importância, que lhe é repassada por um conhecido. Pois o fato liga o crime diretamente com o PRI, na figura de seu ministro do Interior, Augusto Salazar, o homem mais importante do novo governo, depois do presidente Alonso Prida.

De volta à linha de frente do jornalismo, Tomás começa a ir atrás do assassino ao mesmo tempo que é perseguido por saber demais. Mas ele é somente a ponta de um iceberg de trocas de favores de todos os lados. Para a empreitada, reúne os Azuis, seus três melhores amigos de infância: Amélia, hoje a presidente do Partido da Revolução Democrática (PRD), principal oposicionista ao governo do PRI; Jaime, um chefão da inteligência mexicana que tem franca relação com os Estados Unidos; e Mario, um professor universitário que leva uma vida tranquila ao lado da família. Cada um, a sua maneira (e de acordo com seus próprios interesses), vai contribuir para que o que parecia um crime passional influencie a vida mexicana definitivamente.

Há um quê da trilogia Millenium em Os corruptores, não somente por Zepeda, a exemplo do sueco Stieg Larsson, vir do jornalismo. A história cruza fatos reais da política daquele país com a narrativa ficcional, coloca seu protagonista como um Quixote na briga contra o poder, mostra a crise dos meios de comunicação tradicionais, que se recusam a reconhecer o seu declínio sob a pressão de novas tecnologias, aqui muito presentes na figura de hackers. Só que a narrativa de Zepeda tem várias vozes. Ainda que Tomás seja o principal, cada capítulo (todos sempre curtos) explora a passagem de um determinado personagem, nas quase três semanas em que dura a ação. A partir de um fato (o crime), Zepeda constrói um retrato aterrador de seu país nos dias atuais, mostrando como a política do México, a despeito da passagem dos anos, continua atrelada ao narcotráfico. Para mostrar que o México não é nenhuma exceção, Zepeda prepara um segundo livro sobre os quatro Azuis. Além do país natal, a narrativa também terá passagens na Espanha.

Trecho

“Pamela começou a tomar consciência de que o sujeito não estava nem aí para sua pose sugestiva. Não ia violentá-la. Uma boa notícia estava se transformando, de maneira acelerada, em outra terrível. A dor no plexo anunciou o pânico que pouco a pouco inundou seu corpo. Perguntou a si mesmo se o sujeito teria sido enviado para lhe arrancar informações. Desesperada, repassou o muito que sabia, os segredos de Estado que havia guardado ao longo de seu agitado passado. Seu carrasco, quem quer que fosse, poderia não se interessar por seu corpo, mas não podia ser indiferente a seus segredos, pensou Pamela. Inventariou as informações que tinha para oferecer: o avião, os vídeos, o acordo.”

OS CORRUPTORES
. De Jorge Zepeda Patterson
. Editora Planeta, 342 páginas, R$ 45,90

Orelha

Orelha


Estado de Minas: 07/06/2014
O escritor Milton Hatoum comemora os 25 anos de sua estreia literária   (Eduardo Nicolau/AE)
O escritor Milton Hatoum comemora os 25 anos de sua estreia literária


Clássico de Hatoum

No momento em que se celebram os 25 anos da primeira edição de Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum, a Editora Companhia das Letras relança a obra em edição de bolso, juntamente com o volume de contos A cidade ilhada, também no mesmo formato. Considerado marco da literatura brasileira contemporânea, Relato de um certo Oriente foi a estreia de Hatoum e teve recepção calorosa da crítica, tendo conquistado, entre outros, o Prêmio Jabuti de melhor romance de 1990. A obra já foi publicada na Inglaterra, França, Espanha, em Portugale nos Estados Unidos, na Itália e Alemanha e em breve sairá no Egito, em tradução para o árabe. No Brasil, vendeu mais de 40 mil exemplares. O diretor Marcelo Gomes, de Cinema, aspirinas e urubus, deverá dirigir a adaptação
do romance para as telas.

Popper e os gregos

 (  Unesp/Divulgação    )


Um dos mais importantes filósofos da ciência no século 20, Karl Popper (foto) foi também estudioso da filosofia grega, com destaque para os pré-socráticos. A Editora Unesp lança ainda este mês o ensaio O mundo de Parmênides, no qual Popper faz uma incursão pelo iluminismo grego, o “maior e mais inventivo período da filosofia grega”. Ele volta-se para os três grandes filósofos pré-socráticos – Xenófanes, Heráclito e Parmênides –, examinando ainda o pensamento do próprio Sócrates e de seu discípulo Platão, além do legado deixado por aqueles filósofos às gerações posteriores.

Tango

 (Frederico Botrel/EM/D. A Press)


Professor aposentado do Departamento de Química da UFMG, Mauro Mendes Braga acaba de lançar um livro sobre o tango argentino. E não se trata de publicação de diletante, mas de um completo e bem pesquisado estudo sobre o gênero, com direito a visão panorâmica sobre o nascimento e desenvolvimento do tango e sua relação com a cidade de Buenos Aires. O autor apresenta as diferentes etapas de evolução da música e conta histórias sobre seus principais personagens. Escrito para o leitor brasileiro, o livro analisa o impacto do tango em nosso país e sugere temas e gravações para quem se interessar em formar uma discoteca básica do gênero. O lançamento é da Editora UFMG.

Revista

A Academia Mineira de Letras está lançando novo volume de sua revista, que homenageia o acadêmico José Bento Teixeira de Salles, seu editor nos últimos anos. Entre os artigos, Angelo Oswaldo analisa a poesia de Anelito de Oliveira; Paulo Augusto Gomes reflete sobre o documentário cinematográfico e Jota Dangelo publica uma longa entrevista com Ítalo Mudado, diretor de teatro falecido em 2011.

Filosofia

A série Filosofias, o prazer de pensar, editada pela Martins Fontes, tem dois novos volumes. O primeiro é Indústria cultural e meios de comunicação, de Rodrigo Duarte; e o segundo é A verdade, de Danilo Marcondes. A coleção chega, assim, ao 30º volume, com estudos que seguem os parâmetros curriculares de filosofia no ensino médio, sempre com textos introdutórios a cargo de especialistas nos temas.

Lançamentos

. Da ditadura à ditadura – Uma história política do futebol brasileiro (1930-1978), de Euclides de Freitas Couto, será lançado hoje, das 11h às 15h, na Quixote Livraria, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi.

. A jornalista Míriam Leitão lança hoje, às 15h, na Livraria Leitura do BH Shopping, seu primeiro romance, Tempos extremos. A edição é da Intrínseca.

. A Associação dos Doceiros e Agricultores Familiares de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, lança hoje o livro Doces memórias de São Bartolomeu, sobre a história da fabricação artesanal de doces. Pesquisa e texto do jornalista Paulo Barcala. Na Livraria Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, das 11h às 13h. Em tempo: os doceiros estarão vendendo e oferecendo uma breve degustação dos deliciosos doces do distrito.

Dentro da vida escura - Alessandro Baricco

Alessandro Baricco, uma das vozes mais interessantes da literatura italiana, volta a encantar e surpreender com o romance Mr. Gwyn



André di Bernardi Batista Mendes
Estado de Minas: 07/06/2014


Alessandro Baricco trata temas profundos com graça e leveza, mas sem %u2018aliviar%u2019 a inteligência do leitor     (Eleonora Marangoni/Divulgação)
Alessandro Baricco trata temas profundos com graça e leveza, mas sem %u2018aliviar%u2019 a inteligência do leitor


Um dos nomes mais interessantes da atual literatura italiana, Alessandro Baricco acaba de lançar Mr. Gwyn. Depois de Sem sangue e Esta história, esse belo escritor mostra mais força e talento ao costurar em sua obra, com delicadeza e humor, uma narrativa que aos poucos ganha contornos de fábula. Jasper Gwyn, escritor de sucesso, decide abandonar a literatura à procura de uma questão essencial que perpassa as histórias e a vida de cada um de nós. Essa trama de sonhos e espinhos que é feita de mistério, num processo de descobertas. Baricco constata que existem muito mais sombras. Nem o próprio personagem sabe ao certo o que procura, mas a necessidade de algo mais profundo o leva ao desconhecido. Importa mais a necessidade, a sede, a fome, do que as certezas.

Aos poucos, deixando-se levar pelos sentimentos e auxiliado por companheiros cativantes, ele mergulha numa busca pelo poder transformador da palavra. Para descobrir que cada pessoa é composta de histórias. De grandes histórias e detalhes, que fazem parte, não parece óbvio, dessa rede ora luminosa, ora sombria. Mr. Gwyn é um livro que nos convida a refletir sobre a criação, o tempo, a amizade, o ver e o deixar-se ver. É também uma jornada ao núcleo fundamental da literatura, e uma amostra de como ela nos transforma.

Jasper Gwyn é um escritor britânico, que, aos 43 anos e com sucessos publicados, muda radicalmente o rumo de sua estrada, muda radicalmente o rumo do seu destino. A literatura é mesmo essencial para um homem? A decisão de ruptura surge em um momento peculiar: ao fazer uma pequena caminhada, Jasper percebe que está insatisfeito com sua vida e sua rotina. “Um dia percebi que nada mais me importava e que tudo me feria mortalmente”.

Desta forma banal surge o conflito que perpassa, muitas vezes, as histórias e a vida de cada um de nós. Colaborador assíduo do jornal The Guardian, Gwyn entrega, após a caminhada, o seu último artigo ao jornal. No texto, o personagem lista 52 itens que, a partir daquele dia, nunca mais faria. E o último deles é: escrever livros, para o desespero de seu amigo e agente literário Tom Bruce Sheeperd.

Nada mais instigante para o enredo de um bom livro. Com o abandono da literatura, Gwyn decide viajar para experimentar as mais inusitadas formas de passar o tempo. Durante a aventura, ele é acompanhado por Tom e sua voluntariosa estagiária Rebecca, além de uma misteriosa e perspicaz senhora que conhece em uma sala de espera.

Existem coisas que não queremos fazer. Existem coisas que não podemos fazer. Às vezes é impossível sermos cordiais. É que às vezes nos damos conta de que existe o inusitado, é que às vezes nos damos conta do quanto tudo é estranho, diferente, inadequado. São momentos de sombra. O personagem Jasper Gwyn passou por este abismo colossal. Às vezes, é nessa hora, quando só existe o rumo do vento, que a gente se dá conta do tamanho do mundo. O nosso lugar no espaço, o nosso lugar no mundo torna-se, com isso, insuficiente.

Turbilhão e palavras
O que temos, o que somos? Como conhecer, como chegar ao outro? O que realmente resplandece no pouco, ou no muito, no nosso dia a dia? Baricco nos faz pensar nestas questão com uma delicadeza de pássaro. A vida quase nunca é nítida e, no breu, alegamos enxergar. Baricco nos faz sentir, nos faz ver que é no escuro que todas as formas sonham. Toda nudez consuma-se ali, naquele lugar de precipícios. Baricco meio que ajusta seu pensamento com perfeição, com precisão, para transformar este turbilhão em palavras.

É bom, é sempre bom, não é perigoso refletir sobre plantios e colheitas. Assombro, só o bobo da corte sabe das minudências, só ele se mostra, sem saber, só ele vê os pormenores minuciosos. A certeza é uma faca muito perigosa, que só serve para cortar possibilidades. Quando aparece, a dúvida surge, nesse instante raro e precioso, um verdadeiro mundo. Sabemos daquela festa, temos em nós aquela famosa banda de um homem só. Toda pessoa carrega um arsenal. Mas é inevitável, toda escolha restringe; mas alguns atos ampliam possibilidades. Jasper Gwyn apenas fez a sua lista de 52 coisas.

Isso tudo, esse silêncio, essa predisposição, é bem propício para trazer as coisas, vindas de distâncias enormes. Como numa espécie de encantamento. “Os filhos para os pais, o sucesso para os artistas, as montanhas altas demais para os alpinistas. Escrever livros, para Jasper Gwyn.” Isso tudo para, finalmente, ficar perdido e indefeso. O escritor pode ter parado de escrever mas, e aí a porca torce o rabo, não parou de ler o mundo, ele não consegue deixar de ler a si mesmo e os outros ao redor de tudo. Até achar um rumo e o caminho de volta pra casa, numa espécie de dissolução, de águas beijando águas.

A vida fala várias línguas. Por isso esse tanto, esse nó, esse embaraço ingovernável. Com maestria, com capítulos curtíssimos, Baricco vai deixando iscas e fisga o leitor com uma história simples, mas extraordinária. Não há nada mais belo do que um rosto que, aos poucos, como se fosse, como se ouvisse música, envelhece. Nada mais belo do que esse rumo de folhas. Todo escritor é um alquimista. A pele das horas, a espessura dos dias. Baricco, de forma sutil, escreve sobre o tempo e suas contingências.

Esse tipo de situação é ótima porque passa para o além do inconclusivo. Baricco deixa brechas, deixa margens para mares. Na vida, quase tudo é bagunçado. O escritor apenas atiça e coloca lenha nessa fogueira de espantos. A pele protege o sumo, que ampara o cerne, que abriga algo que beira e beija o inominável. É o que faz o personagem Jasper Gwyn, quando, ao deixar de escrever, transforma-se num “copista”, alguém que tenta “escrever imagens”, alguém muito especial que tenta, profudamente, “escrever retratos”. Mais não se pode dizer. Só lendo.

Baricco escreve com uma gentileza notável. Suas ideias são pétalas. Esse tipo de literatura sugere calma e movimento, mas movimentos de leveza, para melhor apreendermos o pouco que vemos, nesse muito que estamos. A vida está repleta de paisagens nunca vistas.

Alessandro Baricco nasceu em 1958, em Turim. É autor de livros de ensaios, de peças teatrais e dos romances Mundos de vidro, Oceano mar, City, Seda (adaptado para o cinema em 2007), Sem sangue, Esta história e A paixão de A.

MR. GWYN
. De Alessandro Baricco
. Editora Alfaguara, 224 páginas, R$ 39,90

Lugar de cinema é na rua - Gustavo Werneck‏

Lugar de cinema é na rua
Gustavo Werneck

Estado de Minas: 07/06/2014


Brigitte Bardot, em E Deus criou a mulher, alimentou o sonho de muito jovem no escurinho do cinema (Cocinor/Divulgação)
Brigitte Bardot, em E Deus criou a mulher, alimentou o sonho de muito jovem no escurinho do cinema

Ando com uma certa saudade dos cinemas de rua. Na verdade, sinto uma falta danada. Eu sei que vocês vão dizer que shopping é mais seguro, tem praça de alimentação, ar-condicionado central, enfim, todas as comodidades do mundo, mas insisto que não aguento mais descer ou subir escada rolante para ver um filme, pagar estacionamento caro para entrar na sala escura ou ter o desprazer de assistir ao pessoal equilibrando baldes enormes de pipoca e copos de refrigerante. E o pior, fazendo um barulho dos diabos, achando que está em casa, enquanto você se concentra e entra no clima.

Passei quase toda minha infância ao lado de um cinema, talvez por isso mesmo goste tanto da sétima arte – do prazer de comprar o ingresso, esperar com calma o começo da fita, ver os trailers nacionais e estrangeiros, saber das estreias, entrar de cabeça na história e comentar depois. Quando criança, logo na segunda-feira, chegava da escola e ia direto ver os cartazes escorados em cavaletes, o que passaria na matinê de domingo ou na chamada soirée de sábado, com filmes impróprios para menores de 18 anos. Hoje, qualquer adolescente tem tudo isso disponível em DVD, na internet e TV a cabo.

Minha imaginação voava, ficava louco para saber o conteúdo de um filme “impróprio” e chegava a fantasiar que tinha visto cenas “calientes” olhando secretamente por um buraco na parede: Brigitte Bardot em cenas de cama, como falavam os mais velhos, a “sombra” dos atores, pelados, num paredão de paraíso caribenho, a governanta beijando a boca de um menino. Tudo imaginação, como é próprio cinema. Na verdade, apenas repetia o que ouvia na conversa dos adultos. Mas causava o maior efeito entre os coleguinhas da escola.

Amigo dos filhos do funcionário do cinema – não me esqueço de Agnaldo, Ronaldo, Biluca e Agnaldo –, eu costumava passar na cerca de arame farpado, que separava os quintais vizinhos, e procurar, junto deles, pedaços de negativos de filmes antigos. Às vezes ficavam enterrados décadas. Era um garimpo cheio de emoção, pareciam pedacinhos da tela transformados em realidade. Sonhos na palma das mãos, pura magia nos fotogramas.

Não sou saudosista, não tenho vocação para ficar remexendo o passado, mas, na semana santa, estive no Rio de Janeiro e decidi assistir ao ótimo Hoje eu quero voltar sozinho no Cine Odeon, no Centro da cidade. Há anos não entrava num cinema assim, a última vez tinha sido em Belém (PA), lembro que era um filme com Nicole Kidman e Anthony Hopkins. Dessa vez agora, foi uma alegria ouvir o prefixo e admirar a cortina se abrindo. Isso mesmo, com prefixo – no cinema da minha infância, era o tema do bíblico Êxodus, que “tocava” antes de as luzes se apagarem.

Aí começava o Canal 100, com notícias da semana e os melhores lances das partidas de futebol, com aquela música que se tornou quase um hino nacional de tão empolgante. Sempre viajando pelo interior a serviço do Estado de Minas, não me canso de admirar cidades que têm cinema de rua – para quem se esqueceu ou nunca ouvir falar, são as construções específicas para os filmes, como são os teatros para a apresentação dos dramas e comédias. É bom lembrar que não vale enquadrar nessa categoria as salas agrupadas em galerias, muitas delas do tamanho de um ônibus! Já vi fila na porta do cinema de Ouro Preto, na Rua São José, e admiro a ideia do cine-teatro Vitória, de Santa Bárbara, que divide espaço com a Câmara Municipal.

Parabéns para aqueles empresários que resistem bravamente e seguem mostrando os filmes na “sala grande”, como grandes espetáculos. Belo Horizonte já teve alguns maravilhosos, como o Cine Palladium, considerado em priscas eras um dos melhores do país. Com o tempo, uns viraram igreja evangélica, outros, estacionamento ou viraram fumaça, deixando um esqueleto de concreto na paisagem urbana.

Pode até soar anacrônica essa ideia da volta dos grandes cinemas. Mas nada pior do que sair da sala escura e dar de cara com lojas iluminadas, gente passando carregada de sacolas, homens e mulheres saindo da academia de ginástica, enfim, a ficção transformada em realidade em pouco mais de um minuto. Filme é para durar algum tempo na cabeça, é como se a gente acordasse lentamente de um sonho bom – se o filme for bom, lógico. Acho que só mesmo um cinema, na verdadeira acepção da palavra, pode proporcionar esse prazer. Do contrário, vira mais um produto de consumo, feito para durar até a loja mais próxima. Ou liquidação. 

A terra e as gentes - João Paulo

Novo dicionário biográfico de Minas Gerais: 300 anos de história será lançado segunda-feira em Belo Horizonte. Obra de referência vai além dos perfis de representantes da elite política



João Paulo
Estado de Minas: 07/06/2014



A diversidade das pessoas, com sua ação persistente para construir uma vida mais digna e deixar exemplos, é o maior patrimônio de um povo (Cristina Horta/EM/D.A Press)
A diversidade das pessoas, com sua ação persistente para construir uma vida mais digna e deixar exemplos, é o maior patrimônio de um povo

 mundo é feito de gente. Essa é a premissa do Novo dicionário biográfico de Minas Gerais: 300 anos de história, que será lançado segunda-feira em Belo Horizonte. A obra, com mais de 500 páginas e 1,6 mil verbetes, reúne biografias de pessoas que tiveram relevância na vida de Minas Gerais ao longo de sua história. Geralmente esse tipo de obra se concentra apenas nas chamadas elites políticas. A ideia da nova obra de referência é colocar a sociedade em primeiro lugar, não o Estado. A ideia é boa, mas falta povo nas páginas do dicionário.

A obra é um conjunto de perfis biográficos que contempla, além dos políticos, professores, intelectuais, pesquisadores, empresários, escritores, médicos, engenheiros, historiadores, arquitetos, jornalistas, artistas e militares. Foi dada, ainda, especial atenção às biografias de mulheres, outra lacuna sempre apontada nos livros de história. Com isso, o propósito é garantir o máximo de representação de todos os segmentos sociais do estado.

A escolha dos nomes, como explica o organizador da obra, o historiador Amilcar Viana Martins Filho, não foi fácil, exatamente em função da abrangência pretendida. Como se trata de uma gama muito grande de profissões e ocupações, além do vasto período de 300 anos coberto pelo Novo dicionário biográfico de Minas Gerais, a seleção foi trabalhosa e exigiu critérios definidos pela equipe responsável. “Muitas pessoas que não figuram na primeira edição poderão ser incluídas nas próximas. Além disso, era importante garantir a correção dos dados e ter acesso a fontes de informação seguras”, explica o historiador.

Algumas balizas definem quem participa do acervo de biografias reunido no livro. Em primeiro lugar, a opção foi por personalidades que já morreram. Os únicos perfilados vivos são os governadores, já que se considerou o mandato completo como o intervalo definido de atuação a ser tratado no verbete. Personalidades políticas contemporâneas convivem com nomes históricos do período colonial, imperial e republicano, nos textos mais alentados do volume, exatamente em razão da existência de fontes estabelecidas de pesquisa.

Não há a exigência de que o biografado tenha nascido no estado – nem mesmo no país –, mas que sua atuação tenha sido decisiva nos rumos da sociedade mineira. Entre os estrangeiros que ganharam verbetes na obra estão o cientista dinamarquês Peter Lund, o musicólogo alemão Curt Lange, o historiador americano John Wirth, o maestro italiano Sergio Magnani, o pintor romeno Emeric Marcier e o escultor austríaco Franz Weissmann, entre dezenas de outros.

No que diz respeito às ocupações, há o empenho em alargar a abrangência, levando-se sempre em consideração a relevância da atuação do biografado e sua influência duradoura na vida da sociedade mineira, além das marcas que deixou em seu tempo. Com isso, desde as ocupações mais tradicionais, como as profissões liberais, até o mundo empresarial, passando pela vida acadêmica, diversos ofícios foram considerados. Além desses, é nítido o empenho em registrar a vida de artistas e intelectuais, além de líderes classistas e religiosos.

A militância política também é destacada, não apenas na ocupação de postos que definem a participação na direção dos negócios públicos, como também na abertura do espectro ideológico, com registro de atuações de contestação, oposição e militância em favor de causas sociais. Se há uma concentração nítida nas personalidades da ordem, nem por isso foi vedada a presença de pessoas que buscaram romper com os padrões de dominação política. Nesse campo se enquadram os perfis de feministas, sufragistas e perseguidos políticos.

Como as fontes de informação são variadas, os verbetes variam muito em termos de extensão e aprofundamento. Os textos vão desde pequenos ensaios, como aqueles sobre Tiradentes, Marquês de Barbacena, Teófilo Otoni e Juscelino Kubitschek, até simples registros. “Em alguns casos, mesmo com pouca informação, era importante dar ao leitor o que havia de disponível, ainda que fossem apenas alguns dados e datas. É uma forma de garantir a presença de personalidades que não deixaram registro, mas fazem parte da memória da sociedade em que viveram”, diz Amilcar Martins Filho.

Talvez por uma característica mineira – ou um mito que se tornou forte o suficiente para se manter vivo – é possível destacar algumas tendências no dicionário. A primeira, obviamente, é política, o que mostra a presença de figuras do estado em posições marcantes desde o período colonial. Outra tendência que é possível perceber é a da concentração em famílias, com dezenas de exemplos de clãs em vários setores. As famílias mineiras estão presentes por trás das biografias individuais.

Por fim, outra característica que pode ser apreendida no Novo dicionário biográfico de Minas Gerais: 300 anos de história é a concentração de intelectuais, professores e artistas. Eles parecem dominar o terreno da influência social (que é um dos critérios para figurar na obra), sobrepujando os cientistas, engenheiros, banqueiros e empresários. Sobretudo no caso dos professores e pesquisadores, nas várias áreas de atuação.

O estado que parece emergir do dicionário é uma região que valoriza seus intelectuais e reconhece a dimensão humanista da educação. Pode ser um mito, sobretudo quando se compara com a atual condição de trabalho dos professores públicos, muito degradada e com a tendência a tornar a educação um território de treinamento para o mercado. Mas não deixa de ser algo notável que os professores sejam o núcleo de uma obra de referência sobre a gente mineira. A sociedade parece valorizar a educação sobre todas as ocupações dignas de mérito, mas nem sempre recebe do Estado a contrapartida merecida.

Um bom exemplo do papel do professor destacado no dicionário é a biografia da professora de filosofia Sônia Maria Viegas de Andrade (1944-1989). Sua atuação intelectual, além da autoria de obras importantes no campo da filosofia (sobretudo seu estudo sobre Guimarães Rosa), se deu no dia a dia, nas salas de aula e como intelectual pública, capaz de fazer da filosofia um instrumento de compreensão do mundo e de diálogo com outras formas de saber. É um exemplo que vai além das instituições, cargos e obras, realizando-se como vida compartilhada e em diálogo com seu tempo. Destino que ela, sem dúvida, dividiu com outros professores que não figuram na obra, mas marcaram presença na vida de cada leitor.

Andar de cima Se o dicionário avança além das elites políticas e se abre para outras representações sociais, ficou devendo – e muito – aos profissionais de outras ocupações, sobretudo as mais populares. Há uma indisfarçável inclinação para o “andar de cima”. São pouquíssimos os operários, quase não há representantes de ocupações que não decorrem da formação universitária, e a cultura popular fica em segundo plano. Um estado construído por engenheiros sem pedreiros, tratado por médicos sem auxiliares de enfermagem, administrado por empresários sem operários. Se Chica da Silva figura na obra como escrava, é apenas uma em meio a dezenas de outros perfis de homens e mulheres que começam com a seguinte e elucidativa descrição de proeminência: “Foi grande proprietário de escravos”.

O livro é resultado de trabalho coletivo coordenado pelo Instituto Cultural Amilcar Martins (Icam), especializado no estudo, preservação e divulgação da memória e da cultura do estado. À frente da empreitada estão Amilcar Viana Martins Filho, João Antônio de Paula, Vera Alice Cardoso Silva, Alexandre Mendes Cunha, Marcelo Guimarães Godoy, Maria do Carmo Salazar Martins e Cleber Araújo Cabral. Em razão do método coletivo, que contou ainda com a participação de um grupo de redatores associados e estagiários, os verbetes não têm autoria creditada.

Amilcar Martins informa que a segunda edição já está sendo planejada e que, além dos erros eventualmente apontados na primeira, será ampliada para abarcar novos perfis biográficos. “É uma obra de atualização permanente”, explica o historiador. As novas edições, além da circulação em bibliotecas e centros de estudos, terão parte da tiragem destinada às livrarias, para ampliar a distribuição. Assim como a obra quer chegar às pessoas, seria interessante que elas também figurassem de forma mais democrática em sua concepção.

Em um conto de Jorge Luis Borges, um cartógrafo pretende compor o mapa ideal e acaba por cobrir todo território, fazendo coincidir todos os pontos com a realidade física. É a tentação impossível da representação exata. Um dicionário biográfico não pode abarcar toda a população. O desafio é que todos se sintam retratados de alguma forma. Às vezes a democracia pode ser um método, quase uma ética.

Novo Dicionário de Minas Gerais: 300 anos de história

Organizado por Amilcar Viana Martins Filho
Lançamento dia 9, às 19h30, nos jardins do Palácio das Artes,
Av. Afonso Pena, 1.537, Centro.

TeVê

TV paga


Publicação: 07/06/2014



 (Fox Filmes/Divulgação )

É um ou outro


Estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium, o blockbuster Wolverine imortal (foto), mais uma aventura de um dos mais populares heróis da Marvel Comics, interpretado por Hugh Jackman, dessa vez numa complicada trama no Japão. Na HBO, a novidade é Os Smurfs, também às 22h.

Muitas alternativas  no pacote de filmes

Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Mulheres sexo verdades mentiras, no Canal Brasil; O maior amor do mundo, no Sony Spin; K-Pax – O caminho da luz, na MGM; Não é mais um besteirol americano, no Comedy Central; Dia de treinamento, na Warner; Branca de Neve e o caçador, no Telecine Action; Indo embora de Barstow, no Futura; e Beleza sul-africana, no Mnax. Outras atrações da programação: Coração iluminado, às 21h, no AXN; Arte, amor e ilusão, às 22h10, no Glitz; Hooligans 2, às 22h30, no A&E; Hancock, às 22h30, na Fox; e Floradas na serra, às 23h, na Cultura.

Discovery comemora  seus 20 anos no Brasil


O Discovery está completando 20 anos no Brasil e para comemorar a data preparou uma programação especial, que começa hoje, a partir das 18h, com episódios de À prova de tudo, Dynamo: mágica impossível, Febre do ouro, Parasitas tropicais e Ilhas selvagens. Já às 20h40, a emissora exibe o inédito Torcidas organizadas, começando com a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, invadindo os bastidores de Gaviões da Fiel e Mancha Verde.

Stephen Fry enfrenta  notório homofóbico


E se o assunto é documentário, o assinante não vai ter do que se queixar hoje. Às 20h, o canal ID estreia Desejos proibidos, relatando casos de mulheres que foram vítimas de perseguidores obsessivos. Às 21h, o +Globosat exibe Slow food: alimentação saudável, contando a história do movimento que quer transformar a gastronomia ao redor do mundo. Às 22h30, o GNT exibe Stephen Fry e a luta gay pelo mundo, com uma entrevista com o polêmico deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), conhecido por sua homofobia. E ainda às 22h30, no NatGeo, estreia A batalha dos inventores, uma disputa entre empreendedores e suas inovações uns contra os outros. Já à meia-noite, também no NatGeo, estreia O mundo futurista de Stephen Hawking.

Programação musical vai do samba ao rock


Para fechar, música. A Cultura sai na frente, com Luiz Carlos da Vila, Zé Renato, Jards Macalé, Thalma de Freitas, Quinteto em Branco e Preto e Marcos Sacramento cantando os sambas de Martinho da Vila, Nelson Cavaquinho e Moreira da Silva e as serestas do repertório de Silvio Caldas no Mosaicos musicais, às 16h. No mesmo canal, às 18h, Roberta Martinelli recebe o cantor e compositor Marcelo Jeneci. Em mais uma edição do Cultura livre. No Multishow, às 23h, tem a Turma do Pagode ao vivo, diretamente de São Paulo, com o lançamento do DVD Mania do Brasil. E no Bis, às 21h30, vai ao ar o show Glory days, de Bruce Springsteen.



CARAS & BOCAS » Mortes anunciadas
Simone Castro

Maria Vergara (Débora Nascimento) passará desta para melhor em Geração Brasil (João Cotta/TV Globo)
Maria Vergara (Débora Nascimento) passará desta para melhor em Geração Brasil
Quando se depararam com o tal envelope grená, que revela um terrível segredo de Jonas Marra (Murilo Benício), Maria Vergara (Débora Nascimento) e Alex (Fiuk) traçaram seu destino. Ou seja: passarão desta para melhor, nos próximos capítulos de Geração Brasil (Globo). Brian (Lázaro Ramos) surtou e descuidou do material que Jonas pediu que ele guardasse a sete chaves. Foi o bastante para cair em mãos erradas. Alex leu e viu que era uma bomba! Além disso, o jornalista contou para Maria e indicou a leitura para Jack, genro de Jonas, que reagiu estupefato. Depois de confrontar Jonas e chantageá-lo, Alex não sabe o que o espera. Pouco depois, ele e Maria estarão em um carro, que terá falha no acelerador e provocará um grave acidente. Há alguns dias, foi anunciado que Geração Brasil teria três mortes. Tudo indica que a terceira será de Jack. Será? O pai de Pamela (Cláudia Abreu) a convoca para uma reunião urgente e a atriz vai para a Califórnia (EUA). Quando ele está prestes a falar sobre o terrível segredo de Jonas, sofre um derrame. Mais à frente, o próprio Jonas contará tudo para Verônica (Taís Araújo), sua paixão.

ALINNE ROSA NA BERLINDA
NO PROGRAMA DE RAUL GIL


Thammy Miranda, Val Marchiori, Dani Bolina e Penélope Nova vão confrontar a cantora Alinne Rosa com perguntas afiadas, hoje, no quadro “Elas querem saber”, do Programa Raul Gil, no SBT/Alterosa. A baiana falou, entre outros assuntos, sobre a saída da banda Cheiro de Amor, vida amorosa e o que fazia antes da fama. “Já trabalhei em granja vendendo frango e panfletei na rua”, conta. Definindo-se como “foguenta”, Alinne revela que é independente – “gosto de viver minha vida” –, mas avisa: “Eu quero casar, talvez daqui uns dois anos. Só falta o namorado”.

SÉRIE JUVENIL DA TV CULTURA
LEVA PRÊMIO INTERNACIONAL


Primeiro foi o International Emmy Kids Awards, em fevereiro. Agora, a série Pedro e Bianca, sucesso da TV Cultura, fatura outro prêmio internacional: o Prix Jeunesse International, na categoria ficção e não-ficção para adolescentes de 12 a 15 anos, em cerimônia realizada esta semana, em Munique, na Alemanha. O programa concorreu com 16 produções de países como Noruega, Itália, Índia, Cuba, Alemanha e Irã. De autoria do cineasta e produtor Cao Hamburger, a trama de Pedro e Bianca foca na adolescência de dois irmãos gêmeos, um branco e uma negra, que estudam em uma escola pública. No ano passado, a atração ganhou o Prix Jeunesse Iberoamericano também na categoria ficção e não ficção para o público infantojuvenil.

FALSO SITE COLOCA SELTON
MELLO EM GAME OF THRONES


Selton Mello foi estrela de uma falsa página que se passava pelo site Breathe cast em notícia que dava conta de que o ator faria parte do elenco da quinta temporada da série Game of thrones, da HBO (TV paga). Ele interpretaria Doran Martell, príncipe de Dorne e irmão de Oberyn (Pedro Pascal), paraplégico e um homem muito inteligente. O site bombou com mais de 107 mil acessos em apenas 14 horas entre quinta-feira e ontem, e a maioria dos internautas caiu na “pegadinha”. O site Shrturl foi o responsável pela criação da página falsa. O Breathe cast original apenas publicou que a produção queria um ator hispânico para viver Doran Martell. Vale destacar que não seria nada demais a contratação de Selton Mello para o papel, já que no elenco está o brasileiro Lino Schmidek Facioli, que interpreta Robin Arryn. Em tempo: Game of thrones é o maior sucesso da HBO. A emissora divulgou que o programa alcançou a média de 18,4 milhões de espectadores por episódio, superando o recorde da segunda temporada de Família Soprano, com14,4 milhões em 2002.

PADRÃO NA COZINHA

Como Fátima Bernardes, Ana Paula Padrão vai deixar de lado o jornalismo para apostar no entretenimento. Ela já teria acertado com a Bandeirantes – até o fechamento da coluna, a emissora ainda não havia confirmado oficialmente o contrato – a apresentação do reality show de culinária Master chef, com estreia prevista para depois da Copa do Mundo. Além de estar no comando, Ana Paula também fará reportagens. O objetivo da atração é premiar um cozinheiro amador, que terá a chance de abrir o próprio restaurante. O formato já é sucesso mundial. O contrato entre a jornalista e a Band seria de um ano.

VIVA
Regressão de Brian Benson aos 13, como um rapper, e aos 6 anos mostra um Lázaro Ramos arrasador em Geração Brasil.

VAIA
Meu pedacinho de chão é de longe uma boa novela, mas não escapa da famosa “barriga”, em que a trama não sai do lugar. 

BALÉ NA TELONA » Um conto de fadas

BALÉ NA TELONA » Um conto de fadas


Estado de Minas: 07/06/2014


A Bela Adormecida foi o  primeiro espetáculo montado no Royal Opera House, em 1946 (Johan Persson/Cinemark/Divulgação  )
A Bela Adormecida foi o primeiro espetáculo montado no Royal Opera House, em 1946


A companhia The Royal Ballet, de Londres, apresenta A Bela Adormecida, a partir de hoje, nas salas de cinema de todo Brasil, na temporada 2014 da Royal Opera House Cinema, exibida pela Rede Cinemark. Baseado no conto de fadas do escritor francês Charles Perrault, conta a história da princesa Aurora. Em sua festa de batizado, as seis fadas do bem trazem para a pequena princesa presentes e bênçãos. Mas a fada do mal, Carabosse, que não havia sido convidada, lança um feitiço sobre a menina: ao completar 16 anos, ela espetaria seu dedo em um fuso e morreria. A Fada Lilás consegue amenizar o feitiço e faz com que Aurora durma por 100 anos em um sono profundo. Só o beijo de um príncipe pode quebrar o feitiço.

O espetáculo, que tem lugar de destaque no repertório da companhia, foi o primeiro a ser exibido na reabertura do teatro da Royal Opera House, em Covent Garden, em 1946, depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Ainda hoje, o balé mantém muito da produção marcante de Oliver Messel. Todo o corpo de baile enche o palco de cor e energia enquanto os cenários criam uma atmosfera incomparável. A coreografia é de Marius Petipa, a produção de Monica Mason e Christopher Newton e a música de Pyotr Il'yich Tchaikovsky.

O último espetáculo da temporada, O conto de inverno, que será exibido nos dias 28, 29 e 30 deste mês e em 1º de julho, é baseado na obra homônima de William Shakespeare. O balé de Christopher Wheeldon traz para o palco o romance e sua trama de amor, perda e reconciliação. A história gira em torno do fim de um casamento pelo ciúme doentio. Fatos mágicos nos levam a um final de perdão e reconciliação. Wheeldon conta com a colaboração do designer Bob Crowley e do compositor Joby Talbot. O Conto de inverno é um dos pontos altos da temporada do The Royal Ballet.

A Bela Adormecida

De hoje ao dia 10. Duração: 2h55, com dois intervalos. Pátio Savassi (Pátio 8, às 11h); Diamond Mall (Diamond 3, às 11h); e BH Shopping (BH 10, às 11h). Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

LETRAS » Encontro marcado‏ - Carlos Herculano Lopes

LETRAS » Encontro marcado 
 
Escritor José Luís Peixoto participa hoje de bate-papo com leitores na Festa Portuguesa
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 07/06/2014




O romancista e poeta José Luís Peixoto mantém relação próxima com a literatura mineira


Um dos mais conceituados escritores da literatura portuguesa atual, José Luís Peixoto está hoje em Belo Horizonte para conversar com o público e autografar seus livros, dentro da programação da Festa Portuguesa. O bate-papo terá mediação de André de Mello Bandeira, cônsul de Portugal na capital mineira. “Irei também fazer uma palestra na UFMG e nessas duas ocasiões terei oportunidade de apresentar minha obra, ler alguns textos e falar da literatura portuguesa que está sendo feita por autores da minha geração”, diz Peixoto. Também poeta e dramaturgo, o escritor nasceu em Galveias, Ponte do Sor, em 1974.

O romancista, que já participou por duas vezes do Fórum das Letras, em Ouro Preto, mantém contato com amigos e escritores mineiros desde 2003. Conhecedor da literatura feita no estado, ele já integrou antologia organizada por Wilmar Silva em Belo Horizonte e se mantém atualizado com o que tem sido feito pela nova geração de escritores mineiros. “Por isso minha expectativa acerca dos encontros em BH é alta”, afirma.

Com vários livros publicados no Brasil, o escritor é detentor de prêmios literários importantes, entre eles o José Saramago, em 2001, com o romance Nenhum olhar; e o Prêmio da Sociedade Portuguesa de Autores, com o volume de poemas A criança em ruínas. Já com Cemitério de pianos foi agraciado com o Prêmio Cálamo Otra Miranda, como melhor romance estrangeiro lançado na Espanha em 2007. O mesmo livro foi um dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom, no Brasil. Com Dentro do segredo, uma viagem na Coreia do Norte, seu livro mais recente, ele fez sua primeira experiência na literatura de viagens.

No encontro em Belo Horizonte José Luís Peixoto vai falar sobre o atual momento da literatura portuguesa e da sua relação com o Brasil.

Festa portuguesa
Bate-papo e sessão de autógrafos com José Luís Peixoto, hoje, das 11h15 às 12h30 e das 14h às 16h, na Praça Marília de Dirceu, Lourdes. Entrada franca (com opção de doação de roupas de frio). Informações: (31) 3213-1557.


Três perguntas para...

José Luís Peixoto
escritor


Qual é a sua ligação com a literatura brasileira atual?
Creio que tenho um conhecimento razoável da literatura brasileira e, também, da mineira. Tenho tido muitas oportunidades de encontrar com autores brasileiros, jovens ou não, e de ler os seus trabalhos. As ocasiões de ter contato com Minas também aconteceram. Em 2005, por exemplo, publiquei um poema sobre Ouro Preto na antologia Achamento de Portugal, que foi organizada pelo poeta Wilmar Silva.

Como a nova geração de escritores portugueses tem se relacionado com o Brasil?
Os escritores portugueses mais jovens, como é o meu caso, estão encontrando leitores por todo o Brasil. Sinto que esta é uma geração de grande qualidade literária e os brasileiros têm reconhecido isso das mais diversas formas, quer através de prêmios literários, quer através da própria leitura. No meu caso, já tive ocasião de participar de eventos em Rondônia, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Minas e outros estados.

Quais são seus novos projetos literários?
Esta ano publiquei no Brasil Dentro do segredo, que relata uma viagem que fiz à Coreia do Norte. Trata-se de um livro de bastante êxito de crítica e de público em Portugal, e que começa também a sair em outros países. Em breve também publico, pela Companhia das Letras, A mãe que chovia, que será o meu primeiro livro infantil. 

Suspense jovem - Carlos Herculano Lopes

Publicação: 07/06/2014 04:00



Raphael Montes conquistou reconhecimento internacional aos 24 anos   (Bel Pedrosa/Divulgação)
Raphael Montes conquistou reconhecimento internacional aos 24 anos

Dois autores da nova geração da literatura brasileira que vêm conquistando espaço entre os leitores e a crítica especializada, estarão segunda-feira em Belo Horizonte, participando do projeto Sempre um papo. Na ocasião o paulistano Santiago Nazarian e o carioca Raphael Montes vão conversar com o público e autografar seus novos romances Biofobia e Dias perfeitos, respectivamente.

Com apenas 24 anos, Raphel Montes surge como um autor maduro. Quatro anos atrás, já havia surpreendido com o romance Suicidas, com o qual ficou entre os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria autor estreante. Não parou mais e, agora, com Dias perfeitos, volta a chamar a atenção, inclusive no mercado internacional.

Vem de Scott Turow, um dos mais celebrados autores de romances de suspense e de histórias de tribunal, o mais derramado elogio ao moço: “Raphael Montes está entre os mais brilhantes ficcionistas jovens que conheço. Ele certamente irá redefinir a literatura policial brasileira”, escreveu.

Outro que não poupou louvores a Raphael foi o veterano Luiz Alfredo Garcia-Roza, psicanalista e respeitado autor brasileiro do gênero policial, criador do célebre delegado Espinosa. Para Garcia-Roza, Montes, com Dias perfeitos, ofereceu ao público um thriller digno de um autor veterano na cena do crime. Sem deixar de lado a forte marca psicológica que perpassa a narrativa.

Negativo Treze anos mais velho que Raphael Montes, autor de Mastigando humanos e Pornofantasma, entre outros livros, Santiago Nazarian não deixa por menos. Em Biofobia, um dos seus livros mais maduros, ele também percorre os caminhos do suspense e, com linguagem vertiginosa, conta a história de um roqueiro de meia-idade, que botou para quebrar na juventude. Com o suicídio da mãe, ele é obrigado a enfrentar seus fantasmas, enquanto a natureza, com a qual convive numa casa de campo, vai cobrando seu preço.

Feliz com o resultado, nem por isso o escritor perde seu estilo, entre irônico e exigente consigo mesmo. “Sou meio suspeito para julgar meu próprio livro, fica meio esquisito. Mas como é o mais recente, sempre acho que é o melhor. É o meu primeiro romance adulto e creio que dei um salto bem grande na minha carreira como escritor”, avalia Nazarian. E completa: “Estou feliz com a minha infelicidade”.

Para o autor de Biofobia, alguns romancistas tendem a idealizar a vida e os personagens, dando poder extremo à literatura, inclusive de conquista da felicidade. Para ele, a história é outra. “No meu caso, como trabalho no registro do negativo, quando escrevo, acabo tendo uma existência pior do que a minha. E isso, de certa forma, é um alívio e tanto”, afirma. As histórias de Santiago Nazarian, com sua queda para a distopia, confirmam a avaliação do autor acerca de sua própria obra.

Se depender de Rapahel e Santiago, o futuro da literatura brasileira de suspense – um gênero muito mais difícil do que parece à primeira vista – está em boas mãos.

Sempre um papo
Lançamento dos livros Biofobia, de Santiago Nazarian, e Dias perfeitos, de Raphael Montes. Segunda-feira, às 19h30, na Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537. Entrada franca. Informações: (31)3261-1501.

ARNALDO VIANA » Manos limpias de sangre‏

ARNALDO VIANA » Manos limpias de sangre 

Estado de Minas: 07/06/2014


Está escrito na reportagem do jornalista Daniel Camargos no caderno Superesportes deste jornal que daqui a uma semana mais de 3 mil chilenos estarão a caminho do Brasil. A galera vem em carros de passeio, ônibus, motocicletas, motorhomes e, possivelmente, até em triciclo, quadriciclo, patinete motorizada, fazendo fumaça estrada afora. Vai soltar os freios na descida do Andes, atravessar a Argentina e, já em território brasileiro, cortar os dois Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, antes de entrar em Rio e São Paulo. A ideia da caravana chilena, que viajará em fila indiana, formando comboio de 10 quilômetros nas rodovias, é pernoitar em BH. Mas onde instalar tanta gente, mesmo que por uma noite? Bom, isso a prefeitura já resolveu.

O Chile tem parada dura na Copa. Pega Espanha, Holanda e Austrália. A hincha chilena não quer nem saber de dificuldade em campo. Vai cortar chão gritando “Viva Chile!” e “Olê, olê, hola, el Sánchez va botar para quebrar”. Alexis Sánchez é goleador chileno a serviço do Barcelona. Bons tempos aqueles em que os conterrâneos de Pablo Neruda gritavam “Viva Caszely”, “Adelante, Caszely, el rey del metro cuadrado”. O cara em questão, hoje com 63 anos, foi um dos mais talentosos jogadores da história do futebol chileno e, como Reinaldo, o Rei do Galo, precisava apenas do espaço de um lenço para desmoralizar defesas e achar o rumo do gol. Foi o primeiro jogador de futebol expulso de campo em jogo da Copa do Mundo pelo cartão vermelho. Foi em 1974, na Alemanha, quando a Fifa autorizou o uso dos cartões de advertência e de exclusão em suas competições.

Interessante esse Caszely. Formou-se craque nas divisões de base do Colo-Colo e logo se tornou ídolo da torcida do time de uniforme preto e branco, com vermelho nas meias. Em 1973, ano em que se tornou o único jogador chileno artilheiro da Copa Libertadores, o general Augusto Pinochet, para satisfazer a inveja que tinha dos militares brasileiros de 1964, deu uma rasteira de direita no marxista Salvador Allende e tomou o poder. Pinochet tinha a crueldade nos olhos sombreados sob a pala do quepe. Mandou trucidar chilenos e jovens de outras nações, inclusive brasileiros, no Estádio Nacional de Santiago, templo das jogadas antológicas de Caszely. Fez milhares de cadáveres descerem o Rio Mapocho rumo ao desaparecimento. O ídolo Caszely tinha o povo no coração e recusou, um dia, apertar as mãos sujas de sangue do sanguinário Pinochet.

A história não registra se Carlos Caszely tinha noção da anaconda com a qual estava se metendo. Como não podia hostilizar abertamente o jogador, com medo de recrudescimento das reações populares contra o regime de exceção que impôs ao Chile, o ditador usou de subterfúgios para se livrar do craque. Da noite para o dia, sem direito a contestar, o jogador viu-se negociado com um clube do futebol europeu. E, de longe, amargou a notícia de que a mãe sofreu tortura física e psicológica nos porões do general. Caszely, único jogador de futebol a negar as mãos limpas às ensanguentadas de um dos abomináveis homens que usurparam direitos legítimos de cidadãos da América Latina.

Em 1986, na segunda Copa organizada pelo México, o Negão aí de baixo esteve com Caszely. Ele acompanhava, com discrição, um treino da Seleção Brasileira, já na condição de comentarista esportivo. Não quis entrar em detalhes sobre a perseguição, porque Pinochet ainda estava em cima da cadeira presidencial e poderia haver mais represália. Caszely bem que merecia versos de Neruda, mas o poeta morreu exatamente no ano do golpe, talvez para não ver seu povo castigado pela truculência. Em honra ao craque, bem-vinda, galera chilena. E que BH a acomode com conforto e segurança. Aliás, BH delegou essa missão a Santa Luzia. A hincha chilena vai ficar acampada no Mega Space. E que “venga” também Caszely, por que não?

Pergunta do Negão 1
– A maioria dos brasileiros aprova e aplaude o ministro Joaquim Barbosa, que ascendeu na carreira por méritos e a exerceu com honra. Entre a minoria que faz restrições à atuação do mineiro de Paracatu estão as duas grandes associações de magistrados do país. Isso não é preocupante?

Pergunta do Negão 2
– A Fifa proibiu tudo. Será que a gente vai pelo menos poder torcer?

Foi gol ou não? - Silas Scalioni

Foi gol ou não? 
 
Graças à adoção da tecnologia, essa dúvida não existirá na Copa do Mundo, que começa quinta-feira no Brasil. Outras novidades estarão dentro de campo e para quem vai assistir aos jogos pela TV 

 
Silas Scalioni
Estado de Minas: 07/06/2014


Spidercam, câmera suspensa com cabos capaz de se movimentar sobre o campo para mostrar ângulos do jogo bem interessantes, será muito usada nos jogos    (Spidercam/Divulgação )
Spidercam, câmera suspensa com cabos capaz de se movimentar sobre o campo para mostrar ângulos do jogo bem interessantes, será muito usada nos jogos

Eram 11 minutos do primeiro tempo de uma prorrogação que decidia a Copa do Mundo de 1966, no dia 30 de julho, quando o atacante Geoff Hurst, da Seleção Inglesa, chutou forte, a bola bateu no travessão e quicou exatamente sobre a linha do gol, defendido pelo goleiro da Alemanha Ocidental Hans Tilkowski. O árbitro suíço Gottfried Dienst validou o gol, que acabaria sendo primordial para que os ingleses se sagrassem campeões. Até hoje se discute se a bola realmente passou a linha ou não. Quase 44 anos depois, em 27 de junho de 2010, na Copa da África do Sul, a Inglaterra fez um gol em lance parecido com o de Londres. Aos 40 minutos do primeiro tempo, a mesma Alemanha vencia por 2 a 1, quando Lampard chutou de fora da área, a bola bateu no travessão e, em seguida, no gramado, já 33cm dentro da meta do goleiro Neuer. O árbitro uruguaio, Jorge Larrionda, não validou o tento legítimo, que seria de empate dos britânicos, dando aos germânicos o sabor de uma vingança tardia.

Na Copa no Brasil, que se inicia em 9 dias, a regra do jogo terá de se adaptar aos avanços dos recursos eletrônicos. Será o primeiro Mundial em que os árbitros contarão com a ajuda de sensores para determinar se a bola entrou no gol. O sistema, chamado de GoalControl, utiliza 14 câmeras, sete para cada meta, e faz a leitura do lance por vários ângulos. As imagens são processadas por um poderoso software capaz de identificar o movimento dos diversos elementos em campo e isolar apenas a bola. Com as coordenadas exatas dela, é possível, então, estabelecer se a bola ultrapassou ou não a linha, com erro de apenas 5mm. Todo esse processo é realizado em questão de centésimos de segundo e, caso o gol seja verificado, um sinal vibratório e visual é enviado para um pequeno aparelho de pulso dos árbitros. E se ainda ficar alguma dúvida, as imagens são armazenadas para uma consulta posterior. Mas, segundo a fabricante do sistema, foram feitos testes nas mais variadas situações, em diversas condições climáticas e com diferentes cores de redes, bolas e uniformes, sem que houvesse erros.

A novidade não deixa de ser polêmica. Muitos acreditam que o recurso ajudará, tornando as marcações mais justas. Mas há os que dizem que parte da graça do futebol está justamente em possíveis erros, que são próprios da modalidade. A Spidercam, estreante em Copas do Mundo, é aquela câmera suspensa com cabos capaz de se movimentar sobre o campo para mostrar ângulos do jogo bem interessantes, e será muito usada.

Olho no lance Para quem vai ficar em frente à TV, as transmissões deste ano vão ganhar melhorias graças a várias inovações. Na última Copa, a grande novidade foram as imagens captadas para equipamentos 3D. Já a Copa no Brasil será a primeira que terá captação em 4K (a resolução é duas vezes superior à Full HD). A Sony, uma das patrocinadoras da Copa, vai aproveitar o evento para uma série de programas usando a tecnologia, que já equipa tanto suas câmeras (captação) quanto seus televisores (reprodução). Entretanto, a novidade não será totalmente usada nas transmissões, uma vez que poucos canais e televisores detêm o recurso.

Outras fabricantes de TVs também desenvolveram recursos especiais. É o caso da função Futebol, presente em alguns aparelhos da Samsung, que permite aumentar o som do estádio, rever os lances e compartilhar opiniões diretamente nas redes sociais. Modelos da Sony contam com a possibilidade de consultar notícias, destaques e conteúdos especiais da Fifa. A LG já tem modelos que permitem ao usuário maior interação com o jogo.

Para vestir e chutar

Várias empresas envolvidas no torneio vão apresentar lançamentos. As fornecedoras de artigos esportivos aproveitarão para mostrar chuteiras, camisas e pulseiras com materiais inteligentes, sensores digitais e estudos biométricos. As chuteiras, por exemplo, já mostram evoluções impensáveis anos atrás. A Adidas apresenta recursos tecnológicos interessantes, como no modelo Predator LZ TRX, que vem com o sistema MiCoach. Trata-se de um sensor que capta informações, como distância, velocidade e número de sprints. Os dados podem ser armazenados e conferidos em computadores para avaliar o desempenho e estabelecer treinamentos personalizados. O uniforme brasileiro foi desenvolvido depois de estudos que identificaram as regiões do corpo dos jogadores com maior nível de tensão a partir de análise de onde os atletas colocavam mais força. A equipe de designers da Nike usou tecnologia 3D de escaneamento corporal e coletou dados completos da anatomia de cada jogador. O uniforme foi feito com material reciclável: 18 garrafas pet para a confecção de cada peça. 

Assistir e compartilhar

Da última copa para cá, o smartphone tornou-se ainda mais indispensável. Por isso, a tecnologia que deve ganhar força com o evento é a rede de internet 4G, que é até 10 vezes mais rápida que a 3G. Testada na Copa das Confederações, muitos usuários reclamaram do serviço, que deve ser reforçado. As operadoras Claro e Vivo já anunciaram a oferta de roaming 4G para visitantes internacionais, que, entretanto, devem consultar as operadoras, já que a frequência aqui não é a mesma de outros países. Uma medida que tem sido oferecida aos torcedores nos estádios são redes wi-fi próprias. O problema é que só seis dos 12 estádios que sediarão os jogos fecharam contratos para oferecer internet sem fio. 

Termômetro e fita adesiva para turista‏

Termômetro e fita adesiva para turista 

 
Guia para visitantes que estarão em BH durante a Copa do Mundo dá orientações inusitadas sobre alimentação e doenças e surpreende com recomendação para consumo apenas de água engarrafada 


Shirley Pacelli
Estado de Minas: 07/06/2014


Orientações incluídas em um manual para turistas que estarão em Belo Horizonte para acompanhar os jogos da Copa do Mundo causaram surpresa entre moradores e especialistas por serem inusitadas ou óbvias. Em meio a muitas dicas úteis, o Guia de Segurança e Saúde, lançado pelo governo de Minas, entretanto, levanta dúvidas sobre a qualidade de produtos e serviços, a garantia de segurança aos visitantes e ainda expõe falhas estruturais e a dificuldade de combate e o risco de doenças no país. Uma delas é beber apenas água engarrafada e evitar bebedouros de procedência duvidosa. Outra é certificar-se quanto à temperatura de carnes usando um termômetro. É recomendado também prender a barra da calça na bota com fita adesiva em regiões infestadas por carrapatos.

O transportador Luiz Chagas, de 50 anos, considera “absurda” a orientação. “Denigrem a imagem do país quanto à qualidade da água que o próprio povo está consumindo”, reclama. Já a coodenadora do Centro de Informações e Estratégias de Vigilância em Saúde (Cievs) do estado, a médica infectologista Tania Marcial, por exemplo, se surpreendeu com a orientação sobre o termômetro. “É o ideal, mas quem vai andar com um termômetro no bolso? E o texto não informa a temperatura correta”, alerta.

Sobre a água, ela lembra que os visitantes recebem orientações de comprar a bebida engarrafada já nos seus países, e aqui são orientados a comprar só a mineral. A dica, segundo ela, é para evitar que os turistas bebam água de torneira ou de bebedouros em más condições. Em nota, a Copasa informou que a água que distribui atende rigorosamente as exigências de qualidade feitas pelo Ministério da Saúde e pode ser consumida sem qualquer risco. “O cuidado que se deve ter é com a reservação domiciliar”, afirmou a empresa

Não fazer tatuagens ou pôr piercings, segundo Tania, é uma recomendação geral da área de saúde para evitar transmissão de doenças como hepatite e HIV. Vestir roupas de manga longa e se hospedar em locais com tela de proteção nas janelas são ações de prevenção contra insetos como o mosquito transmissor da dengue. “Nossa intenção é dar orientação para que os turistas não tenham algum problema de saúde durante sua estadia, mas são cuidados que a população toda deve tomar”, esclarece.

DOENÇAS Há outras diversas orientações que parecem óbvias para os cidadãos, como não consumir alimentos vencidos e lavar as mãos depois de ir ao banheiro.O vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, diz que são recomendações básicas a qualquer pessoa do planeta: “Questão de bom senso”. Segundo ele, a orientação de prender a barra da calça nas botas com fita adesiva é uma proteção necessária para quem vai às regiões infestadas por carrapatos, o que inclui parques ecológicos dentro da cidade.

“A época seca começa agora no meio do ano. Acho a recomendação adequada. Muitas pessoas que vivem na Europa frequentam parques, costumam se deitar na grama e podem ficar expostos. Existem casos de infecção por febre maculosa”, explica.

Para ele, a população realmente deve priorizar a compra de alimentos e bebidas com comerciantes certificados e fiscalizados. Andar calçado para prevenir acidentes e lavar as mãos para evitar infecções intestinais e transmissão de vírus, como a gripe, seriam recomendações necessárias. “O que está sendo feito é alertar o visitante para as nossas falhas e os riscos que podem ocorrer com os problemas estruturais do país. Não queremos que eles venham para cá e fiquem doentes”, destaca. 

Sono - Eduardo Almeida Reis‏

Sono

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/06/2014





O prefeito Marcio Araújo de Lacerda só não devolve o sono à população de Belo Horizonte porque não quer. Leis há e sempre houve, mas falta vontade política e sobra o desejo de agradar a todos os donos de estabelecimentos barulhentos, sem falar do bando de idiotas de carros equipados com sons capazes de furar tímpanos, vulgarmente chamados tunados. Não por acaso, tunador é aquele que anda à tuna, vadio, tunante, vagabundo, trapaceiro.

Devolver o silêncio noturno ao belo-horizontino, que trabalha e paga impostos, seria a coisa mais fácil do mundo se o ilustre prefeito copiasse esta disposição legal: “Por se evitarem os inconvenientes que se seguem das músicas que algumas pessoas costumam dar de noite, cantando ou tangendo com alguns instrumentos às portas de outras pessoas; defendemos que pessoa alguma, de qualquer qualidade e condição que seja, não se ponha só nem com outros a tanger, nem cantar à porta de outra alguma pessoa, desde que anoitecer, até que o sol seja saído.

E seja achado dando as ditas músicas, mandamos que assim os que tangerem e cantarem, como os que a isso assistirem, sejam presos e estejam trinta dias na cadeia, sem remissão, e da cadeia paguem todos dez cruzados, cada um a parte que lhe couber, e percam os instrumentos que lhes forem tomados e as armas para o meirinho ou alcaide que os prender e para seus homens”.

Simples, né? Está no Livro 5 das Ordenações Filipinas. Considerando que o alcaide (na Espanha atual autoridade administrativa, cujas funções correspondem às de um prefeito) Marcio Lacerda é homem rico, pode entregar os carros tunados, as armas e todos os instrumentos barulhentos aos necessitados, com a só condição de que não os usem desde que anoitecer, até que o sol seja saído.

Decepção

Dá para imaginar a tristeza dos organizadores de um desfile, que contavam reunir três milhões de pessoas nas ruas de uma cidade, domingo de sol e temperatura amena, e só aparecem 80 mil pessoas. Tudo bem que 80 mil seja número expressivo, mas diante de três milhões é um tiquinho de gente.

Que diabo teria acontecido com o orgulho gay? Se o leitor não sabe, explico: autorizados os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, acabou-se o orgulho gay. A pessoa continua gay, mas perde o orgulho: ninguém aguenta casamento.

Gays, g0ys, lésbicas, travestis, transgêneros & companhia ilimitada, antes e acima de tudo são mamíferos, grande classe de animais vertebrados, endotermos, vivíparos (exceto os monotremados, que são ovíparos), caracterizados pela presença de glândulas mamárias, corpo geralmente coberto por pelos, pele com numerosas glândulas, orelha externa presente e orelha média com três ossículos auditivos, coração com quatro câmaras, pulmões grandes e elásticos, cavidades torácica e abdominal separadas por um diafragma e fecundação interna.

Sendo mamíferos, sabem que a monogamia é regime ou costume em que é imposto ao homem ou à mulher, como também aos gays, ter apenas um cônjuge enquanto se mantiver vigente o seu casamento. Regime ou costume que é raríssimo na classe Mammalia (Linnaeus, 1758).

A ciência não se entende quanto ao número de espécies de mamíferos, até porque continua identificando novas espécies, mas há quem diga que andam em torno de 4.700. Pois muito bem: das 4.700, cerca de 30 são monogâmicas. Monogamia consegue ser pior do que casamento, o que explica o arrefecimento gay do desfile do dia 4 de maio em São Paulo. Arrefecimento, minha gente: substantivo masculino em nosso idioma desde o século XV. Em sentido figurado significa perda do entusiasmo, do ânimo, indolência, apatia.

O mundo é uma bola

7 de junho: fui ao Google para ver os fatos relacionados com este dia, cliquei 7 de junho e apareceram, num átimo, 133 milhões de entradas. Repito, que é para o leitor sentir o drama: 133.000.000. O Google é “de menor”, nasceu ainda outro dia, e já é isto que se vê. Em matéria de precocidade rivaliza com aquele bandido de 11 anos, que matou um professor de inglês, dia desses, na praça de uma cidade-satélite de Brasília. Onze aninhos e o bandido já tinha várias passagens pela polícia, uma delas por homicídio.

Em 1494, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Tordesilhas dividindo entre si o Novo Mundo. Em 1654 Luís XIV é coroado rei da França. Reinou até 1715, foi o Rei-Sol, casou-se duas vezes e teve oficialmente seis filhos. Vivia repetindo “O Estado sou eu” e posou para um pintor em posição esquisitíssima: sapato de salto alto, calça colante, longos cabelos – sei não...

Em 1863, tropas francesas conquistam a Cidade do México. Em 1905 a Noruega se divorcia da Suécia e em 1914 o primeiro navio atravessa o Canal do Panamá, que está sendo ampliado para permitir a travessia dos imensos navios de contêineres. Em 1929, com a assinatura do Tratado de Latrão, o Vaticano se torna Estado soberano.

Ruminanças

“O carro do Estado navega sobre um vulcão” (Henri Monnier, 1805-1877).