O Globo - 05/11/2013
Estudo denuncia violações de ética no tratamento a acusados de terrorismo
ISABEL DE LUCA
Correspondente
ideluca@oglobo.com.br
-NOVA YORK- Médicos, psicólogos e enfermeiros violaram a ética profissional ao participarem da tortura de suspeitos de terrorismo mantidos em centros de detenção militares americanos depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, diz um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Medicina como Profissão (IMAP, na sigla em inglês), ligado à Universidade de Columbia, e pela fundação internacional Open Society. De acordo com o documento, as práticas — classificadas no texto como “um tratamento cruel, desumano e degradante” — teriam ocorrido sob instrução do Departamento de Defesa e da CIA com o objetiv de coletar informação, em nome da segurança nacional. Embora as piores infrações sejam anteriores a 2005, elas continuariam acontecendo.
Intitulado “Ética abandonada: profissionalismo médico e abuso de detentos na guerra ao terror”, o estudo revela que profissionais da saúde a serviço das Forças Armadas e de agências de Inteligência conceberam e estiveram envolvidos em iniciativas como afogamento simulado, privação de sono e alimentação forçada de prisioneiros em greve de fome. Assinado por uma força-tarefa de 20 médicos, advogados, militares e profissionais de saúde pública, o documento pede que a Comissão de Informação do Senado dos EUA investigue o caso.
— Detentos de alto nível capturados e enviados a prisões americanas pelo mundo têm informações muito úteis ao Departamento de Defesa. Uma da desculpas dadas quando as primeiras notícias sobre esse tratamento antiético vieram a público, no fim de 2004, foi que os médicos deveriam funcionar como oficiais de segurança, ou seja, eles deveriam estar presentes em certos procedimentos e interrogações para prevenir que fosse feito algum mal aos detentos. Mas essa é só uma desculpa para envolvêlos.
Os profissionais de saúde realmente presenciavam essas torturas e eventualmente evitavam que complicações mais graves acontecessem — diz Gerald Thomson, professor emérito de Columbia e um dos autores do texto, que demandou três anos de trabalho.
Mais de cem detentos morreram em prisões militares americanas entre 2002 e 2005, sendo que 43 dessas mortes foram classificadas como homicídios. Segundo Thomson, o presidente Barack Obama repudiou a conduta quando tomou posse, em 2009, e as técnicas de interrogação com tortura foram interrompidas, mas é sabido que mais de cem detentos de Guantánamo, em Cuba, estavam em greve de fome nos últimos meses — e que cerca de 30 deles teriam sido alimentados contra a vontade por meio de tubos no nariz e no estômago, contrariando as leis da Associação Mundial de Medicina e da Associação Americana de Medicina.
— Está claro que os médicos estão envolvidos com as greves de fome que acontecem atualmente — ele afirma.
O estudo se baseou em entrevistas, documentos e registros secretos tornados públicos no início do governo Obama. Além de participar de interrogatórios, os profissionais da saúde quebraram o sigilo médico ao revelar detalhes sobre as condições físicas e psicológicas a agentes de segurança. O texto chama a atenção ainda para o fato de que eles se abstiveram de reportar o abuso de detentos.
— Nos debruçamos sobretudo sobre quatro memorandos do Departamento de Justiça, secretos até 2009. São documentos extensos que revelam que a CIA pediu que procedimentos como técnicas de interrogação, afogamento simulado e privação de sono fossem indicados como legais para os médicos — conta Thomson. — Eles juntavam a maior quantidade de informações médicas e psicológicas dos detentos para repassar aos agentes encarregados dos interrogatórios, que assim podiam conceber a “melhor” forma de tortura para cada caso.
SEM CASSAR LICENÇAS
O professor não acredita que os profissionais envolvidos no escândalo devam ter as licenças cassadas:
— É complicado; eles não estavam agindo por conta própria, estavam sendo instigados a participar dessas práticas, obedecendo ordens das Forças Armadas e das agências de Inteligência, relativas ao interrogatório de detentos e à forma como eles queriam que os médicos conduzissem as greves de fome. E, em segundo lugar, não sabemos os nomes desses médicos e psicólogos que conceberam e participaram desses métodos de interrogatório.
A ideia é que o estudo faça associações médicas e psicológicas reforçarem os padrões éticos de interrogatório e custódia de detentos.
— Isso nunca tinha acontecido na nossa História. É importante lembrar que essas vítimas de abusos não podem ser classificadas como prisioneiros de guerra segundo as leis internacionais das Convenções
de Genebra. É uma novidade para a nossa nação, e certamente a primeira vez que isso acontece na medicina americana. Então, esses abusos precisam ser entendidos, explicados. E alguma atitude
deve ser tomada — conclui Thomson.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Ensina-me a herdar
Valor Econômico -
05/11/2013
Por Luciana Seabra e Danylo Martins | De São Paulo
Grande parte das empresas familiares acaba ou é vendida por causa de conflitos societários mal resolvidos.
"Os herdeiros são sócios que não se escolheram", diz Renato Bernhoeft, fundador da höft consultoria, especializada na transição de gerações. Está aí o potencial para a formação de um barril de pólvora, escondido 55pt, título de 2por trás de uma relação idealizada entre parentes. Preparar filhos e netos para herdar e gerir o patrimônio é uma preocupação crescente dos donos de grandes fortunas. Atentos à demanda, os serviços de private banking levam os herdeiros para a sala de aula, formando novas gerações de clientes.
O Credit Suisse, que usa há oito anos a estrutura mundial do banco para oferecer aos clientes um curso focado na sucessão e governança familiar, em Zurique, prepara para este mês a primeira versão brasileira do evento. O BNP Paribas também adaptou em setembro para o Brasil seu evento de formação de herdeiros, geralmente realizado em Paris. O Santander prevê para este mês o lançamento de um programa voltado para a transição de patrimônio. HSBC, BTG Pactual e Citi estão entre os bancos que já têm programas do tipo, todos com foco nos clientes de alto patrimônio.
Em geral os gestores de fortunas convidam filhos e netos de clientes que têm entre 20 e 30 anos para os cursos que ocorrem de uma a duas vezes ao ano no Brasil ou no exterior. Os temas vão de conjuntura econômica e instrumentos para sucessão a regimes de casamento.
Com 25 anos, Lair Pasetti, herdeiro da holding Grupasso, participou neste ano do curso oferecido pelo BNP Paribas a 32 jovens. Pasetti começou como estagiário e hoje é gerente geral da Plastirrico, fabricante de embalagens do grupo que produz também o leite e o suco da marca Xandô. O fundador e presidente da Grupasso, Lair Antonio de Souza, tem hoje 84 anos. "A vontade de deixar unidas tanto as empresas quanto a família veio de cima, é uma vontade dele", conta Pasetti, um dos oito netos do fundador, que teve quatro filhos.
Começou neste ano o trabalho com consultores e advogados para tentar por em prática o desejo de Souza. Os filhos criaram um conselho para discutir o processo. Houve um treinamento de dois dias em que as áreas da empresa foram apresentadas aos familiares. "Família é família e negócio é negócio, mas todos são sócios, têm que participar, entender e ter visão mínima do que se faz na empresa", afirma Pasetti. No curso de herdeiros ele diz ter aprendido que existe uma ciência da sucessão. Claro, é apenas um começo. "Saí dali com várias lições de casa", diz.
Levar uma família a discutir o assunto da sucessão não é tarefa fácil, diz Mauro Rached, chefe da área de gestão de fortunas do BNP Paribas. Se o fundador não tem iniciativa, as gerações seguintes podem ajudar. "A primeira forma é tocar no assunto não como uma sugestão ou uma proposta, mas como uma dúvida", diz Rached. Filhos ou netos com ideias semelhantes podem se unir na missão de trazer casos de outras empresas para conversas nos almoços de família.
A própria gestão dos recursos está entre as principais dúvidas dos herdeiros, segundo Rached. Aí ele nota um contraste. Enquanto as primeiras gerações têm mostrado grande interesse por títulos incentivados, como LCIs e LCAs, os herdeiros são mais ousados. Entre os assuntos de maior interesse estão o investimento direto em ações, os fundos imobiliários e de private equity.
Entrar no debate da herança logo cedo não desestimula os jovens a montar seu próprio patrimônio? "O que a gente sempre propõe é a participação deles nas decisões, mas isso não necessariamente envolve transparência em relação a valores", diz Carolina Falzoni, responsável pela área de fundos exclusivos da Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG). Caso seja essa a escolha da família, diz, é possível discutir veículos de investimento, alocação e estratégias em profundidade sem ter que revelar o tamanho do patrimônio.
Foi em 2008 que o Credit resolveu criar um curso para conversar com filhos e cônjuges dos clientes. A ideia inicial, explicar a crise econômica internacional e deixá-los confortáveis com a volatilidade dos mercados, evoluiu para um curso geral sobre cenários e tipos de aplicações. As aulas, de uma tarde, ocorrem duas vezes ao ano. "O resultado é um cliente mais confiante com os investimentos dele e mais seguro com as decisões", afirma Carolina. Em novembro o Credit traz ao Brasil um curso focado em governança familiar.
O private banking do Citi leva 50 herdeiros uma vez por ano para seminários de cinco dias em Nova York, Londres, Cingapura e Hong Kong. Dentre os temas estão mercados financeiros globais, empreendedorismo, inovação, estruturas de sucessão, filantropia e investimentos alternativos. Três brasileiros participaram do último evento em Nova York.
O Citi busca reunir herdeiros de quatro regiões do globo. "Todas as famílias bem-sucedidas querem entender o que as outras estão fazendo", diz Cesar Chicayban, responsável pelo private bank do Citi no Brasil. Com o programa, segundo ele, as famílias passam a ver o banco como parceiro, não apenas provedor de produtos. "Um dos grandes desafios dessas famílias é formar os herdeiros. A principal angústia delas é que as famílias crescem em progressão geométrica, enquanto o patrimônio cresce em progressão aritmética", afirma.
O HSBC também tem eventos em que incentiva o relacionamento entre os clientes. "Muitas vezes os clientes acabam fazendo negócios entre eles durante os eventos", conta Gabriel Porzecanski, diretor de private banking do HSBC. É o que acontece no "Family Enterprise", evento que o banco promove com palestras e atividades para integrar famílias de diferentes países. A expectativa é de que o programa venha pela primeira vez para o Brasil em dezembro, com a participação de 25 pessoas. Desde 2007, o HSBC já oferece no Brasil um curso para sucessores.
O Santander também está prestes a lançar um programa de formação de herdeiros, com previsão de realização da primeira edição em novembro, e focado em pessoas de 23 a 35 anos. "A preocupação é mostrar quais são os instrumentos, os impactos e os cuidados necessários para garantir a transição do patrimônio", diz Marcos Shalders da Silva, superintendente executivo de private banking do banco. "A ideia surgiu quando percebemos que havia certa dificuldade em lidar com o tema da herança", complementa.
Com foco em empreendedorismo, o BTG Pactual realiza desde 2010 o evento "Futuros Líderes". Durante três dias, os 50 participantes recebem orientações sobre planejamento financeiro e como isso é vital para a formação de um novo negócio. "Desenvolvemos também programas para que as famílias entendam os processos de investimentos. O cliente fica dois dias no banco para entender o mercado financeiro", diz Renato Cohn, chefe da área de gestão de fortunas.
A ideia dos cursos não é criar sucessores para comandar as empresas familiares, mas sócios preparados. "Os herdeiros que mais criam problemas no processo de continuidade são os mal resolvidos, que não têm projeto de vida ou um sonho pessoal", diz Bernhoeft, que já na década de 80 levava herdeiros para conhecer empresas familiares na Europa. Ele cita o caso do cineasta Walter Salles, filho do fundador do Unibanco. O irmão dele, Pedro Moreira Salles, é presidente do conselho de administração do Itaú. "Quanto mais brilhante cineasta for o Walter, melhor acionista ele vai ser, porque está realizado em outro lugar", diz Bernhoeft.
Por Luciana Seabra e Danylo Martins | De São Paulo
Grande parte das empresas familiares acaba ou é vendida por causa de conflitos societários mal resolvidos.
"Os herdeiros são sócios que não se escolheram", diz Renato Bernhoeft, fundador da höft consultoria, especializada na transição de gerações. Está aí o potencial para a formação de um barril de pólvora, escondido 55pt, título de 2por trás de uma relação idealizada entre parentes. Preparar filhos e netos para herdar e gerir o patrimônio é uma preocupação crescente dos donos de grandes fortunas. Atentos à demanda, os serviços de private banking levam os herdeiros para a sala de aula, formando novas gerações de clientes.
O Credit Suisse, que usa há oito anos a estrutura mundial do banco para oferecer aos clientes um curso focado na sucessão e governança familiar, em Zurique, prepara para este mês a primeira versão brasileira do evento. O BNP Paribas também adaptou em setembro para o Brasil seu evento de formação de herdeiros, geralmente realizado em Paris. O Santander prevê para este mês o lançamento de um programa voltado para a transição de patrimônio. HSBC, BTG Pactual e Citi estão entre os bancos que já têm programas do tipo, todos com foco nos clientes de alto patrimônio.
Em geral os gestores de fortunas convidam filhos e netos de clientes que têm entre 20 e 30 anos para os cursos que ocorrem de uma a duas vezes ao ano no Brasil ou no exterior. Os temas vão de conjuntura econômica e instrumentos para sucessão a regimes de casamento.
Com 25 anos, Lair Pasetti, herdeiro da holding Grupasso, participou neste ano do curso oferecido pelo BNP Paribas a 32 jovens. Pasetti começou como estagiário e hoje é gerente geral da Plastirrico, fabricante de embalagens do grupo que produz também o leite e o suco da marca Xandô. O fundador e presidente da Grupasso, Lair Antonio de Souza, tem hoje 84 anos. "A vontade de deixar unidas tanto as empresas quanto a família veio de cima, é uma vontade dele", conta Pasetti, um dos oito netos do fundador, que teve quatro filhos.
Começou neste ano o trabalho com consultores e advogados para tentar por em prática o desejo de Souza. Os filhos criaram um conselho para discutir o processo. Houve um treinamento de dois dias em que as áreas da empresa foram apresentadas aos familiares. "Família é família e negócio é negócio, mas todos são sócios, têm que participar, entender e ter visão mínima do que se faz na empresa", afirma Pasetti. No curso de herdeiros ele diz ter aprendido que existe uma ciência da sucessão. Claro, é apenas um começo. "Saí dali com várias lições de casa", diz.
Levar uma família a discutir o assunto da sucessão não é tarefa fácil, diz Mauro Rached, chefe da área de gestão de fortunas do BNP Paribas. Se o fundador não tem iniciativa, as gerações seguintes podem ajudar. "A primeira forma é tocar no assunto não como uma sugestão ou uma proposta, mas como uma dúvida", diz Rached. Filhos ou netos com ideias semelhantes podem se unir na missão de trazer casos de outras empresas para conversas nos almoços de família.
A própria gestão dos recursos está entre as principais dúvidas dos herdeiros, segundo Rached. Aí ele nota um contraste. Enquanto as primeiras gerações têm mostrado grande interesse por títulos incentivados, como LCIs e LCAs, os herdeiros são mais ousados. Entre os assuntos de maior interesse estão o investimento direto em ações, os fundos imobiliários e de private equity.
Entrar no debate da herança logo cedo não desestimula os jovens a montar seu próprio patrimônio? "O que a gente sempre propõe é a participação deles nas decisões, mas isso não necessariamente envolve transparência em relação a valores", diz Carolina Falzoni, responsável pela área de fundos exclusivos da Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG). Caso seja essa a escolha da família, diz, é possível discutir veículos de investimento, alocação e estratégias em profundidade sem ter que revelar o tamanho do patrimônio.
Foi em 2008 que o Credit resolveu criar um curso para conversar com filhos e cônjuges dos clientes. A ideia inicial, explicar a crise econômica internacional e deixá-los confortáveis com a volatilidade dos mercados, evoluiu para um curso geral sobre cenários e tipos de aplicações. As aulas, de uma tarde, ocorrem duas vezes ao ano. "O resultado é um cliente mais confiante com os investimentos dele e mais seguro com as decisões", afirma Carolina. Em novembro o Credit traz ao Brasil um curso focado em governança familiar.
O private banking do Citi leva 50 herdeiros uma vez por ano para seminários de cinco dias em Nova York, Londres, Cingapura e Hong Kong. Dentre os temas estão mercados financeiros globais, empreendedorismo, inovação, estruturas de sucessão, filantropia e investimentos alternativos. Três brasileiros participaram do último evento em Nova York.
O Citi busca reunir herdeiros de quatro regiões do globo. "Todas as famílias bem-sucedidas querem entender o que as outras estão fazendo", diz Cesar Chicayban, responsável pelo private bank do Citi no Brasil. Com o programa, segundo ele, as famílias passam a ver o banco como parceiro, não apenas provedor de produtos. "Um dos grandes desafios dessas famílias é formar os herdeiros. A principal angústia delas é que as famílias crescem em progressão geométrica, enquanto o patrimônio cresce em progressão aritmética", afirma.
O HSBC também tem eventos em que incentiva o relacionamento entre os clientes. "Muitas vezes os clientes acabam fazendo negócios entre eles durante os eventos", conta Gabriel Porzecanski, diretor de private banking do HSBC. É o que acontece no "Family Enterprise", evento que o banco promove com palestras e atividades para integrar famílias de diferentes países. A expectativa é de que o programa venha pela primeira vez para o Brasil em dezembro, com a participação de 25 pessoas. Desde 2007, o HSBC já oferece no Brasil um curso para sucessores.
O Santander também está prestes a lançar um programa de formação de herdeiros, com previsão de realização da primeira edição em novembro, e focado em pessoas de 23 a 35 anos. "A preocupação é mostrar quais são os instrumentos, os impactos e os cuidados necessários para garantir a transição do patrimônio", diz Marcos Shalders da Silva, superintendente executivo de private banking do banco. "A ideia surgiu quando percebemos que havia certa dificuldade em lidar com o tema da herança", complementa.
Com foco em empreendedorismo, o BTG Pactual realiza desde 2010 o evento "Futuros Líderes". Durante três dias, os 50 participantes recebem orientações sobre planejamento financeiro e como isso é vital para a formação de um novo negócio. "Desenvolvemos também programas para que as famílias entendam os processos de investimentos. O cliente fica dois dias no banco para entender o mercado financeiro", diz Renato Cohn, chefe da área de gestão de fortunas.
A ideia dos cursos não é criar sucessores para comandar as empresas familiares, mas sócios preparados. "Os herdeiros que mais criam problemas no processo de continuidade são os mal resolvidos, que não têm projeto de vida ou um sonho pessoal", diz Bernhoeft, que já na década de 80 levava herdeiros para conhecer empresas familiares na Europa. Ele cita o caso do cineasta Walter Salles, filho do fundador do Unibanco. O irmão dele, Pedro Moreira Salles, é presidente do conselho de administração do Itaú. "Quanto mais brilhante cineasta for o Walter, melhor acionista ele vai ser, porque está realizado em outro lugar", diz Bernhoeft.
Raymundo Costa - Uma agenda para o segundo mandato
Valor Econômico - 05/11/2013
Assim como anteciparam a campanha sucessória, governo e PT também começaram a discutir uma agenda para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Não se trata propriamente do programa a ser discutido no horário eleitoral ou nos debates entre candidatos, mas aquele efetivamente a ser posto em prática, se Dilma se reeleger.
Nas palavras de um integrante do grupo precursor da campanha de Dilma, "nós temos que criar condições na sociedade para que a Dilma, assim como o Lula, possa fazer um segundo mandato melhor que o primeiro" - um governo capaz de avançar com as reformas estruturais, em especial com a reforma tributária, agenda insolúvel das últimas décadas.
Em especial porque é estreita a margem de manobra para a presidente manter ou ampliar os investimentos sociais, marcas dos governos do PT. A alternativa à vista é o aumento da arrecadação. Em duas palavras: aumento de impostos.
Mais imposto para manter o investimento social
Especialmente porque, ao invés de se discutir cortes para ampliar o investimento, e não só no social, o debate é sobre como aumentar a arrecadação. "Não há como dar conta da chamada voz das ruas com a estrutura tributária atual, que é uma estrutura injusta", diz a fonte da campanha. "Agora, o governo não vai falar disso no horário eleitoral ", afirma. "O PT é quem tem que travar uma luta partidária, permanente, inclusive fora da campanha eleitoral para defender a necessidade da reforma tributária. Não é só o negócio da reforma fiscal".
As diferenças no PT e parte do governo é quanto à forma. A esquerda acredita que as reformas necessárias não serão feitas sem quebrar o atual arco de alianças políticas do governo, inclusive com o maior partido aliado, o PMDB. O raciocínio parte do pressuposto segundo o qual acabou o tempo de bonança, em que todos ganharam, e que para avançar alguém terá que perder. Em resumo, não haverá mais como manter o padrão de consumo, a elevação do salário mínimo, a ascensão social, se não houver o acirramento da luta de classes.
A alternativa que a centro-esquerda considera viável é avançar nas mudanças estruturais com a atual aliança partidária. O problema, argumenta-se, é que "os neoliberais" incutiram na sociedade que imposto é uma coisa ruim. No entanto, vista de perto, "a maior carga tributária do mundo", no fundo seria distribuída injustamente e altamente regressiva.
O exemplo preferido é o mesmo de todas as eleições: ao fim e ao cabo, a maior alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Física (27,5%) é a mesma que incide sobre salários da classe média e sobre rendimentos do empresário Antonio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim. Nas discussões sobre o futuro governo entra também o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), um tributo forte para a arrecadação e altamente regressivo: o preço da manteiga é o mesmo para o assalariado e para o grande empresário.
A alíquota de 27,5% do IRPF foi criada em caráter provisório em 1999, para que o governo Fernando Henrique Cardoso equilibrasse suas contas. Deveria voltar aos 25% em 2004, já no governo Lula da Silva. Como é da tradição brasileira, com a rara exceção do imposto do cheque, ela se tornou permanente. O PT namora com a alíquota de 35%, entre outras medidas pensadas para aumentar a arrecadação, como a criação do imposto sobre grandes fortunas. Trata-se de uma tarefa árdua. Basta ver o que acontece em São Paulo.
Na capital do maior Estado da Federação vige uma lei segundo a qual, a partir de 2013, é preciso fazer a planta genérica de valores (simplificadamente, a atualização do valor venal dos imóveis, sobre o qual incide o percentual para cobrança do imposto). A atualização sobre o valor venal não significa que o imposto será cobrado sobre o valor real do imóvel. Mas o imposto sobe ainda que se mantenha a alíquota anterior.
É uma determinação legal. Fernando Haddad, prefeito do PT, tomou o cuidado de fazer três áreas fiscais, o que isentou quase toda a periferia. Sobre imóveis situados em regiões com maior infraestrutura, na zona central, por exemplo, paga-se mais do que sobre um localizado em Guaianazes, no extremo da zona leste. Ainda assim Haddad está em maus lençóis. Tanto que já articula para que a planta genérica seja atualizada a cada quatro e não mais a cada dois anos, como prevê e lei.
Esse é um exemplo das discussões antecipadas que se faz na órbita do grupo precursor da campanha de Dilma. Outro é a autonomia do Banco Central, cujos contornos apareceram semana passada, quando Lula estimulou alguns senadores a votar um projeto, em tramitação no Senado, que na realidade trata da "independência" do BC. A rigor, o BC já dispõe de certa autonomia, conforme se reconhece nessas discussões. "O que algumas vez se quer é trocar a autonomia pela independência", diz a fonte do grupo que trata da reeleição da presidente Dilma.
O Banco Central, segundo a discussão em curso entre os que participam da elaboração da agenda do segundo mandato, tem que fazer a política monetária sem interferência do Executivo. Mas quem deve formular política econômica é "quem tem a delegação do voto popular, o Executivo e o Legislativo. Se não você vai diminuindo a política econômica por uma suposta isenção técnica que não existe. A técnica é um instrumento de implementação da política".
Além da reforma tributária e a discussão sobre a autonomia do Banco Central, o PT pretende fazer uma discussão geral sobre um conjunto de propostas que passa pela reforma política e chega às agências reguladoras. As agências criadas no governo Fernando Henrique Cardoso "supostamente", como se diz no PT, deveriam funcionar como órgãos neutros, preocupadas mais com os interesses dos usuários do que das empresas prestadoras do serviço. Hoje há dúvida se elas estão do lado do consumidor ou se foram capturadas pelas empresas. Pior ainda, do ponto de vista petista: estão querendo fazer políticas públicas. "Então tudo isso tem que ser revisto. Porque os caras vão pra lá, têm mandato, mas não têm essa neutralidade".
Assim como anteciparam a campanha sucessória, governo e PT também começaram a discutir uma agenda para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Não se trata propriamente do programa a ser discutido no horário eleitoral ou nos debates entre candidatos, mas aquele efetivamente a ser posto em prática, se Dilma se reeleger.
Nas palavras de um integrante do grupo precursor da campanha de Dilma, "nós temos que criar condições na sociedade para que a Dilma, assim como o Lula, possa fazer um segundo mandato melhor que o primeiro" - um governo capaz de avançar com as reformas estruturais, em especial com a reforma tributária, agenda insolúvel das últimas décadas.
Em especial porque é estreita a margem de manobra para a presidente manter ou ampliar os investimentos sociais, marcas dos governos do PT. A alternativa à vista é o aumento da arrecadação. Em duas palavras: aumento de impostos.
Mais imposto para manter o investimento social
Especialmente porque, ao invés de se discutir cortes para ampliar o investimento, e não só no social, o debate é sobre como aumentar a arrecadação. "Não há como dar conta da chamada voz das ruas com a estrutura tributária atual, que é uma estrutura injusta", diz a fonte da campanha. "Agora, o governo não vai falar disso no horário eleitoral ", afirma. "O PT é quem tem que travar uma luta partidária, permanente, inclusive fora da campanha eleitoral para defender a necessidade da reforma tributária. Não é só o negócio da reforma fiscal".
As diferenças no PT e parte do governo é quanto à forma. A esquerda acredita que as reformas necessárias não serão feitas sem quebrar o atual arco de alianças políticas do governo, inclusive com o maior partido aliado, o PMDB. O raciocínio parte do pressuposto segundo o qual acabou o tempo de bonança, em que todos ganharam, e que para avançar alguém terá que perder. Em resumo, não haverá mais como manter o padrão de consumo, a elevação do salário mínimo, a ascensão social, se não houver o acirramento da luta de classes.
A alternativa que a centro-esquerda considera viável é avançar nas mudanças estruturais com a atual aliança partidária. O problema, argumenta-se, é que "os neoliberais" incutiram na sociedade que imposto é uma coisa ruim. No entanto, vista de perto, "a maior carga tributária do mundo", no fundo seria distribuída injustamente e altamente regressiva.
O exemplo preferido é o mesmo de todas as eleições: ao fim e ao cabo, a maior alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Física (27,5%) é a mesma que incide sobre salários da classe média e sobre rendimentos do empresário Antonio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim. Nas discussões sobre o futuro governo entra também o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), um tributo forte para a arrecadação e altamente regressivo: o preço da manteiga é o mesmo para o assalariado e para o grande empresário.
A alíquota de 27,5% do IRPF foi criada em caráter provisório em 1999, para que o governo Fernando Henrique Cardoso equilibrasse suas contas. Deveria voltar aos 25% em 2004, já no governo Lula da Silva. Como é da tradição brasileira, com a rara exceção do imposto do cheque, ela se tornou permanente. O PT namora com a alíquota de 35%, entre outras medidas pensadas para aumentar a arrecadação, como a criação do imposto sobre grandes fortunas. Trata-se de uma tarefa árdua. Basta ver o que acontece em São Paulo.
Na capital do maior Estado da Federação vige uma lei segundo a qual, a partir de 2013, é preciso fazer a planta genérica de valores (simplificadamente, a atualização do valor venal dos imóveis, sobre o qual incide o percentual para cobrança do imposto). A atualização sobre o valor venal não significa que o imposto será cobrado sobre o valor real do imóvel. Mas o imposto sobe ainda que se mantenha a alíquota anterior.
É uma determinação legal. Fernando Haddad, prefeito do PT, tomou o cuidado de fazer três áreas fiscais, o que isentou quase toda a periferia. Sobre imóveis situados em regiões com maior infraestrutura, na zona central, por exemplo, paga-se mais do que sobre um localizado em Guaianazes, no extremo da zona leste. Ainda assim Haddad está em maus lençóis. Tanto que já articula para que a planta genérica seja atualizada a cada quatro e não mais a cada dois anos, como prevê e lei.
Esse é um exemplo das discussões antecipadas que se faz na órbita do grupo precursor da campanha de Dilma. Outro é a autonomia do Banco Central, cujos contornos apareceram semana passada, quando Lula estimulou alguns senadores a votar um projeto, em tramitação no Senado, que na realidade trata da "independência" do BC. A rigor, o BC já dispõe de certa autonomia, conforme se reconhece nessas discussões. "O que algumas vez se quer é trocar a autonomia pela independência", diz a fonte do grupo que trata da reeleição da presidente Dilma.
O Banco Central, segundo a discussão em curso entre os que participam da elaboração da agenda do segundo mandato, tem que fazer a política monetária sem interferência do Executivo. Mas quem deve formular política econômica é "quem tem a delegação do voto popular, o Executivo e o Legislativo. Se não você vai diminuindo a política econômica por uma suposta isenção técnica que não existe. A técnica é um instrumento de implementação da política".
Além da reforma tributária e a discussão sobre a autonomia do Banco Central, o PT pretende fazer uma discussão geral sobre um conjunto de propostas que passa pela reforma política e chega às agências reguladoras. As agências criadas no governo Fernando Henrique Cardoso "supostamente", como se diz no PT, deveriam funcionar como órgãos neutros, preocupadas mais com os interesses dos usuários do que das empresas prestadoras do serviço. Hoje há dúvida se elas estão do lado do consumidor ou se foram capturadas pelas empresas. Pior ainda, do ponto de vista petista: estão querendo fazer políticas públicas. "Então tudo isso tem que ser revisto. Porque os caras vão pra lá, têm mandato, mas não têm essa neutralidade".
Informação contra racismo e pela igualdade racial - CARLOS ALBERTO SILVA JUNIOR
Correio Braziliense - 05/11/2013
A população negra brasileira vive um momento muito auspicioso com a iminência da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que se realizará de hoje a quinta-feira e reunirá cerca de 1.400 pessoas, em Brasília, sendo 1.200 delegados e 200 convidados.
Esta edição da Conferência Nacional já se revela (mas não somente) instrumento significativo de participação social, com o que os temas pujantes da sociedade civil serão debatidos e expostos ao poder público. É a oportunidade que a população tem de se empoderar do processo de avaliação, de opinião e de intervenção nas ações, políticas e programas submetidos à execução do governo.
Aperfeiçoar os processos de empoderamento e intervenção nessa atmosfera de participação social desvelada requer a instrumentalização desse novo poder adquirido pela população negra: a garantia do direito à informação, consagrada na Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, regulamentada pelo Decreto nº. 7724, de 16 de maio de 2012. Tais ferramentas legais normatizaram o acesso à informação dos documentos produzidos na administração pública federal.
Combater o racismo e promover a igualdade racial, portanto, são tarefas fundadas não apenas nas leis que regulam a gestão pública, na qual se insere parte dos interesses legítimos da população negra (como o que prevê o direito de ser informado). Estão também sob abrigo de dispositivos constitucionais, que afirmam o direito de todo cidadão brasileiro receber dos órgãos públicos informações do seu interesse particular, geral ou coletivo.
O acesso à informação constitui um dos fundamentos para a consolidação da democracia — também esta componente do tema central da conferência. Dessa forma, é imprescindível que os movimentos sociais, bem como o aparelho do Estado voltado para o enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade entre os povos, se apropriem desse instrumento para reivindicar o seu direito à informação.
Instituições públicas não podem, por sua natureza, sonegar informações que afetem os interesses coletivos, tampouco os individuais, sobretudo quando se trata da obtenção de documentos para pesquisadores, estudantes, militantes e cidadãos que necessitam de conteúdos que consolidem o seu trabalho ou que os mantenham vigorosos na sua luta política cotidiana de enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial.
A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) registrou, de maio de 2012 a outubro de 2013, no sistema eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão (e-SIC), 136 solicitações de informação, uma média mensal de aproximadamente oito pedidos. Vale pontuar que, até o momento, 135 solicitações foram respondidas e apenas uma encontra-se no prazo legal para resposta.
Acentue-se, ainda, que a temática de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial significa agir transversal e intersetorialmente. As mazelas do racismo vêm, sistematicamente, configurando fenômeno aglutinador de obstáculos que dificultam a concentração e a sistematização de informações.
Não foi por acaso que, terça-feira passada, 11 autoridades da República dispuseram-se a assinar protocolo de intenções visando garantir que as entidades que representam se tornem mais sensíveis aos direitos dos jovens negros. O protocolo tem como objetivo a conjugação de esforços na elaboração e ajuste de políticas públicas e respectivas medidas administrativas, com vistas a assegurar o enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial da juventude negra brasileira nos campos da segurança pública e dos serviços prestados pelas instituições do sistema de justiça.
O documento foi subscrito pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, que conduz o Plano Juventude Viva, transversal a muito do que se produz na Seppir. Também o assinaram a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o ministro da Justiça, responsável por boa parte das instituições que lidam com segurança no país e natural articular do Executivo com órgãos do Judiciário.
A ditadura militar deixou um legado de sigilo, desestimulando o pedido de informações. Estimular o movimento social negro à cultura do acesso à informação vai permitir a formação de uma geração de atores políticos capazes de fiscalizar a utilização responsável dos recursos públicos, inclusive àqueles destinados ao desenvolvimento da população negra, tornando ainda mais consequente o tema da III Conferência Nacional: “Democracia e desenvolvimento sem racismo — por um Brasil afirmativo”.
A população negra brasileira vive um momento muito auspicioso com a iminência da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que se realizará de hoje a quinta-feira e reunirá cerca de 1.400 pessoas, em Brasília, sendo 1.200 delegados e 200 convidados.
Esta edição da Conferência Nacional já se revela (mas não somente) instrumento significativo de participação social, com o que os temas pujantes da sociedade civil serão debatidos e expostos ao poder público. É a oportunidade que a população tem de se empoderar do processo de avaliação, de opinião e de intervenção nas ações, políticas e programas submetidos à execução do governo.
Aperfeiçoar os processos de empoderamento e intervenção nessa atmosfera de participação social desvelada requer a instrumentalização desse novo poder adquirido pela população negra: a garantia do direito à informação, consagrada na Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, regulamentada pelo Decreto nº. 7724, de 16 de maio de 2012. Tais ferramentas legais normatizaram o acesso à informação dos documentos produzidos na administração pública federal.
Combater o racismo e promover a igualdade racial, portanto, são tarefas fundadas não apenas nas leis que regulam a gestão pública, na qual se insere parte dos interesses legítimos da população negra (como o que prevê o direito de ser informado). Estão também sob abrigo de dispositivos constitucionais, que afirmam o direito de todo cidadão brasileiro receber dos órgãos públicos informações do seu interesse particular, geral ou coletivo.
O acesso à informação constitui um dos fundamentos para a consolidação da democracia — também esta componente do tema central da conferência. Dessa forma, é imprescindível que os movimentos sociais, bem como o aparelho do Estado voltado para o enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade entre os povos, se apropriem desse instrumento para reivindicar o seu direito à informação.
Instituições públicas não podem, por sua natureza, sonegar informações que afetem os interesses coletivos, tampouco os individuais, sobretudo quando se trata da obtenção de documentos para pesquisadores, estudantes, militantes e cidadãos que necessitam de conteúdos que consolidem o seu trabalho ou que os mantenham vigorosos na sua luta política cotidiana de enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial.
A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) registrou, de maio de 2012 a outubro de 2013, no sistema eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão (e-SIC), 136 solicitações de informação, uma média mensal de aproximadamente oito pedidos. Vale pontuar que, até o momento, 135 solicitações foram respondidas e apenas uma encontra-se no prazo legal para resposta.
Acentue-se, ainda, que a temática de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial significa agir transversal e intersetorialmente. As mazelas do racismo vêm, sistematicamente, configurando fenômeno aglutinador de obstáculos que dificultam a concentração e a sistematização de informações.
Não foi por acaso que, terça-feira passada, 11 autoridades da República dispuseram-se a assinar protocolo de intenções visando garantir que as entidades que representam se tornem mais sensíveis aos direitos dos jovens negros. O protocolo tem como objetivo a conjugação de esforços na elaboração e ajuste de políticas públicas e respectivas medidas administrativas, com vistas a assegurar o enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial da juventude negra brasileira nos campos da segurança pública e dos serviços prestados pelas instituições do sistema de justiça.
O documento foi subscrito pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, que conduz o Plano Juventude Viva, transversal a muito do que se produz na Seppir. Também o assinaram a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o ministro da Justiça, responsável por boa parte das instituições que lidam com segurança no país e natural articular do Executivo com órgãos do Judiciário.
A ditadura militar deixou um legado de sigilo, desestimulando o pedido de informações. Estimular o movimento social negro à cultura do acesso à informação vai permitir a formação de uma geração de atores políticos capazes de fiscalizar a utilização responsável dos recursos públicos, inclusive àqueles destinados ao desenvolvimento da população negra, tornando ainda mais consequente o tema da III Conferência Nacional: “Democracia e desenvolvimento sem racismo — por um Brasil afirmativo”.
A vergonhosa escalada dos estupros no Brasil
Correio Braziliense - 05/11/2013
Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela o
aumento expressivo de casos de violência sexual. E mostra que as
políticas para o setor, na maioria dos estados, ignoram a importância de
se investir em inteligência
Independentemente do local, a cada crise na segurança pública o discurso das autoridades é sempre o mesmo. Coloca-se na mesa a necessidade de as ações policiais se basearem em dados de inteligência e troca de informações. Só que, na prática, essas duas áreas, consideradas fundamentais para o combate à violência, recebem uma atenção mínima das autoridades. Só 1,4% dos R$ 61,1 bilhões investidos pelos estados na segurança foram canalizados para tais setores. Na média, cada unidade da Federação gastou, em estruturas de informação e inteligência, R$ 27,62 milhões, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
No ranking dos estados que menos atenção deram a esse tipo de investimento estão Rio de Janeiro, com apenas R$ 19 mil liberados, Goiás (R$ 26,9 mil) e Santa Catarina (R$129,5 mil). No outro extremo, com aportes recorde de recursos, vêm São Paulo, com R$ 273,2 milhões, Mato Grosso do Sul (R$ 89 milhões) e Minas Gerais (R$ 76,1 milhões).
Ex-investigador da Polícia Civil de São Paulo, doutor em crime organizado pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor em inteligência e análise criminal, Guaracy Mingardi ressalta que o maior problema brasileiro, na área, é a falta de integração entre as forças de segurança. “Polícia Militar e Polícia Civil, de um mesmo estado, não conversam. Quando a troca de informações se faz necessária entre unidades da Federação, a coisa se complica ainda mais”, afirma Mingardi, que é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Colaborou Vinicius Doria
Estupros superam os casos de assassinato
RENATA MARIZ
Uma
das estatísticas mais preocupantes que o Fórum Brasileiro de Segurança
Pública apresentará hoje, no lançamento da 7ª edição do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, é o número de estupros em 2012, que
superou homicídios dolosos (com intenção de matar). Foram 50.617 casos
de violência sexual, que representam 26,1 estupros por grupo de 100 mil
habitantes — aumento de 18,1% em relação a 2011, que teve 22,1 casos por
grupo de 100 mil pessoas. No caso dos assassinatos, foram feitos 47,1
mil registros.
O fórum não antecipou os números de estupros por unidade da Federação, apenas divulgou alguns exemplos para ilustrar o resultado da pesquisa. Roraima, com 52,2 casos por 100 mil habitantes, Rondônia (49/100 mil) e Santa Catarina (45,8/100 mil) foram os estados com maior número de ocorrências de violência sexual. Paraíba (8,8/100 mil) , Rio Grande do Norte (9,9/100 mil) e Minas Gerais (10,1/100 mil) registraram os menores índices.
No Distrito Federal, com base nos dados da Secretaria de Segurança Pública de janeiro a setembro de 2012, o número de estupros também cresceu significativamente: foram registrados 745 casos no período, contra 567 nos três primeiros trimestres de 2011, aumento de 31,4%. Ceilândia, Planaltina, Taguatinga e Plano Piloto lideraram a estatística no período.
No quesito mortalidade violenta, o Brasil registrou aumento na taxa: de 22,5 homicídios por 100 mil habitantes para 24,3, um avanço de 7,8%. Alagoas continua no topo da lista dos assassinatos, com 58,2 mortes por 100 mil habitantes. Mas houve um recuo importante em relação a 2011, de 21,9%.
Quem mais reduziu taxa de mortes, entretanto, foi o Espírito Santo, estado marcado pela violência. Lá, os homicídios atingiram 41,1 por grupo de 100 mil habitantes, em 2011. Ano passado, a taxa diminui 33%, passando para 27,5 mortes a cada 100 mil habitantes. Na outra ponta, o Amapá registrou o maior incremento na proporção de homicídios, saindo de 3,4 por 100 mil habitantes, em 2011, para 9,9 em 2012. Um avanço de 193,9%. O estudo ressalta, porém, que o Amapá é do grupo de estados com sistema ruim de informações, que prejudica o levantamento de dados.
Inteligência pobre
O fórum não antecipou os números de estupros por unidade da Federação, apenas divulgou alguns exemplos para ilustrar o resultado da pesquisa. Roraima, com 52,2 casos por 100 mil habitantes, Rondônia (49/100 mil) e Santa Catarina (45,8/100 mil) foram os estados com maior número de ocorrências de violência sexual. Paraíba (8,8/100 mil) , Rio Grande do Norte (9,9/100 mil) e Minas Gerais (10,1/100 mil) registraram os menores índices.
No Distrito Federal, com base nos dados da Secretaria de Segurança Pública de janeiro a setembro de 2012, o número de estupros também cresceu significativamente: foram registrados 745 casos no período, contra 567 nos três primeiros trimestres de 2011, aumento de 31,4%. Ceilândia, Planaltina, Taguatinga e Plano Piloto lideraram a estatística no período.
No quesito mortalidade violenta, o Brasil registrou aumento na taxa: de 22,5 homicídios por 100 mil habitantes para 24,3, um avanço de 7,8%. Alagoas continua no topo da lista dos assassinatos, com 58,2 mortes por 100 mil habitantes. Mas houve um recuo importante em relação a 2011, de 21,9%.
Quem mais reduziu taxa de mortes, entretanto, foi o Espírito Santo, estado marcado pela violência. Lá, os homicídios atingiram 41,1 por grupo de 100 mil habitantes, em 2011. Ano passado, a taxa diminui 33%, passando para 27,5 mortes a cada 100 mil habitantes. Na outra ponta, o Amapá registrou o maior incremento na proporção de homicídios, saindo de 3,4 por 100 mil habitantes, em 2011, para 9,9 em 2012. Um avanço de 193,9%. O estudo ressalta, porém, que o Amapá é do grupo de estados com sistema ruim de informações, que prejudica o levantamento de dados.
Inteligência pobre
Independentemente do local, a cada crise na segurança pública o discurso das autoridades é sempre o mesmo. Coloca-se na mesa a necessidade de as ações policiais se basearem em dados de inteligência e troca de informações. Só que, na prática, essas duas áreas, consideradas fundamentais para o combate à violência, recebem uma atenção mínima das autoridades. Só 1,4% dos R$ 61,1 bilhões investidos pelos estados na segurança foram canalizados para tais setores. Na média, cada unidade da Federação gastou, em estruturas de informação e inteligência, R$ 27,62 milhões, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
No ranking dos estados que menos atenção deram a esse tipo de investimento estão Rio de Janeiro, com apenas R$ 19 mil liberados, Goiás (R$ 26,9 mil) e Santa Catarina (R$129,5 mil). No outro extremo, com aportes recorde de recursos, vêm São Paulo, com R$ 273,2 milhões, Mato Grosso do Sul (R$ 89 milhões) e Minas Gerais (R$ 76,1 milhões).
Ex-investigador da Polícia Civil de São Paulo, doutor em crime organizado pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor em inteligência e análise criminal, Guaracy Mingardi ressalta que o maior problema brasileiro, na área, é a falta de integração entre as forças de segurança. “Polícia Militar e Polícia Civil, de um mesmo estado, não conversam. Quando a troca de informações se faz necessária entre unidades da Federação, a coisa se complica ainda mais”, afirma Mingardi, que é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Colaborou Vinicius Doria
Maria Esther Maciel-Um pouco de loucura
Estado de Minas: 05/11/2013
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De Cecília, só sei uma coisa: tinha tudo para ser
louca, mas não era. Ou melhor, sua loucura não tinha nada de óbvio, não
era dessas que exigem remédios e cuidados diários. Era, digamos, uma
loucura quase lúcida. Ou sábia.
Conheci-a quando vim morar em Belo Horizonte. E se falo nela hoje é porque me lembrei de seu aniversário. Creio que completa, este mês, 49 anos. Uma data que, para ela, deve ser mais importante do que os 50 que fará daqui a um ano. Explico: Cecília acreditava (será que ainda acredita?) no poder dos setênios, ou seja, dos ciclos de sete anos na vida de uma pessoa. Para ela, aos 7, 21, 35, 42, 49 e, assim por diante, experimentamos grandes guinadas, entramos em outros rumos e contextos. Para isso, ela evocava a teoria do austríaco Rudolf Steiner (1861–1925), criador da antroposofia, que ela admirava muito na época. Quando fiz 21 anos, por exemplo, Cecília me disse: “É hora de você entrar em estado de desencontro com o mundo”. Dito e feito. Só não sei se aos 28 encontrei o rumo certo, como me foi dito que, provavelmente, aconteceria.
Cecília sempre me surpreendia com seu jeito diferente. Ela gostava, por exemplo, de fazer listas. Certa vez, mostrou-me uma só com expressões cotidianas relacionadas a bichos, como “engolir sapos”, “levar gato por lebre”, “picar a mula”, “tirar o cavalinho da chuva”, “é agora que a porca torce o rabo”, “cada macaco no seu galho”, “pagar o pato”, “memória de elefante”, “dormir com as galinhas”. Uma outra lista que fez foi a do que chamou de “peixes perplexos”. A princípio, não entendi a lógica da coisa, mas depois ela me explicou: “são os peixes que se assustam com a sujeira do mundo”. Entre eles, estavam a “truta”, o “peixe-lua”, o “cascudo”, o “badejo”, a “manjuba”, o “galhudo”, a “merluza” e a “viúva”. Mas a melhor, mesmo, foi a longa lista de cidades com nomes curiosos que ela me mostrou numa tarde de junho, entre eles “Bizarra”, “Barra do Choça”, “Amargosa”, “Carrasco Bonito”, “Arroio do Tigre”, “Breu Branco”, “Venha-Ver”, “Sonora” e “Olho d'Água do Borges”.
Outro caso interessante foi quando ela apareceu lá em casa com febre, meio prostrada. Preocupei-me com seu estado e quis dar-lhe um remédio. Ela recusou ajuda, com o argumento: “Uma vez li que Deus se manifesta nos nossos estados febris. Vou aproveitar que tenho febre para ver se isso acontece”. Ficou com febre por dois dias seguidos e, quando perguntei se tinha valido a pena não tomar remédio, respondeu, séria: “Não conto. É segredo.”
Convivi com Cecília durante uns três anos e meio. Depois, ela foi embora para a Dinamarca, onde seu pai – que era neto de dinamarqueses – vivia. Lá, pelo que consta numa das últimas cartas que me enviou, ela se casou com um pianista chamado Lars Olsen, viúvo e 22 anos mais velho que ela. Não sei se continua morando em Copenhague com ele. Nem se tiveram filhos.
Espero que Cecília continue com sua loucura quase lúcida, pois isso sempre foi a sua melhor virtude. E que não tenha perdido o hábito de fazer listas imprevisíveis, como a das frutas amargas, das doenças sem remédio possível, dos nomes insanos dados a cachorros e dos lugares para se visitar nos dias ímpares da semana.
Conheci-a quando vim morar em Belo Horizonte. E se falo nela hoje é porque me lembrei de seu aniversário. Creio que completa, este mês, 49 anos. Uma data que, para ela, deve ser mais importante do que os 50 que fará daqui a um ano. Explico: Cecília acreditava (será que ainda acredita?) no poder dos setênios, ou seja, dos ciclos de sete anos na vida de uma pessoa. Para ela, aos 7, 21, 35, 42, 49 e, assim por diante, experimentamos grandes guinadas, entramos em outros rumos e contextos. Para isso, ela evocava a teoria do austríaco Rudolf Steiner (1861–1925), criador da antroposofia, que ela admirava muito na época. Quando fiz 21 anos, por exemplo, Cecília me disse: “É hora de você entrar em estado de desencontro com o mundo”. Dito e feito. Só não sei se aos 28 encontrei o rumo certo, como me foi dito que, provavelmente, aconteceria.
Cecília sempre me surpreendia com seu jeito diferente. Ela gostava, por exemplo, de fazer listas. Certa vez, mostrou-me uma só com expressões cotidianas relacionadas a bichos, como “engolir sapos”, “levar gato por lebre”, “picar a mula”, “tirar o cavalinho da chuva”, “é agora que a porca torce o rabo”, “cada macaco no seu galho”, “pagar o pato”, “memória de elefante”, “dormir com as galinhas”. Uma outra lista que fez foi a do que chamou de “peixes perplexos”. A princípio, não entendi a lógica da coisa, mas depois ela me explicou: “são os peixes que se assustam com a sujeira do mundo”. Entre eles, estavam a “truta”, o “peixe-lua”, o “cascudo”, o “badejo”, a “manjuba”, o “galhudo”, a “merluza” e a “viúva”. Mas a melhor, mesmo, foi a longa lista de cidades com nomes curiosos que ela me mostrou numa tarde de junho, entre eles “Bizarra”, “Barra do Choça”, “Amargosa”, “Carrasco Bonito”, “Arroio do Tigre”, “Breu Branco”, “Venha-Ver”, “Sonora” e “Olho d'Água do Borges”.
Outro caso interessante foi quando ela apareceu lá em casa com febre, meio prostrada. Preocupei-me com seu estado e quis dar-lhe um remédio. Ela recusou ajuda, com o argumento: “Uma vez li que Deus se manifesta nos nossos estados febris. Vou aproveitar que tenho febre para ver se isso acontece”. Ficou com febre por dois dias seguidos e, quando perguntei se tinha valido a pena não tomar remédio, respondeu, séria: “Não conto. É segredo.”
Convivi com Cecília durante uns três anos e meio. Depois, ela foi embora para a Dinamarca, onde seu pai – que era neto de dinamarqueses – vivia. Lá, pelo que consta numa das últimas cartas que me enviou, ela se casou com um pianista chamado Lars Olsen, viúvo e 22 anos mais velho que ela. Não sei se continua morando em Copenhague com ele. Nem se tiveram filhos.
Espero que Cecília continue com sua loucura quase lúcida, pois isso sempre foi a sua melhor virtude. E que não tenha perdido o hábito de fazer listas imprevisíveis, como a das frutas amargas, das doenças sem remédio possível, dos nomes insanos dados a cachorros e dos lugares para se visitar nos dias ímpares da semana.
Tereza Cruvinel - São Paulo no caminho
O governador Alckmin tem pressa em fechar
uma aliança com o PSB. Não conseguindo tirar de Aécio Neves a
candidatura presidencial, José Serra pode querer de volta a cadeira de
governador
Estado de Minas: 05/11/2013
Até aqui, todas as fricções entre o PSB, do governador Eduardo Campos, e a Rede, de Marina Silva, foram contornadas, quase sempre por concessões dele, para evitar abalos precoces na aliança. Todas elas refletiram diferenças de fundo programáticas, diria Marina, entre os dois grupamentos políticos. Agora, no mais tardar no início do próximo ano, começarão movimentos eleitorais estratégicos para a candidatura dele, que testarão a capacidade dela de fazer concessões em nome do projeto comum. O mais sensível desses movimentos está em curso nos bastidores: a composição entre o PSB e o PSDB em São Paulo, que levaria à indicação do deputado socialista Márcio França para vice do governador Geraldo Alckmin.
As negociações, que remontam ao primeiro semestre, foram congeladas por ordem de Campos logo depois do acordo com Marina, para reduzir as tensões na fase de ajustamento, e também à espera de que seja resolvido o conflito latente no PSDB, representado pela pretensão do ex-governador José Serra de ainda vir a ser o candidato a presidente no lugar do senador Aécio Neves. Mas, diante do assédio de outros candidatos ao PSB, como Paulo Skaf, do PMDB, e Gilberto Kassab, do PSD, oferecendo da mesma forma a vaga de vice a um nome do partido numa coligação que, no mínimo, agregará tempo de televisão, tucanos e socialistas retomaram as conversações. A preferência do grupo paulista do PSB pela composição com Alckmin, de cujo governo participa, está mais do que consolidada. Mas como vai Marina reagir a uma coligação com o PSDB? Ou vai Eduardo Campos forçar a mão com os paulistas para agradá-la, sacrificando a melhor solução eleitoral para sua candidatura? Por ora, Marina insiste na importância de o PSB ter candidatos próprios no maior número de estados, e especialmente no chamado “triângulo das bermudas”, composto por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesses três estados vivem 47% dos eleitores. Segue defendendo a candidatura do deputado Walter Feldman, que, como ela, é da Rede, mas filiou-se ao PSB para poder disputar um cargo eletivo em 2014.
Esse conflito anunciado em São Paulo tende a se reproduzir nos outros estados em que o PSB, não tendo um candidato forte, em outros tempos optaria pela coligação mais pragmática. Ele reflete uma diferença que, cedo ou tarde, ficará clara e não poderá ser contemporizada. Embora Campos tenha adotado o discurso de Marina contra a “velha política”, toda a sua trajetória foi construída sobre o modelo convencional, praticando o jogo das alianças, da cooptação, da premiação dos aliados e, não menos importante, da punição dos adversários.
Alckmin, de sua parte, tem alguma pressa na definição, pois teme que, não conseguindo desbancar Aécio, Serra volte os olhos para o Palácio dos Bandeirantes, de onde saiu ao fim do primeiro mandato para disputar a Presidência em 2010. Acredita o atual governador que, com chapa e palanque negociados, estará mais seguro para buscar a própria reeleição. Esse é um capítulo a que não vamos demorar para assistir.
Problemas domésticos
Eduardo Campos levou na viagem para a Europa informações frustrantes sobre o ambiente político em seu próprio estado. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Maurício de Nassau, divulgada localmente na semana passada, ele ganha de Dilma na disputa presidencial, no estado, mas não por uma diferença tão acachapante como imaginado. Ele teria 33% de preferência, ela 30%. Se o candidato do PT fosse Lula, tudo mudaria. Ele teria 44% e Campos 25%.
Mais preocupante talvez seja sua própria sucessão, já que Campos não pode perder Pernambuco. Segundo a pesquisa, em todos os cenários quem lidera é o senador do PTB Armando Monteiro Filho. Ele teria 28%, contra 14% do petista João Paulo e 11% do provável candidato do governador, o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho. O desempenho de Monteiro melhora na simulação em que o PT não tem candidato próprio. Os outros nome do PSB, João Lyra Neto e Tadeu Alencar, tiveram pontuação baixíssima, favorecendo a escolha do ex-ministro de Dilma.
Um detalhe que realça os resultados colhidos: 40% sabem que Campos não é mais aliado de Lula/Dilma. Para 74%, foi o governador que rompeu com os antigos aliados. Para 10%, foram Lula e Dilma que tomaram a iniciativa do rompimento.
Quem toparia?
Em entrevista ao jornal O Globo, retomando a defesa da reforma política e reconhecendo as dificuldades para aprová-la, o ministro Roberto Barroso saiu-se com uma proposta: que todos os candidatos a presidente, nas próximas eleições, registrem em cartório a proposta de reforma política que, se eleitos, tentariam aprovar. Ainda que o presidente da República não tenha controle sobre tal matéria, tal compromisso criaria constrangimentos futuros para os congressistas, que hoje se negam a mudar o sistema, apesar do grito das ruas contra suas falhas e o déficit de representação. Com a palavra, os candidatos.
Estado de Minas: 05/11/2013
Até aqui, todas as fricções entre o PSB, do governador Eduardo Campos, e a Rede, de Marina Silva, foram contornadas, quase sempre por concessões dele, para evitar abalos precoces na aliança. Todas elas refletiram diferenças de fundo programáticas, diria Marina, entre os dois grupamentos políticos. Agora, no mais tardar no início do próximo ano, começarão movimentos eleitorais estratégicos para a candidatura dele, que testarão a capacidade dela de fazer concessões em nome do projeto comum. O mais sensível desses movimentos está em curso nos bastidores: a composição entre o PSB e o PSDB em São Paulo, que levaria à indicação do deputado socialista Márcio França para vice do governador Geraldo Alckmin.
As negociações, que remontam ao primeiro semestre, foram congeladas por ordem de Campos logo depois do acordo com Marina, para reduzir as tensões na fase de ajustamento, e também à espera de que seja resolvido o conflito latente no PSDB, representado pela pretensão do ex-governador José Serra de ainda vir a ser o candidato a presidente no lugar do senador Aécio Neves. Mas, diante do assédio de outros candidatos ao PSB, como Paulo Skaf, do PMDB, e Gilberto Kassab, do PSD, oferecendo da mesma forma a vaga de vice a um nome do partido numa coligação que, no mínimo, agregará tempo de televisão, tucanos e socialistas retomaram as conversações. A preferência do grupo paulista do PSB pela composição com Alckmin, de cujo governo participa, está mais do que consolidada. Mas como vai Marina reagir a uma coligação com o PSDB? Ou vai Eduardo Campos forçar a mão com os paulistas para agradá-la, sacrificando a melhor solução eleitoral para sua candidatura? Por ora, Marina insiste na importância de o PSB ter candidatos próprios no maior número de estados, e especialmente no chamado “triângulo das bermudas”, composto por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesses três estados vivem 47% dos eleitores. Segue defendendo a candidatura do deputado Walter Feldman, que, como ela, é da Rede, mas filiou-se ao PSB para poder disputar um cargo eletivo em 2014.
Esse conflito anunciado em São Paulo tende a se reproduzir nos outros estados em que o PSB, não tendo um candidato forte, em outros tempos optaria pela coligação mais pragmática. Ele reflete uma diferença que, cedo ou tarde, ficará clara e não poderá ser contemporizada. Embora Campos tenha adotado o discurso de Marina contra a “velha política”, toda a sua trajetória foi construída sobre o modelo convencional, praticando o jogo das alianças, da cooptação, da premiação dos aliados e, não menos importante, da punição dos adversários.
Alckmin, de sua parte, tem alguma pressa na definição, pois teme que, não conseguindo desbancar Aécio, Serra volte os olhos para o Palácio dos Bandeirantes, de onde saiu ao fim do primeiro mandato para disputar a Presidência em 2010. Acredita o atual governador que, com chapa e palanque negociados, estará mais seguro para buscar a própria reeleição. Esse é um capítulo a que não vamos demorar para assistir.
Problemas domésticos
Eduardo Campos levou na viagem para a Europa informações frustrantes sobre o ambiente político em seu próprio estado. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Maurício de Nassau, divulgada localmente na semana passada, ele ganha de Dilma na disputa presidencial, no estado, mas não por uma diferença tão acachapante como imaginado. Ele teria 33% de preferência, ela 30%. Se o candidato do PT fosse Lula, tudo mudaria. Ele teria 44% e Campos 25%.
Mais preocupante talvez seja sua própria sucessão, já que Campos não pode perder Pernambuco. Segundo a pesquisa, em todos os cenários quem lidera é o senador do PTB Armando Monteiro Filho. Ele teria 28%, contra 14% do petista João Paulo e 11% do provável candidato do governador, o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho. O desempenho de Monteiro melhora na simulação em que o PT não tem candidato próprio. Os outros nome do PSB, João Lyra Neto e Tadeu Alencar, tiveram pontuação baixíssima, favorecendo a escolha do ex-ministro de Dilma.
Um detalhe que realça os resultados colhidos: 40% sabem que Campos não é mais aliado de Lula/Dilma. Para 74%, foi o governador que rompeu com os antigos aliados. Para 10%, foram Lula e Dilma que tomaram a iniciativa do rompimento.
Quem toparia?
Em entrevista ao jornal O Globo, retomando a defesa da reforma política e reconhecendo as dificuldades para aprová-la, o ministro Roberto Barroso saiu-se com uma proposta: que todos os candidatos a presidente, nas próximas eleições, registrem em cartório a proposta de reforma política que, se eleitos, tentariam aprovar. Ainda que o presidente da República não tenha controle sobre tal matéria, tal compromisso criaria constrangimentos futuros para os congressistas, que hoje se negam a mudar o sistema, apesar do grito das ruas contra suas falhas e o déficit de representação. Com a palavra, os candidatos.
Tv Paga
Estado de Minas: 05/11/2013
Série de humor
Uma cartomante mentirosa (foto), uma publicitária megalomaníaca, uma babá louca e uma mãe neurótica. Essas são algumas das personagens que Tatá Werneck vai encarnar em seu primeiro programa no Multishow, o Sem análise, que estreia hoje, às 23h. A atração mostra diferentes tipos de neuroses em esquetes encenadas por ela, Débora Lamm, Augusto Madeira, Antonio Fragoso e Pedro Monteiro.
Dupla analisa objetos de
valor histórico no Brasil
Novidade também no canal History, com a estreia da segunda temporada da produção original Detetives da história, às 23h. Sempre com ajuda de historiadores, arqueólogos, estudiosos da cultura popular, restauradores e detetives profissionais, Renata Imbriani e André Guerreiro Lopes viajam pelo Brasil para investigar objetos herdados por pessoas comuns, achados e informações curiosas sobre locais que podem ter uma história esquecida ou ainda não revelada. “O ferrete de marcar escravos e o casaco do guerrilheiro” é o titulo do episódio de hoje. Em tempo: às 21h, o canal estreia a versão britânica da série Trato feito.
Aviação e automobilismo
no Discovery e +Globosat
Inédita no Brasil, a série documental Os aviadores estreia hoje, às 20h, no +Globosat, mostrando as curiosidades do mundo da aviação, com destaque para detalhes e engenharia e design, meteorologia e tecnologia. No Discovery Turno, às 23h, estreia Le Mans: arte e técnica, série sobre automobilismo com a participação do ator americano Parrick Dempsey. E no Discovery Channel, às 23h20, é a vez de Largados e pelados, mais um desafio de sobrevivência na natureza.
Inglês procura um amor
na noite de Los Angeles
Na HBO Plus, às 23h10, estreia a série de humor Hello ladies, com a exibição especial de dois episódios seguidos. A produção conta a história de um desajeitado inglês em busca da mulher dos seus sonhos na fascinante vida noturna de Los Angeles. Com duração de meia hora o primeiro episódio será disponibilizado no site www.hbomax.tv logo após a estreia na TV e ficará on-line até 3 de dezembro.
Daiane dos Santos encara
o provocador Abujamra
A ex-ginasta Daiane dos Santos é a convidada de hoje de Antônio Abujamra no programa Provocações, às 23h30, na Cultura. Filha de cozinheira e de um monitor da antiga Febem de Porto Alegre, Diane conta como a ginástica entrou em sua vida, as vitórias conquistadas com muitos sacrifícios e as contusões tão comuns entre atletas.
Cinema nacional merece
destaque na programação
O drama A causa secreta, de Sergio Bianchi, é um dos destaques da programação de filmes de hoje, às 21h20, no Cine Brasil. No Canal Brasil, às 22h, Ingrid Guimarães estrela a comédia De pernas pro ar. Na HBO, às 22h, mais um filme brasileiro: Nome próprio, com Leandra Leal. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem outras cinco opções: O hobbit – Uma jornada inesperada, no Telecine Premium; O garoto de Liverpool, no Telecine Touch; Tropas estelares, no Telecine Action; O Besouro Verde, no Max Prime; e Proposta indecente, no TCM. E ainda: A casa de cera, às 21h, na Warner; A jovem rainha Victoria, às 21h35, no Glitz; Assalto em dose dupla, à 22h30, no Megapix; e Clube da comédia, às 23h, no Comedy Central.
Série de humor
Uma cartomante mentirosa (foto), uma publicitária megalomaníaca, uma babá louca e uma mãe neurótica. Essas são algumas das personagens que Tatá Werneck vai encarnar em seu primeiro programa no Multishow, o Sem análise, que estreia hoje, às 23h. A atração mostra diferentes tipos de neuroses em esquetes encenadas por ela, Débora Lamm, Augusto Madeira, Antonio Fragoso e Pedro Monteiro.
Dupla analisa objetos de
valor histórico no Brasil
Novidade também no canal History, com a estreia da segunda temporada da produção original Detetives da história, às 23h. Sempre com ajuda de historiadores, arqueólogos, estudiosos da cultura popular, restauradores e detetives profissionais, Renata Imbriani e André Guerreiro Lopes viajam pelo Brasil para investigar objetos herdados por pessoas comuns, achados e informações curiosas sobre locais que podem ter uma história esquecida ou ainda não revelada. “O ferrete de marcar escravos e o casaco do guerrilheiro” é o titulo do episódio de hoje. Em tempo: às 21h, o canal estreia a versão britânica da série Trato feito.
Aviação e automobilismo
no Discovery e +Globosat
Inédita no Brasil, a série documental Os aviadores estreia hoje, às 20h, no +Globosat, mostrando as curiosidades do mundo da aviação, com destaque para detalhes e engenharia e design, meteorologia e tecnologia. No Discovery Turno, às 23h, estreia Le Mans: arte e técnica, série sobre automobilismo com a participação do ator americano Parrick Dempsey. E no Discovery Channel, às 23h20, é a vez de Largados e pelados, mais um desafio de sobrevivência na natureza.
Inglês procura um amor
na noite de Los Angeles
Na HBO Plus, às 23h10, estreia a série de humor Hello ladies, com a exibição especial de dois episódios seguidos. A produção conta a história de um desajeitado inglês em busca da mulher dos seus sonhos na fascinante vida noturna de Los Angeles. Com duração de meia hora o primeiro episódio será disponibilizado no site www.hbomax.tv logo após a estreia na TV e ficará on-line até 3 de dezembro.
Daiane dos Santos encara
o provocador Abujamra
A ex-ginasta Daiane dos Santos é a convidada de hoje de Antônio Abujamra no programa Provocações, às 23h30, na Cultura. Filha de cozinheira e de um monitor da antiga Febem de Porto Alegre, Diane conta como a ginástica entrou em sua vida, as vitórias conquistadas com muitos sacrifícios e as contusões tão comuns entre atletas.
Cinema nacional merece
destaque na programação
O drama A causa secreta, de Sergio Bianchi, é um dos destaques da programação de filmes de hoje, às 21h20, no Cine Brasil. No Canal Brasil, às 22h, Ingrid Guimarães estrela a comédia De pernas pro ar. Na HBO, às 22h, mais um filme brasileiro: Nome próprio, com Leandra Leal. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem outras cinco opções: O hobbit – Uma jornada inesperada, no Telecine Premium; O garoto de Liverpool, no Telecine Touch; Tropas estelares, no Telecine Action; O Besouro Verde, no Max Prime; e Proposta indecente, no TCM. E ainda: A casa de cera, às 21h, na Warner; A jovem rainha Victoria, às 21h35, no Glitz; Assalto em dose dupla, à 22h30, no Megapix; e Clube da comédia, às 23h, no Comedy Central.
Por outros caminhos - Ailton Magioli
Depois de divulgar parte do repertório
pela internet, Arnaldo Antunes concluiu a gravação e agora lança
oficialmente seu 13º trabalho solo, batizado simplesmente Disco
Ailton Magioli
Estado de Minas: 05/11/2013
Longe de admitir que Disco mantém certo distanciamento de seus mais recentes lançamentos, como Iê iê iê (2009), Ao vivo lá em casa (2010) e Acústico MTV (2012), todos de pegada mais radiofônica, Arnaldo Antunes diz que o novo trabalho tem a intenção de mostrar certas pontas, diferentes talvez, de sua criação, tal como ocorreu com Um som (1998) e Saiba (2004). “Eu quis algo conceitual justamente para pôr em questão o que é um disco hoje”, justifica o ex-titã, lembrando que o consumo da música mudou com o advento da internet, ao mesmo tempo em que há um apego grande ao disco em si.
Disco chegou ao público via conta-gotas virtual, disponilizando na internet quatro faixas: Muito muito pouco, em junho; Dizem – Quem me dera, em julho; Ela é tarja preta, em agosto; e Vá trabalhar, em setembro. Enquanto isso Arnaldo estava ainda em processo de gravação do álbum, produzido por Betão Aguiar e Gabriel Leite, com direito a arranjos de cordas, metais e madeiras. Além de parcerias inéditas com João Donato, Caetano Veloso, Céu e Hyldon, Betão Aguiar, Felipe Cordeiro, Luê e Manoel Cordeiro, Márcia Xavier, Lenora de Barros e Mag, o 13º álbum solo de Arnaldo Antunes traz ainda composições com parceiros de longa data, como Marisa Monte e Dadi Carvalho e Nando Reis.
Tematicamente, o cantor e compositor admite a existência de elos entre as composições – “Uma conversa meio com a outra”, diz –, ainda que algumas, em sua opinião, tenham um “olhar crítico mais contundente”. Verdade que há faixas não tão inéditas assim. O fogo, com João Donato, por exemplo, já havia sido gravada pelo parceiro no disco que ele fez com Emílio Santiago. Com parte mais serena de canções e outra de rock mais pesado, Disco tem tudo para conquistar segmentos diferentes de fãs do ex-titã.
Apesar de ter começado a gravação com a banda com a qual vem se apresentando, atualmente, aos poucos Disco foi-se abrindo para diferentes sonoridades, o que levou Arnaldo a convocar convidados como Daniel Jobim (piano) e Mônica Salmaso, além de uma novidade no trabalho do artista: a participação de um quarteto de cordas e naipe de metais, com os quais ainda não havia trabalhado antes. Edgard Scandurra, Chico Salém, Davi Moraes e Pedro Sá (guitarras), Curumim (bateria) e Marcelo Jeneci (teclados e sanfonas) completaram o time de músicos no estúdio.
Domínio pleno
Kiko Ferreira
Publicação: 05/11/2013 04:00
Plural e multifocal, Disco tem vários sentidos. Numa época em que, paradoxalmente, o disco de vinil volta a ser moda e a maioria dos seres humanos costuma baixar e ouvir música a música, em ordem randômica, em dispositivos móveis, sem se preocupar com ordem, ele soa atual e antigo. Agora ele chega às lojas reais e virtuais com o CD completo, com 15 faixas e uma ordem de audição que remete aos bons tempos em que os álbuns musicais tinham roteiro, coerência, consistência.
Já que a proposta inclui a possibilidade de imersão numa rota determinada, vale a pena ir a ela. E experimentar suas possibilidades de clima, tons e referências. Arnaldo usa estratégia semelhante à do ex-Sex Pistol Johnny Rotten, que ao assumir a identidade de Johnny Lydon e criar seu Public Image Limited pôs no mercado, em 1986, um disco que se chamava Album na versão em vinil e assumia o título de Cassette e CD nos outros formatos. Mas, ao contrário do punk Joãozinho Podre, não se restringe a um gênero, um ritmo, um estilo.
Arnaldo destila referências, reafirma e inaugura parcerias e exibe versatilidade invejável. A primeira faixa, O fogo, tem uma pegada meio bossa (sensação reforçada com a presença do piano de Daniel Jobim) e tem uma letra quase zen de João Donato: “Um cigarro dura menos do que uma estrela/ o cigarro apaga/ a estrela apaga/ o fogo não tem fim”.
O ex-titã surge entre o rock e o iê-iê-iê em Muito muito pouco, com a surpresa de ser a primeira das faixas com direito a um quarteto de cordas, arranjadas por Ruriá Duprat, sobrinho do tropicalista Rogério Duprat. Com melodia que lembra seu hit Socorro, Dizem (Quem me dera) recupera a parceria com Marisa Monte e Dadi. E Ela é tarja preta é um flerte com o fenômeno tecnobrega, com direito a guitarra de Felipe Cordeiro.
Com Hyldon e Céu, colegas num programa da antiga MTV, Arnaldo divide autoria e vozes da suingada Trato, com metais em brasa a cargo do mesmo Duprat. Sou volúvel recupera o tema dos perigos de ideia e palavra e é mais uma com Marisa e Dadi. Fosse um LP, a última do “lado A” seria Morro, amor, belíssima e inédita parceria com Caetano Veloso feita há cinco anos para um filme de Guel Arraes.
O “ lado B “ abre com Vá trabalhar, rock composto no início dos Titãs, que só agora vem ao mundo. A mulher de Arnaldo, Márcia Xavier, é parceria na composição e na interpretação de Azul vazio, com melodia adequada à letra, que trata de água, rio, cachoeira e um olho d’água que “brota, espelha, molha o azul do céu”. Um dos temas da moda, a burocracia do funcionalismo público, é alvo de outro tema titânico, Ah, mas assim vai ser difícil. Igualmente política é Querem mandar, mais uma com Dadi e Marisa Monte e com cordas fornecidas por Duprat.
A jornada vai chegando ao fim quando surge o que talvez seja a maior surpresa: uma versão de Mamma, gravada originalmente em inglês por Gilberto Gil em um disco clássico feito em Londres em 1971, com letra em português de Arnaldo e uma pegada de power trio fiel ao original, com o trompete de Guizado dando tempero extra.
A voz de Mônica Salmaso é o elemento surpresa de Oxalá chegar, um canto de reverência aos orixás de quem fica no canto para escutar os cânticos do gênero. Na reta final, duas composições contrastantes. Sentido, parceria com Nando Reis, é um rock bem Titãs, com Charles Gavin na bateria, Scandurra na voz e guitarra poderosa de Pedro Sá. Fechando o ciclo, e meio que voltando ao clima inicial, Acalanto para acordar oferece conforto, tranquilidade e garantia de pouso suave a quem aceitou embarcar na jornada consistente e rica de um artista com pleno domínio de seu ofício.
Sem data em BH
O show de lançamento de Iê iê iê (2009), álbum de inéditas anterior a Disco, foi em Belo Horizonte. Por ora, o novo trabalho de Arnaldo Antunes não tem apresentação marcada na capital mineira. O cantor e compositor paulista estreou a turnê há menos de um mês. Passou por Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Até o dia 9 o ex-titã cumpre temporada no Sesc/Belenzinho, em São Paulo.
Ailton Magioli
Estado de Minas: 05/11/2013
Arnaldo conta que pretendia "algo conceitual" para questionar a produção fonográfica industrial |
Longe de admitir que Disco mantém certo distanciamento de seus mais recentes lançamentos, como Iê iê iê (2009), Ao vivo lá em casa (2010) e Acústico MTV (2012), todos de pegada mais radiofônica, Arnaldo Antunes diz que o novo trabalho tem a intenção de mostrar certas pontas, diferentes talvez, de sua criação, tal como ocorreu com Um som (1998) e Saiba (2004). “Eu quis algo conceitual justamente para pôr em questão o que é um disco hoje”, justifica o ex-titã, lembrando que o consumo da música mudou com o advento da internet, ao mesmo tempo em que há um apego grande ao disco em si.
Disco chegou ao público via conta-gotas virtual, disponilizando na internet quatro faixas: Muito muito pouco, em junho; Dizem – Quem me dera, em julho; Ela é tarja preta, em agosto; e Vá trabalhar, em setembro. Enquanto isso Arnaldo estava ainda em processo de gravação do álbum, produzido por Betão Aguiar e Gabriel Leite, com direito a arranjos de cordas, metais e madeiras. Além de parcerias inéditas com João Donato, Caetano Veloso, Céu e Hyldon, Betão Aguiar, Felipe Cordeiro, Luê e Manoel Cordeiro, Márcia Xavier, Lenora de Barros e Mag, o 13º álbum solo de Arnaldo Antunes traz ainda composições com parceiros de longa data, como Marisa Monte e Dadi Carvalho e Nando Reis.
Tematicamente, o cantor e compositor admite a existência de elos entre as composições – “Uma conversa meio com a outra”, diz –, ainda que algumas, em sua opinião, tenham um “olhar crítico mais contundente”. Verdade que há faixas não tão inéditas assim. O fogo, com João Donato, por exemplo, já havia sido gravada pelo parceiro no disco que ele fez com Emílio Santiago. Com parte mais serena de canções e outra de rock mais pesado, Disco tem tudo para conquistar segmentos diferentes de fãs do ex-titã.
Apesar de ter começado a gravação com a banda com a qual vem se apresentando, atualmente, aos poucos Disco foi-se abrindo para diferentes sonoridades, o que levou Arnaldo a convocar convidados como Daniel Jobim (piano) e Mônica Salmaso, além de uma novidade no trabalho do artista: a participação de um quarteto de cordas e naipe de metais, com os quais ainda não havia trabalhado antes. Edgard Scandurra, Chico Salém, Davi Moraes e Pedro Sá (guitarras), Curumim (bateria) e Marcelo Jeneci (teclados e sanfonas) completaram o time de músicos no estúdio.
Domínio pleno
Kiko Ferreira
Publicação: 05/11/2013 04:00
Plural e multifocal, Disco tem vários sentidos. Numa época em que, paradoxalmente, o disco de vinil volta a ser moda e a maioria dos seres humanos costuma baixar e ouvir música a música, em ordem randômica, em dispositivos móveis, sem se preocupar com ordem, ele soa atual e antigo. Agora ele chega às lojas reais e virtuais com o CD completo, com 15 faixas e uma ordem de audição que remete aos bons tempos em que os álbuns musicais tinham roteiro, coerência, consistência.
Já que a proposta inclui a possibilidade de imersão numa rota determinada, vale a pena ir a ela. E experimentar suas possibilidades de clima, tons e referências. Arnaldo usa estratégia semelhante à do ex-Sex Pistol Johnny Rotten, que ao assumir a identidade de Johnny Lydon e criar seu Public Image Limited pôs no mercado, em 1986, um disco que se chamava Album na versão em vinil e assumia o título de Cassette e CD nos outros formatos. Mas, ao contrário do punk Joãozinho Podre, não se restringe a um gênero, um ritmo, um estilo.
Arnaldo destila referências, reafirma e inaugura parcerias e exibe versatilidade invejável. A primeira faixa, O fogo, tem uma pegada meio bossa (sensação reforçada com a presença do piano de Daniel Jobim) e tem uma letra quase zen de João Donato: “Um cigarro dura menos do que uma estrela/ o cigarro apaga/ a estrela apaga/ o fogo não tem fim”.
O ex-titã surge entre o rock e o iê-iê-iê em Muito muito pouco, com a surpresa de ser a primeira das faixas com direito a um quarteto de cordas, arranjadas por Ruriá Duprat, sobrinho do tropicalista Rogério Duprat. Com melodia que lembra seu hit Socorro, Dizem (Quem me dera) recupera a parceria com Marisa Monte e Dadi. E Ela é tarja preta é um flerte com o fenômeno tecnobrega, com direito a guitarra de Felipe Cordeiro.
Com Hyldon e Céu, colegas num programa da antiga MTV, Arnaldo divide autoria e vozes da suingada Trato, com metais em brasa a cargo do mesmo Duprat. Sou volúvel recupera o tema dos perigos de ideia e palavra e é mais uma com Marisa e Dadi. Fosse um LP, a última do “lado A” seria Morro, amor, belíssima e inédita parceria com Caetano Veloso feita há cinco anos para um filme de Guel Arraes.
O “ lado B “ abre com Vá trabalhar, rock composto no início dos Titãs, que só agora vem ao mundo. A mulher de Arnaldo, Márcia Xavier, é parceria na composição e na interpretação de Azul vazio, com melodia adequada à letra, que trata de água, rio, cachoeira e um olho d’água que “brota, espelha, molha o azul do céu”. Um dos temas da moda, a burocracia do funcionalismo público, é alvo de outro tema titânico, Ah, mas assim vai ser difícil. Igualmente política é Querem mandar, mais uma com Dadi e Marisa Monte e com cordas fornecidas por Duprat.
A jornada vai chegando ao fim quando surge o que talvez seja a maior surpresa: uma versão de Mamma, gravada originalmente em inglês por Gilberto Gil em um disco clássico feito em Londres em 1971, com letra em português de Arnaldo e uma pegada de power trio fiel ao original, com o trompete de Guizado dando tempero extra.
A voz de Mônica Salmaso é o elemento surpresa de Oxalá chegar, um canto de reverência aos orixás de quem fica no canto para escutar os cânticos do gênero. Na reta final, duas composições contrastantes. Sentido, parceria com Nando Reis, é um rock bem Titãs, com Charles Gavin na bateria, Scandurra na voz e guitarra poderosa de Pedro Sá. Fechando o ciclo, e meio que voltando ao clima inicial, Acalanto para acordar oferece conforto, tranquilidade e garantia de pouso suave a quem aceitou embarcar na jornada consistente e rica de um artista com pleno domínio de seu ofício.
Sem data em BH
O show de lançamento de Iê iê iê (2009), álbum de inéditas anterior a Disco, foi em Belo Horizonte. Por ora, o novo trabalho de Arnaldo Antunes não tem apresentação marcada na capital mineira. O cantor e compositor paulista estreou a turnê há menos de um mês. Passou por Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Até o dia 9 o ex-titã cumpre temporada no Sesc/Belenzinho, em São Paulo.
Além da imagem
Videobrasil celebra 30 anos com exposição
e a mostra competitiva Panoramas do Sul. Novo longa do mineiro Eder
Santos, Deserto azul, abre o festival amanhã em São Paulo
Gracie Santos
Estado de Minas: 05/11/2013
Os cenários de Deserto azul, novo longa de Eder Santos, que abre amanhã, às 20h45, em São Paulo, a 18ª edição do Videobrasil, é bom exemplo do que o evento experimentou nessas três décadas que está celebrando: a contaminação das artes e do cinema pelo vídeo (e vice-versa). O segundo longa do diretor, depois de Enredando as pessoas (1995), exibe durante a trama científica sobre um homem à procura de si mesmo, o que poderia ser considerada uma exposição de arte contemporânea. A cenografia vale-se de instalações do próprio diretor e de obras de gente como Adriana Varejão, Fernando Rabelo, Carlito Carvalhosa, Nydia Negromonte, Leandro Aragão, Fábio Delduque, Janaína Mello, Fernando Maculan, Rita Mayers, Tom van Vliet, Judith Witteman e do Optimat (comunidade de arte digital). Detalhe: nada é gratuito; o espectador nem perceberá que está “visitando” a mostra.
Solange Farkas, idealizadora e curadora do Videobrasil, explica o convite ao realizador mineiro para abrir o festival, que segue até 2 de fevereiro de 2014: “Uma das coisas bacanas de Deserto azul é que está ali o caminho que Eder construiu e faz parte da história do próprio evento, essa trajetória de inserção do vídeo nas artes plásticas até chegar definitivamente ao circuito das artes visuais. Quando ninguém achava possível pensar essa experiência, ele e Sandra Kogut faziam isso. Eder é o exemplo mais emblemático, participou de 17 das 18 edições. É uma espécie espelho bem-sucedido dessa trajetória.”
Criado em 1983 (desde 1992 tem o Sesc como correalizador), o Videobrasil passou por transformações. “Quando a videoarte apenas surgia na cena brasileira, criamos o primeiro festival voltado à modalidade, que participou, assim, de sua consolidação e de sua incorporação pelo circuito artístico”, lembra Solange. Mais tarde, abriu-se a outras manifestações da arte eletrônica em diálogo com o universo das instalações e a performance, entre outros desdobramentos. Desde 2011, abrange todas as linguagens artísticas contemporâneas.
Mata-burro
Em todos esses anos à frente do Videobrasil, Solange confessa que ainda sente culpa por não ter conseguido “emplacar” duas obras nas primeiras edições, os curtas Não vou à África porque tenho plantão (1990, 8min), do próprio Eder Santos, e Caipira in (1987, 18min), de Roberto Sandoval, Tadeu Jungle e Walter Silveira. “Briguei, mas fui voto vencido. Tinha gente careta na época, com o olhar voltado para a televisão”, diz a curadora. Entre casos divertidos, ela se recorda de uma edição em que Tadeu Jungle e Walter Silveira queriam colocar um mata-burro na entrada do Museu da Imagem e do Som (MIS). “Não deixaram, mas a responsabilidade foi minha, deveria ter batalhado mais”, afirma.
Durante os primeiros cinco anos, Solange tinha que submeter as obras ao Departamento de Polícia Federal para censura, papel exercido à época (em plena ditadura militar) pela temida Solange Hernandes. “Houve vídeos que nunca mostrei aos censores. Fazer TV pirata ou exibir seus conteúdos dava cadeia. Recebemos um vídeo da TV pirata do Rio, que era (e continua sendo) sensacional. Com montagens, eles mostravam o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, ensinando a montar uma antena pirata, e o então superintendente da Polícia Federal, Romeu Tuma, ensinado a fazer baseado,” diz. Por exibir obras do tipo, Solange perdeu as contas de quantas horas passou escondida no banheiro do MIS, para não receber mandados da Justiça.
Monitores
Obras como essa poderão ser vistas por quem visitar a exposição 30 anos, em São Paulo, que terá linha do tempo com a evolução da criação de vídeo no país de 1983 a 2013. Haverá também uma instalação gigante, com 240 monitores de TV exibindo 20 horas de vídeos especialmente editados a partir de 5 mil horas analisadas. Uma polifonia de cenas, depoimentos, registros e intervenções, com nomes que vão de Nam June Paik, Kenneth Anger, Walid Raad, Chelpa Ferro e Peter Greenaway a Tunga e Waly Salomão. Quase 2 mil pessoas compõem o mosaico, entre artistas, curadores, críticos e público. A ambientação sonora é do coletivo mineiro O Grivo. A mostra competitiva Panoramas do Sul terá 94 artistas mostrando instalações, performances, desenhos, esculturas, fotografias, pinturas, livros de artista e vídeos. Nove trabalhos são mineiros: a escultura Galhos, de Alexandre Brandão; a pintura O russo, de Ana Prata; a fotografia Welcome home, de Gui Mohallem; a instalação Teoria das bordas, de Lais Myrrha; a performance O samba do crioulo doido, de Luiz de Abreu; a instalação 9493, de Marcellvs L.; a instalação Nascente, de Pablo Lobato; a fotografias Estatuto da divisão territorial, de Pedro Motta; e o vídeo Cordis, de Roberto Bellini e Sérgio Borges.
Três perguntas para...
Eder Santos
cineasta e artista visual
Sua ficção científica viaja pelo universo interior de um homem. O mais longe que se pode ir é dentro de si mesmo? Para além do Atacama (onde o filme foi rodado), onde fica o seu deserto azul?
No mundo, na época em que Deserto azul está ocorrendo, o homem não tem muitos problemas como superpopulação ou violência... e o esporte já não existe. O próximo passo é procurar o desenvolvimento espiritual. É a nova era. A cor do deserto pode ser azul. Cada um pinta o seu deserto. Ou cada um encontra seu pintor no seu deserto. O primeiro passo é ir à procura, atrás da alma. O futuro chega de qualquer maneira. Como vamos chegar a ele é o que interessa. Quem procura sempre acha.
A tecnologia não engole a poesia em Deserto azul. O filme é viagem poética e filosófica. Não perder a ternura é fundamental?
Estou tentando contar uma história de uma maneira fácil, quero alcançar as pessoas. Não sei se vou conseguir. Mas estamos tentando, eu e todos os envolvidos. Queremos passar a ideia de que com emoção se chega a algum lugar. Mesmo em um mundo cercado de vida virtual.
Você trabalha com dois fotógrafos em Deserto azul (o paulista Pedro Farkas e o alemão Stefan Ciupek, que fotografou para Danny Boyle, de Quem quer ser um milionário?). Como foi somar esses talentos?
O Pedro, além de ser meu amigo, é um dos melhores fotógrafos do cinema brasileiro e minha vontade era de trabalhar em película, então foi isso. Nossa amizade tornou possível ele acontecer no filme e o filme acontecer. O Stefan também apareceu como amigo primeiro, depois juntou todo seu talento ao projeto. O filme de alguma forma viraria uma produção digital e Stefan trouxe todo o seu conhecimento do cinema digital. Foi uma combinação que só poderia dar em um filme de ficção cientifica. A primeira “mineira”.
18º Videobrasil
Mostra 30 anos e mostra competitiva Panoramas do Sul. De amanhã a 2 de fevereiro de 2014 no Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Pompeia) e no Cine Sesc (Rua Augusta, 2.075, Cerqueira César), em São Paulo. Entrada franca. Abertura das mostras às 19h30. Exibição de Deserto azul, às 20h45.
Gracie Santos
Estado de Minas: 05/11/2013
Ficção científica de Eder Santos com Odilon Esteves, Deserto azul tem pré-estreia no Videobrasil. Diretor participou de 17 das 18 edições do festival |
Ficção científica de Eder Santos com Odilon Esteves (foto), Deserto azul tem pré-estreia no Videobrasil. |
Os cenários de Deserto azul, novo longa de Eder Santos, que abre amanhã, às 20h45, em São Paulo, a 18ª edição do Videobrasil, é bom exemplo do que o evento experimentou nessas três décadas que está celebrando: a contaminação das artes e do cinema pelo vídeo (e vice-versa). O segundo longa do diretor, depois de Enredando as pessoas (1995), exibe durante a trama científica sobre um homem à procura de si mesmo, o que poderia ser considerada uma exposição de arte contemporânea. A cenografia vale-se de instalações do próprio diretor e de obras de gente como Adriana Varejão, Fernando Rabelo, Carlito Carvalhosa, Nydia Negromonte, Leandro Aragão, Fábio Delduque, Janaína Mello, Fernando Maculan, Rita Mayers, Tom van Vliet, Judith Witteman e do Optimat (comunidade de arte digital). Detalhe: nada é gratuito; o espectador nem perceberá que está “visitando” a mostra.
Solange Farkas, idealizadora e curadora do Videobrasil, explica o convite ao realizador mineiro para abrir o festival, que segue até 2 de fevereiro de 2014: “Uma das coisas bacanas de Deserto azul é que está ali o caminho que Eder construiu e faz parte da história do próprio evento, essa trajetória de inserção do vídeo nas artes plásticas até chegar definitivamente ao circuito das artes visuais. Quando ninguém achava possível pensar essa experiência, ele e Sandra Kogut faziam isso. Eder é o exemplo mais emblemático, participou de 17 das 18 edições. É uma espécie espelho bem-sucedido dessa trajetória.”
Criado em 1983 (desde 1992 tem o Sesc como correalizador), o Videobrasil passou por transformações. “Quando a videoarte apenas surgia na cena brasileira, criamos o primeiro festival voltado à modalidade, que participou, assim, de sua consolidação e de sua incorporação pelo circuito artístico”, lembra Solange. Mais tarde, abriu-se a outras manifestações da arte eletrônica em diálogo com o universo das instalações e a performance, entre outros desdobramentos. Desde 2011, abrange todas as linguagens artísticas contemporâneas.
Mata-burro
Em todos esses anos à frente do Videobrasil, Solange confessa que ainda sente culpa por não ter conseguido “emplacar” duas obras nas primeiras edições, os curtas Não vou à África porque tenho plantão (1990, 8min), do próprio Eder Santos, e Caipira in (1987, 18min), de Roberto Sandoval, Tadeu Jungle e Walter Silveira. “Briguei, mas fui voto vencido. Tinha gente careta na época, com o olhar voltado para a televisão”, diz a curadora. Entre casos divertidos, ela se recorda de uma edição em que Tadeu Jungle e Walter Silveira queriam colocar um mata-burro na entrada do Museu da Imagem e do Som (MIS). “Não deixaram, mas a responsabilidade foi minha, deveria ter batalhado mais”, afirma.
Durante os primeiros cinco anos, Solange tinha que submeter as obras ao Departamento de Polícia Federal para censura, papel exercido à época (em plena ditadura militar) pela temida Solange Hernandes. “Houve vídeos que nunca mostrei aos censores. Fazer TV pirata ou exibir seus conteúdos dava cadeia. Recebemos um vídeo da TV pirata do Rio, que era (e continua sendo) sensacional. Com montagens, eles mostravam o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, ensinando a montar uma antena pirata, e o então superintendente da Polícia Federal, Romeu Tuma, ensinado a fazer baseado,” diz. Por exibir obras do tipo, Solange perdeu as contas de quantas horas passou escondida no banheiro do MIS, para não receber mandados da Justiça.
Monitores
Obras como essa poderão ser vistas por quem visitar a exposição 30 anos, em São Paulo, que terá linha do tempo com a evolução da criação de vídeo no país de 1983 a 2013. Haverá também uma instalação gigante, com 240 monitores de TV exibindo 20 horas de vídeos especialmente editados a partir de 5 mil horas analisadas. Uma polifonia de cenas, depoimentos, registros e intervenções, com nomes que vão de Nam June Paik, Kenneth Anger, Walid Raad, Chelpa Ferro e Peter Greenaway a Tunga e Waly Salomão. Quase 2 mil pessoas compõem o mosaico, entre artistas, curadores, críticos e público. A ambientação sonora é do coletivo mineiro O Grivo. A mostra competitiva Panoramas do Sul terá 94 artistas mostrando instalações, performances, desenhos, esculturas, fotografias, pinturas, livros de artista e vídeos. Nove trabalhos são mineiros: a escultura Galhos, de Alexandre Brandão; a pintura O russo, de Ana Prata; a fotografia Welcome home, de Gui Mohallem; a instalação Teoria das bordas, de Lais Myrrha; a performance O samba do crioulo doido, de Luiz de Abreu; a instalação 9493, de Marcellvs L.; a instalação Nascente, de Pablo Lobato; a fotografias Estatuto da divisão territorial, de Pedro Motta; e o vídeo Cordis, de Roberto Bellini e Sérgio Borges.
A instalação 30 anos reúne 240 monitores que exibem 20 horas de vídeo |
Três perguntas para...
Eder Santos
cineasta e artista visual
Sua ficção científica viaja pelo universo interior de um homem. O mais longe que se pode ir é dentro de si mesmo? Para além do Atacama (onde o filme foi rodado), onde fica o seu deserto azul?
No mundo, na época em que Deserto azul está ocorrendo, o homem não tem muitos problemas como superpopulação ou violência... e o esporte já não existe. O próximo passo é procurar o desenvolvimento espiritual. É a nova era. A cor do deserto pode ser azul. Cada um pinta o seu deserto. Ou cada um encontra seu pintor no seu deserto. O primeiro passo é ir à procura, atrás da alma. O futuro chega de qualquer maneira. Como vamos chegar a ele é o que interessa. Quem procura sempre acha.
A tecnologia não engole a poesia em Deserto azul. O filme é viagem poética e filosófica. Não perder a ternura é fundamental?
Estou tentando contar uma história de uma maneira fácil, quero alcançar as pessoas. Não sei se vou conseguir. Mas estamos tentando, eu e todos os envolvidos. Queremos passar a ideia de que com emoção se chega a algum lugar. Mesmo em um mundo cercado de vida virtual.
Você trabalha com dois fotógrafos em Deserto azul (o paulista Pedro Farkas e o alemão Stefan Ciupek, que fotografou para Danny Boyle, de Quem quer ser um milionário?). Como foi somar esses talentos?
O Pedro, além de ser meu amigo, é um dos melhores fotógrafos do cinema brasileiro e minha vontade era de trabalhar em película, então foi isso. Nossa amizade tornou possível ele acontecer no filme e o filme acontecer. O Stefan também apareceu como amigo primeiro, depois juntou todo seu talento ao projeto. O filme de alguma forma viraria uma produção digital e Stefan trouxe todo o seu conhecimento do cinema digital. Foi uma combinação que só poderia dar em um filme de ficção cientifica. A primeira “mineira”.
18º Videobrasil
Mostra 30 anos e mostra competitiva Panoramas do Sul. De amanhã a 2 de fevereiro de 2014 no Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Pompeia) e no Cine Sesc (Rua Augusta, 2.075, Cerqueira César), em São Paulo. Entrada franca. Abertura das mostras às 19h30. Exibição de Deserto azul, às 20h45.
Temperatura da córnea pode sinalizar câncer
Temperatura da córnea pode sinalizar câncer
Aluno da UFMG detecta tumor a partir da distribuição de calor intraocular. Para isso, ele criou um sistema computacional de diagnóstico, que usa a fotografia por termocâmera
Felipe Canêdo
Estado de Minas: 05/11/2013
Detectar tumores intraoculares por meio da medição de calor foi a ideia motivadora do projeto final de graduação do estudante de engenharia mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Matheus Silveira, de 23 anos, apresentado em julho por sua orientadora, a professora Adriana França, na Conferência Internacional de Engenharia Mecânica e Aeroespacial em Moscou, na Rússia. O trabalho deu origem a um artigo publicado no periódico Advanced Materials Research, sendo considerada a melhor apresentação oral na seção de análises térmicas da conferência. Foram inscritos mais de 500 trabalhos de pesquisadores de todo o mundo, sendo 129 aceitos, entre eles o do mineiro.
O câncer de olho é um tipo raro de tumor que tem um índice baixo de cura, afirma Silveira. "É uma doença silenciosa, que não tem sintomas. Quando eles aparecem, geralmente você tem que retirar o olho e se houver metástase a chance de óbito é grande", diz. Para auxiliar a pesquisa, o oftalmologista Pedro Ronaldo de Carvalho Filho foi consultado. Matheus acredita que o método é interessante, pois a detecção precoce é muito rara nesse tipo de doença. Segundo o estudante, uma das motivações para focar seu trabalho nesse tema foi o fato de os efeitos de tumores na distribuição da temperatura ocular terem sido pouco investigados na ciência. Dessa forma, seu objetivo era simular os efeitos térmicos de um tumor ocular na distribuição da temperatura no olho.
"O tumor foi simulado como um círculo, localizado na interface entre a esclera e o tecido vítreo, e as variações no seu tamanho foram avaliadas. Fizemos experiências com olhos sadios e os resultados comprovaram nosso trabalho. É muito complexo e muito difícil fazer experimentos com o corpo humano. Então, por isso é que tentar uma solução computacional hoje está cada vez mais popular", explica o estudante, que se forma no fim do ano. Os testes serviram para comparar dados de pesquisas já realizadas com os obtidos pelo método. Para estudar a propagação de calor em um olho humano o estudante construiu um olho de gel.
"Testamos esse método no olho, mas ele poderia ser usado na detecção de qualquer tumor superficial, como o de mama, por exemplo", avalia o estudante. Com o modelo computacional de diagnóstico, uma fotografia tomada por termocâmera, que capta o espectro infravermelho da imagem, seria a base para examinar um paciente com suspeita de câncer ocular. "É aquela visão que aparece no filme O predador, com o ator Arnold Schwarzenneger", brinca Matheus.
O aumento da temperatura do olho com um tumor varia de 0,2 a 0,5 grau centígrado e o que mais sofre é a córnea. Mesmo assim, todo o olho é alterado com o aumento de temperatura. A maior novidade da pesquisa é o modelo computacional desenvolvido especificamente para o olho humano. O trabalho matemático criado pelo estudante consistiu principalmente em adaptar equações já existentes, que descrevem fenômenos físicos com condições de contorno, para poder adequá-las ao problema proposto: detectar tumores intraoculares por meio do calor. Ele conta que se baseou em uma equação de biomecânica proposta por um cientista na década de 1940, e relata que uma dificuldade enfrentada na pesquisa é que não só o câncer provoca aumento da temperatura ocular. "A temperatura da mulher é diferente da do homem. Um homem mais gordo tem temperatura diferente de um mais magro. Uma inflamação provoca elevação da temperatura, então essa é uma ferramenta de pré-diagnóstico. Não tem como você simplesmente chegar para duas pessoas e tirar uma foto e dizer: ‘Você tem câncer e você não’", destaca. Para resolver a questão, seria preciso analisar o histórico do paciente, que pode ter uma temperatura ligeiramente elevada naturalmente, explica Matheus Silveira.
Uma vantagem desse tipo de procedimento, segundo o estudante, é que ele não é invasivo. "Você tira uma foto e o software a analisa. Depois, cabe ao médico interpretar as informações e avaliar se o paciente deve fazer outros exames ou não", conta.
RUSSOS A professora Adriana França conta que os russos são conhecidos por seu conhecimento em matemática no mundo e que vários livros de referência no campo da matemática foram escritos por eles. "No meio da apresentação em Moscou, um velhinho se levantou e queria saber detalhes da parte matemática e eu tive que pegar uma caneta e ir para um quadro explicar como fiz as condições de contorno", conta ela. Adriana afirma que não é comum que isso seja feito em apresentações de congressos científicos, mas diz que achou o episódio interessante.
Mas o mais curioso foi a forma como professora e aluno se conheceram. Foi na aula de transferência de calor ministrada por ela. A professora, fã de bandas de rock pesado, se divertiu quando encontrou uma resposta diferente em uma de suas provas. "Um estudante fez o raciocínio todo correto, mas errou as contas. A resposta deu coincidentemente 666, e ele escreveu a letra da música (do Iron Maiden) embaixo na prova. Cheguei à sala e perguntei ‘quem é o Matheus?’", conta Adriana. Durante um ano e meio o também metaleiro desenvolveu a pesquisa, com orientação da professora, o que resultou em um software experimental que usa fotografias de calor para detectar tumores oculares. A docente integra o comitê realizador da 5ª Conferência Internacional de Engenharia Mecânica e Aeroespacial, a ser realizada no ano que vem, em Madri.
Aluno da UFMG detecta tumor a partir da distribuição de calor intraocular. Para isso, ele criou um sistema computacional de diagnóstico, que usa a fotografia por termocâmera
Felipe Canêdo
Estado de Minas: 05/11/2013
Avaliação do calor intraocular, contrapondo os diferentes tamanhos de tumor, que são exibidos nas isotermas do olho sadio, e nos olhos afligidos pelos tumores T1, T2 e T3 em sua proposição inicial |
Detectar tumores intraoculares por meio da medição de calor foi a ideia motivadora do projeto final de graduação do estudante de engenharia mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Matheus Silveira, de 23 anos, apresentado em julho por sua orientadora, a professora Adriana França, na Conferência Internacional de Engenharia Mecânica e Aeroespacial em Moscou, na Rússia. O trabalho deu origem a um artigo publicado no periódico Advanced Materials Research, sendo considerada a melhor apresentação oral na seção de análises térmicas da conferência. Foram inscritos mais de 500 trabalhos de pesquisadores de todo o mundo, sendo 129 aceitos, entre eles o do mineiro.
O câncer de olho é um tipo raro de tumor que tem um índice baixo de cura, afirma Silveira. "É uma doença silenciosa, que não tem sintomas. Quando eles aparecem, geralmente você tem que retirar o olho e se houver metástase a chance de óbito é grande", diz. Para auxiliar a pesquisa, o oftalmologista Pedro Ronaldo de Carvalho Filho foi consultado. Matheus acredita que o método é interessante, pois a detecção precoce é muito rara nesse tipo de doença. Segundo o estudante, uma das motivações para focar seu trabalho nesse tema foi o fato de os efeitos de tumores na distribuição da temperatura ocular terem sido pouco investigados na ciência. Dessa forma, seu objetivo era simular os efeitos térmicos de um tumor ocular na distribuição da temperatura no olho.
"O tumor foi simulado como um círculo, localizado na interface entre a esclera e o tecido vítreo, e as variações no seu tamanho foram avaliadas. Fizemos experiências com olhos sadios e os resultados comprovaram nosso trabalho. É muito complexo e muito difícil fazer experimentos com o corpo humano. Então, por isso é que tentar uma solução computacional hoje está cada vez mais popular", explica o estudante, que se forma no fim do ano. Os testes serviram para comparar dados de pesquisas já realizadas com os obtidos pelo método. Para estudar a propagação de calor em um olho humano o estudante construiu um olho de gel.
"Testamos esse método no olho, mas ele poderia ser usado na detecção de qualquer tumor superficial, como o de mama, por exemplo", avalia o estudante. Com o modelo computacional de diagnóstico, uma fotografia tomada por termocâmera, que capta o espectro infravermelho da imagem, seria a base para examinar um paciente com suspeita de câncer ocular. "É aquela visão que aparece no filme O predador, com o ator Arnold Schwarzenneger", brinca Matheus.
O aumento da temperatura do olho com um tumor varia de 0,2 a 0,5 grau centígrado e o que mais sofre é a córnea. Mesmo assim, todo o olho é alterado com o aumento de temperatura. A maior novidade da pesquisa é o modelo computacional desenvolvido especificamente para o olho humano. O trabalho matemático criado pelo estudante consistiu principalmente em adaptar equações já existentes, que descrevem fenômenos físicos com condições de contorno, para poder adequá-las ao problema proposto: detectar tumores intraoculares por meio do calor. Ele conta que se baseou em uma equação de biomecânica proposta por um cientista na década de 1940, e relata que uma dificuldade enfrentada na pesquisa é que não só o câncer provoca aumento da temperatura ocular. "A temperatura da mulher é diferente da do homem. Um homem mais gordo tem temperatura diferente de um mais magro. Uma inflamação provoca elevação da temperatura, então essa é uma ferramenta de pré-diagnóstico. Não tem como você simplesmente chegar para duas pessoas e tirar uma foto e dizer: ‘Você tem câncer e você não’", destaca. Para resolver a questão, seria preciso analisar o histórico do paciente, que pode ter uma temperatura ligeiramente elevada naturalmente, explica Matheus Silveira.
Uma vantagem desse tipo de procedimento, segundo o estudante, é que ele não é invasivo. "Você tira uma foto e o software a analisa. Depois, cabe ao médico interpretar as informações e avaliar se o paciente deve fazer outros exames ou não", conta.
RUSSOS A professora Adriana França conta que os russos são conhecidos por seu conhecimento em matemática no mundo e que vários livros de referência no campo da matemática foram escritos por eles. "No meio da apresentação em Moscou, um velhinho se levantou e queria saber detalhes da parte matemática e eu tive que pegar uma caneta e ir para um quadro explicar como fiz as condições de contorno", conta ela. Adriana afirma que não é comum que isso seja feito em apresentações de congressos científicos, mas diz que achou o episódio interessante.
Mas o mais curioso foi a forma como professora e aluno se conheceram. Foi na aula de transferência de calor ministrada por ela. A professora, fã de bandas de rock pesado, se divertiu quando encontrou uma resposta diferente em uma de suas provas. "Um estudante fez o raciocínio todo correto, mas errou as contas. A resposta deu coincidentemente 666, e ele escreveu a letra da música (do Iron Maiden) embaixo na prova. Cheguei à sala e perguntei ‘quem é o Matheus?’", conta Adriana. Durante um ano e meio o também metaleiro desenvolveu a pesquisa, com orientação da professora, o que resultou em um software experimental que usa fotografias de calor para detectar tumores oculares. A docente integra o comitê realizador da 5ª Conferência Internacional de Engenharia Mecânica e Aeroespacial, a ser realizada no ano que vem, em Madri.
União para prevenir a osteoporose
União para prevenir a osteoporose
Bruno Muzzi Camargos
Ginecologista com área de atuação em densitometria óssea, membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)
Estado de Minas: 05/11/2013
A incidência de
fraturas decorrentes da osteoporose crescerá 32% no Brasil até 2050,
segundo estudos divulgados pela Fundação Internacional de Osteoporose
(IOF). Conhecida como uma epidemia silenciosa, a doença acarreta o
enfraquecimento dos ossos e aumenta a frequência de fraturas. Ainda de
acordo com o levantamento da IOF, a osteoporose atinge cerca de 10
milhões de brasileiros, sendo mais frequente em mulheres, numa proporção
de 5 mulheres para cada homem.
Os ossos da mulher sofrem a diminuição dos níveis de estrogênio que ocorre durante o climatério. O dado alarmante chama a atenção de todos para a importância da prevenção da osteoporose não somente na menopausa, mas também desde a infância. Pelo contato com pacientes em diferentes fases da vida, os ginecologistas podem atuar na prevenção da osteoporose de ponta a ponta: da puberdade ao climatério.
O ginecologista é o especialista com melhores oportunidades para atuar na prevenção e tratamento da osteoporose. Da gestação ao aleitamento e da puberdade à menopausa, a intervenção desse especialista é sempre oportuna. Por algum desconhecimento da matéria ou temor de efeitos colaterais dos medicamentos, os ginecologistas têm encaminhado casos que poderiam ser abordados nos seus próprios consultórios. Por outro lado, as outras especialidades médicas que recebem esses encaminhamentos se deparam com situações ginecológicas alheias à sua rotina e nas quais a intervenção ginecológica seja necessária.
Como forma de preencher esse hiato entre os ginecologistas e outras especialidades ligadas à osteoporose, a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) promovem a primeira edição do curso “Osteoporose feminina — de ponta a ponta”, no auditório da Santa Casa de Misericórdia, em Belo Horizonte, de 8h às 13h, em 9 de novembro. O curso é gratuito e voltado para ginecologistas e demais profissionais de saúde que lidam com a osteoporose feminina. O ginecologista ganha com a atualização e capacitação para manejo da osteoporose e as outras especialidades ganham com a interação profissional sobre temas ligados à saúde feminina.
Os exames são importantes para a detecção prévia da doença, uma vez que existem pessoas com predisposição genética para a perda de massa óssea, acelerando o aparecimento da osteoporose, que pode ser evitada por meio da adoção de hábitos saudáveis, como uma dieta rica em cálcio, prática de atividades físicas e adequação dos níveis de vitamina D. A terapia hormonal, desde que corretamente indicada, é uma importante ferramenta de prevenção da osteoporose e uma prerrogativa do médico ginecologista. Tibolona e Serms também podem ser utilizados no tratamento da doença e constituem agentes terapêuticos igualmente peculiares ao receituário do ginecologista.
No Brasil, tem havido, felizmente, uma série de iniciativas em busca de medidas para adotar formas preventivas e eficazes de lidarmos com essa doença: própria do envelhecimento, agravada pelos hábitos da vida em grandes centros urbanos e especialmente manifesta em mulheres. Todos devem participar.
Os ossos da mulher sofrem a diminuição dos níveis de estrogênio que ocorre durante o climatério. O dado alarmante chama a atenção de todos para a importância da prevenção da osteoporose não somente na menopausa, mas também desde a infância. Pelo contato com pacientes em diferentes fases da vida, os ginecologistas podem atuar na prevenção da osteoporose de ponta a ponta: da puberdade ao climatério.
O ginecologista é o especialista com melhores oportunidades para atuar na prevenção e tratamento da osteoporose. Da gestação ao aleitamento e da puberdade à menopausa, a intervenção desse especialista é sempre oportuna. Por algum desconhecimento da matéria ou temor de efeitos colaterais dos medicamentos, os ginecologistas têm encaminhado casos que poderiam ser abordados nos seus próprios consultórios. Por outro lado, as outras especialidades médicas que recebem esses encaminhamentos se deparam com situações ginecológicas alheias à sua rotina e nas quais a intervenção ginecológica seja necessária.
Como forma de preencher esse hiato entre os ginecologistas e outras especialidades ligadas à osteoporose, a Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) promovem a primeira edição do curso “Osteoporose feminina — de ponta a ponta”, no auditório da Santa Casa de Misericórdia, em Belo Horizonte, de 8h às 13h, em 9 de novembro. O curso é gratuito e voltado para ginecologistas e demais profissionais de saúde que lidam com a osteoporose feminina. O ginecologista ganha com a atualização e capacitação para manejo da osteoporose e as outras especialidades ganham com a interação profissional sobre temas ligados à saúde feminina.
Os exames são importantes para a detecção prévia da doença, uma vez que existem pessoas com predisposição genética para a perda de massa óssea, acelerando o aparecimento da osteoporose, que pode ser evitada por meio da adoção de hábitos saudáveis, como uma dieta rica em cálcio, prática de atividades físicas e adequação dos níveis de vitamina D. A terapia hormonal, desde que corretamente indicada, é uma importante ferramenta de prevenção da osteoporose e uma prerrogativa do médico ginecologista. Tibolona e Serms também podem ser utilizados no tratamento da doença e constituem agentes terapêuticos igualmente peculiares ao receituário do ginecologista.
No Brasil, tem havido, felizmente, uma série de iniciativas em busca de medidas para adotar formas preventivas e eficazes de lidarmos com essa doença: própria do envelhecimento, agravada pelos hábitos da vida em grandes centros urbanos e especialmente manifesta em mulheres. Todos devem participar.
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