Fé na vida
Milton Nascimento chega aos 70 anos cercado de homenagens, com agenda lotada e dois novos discos à vista. Assim como João Gilberto, o mestre de geniais falsetes revolucionou a MPB
Ailton Magioli
Milagre dos peixes foi quase todo censurado. A Odeon queria que eu fizesse outro disco. Falei: 'Não. Vai sair deste jeito: usando a voz como instrumento, como uma arma' E olhe que tentaram censurar a voz também" - Milton Nascimento, em depoimento ao site do Museu Clube da Esquina |
Sem tempo para comemorar o próprio aniversário devido à extensa agenda de compromissos, Milton Nascimento recebe pouquíssimos convidados hoje à noite, em sua casa da Joatinga, no Rio de Janeiro, para festejar seus 70 anos. Amanhã, ele embarca para Pirenópolis (GO), onde faz show no domingo. Depois, segue para Cuiabá (MT).
Bituca não completa apenas 70 anos de idade, mas meio século de carreira, 45 anos da canção Travessia e quatro décadas do disco Clube da Esquina, marco da MPB. Em 25 de novembro, grava o DVD Milton Nascimento – Uma travessia, no Rio de Janeiro. E prepara repertório inédito para seu disco com o guitarrista Ricardo Vogt, que toca na banda de Esperanza Spalding. Ele será um dos homenageados da Academia Latina de Gravação durante a entrega do Grammy Latino, em 15 de novembro, em Las Vegas (EUA).
Carioca de nascimento, criado em Três Pontas e mineiro por direito, Bituca tem se emocionado neste ano especial. “Fico muito feliz de poder dividir com as pessoas as músicas que a gente fez, as histórias que a gente viveu”, declarou ele. Vêm por aí dois livros sobre o artista: a biografia musical escrita pelo instrumentista e compositor Chico Amaral e o volume organizado pelo assessor Danilo Nuha, com as letras que escreveu. No Rio de Janeiro, o Instituto Antonio Carlos Jobim cuida da digitalização de seu acervo pessoal. Recentemente, Milton recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Chico Amaral recorre a Mário de Andrade para situar o surgimento de Milton Nascimento na cena cultural brasileira. “Mário gostava de dizer que o que importa na arte é o contexto, o coletivo. É isso que gera os grandes gênios”, lembra o compositor, salientando que depois de Três Pontas, onde conviveu com Wagner Tiso, Bituca se mudou para BH, onde conheceu Pacífico Mascarenhas e os irmãos Borges, entre outros. Já radicado em São Paulo, ele foi acolhido por Hamilton Godoy (do Zimbo Trio), Agostinho dos Santos, Baden Powell e Elis Regina. Chico garante: depois da bossa nova, Milton Nascimento representa o que surgiu de mais importante na MPB.
Autor dos livros A canção no tempo (1997-1998), em coautoria com Jairo Severiano, e A era dos festivais (2003), o jornalista e musicólogo Zuza Homem de Mello lembra que Milton – como compositor – foi a figura de maior projeção do Clube da Esquina. “Todavia, sua obra tem personalidade tão marcante que se pode afirmar constituir-se de forma independente do grupo em função de suas inovações rítmicas, harmônicas e melódicas”, ressalta. Para Zuza, tais inovações constituem “verdadeira entidade musical, diferente de tudo o mais que existia e existe na música brasileira”.
O jornalista aponta na obra miltoniana “aspectos únicos, como o caráter ritualístico, a morfologia épica e a abrangência latino-americana que extrapolam a força da paisagem mineira, constituindo-se num dos mais fascinantes universos sonoros de raízes profundamente brasileiras que o mundo não só admira como, e principalmente, compreende”. Zuza também destaca a postura de Bituca na luta contra a ditadura militar: “Nesse ponto, há que se louvar os parceiros – em particular Fernando Brant, Márcio Borges e Ronaldo Bastos. Eles souberam compreender os desígnios musicais embutidos em certas criações para chegar a canções que atingiam fundo esse enfrentamento, como Fé cega, faca amolada e Nada será como antes, entre várias outras”.
O jornalista discorda de quem afirma que Bituca impressionou a crítica apenas por seu famoso vozeirão. “O que arrebatou aos que ouviram Milton desde o início de sua carreira, entre os quais me incluo, foi a verdadeira magia que havia em sua voz, a devoção de suas vocalizações, a apropriação técnica no uso de falsete. Enfim, várias características que fazem dele, cronologicamente, o intérprete mais original do Brasil depois do surgimento de João Gilberto. A mitologia de ambos converge num ponto em que se identificam, na valorização do silêncio”, conclui.
Bituca não completa apenas 70 anos de idade, mas meio século de carreira, 45 anos da canção Travessia e quatro décadas do disco Clube da Esquina, marco da MPB. Em 25 de novembro, grava o DVD Milton Nascimento – Uma travessia, no Rio de Janeiro. E prepara repertório inédito para seu disco com o guitarrista Ricardo Vogt, que toca na banda de Esperanza Spalding. Ele será um dos homenageados da Academia Latina de Gravação durante a entrega do Grammy Latino, em 15 de novembro, em Las Vegas (EUA).
Carioca de nascimento, criado em Três Pontas e mineiro por direito, Bituca tem se emocionado neste ano especial. “Fico muito feliz de poder dividir com as pessoas as músicas que a gente fez, as histórias que a gente viveu”, declarou ele. Vêm por aí dois livros sobre o artista: a biografia musical escrita pelo instrumentista e compositor Chico Amaral e o volume organizado pelo assessor Danilo Nuha, com as letras que escreveu. No Rio de Janeiro, o Instituto Antonio Carlos Jobim cuida da digitalização de seu acervo pessoal. Recentemente, Milton recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Chico Amaral recorre a Mário de Andrade para situar o surgimento de Milton Nascimento na cena cultural brasileira. “Mário gostava de dizer que o que importa na arte é o contexto, o coletivo. É isso que gera os grandes gênios”, lembra o compositor, salientando que depois de Três Pontas, onde conviveu com Wagner Tiso, Bituca se mudou para BH, onde conheceu Pacífico Mascarenhas e os irmãos Borges, entre outros. Já radicado em São Paulo, ele foi acolhido por Hamilton Godoy (do Zimbo Trio), Agostinho dos Santos, Baden Powell e Elis Regina. Chico garante: depois da bossa nova, Milton Nascimento representa o que surgiu de mais importante na MPB.
Autor dos livros A canção no tempo (1997-1998), em coautoria com Jairo Severiano, e A era dos festivais (2003), o jornalista e musicólogo Zuza Homem de Mello lembra que Milton – como compositor – foi a figura de maior projeção do Clube da Esquina. “Todavia, sua obra tem personalidade tão marcante que se pode afirmar constituir-se de forma independente do grupo em função de suas inovações rítmicas, harmônicas e melódicas”, ressalta. Para Zuza, tais inovações constituem “verdadeira entidade musical, diferente de tudo o mais que existia e existe na música brasileira”.
O jornalista aponta na obra miltoniana “aspectos únicos, como o caráter ritualístico, a morfologia épica e a abrangência latino-americana que extrapolam a força da paisagem mineira, constituindo-se num dos mais fascinantes universos sonoros de raízes profundamente brasileiras que o mundo não só admira como, e principalmente, compreende”. Zuza também destaca a postura de Bituca na luta contra a ditadura militar: “Nesse ponto, há que se louvar os parceiros – em particular Fernando Brant, Márcio Borges e Ronaldo Bastos. Eles souberam compreender os desígnios musicais embutidos em certas criações para chegar a canções que atingiam fundo esse enfrentamento, como Fé cega, faca amolada e Nada será como antes, entre várias outras”.
O jornalista discorda de quem afirma que Bituca impressionou a crítica apenas por seu famoso vozeirão. “O que arrebatou aos que ouviram Milton desde o início de sua carreira, entre os quais me incluo, foi a verdadeira magia que havia em sua voz, a devoção de suas vocalizações, a apropriação técnica no uso de falsete. Enfim, várias características que fazem dele, cronologicamente, o intérprete mais original do Brasil depois do surgimento de João Gilberto. A mitologia de ambos converge num ponto em que se identificam, na valorização do silêncio”, conclui.
Tons geniais
Milton Nascimento com os parceiros: o mineiro Márcio Borges e o fluminense Ronaldo Bastos |
1 Aos 2 anos, em 1942, Milton Nascimento já ensaiava os primeiros sons ao piano. Pouco depois, ganhou uma sanfona de dois baixos
2 Em 1944, o carioca Milton perde a mãe, Maria do Carmo, no Rio de Janeiro. Vai morar com a avó biológica em Juiz de Fora, mas não se adaptou à nova família
3 Conhecidos de Maria do Carmo, Lília e Josino de Brito Campos, ao ver a tristeza do menino, pedem à avó que o deixe morar com eles. Milton segue com o jovem casal para Três Pontas, no Sul de Minas Gerais
4 Antes dos 7 anos, ele ganha uma gaita e uma sanfona de quatro baixos. O primeiro violão chega aos 13, quando ele e Wagner Tiso formam o grupo Luar de Prata
5 Milton e Wagner criam a banda Ws Boys. São convidados para participar do Conjunto Holliday, em Belo Horizonte. Em 1960, gravam o compacto Barulho de trem
6 O apelido Bituca foi dado por Lília, a mãe adotiva. Ela achava graça no beiço que Milton fazia ao ser contrariado
7 Em 1963, Bituca se muda para BH, com 20 anos. Vai morar numa pensão no Edifício Levy, conhece a família Borges e passa a integrar o conjunto de bailes de Célio Balona
8 Monta o Berimbau Trio com Wagner Tiso e Paulinho Braga. Começa a compor.
Em 1964, grava o LP Quarteto Sambacana,
com Pacífico Mascarenhas
9 Milton vai para São Paulo e participa do Festival Berimbau de Ouro, em 1966. Canta Cidade vazia, de Baden Powell e Lula Freire
10 O Tempo Trio grava a primeira música de Bituca, E a gente sonhando. Elis Regina, que viria a ser amiga e musa, inclui Canção do sal no disco Elis
11 Milton se desilude com os festivais. Mas o cantor Agostinho dos Santos, a pretexto de gravar um disco, pede três canções a ele e as inscreve, em segredo, no Festival Internacional da Canção, em 1967
12 As três canções são classificadas – inclusive Travessia. A parceria com Fernando Brant projeta Milton e o leva a gravar
o primeiro disco solo
13 O disco Courage é lançado nos Estados Unidos. Em 1968, começa a carreira internacional de Bituca
14Milton Nascimento, disco de 1969, traz as canções Beco do Mota e Pai Grande. Em 1970, ele grava Milton com a banda Som Imaginário. Pra Lennon e McCartney é uma das faixas
15 Em 1972, surge Clube da Esquina. O disco em parceria com Lô Borges batiza um dos principais movimentos da MPB
16 A musicalidade de Clube da Esquina destaca nacionalmente Lô e Márcio Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Fernando Brant e Ronaldo Bastos, entre outros. O disco
deslumbra o mundo
17 Milton e parceiros estão na mira da ditadura militar. Milagre dos peixes, disco de 1973, tem quase todas as letras censuradas. Sai com várias faixas instrumentais. Perseguido, Bituca passa a fazer shows promovidos por diretórios estudantis
18 O show Milagre dos peixes vira disco. Segundo Milton, foi o primeiro álbum de música popular gravado com uma orquestra sinfônica, a do Rio de Janeiro, ao vivo
19 Em 1974, o mundo do jazz se deslumbra com Bituca. Ele e o saxofonista Wayne Shorter gravam o disco Native dancer, nos EUA
20 Bituca “globaliza” o Clube da Esquina, dividindo microfones e estúdios com Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter, Mercedes Sosa, Fito Paez, Hubert Laws, Peter Gabriel, James Taylor, Sting, Paul Simon, Jon Andersen
e Duran Duran
21 Maurice White, do Earth, Wind and Fire, declara que as músicas e seu grupo se inspiraram nos falsetes de Milton Nascimento. Bjork é outra fã de carteirinha
22Em 1975, o disco Minas desmente quem tachava Bituca de “hermético”. Fé cega, faca amolada, Ponta de areia e Paula e Bebeto se tornam hits
23Minas chega ao 1º lugar na parada de sucessos australiana. Conta com a participação do pianista Tenório Jr., posteriormente desaparecido na Argentina durante a ditadura militar
24Minas se desdobra em Gerais, disco com forte marca latino-americana. A diva argentina Mercedes Sosa canta com Milton
25 Milton compõe a trilha do balé Maria Maria, que marca a estreia do Corpo. O grupo mineiro se tornou uma das companhias de dança mais respeitadas do mundo
26 Clube da Esquina dois chega, seis anos depois do clássico. Reúne Elis Regina, Chico Buarque, Gonzaguinha, Flávio Venturini, Boca Livre, César Camargo, Joyce, Francis Hime, Olívia Hime, Beto Guedes, Danilo Caymmi, Paulo Jobim, Nelson Ângelo, Toninho Horta, Lô Borges e Wagner Tiso, entre outros.
27 A parceria com o Grupo Corpo se repete: Milton compõe a trilha do balé Último trem
28 Milton sempre teve um pé no samba.
No começo da carreira, tocou nos grupos Evolussamba e Sambacana
29 O disco Sentinela, de 1980, o leva para a primeira turnê europeia. Faz shows na Suíça, em Portugal e na França. Por 10 dias ele lota o Théâtre de la Ville, em Paris
30 Missa dos quilombos, musicada por ele, homenageia Zumbi dos Palmares. Parceria com dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, o projeto estreia no Recife
31 Ideia de dom Hélder Câmara, Missa dos quilombos vira disco. É encenada na praça da Catedral de San Tiago de Compostela,
na Espanha
32 Em 1983, Milton e Wagner Tiso compuseram Coração de estudante para o filme Jango, de Sílvio Tendler. A letra se refere ao jovem Edson Luís, morto pela polícia em 1968 – estopim para imensas passeatas contra a ditadura militar
33 Em 1985, Coração de estudante vira hino das Diretas Já, campanha em que Milton e artistas se engajam. No ano seguinte, foi a trilha sonora da agonia e morte do presidente eleito Tancredo Neves
34 Em 1984, Milton estreia no Carnegie Hall, em Nova York, em temporada de sucesso
35 Em 1985, o presidente francês François Mitterrand nomeia Bituca Cavaleiro da Ordem das Artes das Ciências e Letras
de seu país
36O disco A barca dos amantes é gravado ao vivo com Wayne Shorter, em São Paulo. Na Argentina, Milton também faz outro ao vivo, com Mercedes Sosa e Leon Gieco
37 Bituca estreia no Japão, em 1988. Em Tóquio, inaugura o Fã-Clube da Esquina
38 Milton abraça a causa dos povos da floresta. Viaja de barco pelo Rio Juruá, no Acre, e grava o disco Txai, em 1990. Torna-se astro da world music e se destaca no ranking da revista Billboard
39 Impressionado com o cacique Benke, que discursou na Rio-92, Milton compõe canção inspirada no líder ashaninka
40O mundo celebra a música de Milton. Ele ganha o título de World beat artist of the year concedido pela revista Downbeat (1990), pela Downbeat Reader’s Pool (1991) e pela Downbeat Critic’s Pool (1992)
41 Em 1995, sai o disco Angelus, apelidado de “Clube da Esquina 3”. Os astros James Taylor, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Jon Anderson, Ron Carter, Peter Gabriel, Pat Metheny e Jack Dejohnette participam
das gravações
42Angelus não surgiu em estúdios luxuosos do Primeiro Mundo. A maioria das gravações se deu numa fazenda em Esmeraldas, no interior de MG. O álbum foi concluído em Nova York
43O CD Nascimento (1997) e a turnê Tambores de Minas, espetáculo com direção de Gabriel Villela, marcam uma espécie de volta às raízes afro-mineiras
44 Nascimento recebe o Grammy de melhor álbum de world music de 1998. Milton comove o país, que acompanha sua internação por causa de diabetes
45 Bituca recupera a saúde. Tambores de Minas, com direção de Gabriel Villela, ganha apresentação histórica na Praça Tiradentes, em Ouro Preto
46 Durante a gravação do DVD Tambores de Minas, no Teatro João Caetano, no Rio, Milton recebe das mãos do produtor Russ Titleman a estatueta do Grammy
47 Em cerimônia emocionante, Milton é coroado Rei Congo em Divinópolis, no Oeste de MG. A população para para homenageá-lo. O cortejo festivo sai pelas ruas
48 Milton volta ao passado, quando cantava “em troca de pão”. Em 1999, anima verdadeiros bailes – com direito a orquestra – durante a turnê do disco Crooner. A festa chega à América Latina e à Europa
49 Milton recebe o título de doutor honoris causa da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Ele e o escritor português José Saramago são condecorados com a medalha de ouro da Sisac, no Chile
50 Crooner recebe o Grammy Latino na categoria disco pop contemporâneo brasileiro. Milton Nascimento e Gilberto Gil se tornam parceiros e gravam CD em 2001
51 A dupla Sandy e Júnior participa do disco de Gil e Milton, que recebem críticas por gravar com os filhos hitmakers do sertanejo Xororó. Os veteranos saem em defesa dos “meninos”
52Nos 30 anos de Clube da Esquina, em 2002, uma surpresa: durante show em São Paulo, a praticamente desconhecida Maria Rita, filha de Elis, canta Roupa nova com o “compadre” da mãe
53 Bituca homenageia as mulheres – sobretudo a mãe, Lilia, que morreu em 1998 – no CD Pietá. Convida Maria Rita, Simone Guimarães e Marina Machado para acompanhá-lo nas gravações. Marina faz longa turnê com ele
54 Para gerenciar a carreira e ganhar independência, Milton cria o selo Nascimento e sai da gravadora Warner
55 O espetáculo Ser Minas tão Gerais (2004), em parceria com o grupo Ponto de Partida, de Barbacena, e Meninos de Araçuaí é gravado em DVD. Ressalta as raízes mineiras de Bituca
56 Milton espanta críticos e público em Ser Minas tão Gerais. Não era o “astro” daquele palco. Dividia-o alegremente com a garotada do Vale do Jequitinhonha e com a jovem trupe barbacenense
57 Tristesse, faixa do disco Pietá, parceria com Telo Borges, vence o Grammy Latino na categoria canção brasileira
58 Em 2005, outro Grammy Latino: A festa, música de Milton interpretada por Maria Rita, vence a categoria canção brasileira
59Milton recebe a medalha de ouro da Academia de Artes, Ciências e Letras da França pelo conjunto da obra, em 2006
60 Em 2007, Bituca arrasa no Japão. Faz 10 shows, para a alegria dos fã-clubes de lá
61O disco Novas bossas (2008), em parceria com o Jobim Trio, apresenta releituras de canções de Tom Jobim, Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes e Lô Borges
62 Outro projeto francês: o disco Milton Nascimento & Belmondo (2009) junta o brasileiro aos irmãos Lionel Belmondo (sax e flauta) e Stéphane Belmondo (trompete), conceituados no meio jazzístico parisiense
63 O anfiteatro da casa de Milton Nascimento, no Rio de Janeiro, chama-se Wayne Shorter. Com direito a harmônico e piano de cauda
64 Bituca nunca abandonou a luta dos povos indígenas. Em 2010, ele participou de ato em favor dos guaranis do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande
65Milton sempre manteve os laços com Três Pontas. Ele gravou seu último disco, E a gente sonhando, ao lado de jovens músicos da cidade
66 Quarenta anos depois do lançamento de Clube da Esquina, a repórter Ana Clara Brant e o fotógrafo Túlio Santos, do Estado de Minas, põem fim ao mistério sobre os garotos da capa do disco. Em março, em Nova Friburgo (RJ), eles descobrem a identidade da dupla: José Antônio Rimes, o Tonho, e Antônio Carlos Oliveira, Cacau. Milton Nascimento e Lô Borges se emocionam com a revelação
67 A bela letra de Ronaldo Bastos para Pablo, que fala do garoto com ‘‘pó de nuvem nos cabelos‘‘, é dedicada ao
único filho de Bituca
68 Isto é Milton, segundo o jornal francês Le Parisien: “Este anjo negro do Brasil é dono de uma das vozes mais surpreendentes que a América nos ofereceu
em todos os tempos”
69Assim Bituca se refere a seu disco mais famoso: “Penso que o Clube não pertencia a uma esquina, a uma turma, a uma cidade. Mas a quem, no pedaço mais distante do mundo, ouvisse nossas vozes
e se juntasse a nós”
70 “Se Deus cantasse, seria com a voz do Milton”. Palavra de Elis Regina
2 Em 1944, o carioca Milton perde a mãe, Maria do Carmo, no Rio de Janeiro. Vai morar com a avó biológica em Juiz de Fora, mas não se adaptou à nova família
3 Conhecidos de Maria do Carmo, Lília e Josino de Brito Campos, ao ver a tristeza do menino, pedem à avó que o deixe morar com eles. Milton segue com o jovem casal para Três Pontas, no Sul de Minas Gerais
4 Antes dos 7 anos, ele ganha uma gaita e uma sanfona de quatro baixos. O primeiro violão chega aos 13, quando ele e Wagner Tiso formam o grupo Luar de Prata
5 Milton e Wagner criam a banda Ws Boys. São convidados para participar do Conjunto Holliday, em Belo Horizonte. Em 1960, gravam o compacto Barulho de trem
6 O apelido Bituca foi dado por Lília, a mãe adotiva. Ela achava graça no beiço que Milton fazia ao ser contrariado
7 Em 1963, Bituca se muda para BH, com 20 anos. Vai morar numa pensão no Edifício Levy, conhece a família Borges e passa a integrar o conjunto de bailes de Célio Balona
8 Monta o Berimbau Trio com Wagner Tiso e Paulinho Braga. Começa a compor.
Em 1964, grava o LP Quarteto Sambacana,
com Pacífico Mascarenhas
9 Milton vai para São Paulo e participa do Festival Berimbau de Ouro, em 1966. Canta Cidade vazia, de Baden Powell e Lula Freire
10 O Tempo Trio grava a primeira música de Bituca, E a gente sonhando. Elis Regina, que viria a ser amiga e musa, inclui Canção do sal no disco Elis
11 Milton se desilude com os festivais. Mas o cantor Agostinho dos Santos, a pretexto de gravar um disco, pede três canções a ele e as inscreve, em segredo, no Festival Internacional da Canção, em 1967
12 As três canções são classificadas – inclusive Travessia. A parceria com Fernando Brant projeta Milton e o leva a gravar
o primeiro disco solo
13 O disco Courage é lançado nos Estados Unidos. Em 1968, começa a carreira internacional de Bituca
14Milton Nascimento, disco de 1969, traz as canções Beco do Mota e Pai Grande. Em 1970, ele grava Milton com a banda Som Imaginário. Pra Lennon e McCartney é uma das faixas
15 Em 1972, surge Clube da Esquina. O disco em parceria com Lô Borges batiza um dos principais movimentos da MPB
16 A musicalidade de Clube da Esquina destaca nacionalmente Lô e Márcio Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Fernando Brant e Ronaldo Bastos, entre outros. O disco
deslumbra o mundo
17 Milton e parceiros estão na mira da ditadura militar. Milagre dos peixes, disco de 1973, tem quase todas as letras censuradas. Sai com várias faixas instrumentais. Perseguido, Bituca passa a fazer shows promovidos por diretórios estudantis
18 O show Milagre dos peixes vira disco. Segundo Milton, foi o primeiro álbum de música popular gravado com uma orquestra sinfônica, a do Rio de Janeiro, ao vivo
19 Em 1974, o mundo do jazz se deslumbra com Bituca. Ele e o saxofonista Wayne Shorter gravam o disco Native dancer, nos EUA
20 Bituca “globaliza” o Clube da Esquina, dividindo microfones e estúdios com Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter, Mercedes Sosa, Fito Paez, Hubert Laws, Peter Gabriel, James Taylor, Sting, Paul Simon, Jon Andersen
e Duran Duran
21 Maurice White, do Earth, Wind and Fire, declara que as músicas e seu grupo se inspiraram nos falsetes de Milton Nascimento. Bjork é outra fã de carteirinha
22Em 1975, o disco Minas desmente quem tachava Bituca de “hermético”. Fé cega, faca amolada, Ponta de areia e Paula e Bebeto se tornam hits
23Minas chega ao 1º lugar na parada de sucessos australiana. Conta com a participação do pianista Tenório Jr., posteriormente desaparecido na Argentina durante a ditadura militar
24Minas se desdobra em Gerais, disco com forte marca latino-americana. A diva argentina Mercedes Sosa canta com Milton
25 Milton compõe a trilha do balé Maria Maria, que marca a estreia do Corpo. O grupo mineiro se tornou uma das companhias de dança mais respeitadas do mundo
26 Clube da Esquina dois chega, seis anos depois do clássico. Reúne Elis Regina, Chico Buarque, Gonzaguinha, Flávio Venturini, Boca Livre, César Camargo, Joyce, Francis Hime, Olívia Hime, Beto Guedes, Danilo Caymmi, Paulo Jobim, Nelson Ângelo, Toninho Horta, Lô Borges e Wagner Tiso, entre outros.
27 A parceria com o Grupo Corpo se repete: Milton compõe a trilha do balé Último trem
28 Milton sempre teve um pé no samba.
No começo da carreira, tocou nos grupos Evolussamba e Sambacana
29 O disco Sentinela, de 1980, o leva para a primeira turnê europeia. Faz shows na Suíça, em Portugal e na França. Por 10 dias ele lota o Théâtre de la Ville, em Paris
30 Missa dos quilombos, musicada por ele, homenageia Zumbi dos Palmares. Parceria com dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, o projeto estreia no Recife
31 Ideia de dom Hélder Câmara, Missa dos quilombos vira disco. É encenada na praça da Catedral de San Tiago de Compostela,
na Espanha
32 Em 1983, Milton e Wagner Tiso compuseram Coração de estudante para o filme Jango, de Sílvio Tendler. A letra se refere ao jovem Edson Luís, morto pela polícia em 1968 – estopim para imensas passeatas contra a ditadura militar
33 Em 1985, Coração de estudante vira hino das Diretas Já, campanha em que Milton e artistas se engajam. No ano seguinte, foi a trilha sonora da agonia e morte do presidente eleito Tancredo Neves
34 Em 1984, Milton estreia no Carnegie Hall, em Nova York, em temporada de sucesso
35 Em 1985, o presidente francês François Mitterrand nomeia Bituca Cavaleiro da Ordem das Artes das Ciências e Letras
de seu país
36O disco A barca dos amantes é gravado ao vivo com Wayne Shorter, em São Paulo. Na Argentina, Milton também faz outro ao vivo, com Mercedes Sosa e Leon Gieco
37 Bituca estreia no Japão, em 1988. Em Tóquio, inaugura o Fã-Clube da Esquina
38 Milton abraça a causa dos povos da floresta. Viaja de barco pelo Rio Juruá, no Acre, e grava o disco Txai, em 1990. Torna-se astro da world music e se destaca no ranking da revista Billboard
39 Impressionado com o cacique Benke, que discursou na Rio-92, Milton compõe canção inspirada no líder ashaninka
40O mundo celebra a música de Milton. Ele ganha o título de World beat artist of the year concedido pela revista Downbeat (1990), pela Downbeat Reader’s Pool (1991) e pela Downbeat Critic’s Pool (1992)
41 Em 1995, sai o disco Angelus, apelidado de “Clube da Esquina 3”. Os astros James Taylor, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Jon Anderson, Ron Carter, Peter Gabriel, Pat Metheny e Jack Dejohnette participam
das gravações
42Angelus não surgiu em estúdios luxuosos do Primeiro Mundo. A maioria das gravações se deu numa fazenda em Esmeraldas, no interior de MG. O álbum foi concluído em Nova York
43O CD Nascimento (1997) e a turnê Tambores de Minas, espetáculo com direção de Gabriel Villela, marcam uma espécie de volta às raízes afro-mineiras
44 Nascimento recebe o Grammy de melhor álbum de world music de 1998. Milton comove o país, que acompanha sua internação por causa de diabetes
45 Bituca recupera a saúde. Tambores de Minas, com direção de Gabriel Villela, ganha apresentação histórica na Praça Tiradentes, em Ouro Preto
46 Durante a gravação do DVD Tambores de Minas, no Teatro João Caetano, no Rio, Milton recebe das mãos do produtor Russ Titleman a estatueta do Grammy
47 Em cerimônia emocionante, Milton é coroado Rei Congo em Divinópolis, no Oeste de MG. A população para para homenageá-lo. O cortejo festivo sai pelas ruas
48 Milton volta ao passado, quando cantava “em troca de pão”. Em 1999, anima verdadeiros bailes – com direito a orquestra – durante a turnê do disco Crooner. A festa chega à América Latina e à Europa
49 Milton recebe o título de doutor honoris causa da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Ele e o escritor português José Saramago são condecorados com a medalha de ouro da Sisac, no Chile
50 Crooner recebe o Grammy Latino na categoria disco pop contemporâneo brasileiro. Milton Nascimento e Gilberto Gil se tornam parceiros e gravam CD em 2001
51 A dupla Sandy e Júnior participa do disco de Gil e Milton, que recebem críticas por gravar com os filhos hitmakers do sertanejo Xororó. Os veteranos saem em defesa dos “meninos”
52Nos 30 anos de Clube da Esquina, em 2002, uma surpresa: durante show em São Paulo, a praticamente desconhecida Maria Rita, filha de Elis, canta Roupa nova com o “compadre” da mãe
53 Bituca homenageia as mulheres – sobretudo a mãe, Lilia, que morreu em 1998 – no CD Pietá. Convida Maria Rita, Simone Guimarães e Marina Machado para acompanhá-lo nas gravações. Marina faz longa turnê com ele
54 Para gerenciar a carreira e ganhar independência, Milton cria o selo Nascimento e sai da gravadora Warner
55 O espetáculo Ser Minas tão Gerais (2004), em parceria com o grupo Ponto de Partida, de Barbacena, e Meninos de Araçuaí é gravado em DVD. Ressalta as raízes mineiras de Bituca
56 Milton espanta críticos e público em Ser Minas tão Gerais. Não era o “astro” daquele palco. Dividia-o alegremente com a garotada do Vale do Jequitinhonha e com a jovem trupe barbacenense
57 Tristesse, faixa do disco Pietá, parceria com Telo Borges, vence o Grammy Latino na categoria canção brasileira
58 Em 2005, outro Grammy Latino: A festa, música de Milton interpretada por Maria Rita, vence a categoria canção brasileira
59Milton recebe a medalha de ouro da Academia de Artes, Ciências e Letras da França pelo conjunto da obra, em 2006
60 Em 2007, Bituca arrasa no Japão. Faz 10 shows, para a alegria dos fã-clubes de lá
61O disco Novas bossas (2008), em parceria com o Jobim Trio, apresenta releituras de canções de Tom Jobim, Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes e Lô Borges
62 Outro projeto francês: o disco Milton Nascimento & Belmondo (2009) junta o brasileiro aos irmãos Lionel Belmondo (sax e flauta) e Stéphane Belmondo (trompete), conceituados no meio jazzístico parisiense
63 O anfiteatro da casa de Milton Nascimento, no Rio de Janeiro, chama-se Wayne Shorter. Com direito a harmônico e piano de cauda
64 Bituca nunca abandonou a luta dos povos indígenas. Em 2010, ele participou de ato em favor dos guaranis do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande
65Milton sempre manteve os laços com Três Pontas. Ele gravou seu último disco, E a gente sonhando, ao lado de jovens músicos da cidade
66 Quarenta anos depois do lançamento de Clube da Esquina, a repórter Ana Clara Brant e o fotógrafo Túlio Santos, do Estado de Minas, põem fim ao mistério sobre os garotos da capa do disco. Em março, em Nova Friburgo (RJ), eles descobrem a identidade da dupla: José Antônio Rimes, o Tonho, e Antônio Carlos Oliveira, Cacau. Milton Nascimento e Lô Borges se emocionam com a revelação
67 A bela letra de Ronaldo Bastos para Pablo, que fala do garoto com ‘‘pó de nuvem nos cabelos‘‘, é dedicada ao
único filho de Bituca
68 Isto é Milton, segundo o jornal francês Le Parisien: “Este anjo negro do Brasil é dono de uma das vozes mais surpreendentes que a América nos ofereceu
em todos os tempos”
69Assim Bituca se refere a seu disco mais famoso: “Penso que o Clube não pertencia a uma esquina, a uma turma, a uma cidade. Mas a quem, no pedaço mais distante do mundo, ouvisse nossas vozes
e se juntasse a nós”
70 “Se Deus cantasse, seria com a voz do Milton”. Palavra de Elis Regina