terça-feira, 23 de abril de 2013

Solidão moderna - Anna Veronica Mautner

folha de são paulo

Cada dia mais, a vida urbana vai se organizando em torno de características semelhantes às da ágora/ mercado da Antiguidade.
Nesses espaços públicos, todos os segmentos da população se encontravam, livres para entrar, sair, falar, silenciar, ouvir, trocar. Não eram restritos a segmentos, castas ou classes. O religioso procurava atrair fiéis, o político procurava rodear-se de simpatizantes, os camponeses traziam seus produtos para trocar e vender.
Espaço público. Espaço livre.
Hoje figuram entre as atividades da moda ir a concertos de rock, frequentar academias de ginástica, fazer caminhadas, andar de bicicleta, fazer sauna etc.
Todas essas modalidades são realizadas isoladamente, promovendo encontros esporádicos. Será que existe algo em comum entre a velha ágora e o mundo que estamos montando?
Parece-me que estamos voltando para uma época mais sensorial e oral. Em todas essas atividades eu estou em contato comigo mesma, meu corpo, meu aparato sensorial. Não estou me referindo apenas a prazeres solitários, como ler ou ouvir música. Existe algo a mais.
Muitas dessas atividades são autônomas, porém realizadas em lugares públicos, com a presença de outros. Todas dispensam organização e planejamento. Todas são realizadas em lugares aonde você vai sem ter que marcar horário. Você quer estar no meio de gente, mas sem interação um a um. Estaremos voltando ao café parisiense, que tinha muitas dessas características?
As redes sociais são novas aquisições da condição de ser humano, além de vivente. Você conhece, mas não encontra. Procura ou não procura, informa e se informa no seu ritmo e de acordo com sua necessidade.
Sentimos muita falta desse recurso de semianonimato, ainda mais que nos últimos anos cresceu muito e ficou forte o mecanismo de inclusão e exclusão. Nas redes sociais, o fenômeno de exclusão se dilui, como se diluía nas praças da Antiguidade, primeiro refúgio da sociedade que veio a se tornar a sociedade ocidental.
Isso tudo ocorre porque o homem dispõe de um aparato indispensável à liberdade: a linguagem. Somos mais do que meros sobreviventes com recursos. Somos o homem político, como diziam os gregos: aquele que, se quiser, pensa, leva em conta o seu semelhante.
A caminhada silenciosa, a tranquilidade das academias, o isolamento na multidão dos shows de rock são os campos de exercício do homem político no século 21. Estamos aperfeiçoando a pertinência a esses espaços, onde reasseguramos nossa condição de humanos.
P.S. Se eu não tivesse lido Agamben, Foucault e Hannah Arendt, talvez não entendesse o fenômeno dessa forma.
Anna Veronica Mautner
Anna Veronica Mautner psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (Ed. Ágora) e "Educação ou o quê?" (Ed. Summus). Escreve às terças, a cada quatro semanas, na versão impressa do caderno "Equilíbrio".

Google descobre o empregado ideal? - Gilberto Dimenstein


Uma das mais importantes tendências mundiais é a chamada Big Data. Em poucas palavras: a manipulação dos rastros de informações deixadas pela internet.
Exemplo: se você compra uma vez pela internet um creme dental natural, sem produtos artificiais, vai ser bombardeado por anúncios que entendem seu perfil. Ou seja, talvez receba una lista de alimentos orgânicos perto da sua casa.
É possível usar Big Data para encontrar o trabalhador ideal?
Leio no "The New York Times" que um dos ícones da Big Data, o Google, resolveu aposentar algumas ideias para contratar funcionários criativos.
Vale menos a nota nas faculdades do que avaliar se o candidato tem um sentido de missão em seu trabalho e, ao mesmo tempo, sente que tem autonomia para tomar decisões.
Ou seja, as empresas não poderiam ter hierarquias muito rígidas para estimular a autonomia dos trabalhadores mais criativos.
Mais do que isso: o candidato tem de perceber, segundo o Google, que seu trabalho faz diferença na sociedade.
Talvez seja essa razão para que as empresas com mais compromissos comunitários e responsabilidade social ( a começar da forma como tratam seus funcionários) atraiam e tenham mais chance de atrair os melhores talentos
Certamente aí está a explicação para que cada vez jovens, em busca de autonomia, prefiram a ansiedade de serem empreendedores do que o conforto de estarem empregados.
Gilberto Dimenstein
Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

Ditadura do canudo - Rosely Sayão

folha de são paulo

Recebi uma mensagem muito sofrida de um jovem que iniciou seu curso universitário neste ano. Como ele trata de questões que atingem --ou irão atingir-- um grande número de pessoas, decidi tomar a mensagem dele como um guia para nossa reflexão semanal.
A primeira coisa que nosso jovem leitor anunciou em sua mensagem foi o arrependimento pela decisão de fazer o curso que faz. Ele lamentou profundamente não ter pesquisado mais cursos antes de prestar o vestibular, não ter feito um trabalho de orientação profissional, não ter procurado conhecer novos cursos. Lamentou, enfim, todas as atitudes que, do seu ponto de vista, não tomou.
Você tem ideia, caro leitor, de quantos jovens se arrependem da escolha que fizeram ainda no primeiro ano da faculdade? Por que será que isso tem acontecido com tanta frequência? Para você ter uma noção desse fenômeno, um número pode ajudar: o índice de evasão de alunos universitários é, em média, 20%, mas varia bastante entre os diferentes cursos chegando a quase 40% em alguns deles.
Essa é uma desistência precoce, sem dúvida alguma. Afinal, com alguns meses de aulas não dá para saber nada a respeito do curso ou do exercício da profissão a qual ele levará. O arrependimento tem relação, portanto, com o que não foi escolhido.
Decidir por algo tem sido uma atitude cada vez mais difícil. Um dos motivos é que, quanto maior o leque de escolhas possíveis, mais árduo é o processo de renunciar.
Outro motivo é o compromisso. Hoje, o maior compromisso das pessoas é consigo mesmas, com a busca de satisfação e de felicidade. O problema é que nenhuma escolha realizada oferece garantia de encontrar o que se busca e, portanto, o que se procura pode estar em outro lugar. Assim, desistir da escolha feita é sempre uma alternativa aberta.
Uma outra questão levantada pelo leitor foi o fato de que ele não quer prolongar sua dependência em relação aos pais e, por isso, quer trabalhar. O problema, para ele, é que seus pais não aceitam essa sua decisão.
Parece que os pais de classe média fazem questão de que os filhos tenham um diploma universitário. Não importa muito se o jovem quer, se o diploma vai oferecer uma vida melhor ao filho etc. Mas é bom saber que fazer faculdade deve ser uma escolha do jovem. Trabalhar pode ser outra escolha. O que ele não pode escolher, a essa altura da vida, é não escolher nada.
Carregamos conosco a informação, já vencida, de que o fato de cursar uma faculdade garante um bom emprego aos portadores do diploma. Isso não é mais verdade. E obrigar o jovem a fazer o que não quer só resulta em fatos negativos: heteronomia, dependência, imaturidade. E creio que já chega de termos jovens que não entram nunca na maturidade, porque, entre outras coisas, prolongam seu curso universitário por anos, trancam a matrícula para voltar a fazer cursinho e ficam com inúmeras disciplinas em dependência.
Talvez esta seja a hora de ajudar o jovem a se comprometer com suas escolhas e a perceber que a felicidade se encontra mais facilmente na vida pessoal do que na profissional. Esta oferece a possibilidade de reconhecimento social.
Será que temos ensinado aos mais novos a importância da atuação social?
Rosely Sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".

Maria Esther Maciel - Música ao acaso‏


Estado de Minas: 23/04/2013 

Ontem, por telefone, uma amiga contou-me esta história, acontecida na terça-feira passada. Ela estava indo de carro para a casa da mãe, num fim de tarde depois de um dia intenso, e ouviu o sinal no painel do carro indicando que a gasolina estava no fim. Com receio de que o combustível não fosse suficiente para todo o percurso, resolveu parar no primeiro posto que viu no caminho. O trânsito estava sofrível, como sempre está nesses horários de pico. “Imagine se a gasolina acaba no meio desta avenida?”, pensou antes de estacionar diante da bomba de combustível e esperar pelo atendimento. Estava com o som ligado, pois costuma ouvir música nos momentos em que dirige sozinha. Tinha feito, inclusive, uma seleção de músicas especialmente para essas horas no carro.

Quando o rapaz do posto se aproximou, ela ouvia uma das suítes de Bach para violoncelo solo, interpretada por Yo-Yo Ma. Era o Prelúdio da suíte nº 2, que é uma beleza. Ao perceber a presença do moço, abaixou o volume e pediu-lhe que completasse o tanque. Ele recebeu as chaves, mas continuou parado diante da janela do carro. Até que perguntou: “Que música é essa?”. Ela, surpresa, falou de quem era a música. Ele, então, pediu-lhe que aumentasse de novo o volume, pois estava achando lindo o que ouvia. Disse que não havia entendido bem o nome do compositor e perguntou se ela podia anotar para ele, colocando também o título da música. Ela o atendeu, anotando tudo num pedaço de papel encontrado na bolsa. O rapaz devia beirar os 20 anos; era magro, tinha um sorriso largo, lábios fartos e olhos miúdos. Estava visivelmente encantado com o som que ouvia. Só depois de a faixa acabar, foi cuidar da gasolina. Quando terminou de abastecer o carro, ainda comentou: “Acho que essa foi a música mais bonita que já ouvi na minha vida. Obrigado.”

Ela, sem saber muito bem como reagir, disse algo prosaico como “que bom que você gostou”, acompanhado de um sorriso previsível. Pegou as chaves, pagou a conta e arrancou o carro, agradecendo ao moço o serviço e a gentileza. Ele ainda repetiu, com explícita sinceridade: “Valeu, gostei da música. Obrigado”.

Esse episódio mexeu com minha amiga. Ela, que sempre achara uma balela essa história de que pessoas de determinadas classes sociais (seja CD, X ou Y, não importa) não são capazes de apreciar certos tipos de arte, considerada elitista, confirmou suas convicções diante do episódio do moço do posto de gasolina. De fato, cabe indagar o porquê desse preconceito contra a capacidade de as pessoas simples apreciarem uma música clássica, um filme legendado, um poema, uma peça de teatro, uma instalação de arte. Não dá para entender essa mania do chamado mercado de mediocrizar tudo, sob o argumento de que as pessoas em geral só gostam de coisas medíocres. Não seria mais interessante que elas pudessem descobrir coisas diferentes, experimentar novas sensações e exercitar formas alternativas de percepção do mundo?

Minha amiga não hesitou: ao chegar em casa naquela noite, gravou uma cópia das seis suítes de violoncelo de Bach, na interpretação de Yo-Yo Ma, e a levou até o posto no dia seguinte, entregando-a ao rapaz que a atendera. E nem se lembrou de perguntar o nome dele.

Tv Paga

Estado de Minas - 23/04/2013

Novo seriado

O canal +Globosat estreia hoje, às 22h, a série Cain, drama policial francês que acompanha as investigações do policial divorciado Fred Cain (Bruno Debrandt, foto), que ficou paraplégico após um acidente de moto. Sua personalidade complexa, com tendências suicidas e humor irônico, costuma afastar as pessoas. No entanto, apesar de ser terrível com todos ao seu redor, ele tem um amor enorme pela ex-mulher e o filho. Em tempo: às 21h, a emissora estreia a série documental Mundo museu.

Música o tempo todo  em série do Discovery


Novidade também no Discovery Kids, com a estreia de The Fresh Beats band, às 16h. Na trama, uma turma de amigos vive ao ritmo de canções e da dança. Marina, Kiki, Twist e Shout estudam na mesma escola de música. Eles compartilham o amor pelo ritmo e decidem formar uma banda especializada em canções alegres e com letras divertidas e a batizam Fresh Beats. Para a garotada, qualquer situação é motivo para cantar e dançar.

Barter kings fecha sua  primeira temporada


Se tem programa estreando, tem também um que encerra temporada. No caso, Barter kings. Nos últimos episódios do primeiro ano, que serão exibidos em sequência pelo A&E a partir das 22h, Antonio e Steve pensam grande ao tentar negociar até conseguir uma casa para férias em família e depois desafiam um ao outro para ver quem consegue negociar desde uma peça de carro até um carro inteiro em apenas uma semana.

Um presente para os  fãs de Kylie Minogue


O canal Bio apresenta hoje, às 17h, especial da série Biography sobre a cantora e atriz australiana Kylie Minogue. Ela tem apenas 44 anos, já gravou 14 álbuns, realizou igual número de 14 turnês internacionais, participou de nove filmes e seis séries de TV e novelas. Em 2005, ela teve de interromper a turnê Showgirl ao ser diagnosticada com câncer de mama. No mesmo ano, Kylie se submeteu a uma cirurgia e iniciou o longo e difícil tratamento, que durou três anos. Atualmente, ela é um dos membros do júri do programa de TV Australia’s got talent. E à noite, no canal Arte1, duas atrações de alto nível: o Documenta sobre Noel Rosa, às 21h30, e o especial Tom Jobim – Chega de saudade, às 22h30.

Muitas alternativas  no pacote de cinema


O Canal Brasil dá sequência à Mostra África hoje, exibindo, à 0h15, o documentário Outras frases, dirigido pelo português José António em 2003 e que acompanha o percurso pedagógico e artístico da bailarina e coreógrafa angolana Ana Clara Guerra Marques. Mais cedo, às 22h, a emissora reprisa Malu de bicicleta, de Flávio R. Tambellini, com Marcelo Serrado e Fernanda de Freitas. Outra produção brasileira em destaque hoje é a comédia E aí… comeu?, de Felipe Joffily, com Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira e Emílio Orciollo Neto, às 23h45, no Telecine Pipoca. Na faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: Revelação, no FX; A vida durante a guerra, no Max; O cartel, na MGM; Inside men, no Space; O primeiro mentiroso, no Studio Universal; Te amarei para sempre, na TNT; Os suspeitos, no TCM; Guerra é guerra, no Telecine Premium; O plano perfeito, no Telecine Action; e 3 macacos, no Telecine Cult. Outras atrações da programação: Os mercenários, às 20h25, no Megapix; Amizade colorida, às 21h, na HBO; e O lenhador, no ID.

Tereza Cruvinel - Lula na toca de Eduardo‏

Resignado ao fato de que o governador pernambucano será mesmo candidato contra Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula está disposto a enfrentá-lo em casa

Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 23/04/2013

Na semana passada, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulgou no Twitter o aviso de que, em breve, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff participarão de um grande ato no Recife. Num banner anexo, Lula, ainda de barba, acena da janela de um trem, valendo-se do verso da canção entoada por Simone: “Pode se preparar porque eu tô voltando”. Ou seja: Lula, que até há pouco tempo ainda dizia acreditar numa recomposição com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), já conclui que ele será mesmo candidato contra Dilma e resolveu enfrentá-lo em casa, no estado onde também nasceu. Mesmo que o pretexto para o ato seja celebrar os 33 anos do partido e os 10 anos no poder.

Pernambuco é uma esquina estratégica para o PT no Nordeste. Foi lá que Dilma tirou quase 11 milhões de votos dos 12 milhões que teve de frente sobre José Serra (PSDB), em 2010. Lula, nascido em Garanhuns, investiu muito no estado por razões telúricas e por afinidades políticas com Eduardo. Agora, em campos opostos, tudo indica uma luta renhida entre eles pelos votos do Nordeste, e de Pernambuco em particular. O governador, embora forte em seu estado, não é tido, ainda, como uma forte liderança em toda a região. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que também fará suas investidas nordestinas, diz não temer nem Lula nem Campos pelo fato de terem nascido lá. O ex-governador do Ceará Tasso Jereissati costuma dizer, conta ele, que o último líder nordestino que tivemos, com influencia sobre toda a região, foi padre Cícero Romão Batista.

O PT está dividido e fragilizado no estado desde a eleição municipal do ano passado, quando rachou e facilitou a vitória do candidato de Campos. Rompida a aliança com o PSB, não tem ainda um candidato próprio para concorrer ao governo. Já o governador teria preferência por seu secretário Tadeu Alencar, e conta ainda com a alternativa do senador Armando Monteiro, do PTB, que o tem ajudado muito nos contatos com o grande empresariado nacional. Há algumas semanas o senador petista Humberto Costa (PE) vem advertindo o PT para a importância de “arrumarem a casa”. Pediu a Rui Falcão a inclusão do Recife no programa de seminários da celebração petista e tem enfatizado a necessidade da unificação local. “Eu continuo achando que devíamos manter essa aliança que fez tanto bem ao Brasil e a Pernambuco. Se não for possível, respeitaremos a decisão do governador mas precisaremos ter nosso candidato”, diz ele.

A primeira tarefa de Lula será, agora, juntar os cacos do PT local e construir uma candidatura competitiva para garantir palanque a Dilma na toca de Eduardo. Depois, atuar como arqueiro dela na campanha, o que fará não só em Pernambuco. Essá é uma ação que está posta para os próximos dias, embora o evento ainda não tenha data marcada. Se Lula não tem mais ilusões quanto à repactuação com Eduardo, agora só falta mesmo ele tirar o PSB do governo Dilma. Mas isso Eduardo não decide sozinho. Os irmãos Cid e Ciro Gomes, do Ceará, que apoiam a reeleição de Dilma, embora digam que vão acatar a decisão do partido, não querem essa decisão antes do final do ano. E assim, a campanha segue esquentando, nos estados como no plano nacional.

Direito à verdade

A partir de maio, a Comissão da Verdade terá apenas um ano para concluir seus trabalhos e apresentar o relatório final. Como até agora os resultados são escassos, há desejo, embora não consenso, de um pedido de prorrogação à presidente Dilma. O que a comissão apurou de mais relevante era sabido: Rubens Paiva foi preso pelo Dops antes de sumir e Vladimir Herzog não se matou, morreu sob tortura. A Comissão ajudou, jogou luz sobre os dois casos, mas a verdade era conhecida. Para o segundo semestre, o conselheiro Cláudio Fonteles promete novidades sobre a matança no Araguaia, mas o déficit continuará grande.

Se a prorrogação for pedida e atendida, a comissão podia começar reorganizando sua estrutura e ajeitando as lentes de seu foco. É simples. A verdade sobre os crimes da ditadura tem três focos. 1. Quantos e quais são os brasileiros desaparecidos. 2. Quem, do outro lado, compunha a cadeira de comando do terror de Estado. 3. Qual foi o papel do regime brasileiro na Operação Condor. Os comandantes e seus executores não serão presos. Uns estão mortos, os vivos estão protegidos pela Lei da Anistia. Mas se toda a verdade não for revelada, o Estado não poderá assumir sua responsabilidade e pedir desculpas públicas, como ocorreu em outros países que enfrentaram a questão.

Nova exibição

A história do mensalão é um filme que passa muitas vezes. Agora, na fase de recursos, a fita será novamente exibida, com todos os detalhes. Na democracia, com a qual os ministros demonstraram tanta preocupação no julgamento, os recursos são previstos como parte do direito de defesa. Mas começa a circular nas mídias certo alarido, como se os embargos fossem meras manobras jurídicas, e não o exercício de uma prerrogativa, válida para todos. Um grande número de advogados passará noites lendo o volumoso acórdão para encontrar as fissuras de cada voto, que dizem existir. Mas a esperança de que a presidente nomeasse o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a tempo de fazer diferença na corte, isso acabou. A diferença pode ser Teori Zavascki.

Material camaleão-Bruna Sensêve‏

Cientistas criam película que muda facilmente de característica, tornando-se, por exemplo, lisa ou rugosa. Invento pode ter muitas aplicações, como barracas e janelas que regulam a passagem da luz 


Bruna Sensêve

Estado de Minas: 23/04/2013 

Brasília – Materiais que se adaptam de forma dinâmica a mudanças ambientais estão atualmente limitados a dois estados de transformação. Eles podem escurecer quando a luminosidade é alta e tornar-se transparentes caso a intensidade da luz diminua, por exemplo. Imagine, porém, uma tenda de acampamento que, além de ficar opaca para bloquear o sol e translúcida para aumentar a luminosidade, também seja capaz de reter a umidade em dias secos e ser repelente à água nos dias chuvosos. Ou ainda lentes de contato que se ajustam ao formato exato dos olhos e são autolimpantes.

Essas são algumas das aplicações que podem se tornar realidade a partir de um estudo feito na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas e no Instituto Wyss da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Lá, pesquisadores desenvolveram uma membrana líquida composta por um substrato elástico e poroso capaz de se adaptar a uma infinidade de superfícies e a diferentes condições ambientais de luminosidade e umidade ao mesmo tempo. O invento foi descrito na revista científica Nature Materials deste mês, e os cientistas imaginam que ele possa resultar, no futuro, em filmes que respondam dinamicamente também a condições de temperatura, campos magnéticos ou elétricos, sinais químicos, pressão e outras tantas variáveis ambientais.

O segredo do material altamente adaptável está na interação entre um substrato poroso e um líquido mantido em seu interior. À medida que a superfície se deforma, o líquido se movimenta, alterando as propriedades do material. Se a membrana for mantida em posição relaxada, por exemplo, o líquido preenche os poros por inteiro, tornando o filme bastante transparente e sua superfície lisa e escorregadia. Por outro lado, quando a membrana é esticada, o efeito é contrário. O líquido de revestimento recua ainda mais para o interior dos nanoporos e deixa suas bordas expostas. A lubrificação, assim, é reduzida, e a película se torna áspera e opaca.

A equipe, liderada por Joanna Aizenberg, demonstra que o grau de rugosidade da superfície e, portanto, o seu nível de repelência de água e transparência, pode ser facilmente reajustado pelo alongamento ou relaxamento dos filmes. Para tanto, basta empurrar uma parte do material com o dedo ou dobrá-la com as mãos, por exemplo.
Evolução A principal autora do artigo explica que essa é a última geração de uma série de materiais criados por ela há alguns anos, conhecidos como slips (sigla em inglês para superfícies porosas escorregadias infundidas em líquido). A primeira versão dessa película é um revestimento que consegue repelir qualquer substância com a qual entre em contato, seja óleo, água ou sangue. A diferença é que, enquanto as slips são rígidas e porosas, o novo filme alia os nanoporos a um material elástico.

É essa mudança que permite o controle preciso das várias respostas adaptativas. “Podemos ajustar basicamente qualquer coisa que possa responder a uma mudança na topografia da superfície, tais como comportamento adesivo ou anti-incrustante”, complementa Xi Yao, um dos autores da pesquisa. Ele explica que o novo material foi inspirado em sistemas dinâmicos de autorrestauração encontrados na própria natureza, como a película líquida dinâmica que recobre os olhos, formada pelas lágrimas. Essa proteção natural é capaz de manter a claridade ótica, regulando a umidade do olho e protegê-lo contra poeira e bactérias, além de ajudá-lo a transportar para fora os resíduos indesejados.

Para o professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) André Avelino Pasa, o novo material pode levar a diversas aplicações comerciais, como novos tipos de janela. “Aplicando uma pressão na membrana, a janela ficaria escura num dia muito claro”, imagina. Pasa considera que, por utilizar um teflon poroso, o novo material pode estar mais próximo da produção comercial, sendo necessário ainda desenvolverem-se algumas diretrizes na engenharia do produto, baratear custos e tornar viável a produção em massa. “Do ponto de vista da pesquisa, vai ser um material bem importante, porque permitirá o estudo da influência da rugosidade no processo de atrito, pois ele permite modular as propriedades de atrito em uma mesma superfície.” Ainda assim, o professor brasileiro considera a principal vantagem do invento a possibilidade de ter um material que se adapte facilmente às diversas características do meio ambiente.

Palavra de especialista
Antônio José Felix de Carvalho

pesquisador da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP)


Funcionamento dinâmico 

“Os pesquisadores descrevem um material que se adapta às condições de forma autônoma. Chamamos isso de materiais inteligentes (smart materials). Na verdade, esse tipo de pesquisa se baseia na observação de sistemas que funcionam de forma autoajustável na natureza, como é o caso das lágrimas e dos fluidos que recobrem a mucosa do estômago. O conceito central do trabalho está baseado no fato de que a interação de um líquido com um substrato poroso depende das dimensões dos poros. O ponto forte do trabalho é ter, portanto, produzido uma película sintética que funciona de forma dinâmica como nossos olhos ou outro tipo de tecido que se autoajusta. Os cientistas foram capazes de produzir tal película inteligente combinando materiais sintéticos de diferentes características. Para isso, é necessário conhecer muito bem cada material e saber como eles interagem com os líquidos. Essa pesquisa vai na linha das que usam a natureza como inspiração (biomimética) e têm gerado grandes avanços em diversas áreas da ciência e engenharia dos materiais.” 

Parar de fumar reduz a ansiedade-Paloma Oliveto‏


Largar o cigarro faz com que as pessoas se sintam mais tranquilas e felizes. Mudança ajuda no reconhecimento dos prejuízos causados pelo vício e, consequentemente, evita as recaídas 


Paloma Oliveto

Estado de Minas: 23/04/2013 

Ter que enfrentar a ansiedade em níveis estratosféricos é um dos desafios de quem para de fumar. Pesquisa recente mostra, no entanto, que o desconforto é um presságio de dias tranquilos. Ao acompanhar ex-fumantes, cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, constataram que os voluntários tiveram uma redução significativa da ansiedade por terem abandonado o vício.

No estudo, financiado pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA, os cientistas examinaram dados de 294 fumantes que tentavam largar o vício. Os participantes foram divididos aleatoriamente em três grupos, de acordo com a substância indicada para o tratamento: vareniclina, bupropion e placebo. Todos entraram no programa de aconselhamento do Centro de Câncer Anderson, da Universidade do Texas, e foram avaliados a cada sete dias para verificar o nível de ansiedade e de depressão. Os médicos voltaram a vê-los depois das 12 semanas de tratamento e também três e seis meses após o fim do tabagismo.

O estudo constatou que, independentemente da medicação tomada, todos que conseguiram se manter longe do cigarro mostraram baixos sinais de ansiedade e de tristeza e, no fim, destacaram os efeitos positivos da cessação do hábito. “Esse é um dado muito interessante, sugere que fumar não é um bom antidepressivo e que as pessoas que conseguem ficar longe do cigarro vão, depois de largar o vício, se sentir melhor do que as que continuam fumando”, constata Paul Cinciripini, líder da pesquisa.

Os cientistas também descobriram que, comparado aos participantes que não pararam de fumar e aos do grupo medicado com a bupropiona, os abstinentes que usaram vareniclina exibiram índices muito mais baixos de depressão. “Isso é especialmente intrigante porque dados apresentados depois que a vareniclina entrou no mercado sugeriam que essa substância piorava os efeitos depressivos. No entanto, mais pesquisas são necessárias para acompanhar fumantes que usam o remédio e têm algum tipo de problema psiquiátrico, já que essas pessoas não foram incluídas no nosso estudo”, ponderou Cinciripini, que também é diretor do Programa de Tratamento Antitabagista da Universidade do Texas.

Remédios Na pesquisa comandada por Cinciripini, a vareniclina aumentou as chances de parar de fumar se comparada à ingestão do bupropion e apenas à força de vontade. “Quando os fumantes tentam largar o cigarro, muitos ficam suscetíveis a uma gama de experiências associadas à retirada da nicotina, incluindo mau humor, dificuldade de concentração, irritabilidade e mesmo sintomas depressivos, fazendo com que somente a força de vontade torne mais difícil esse processo, e aumentando as chances de voltar a fumar”, disse Cinciripini, em um comunicado. “Nossa descoberta sugere que os fumantes que tentam parar terão uma experiência melhor com a vareniclina do que quando fazem isso sozinhos ou tomando bupropion”, completa.

De acordo com o pesquisador, quanto menores os efeitos da abstinência de nicotina, mais fácil será lidar com a falta de cigarro. “Mesmo que não consigam parar dessa vez, eles estarão encorajados para tentar de novo”, explicou. Quanto à fissura por nicotina, ambas as drogas conseguiram controlá-la, mas a vareniclina foi mais bem-sucedida, mesmo entre os pacientes que não conseguiram parar totalmente. Além disso, apenas essa substância reduziu o prazer de fumar. Cinciripini nota que isso é significativo porque vai de acordo com a suspeita de que a vareniclina atua parcialmente estimulando a produção de dopamina, o neurotransmissor associado aos mecanismos de recompensa do cérebro. Os resultados da pesquisa foram publicadas na revista Jama Psychiatry.

Efeito compensador
A nicotina do cigarro ativa receptores de nicotina que estimulam a produção de dopamina, um neurotransmissor que gera a sensação de bem-estar. Ao deixar de fumar, os níveis de dopamina caem e o organismo sente a falta da nicotina. Tanto o bupropiona quanto a vareniclina, as substâncias mais receitadas no tratamento contra o tabagismo, induzem a produção da dopamina sem a necessidade do cigarro. Uma diferença entre as substâncias é que a bupropiona foi desenvolvida como um medicamento antidepressivo e, ao longo do tempo, constatou-se que os usuários sentiam menos vontade de fumar. Já a vareniclina foi desenvolvida para produzir efeitos semelhantes à nicotina.



Estímulo magnético ameniza abstinência



A incitação das células nervosas por meio de estimulação magnética transcraniana (TMS) surge como uma intervenção eficiente contra a abstinência de cigarro. Pesquisadores da Universidade Médica da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, demonstraram que uma sessão única de 15 minutos de TMS no córtex dorsolateral pré-frontal reduz temporariamente o desejo de fumar em dependentes de nicotina. Não invasiva, a técnica dispensa o uso de sedação ou de anestesia. Espirais são colados perto da testa dos pacientes, que são submetidos ao procedimento acordados e sentados.

A equipe liderada por Xingbao Li acompanhou 16 fumantes. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu a TMS e o outro, uma simulação da técnica. Eles constatam a redução do desejo pelo cigarro no primeiro grupo, principalmente nos voluntários que tinham maiores níveis de dependência.

A reação ocorre porque, entre outros efeitos, a nicotina ativa regiões relacionadas à recompensa no cérebro. Quando ela deixa de ser consumida, as atividades nessas áreas são reduzidas, provocando o desejo pelo cigarro. A TMS, de acordo com os resultados da pesquisa, evitou essa queda de desempenho. Li ressalta, porém, que a técnica tem um efeito temporário, fazendo com que ela seja indicada como um coadjuvante no processo de abandono do vício. 

Parar de fumar reduz a ansiedade-Paloma Oliveto‏


Largar o cigarro faz com que as pessoas se sintam mais tranquilas e felizes. Mudança ajuda no reconhecimento dos prejuízos causados pelo vício e, consequentemente, evita as recaídas 


Paloma Oliveto

Estado de Minas: 23/04/2013 

Ter que enfrentar a ansiedade em níveis estratosféricos é um dos desafios de quem para de fumar. Pesquisa recente mostra, no entanto, que o desconforto é um presságio de dias tranquilos. Ao acompanhar ex-fumantes, cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, constataram que os voluntários tiveram uma redução significativa da ansiedade por terem abandonado o vício.

No estudo, financiado pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA, os cientistas examinaram dados de 294 fumantes que tentavam largar o vício. Os participantes foram divididos aleatoriamente em três grupos, de acordo com a substância indicada para o tratamento: vareniclina, bupropion e placebo. Todos entraram no programa de aconselhamento do Centro de Câncer Anderson, da Universidade do Texas, e foram avaliados a cada sete dias para verificar o nível de ansiedade e de depressão. Os médicos voltaram a vê-los depois das 12 semanas de tratamento e também três e seis meses após o fim do tabagismo.

O estudo constatou que, independentemente da medicação tomada, todos que conseguiram se manter longe do cigarro mostraram baixos sinais de ansiedade e de tristeza e, no fim, destacaram os efeitos positivos da cessação do hábito. “Esse é um dado muito interessante, sugere que fumar não é um bom antidepressivo e que as pessoas que conseguem ficar longe do cigarro vão, depois de largar o vício, se sentir melhor do que as que continuam fumando”, constata Paul Cinciripini, líder da pesquisa.

Os cientistas também descobriram que, comparado aos participantes que não pararam de fumar e aos do grupo medicado com a bupropiona, os abstinentes que usaram vareniclina exibiram índices muito mais baixos de depressão. “Isso é especialmente intrigante porque dados apresentados depois que a vareniclina entrou no mercado sugeriam que essa substância piorava os efeitos depressivos. No entanto, mais pesquisas são necessárias para acompanhar fumantes que usam o remédio e têm algum tipo de problema psiquiátrico, já que essas pessoas não foram incluídas no nosso estudo”, ponderou Cinciripini, que também é diretor do Programa de Tratamento Antitabagista da Universidade do Texas.

Remédios Na pesquisa comandada por Cinciripini, a vareniclina aumentou as chances de parar de fumar se comparada à ingestão do bupropion e apenas à força de vontade. “Quando os fumantes tentam largar o cigarro, muitos ficam suscetíveis a uma gama de experiências associadas à retirada da nicotina, incluindo mau humor, dificuldade de concentração, irritabilidade e mesmo sintomas depressivos, fazendo com que somente a força de vontade torne mais difícil esse processo, e aumentando as chances de voltar a fumar”, disse Cinciripini, em um comunicado. “Nossa descoberta sugere que os fumantes que tentam parar terão uma experiência melhor com a vareniclina do que quando fazem isso sozinhos ou tomando bupropion”, completa.

De acordo com o pesquisador, quanto menores os efeitos da abstinência de nicotina, mais fácil será lidar com a falta de cigarro. “Mesmo que não consigam parar dessa vez, eles estarão encorajados para tentar de novo”, explicou. Quanto à fissura por nicotina, ambas as drogas conseguiram controlá-la, mas a vareniclina foi mais bem-sucedida, mesmo entre os pacientes que não conseguiram parar totalmente. Além disso, apenas essa substância reduziu o prazer de fumar. Cinciripini nota que isso é significativo porque vai de acordo com a suspeita de que a vareniclina atua parcialmente estimulando a produção de dopamina, o neurotransmissor associado aos mecanismos de recompensa do cérebro. Os resultados da pesquisa foram publicadas na revista Jama Psychiatry.

Efeito compensador
A nicotina do cigarro ativa receptores de nicotina que estimulam a produção de dopamina, um neurotransmissor que gera a sensação de bem-estar. Ao deixar de fumar, os níveis de dopamina caem e o organismo sente a falta da nicotina. Tanto o bupropiona quanto a vareniclina, as substâncias mais receitadas no tratamento contra o tabagismo, induzem a produção da dopamina sem a necessidade do cigarro. Uma diferença entre as substâncias é que a bupropiona foi desenvolvida como um medicamento antidepressivo e, ao longo do tempo, constatou-se que os usuários sentiam menos vontade de fumar. Já a vareniclina foi desenvolvida para produzir efeitos semelhantes à nicotina.



Estímulo magnético ameniza abstinência



A incitação das células nervosas por meio de estimulação magnética transcraniana (TMS) surge como uma intervenção eficiente contra a abstinência de cigarro. Pesquisadores da Universidade Médica da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, demonstraram que uma sessão única de 15 minutos de TMS no córtex dorsolateral pré-frontal reduz temporariamente o desejo de fumar em dependentes de nicotina. Não invasiva, a técnica dispensa o uso de sedação ou de anestesia. Espirais são colados perto da testa dos pacientes, que são submetidos ao procedimento acordados e sentados.

A equipe liderada por Xingbao Li acompanhou 16 fumantes. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu a TMS e o outro, uma simulação da técnica. Eles constatam a redução do desejo pelo cigarro no primeiro grupo, principalmente nos voluntários que tinham maiores níveis de dependência.

A reação ocorre porque, entre outros efeitos, a nicotina ativa regiões relacionadas à recompensa no cérebro. Quando ela deixa de ser consumida, as atividades nessas áreas são reduzidas, provocando o desejo pelo cigarro. A TMS, de acordo com os resultados da pesquisa, evitou essa queda de desempenho. Li ressalta, porém, que a técnica tem um efeito temporário, fazendo com que ela seja indicada como um coadjuvante no processo de abandono do vício. 

TESTE EM RATOS » Nova terapia contra a compulsão por cocaína‏


Estado de Minas: 23/04/2013 


Pesquisadores do Instituto Nacional de Abuso de Drogas, em Baltimore, nos Estados Unidos, sugerem que ratos com comportamento de busca compulsiva por cocaína têm uma redução acentuada da atividade de neurônios no córtex pré-límbico. Essa região cerebral está localizada em uma área maior, conhecida como córtex pré-frontal, altamente envolvida em funções cognitivas complexas. O estudo, publicado na revista científica Nature, revela que, em casos mais extremos, o estímulo dessa região pode diminuir a compulsividade na busca pela cocaína, oferecendo novos caminhos para a terapia no tratamento de usuários de drogas.

Estudos anteriores em humanos mostraram que indivíduos com danos no córtex pré-frontal têm dificuldades em controlar o comportamento inibitório. Tal dano ou déficit poderia estar envolvido também na promoção do consumo compulsivo de drogas, embora não esteja claro se o uso habitual de drogas afeta a atividade cerebral.

A equipe liderada por Antonello Bonci utilizou um modelo de roedor compulsivo na busca por cocaína. Inicialmente, eles observaram que esse comportamento era persistente mesmo quando as cobaias recebiam uma resposta negativa à autoadministração da droga. Após alguns experimentos, os autores descobriram que, nesse subgrupo mais persistente à autoadministração prolongada de cocaína, houve redução da atividade da camada mais profunda de neurônios no córtex pré-límbico dos animais.

Em seguida, os autores estimularam os neurônios pré-límbicos hipoativos usando optogenética. Nessa técnica, a luz é usada para modificar geneticamente os neurônios. Os resultados mostraram que isso pode ajudar a prevenir o comportamento de busca pela droga. Separadamente, eles testaram se os neurônios pré-límbicos poderiam ser inibidos usando uma estratégia diferente da optogenética, mas os testes fizeram com que os ratos exibissem um aumento do comportamento compulsivo por cocaína.

Os pesquisadores acreditam que os níveis de ativação de neurônios pré-límbicos são importantes para a regulação do comportamento de procura por droga e que a estimulação neuronal pré-límbica pode representar uma possível estratégia terapêutica.

Sumiço de bate-bocas abre brecha para defesa-Helena Mader, Diego Abreu e Adriana Caitano‏

Ministros do STF excluem trechos de discussões das 8.405 páginas do acórdão do julgamento do processo do mensalão e advogados dos réus afirmam que vão recorrer contra a supressão 


Helena Mader, Diego Abreu e Adriana Caitano

Estado de Minas: 23/04/2013 

Brasília – Quatro meses após a conclusão do julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou ontem o acórdão do processo. A aguardada divulgação dos votos dos ministros da Corte manteve a série de polêmicas que envolveu o caso: alguns magistrados suprimiram trechos dos debates travados em plenário durante o julgamento, o que gerou críticas de réus e até de magistrados do próprio STF. O ministro Luiz Fux retirou do acórdão todos os 520 comentários e colocações feitos ao longo dos quase cinco meses do processo. Com isso, o acórdão traz trechos sem sentido, em que ministros respondem  questionamentos feitos por Fux, por exemplo, sem que a fala dele com a pergunta apareça no documento. O ministro Celso de Mello excluiu boa parte de suas participações em debates. Advogados de condenados reclamam da supressão e garantem que vão recorrer contra o cancelamento de trechos dos votos de ministros.

O acórdão do mensalão, que tem 8.405 páginas, foi divulgado pelo Supremo na manhã de ontem. O relator do processo, presidente Joaquim Barbosa, e o revisor, ministro Ricardo Lewandowski, mantiveram a íntegra de suas polêmicas e acaloradas discussões no plenário. Os constantes bate-bocas entre esses ministros foram transcritos e incluídos no acórdão.

O regimento interno do STF determina que as notas taquigráficas ou transcrições de áudio do julgamento devem fazer parte do acórdão. Por isso, para o ministro Marco Aurélio Mello, a supressão de trechos de discussões e votos do acórdão contraria a legislação. “Se um ministro não quer que um determinado comentário não entre no acórdão, então que se policie para não falar”, critica Marco Aurélio. Ele acredita que essa supressão poderá dar brecha para que condenados recorram da decisão. “A defesa se vale de qualquer aspecto que entenda válido para socorrer os interesses do defendido”, justificou.

O ministro Gilmar Mendes disse que o cancelamento de trechos do debate “é normal” e que isso ocorre quando uma frase fica fora de contexto. Ele cancelou apenas três participações feitas ao longo do julgamento. Questionado se os trechos suprimidos por outros ministros acarretam prejuízo para o acórdão, Gilmar disse que não há problema, pois, na sua avaliação, o mais importante é o conteúdo do voto.

De acordo o gabinete do ministro Celso de Mello, o cancelamento de trechos do debate não altera o conteúdo do que foi decidido em plenário nem o resultado do julgamento. O gabinete acrescenta que os ministros – quando não relator ou revisor – têm a faculdade de cancelar seus votos, quando não são os primeiros a divergir da tese apresentada. Informa ainda que o prazo concedido para a entrega dos votos é destinado exatamente à revisão.

Em nota, o ministro Luiz Fux explicou que os cortes tiveram como motivação reduzir o número de páginas do acórdão. “O cancelamento das notas taquigráficas se deve à juntada de votos escritos. Desse modo, a repetição geraria indesejado aumento do número de páginas do acórdão, que, como sabido, alcançou a marca de mais de 8 mil laudas. O que foi proferido pelo ministro na sessão consistiu, basicamente, em um resumo dos votos escritos.”

omissão Na tarde de ontem, os advogados dos réus já se debruçavam sobre o documento. Alguns esperavam a publicação do acórdão para definir a estratégia para rebater o resultado e outros apenas pretendiam reforçar apontamentos já feitos. “Eu transcrevi as sessões transmitidas pela tevê e comecei a redigir o embargo sobre os pontos relevantes de omissões que identifiquei, agora falta checar os possíveis pontos de contradição”, comentou Marcelo Leal, advogado do ex-deputado Pedro Corrêa.

Um item que chamou a atenção da maioria dos defensores foi a ausência de frases ditas por alguns ministros em plenário. “O fato de o ministro Fux ter tirado do acórdão o que disse me parece ser uma omissão e nós podemos pedir que ele declare o que foi retirado. Isso pode vir a ser considerado contraditório”, adiantou Luiz Fernando Pacheco, advogado do deputado José Genoino (PT-SP). “Se esses cancelamentos sugerirem alguma supressão de pontos relevantes, pode-se ensejar em embargo de declaração por omissão”, concorda Luiz Francisco Corrêa Barbosa, que defende Roberto Jefferson. O prazo para a apresentação de recursos vai de hoje até 2 de maio. (Colaborou Edson Luiz)

Mancha na história  

O escândalo do mensalão foi classificado no voto do ministro Luiz Fux como o evento que “maculou a história recente do Brasil”. Embora tenha suprimido do acórdão todas as suas participações nos debates, o magistrado juntou ao documento a íntegra de seu voto, que não havia sido lida no julgamento. Em um dos trechos, Fux se refere ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu – que recentemente o acusou de ter prometido absolvê-lo – como o comandante de uma quadrilha que tinha um “projeto de poder de longo prazo de ilicitude amazônica”. Já o presidente do STF e relator do caso, Joaquim Barbosa, descreve José Dirceu como a pessoa que estava à frente da “organização” e do “controle” das atividades criminosas.
Mais controvérsias pela frente


Brasília – O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quer agilidade na apreciação dos recursos dos réus condenados no julgamento do processo do mensalão e disse ter certeza de que “o Supremo velará para que sua decisão tenha eficácia e efetividade”. Ele defende que a execução das penas seja determinada tão logo o julgamento dos embargos de declaração seja concluído. O Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, tem adotado o entendimento de que os decretos de prisão só podem ser expedidos depois do trânsito em julgado do processo – quando não há mais possibilidade de recorrer.

O recurso cabível para contestar as decisões tomadas no julgamento do mensalão são os chamados embargos de declaração, instrumento voltado para contestar omissão, obscuridade ou contradição. No entanto, os réus prometem entrar também com embargos infringentes. Essa é uma das controvérsias que ainda deverão ser enfrentadas pelo Supremo. O regimento interno da Corte prevê os dois embargos: os de declaração e os infringentes, únicos com possibilidade de mudar o resultado do julgamento. Mas nesse caso é preciso haver pelo menos quatro votos favoráveis ao réu. Dos 25 condenados, 14 se encaixam nessa situação e poderiam então recorrer duas vezes.

O tema, porém, é controverso. A Lei nº 8.308/1990 não prevê a possibilidade de apresentação de embargos infringentes em ações penais. “Nunca apreciamos se a 8.308 revogou ou não o nosso regimento”, lembra Marco Aurélio Mello. A decisão a respeito do mensalão pode ter reflexos nas ações penais que tramitam em outras cortes, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Para Gurgel, os embargos infringentes são “manifestamente inadmissíveis”. “Eles constam do regimento interno do STF, mas não são compatíveis com a regulação que se tem. Não tenho dúvida nenhuma do descabimento deles”, frisou o procurador-geral da República.

O advogado de Henrique Pizzolato, Marthius Sávio, é um dos defensores que já deram sinais de que, após os embargos de declaração, vão insistir nos infringentes. “Identificamos que há documentos nos autos que não foram devidamente analisados pelos ministros, o que poderia sim ter efeito diferente no que foi julgado”, destaca. “Quanto mais garantia de defesa, como alternativas e aumento de prazo, menor a chance de nulidade de um processo”, ressalta Leonardo Issac, advogado de Simone Vasconcelos. No acórdão, Joaquim Barbosa observa que a permanência dos deputados condenados em mandato é incompatível com as penas aplicadas pelo STF. (DA, HM, AC e EL)

o que diz a lei

A Lei 8.038, de 1990, não prevê os embargos infringentes para ações penais. No entanto, o regimento interno do Supremo Tribunal Federal, editado antes da lei, admite esse recurso. Caberá ao plenário da Corte decidir se há essa possibilidade em relação à Ação Penal 470. Se houver, os embargos serão sorteados para um relator, excluídos os ministros Joaquim Barbosa, que assumiu esse papel no processo do mensalão, e Ricardo Lewandowski, que foi revisor do caso. Os embargos infringentes podem ser propostos quando um réu foi condenado mas obteve ao menos quatro votos pela absolvição.

Manobra do governo eleva números de programa de bolsas no exterior

folha de são paulo

Ciência sem Fronteiras está computando alunos de doutorado de outros programas como seus
Segundo estatal de incentivo à pesquisa, objetivo da migração é dar tratamento igual a todos os beneficiados
TAI NALONDE BRASÍLIAO Ministério da Educação passou a computar entre os alunos do Ciência sem Fronteiras, programa de estudo no exterior, os bolsistas regulares da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão de incentivo à pesquisa.
A maquiagem ocorre há pelo menos um mês e meio, mas, na sexta-feira passada, a Capes informou aos bolsistas de seus programas regulares que eles seriam oficialmente migrados para o Ciência sem Fronteiras se fossem "elegíveis", isto é, se estivessem dentro dos critérios de seleção do programa.
No comunicado, a Capes diz que a migração é para "fins operacionais", "com o objetivo de oferecer isonomia no tratamento dispensado aos seus beneficiários".
O PROGRAMA
Lançado em 2011, o Ciência sem Fronteiras é a menina dos olhos da presidente Dilma, que estabeleceu a meta de enviar 101 mil bolsistas para o exterior até 2015. O objetivo é considerado irrealista, reservadamente, por envolvidos em sua execução.
A Capes mesmo já disse ter dificuldades estruturais para cumpri-lo: antes do programa, tinha cerca de 4.000 bolsistas. Até fevereiro, já haviam sido concedidas 22.646 bolsas do Ciência sem Fronteiras, das quais 19.601 começaram a ser pagas.
O programa está sob responsabilidade de Aloizio Mercadante (Educação), que o lançou quando era titular do Ministério da Ciência e Tecnologia. Ele aspira concorrer ao governo paulista ou assumir a Casa Civil em 2014.
As bolsas regulares e o Ciência sem Fronteiras oferecem remuneração semelhante, mas a seleção e a aceitação internacional são diferentes. O programa também engloba uma parcela menor das áreas de conhecimento, ao praticamente excluir as ciências humanas.
Parte expressiva das 19.601 bolsas implementadas pelo programa até agora pode ser de alunos que não foram selecionados por meio dele.
Folha cruzou nomes de estudantes aprovados nos editais de doutorado regular da Capes no exterior com a lista de alunos do Ciência sem Fronteiras disponível no site oficial do programa.
Em 2012, foram 280 aprovados no programa regular de doutorado fora do país. Pelo menos 60 desses estudantes constavam da lista de bolsistas do Ciência sem Fronteiras sem que estivessem efetivamente dentro dele.
Folha entrou em contato com 25 desses bolsistas em oito países. As respostas revelaram surpresa por parte dos alunos. Alguns nem sequer tinham se inscrito no programa. Três relataram terem sido reprovados no Ciência sem Fronteiras.
Estudante de doutorado na Freie Universität Berlin, na Alemanha, Grégori Romero chegou a tentar o Ciência sem Fronteiras. Quando se inscreveu, conta, não tinha preferência entre os programas.
"Mas, agora que tenho a da Capes/Daad, acho que é uma vantagem, pois mesmo recebendo o auxílio do Brasil, sou aluno Daad, que é um órgão alemão com fama internacional. É um programa mais tradicional, com critérios de seleção mais elaborados."
André Hallack, doutorando na Universidade de Oxford (Reino Unido), conta que foi aprovado por ambas as bolsas, "que são praticamente iguais". "Quando saiu o resultado do Ciência Sem Fronteiras, eu já estava bem fechado com a bolsa da Capes, então ignorei o processo dele."
Alguns dos estudantes ouvidos relataram ter questionado a Capes por e-mail. Eles receberam como resposta que a manobra é "para dar estatística" e cumprir "metas do governo federal".
A distorção pode ser ainda maior, já que a Folha observou também, em outros editais de doutorado pleno e doutorado-sanduíche, mais nomes repetidos.
Foi solicitada à Capes a lista de bolsistas regulares, mas a instituição alegou falta de estrutura para entregá-la, para saber quantos de fato são eles e se também estavam no Ciência sem Fronteiras.
O pedido foi feito novamente via Lei de Acesso à Informação, mas o governo ainda não respondeu.

    Pagamento de bolsistas teve atraso neste ano
    DE SÃO PAULOOs principais imbróglios envolvendo o Ciência sem Fronteiras neste ano tiveram relação com o atraso do repasse da verba destinada a alunos que estudam em cidades de alto custo de vida no exterior.
    Em janeiro, esse atraso levou uma universidade britânica a oferecer "empréstimos de emergência" aos brasileiros.
    O governo depositou a ajuda cerca de uma semana após a publicação da reportagem daFolha.
    Bolsistas do programa em San Diego (EUA) também tiveram problemas em receber a verba.
    Em janeiro, Jorge Guimarães, chefe da Capes (órgão do Ministério da Educação responsável pelos repasses), disse que a estrutura da estatal para lidar com o pagamento dos bolsistas não acompanhou o aumento de demanda decorrente da criação do programa em 2011.

      Clovis Rossi

      folha de são paulo

      Boston, um conto mal contado
      Há algumas graves lacunas na narrativa sobre tudo o que aconteceu após os atentados na maratona
      Barack Obama tem toda a razão ao dizer que há muitas perguntas não respondidas no caso de Boston.
      Algumas:
      1 - Um assessor de um experimentado congressista disse ao "Boston Globe" que vários membros do Congresso estão querendo informações sobre a investigação que o próprio FBI confirmou ter feito, em 2011, sobre Tamerlan Tsarnaev, o suspeito morto pela polícia.
      "O FBI tinha esse sujeito no radar, mas de alguma forma ele saiu. Ouvimos durante vários dias que não havia informação de inteligência [sobre os autores dos atentados]. Agora, descobrimos que poderia ter havido informações."
      Se o FBI mantivesse nos arquivos os dados básicos de um cidadão tido como suspeito, não precisaria exibir os vídeos em que aparecem os irmãos Tsarnaev para pedir ajuda à população, o que obviamente alarmou os suspeitos, levando-os às ações em que se envolveram.
      Poderia ter havido uma caçada silenciosa e discreta, o que, em tese, pouparia pelo menos uma vida, a do segurança do MIT supostamente morto pelos irmãos em fuga.
      Talvez ambos pudessem ser presos com vida, o que seria do interesse da investigação, cujo objetivo "nesta conjuntura crítica deveria ser o de recolher informações para proteger a nação de futuros ataques", como disseram os senadores Johan McCain e Lindsay Graham.
      2 - Que fuzilaria foi aquela nas imediações da casa em que Dzhokhar se refugiou em um barco?
      Se o rapaz estava gravemente ferido, se não reagiu a tiros quando o proprietário do barco levantou a lona para verificar o que estava acontecendo, como é que poderia se envolver em uma troca de tiros cinematográfica com a polícia, como os vizinhos a descreveram?
      Parece mais uma tentativa de fuzilamento sumário, o que dá margem a duas críticas: primeiro, é de novo contraproducente para a investigação, do que dá prova o fato de que Dzhokhar não está podendo ser devidamente interrogado, por causa dos ferimentos recebidos.
      Segundo, fere um princípio civilizatório básico segundo o qual todos são inocentes até prova em contrário, prova que a polícia ainda não produzira, tanto que ele continuava a ser tratado como suspeito.
      Afinal, é como escreveu Glenn Greenwald, colunista de direitos civis do "Guardian": "Dezenas, se não centenas de detidos em Guantánamo, acusados de serem os piores dos piores, não eram culpados de nada. Evidências apresentadas pela mídia não substituem o devido processo legal e um julgamento com direito a contraditório".
      3 - Não é lógico que os irmãos em fuga soltassem o motorista que haviam tomado como refém, após dizerem que eram os responsáveis pelos atentados.
      Sabiam que, se liberassem o refém, ele os denunciaria às autoridades, como de fato ocorreu. Se já haviam matado quatro, incluindo o guarda de segurança, não faz sentido que se apiedassem de uma quinta pessoa e a soltassem sem nem mesmo uma coronhada.
      Se García Márquez tem razão ao dizer que um bom conto é aquele que parece verdade, o conto de Boston está devendo muito.
      crossi@uol.com.br

        Morrer sem ousar - Vladimir Safatle

        folha de são paulo

        No próximo dia 27, a Islândia elegerá seu próximo governo. Símbolo do sucesso de políticas heterodoxas no combate à crise financeira atual, a ilha escandinava ostentou um crescimento de quase 2% em 2012, com um desemprego de apenas 5,8%. Ela já vinha de um crescimento de 2,6% em 2011.
        Sem desmontar seu sistema de assistência social mesmo nos momentos mais dramáticos da crise, a Islândia foi laboratório de políticas inimagináveis em outros países europeus.
        Por exemplo, famílias cujo valor global de suas dívidas bancárias ultrapassavam o valor de 110% de seus imóveis tiveram tais dívidas perdoadas. Algo muito diferente de países como a Espanha, generosa em cenas de famílias sendo despejadas de suas casas para pagar empréstimos bancários.
        Em um plebiscito histórico, a população recusou-se a transformar a dívida privada dos bancos em dívida soberana do Estado. Como os bancos islandeses foram generosos em empréstimos para ingleses e holandeses, uma decisão dessa natureza equivalia a uma declaração de guerra contra os governos dos dois países. Mesmo assim, há três meses, a corte da EFTA (The European Free Trade Association) deu ganho de causa aos islandeses afirmando que o Estado não tinha obrigação alguma de pagar a conta de seus bancos. O peso de tal dívida teria quebrado completamente a capacidade do Estado de reaquecer a economia.
        Como se não bastasse, os islandeses compreenderam que a melhor resposta política contra a crise não era entregar o governo para tecnocratas, como vimos na Itália e na Grécia, mas reforçar mecanismos de democracia direta, transparência e controle popular. Assim, um processo de forte participação deu ensejo a uma nova Constituição, que garantia a posse estatal dos recursos do país e ampliava o controle da população sobre os governos.
        No entanto, todas as pesquisas de opinião demonstram que a coalizão esquerdista no governo provavelmente perderá as eleições. Há de se perguntar a razão para tal aparente paradoxo. Paradoxo ainda maior se levarmos em conta que boa parte do descontentamento com o atual governo está em sua "excessiva contenção". Foi por isso, por exemplo, que a mais influente central sindical da Islândia (ASÍ) retirou seu apoio.
        Mas o paradoxo se dissolve se lembrarmos que os islandeses perceberam que poderiam ir mais longe. Por exemplo, a decisão de colocar a negociação com os bancos em plebiscito foi uma decisão do presidente contra o Parlamento, comandado pelo governo. A partir deste momento, a batalha simbólica pela ousadia foi ganha pelo presidente. O Parlamento apareceu como "excessivamente contido". O mesmo Parlamento que agora irá embora.

          Chega ou não chega - Janio de Freitas

          folha de são paulo

          O essencial não foi levantado: é mesmo o caso de manter a facilidade para mais partidos?
          A discussão em torno do projeto que restringe a criação de mais partidos, já aprovado na Câmara e à espera do Senado, tem uma peculiaridade. E, além dela, gira em torno de um eixo falso.
          Os partidos favoráveis à restrição --PT, PMDB, PR, DEM, PSD e outros menores-- são acusados pelos contrários ao projeto --PSDB, PSB, PSOL e os amasiados PPS-PMN-- de agir com oportunismo eleitoreiro. A restrição dificultaria mais candidaturas à sucessão de Dilma Rousseff, em especial a de Marina Silva pelo seu pretendido partido Rede. Essa tese tem prevalecido, o que não impediu a vitória do projeto na Câmara por folgados 240 votos a 30.
          Mas o curioso é que a mesma acusação de mero oportunismo pode ser feita aos adversários das restrições. É também e só por oportunismo eleitoreiro, e de olho na propaganda eleitoral gratuita, que o PSDB de Aécio Neves, o PSB de Eduardo Campos e o PSOL anti-PT desejam mais candidaturas à sucessão, convencidos de que assim seria mais provável a necessidade de segundo turno. Ou seja, ficaria mais difícil a reeleição de Dilma Rousseff já no primeiro turno.
          Com isso, tudo a respeito do projeto transpira motivação política, em relação a Dilma Rousseff ou ao governo. No Congresso e fora dele, o essencial não foi levantado em momento algum: já com duas dúzias de partidos na Câmara, a maioria sem a menor significação política ou representativa, e numerosos outros sem presença parlamentar, é mesmo o caso de manter a facilidade para mais partidos?
          Criar partido, aliás, tem tido também finalidade não política: é fonte de dinheiro fácil. Seja dinheiro público do fundo partidário, seja proveniente de arrecadações a pretexto eleitoral e outros.
          Os equivalentes oportunismos de um lado e de outro tornam o alegado problema do momento nulo ou menos importante do que a possibilidade de corrigir, em parte, uma das deformações graves do sistema político brasileiro.
          A ESPERA
          A Associação Nacional dos Procuradores da República está pedindo ao Supremo Tribunal Federal que "delibere o quanto antes na ação sobre o poder de investigação dos procuradores", contra o qual tramita no Congresso, já a caminho da decisão, um projeto chamado PEC 37, com forte apoio dos policiais.
          O Supremo, porém, parece esperar que o Congresso decida a PEC 37, o que o pouparia das reações inevitáveis e fortes, qualquer que fosse o perdedor no julgamento.
          No estado em que estão a criminalidade urbana e a corrupção no Brasil, nenhum meio sério de investigação é demais. Trata-se, isto sim, de torná-los complementares. O contrário é só interesse de classe.

            Bienal de Veneza destacará os brasileiros Tamar Guimarães e Paulo Nazareth

            folha de são paulo

            SILAS MARTÍ
            DE SÃO PAULO

            Ela faz filmes e projeções de slides que embaralham realidade e ficção. Ele faz da vida uma performance e desaparece meses a fio para construir seus trabalhos. Tamar Guimarães e Paulo Nazareth são os dois artistas brasileiros, além de Arthur Bispo do Rosário, morto em 1989, escalados para a mostra principal da Bienal de Veneza, que começa em junho deste ano.
            Tanto ela quanto ele nasceram em Minas Gerais e ganharam o mundo, conquistando curadores como Hans Ulrich Obrist (que levou obras dos dois à sua mostra na Casa de Vidro, em São Paulo), Adriano Pedrosa (que trabalhou com Guimarães em seu Panorama da Arte Brasileira em 2009), e Gunnar Kvaran, que chamou Nazareth para a próxima Bienal de Lyon.
            Guimarães, que vive e trabalha em Copenhague, na Dinamarca, chama a atenção pela construção cuidadosa de diálogos e enredos em seus filmes-obras, quase todos calcados em clássicos da literatura, da filosofia e do cinema. Há quase três décadas fora do país, Guimarães tem o que alguns críticos chamam de "olhar forasteiro" para temas do Brasil.

            Tamar Guimarães e Paulo Nazareth

             Ver em tamanho maior »
            Divulgação
            AnteriorPróxima
            Cenas de vídeo da artista Tamar Guimarães que foi rodado na Casa das Canoas, no Rio
            Nazareth não tem ateliê fixo em lugar nenhum. É famoso pela performance em que andou de Minas Gerais até Miami e agora se prepara para caminhar, em seu próximo projeto, da África do Sul até a França.
            *
            RAIO-X
            TAMAR GUIMARÃES
            VIDA
            Nasceu em Belo Horizonte, em 1967. Vive e trabalha em Copenhague
            CARREIRA E OBRA
            Esteve no Panorama da Arte Brasileira, no MAM-SP em 2009, participou da Bienal de São Paulo em 2010 e da Bienal de Charjah deste ano
            *
            RAIO-X
            PAULO NAZARETH
            VIDA
            Nasceu em Governador Valadores (MG), em 1977
            CARREIRA E OBRA
            Sua performance "Noticias de América", em que caminhou de Minas Gerais a Miami, esteve na Art Basel Miami Beach. Ele estará nas bienais de Veneza e Lyon deste ano

            José Simão

            folha de são paulo

            Ueba! Massa fura pneu de bonde!


            Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Novo presidente do Paraguai é investigado por contrabando". Paraguaio legítimo! Rarará!
            E outra piada pronta: "Ana Maria Braga é atropelada por carro inteligente". Seleção natural. Rarará! Bota um carro desses no programa da Lucianta Gimenez. Atropela até o microfone! Rarará!
            E outra piada pronta do Sarney: "Não entraria na política se nascesse HOJE!". E domingo no "Esquenta!", da Regina Casé, apareceram dois nomes hilários. Um menino chamado Anleonel: mistura de Antonio com Leonel Brizola. Já imaginou se a moda pega: Anlula, Anluf e Anckmin!
            E uma mulher chamada Angelagmar: mistura do nome da mãe com o nome da amante do pai! Rarará! Sensacional!
            E ontem naquele programa policial "Band 24hs" apareceu um bêbado gritando pra câmera: "Eu sou corno, câmera! Eu sou corno, câmera!". Rarará!
            E adorei a nova dupla da Fórmula 1: Galvão e Rubinho. Vitamina de jiló com abacate! Não dá pra engolir! Aliás, eu engulo o Galvão se ele tirar aqueles óculos, porque não gosto de engolir nada crocante!
            E o Rubinho comentarista? Como disse o tuiteiro Yuri Dias: "F1 não muda nada pro Rubinho: ele continua parado e os outros correndo". Rarará!
            E sabe como o Rubinho começava as entrevistas? "Pode me dar um SEGUNDO?" Não, o segundo sempre será seu! E o Massa? O Felipe Amassa! O pit stop do Massa foi inédito: trocou os pneus macios por pneus furados.
            Como disse um amigo meu: "Em 20 anos com carteira de motorista, o pneu do meu carro furou uma vez, na marginal Pinheiros. O Massa, em 70 minutos, furou dois".
            O Massa fura até pneu de bonde, como dizia a minha avó! E a Ferrari foi tão mal que já estão dizendo que só pode ser o Mantega que tá administrando a Ferrari. É mole? É mole, mas sobe!
            O Brasileiro é Cordial! Olha esta placa num portão: "Você que coloca seu cachorro pra defecar na minha calçada. VOU TE DAR UMA SURRA DE MANGUEIRA!". Rarará! Medo!
            E depois o povo ainda tem medo do ditador da Coreia do Norte, o Kim Jong BUM! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
            Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
            José Simão
            José Simão começou a cursar direito na USP em 1969, mas logo desistiu. Foi para Londres, onde fez alguns bicos para a BBC. Entrou na Folha em 1987 e mantém uma coluna que considera um telejornal humorístico.