sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A vez das cirurgias menos invasivas‏


Walter Pace 

Ginecologista, presidente da Federação de Endoscopia e Cirurgia Ginecológica e Obstétrica Brasileira (Fegob), coordenador da pós-graduação em ginecologia minimamente invasiva da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais


Estado de Minas: 06/09/2013 


Nos últimos anos, observamos que tem se consolidado no Brasil e no mundo uma diretriz médica que preconiza a opção pelos procedimentos médicos minimamente invasivos no tratamento de doenças. Esse direcionamento propõe que o procedimento cirúrgico seja sempre a última opção do médico: antes, devem ser avaliadas todas as possibilidades que prescindem da cirurgia. E, mesmo quando da sua necessidade, a recomendação é a escolha pela opção cirúrgica menos invasiva.

Existe, hoje, uma série de novas ferramentas minimamente invasivas que precisam ser mais difundidas. Só assim será possível fazer a precisa individualização dos casos e a melhor escolha entre as alternativas existentes. Mas também é preciso que a sociedade tenha em mente essa diretriz minimamente invasiva, de forma a participar da escolha das alternativas possíveis antes de partir para a cirurgia.

No que tange à ginecologia, a questão é especialmente importante. A ginecologia é uma das especialidades de vanguarda nessa linha de ser cada vez menos agressiva ao corpo humano, e a manutenção do útero é um exemplo muito adequado. Os miomas, por exemplo, muitas vezes não precisam ser operados, podendo ser tratados por medicamentos ou procedimentos que dispensam os cortes. Há uma série de opções terapêuticas, como as videoendoscopias (cirurgias sem cortes externos ou com pequenos cortes): a vídeo histeroscopia que utiliza a via vaginal sem cortes; a vídeo laparoscopia (pequenos cortes no abdômen), e a embolização (injeção de êmbolos medicamentosos para a obstrução das artérias que alimentam o mioma). Todas essas são menos invasivas que uma cirurgia tradicional de retirada do mioma ou do útero. Esses procedimentos são indicados em vários casos, mas é preciso que haja especialização médica nessas técnicas para escolher com precisão, em cada caso, a opção mais indicada.

Esse quadro ganha ainda mais relevância no cenário atual, pois, devido à vida mais ativa das mulheres, menos voltadas para a maternidade, elas têm hoje mais chances de ter algumas doenças como o mioma e a endometriose. As mulheres do passado tinham mais filhos, e filhos mais cedo; elas passavam mais tempo gerando filhos e amamentando-os, o que reduzia a exposição delas a níveis elevados ou desequilibrados do estrogênio (hormônio da mulher), minimizando a incidência dessas doenças. Nesse sentido, apontamos para a inibição medicamentosa da menstruação como uma boa estratégia para a prevenção dessas doenças. O uso de medicamentos que bloqueiam a ovulação inibem a produção de níveis elevados de estrogênio, evitando os seus picos hormonais, tornando-se uma boa opção de prevenção.

Temos de lembrar que a retirada do útero é uma cirurgia mutiladora, que tem sua dose de riscos, de forma que precisamos evitá-la sempre que possível. Há uma série de alternativas que prescindem da retirada, possibilitando à mulher a manutenção do seu útero e, em vários casos, também a perspectiva de uma gestação futura. E, mesmo nos casos em que a retirada é de fato necessária, é preciso pensar antes nas técnicas minimamente invasivas, como a retirada do útero sem cortes externos através da vagina ou pela vídeo laparoscopia com pequenos cortes na barriga.

É sempre muito importante as mulheres portadoras de miomas conversar com o seu médico indagando sobre as alternativas possíveis para evitar a cirurgia e, quando indicada, quais são as minimamente invasivas.

A paciente deve sempre ser uma parceira na escolha da melhor forma de tratamento e acredito que a melhor escolha deve sempre seguir, quando possível, o caminho do menos invasivo, portanto menos traumático e menos agressivo
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