Zero Hora - 03/11/2013
Que honremos o fato de ter nascido, e que saibamos desde cedo que não
basta rezar um Pai- Nosso para quitar as falhas que cometemos
diariamente. Essa é uma forma preguiçosa de ser bom. O sagrado está na
nossa essência, e se manifesta em nossos atos de boa-fé e generosidade,
frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião. Se não
estamos focados no bem, nossa aclamada religiosidade perde o sentido.
Que se perceba que quando estamos dançando, festejando, namorando,
brindando, abraçando, sorrindo e fazendo graça, estamos homenageando a
vida, e não a maculando. Que sejam muitos esses momentos de comemoração e
alegria compartilhados, pois atraem a melhor das energias. Sentir-se
alegre não deveria causar desconfiança, o espírito leve só enriquece o
ser humano, pois é condição primordial para fazer feliz a quem nos
rodeia.
Que estejamos sempre abertos, se não escancaradamente, ao menos de
forma a possibilitar uma entrada de luz pelas frestas. Que nunca
estejamos lacrados para receber o que a vida traz. Novidade não é
sinônimo de invasão, deturpação ou violência. Acreditemos que o novo é
elemento de reflexão: merece ser avaliado sem preconceito ou censura
prévia.
Que tenhamos com a morte uma relação amistosa, já que ela não é
apenas portadora de más notícias. Ela também ensina que não vale a pena
se desgastar com pequenas coisas, pois no período de mais alguns anos
estaremos todos com o destino sacramentado, invariavelmente. Perder
tempo com picuinhas é só isso, perder tempo.
Que valorizemos nossos amigos mais íntimos, as verdadeiras relações pra sempre.
Que sejamos bem-humorados, porque o humor revela consciência da
nossa insignificância – os que não sabem brincar se consideram
superiores, porém não conquistam o respeito alheio que tanto almejam.
Ria e engrandeça-se.
Que o mar esteja sempre azul, que o céu seja farto de estrelas, que o
vinho nunca seja proibido, que o amor seja respeitado em todas as suas
formas, que nossos sentimentos não sejam em vão, que saibamos apreciar o
belo, que percebamos o ridículo das ideias estanques e inflexíveis, que
leiamos muitos livros, que escutemos muita música, que amemos de corpo e
alma, que sejamos mais práticos do que teóricos, mais fáceis do que
difíceis, mais saudáveis do que neurastênicos, e que não tenhamos tanto
medo da palavra felicidade, que designa apenas o conforto de estar onde
se está, de ser o que se é e de não ter medo, já que o medo infecciona a
mente.
Que nosso Deus, seja qual for, não nos condene, não nos exija
penitências, seja um amigo para todas as horas, sem subtrair nossa
inteligência, prazer e entrega às emoções que nos fazem sentir plenos.
A vida é um presente, e desfrutá-la com leveza, inteligência e tolerância é a melhor forma de agradecer – aliás, a única.
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