O discurso e a mentira
É abundante a documentação de como o golpe de 1964 foi operado sob o comando do governo dos EUA
Frei Betto
Estado de Minas: 16/04/2014
Bandidos, corruptos e
tiranos têm em comum o fato de não carregarem a mínima culpa por seus
delitos. Só não esperam que sejam revelados à luz do dia.
A
história dos EUA contém páginas gloriosas que, no entanto, são maculadas
pelas inúmeras invasões, pilhagens, saques, explorações e opressões.
Quase metade do México foi abocanhada pelo Tio Sam no século 19. Os
territórios dos estados de Texas, Califórnia, Arizona, Colorado, Nevada,
Novo México e Utah foram anexados aos EUA. E Porto Rico, apropriada em
1898, ainda hoje padece o jugo colonial.
Neste ano o Brasil
comemora (= faz memória) 50 anos do golpe militar de 1964. É abundante a
documentação de como ele foi operado sob o comando do governo dos EUA.
Nas
últimas décadas, os crimes perpetrados pela Casa Branca se
multiplicaram: prisão em Miami dos cinco cubanos que tentavam evitar
ações terroristas contra Cuba; sequestros, em vários pontos do planeta,
de supostos terroristas, agora trancafiados, ao arrepio da lei, na base
naval de Guantánamo; a invasão do Iraque sob o pretexto de que havia ali
armas de destruição em massa; os voos assassinos dos drones sobre o
Afeganistão e o Paquistão, ceifando a vida de camponeses inocentes etc.
Graças
ao avanço tecnológico e à globalização, fica cada vez mais difícil o
rei esconder sua nudez. Em anos recentes, vários funcionários do governo
estadunidense, culminando com Edward Snowden, vêm revelando as
atrocidades arquitetadas sob ordens da Casa Branca.
A notícia
mais grave é a de que toda a população mundial é vulnerável ao controle
da Agência Nacional de Segurança (NSA). Os olhos e ouvidos dessa agência
captam conversas da presidente Dilma e da chanceler Merkel; segredos da
Petrobras e da Siemens alemã; conversas telefônicas; e qualquer dado
embutido em um computador ou smartphone. Os programas e aplicativos não
são quase todos “made in USA”?
A internet, antes de ser uma rede
ao alcance do cidadão comum, na década de 1990, era uma ferramenta
militar operada há tempos. Conheci no México, em 2013, um ex-espião
soviético que atuou nos EUA na década de 1970. Os russos haviam lhe dado
uma velha máquina de escrever na qual ele “datilografava” sem
necessidade de envolver o rolo com papel. Óbvio que a mensagem se
transmitia por satélite.
Agora, quando em sua primeira entrevista
na Rússia à TV alemã, Edward Snowden revela que a NSA promove
espionagem industrial, o site BuzzFeed divulga artigos em que agentes da
espionagem dos EUA declaram sem escrúpulos a respeito de Snowden:
“Adoraria meter uma bala na sua cabeça.”
Eis a lógica. Nada de
ética. Nada de respeitar a soberania do Brasil e da Alemanha. Suas
chefes de Estado devem ser espionadas. Porém, ninguém deveria saber,
pois cabe aos EUA passar ao mundo a falsa imagem de um país democrático,
respeitoso às liberdades civis, onde todos têm iguais oportunidades de
prosperar.
Mentira erguida sobre milhões de cadáveres espalhados
mundo afora, de Hiroshima a Bagdá, do Vietnã à Nicarágua sandinista,
como resultado do intervencionismo ianque.
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