terça-feira, 15 de julho de 2014

Mães em vigília‏

Mães em vigília

 
Mulheres contam sobre a angústia de viver 24 horas por dia ao lado de um filho internado e a esperança de poder levá-lo para casa. EM visitou os CTIs de três grandes hospitais do estado



Jefferson da Fonseca Coutinho
Estado de Minas: 15/07/2014


É uma situação triste, mas busco força em Deus e nas outras mães com as quais convivo aqui no CTI - Rosilene Custódia, 45 anos, mãe de João Pedro, de 1 ano e sete meses   (Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A Press  )
É uma situação triste, mas busco força em Deus e nas outras mães com as quais convivo aqui no CTI - Rosilene Custódia, 45 anos, mãe de João Pedro, de 1 ano e sete meses



Rosana não sai de perto de Analu, de três meses, que nasceu prematura com problema no coração
Rosana não sai de perto de Analu, de três meses, que nasceu prematura com problema no coração



Danúbia ao lado de Ana Rafaela: a bebê nasceria quinta-feira, mas desde abril está  no CTI
Danúbia ao lado de Ana Rafaela: a bebê nasceria quinta-feira, mas desde abril está no CTI




Com as mãos ao céu, às 3h, a mãe de coração partido decidiu dar início a uma corrente de oração pela salvação da filha, nascida com 27 semanas de gestação. Danúbia, de 31 anos, começou sozinha e escolheu a madrugada, inspirada em Davi – personagem bíblico, de joelhos nas primeiras horas do dia. Não demorou para que outras mães em apuros, longe de casa, se juntassem à professora na fé e na esperança pelo livramento de seus rebentos do centro de tratamento intensivo (CTI). Histórias de amor sem igual, que se repetem em três das maiores casas de saúde de Minas Gerais.

O Estado de Minas esteve no Hospital Sofia Feldman, no Bairro Tupi, na Região Norte, no Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Região Hospitalar, e no Hospital Municipal Odilon Behrens, no Bairro São Cristóvão, na Região Noroeste. A reportagem encontrou mulheres-fortalezas que não arredam a fé do leito de seus filhos – pequenos ou já crescidos –, monitorados 24 horas por dia.

No HC, Janair do Carmo Marques, de 45, não se abate ao ver Adriano do Carmo Marques, de 14, em recuperação de cirurgia no pulmão. Adriano tem bronquiolite obliterante desde os três meses. Janair se mantém firme ao lado dele, dia e noite, sem reclamar. “Para mim, até que é tranquilo. A angústia maior é dele, que fica querendo ir para casa”, diz. Dona de casa e profissional de serviços gerais, é uma das mulheres residentes no alojamento reservado aos pais dos pacientes do CTI. Recanto para cochilo apenas, já que, na maior parte do tempo, as mães estão de pé, ao lado dos leitos.

Colega de alojamento de Janair, Rosana Bezerra Pinto, de 24, também tem o olhar reluzente, de mãe dedicada. Está feliz pela recuperação de Analu, de três meses. A mocinha valente, nascida prematura, está se saindo muito bem depois da cirurgia no coração. Vinda de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, Rosana teve o diagnóstico de toxoplasmose no sexto mês de gravidez. Com parentes em Belo Horizonte, a dona de casa veio a Minas em busca de melhor atendimento. Tudo pelo futuro da bebê. “Aqui, não me sinto desamparada em nenhum momento e minha fé em Deus só aumenta”, sorri.

Janair e Rosana comentam a passagem das cirurgias, em horas de espera sem fim. O procedimento cirúrgico de Adriano, no pulmão, levou quase 6 horas. Rosana aguardou duas horas em prece pela sorte de Analu, com veia aberta no coração. Para as duas, a vivência com as outras mães de CTI é outro ponto de apoio e coragem para dar conta das dificuldades. “Não somos as únicas. E nossos problemas não são os maiores. Volto transformada para a Bahia”, diz Rosana. Janair destaca a solidariedade dos seus familiares, mobilizados pela doação de sangue para a cirurgia do filho. Emociona-se ao contar que “toda a região do Bairro Paulo VI fez campanha pelo Adriano”.

POR UM FIO Danúbia da Costa Teixeira comemorou o aniversário deste ano na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Sofia Feldman, onde está desde o nascimento de Ana Rafaela, em 25 de abril, com 27 semanas e pouca chance de sobrevivência. Nada impossível para a fé de Danúbia, moradora de Farias, Zona Rural de Guanhães, no Vale do Rio Doce. Ana Rafaela passou 33 dias respirando com ajuda de aparelho. Anemia, refluxo e quatro transfusões de sangue. “Eu falo para ela: ‘fique bem quietinha porque você ainda não nasceu’. A previsão era 17 de julho”, conta a professora.

A corrente de oração na madrugada, que comoveu outras mães, foi iniciada numa segunda-feira, quando Ana Rafaela teve quatro apineias e quadro de anemia. “O mais difícil é você estar perto e não poder pegar a sua filha no colo. Já devo ter lavado de lágrimas aquela incubadora”, diz. Danúbia lamenta não ter podido vestir a bebê com a roupinha que preparou com tanto carinho para o dia do nascimento. Por outro lado, se apega a “pontos de luz”: “Oro, leio a Bíblia e converso com ela. Ela responde, olhando para mim e segurando a minha mão”, emociona-se.

Maria Lúcia de Souza Esteves, de 40, também está na corrente de oração da madrugada do Sofia Feldman. Suplica, especialmente, por dias melhores para o filho Lucas Gabriel – nascido em abril e internado desde então. O pequeno guerreiro nasceu com malformação do intestino e do esôfago. Com menos de um mês de vida, Lucas enfrentou duas cirurgias complexas. Em recuperação, o bebê tem quadro estável e a dona de casa já faz planos para voltar ao lar, em Francisco Badaró, no Vale do Jequitinhonha.

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