Viagem no tempo
José Israel Abrantes lança Tesouro de Minas, em três volumes, com fotografias de cidades coloniais do estado. Trabalho registra paisagens externas e interior de igrejas e museus
Ailton Magioli
Estado de Minas: 01/07/2014
O acúmulo de material que vinha registrando desde 2000 nas cidades coloniais do estado levou José Israel Abrantes a um projeto inexplicavelmente inexistente até então. Graças à iniciativa das editoras Autêntica (apoio técnico) e Conceito (coordenação de textos), que resolveram investir no trabalho independente do fotógrafo, chega às livrarias Tesouros de Minas, série de três livros bilíngues (português-inglês) de fotografias sobre o patrimônio artístico-cultural mineiro, que ele está lançando, com textos (apresentação histórica e legendas) de Mauro Werkema.
“Um fenômeno atual, denominado a ‘fuga do urbano’, tem proporcionado a popularização do turismo cultural, com aumento extraordinário de publicações do gênero”, constata Mauro Werkema, presidente da Belotur, a empresa de turismo de BH, salientando que a internacionalização do conhecimento, associada à propagação pela internet, também tem contribuído para o incremento do mercado editorial. “A ideia é mostrar os verdadeiros museus ao ar livre que são as nossas cidades, com a maior concentração de igrejas e museus por metro quadrado do país”, afirma José Israel, cuja incursão na área fotográfica se deu por meio da arte gráfica e publicidade.
Mineiro de Malacacheta, no Vale do Jequitinhonha, radicado na capital, o fotógrafo, graduado em comunicação visual pela extinta Fundação Universitária Mineira de Artes Aleijadinho (Fuma, atual Uemg), é viúvo da artista plástica Ana Horta (1957-1987), com quem começou a fazer catálogos para exposições de artistas como Amílcar de Castro (1920-2002) e Fernando Velloso, entre outros. Contemporâneo dos fotógrafos Paulo Laborne, Cristiano Quintino, Odilon Araújo e Miguel Aun, entre outros, ele estreou em livro em 1994, com o independente Visitando Ouro Preto, Mariana e Congonhas, que lhe abriria caminhos para uma série de publicações do gênero, fortalecida, principalmente, a partir da valorização do circuito da Estrada Real.
Detentor do Prêmio Jabuti de 2006, Os caminhos do ouro e a Estrada Real, do professor Antonio Gilberto Costa, por exemplo, reúne fotografias de José Israel. Assim como Rochas e histórias do patrimônio cultural do Brasil e de Minas Gerais, da parceria com o mesmo autor. Com o escritor e contador de causos Olavo Romano, o fotógrafo publicou São Francisco rio abaixo, que ganhou o prêmio de melhor livro de arte de 2006 da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf). “Como já estava com material acumulado das cidades históricas, surgiu a ideia de completá-lo com os museus, que eu ainda não havia feito”, recorda sobre o surgimento do novo projeto, que, além de externas das cidades e de igrejas, reúne fotografias de museus.
Como frequentador assíduo dos festivais de inverno de Ouro Preto, a cidade acabou se tornando a mais frequente na vida de José Israel Abrantes. “É a mais importante em termos de patrimônio”, justifica, lembrando que cada um dos três volumes de Tesouros de Minas exibe cidades diferentes: Ouro Preto, Mariana e Sabará; São João del-Rei, Tiradentes e Congonhas; e Diamantina, Circuito dos Diamantes e Serro. Com cerca de 350 fotografias, cada volume reúne de 120 a 130 fotos, todas historicamente identificadas pelos textos de Mauro Werkema. O primeiro volume dedica-se a três das mais importantes e antigas cidades históricas mineiras: Ouro Preto, Sabará e Mariana. A primeira, conhecida como a antiga Vila Rica, abriga o maior conjunto arquitetônico do Barroco brasileiro, reconhecido internacionalmente (a cidade detém o título de Patrimônio Cultural da Humanidade), pelo inestimável valor artístico e histórico.
Próximo a Ouro Preto está Mariana, que foi a primeira vila e a primeira capital de Minas Gerais. Já Sabará, que também contabiliza 300 anos de história, viveu o seu apogeu no chamado Ciclo do Ouro, ao lado de Mariana. O segundo volume percorre as vertentes da Serra do Espinhaço, na entrada do Vale do Jequitinhonha, passando pelo Serro, por Diamantina e por pequenos vilarejos que compõem o Circuito dos Diamantes, onde a natureza exuberante é parceira da história. Já o terceiro e último volume da série passa pela região do Campo das Vertentes, onde estão São João del-Rei e Tiradentes, que integram o Circuito da Estrada Real.
Teto e luz
Para fugir dos altos custos do aluguel de helicópteros, José Israel evitou as fotografias aéreas, optando pelo registro terrestre do patrimônio mineiro, que fotografou com o auxílio da mulher, Cláudia Couto. Um dos maiores desafios, como revela, foi o teto da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, cujas pinturas são de autoria do mestre Athayde. “Visitei a igreja umas três vezes antes de fotografá-la”, recorda, atribuindo o trabalho redobrado à necessidade de aperfeiçoamento dos ângulos a serem adotados. “A gente vai limpando cada vez mais, para evitar qualquer tipo de interferência”, justifica, lembrando da busca por ângulos mais puros e atrativos. “No caso do teto de São Francisco, tem de deitar no chão, levar tripé e cuidar de toda a iluminação”, explica.
À exceção de uma vista noturna de Diamantina, todas as fotografias para a série foram feitas durante o dia. “Gosto das fotos diurnas, que têm cores mais vivas. Uso muito o céu como fundo”, diz José Israel, lembrando que a interferência da luz pode prejudicar o trabalho do fotógrafo. “A intenção é mostrar a obra artística, os detalhes do trabalho de mestres como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814)”, afirma o fotógrafo, consciente de que o resultado do trabalho não deixa de ser a reprodução fiel do que o mestre do barroco brasileiro fez no século 18, apesar do olhar do fotógrafo sobre a obra. “Tesouros de Minas é, na verdade, uma espécie de catálogo de artes”, conclui, de olho no potencial de Salvador (BA), Rio de Janeiro e Paraty (RJ) e Região das Vertentes (RS) para publicações do gênero.
TESOUROS DE MINAS
. Ouro Preto, Mariana, Sabará
. Diamantina e Circuito dos Diamantes, Serro
. São João del-Rei, Tiradentes, Congonhas
Editora Autêntica, R$ 39 (cada volume)
José Israel Abrantes lança Tesouro de Minas, em três volumes, com fotografias de cidades coloniais do estado. Trabalho registra paisagens externas e interior de igrejas e museus
Ailton Magioli
Estado de Minas: 01/07/2014
Igreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei, enfeitada pelos devotos para as festas de celebração da semana santa na região do Campo das Vertentes |
O acúmulo de material que vinha registrando desde 2000 nas cidades coloniais do estado levou José Israel Abrantes a um projeto inexplicavelmente inexistente até então. Graças à iniciativa das editoras Autêntica (apoio técnico) e Conceito (coordenação de textos), que resolveram investir no trabalho independente do fotógrafo, chega às livrarias Tesouros de Minas, série de três livros bilíngues (português-inglês) de fotografias sobre o patrimônio artístico-cultural mineiro, que ele está lançando, com textos (apresentação histórica e legendas) de Mauro Werkema.
“Um fenômeno atual, denominado a ‘fuga do urbano’, tem proporcionado a popularização do turismo cultural, com aumento extraordinário de publicações do gênero”, constata Mauro Werkema, presidente da Belotur, a empresa de turismo de BH, salientando que a internacionalização do conhecimento, associada à propagação pela internet, também tem contribuído para o incremento do mercado editorial. “A ideia é mostrar os verdadeiros museus ao ar livre que são as nossas cidades, com a maior concentração de igrejas e museus por metro quadrado do país”, afirma José Israel, cuja incursão na área fotográfica se deu por meio da arte gráfica e publicidade.
Mineiro de Malacacheta, no Vale do Jequitinhonha, radicado na capital, o fotógrafo, graduado em comunicação visual pela extinta Fundação Universitária Mineira de Artes Aleijadinho (Fuma, atual Uemg), é viúvo da artista plástica Ana Horta (1957-1987), com quem começou a fazer catálogos para exposições de artistas como Amílcar de Castro (1920-2002) e Fernando Velloso, entre outros. Contemporâneo dos fotógrafos Paulo Laborne, Cristiano Quintino, Odilon Araújo e Miguel Aun, entre outros, ele estreou em livro em 1994, com o independente Visitando Ouro Preto, Mariana e Congonhas, que lhe abriria caminhos para uma série de publicações do gênero, fortalecida, principalmente, a partir da valorização do circuito da Estrada Real.
Detentor do Prêmio Jabuti de 2006, Os caminhos do ouro e a Estrada Real, do professor Antonio Gilberto Costa, por exemplo, reúne fotografias de José Israel. Assim como Rochas e histórias do patrimônio cultural do Brasil e de Minas Gerais, da parceria com o mesmo autor. Com o escritor e contador de causos Olavo Romano, o fotógrafo publicou São Francisco rio abaixo, que ganhou o prêmio de melhor livro de arte de 2006 da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf). “Como já estava com material acumulado das cidades históricas, surgiu a ideia de completá-lo com os museus, que eu ainda não havia feito”, recorda sobre o surgimento do novo projeto, que, além de externas das cidades e de igrejas, reúne fotografias de museus.
Como frequentador assíduo dos festivais de inverno de Ouro Preto, a cidade acabou se tornando a mais frequente na vida de José Israel Abrantes. “É a mais importante em termos de patrimônio”, justifica, lembrando que cada um dos três volumes de Tesouros de Minas exibe cidades diferentes: Ouro Preto, Mariana e Sabará; São João del-Rei, Tiradentes e Congonhas; e Diamantina, Circuito dos Diamantes e Serro. Com cerca de 350 fotografias, cada volume reúne de 120 a 130 fotos, todas historicamente identificadas pelos textos de Mauro Werkema. O primeiro volume dedica-se a três das mais importantes e antigas cidades históricas mineiras: Ouro Preto, Sabará e Mariana. A primeira, conhecida como a antiga Vila Rica, abriga o maior conjunto arquitetônico do Barroco brasileiro, reconhecido internacionalmente (a cidade detém o título de Patrimônio Cultural da Humanidade), pelo inestimável valor artístico e histórico.
Próximo a Ouro Preto está Mariana, que foi a primeira vila e a primeira capital de Minas Gerais. Já Sabará, que também contabiliza 300 anos de história, viveu o seu apogeu no chamado Ciclo do Ouro, ao lado de Mariana. O segundo volume percorre as vertentes da Serra do Espinhaço, na entrada do Vale do Jequitinhonha, passando pelo Serro, por Diamantina e por pequenos vilarejos que compõem o Circuito dos Diamantes, onde a natureza exuberante é parceira da história. Já o terceiro e último volume da série passa pela região do Campo das Vertentes, onde estão São João del-Rei e Tiradentes, que integram o Circuito da Estrada Real.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto: desenho circular a torna uma construção peculiar no Barroco mineiro, próxima a templos do Norte da Europa |
Casa da Ópera ou Teatro Municipal de Sabará, que, pela influência dos palcos ingleses da época de Elizabeth I, é também conhecido como Teatro Elizabetano |
Teto e luz
Para fugir dos altos custos do aluguel de helicópteros, José Israel evitou as fotografias aéreas, optando pelo registro terrestre do patrimônio mineiro, que fotografou com o auxílio da mulher, Cláudia Couto. Um dos maiores desafios, como revela, foi o teto da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, cujas pinturas são de autoria do mestre Athayde. “Visitei a igreja umas três vezes antes de fotografá-la”, recorda, atribuindo o trabalho redobrado à necessidade de aperfeiçoamento dos ângulos a serem adotados. “A gente vai limpando cada vez mais, para evitar qualquer tipo de interferência”, justifica, lembrando da busca por ângulos mais puros e atrativos. “No caso do teto de São Francisco, tem de deitar no chão, levar tripé e cuidar de toda a iluminação”, explica.
À exceção de uma vista noturna de Diamantina, todas as fotografias para a série foram feitas durante o dia. “Gosto das fotos diurnas, que têm cores mais vivas. Uso muito o céu como fundo”, diz José Israel, lembrando que a interferência da luz pode prejudicar o trabalho do fotógrafo. “A intenção é mostrar a obra artística, os detalhes do trabalho de mestres como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814)”, afirma o fotógrafo, consciente de que o resultado do trabalho não deixa de ser a reprodução fiel do que o mestre do barroco brasileiro fez no século 18, apesar do olhar do fotógrafo sobre a obra. “Tesouros de Minas é, na verdade, uma espécie de catálogo de artes”, conclui, de olho no potencial de Salvador (BA), Rio de Janeiro e Paraty (RJ) e Região das Vertentes (RS) para publicações do gênero.
%u201CA ideia é mostrar os verdadeiros museus ao ar livre que são as nossas cidades, com a maior concentração de igrejas e museus por metro quadrado do país%u201D . José Israel Abrantes, fotógrafo |
TESOUROS DE MINAS
. Ouro Preto, Mariana, Sabará
. Diamantina e Circuito dos Diamantes, Serro
. São João del-Rei, Tiradentes, Congonhas
Editora Autêntica, R$ 39 (cada volume)
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