A passageira ao lado
Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 22/08/2014
Espremido dentro de um ônibus do Move, que mais de uma hora depois o deixaria na estação Ouro Minas, da Avenida Cristiano Machado, o homem está ao lado de uma moça. Morena clara, de altura mediana, ela embarcou no mesmo ponto que ele, na Rua Professor Moraes, esquina com Rua Cláudio Manoel, mais ou menos às 18h30, horário de pico, quando todo mundo, após um dia de trabalho, só pensa em chegar em casa. Nem é preciso dizer que o trânsito, como é costume, estava de desanimar.
A princípio calada, como os demais passageiros, uns 20 minutos depois, quando passavam pela Alameda Ezequiel Dias, aquela moça, que carregava uma pequena mochila, virou-se para o homem e disse, com um sorriso tímido: “Não sei o que está acontecendo hoje, mas está pior do que os outros dias”.
Foi o suficiente, uma espécie de senha para que eles, daí em diante, começassem a conversar, enquanto o ônibus, um pouco mais depressa, continuava a rodar. Já estavam na Avenida dos Andradas e, daí a pouco, se tudo continuasse no mesmo ritmo, chegariam à Praça da Estação, onde havia outro ponto.
“Você toma esse carro todos os dias?”, quis saber o homem, que naquele instante não conseguiu formular pergunta mais criativa. Após outro sorriso, esse mais aberto, a moça respondeu que sim, pois trabalhava numa lanchonete na Avenida Getúlio Vargas, quase com Avenida Afonso Pena. “Fica perto de uma casa lotérica, e de um restaurante de comida árabe, que talvez você conheça”, ela disse.
“Sei onde é, a dona se chama Vanessa e, às vezes, costumo almoçar lá. A comida é muito boa”, o rapaz respondeu, para em seguida perguntar à moça como ela se chamava. “Meu nome é Natália”, respondeu, ao mesmo tempo em que, com outro sorriso, estendeu-lhe a mão e disse: “Muito prazer”.
O ônibus, àquela hora, depois de passar pela Praça da Estação, em cujo ponto entraram vários passageiros, enchendo-o totalmente, rodava com mais desenvoltura em direção à Avenida Cristiano Machado, onde finalmente teria uma pista só para ele. Estranhos, mas quase amigos, aquele homem e a mulher continuavam a conversar, como está cada vez mais raro ocorrer nesta cidade, onde a desconfiança mútua é prática corriqueira. “E você gosta de trabalhar na lanchonete?”, ele quis saber.
“É bem legal, as pessoas são educadas, e aprendi a fazer sucos muito gostosos, que eu não conhecia”, Natália respondeu, não sem uma pontinha de orgulho. “É mesmo? E quais são os mais pedidos?” “O de açaí sai bastante; os de mamão, laranja, e morango, também são muito pedidos. O de morango, mais.”
Na Cristiano Machado, na pista só dele, o ônibus ia à toda. Adiante, na Estação Sagrada Família, desceram algumas pessoas, quando então a moça, depois de um intervalo na conversa, voltou-se para o homem: “Você ainda não me falou seu nome...”. “Me chamo Carlos, e trabalho perto de você, no jornal Estado de Minas.” Ao que ela, como se falasse a si própria, disse: “Estou precisando voltar a estudar. Ano que vem, quero ver se recomeço...”. Mas aí, quando o papo ia continuar, chegaram à Estação Ouro Minas, onde o homem desceu. Natália, que mora com a mãe no São Gabriel, prosseguiu viagem.
Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 22/08/2014
Espremido dentro de um ônibus do Move, que mais de uma hora depois o deixaria na estação Ouro Minas, da Avenida Cristiano Machado, o homem está ao lado de uma moça. Morena clara, de altura mediana, ela embarcou no mesmo ponto que ele, na Rua Professor Moraes, esquina com Rua Cláudio Manoel, mais ou menos às 18h30, horário de pico, quando todo mundo, após um dia de trabalho, só pensa em chegar em casa. Nem é preciso dizer que o trânsito, como é costume, estava de desanimar.
A princípio calada, como os demais passageiros, uns 20 minutos depois, quando passavam pela Alameda Ezequiel Dias, aquela moça, que carregava uma pequena mochila, virou-se para o homem e disse, com um sorriso tímido: “Não sei o que está acontecendo hoje, mas está pior do que os outros dias”.
Foi o suficiente, uma espécie de senha para que eles, daí em diante, começassem a conversar, enquanto o ônibus, um pouco mais depressa, continuava a rodar. Já estavam na Avenida dos Andradas e, daí a pouco, se tudo continuasse no mesmo ritmo, chegariam à Praça da Estação, onde havia outro ponto.
“Você toma esse carro todos os dias?”, quis saber o homem, que naquele instante não conseguiu formular pergunta mais criativa. Após outro sorriso, esse mais aberto, a moça respondeu que sim, pois trabalhava numa lanchonete na Avenida Getúlio Vargas, quase com Avenida Afonso Pena. “Fica perto de uma casa lotérica, e de um restaurante de comida árabe, que talvez você conheça”, ela disse.
“Sei onde é, a dona se chama Vanessa e, às vezes, costumo almoçar lá. A comida é muito boa”, o rapaz respondeu, para em seguida perguntar à moça como ela se chamava. “Meu nome é Natália”, respondeu, ao mesmo tempo em que, com outro sorriso, estendeu-lhe a mão e disse: “Muito prazer”.
O ônibus, àquela hora, depois de passar pela Praça da Estação, em cujo ponto entraram vários passageiros, enchendo-o totalmente, rodava com mais desenvoltura em direção à Avenida Cristiano Machado, onde finalmente teria uma pista só para ele. Estranhos, mas quase amigos, aquele homem e a mulher continuavam a conversar, como está cada vez mais raro ocorrer nesta cidade, onde a desconfiança mútua é prática corriqueira. “E você gosta de trabalhar na lanchonete?”, ele quis saber.
“É bem legal, as pessoas são educadas, e aprendi a fazer sucos muito gostosos, que eu não conhecia”, Natália respondeu, não sem uma pontinha de orgulho. “É mesmo? E quais são os mais pedidos?” “O de açaí sai bastante; os de mamão, laranja, e morango, também são muito pedidos. O de morango, mais.”
Na Cristiano Machado, na pista só dele, o ônibus ia à toda. Adiante, na Estação Sagrada Família, desceram algumas pessoas, quando então a moça, depois de um intervalo na conversa, voltou-se para o homem: “Você ainda não me falou seu nome...”. “Me chamo Carlos, e trabalho perto de você, no jornal Estado de Minas.” Ao que ela, como se falasse a si própria, disse: “Estou precisando voltar a estudar. Ano que vem, quero ver se recomeço...”. Mas aí, quando o papo ia continuar, chegaram à Estação Ouro Minas, onde o homem desceu. Natália, que mora com a mãe no São Gabriel, prosseguiu viagem.
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