Zero Hora 28/09/2014
Lembro-me de uma matéria interessante que li anos atrás na revista Elle:
convidaram uma estudante e uma executiva para passar 24 horas com a
roupa uma da outra. Explico: a estudante, que costumava se vestir de uma
maneira sexy e irreverente, teve de se vestir com o que encontrou no
closet da executiva, e esta, por sua vez, teve de abandonar seu estilo
sóbrio e conservador para escolher peças no closet da estudante.
Resultado: viraram outra mulher por um dia.
A estudante, que adorava decote, barriga de fora e sandália de salto
alto, colocou pela primeira vez um terno escuro com camisa para dentro
da calça e sapato fechado. A executiva, habituada aos tailleurs
bem-comportados, encarou uma saia acima do joelho, top de alcinhas,
sandália gladiadora e gargantilha com crucifixo. Conclusão delas: não dá
para mudar nosso jeito de ser simplesmente trocando de roupa.
Em termos, em termos. As próprias protagonistas da reportagem
adotaram uma postura completamente diferente na hora de se deixar
fotografar e, mesmo que tenham sido orientadas pela produtora de moda, a
verdade é que a roupa conduz nossa atitude, sim. A estudante, uma clone
de Miley Cyrus sempre de mãos na cintura e ar provocante, cruzou os
braços docemente quando colocou o terno. A executiva, que costumava
ficar encolhida em seu trajes pastéis, jogou os cabelos para trás e
encarou as lentes com um olhar sedutor, digno de quem se veste para
matar. Lógico que a roupa pode despertar novas facetas de nossa
personalidade.
Dormir com um pijamão apeluciado e dormir com uma lingerie de renda
vermelha: tanto faz? Você de legging e tênis pela manhã, de jeans e
jaqueta de couro à tarde, e à noite com um vestido justo decotado nas
costas. Sim, é a mesma mulher, mas são três estados de espírito
diferentes.
A roupa, subliminarmente, autoriza um determinado tipo de
comportamento. Os homens se sentem mais confiantes quando estão de
gravata, até seu jeito de caminhar se transforma. Já as mulheres
sentem-se mais joviais quando estão de camiseta e mais sensuais quando
estão de preto. Coloque um longo Versace numa freira e ela subitamente
esquecerá da oração da Ave-Maria, empacará em “o Senhor é convosco” e,
dali em diante se pegará, cantarolando algo da Beyoncé.
Cada pessoa deve vestir-se de acordo com o que é, e não com o que
que gostaria de aparentar, mas não é pecado experimentar um personagem
fora do habitual: desejar ser menos tímida, ou mais séria, ou um pouco
excêntrica. É uma transformação que deve vir de dentro, mas o visual
ajuda. Um botão a mais aberto na camisa pode operar milagres numa alma
introvertida.
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