sexta-feira, 5 de setembro de 2014

MÚSICA » A três

MÚSICA » A três 

  Mallu Magalhães e Marcelo Camelo se juntam ao baterista português Fred Ferreira para formar a Banda do Mar. Lisboa fez bem ao casal, que lança CD de apelo pop com canções para dançar


Mariana Peixoto
Estado de MInas: 05/09/2014



Marcelo Camelo, Fred Ferreira e Mallu Magalhães: encontro feliz em Lisboa

 (Kenton Thatcher/Divulgação)
Marcelo Camelo, Fred Ferreira e Mallu Magalhães: encontro feliz em Lisboa


“Luzes da cidade nova/ Desde quando tudo em volta importa/ Acho normal de imaginar nós dois”, canta Marcelo Camelo. “Mesmo que não venha mais ninguém/ Ficamos só eu e você/ Fazemos a festa/ Somos do mundo”, entoa Mallu Magalhães. Uma parceria musical (Janta, de 2008) levou Mallu e Camelo a se tornarem parceiros na vida. Mesmo que um e outro tenham participado dos respectivos álbuns desde então, o casal nunca “institucionalizou” a união. Com a Banda do Mar, Mallu e Camelo agora têm o seu próprio grupo. Um trio, na verdade, formado em Lisboa, local do exílio voluntário dos dois há um ano. Foi na capital portuguesa que eles encontraram o terceiro membro da banda: Fred Ferreira. E foi lá também que compuseram a maior parte do repertório de 12 canções.

Baterista e percussionista, Fred, compadre de Camelo de longa data (com ascendência portuguesa, o Hermano tem dupla cidadania), aparece mais como um tempero na Banda do Mar, que, queira ou não, é projeto do casal. Este divide a autoria das canções (sete dele, cinco dela) e, a exemplo de toda a discografia do Los Hermanos, interpreta sua própria música (como sempre ocorreu com a dobradinha Camelo/Amarante). Dessa maneira, é Camelo quem canta Cidade nova, um despertar para a nova vida a dois. E é Mallu quem coloca voz em Mais ninguém, o primeiro single, com direito a clipe fofo e despojado em que o trio faz passinhos para lá de engraçados.

O que fica claro – boa notícia para quem estava se enfadando com o tom moroso dos últimos álbuns solos de Camelo e Mallu – é que os ares lisboetas e o encontro com Fred fizeram da Banda do Mar um trio com sotaque roqueiro, em que a guitarra colore canções descompromissadas com forte apelo pop. É música para dançar – Hey Nana, Muitos chocolates, além da supracitada Mais ninguém – e também para cantar junto – Faz tempo e Vamo embora, ambas com eco de Los Hermanos. Gravado em dois estúdios de Lisboa, o álbum foi produzido e arranjado pelo trio.



“Estou fazendo música sozinho há oito anos e sempre fui um cara muito agregador. Quando se está sozinho você acaba criando interlocutores internos para apreciar o que está fazendo. Agora, num trabalho coletivo, a premissa é outra. O que faço é para eles, Fred e Mallu. Todas as escolhas são muito influenciadas pelo outro olhar, pelo encontro”, afirma Camelo. Deixar o Brasil rumo a Portugal foi uma decisão tanto afetiva – “conheço bem o país, tenho uma relação antiga com o lugar e também queria estar perto do Fred, sempre muito presente na minha vida” – quanto prática. “O Rio e São Paulo são cidades muito caras para viver. Cada vez mais era necessário morar longe para encontrar um espaço maior”, conta ele.

O álbum da Banda do Mar está sendo lançado neste mês no Brasil e no próximo em Portugal. Em outubro, Mallu, Camelo e Fred vêm ao país para uma temporada de dois meses e meio. A turnê tem início no dia 10, em Porto Alegre. Em cena, o trio vai ganhar extras: Marcos Gerez, do Hurtmold, vai assumir o baixo, e Gabriel Mayall (Bubu, velho conhecido dos fãs do Los Hermanos) as guitarras. Em meados de dezembro, o trio retorna para o além-mar.

A pergunta que resta é: a Banda do Mar (ainda que tenha esse nome) é uma banda ou um projeto com data para acabar? Camelo dá voltas para dizer que nada está definido. “Falando sobre isso, o Fred usou uma metáfora. Disse que ela é como mais uma árvore no nosso jardim, não precisa podar as outras para que ela exista. Tenho a sensação de um encontro em que se a gente fizer tudo certo poderemos ter sempre este lugar para nos sentirmos à vontade. Essa é uma característica da cultura pop da nossa época, que dá certa liberdade e leveza para as coisas”, conclui. 

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