Pesquisa da Ufop
desenvolve metodologia para detectar precocemente doenças
cardiovasculares em adultos e crianças. Trabalho foi primeiro lugar no
Prêmio Henri Nestlé
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 22/09/2014
Prevenir
é o melhor remédio. Esse ditado popular, mais do que nunca, se aplica a
uma pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) que
desenvolveu uma metodologia para detectar precocemente doenças
cardiovasculares em adultos e crianças. O trabalho, fruto da dissertação
de mestrado da nutricionista Ana Luiza Gomes Domingos, conquistou, no
mês passado, o 1º lugar no Prêmio Henri Nestlé, na categoria nutrição em
saúde pública. Segundo a pesquisadora, é durante a infância que as
pessoas começam a apresentar os fatores de risco de uma doença
cardiovascular e identificar isso com antecedência pode prevenir vários
males. “Na faixa etária pediátrica, a presença da obesidade é um
importante fator de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares
na idade adulta. A constatação de que as doenças cardiovasculares podem
ter sua origem na infância e adolescência configura a necessidade de que
esses fatores sejam amplamente investigados durante esse período”,
destaca.
Tudo começou quando foi descoberto
que, dentro do cenário epidemiológico, as doenças cardiovasculares eram a
principal causa de morte em Nova Era, na Região Central de Minas. Só
para se ter uma ideia, em 2008, de acordo com o Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), 37,8% da população da
cidade acima de 20 anos tinha como causa mortis alguma doença do
aparelho circulatório. Ana Luiza acrescenta que, desde 2004, havia no
município um monitoramento nutricional feito anualmente, por meio da
Secretaria Municipal de Educação, que identificou que o sobrepeso e a
obesidade na população de escolares superavam os índices de baixo peso
entre os estudantes da rede municipal de ensino. “O perfil nutricional
encontrado nos escolares da rede municipal de ensino, associado às
condições socioeconômicas dos munícipes, fez com que a nutricionista
Adriana Cotote Moreira, da prefeitura, procurasse a professora Silvia
Nascimento de Freitas, orientadora do projeto na Escola de Nutrição da
Ufop, para a realização de uma parceria. O meu projeto surgiu daí”,
recorda.
Ana Luiza, que é mestre em saúde e
nutrição pela Ufop, e começou a desenvolver sua pesquisa na iniciação
científica, ainda na graduação e com o apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), se concentrou nos
marcadores inflamatórios dos escolares de Nova Era, pois poucos são os
estudos que analisam suas alterações em crianças de 6 a 10 anos.
Segundo
uma definição da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, um
marcador é uma variável mensurável, podendo ser encontrada por meio de
uma amostra de sangue, urina, ou tecidual. Um marcador pode medir o
estado fisiopatológico da doença, avaliar o progresso do tratamento e
ainda predizer eventos futuros. Vários desses marcadores foram estudados
como preditores de risco de um evento cardiovascular. Um exemplo comum
de marcador inflamatório são as citocinas, proteínas de baixo peso
molecular, produzidas por diferentes tipos de células.
BIOMARCADORES
“O foco da minha pesquisa foi o estudo de biomarcadores inflamatórios e
a avaliação nutricional. Esse tipo de estudo é de suma importância para
a detecção precoce de grupos em risco cardiometabólico. Nosso estudo
indica uma relevante associação entre variáveis antropométricas
(perímetro da cintura, pregas cutâneas, peso, altura), de composição
corporal, clínicas, bioquímicas e as concentrações da adiponectina,
proteína C-reativa e a resistência à insulina, em crianças obesas e não
obesas”, explica.
A nutricionista acrescenta
que, a partir das alterações dos indicadores de composição corporal
(percentual de gordura corporal), dos antropométricos, dos níveis
séricos de glicemia, insulina e colesterol total e frações, e alteração
da pressão arterial das crianças de 6 a 10 anos, se pode estabelecer um
critério diagnóstico para os escolares sob risco nutricional, que pode
repercutir na incidência maior de doença cardiovascular na vida adulta
e, assim, ainda na vida escolar, se promover ações que possam reverter
esse quadro precocemente. “O interessante desse estudo é que, mesmo com a
garotada que estava no peso normal, é importante ficar atento, porque
eles podem ter colesterol alto e índice de gordura elevado. As
aparências podem enganar”, alerta.
A fase de
coleta de dados foi realizada em uma semana. Porém, ainda estão sendo
estudados outros marcadores de risco e sua relação com a obesidade e o
contexto social dos escolares de Nova Era. No entanto, Ana Luiza lembra
que, a partir da triagem inicial, aquelas crianças que apresentaram
problemas nutricionais foram encaminhadas ao serviço de saúde e
monitoradas com maior frequência pela nutricionista da prefeitura
Adriana Moreira. Os pais também receberam orientações para ficarem
alertas.
A pesquisadora ressalta, ainda, que o
estudo teve por finalidade proporcionar ao município de Nova Era
indicadores nutricionais que possam subsidiar estratégias de saúde
pública eficazes, a serem implementadas durante a infância, a fim de
promover a melhoria das condições de saúde e estado nutricional das
crianças. “E, dessa forma, minimizar o desenvolvimento de fatores de
risco para doenças cardiovasculares nessa faixa etária, bem como reduzir
a incidência de doenças cardiovasculares precocemente em adultos. E é
bom frisar que, apesar de a pesquisa ter sido realizada em uma cidade
específica, a metodologia pode ser aplicada em qualquer lugar e
situação”, salienta.
Saiba mais
Obesidade
A
obesidade é uma doença crônica complexa e multifatorial, considerada um
estado inflamatório sistêmico de baixa intensidade, resultante da
secreção alterada de citocinas, quimiocinas e hormônios. Estudos mostram
que a prevalência do sobrepeso e da obesidade, inclusive na faixa
etária pediátrica, tem aumentado de forma significativa em vários
países, incluindo o Brasil. É importante frisar que o excesso de
adiposidade corporal é um possível marcador de risco para a ocorrência
de doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, resistência à insulina
e dislipidemia (aumento no nível de lipídios no sangue).
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