sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Eterna Diva - Ailton Magioli

MPB » Eterna diva Caixa com cinco CDs reúne gravações de Maysa Matarazzo no exterior. O repertório reúne clássicos como Ne me quitte pas e o disco feito por ela nos estúdios da Columbia, nos EUA


Ailton Magioli
Estado de Minas: 24/10/2014

Se cantando em português ela já é excelente, imagine em inglês, italiano e espanhol, além, claro, do francês, língua em que se tornou conhecida pela interpretação do clássico Ne me quitte pas, do belga Jacques Brel. Dona de estilo inconfundível, até hoje copiado escancaradamente por candidatas ao posto de diva da fossa, Maysa Matarazzo (1936-1977) tem parte importante de sua carreira fonográfica resgatada com o lançamento da caixa Maysa internacional pelo selo Discobertas, de Marcelo Froes.

O box com cinco CDs reúne preciosidades como Sings songs before dawn (1961), álbum gravado nos estúdios da Columbia Records, em Nova York. Além de standards americanos, há o primeiro registro feito por ela de Ne me quitte pas. “Trata-se do segundo álbum americano de Maysa, que já havia gravado The sound of love em São Paulo. Além da qualidade do repertório e dos arranjos (Jack Pleis), o disco se destaca pela produção e a capa”, afirma o produtor e pesquisador Marcelo Froes. 
O recorte internacional do repertório, explica o produtor, resgata “um dos diversos elos perdidos da carreira de 20 anos da estrela”. Marcelo diz que alguém precisava “costurar” esses elos, pois a trajetória de Maysa se dividiu entre diversas gravadoras. Graças ao apoio de Jayme Monjardim, filho único da cantora, o produtor e pesquisador traz de volta CDs com raridades, muitas delas lançadas em compacto. O tema de abertura da novela Bravo!, da TV Globo, assinado por Maysa e o maestro Julio Medaglia, fez parte de um compacto da Som Livre, de 1975, completamente obscuro. “Foi a última gravação dela em estúdio. Os fãs e as novas gerações precisam conhecê-la”, avalia o pesquisador Tiago Silva Marques, que assina a coprodução da caixa.
Segundo Marques, desde a minissérie Maysa – Quando fala o coração (2009), apresentada em nove capítulos pela TV Globo, não se falava mais na cantora, cuja biografia, Maysa – Só na multidão de amores, foi escrita por Lira Neto. “Ela estava absolutamente esquecida”, lamenta, salientando a importância de os fãs conhecerem a incursão da brasileira no exterior. Além de se aventurar nos EUA, Maysa investiu no mercado latino e gravou em espanhol quando morava na Europa. No anos 1960, dividida entre o Brasil e o exterior, ela enfrentou um período obscuro em sua carreira. 

PÉROLAS Os três CDs da caixa, dedicados a raridades, estão datados. O primeiro, de 1959 a 1966; o segundo, de 1967 a 1969; e o terceiro, de 1969 a 1976. O segundo traz pérolas como Missão (Sergio Ferreira da Cruz) e Em qual estrada (Fred Falcão e Paulinho Tapajós), com as quais a cantora concorreu no 2º Festival Universitário da Guanabara, da TV Tupi, em 1969.
Em 15 anos de Discobertas, Marcelo Froes produziu cerca de 50 lançamentos. Para ele, no entanto, Maysa é diferente. “Totalmente livre, ela fazia o que queria e quando queria. As gravadoras nunca a dominaram”, garante. Entre outras pérolas raras da caixa apontadas por Tiago Silva Marques estão as gravações feitas na França de Chega de saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Cent mille chansons (Michel Magne e Eddy Marnay), em 1963. “Para mim, é como se ela se repatriasse”, conclui.

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