Ela protege de nove
subtipos do vírus, já foi testada em humanos e pode estar disponível em
2015. A nova fórmula também deve evitar cerca de 90% dos casos de
câncer de colo do útero
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 03/10/2014
Na vacina multivalente são adicionados imunizantes contra os subtipos 31, 33, 45, 52 e 58. Incluídos na categoria de alto risco, eles têm probabilidade maior de persistir e são associados a lesões pré-cancerígenas. O perigo foi confirmado em pesquisa realizada por especialistas da Universidade de Viena (Áustria) e publicada na edição de hoje da revista da Associação Americana de Pesquisa em Câncer, a Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention. No estudo, a equipe de Elmar Joura analisou a atribuição de lesões cancerígenas a 12 genótipos do HPV para a infecção e a doença cervical. Os nove subtipos incluídos na vacina foram percebidos como causa da maioria dos pré-cânceres cervicais.
O objetivo dos pesquisadores era estudar quantas lesões desse tipo poderiam ser prevenidas por uma investigação de vacina multivalente contra o HPV. Cerca de 12 mil mulheres imunizadas com a quadrivalente foram acompanhadas, sendo que 2.507 delas receberam, anos depois, o diagnóstico de um de três graus de neoplasia intraepitelial cervical (NIC) ou de adenocarcinoma in situ (AIS) — todas lesões pré-cancerígenas. A partir desses dados, os cientistas buscaram estimar o número de pré-cânceres que podem ter tido como causa os cinco subtipos de HPV não contidos na vacina quadrivalente. Verificou-se que eles estavam em 55% das NIC de grau 1, 78% das NIC de grau 2, 91% das NIC de grau 3 e quase 100% das lesões AIS
A equipe descobriu ainda que, das mulheres com idades entre 15 e 26
anos que tiveram pré-cânceres, 54% tiveram uma única infecção por HPV, e
32% estavam infectadas com mais de um tipo do micro-organismo. Daquelas
entre 24 e 45 anos com pré-cânceres, 59% estavam com um tipo e 19%, com
mais de um. Joura acredita que, apesar do perfil de segurança das
vacinas atuais contra o HPV, é preciso melhorar a proteção. “Para
alcançar o potencial em nível populacional da vacina contra o HPV e
reduzir o câncer, a eficácia deve aumentar.”
Os subtipos 16 e 18 são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer de colo do útero, a segunda maior causa de câncer em mulheres. O primeiro deles é a causa mais comum e responde por cerca de metade dos casos em todas as regiões do mundo, inclusive no Brasil. Já o 6 e o 11 causam aproximadamente 90% das verrugas genitais (uma das doenças sexualmente transmissíveis mais notificadas no mundo) e cerca de 10% das lesões de baixo grau de agressividade do colo do útero. Com a adição dos imunizantes para outros cinco micro-organismos, a proteção contra o câncer de colo do útero alcança quase 90%.
“Cerca de 85% ou mais das lesões pré-cancerígenas de colo do útero foram atribuídas aos nove subtipos cobertos pela vacina. Portanto, se os programas de vacinação multivalente forem efetivamente implementados, a maioria dessas lesões poderá ser evitada”, garantiu Joura. A possibilidade de uma proteção ainda maior que 85% se deve à proteção cruzada. Essa propriedade consiste na capacidade de uma vacina de imunizar o indivíduo contra outros subtipos de vírus que não são o principal foco da aplicação, isto é, mesmo sendo preparada para proteger contra alguns determinados vírus, a vacina conseguiria agir, mesmo com menor força, sobre outros patógenos.
PARA BREVE O chefe do Centro de Pesquisa Clínica Projeto HPV, do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, Edson Fedrizzi, participa da pesquisa que confirma a eficácia da vacina multivalente em 33 países. Ele acredita que o imunizante estará disponível comercialmente a partir do segundo semestre de 2015 ou no início de 2016. “A vantagem é que incluiremos mais cinco tipos de HPV, o que representa mais 20% de proteção”, diz Fedrizzi, membro da Comissão de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Segundo ele, a vacina multivalente, assim como as demais, poderá ser usada por homens e mulheres que já tiveram contato com os vírus, foram infectados ou têm lesões. Isso porque uma pessoa que teve a infecção e produziu anticorpos para combatê-la não está protegida de novas infecções. Os anticorpos que o organismo produz naturalmente são diferentes dos que a vacina é capaz de estimular. “Os anticorpos originados pela vacina previnem que os vírus já presentes infectem novas células. Então, mesmo a mulher que tem a doença ou uma lesão vai se beneficiar porque evita que novas células se contaminem.”
Palavra de especialista
Rosana Richtmann,
membro do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia
Ainda mais proteção
“Hoje, temos uma vacina muito boa, que protege contra quatro subtipos do vírus. Mas, com certeza, ter uma vacina que atinge nove subtipos do HPV é ainda melhor. Isso é inegável, pois aumenta em mais de 20% a proteção aos indivíduos, saindo de 70% para quase 90% de imunização. Os cinco HPVs acrescidos são mais raros, mas com potencial letal significativo. É importante também reforçar a segurança da vacina que temos hoje, sem qualquer efeito colateral mais grave. Esse deve ser o padrão das novas estratégias ainda mais potentes que podem surgir nos próximos anos.”
Os subtipos 16 e 18 são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer de colo do útero, a segunda maior causa de câncer em mulheres. O primeiro deles é a causa mais comum e responde por cerca de metade dos casos em todas as regiões do mundo, inclusive no Brasil. Já o 6 e o 11 causam aproximadamente 90% das verrugas genitais (uma das doenças sexualmente transmissíveis mais notificadas no mundo) e cerca de 10% das lesões de baixo grau de agressividade do colo do útero. Com a adição dos imunizantes para outros cinco micro-organismos, a proteção contra o câncer de colo do útero alcança quase 90%.
“Cerca de 85% ou mais das lesões pré-cancerígenas de colo do útero foram atribuídas aos nove subtipos cobertos pela vacina. Portanto, se os programas de vacinação multivalente forem efetivamente implementados, a maioria dessas lesões poderá ser evitada”, garantiu Joura. A possibilidade de uma proteção ainda maior que 85% se deve à proteção cruzada. Essa propriedade consiste na capacidade de uma vacina de imunizar o indivíduo contra outros subtipos de vírus que não são o principal foco da aplicação, isto é, mesmo sendo preparada para proteger contra alguns determinados vírus, a vacina conseguiria agir, mesmo com menor força, sobre outros patógenos.
PARA BREVE O chefe do Centro de Pesquisa Clínica Projeto HPV, do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, Edson Fedrizzi, participa da pesquisa que confirma a eficácia da vacina multivalente em 33 países. Ele acredita que o imunizante estará disponível comercialmente a partir do segundo semestre de 2015 ou no início de 2016. “A vantagem é que incluiremos mais cinco tipos de HPV, o que representa mais 20% de proteção”, diz Fedrizzi, membro da Comissão de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Segundo ele, a vacina multivalente, assim como as demais, poderá ser usada por homens e mulheres que já tiveram contato com os vírus, foram infectados ou têm lesões. Isso porque uma pessoa que teve a infecção e produziu anticorpos para combatê-la não está protegida de novas infecções. Os anticorpos que o organismo produz naturalmente são diferentes dos que a vacina é capaz de estimular. “Os anticorpos originados pela vacina previnem que os vírus já presentes infectem novas células. Então, mesmo a mulher que tem a doença ou uma lesão vai se beneficiar porque evita que novas células se contaminem.”
Palavra de especialista
Rosana Richtmann,
membro do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia
Ainda mais proteção
“Hoje, temos uma vacina muito boa, que protege contra quatro subtipos do vírus. Mas, com certeza, ter uma vacina que atinge nove subtipos do HPV é ainda melhor. Isso é inegável, pois aumenta em mais de 20% a proteção aos indivíduos, saindo de 70% para quase 90% de imunização. Os cinco HPVs acrescidos são mais raros, mas com potencial letal significativo. É importante também reforçar a segurança da vacina que temos hoje, sem qualquer efeito colateral mais grave. Esse deve ser o padrão das novas estratégias ainda mais potentes que podem surgir nos próximos anos.”
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