domingo, 9 de novembro de 2014

Segredos - Eduardo Almeida Reis

Segredos


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/11/2014



Já fui bom para guardar segredos, virtude que abandonei faz tempo. Contudo, há mais de um ano fiquei sabendo de um romance envolvendo figuras públicas do mesmo sexo, conhecidíssimas, fato que não comentei com ninguém. Não era da minha conta e me foi contado, em off, pela colega de trabalho de uma das celebridades envolvidas.

Orgulhoso de ter sido escolhido como depositário do tal segredo, honrei a confiança e passei uma porção de meses sem comentar o assunto com ninguém. Até que ontem, isto é, véspera do dia em que componho estas bem traçadas, procurando algo do Google, dei com este venerando costado no verbete sobre uma das senhoras célebres e descobri que o meu segredo, criteriosamente guardado tanto tempo, é do conhecimento universal.

São dezenas de milhares de entradas sobre o relacionamento homoafetivo das celebridades, com milhares de desvios, rompimentos, brigas e romances lésbicos paralelos. Perdi boa meia hora lendo as fofocas e vendo as fotos, quando acabei descobrindo um site de bicicletistas em que sou odiado pelos leitores que amam bicicletas. Já é alguma coisa.

Gaveta?

Do latim gabàta 'tigela', através do provençal gaveda, o substantivo gaveta, ortoépia /ê/, pintou no pedaço em 1563 e tem um monte de significados curiosos, como por exemplo: cavalo arisco, pontapé, cadeia e ângulo, este último na rubrica futebol. Na mídia, quando se diz que um profissional está na gaveta é porque se vendeu a alguém, pessoa física ou jurídica. É triste, mas acontece.

Durante anos admirei na tevê o trabalho de uma comentarista política e vou logo avisando que não é a goiana Cristiana Lobo, jornalista que conheci pessoalmente numa fazenda mineira e continuo admirando. A outra fazia bom trabalho, mas me decepcionou nos primeiros comentários sobre o segundo turno das eleições presidenciais. Tive a nítida impressão de que a moça foi guardada na gaveta petista. Pode ser que me engane, mas o fato é que comecei a mudar de canal durante suas falas para não ficar tentado a escrever seu nome aqui.

Ter gaveta, na mídia, também significa ter muitos textos arquivados para reaproveitar em determinadas circunstâncias. Antigamente nos recortes guardados na gaveta, hoje nos arquivos de computador. Assustado com a imensa produção diária de Nelson Rodrigues, falei do meu espanto ao Dr. Moacyr Padilha, diretor de redação no Globo. O excelente amigo e chefe explicou: “O Nelson tem gaveta”. Pois é: no tempo de antigamente, chefe era senhor ou doutor. O clima das redações se avacalhou com esta mania de chamar chefe de você.

O mundo
é uma bola

9 de novembro: faltam 52 dias para acabar o ano. Em 1802, Alexander von Humbolt observa em Callao o trânsito do planeta Mercúrio. Pensei que Callao ficasse na Espanha, mas parece que fica no Peru. Em 1823, dom Pedro I fecha a Assembleia Constituinte, episódio divertidíssimo que não cabe aqui. Resumido, ocupa uma página inteira num dos meus livrinhos. Em 1888, Jack, o Estripador, mata Mary Jane Kelly, sua quinta vítima. Em 1889, Rui Barbosa escreve o artigo “Plano contra a Pátria”, inflando os ânimos dos que proclamaram a República dia 15 de novembro, motivo de feriado nacional e origem do mensalão articulado pelo Analfaboquirroto que vocês elegeram duas vezes. Hoje é o Dia do Radiologista, do Hoteleiro e do Manequim.

Ruminanças

“Entre homens, a pretensão dos burgueses mais castos é a de parecerem assanhados” (Balzac, 1799-1850).

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